agricultura familiar e mst - Encontro Nacional de Geografia Agrária

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AGRICULTURA FAMILIAR E MST: RESISTÊNCIA, PRODUÇÃO E
CONHECIMENTO.
FAMILIAR AGRICULTURE AND MST: RESISTANCE, PRODUCTION AND
KNOWLEDGE.
Ademir de C. M. Peransoni1
[email protected]
Ivanio Folmer²,
[email protected]
Zuleide Fruet³,
[email protected]
Universidade Federal de Santa Maria/RS-UFSM
RESUMO
O estudo da Geografia, desde sua origem, é acompanhado pela relação homem-natureza. A análise
desta relação apresenta uma lógica temporal caracterizada por um processo de mudança nas formas de
combinar os elementos sociais, políticos e naturais. Neste contexto, o presente como objetivo
promover uma breve discussão sobre o MST enquanto movimento social de luta pela terra e a
Agricultura Familiar enquanto produtora de alimentos a partir da estrutura familiar. Ainda, tenciona-se
explicitar às políticas públicas direcionadas à agricultura familiar com um efêmero relato sobre essa
temática. Desta forma faz-se necessário explicitar os caminhos trilhados por essa ciência visando o
entendimento das lutas travadas pelos movimentos sociais em busca da terra, o que justifica a presente
pesquisa. Espera-se com esse relato elucidar questões relacionadas às políticas públicas voltadas a
agricultura familiar. Tenciona-se ainda, explicitar as lutas sociais pela terra no transcorrer do tempo
promovendo um ampliar de horizonte aos leitores que visam o entendimento dessa causa.
Palavras-chave: Geografia Agrária, luta pela terra, Movimentos Sociais.
ABSTRACT
The study of geography, from its origin, is accompanied by the man-nature relationship. The analysis
of this relationship has a temporal logic characterized by a process of change in the ways of combining
social, political and natural elements. In this context, the present aim to promote a brief discussion of
the MST as a social movement fighting for land and family farming as a producer of food from the
family structure. Still, it is intended to explain the policies targeting family farms with an ephemeral
report on this topic. Thus it is necessary to clarify the paths for this science for understanding the
struggles waged by social movements in search of land, justifying this research. It is hoped that this
report elucidate issues related to public policies aimed at family farming. It is intended to further
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGGEO) – Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM).
² Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGGEO) – Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM).
³Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGGEO) – Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM).
1
explain the social struggles for land in course of time promoting an expanding horizon readers to seek
the understanding of this question.
Keywords: Agricultural Geography, struggle for land, Social Movements.
INTRODUÇÃO
Atualmente a agricultura moderna busca nos seus processos produtivos métodos que
elevem seus os índices gerando renda em um curto período de tempo, procura-se acelerar as
atividades de produção, e consequentemente de consumo, pela intensificação e uso das
tecnologias, de sementes geneticamente modificadas e pela inserção desordenada de
agroquímicos. Esta busca fervorosa pela agilidade nas atividades relacionadas a agricultura
desconsidera fatores importantes que as circundam, desvaloriza os conhecimentos locais,
corrompe a saúde humana, animal e a cultura local. Este cenário desencadeia uma série de
problemas sociais, exclui o agricultor familiar das atividades laborais, e por estas vias, os
indivíduos do seu meio natural, mecanizando atividades e excluindo atitudes.
Desta forma o estudo da relação homem-natureza acompanha o desenvolvimento da
Geografia desde sua origem. A análise desta relação apresenta uma lógica temporal
caracterizada por um processo de mudança nas formas de combinar os elementos sociais,
políticos e naturais. Nesse sentido, tal ciência se preocupa com o espaço de atuação da
sociedade no transcorrer do tempo, essa característica explicita uma configuração diferente no
meio rural, o que faz com que a Geografia Agrária apresente uma história particular no
desenvolvimento da Geografia geral.
Nessa perspectiva os movimentos sociais e agricultura familiar, que compõem
algumas das áreas de estudo da Geografia Agrária, emergem como um processo que
apresenta, resiste, valida e valoriza a regeneração, criação e perpetuação de conhecimentos
gestados nas formas de vida do meio campesino. Com isso, visa melhorar a qualidade de vida
dos indivíduos integrantes das comunidades que se vinculam a essas causas e/ou processos.
Assim, os modos de produzir e viver possibilita a construção de contextos sociais específicos
preservando a cultura e valorizando o conhecimento de cidadãos vinculados a estas
comunidades. Nesse sentido, os conhecimentos que de lá emerge pode servir de guia para o
desencadeamento de ações de cunho social servindo de sustentáculo para prospecção de ações
já estabelecidas e/ou incentivando a estruturação de novos processos políticos voltados para
as causas do campo.
Nesse contexto a Geografia Agrária visa promover a compreensão da superfície da
terra com relação às formas e técnicas de cultivo voltadas para ao campesino e suas formas de
exploração da terra e dos recursos naturais. Os modos de manutenção, exploração, cultivo e
atividades da terra compõem o cenário que integra o meio rural e são alguns dos fatores que
circundam pontos centrais que integram as lutas sociais pela terra. Neste contexto, o presente
artigo tem como objetivo promover uma breve discussão sobre o MST enquanto movimento
social de luta pela terra e a Agricultura Familiar enquanto produtora de alimentos a partir da
estrutura familiar. Ainda, tenciona-se explicitar às políticas públicas direcionadas à
agricultura familiar com um efêmero relato sobre essa temática.
Desse modo esta pesquisa adotou como metodologia uma análise teórica onde estão
assentados os referenciais que culminaram na análise do material que compõem estas escritas.
As leituras ocorreram no segundo semestre de 2016 e foram discutidas durante as aulas das
disciplinas de Geografia do Cone Sul, da matriz curricular do curso de Pós-Graduação em
Geografia da Universidade Federal de Santa Maria/RS. Visou-se as temáticas relacionadas ao
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) e a agricultura familiar a fim de obter
subsídios para a estruturação deste relato.
A análise dos aportes teóricos forneceram dados para explicitar os caminhos trilhados
por esta ciência buscando promover o entendimento das lutas travadas pelos movimentos
sociais em busca da terra. A referida busca pelo entendimento de questões políticas que
circundam a sociedade rural, bem como seus processos de produção, justificam a
implementação de trabalhos que, como este, tenham por finalidade explicitar os fundamentos
ligados as atividades de agricultura familiar e as questões que permeiam o MST. Tenciona-se
com isso promover um ampliar de conhecimento entre os indivíduos integrantes das diversas
áreas que compõem a sociedade atual. Espera-se com esse trabalho explicitar informações
relacionadas às lutas sociais pela terra e as implementações de políticas públicas voltadas a
agricultura familiar no transcorrer do tempo, possibilitando desta forma um horizonte maior
de perspectivas aos leitores que visam o entendimento dessa causa/questão.
DESENVOLVIMENTO
Em uma perspectiva geral, os movimentos sociais do campo visam à popularização ao
acesso e posse de terra dando lhes desse modo o direito a produção, bem como o reparo das
injustiças de cunho social sofrida pelos trabalhadores do campo. Nesse sentido, com relação
aos movimentos sociais do campo, desponta o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra, (MST), que objetiva a luta por terra visando atender uma necessidade econômica de
sobrevivência de suas famílias, uma vez que a terra lhes proporciona oportunidade de
trabalho, como garantia de sobrevivência Stédile e Gorgen (1993).
Deste modo, em um passado recente, 1984, organizou-se o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra tendo como base as reivindicações e cunho campesina, como
direito a terra, a produção familiar e a organização social e política dos camponeses. Tal
fundação tem um caráter sindical, popular e político e objetiva contribuir para mudanças
sociais e políticas do país voltadas para o público em questão Ibidem (1993). Sendo assim,
com a organização do MST, solidificou-se a luta pela terra, ampliando as conquistas dos
trabalhadores, principalmente, por meio de ocupações e dos acampamentos, que é uma das
principais ferramentas de pressão sobre o Estado. Como consequência deste processo de luta e
resistência, foram criados os assentamentos rurais em algumas regiões de nosso país David
(2008).
Nessa perspectiva, Houtart (2003, p. 159) argumenta que
O MST se caracteriza por lutas de massa e uma grande pressão social e
política. Sem ser um partido político, assume uma dimensão sociopolítica de
peso. Se a finalidade básica do Movimento é a obtenção de terras que se
justifica em respeito a um postulado de igualdade perante o acesso a terra -,
qualquer pessoa tem o direito de suprir suas necessidades de maneira
autônoma – essa reivindicação inscreve-se num projeto de sociedade ampla,
igualitária, solidária, democrática ecológica, que o MST procura construir na
sua prática cotidiana, dentro dos assentamentos (implantações coletivas do
MST).
Em acordo com essas definições Stédile (1993), relata que o essas considerações
ampliam outros enfrentamentos, como por exemplo, a inserção de novas formas de produção,
a agricultura familiar, a produção agroecológica, a mudança da cultura, o embate entre os
sujeitos culturais.
Nesse sentido, o autor declara que à inexistência de uma política pública efetivada e
concisa de Reforma Agrária, faz com que espaço rural do Brasil continue marcado por
conflitos “diversos”, diante das variáveis evidenciadas neste espaço. Este fator interfere
contundentemente na Questão Agrária brasileira, onde o camponês é a figura principal desta
realidade e seguidamente encontra-se relegado do debate político de suas próprias questões.
Muitos pesquisadores trazem em seu cerne de discussão as questões do campesinato e seu
novo significado na contemporaneidade. Em acordo, Oliveira (2006, p.16) menciona que o
campesinato surgiu:
Como classe sui generis do capitalismo, sua singularidade se manifesta na
experiência única de reprodução, a qual se baseia no próprio controle sobre o
trabalho e sobre os meios de produção. É o que lhes permite conservar a
capacidade de produzirem seus próprios meios de vida, ainda que as
condições concretas de reprodução de cada família nem sempre o determine.
Por meio dessas afirmações podemos inferir que o campesinato não está expresso no
imaginário social de uma fração da população rural, pela razão que se consolida na prática, o
que nos proporciona um explicitar de pontos que demonstram a real posição agraria brasileira.
Além da significação política e de todas as construções acadêmicas imbricadas a vida e luta
travada pelos camponeses, emergem por este caminho, a história social campesina desterrada
desde os tempos de império. É em um universo de acampamentos sob solos sem uso,
latifúndios improdutivos de particulares que se mobilizam dos movimentos sociais e luta pela
terra/Reforma Agrária. É nesse cenário que se faz o embate tendo como bandeira a busca por
ações sociais reformistas e de justas políticas públicas.
De outro modo, não é apenas por essa perspectiva que as mobilizações se expressam,
pois as mesmas vão além do território do acampamento, muitas dessas negociações não são
suficientes e, em busca de ter vez e voz, medidas mais efetivas são tomadas tais como o
fechamento de rodovias, mobilizações em frente a órgãos públicos, dentre outras. Todo esse
conjunto de ações almejam a criação de políticas públicas que permitam aos camponeses a
implementação da colonização e Reforma Agrária - Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA). A partir deste embate surgem os conflitos entre os sujeitos que
compõe diferentes classes: Os Trabalhadores Sem Terra e Latifundiários. Os latifundiários
ganham grande importância nas discussões com o Estado visto que o agronegócio, por estes
fomentados, cresce exponencialmente e promove o crescimento da economia. Tal crescimento
está assentado em vias de produção que desconsidera fatores correlatos que os circundam
como produção familiar, cultura e meio ambiente. Nessa perspectiva o Estado impõe uma
forma de política pública publica opressora que se expressa por meio de agressões, discussões
e contravenções impostas pela força impetuosa do Estado ao movimento social rural.
Nesse sentido a forma de expressão do Estado gera acontecimentos deflagrados pelo
jogo de poder imposto entre as classes pela ineficiência das políticas públicas destinadas a
reformas que promovam o amparo aos campesinos. No entanto, existe uma explicação
histórica perceptível há tempos, coube sempre ao “colonizador/latifúndiário” organizar a
estrutura agrária do país. A terra se concretizou como mercadoria por meio da apropriação
feita pelos latifúndios desde os primórdios do Brasil colônia. Essa realidade está assentada no
contexto inserido e produzido pelo modo de produção capitalista, nas palavras de Oliveira
(1990, p. 76) “no modo capitalista de produção, o solo, a terra, embora não tenha valor, tem
um preço", pois a inexistência da relação trabalho humano/lugar, a mesma passa a ser
considerada mercadoria como qualquer outro produto.
Em contra ponto a essa concepção capitalista, o MST emerge como um movimento
que luta pela terra, o mesmo movimenta discussões de cunho político e social, que
transbordam para além da realidade do campo aumentando o leque de pautas que relacionam
o camponês as cidades. Tais discussões nos levam ao enfrentamento da crise evidenciada no
espaço rural, desencadeando algumas reflexões sobre o uso das propriedades, de suas reais
possibilidades de produzir e do exaustivo uso dos recursos naturais. Essas considerações
ampliam outros enfrentamentos, como por exemplo, a inserção de novas formas de produção,
a agricultura familiar, a produção agroecológica, a mudança da cultura, o embate entre os
sujeitos culturais.
Nesse sentido, a agricultura familiar vem ganhando destaque nos últimos anos em
todas as esferas e debates relacionando se com o campesinato e agroecologia, conforme
destaca Wanderley (2001) “a agricultura familiar não é uma categoria social recente, nem a
ela corresponde uma categoria analítica nova na sociologia rural”. Por esta vias o autor relata
que a agricultura familiar passou a ser significativa em todas as esferas da economia e em
todo o território assumindo para si a responsabilidade social e econômica de produzir o
alimento que assistirá a milhões de pessoas. Este papel levou a intensificação das discussões
acerca da agricultura familiar desde a década de 1990, a qual se expressa geralmente em
pequenas propriedades voltando a pauta de embates entre latifúndio/camponês Wanderley
(2001).
Deste modo, na visão do autor, uma série de problemas emergem a partir da
consolidação da agricultura familiar como sustentáculo das atividades de produção de
alimentos, dentre esses, pode-se destacar os problemas relacionados à grande concentração
fundiária e o modelo de organização sociopolítico e econômico adotado em nosso país. Isso é
reforçado por segmentos governamentais comprometidos com os interesses dos grandes
proprietários e com os interesses internacionais.
Nessa perspectiva, as discussões sobre a importância social, econômica e cultural da
agricultura familiar na sociedade ganham novo fôlego, propiciando um ambiente favorável
para o debate da importância dessas unidades produtivas para a agricultura e para a sociedade.
Neste contexto, a agricultura familiar pode ser compreendida como o cultivo da terra
realizado por pequenos proprietários rurais, tendo como mão de obra essencialmente familiar.
A configuração da agricultura familiar, o trabalho, a administração, as decisões sobre o que e
como produzir, bem como os investimentos que são realizados advém do núcleo familiar.
Desta forma, a lógica familiar de produção é considerada o traço característico que une esse
segmento social, uma vez que as possibilidades de produção, á terra e o trabalho, estão
intimamente associados. Nesse sentido os termos conceituais de acordo com Abramovay
(1997, p.3) a agricultura familiar é aquela em que
[...] a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho, vêm de indivíduos
que mantêm entre si laços de sangue ou de casamento. Que esta definição
não seja unânime e muitas vezes tampouco operacional. É perfeitamente
compreensível, já que os diferentes setores sociais e suas representações
constroem categorias científicas que servirão a certas finalidades práticas.
O autor relata ainda que por vezes a agricultura não é entendida como trabalho
familiar, no entanto o que a distingue da maioria das formas sociais de produção como
“familiar” é o papel preponderante do núcleo familiar como estrutura fundamental de
organização e reprodução social. É por meio da formulação de estratégias familiares que se
perpetuam à transmissão do patrimônio material e cultural associado a forma de produção
familiar, estas estão vinculados aos modos de vida de camponeses que há anos acumulam
experiências e empregam o saber/fazer em um processo cotidiano de produção de grãos,
sementes, forrageiras e demais produtos de origem animal e vegetal.
As ideias do referido autor remetem ao pensamento que a produção familiar tem por
finalidade dar sustento de suas famílias sem perder o vínculo que os mantém pegos a terra, o
respeito aos recursos naturais e as limitações impostas pela natureza. As atividades assentadas
nessa perspectiva de produção, mantém suas raízes no círculo familiar por onde emana o
conhecimento acumulado, e serve de alicerce para a perpetuação de valores passados de
geração para geração fruto de um longo processo de experimentação que determinam o saberfazer.
Em acordo com essas afirmações, Martins (2001) declara que a agricultura familiar é
uma instituição de reprodução da família, cujo núcleo está na relação direta com a terra e com
a produção agrícola. Além da produção agrícola propriamente dita, inclui as retribuições
rituais dos filhos e netos em relação aos pais e avós e dos pais e avós em relação a filhos e
netos. Isso quer dizer que doações periódicas e remessas econômicas oriundas de ganhos
obtidos em família são distribuídas a outros setores da economia.
A agricultura familiar, ao longo do processo histórico, sempre manteve um lugar no
contexto do desenvolvimento econômico dos países por ser supridora de alimentos básicos
para o mercado interno. No Brasil, este tipo de agricultura praticada geralmente nas pequenas
propriedades, surgiu à margem da grande propriedade e nunca teve uma política em seu
benefício. A partir da década de 1990, ocorreram de forma significativa mudanças
econômicas, sociais e políticas no espaço mundial que promoveram esse processo produtivo
ao estado de mantenedor das atividades produtivas de alimentos Veiga (1991).
Foi nessa mesma década que a globalização tornou-se um dos fatores relevantes que
influenciou na determinação dos espaços de produção a nível mundial, esses movimentos
proporcionaram a redescoberta da agricultura familiar. Esta foi reconhecida como propriedade
na segunda metade da década de 90, quando foi lançado o PLANAF (Plano Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar) em agosto de 1995. Inicialmente era apenas uma
linha de crédito para custeios. Depois essa linha de crédito, seguindo as reivindicações da
CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura), culminou na criação
do PRONAF (Programa Nacional dos Trabalhadores da Agricultura Familiar) em 1996
Nesse contexto, Ferreira; Silveira; Garcia (2001, p. 497) a esse respeito ressaltam que
[...] o PRONAF constitui um dos principais instrumentos de financiamento
de produtores rurais no país. Sua novidade está em ter definido o agricultor
familiar como público-alvo exclusivo, reconhecendo, enfim, que sua
importância na produção de alimentos e matérias-primas não vinha
recebendo o necessário suporte governamental.
As afirmações do autor explicitam uma política que passava a proporcionar o
redescobrir de agricultores que há muito reivindicavam uma carta social que lhes dessem
suporte para desenvolver a pequena propriedade. É nesse contexto que se desenrola,
inicialmente, as políticas brasileiras voltadas a agricultura familiar. Nesse cenário as políticas
passam a vislumbrar a pequena propriedade e, por consequência o grupo produtivo familiar,
como fonte sólida de produção de alimentos de consumo básico em que grande parte das
atividades são regidas e promovidas por um grupo social. Tais atividades visam dentre outras
coisas possibilitar a melhora na qualidade de vida dos atores envolvidos em um âmbito local,
preservando com isso a identidade campesina familiar e consolidando a cultura de produção e
consumo em família. Nessa perspectiva Abramovay (1997, p.3) relata que a
[...]definição de agricultura familiar, para fins de atribuição de crédito, pode
não ser exatamente a mesma daquela estabelecida com finalidades de
quantificação estatística num estudo acadêmico. O importante é que estes
três atributos básicos (gestão, propriedade e trabalho familiar) estão
presentes em todas elas.
Certamente o autor amplia em suas afirmações as definições de agricultura familiar,
sem este cenário, as políticas voltadas para esse fim não conseguiriam enquadrar muitos dos
campesinos em um modelo único de trabalho rural, de associação e de produção. Os referidos
“pilares, gestão, propriedade e trabalho familiar” expostos pelo autor, formam uma tríade que
permiteuma melhor compreensão para fins de beneficiamento do programa governamental.É
por essa perspectiva que o PRONAF visa fortalecer a agricultura familiar através de apoio
técnico e financeiro à pequena produção. Tal incentivo propõe aumentar a produção agrícola,
gerar ocupações produtivas, viabilizar infraestruturas rurais promovendo melhoria no
desempenho produtivo e na qualidade de vida dos agricultores.
Neste sentido, para maior suporte e apoio às atividades produtivas da agricultura
familiar, o Estado vem investindo na reestruturação do sistema nacional de assistência técnica
e extensão rural (ATER). Em 2004, com o lançamento do Programa Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural (PRONATER), foi estabelecida outra missão para este serviço
público: apoiar e favorecer o desenvolvimento rural orientado pelos princípios da
sustentabilidade ambiental, social e econômica dos sistemas produtivos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente relato visou promover uma breve discussão sobre o MST como movimento
social de luta pela terra e a Agricultura Familiar enquanto produtora de alimentos a partir da
estrutura familiar em relação ao trabalho. Ainda, tencionou-se explicitar às políticas públicas
direcionadas à agricultura familiar com um breve relato sobre essa temática.
Em posse desses objetivos buscou-se um aprofundamento teórico em relação à
Geografia agrária enfatizando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, bem como
a agricultura familiar, que são temas que estão atrelados a esta área do conhecimento. Nesse
sentido, tornou-se relevante promover o acesso a informações do atual contexto rural
campesino, uma vez que, existem cada vez mais problemas neste cenário os quais estão
vinculados, dentre outros fatores, a concentração/distribuição da terra e renda.
Sendo assim com a organização do MST solidificou a luta pela terra ampliando as
conquistas dos trabalhadores rurais utilizando-se dos modos de produzir e viver, como
ferramenta que possibilita a construção de contextos específicos, preservando a cultura e
valorizando o conhecimento dos indivíduos que permeiam essas formas de vida. Nesse
sentido, os saberes que de lá emergem podem servir de guia para o desencadeamento de ações
de cunho social servindo de sustentáculo para prospecção de ações já estabelecidas e/ou
incentivando a estruturação de novos processos políticos voltados para as causas do campo.
Outro aspecto relevante é a consolidação do grupo produtivo familiar como fonte sólida de
produção de alimentos de consumo básico em que a maioria das atividades são regidas e
promovidas por um grupo social. Tais atividades visam, dentre outras coisas, possibilitar a
melhora na qualidade de vida dos atores envolvidos em um âmbito local, preservando com
isso a identidade campesina familiar e consolidando a cultura de produção.
Para o firmamento desses aspectos, relativos aos movimentos sociais do campo e das
formas de produção familiar, o Estado tem promovido as políticas públicas por meio de
programas e ações governamentais visando contribuir para a superação de antigas e
emergentes desigualdades no meio rural. A fim e suprir os clamores campesinos o governo
brasileiro vem favorecendo as novas estratégias de desenvolvimento como por exemplo o
incentivo a agricultura familiar através de programas como o PRONAF, ATER e
PRONATER. Visa com isso diversificar a produção possibilitando melhores retornos
econômicos, diante dos fatores disponíveis, proporcionando à família condições adequadas de
permanência no campo e uma melhor qualidade de vida.
Nesse cenário, o conjunto de políticas, programas e ações governamentais destinados
aos agricultores familiares e em especial ao MST, tem contribuído para a superação de
desigualdades historicamente constituídas. Tais políticas ainda carecem de aprimoramento,
visto que não atendem em sua plenitude as reivindicações há muito expostas pelo
campesinato. No entanto, principiam programas que assistem especialmente parte dessa
população rural, visando deste modo auxiliar prioritariamente o aceso a terra e aos benefícios
das políticas voltadas a produção familiar.
Não obstante, torna-se relevante fomentar e aprofundar as discussões sobre o modelo
atual de políticas públicas voltadas a distribuição de terra e fomento a agricultura familiar.
Vale lembrar que nenhuma discussão que envolva território poderá ignorar a formação de um
modelo de desenvolvimento que seja de cunho participativo e democrático incluindo para
tanto o debate com os movimentos sociais e a agricultura familiar. Cabe ressaltar que o
modelo produtivo e organizacional da unidade da agricultura familiar e da Reforma Agrária,
tem buscado efetivar suas ações e contribuições para a construção de uma sociedade justa,
comprometida com a produção familiar de forma sustentável, que respeite a cultura, o
saber/fazer e os limites impostos pelos recursos naturais disponíveis.
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