Universidade Federal da Bahia Escola de Medicina Veterinária Programa de Pós Graduação em Ciência Animal nos Trópicos Estudo epidemiológico da Doença Infecciosa Bursal em sistema industrial e alternativo de produção avícola: Caracterização molecular do vírus, soroepidemiologia e detecção de anticorpos em aves silvestres. Priscila Sousa da Silva Salvador-Bahia 2011 PRISCILA SOUSA DA SILVA ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA DOENÇA INFECCIOSA BURSAL EM SISTEMA INDUSTRIAL E ALTERNATIVO DE PRODUÇÃO AVÍCOLA: CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DO VÍRUS, SOROEPIDEMIOLOGIA E DETECÇÃO DE ANTICORPOS EM AVES SILVESTRES Dissertação apresentada ao Programa de Pós graduação em Ciência Animal nos Trópicos, da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciência Animal nos Trópicos, na área de Saúde Animal. Orientadora: Profa. Dra. Lia Muniz Barretto Fernandes Salvador – Bahia 2011 Sistema de Bibliotecas da UFBA Silva, Priscila Sousa da. Estudo epidemiológico da doença infecciosa bursal em sistema industrial e alternativo de produção avícola : caracterização molecular do vírus, soroepidemiologia e detecção de anticorpos em aves silvestres / Priscila Sousa da Silva. - 2011. 98 f. : il. Orientadora: Profª. Drª. Lia Muniz Barretto Fernandes. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Escola de Medicina Veterinária, Salvador, 2011. 1. Galinha - Doenças. 2. Ave silvestre - Doenças. I. Fernandes, Lia Muniz Barretto. II. Universidade Federal da Bahia. Escola de Medicina Veterinária. III. Título. CDD - 636.5 CDU - 636.52/.58 Estudo Epidemiológico da Doença Infecciosa Bursal em Sistema Industrial e Alternativo de Produção Avícola: Caracterização Molecular do Vírus, Soroepidemiologia e Detecção de Anticorpos em Aves Silvestres PRISCILA SOUSA DA SILVA Dissertação defendida e aprovada para obtenção do grau de Mestre em Ciência Animal nos Trópicos. Salvador, 01 de abril de 2011. Comissão Examinadora: Profa Dra. Lia Muniz Barreto Fernandes – UFBA Orientadora Profa Dra. Maria Emilia Bavia – UFBA Prof Dr. Roberto José Meyer Nascimento PPGIm/Labimuno/ICS/UFBA AGRADECIMENTOS Eis uma tarefa difícil. A Deus agradeço todos os dias por estar viva e me dar a oportunidade de aprender. Muitas pessoas foram imprescindíveis nas diversas etapas desse trabalho e as colaborações, grandes ou pequenas, foram fundamentais. Outros contribuíram com amizade, carinho e afeto, ingredientes importantíssimos para um bom trabalho. Temendo esquecer alguém, deixo aqui meus sinceros agradecimentos a todos que conviveram comigo nestes dois últimos anos. Gostaria de destacar algumas pessoas que foram especialmente importantes. Minha família, que sempre me incentivou e me apoiou, especialmente meus pais pelo apoio e incentivo em todas as decisões da minha vida. Serei eternamente grata por todos os ensinamentos...pelo todo e por tudo! Minha orientadora Profa. Dra. Lia Muniz Barretto Fernandes, minha referência na Medicina Veterinária, pela confiança depositada em mim, pelos ensinamentos, exemplo de profissionalismo, amor à profissão e principalmente pelo incentivo à pesquisa. Meu sincero agradecimento. A Família LASAB: Paulo César Costa Maia, Izabella Ramos, Tatiane Sales, Rickson Diego, Cynthia Oliveira, Inara Gonçalves, Jamille Lima, Nilson Santana, Vinícius Satyro e, novamente, a Profa. Dra. Lia Muniz Barretto Fernandes, agradeço não só pela ajuda, mas principalmente pela companhia e por tornar o laboratório uma parte da minha casa. Ao Médico Veterinário Pedro Lima pela disposição e boa vontade na coleta das aves silvestres, especialmente por não me fazer desistir de acreditar. À Brasil Foods, por autorizar a coleta de dados para execução de parte deste trabalho. Todas as pessoas que conheci nas localidades visitadas durante a realização desse trabalho, pela disponibilidade e satisfação em ajudar, especialmente ao Sr. Carlos, sempre muito solícito em me acompanhar nas coletas. À Thaís Batinga e Bruno Beltrão pela hospegadem e ajuda. Lia Muniz Barretto Fernandes, minha grande amiga, obrigada por ter me ajudado, tanto na universidade como na vida pessoal, e pelo convívio tão harmonioso e saudável que tivemos durante esses anos. Obrigada por fazer parte da minha vida! Meus amigos Aroldo Carneiro, Thadeu Mariniello, Mariana Coelho, Elitieri Neto, Thaís Batinga, Davi Azevedo, Leane Gondim, Matheus Resende, Alan Caine, Vanessa Silva, Cibele Barbosa, Ana Dávila, Bianca Lopes, Marajuce Silva, Silvério Júnior, Francisco Gonçalves, Lucas Botelho, Pablo Moreno, Gustavo Rodamilans e família Pinho saibam que vocês fizeram parte de uma das etapas mais importantes da minha vida. As lembranças de nosso convívio esses anos, serão por mim eternizadas. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo auxílio financeiro. “Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos.” Friedrich Nietzsche SUMÁRIO LISTA DE TABELAS.............................................................................................. ix LISTA DE FIGURAS............................................................................................... x LISTA DE ABREVIAURAS................................................................................... xi RESUMO................................................................................................................... xii SUMMARY............................................................................................................... xiii 1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 14 A Doença Infecciosa Bursal.............................................................................. 14 Avicultura no Brasil e na Bahia........................................................................ 16 2. REVISÃO DE LITERATURA...................................................................... 18 2.1 Definição........................................................................................................... 18 2.2 Histórico e Distribuição Geográfica.................................................................. 19 2.3 Características do agente etiológico.................................................................. 23 2.4 Epidemiologia................................................................................................... 28 Suscetibilidade.................................................................................................. 28 Transmissão...................................................................................................... 30 Patogenia.......................................................................................................... 32 Sinais Clínicos e Lesões.................................................................................... 35 2.5 Diagnóstico....................................................................................................... 39 2.6 Prevenção e Controle........................................................................................ 44 Medidas gerais de prevenção e controle.......................................................... 44 Medidas específicas de prevenção e controle................................................... 45 3. ARTIGOS CIENTÍFICOS............................................................................. 51 3.1 Artigo 1............................................................................................................. 50 3.2 Artigo 2............................................................................................................. 72 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 82 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 83 LISTA DE TABELAS ARTIGO 1 Frequência de anticorpos contra o vírus da Doença Infecciosa Bursal e detecção viral através da PCR/RFLP em criações de frango de corte e galinhas de quintal no polo avícola da Bahia. Tabela 1. Distribuição dos títulos de anticorpos, coeficiente de variação, desvio-padrão e frequência de anticorpos em frangos de corte nas duas regiões estudadas. Tabela 2. Distribuição dos títulos de anticorpos, coeficiente de variação, desvio-padrão e frequência de anticorpos em galinhas de quintal nas duas regiões estudadas. Tabela 3. Detecção e caracterização do IBDV em frangos de corte e aves de subsistência de duas regiões do polo avícola da Bahia. ARTIGO 2 Detecção de anticorpos contra o vírus da Doença Infecciosa Bursal em aves silvestres no polo avícola da Bahia. Tabela 1. Soropositividade para Doença Infecciosa Bursal em espécies de aves silvestres. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Distribuição dos títulos de anticorpos contra o IBDV em frangos de corte da região de Feira de Santana com média de títulos evidenciada. Figura 2. Distribuição dos títulos de anticorpos contra o IBDV em frangos de corte da região de Alagoinhas com média de títulos evidenciada. Figura 3. Distribuição dos títulos de anticorpos contra o IBDV em galinhas de quintal da região de Feira de Santana com média de títulos evidenciada. Figura 4. Distribuição dos títulos de anticorpos contra o IBDV em galinhas de quintal da região de Alagoinhas com média de títulos evidenciada. LISTA DE ABREVIATURAS IBD – Infectious Bursal Disease IBDV – Infectious Bursal Disease Virus OIE – Escritório Internacional de Saúde Animal EUA – Estados Unidos da América USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos vvIBDV – very virulent Infectious Bursal Disease Virus RNA – Ácido Ribonucléico RT-PCR – Reação de cadeia de polimerase com transcriptase reversa IDGA – Imunodifusão em Gel de Ágar ELISA – Ensaio Imunoenzimático VN – Vírusneutralização SPF – Specific Pathogen Free SILVA, P.S. Estudo Epidemiológico da Doença Infecciosa Bursal em Sistema Industrial e Alternativo de Produção Avícola: Caracterização Molecular do Vírus, Soroepidemiologia e Detecção de Anticorpos em Aves Silvestres. Salvador, Bahia, 2011. 98p. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos) - Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal da Bahia, 2011. RESUMO A Doença Infecciosa Bursal é uma enfermidade viral imunodepressora, altamente contagiosa, causadora de perdas elevadas à indústria avícola por afetar direta ou indiretamente o desempenho das aves. O monitoramento constante e o conhecimento a respeito da cadeia epidemiológica da doença são fundamentais para a prevenção e o controle de surtos, uma vez que o agente etiológico possui alta resistência no ambiente e grande capacidade rearranjo genético, gerador de variantes virulentas. Este trabalho teve o objetivo de investigar a freqüência de anticorpos contra o vírus da Doença Infecciosa Bursal em criações comerciais, em galinhas de quintal e em aves silvestres no pólo avícola da Bahia; e realizar a reação em cadeia da polimerase - transcriptase reversa (RTPCR), para a detecção e tipificação das amostras virais circulantes. Para os testes sorológicos em aves domésticas, foram coletadas 758 amostras de soro de frangos de corte e 320 amostras de galinhas de quintal. Para a detecção e caracterização do vírus nestas populações, foram coletados 6 pools de bursas de Fabrícius em frangos de corte e 3 pools em criações de subsistência, analisados posteriormente com PCR/RFLP. Os resultados revelaram que não há proteção uniforme na criação comercial nas duas regiões estudadas, sugerindo falha na vacinação e desafio com vírus no ambiente. Também observou-se altos títulos em aves de subsistência não vacinadas, com variação nos títulos de relacionada com desafios de campo. Nos testes moleculares verificou-se que 3 pools de frangos de corte eram positivos, sendo dois para cepa vacinal (G3) e um para cepa variante (G15). Nas criações de subsistência houve uma amostra positiva para cepa variante (G15). Os resultados demonstram a necessidade de monitoramento em ambas criações. Para verificar a presença de anticorpos contra a doença em aves silvestres, foram coletadas 76 amostras de soro de aves de vida livre que circulavam nos arredores dos aviários de frangos de corte, na região do pólo avícola da Bahia, para avaliação da presença de anticorpos contra o vírus da Doença Infecciosa Bursal. Foi encontrada evidência sorológica da infecção por IBDV em 5 (6,6%) das amostras em uma das espécies aviárias analisadas. Esses resultados sugerem a possibilidade que as aves silvestres que circulam nos arredores dos aviários comerciais atuam como propagadoras do IBDV na região. Este é o primeiro levantamento sorológico da IBD em aves silvestres da Bahia. PALAVRAS-CHAVE: Doença Infecciosa Bursal, frangos de corte, galinhas caipiras, aves silvestres, ELISA, IDGA, RT-PCR. SILVA, P.S. Epidemiological study of Infectious Bursal Disease in Industrial and Village Poultry System: Molecular Characterization of Virus, Seroepidemiology and Antibodies Detection in free-living wild birds. Salvador, Bahia, 2011. 98p. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos) - Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal da Bahia, 2011. SUMMARY Infectious Bursal Disease is an immunodepressing viral illness, highly contagious, that causes losses to avian industry, as it affects, directly and indirectly, poultry performance. Constant monitoring and knowledge regarding epidemiological chain are fundamental for prevention and control of outbreaks, since the etiological agent is very stable and capable of genetic ressortment that generates virulent strains. The aim of this study was to investigate the frequency of antibodies anti-Infectious Bursal Disease Virus as well as to detect the virus in broilers, small scale chickens, and free-living birds at Bahia’s poultry production area, and perform RT-PCR to detect and classify circulating viral strains. For serological tests in domestic poultry there were collected 758 serum samples from broilers and 320 from free-ranging chickens. For virus detection and characterization there were collected 6 bursal pools from broilers and 3 from free-ranging chickens, which were further analyzed with PCR/RFLP. Results showed that there is no uniform protection in commercial flocks, suggesting that it may be occurring vaccination errors and that it may be occurring challenge from viruses at the environment. There were observed high titers in no vaccinated free-ranging chickens, with titers varying related with environmental challenge. Molecular tests revealed that 3 broilers pools were positive in which 2 matched the vaccine strain (G3) and 1 a variant strain (G15). One sample from free-ranging chickens was positive for the variant strain (G15). These results demonstrate the need for monitoring both types of exploration. For evaluation of the presence of antibodies anti-IBDV in wild birds, 76 serum samples were collected from free-living birds circulating around the broiler aviaries in the region of Bahia’s most important poultry production area, Serological evidence of IBDV infection was found in 5 (6.6%) samples from one of the bird species analyzed. These finding suggests that these wild birds can be responsible for spreading IBDV in the area. This is the first report of serological survey of IBD in wild birds from Bahia State, Brazil. KEY-WORDS: Infectious Bursal disease, broilers, free-ranging chickens, wild birds, ELISA, IDGA, RT-PCR. 1. INTRODUÇÃO A Doença Infecciosa Bursal A Doença Infecciosa Bursal é uma enfermidade aguda e contagiosa, que se caracteriza por causar danos imunológicos permanentes nas aves afetadas. Reconhecida há mais de 40 anos, a doença continua a causar muitos prejuízos à indústria avícola comercial em todo o mundo. As perdas econômicas decorrentes desta enfermidade são muitas e variadas e se devem à morbidade e mortalidade, à imunossupressão observada nas aves sobreviventes, à ocorrência de doenças causadas por outros agentes, à redução da habilidade das aves em responder às vacinações e ao risco de introdução da enfermidade pela importação de produtos avícolas importados. O impacto econômico da doença é influenciado pela patogenicidade da amostra do vírus, susceptibilidade da linhagem, prevalência de outros patógenos, condições ambientais e práticas de manejo. A maioria dos lotes comerciais é infectada com o vírus causador da doença nos primeiros dias de vida, e nesses casos o efeito imunossupressor é ainda maior (SAIF, 1991; SHARMA et al., 2000, NILIPOUR, 2006). No Brasil e na Bahia, a Doença Infecciosa Bursal é endêmica e a indústria avícola tenta reduzir as perdas adotando estratégias baseadas em programas de vacinação diversificados e em medidas de biosseguridade. No entanto, nem sempre tais estratégias alcançam a eficácia esperada, devido à falhas na aplicação da vacina e de medidas gerais de prevenção. Salle (1989), avaliou os níveis de anticorpos maternos em pintos de 1 dia de idade provenientes de quatro diferentes empresas avícolas do Rio Grande do Sul, observando variação entre 7 e 100% na proteção por anticorpos maternos após o desafio com uma amostra clássica do sorotipo 1 do vírus da IBD , aos 14 e 21 dias. O autor concluiu que era fundamental investigar os programas de vacinação, métodos de aplicações das vacinas, a cepa vacinal (suave, intermediária ou forte) e as doenças intercorrentes. Estudo preliminar realizado na Bahia revelou que os programas de vacinação adotados para prevenção da Doença Infecciosa Bursal por empresas avícolas do polo avícola não estavam atingindo a proteção esperada. Os títulos obtidos na análise sorológica, também sugeriram que estavam ocorrendo desafios de campo. Além de enfatizar a importância da revisão dos programas de vacinação, os autores alertaram para a necessidade de implantação de medidas de biosseguridade adequadas (MOURA & MENDES, 2007). A eficácia dos programas de vacinação utilizados contra Doença Infecciosa Bursal no polo avícola da Bahia também foi avaliada por Lima (2010), que analisou integrações de frango de corte de 4 empresas avícolas. Os resultados demonstraram que nenhuma das empresas possuía esquema vacinal excelente, sendo que duas conseguiram resultados bons, gerando títulos de anticorpos uniformes nas aves. A falta de uniformidade nos títulos em outras duas empresas avaliadas levou à consideração de que as aves comerciais vacinadas desses lotes avaliados estavam sofrendo desafio a campo pelo IBDV. A circulação do vírus da Doença Infecciosa Bursal no ambiente da criação, a presença de vetores e hospedeiros, aumenta o desafio para os criadores. Como o vírus é altamente resistente no ambiente e facilmente transmissível entre aves, a presença de aves que sirvam como reservatórios é extremamente preocupante. Gonçalves (2009) observou a presença de altos títulos de anticorpos para IBD em galinhas de quintal na Bahia e alertou sobre a circulação do agente etiológico próximo aos ambientes de criação. Avicultura no Brasil e na Bahia No Brasil, a avicultura emprega mais de 4,5 milhões de pessoas, direta e indiretamente, e responde por quase 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional (UBA, 2009). De acordo com a UBABEF, a produção de carne de frango chegou a 12,230 milhões de toneladas em 2010, com crescimento de 11,38% em relação a 2009, quando foram produzidas 10,980 milhões de toneladas. Com este desempenho o Brasil se aproxima da China, hoje o segundo maior produtor mundial, cuja produção de 2010 somou 12,550 milhões de toneladas, abaixo apenas dos Estados Unidos, com 16,648 milhões de toneladas, conforme projeções do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). O crescimento em 2010 foi impulsionado principalmente pelo aumento de consumo de carne de frango e pela expansão de 5,1% nas exportações. Como resultado da produção em 2010, o consumo per capita de carne de frango no Brasil foi de 44 quilos no ano passado (UBABEF, 2011). A maior parte da carne de frango é produzida por grandes empresas integradas ou cooperativas que adotam práticas de manejo e controles rígidos de produção, sendo que mais de 70% das aves abatidas são inspecionadas pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) (ALVES, 2005). Na Bahia o aumento da produção de grãos no oeste vem permitindo que o estado se consolide como um importante produtor de carne de frango. A disponibilidade de matéria-prima tem favorecido a expansão das granjas no estado, a exemplo do que aconteceu nos estados do Centro-Oeste. O alojamento de pintos de corte na Bahia cresce u 13,3% em 2009, totalizando 107,47 milhões de aves, duas vezes acima da média nacional, que foi de 6,2%. Entre os estados que fazem parte da nova fronteira agrícola (BA, MA, PI e TO), a Bahia se destaca como maior produtor de frango (SEAGRI, 2011). Considerando a importância da avicultura para o Brasil e o crescimento da atividade na Bahia, bem como o impacto sócio-econômico da Doença Infecciosa Bursal, este trabalho teve o objetivo de investigar a frequência de anticorpos anti-IBDV em criações comerciais, em galinhas de quintal e em aves silvestres no pólo avícola da Bahia; e realizar a reação em cadeia da polimerase - transcriptase reversa (RT-PCR), para a detecção e tipificação das amostras virais circulantes. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Definição A Doença Infecciosa Bursal (IBD), é uma enfermidade viral, aguda e altamente contagiosa, resultante da infecção pelo vírus da doença infecciosa bursal (IBDV) (CASTRO et al., 2009). A enfermidade acomete galinhas jovens, principalmente entre a terceira e a sexta semana de idade, sendo considerada mundialmente uma doença endêmica na avicultura comercial, podendo levar a perdas significativas (GENOVA, 2000; LIU et al., 2002; PHONG et al., 2003; TIWARI et al., 2003; KULÍKOVA et al., 2004; DIAS, 2007). Também conhecida com Doença de Gumboro, a IBD é caracterizada pela extensa destruição dos órgãos linfóides, em particular da bursa de Fabrício, causando severo efeito imunossupressor e aumentando a suscetibilidade a outras doenças (WANG et al., 2008), podendo levar à infecções oportunistas e favorecer a ocorrência de outras enfermidades virais, como a doença de Newcastle, Bronquite Infecciosa das Galinhas e Laringotraqueíte (BANDA et al., 2003), além de reduzir a resposta à vacinação das aves (MÜLLER et al., 2003; PHONG et al., 2003). Como consequência da infecção, o lote afetado geralmente apresenta-se desuniforme devido à perda de peso (BANDA et al., 2003). O impacto econômico da Doença Infecciosa Bursal é influenciado pela virulencia da cepa do vírus, suscetibilidade das aves do lote, intercorrencias de patógenos primários e secundários além de fatores ambientais e de manejo (MÜLLER et al, 2003). A Doença Infecciosa Bursal é considerada pelo Escritório Internacional de Saúde Animal (OIE) uma enfermidade transmissível, importante do ponto de vista sócioeconômico e/ou sanitário a nível nacional, e internacional, no comércio de animais e produtos de origem animal (OIE, 2004). 2.2 Histórico e Distribuição Geográfica A Doença Infecciosa Bursal emergiu na região de Delmarva (EUA), no final da década de 50, como uma enfermidade aguda, causadora de alta morbidade e mortalidade em frangos de corte. A primeira descrição deste surto foi feita por Albert Cosgrove, no ano de 1962, relatando casos ocorridos na localidade de Gumboro, estado de Delaware (EUA). O consenso inicial era de que a nefrose aviária, ou Doença de Gumboro, era causada por uma variante do vírus da Bronquite Infecciosa (amostra Gray) devido às alterações renais encontradas. Como se percebeu depois, o equívoco se deu porque as duas infecções aconteciam simultaneamente em muitos casos e o agente etiológico era difícil de isolar usando as ferramentas disponíveis no momento (LASHER & DAVIS, 1997; LOJKIC et al., 2003; AL-NATOUR et al., 2004). Um dos esforços mais intensos para identificar o agente responsável pela Doença de Gumboro foi iniciado pelo grupo dos laboratórios L&M, em Marykand (EUA), que determinou que o agente causador da enfermidade era muito diferente do vírus da Bronquite (LASHER & DAVIS, 1997). O nome Doença Infecciosa Bursal, utilizado atualmente, se deve ao reconhecimento de que a bursa de Fabricius era o alvo principal do vírus causador da enfermidade (BERNARDINO & LEFFER, 2009; ITO et al., 2001; LUKERT & SAIF, 2003). Nas décadas de 60 e 70, a Doença Infecciosa Bursal foi diagnosticada em diferentes regiões dos EUA (LEFFER, 2004). Em princípio, a prevalência da doença clínica foi reduzida com a introdução de vacinas vivas, a partir de 1966. A primeira vacina contra o IDBV foi preparada por Edgard na Universidade de Auburn. Essa vacina foi chamada apropriadamente de “não atenuada” porque continha uma suspensão de bursas obtidas de aves infectadas com um isolado de campo. Esta não foi apenas a primeira vacina para uso no campo, mas o primeiro e único produto derivado de bursas aplicado diretamente. Foi usado com sucesso em mais de 3 milhões de aves. A vacina satisfazia uma importante necessidade no momento, controlando a mortalidade por IBD. No entanto, havia a necessidade de desenvolver vacinas mais apropriadas, uma vez que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) julgava arriscado o movimento para a utilização da vacina de Edgard em vários estados americanos, considerada por ele como uma “infecção planejada” (LASHER & DAVIS, 1997). Novas pesquisas levaram ao desenvolvimento de vacinas inativadas, no final da década de 70. No entanto, no início da década de 80, ainda eram identificados sinais severos da doença nos EUA, bem como casos de imunodepressão sem demonstração de sinais clínicos, principalmente na área avícola de Delaware (VILLEGAS & BANDA, 2001). Novos isolamentos, realizados a partir de surtos com sinais clínicos e mortalidade, inclusive em aves adultas, demonstraram grandes alterações na estrutura antigênica das proteínas do vírus causador da enfermidade (CHETTLE et al., 1989). As falhas vacinais relatadas em vários países nos anos de 1986 e 1987 foram atribuídas às novas variantes virais detectadas (JACKWOOD & SAIF, 1987; SNYDER et al., 1992). Em 1986 surgiu na Europa uma variante muito virulenta do vírus da Doença Infecciosa Bursal (vvIBDV). Esta amostra demonstrou-se altamente patogênica, sendo capaz de causar infecção em lotes de frangos de corte detentores de altos títulos de anticorpos maternais, e se disseminou rapidamente entre vários países europeus, causando perdas econômicas sérias e mortalidade de até 100% nas aves (ABDEL-ALIM et al., 2003; BOLIS et al., 2003; ZORMAN-ROJS et al., 2003). A partir da primeira descrição a enfermidade já foi relatada em Cuba e Chile (NODA et al., 2005); Brasil ( PAULA et al., 2004); Uruguai (HERNÁNDEZ et al., 2006); Argentina (REMORINI et al., 2006); Croácia (LOJKIC et al., 2003); República Dominicana (PAGÈS-MANTÉ et al., 2000); Polônia e Hungria (DOMANSKA et al., 2004); China (LIU et al., 2002); Coréia (JEON et al., 2008); Malásia (TAN et al., 2004); Paquistão (LONE et al., 2009); Egito (HASSAN, 2004); Nigéria (OKOYE & ABAADULUGBA, 1998); e Tanzânia (KASANGA et al., 2007). Esses relatos demonstram que o IBD já foi isolado em praticamente todos os continentes. No Brasil a enfermidade foi descrita pela primeira vez por Nakano et al. (1972), e o primeiro relato de isolamento viral foi feito por Saukas, em 1978. Os primeiros surtos da Doença Infecciosa Bursal no Brasil ocorreram em Minas Gerais e foram considerados de alta patogenicidade. No entanto, até meados da década de 90, a predominância dos casos era da forma subclínica, com atrofia da bursa e problemas secundários decorrentes da imunossupressão, sendo que as vacinas comerciais de mercado conferiam proteção satisfatória (LEFFER, 2004; DIAS, 2007). No início da década de 80 a vacinação com estirpe atenuada em células (Lukert) passou a ser realizada no nosso país, e, em meados desta, ocorreu a introdução das vacinas oleosas nas reprodutoras, mantendo-se a utilização de vacinas suaves na progênie, e introduzindo-se vacinas intermediárias para revacinações. Com objetivo de imunizar aves com altos títulos de anticorpos passivos, foram introduzidas para revacinações, na década de 90, as vacinas do tipo “forte” (CBMforte) (MICHELL, 2007). No ano de 1997, foi diagnosticada no estado de São Paulo a forma altamente virulenta da IBD (vvIBD), em criações de aves de postura e corte, com mortalidade alta e sintomatologia clínica da doença. Em posterior identificação, através da similiaridade antigênica, genética e de patogenicidade, foi comprovada a semelhança com a cepa muito virulenta européia (DI FÁBIO et al., 1999; BERNARDINO & LEFFER, 2009). Banda & Villegas (2004) caracterizaram geneticamente isolados brasileiros a partir da cepa vvIBDV e encontraram maior similaridade com isolados europeus do que com isolados americanos, sugerindo que a origem da variante brasileira seja européia. Quatro anos após a identificação inicial da vvIBD em São Paulo, sua ocorrência foi relatada em todos os estados do país, até mesmo nas localidades mais distantes com pouca avicultura industrial, constituindo um problema que obriga as empresas avícolas a adotarem novas abordagens de prevenção com relação a biosseguridade e programas de vacinação (TESSARI et al., 2000; DI FÁBIO, 2002). 2.3 Características do agente etiológico A Doença Infecciosa Bursal (IBD) é causada pelo vírus da doença infecciosa bursal (IBDV), tem simetria icosaédrica, não é envelopado e possui diâmetro variando de 5565 nm. O genoma viral consiste em uma fita dupla de RNA bi-segmentada (SCHRÖDER et al., 2000; OWOADE et al., 2004; COULIBALY et al., 2005), o que permitiu sua classificação dentro de uma nova família de vírus, a Birnaviridae, sendo considerada o protótipo do gênero Avibirnavirus (LEONG et al., 2000). Os vírus pertencentes à família Birnaviridae não infectam mamíferos e, são classificados em 3 gêneros: Aquabirnavirus, onde está classificado o Infectious pancreatic necrosis vírus (IPNV) que acomete salmonídeos e trutas; Avibirnavirus, constituído apenas pelo IBDV que infecta somente galinhas e Entomobirnavirus, incluindo o Drosophila X vírus que infecta Drosophila melanogaster (DOBOS et al., 1995). Os birnavírus replicam-se no citoplasma causando leve depressão nos processos celulares de transcrição e tradução, sendo o mRNA viral transcrito por uma RNA polimerase dependente de RNA associada ao virion (MURPHY et al., 1999). O IBDV possui morfologia hexagonal e seu genoma consiste de duas moléculas de RNA fita dupla que são chamadas A e B (DIAS, 2007). O segmento A codifica as proteínas virais VP2, VP3, VP4 e VP5, enquanto que a proteína VP1 é codificada pelo segmento B (VAN DEN BERG, 2000). Dentro do segmento A, a VP2 e VP3 são proteínas estruturais formadoras do capsídeo externo e interno, respectivamente (DIAS, 2007). A VP2 está relacionada com a antigenicidade do vírus, ou seja, expressão de epitopos que induzem uma resposta de anticorpos. Por isso, os anticorpos gerados por ela permitem efetuar sua diferenciação dos sorotipos e subtipos virais. A VP3 é a principal responsável pela conformação estrutural do vírus e tem relação com antígenos grupos específicos (ITO et al., 2001). A VP4 é uma protease viral, a VP5 é uma proteína não-estrutural e ambas são responsáveis pela maturação das proteínas do capsídeo e pela liberação do vírus na célula infectada (DI FÁBIO, 2001; MÜLLER et al., 2003; KONG et al., 2004; LOMBARDO et al., 2000). O segmento B codifica a proteína VP1, que possui atividade de polimerase e atua como a RNA polimerase dependente de RNA, sendo responsável pela replicação e transcrição do genoma do vírus nas células infectadas e, pelo encapsulamento das partículas virais (MACREADIE & AZAD, 1993; DI FÁBIO, 2001; MÜLLER et al., 2003; KONG et al., 2004; LOMBARDO et al., 2000). A VP1 encontra-se presente em pequenas quantidades no virion como proteína livre (DIAS, 2007) e também está ligada ao final do segmento do genoma viral (DIAS, 2007; MÜLLER et al., 2003). As proteínas da VP1 formam um distinto subgrupo de RNA dependente da RNA polimerase. O IBDV se multiplica nos tecidos linfóides, com predileção pela bursa de Fabricius (SCHRÖDER et al., 2000; OWOADE et al., 2004; COULIBALY et al., 2005), podendo destruir precursores de imunoglobulinas (AL-NATOUR et al., 2004). O agente é altamente contagioso e imunossupressivo, causando morbidade e rara mortalidade em galinhas com 3 a 6 semanas de idade. O vírus é considerado altamente contagioso entre aves e entre lotes. A sua resistência no meio ambiente e a ausência de imunidade são os principais fatores que facilitam a contaminação entre galpões. O IBDV tem infectividade elevada, pois pequenas doses do vírus são suficientes para instalação da infecção na ave. A virulência da cepa é variável e à medida que aumenta a virulência desta aumenta também a mortalidade (BERNARDINO & LEFFER, 2009). Inicialmente, a maioria das variações na sequência de aminoácidos foi identificada em uma região localizada na proteína VP2. Essa região tem a maior variação da sequência de aminoácidos (KABELL et al., 2005; KASANGA et al., 2007) e por isso, é responsável pela emergência de novas variantes de IBDV e, pelas diferenças de antigenicidade e atenuação viral (MICKAEL & JACKWOOD, 2005). Contudo, variações substanciais em VP1, VP3 e VP4 também foram detectadas (KABELL et al., 2005; KASANGA et al., 2007). Mutações na VP1 são causas de variações antigênicas e modificações de virulência in vivo e atenuações in vitro (ITO et al., 2001). Análises filogenéticas indicam que o segmento B está relacionado com emergência de cepas vvIBDV (MÜLLER et al., 2003). Algumas estruturas e sequências são essenciais para a viabilidade do IBDV, enquanto outras são específicas para cepas e tipos, incluindo sorotipos e patotipos. Cada modificação na composição genética das proteínas estruturais e regulatórias, e/ou na sequência poderia influenciar no ciclo viral, na especificidade ao hospedeiro e na virulência da cepa (VAN DEN BERG, 2000). Os vírus com genoma RNA segmentado, como o IBDV, possuem uma grande diversidade genética devido a alta taxa de mutação da RNA polimerase e da possível ocorrência de rearranjos entre os segmentos genômicos. Essas modificações podem gerar tanto variações antigênicas quanto patogênicas, uma vez que podem alterar a virulência do vírus (VAN DEN BERG, 2000). Dois sorotipos são descritos para o IBDV: 1 e 2. O sorotipo 1 abrange os vírus que são patogênicos para as galinhas. Os vírus pertencentes ao sorotipo 2 podem infectar galinhas e perus, mas não são patogênicos para ambas as espécies (ASHARAF, 2005; GARDIN, 2000; MAJÓ et al., 2002). No sorotipo 1 existem diferentes cepas que são classificadas em clássica, variante antigênica, e muito virulenta (LOJKIC et al., 2008), que expressam diferentes graus de patogenicidade (LIM et al., 1999). Dentro das cepas clássicas encontram-se a grande maioria das amostras vacinais utilizadas em avicultura (SAIF, 1999; ASHRAF, 2005). Os critérios utilizados para a classificação das cepas do IBDV incluem patogenicidade, antigenicidade e relação genética (ASHRAF, 2005). No Brasil, diferentes padrões de vírus têm sido encontrados em várias regiões através de ensaios de enzimas de restrição com sítios na região hipervariável da VP2, permitindo a diferenciação das cepas variantes antigênicas, clássicas e altamente virulentas (IKUTA et al., 2001). O conhecimento de tipos patogênicos dos IBDVs serve para estimar a relação que pode ser estabelecida entre a exposição de uma ave ou lote ao vírus de campo ou vacinal, com densidade populacional, eficiência do programa de vacinação e biosseguridade. O resultado desta interação permitirá avaliar o tipo de vírus prevalente e a severidade da doença induzida pelo vírus de campo em uma região, estado ou país (ITO et al., 2001). O surgimento de cepas de maior virulência em criações industriais constitui um problema para avicultura (DI FÁBIO et al., 1999), fato esse que impõe aos avicultores a adoção novas abordagens de prevenção, no sentido de determinar vacinas, melhorar os programas de vacinação e aplicar medidas de biosseguridade (TESSARI et al., 2001). O IBDV é bastante estável e muito resistente à inativação por agentes químicos e físicos, o que favorece a sua persistência no ambiente mesmo após a limpeza e desinfecção (ITO et al., 2001). O vírus é inativado em tratamentos com pH alcalino (12,0), porém permanece ativo em pH ácido (2,0); resiste à temperatura de 37°C por 90 minutos e 56°C durante 5 horas. O patógeno não é afetado por éter, clorofórmio, aldeídos, fenol, etanol, amônia quaternária e misturas complexadas (BENTON et al., 1967; VILLEGAS & BANDA, 2001; MORAES et al., 2005). Uma redução acentuada na infectividade do vírus foi observada após o tratamento com 0,5% de formalina por 6 horas. O vírus é resistente à inativação por cozimento, e existe o risco de introdução em criações de quintal através de produtos feitos com carne crua, já que o vírus pode estar presente na carne de aves aparentemente saudáveis (LUKERT & DAVIS, 1974). Essa resistência do vírus aos desinfetantes e compostos químicos acarreta longa sobrevivência nas instalações, podendo persistir no galpão por 10 dias depois que as aves infectadas são retiradas e pelo menos 52 dias na água, alimentos e fezes, dificultando seu controle (VILLEGAS & BANDA, 2001; MAJÓ et al., 2002; MORAES et al., 2005). 2.4 Epidemiologia Suscetibilidade As galinhas são hospedeiras naturais do IBDV, sendo susceptíveis ambos os sexos e todas as raças (VAN DEN BERG, 2000). A manifestação clínica da doença é mais evidente quando a infecção ocorre a partir da terceira semana de idade (SANTOS et al., 2004). A imunidade maternal pode proteger a progênie até a terceira e quarta semanas de vida. Pintos com menos de três semanas de idade e sem anticorpos maternos sofrem severa imunossupressão, em alguns casos sem manifestação de sinais clínicos, podendo resultar em aves com crescimento retardado e mortalidade (SHARMA, 1999). O período de incubação pode ser muito curto e a duração da doença em torno de uma semana, sendo a mortalidade observada por volta do terceiro dia após infecção atingindo valor máximo entre três e sete dias, quando passa a declinar (TESSARI et al., 2000). Gallus domesticus é a única espécie de ave conhecidamente suscetível à doença clínica e às lesões características causadas pelo IBDV. Outras espécies são suscetíveis à infecção com o vírus, porém são resistentes às manifestações clínicas da doença (SHARMA et al., 2000). A doença é difundida nas aves domésticas, distribuída em todo o mundo e têm mais importância para a indústria do que para as aves domésticas (LOJKIC et al., 2003; ALNATOUR, et al., 2004). No Brasil, existem relatos de monitoramentos sorológicos para esses vírus na população avícola industrial (ROMERO et al., 1989). No entanto, não existem estudos de prevalência de anticorpos na população de aves criadas fora do sistema industrial, como galinhas de terreiro e aves silvestres (SANTOS et al., 2008). Altas taxas de amostras positivas contra o IBDV foram identificadas em criações de galinha de quintal indicando que este vírus circulam amplamente na população de galinhas de quintal. A circulação do IBDV pode ser considerada um risco à sanidade avícola, considerando-se a capacidade de disseminação do agente viral (SANTOS et al., 2008). Aves silvestres e ratos também podem servir de reservatório do vírus (NILIPOUR, 2006). Estudos sorológicos feitos por Wilcox (1983), evidenciaram uma infecção pelo sorotipo 1 em aves silvestres, sugerindo que essas aves participam da cadeia epidemiológica do IBDV servindo de reservatório do vírus. Kasanga et al. (2008) detectaram uma parte do genoma do vírus clássico e do vírus muito virulento de provenientes de criações de pombos e de galinhas d’angola. Essa relação de aves silvestres com galinhas demonstra que as aves silvestres podem estar participando da epidemiologia da Doença Infecciosa Bursal naturalmente. Jeon et al. (2008) investigaram a causa de mortalidade de aves silvestres na Coréia do Sul. Das 107 aves de vida livre, de sete espécies distintas, encontradas mortas, cinco apresentaram positividade para IBDV na reação de cadeia de polimerase com transcriptase reversa (RT-PCR). A análise filogenética da sequência do gene VP2 revelou que a amostra do vírus encontrada nestas aves era semelhante à amostra muito virulenta (vvIBDV) isolada de galinhas domésticas de regiões endêmicas. A inoculação desta amostra em aves livres de patógenos específicos acarretou 60% de mortalidade e severa atrofia bursal. Uma vez que quatro das cinco amostras positivas foram isoladas de aves aquáticas, os autores sugeriram que estas aves possam atuar como reservatórios, desempenhando papel importante na epidemiologia da IBD. Transmissão A ave infectada elimina o vírus para o ambiente por meio das fezes, sendo a transmissão tida somente como horizontal. A disseminação do IBDV dentro de um lote de aves ocorre pelas vias aéreas, digestiva e ocular, assim como, através de roupas, calçados, material de limpeza e trabalho, cama e fezes de aves infectadas e também veículos (WANG et al., 2007; VILLEGAS & BANDA, 2001; MORAES et al., 2005). Não há evidência de transmissão via ovo e nem de que aves infectadas permaneçam portadoras (VILLEGAS & BANDA, 2001; MORAES et al., 2005). Cepas do IBDV isoladas de patos, gansos e pardais são patogênicas para galinhas apesar de possuírem diferentes graus de patogenicidade. Essas aves podem servir como possíveis veículos de transmissão do IBDV (WANG et al., 2007). Aves silvestres, peixes ou insetos, carreadores assintomáticos ou aves com infecção latente podem ter tido um importante papel no aparecimento das amostras hipervirulentas (ITO et al., 2001). O cascudinho (Alphitobius diaperinus) presente em muitos galpões de frangos é capaz de servir como um reservatório para o IBDV (MCALLISTER et al., 1995; NILIPOUR, 2006). O vírus foi isolado de besouros adultos até 14 dias após a exposição, e foi detectado nas larvas após 24h. O cascudinho vive em meio à cama do aviário, principalmente ao redor dos comedouros e, também no solo (até 20 cm de profundidade) e, encontra nos aviários, boas condições de sobrevivência, alimentandose de fezes, ração e animais mortos (ALVES et al., 2005). Howie & Thorsen (1981) relatam a existência de uma cepa de IBDV isolada de um conjunto de mosquitos Aedes Vexans presos ao sudoeste de Ontário. Apesar da cepa não produzir sinais clínicos ou lesões graves após a infecção, ela induziu altos títulos de anticorpos em galinhas inoculadas. Os autores sugeriram que a cepa isolada poderia ser útil como uma estirpe vicinal, uma vez que é apatogênica. O IBDV também foi isolado das fezes de um cão 24 e 48 h após a ingestão de tecidos infectados com o vvIBDV. Embora o vírus recuperado nas fezes apresentasse taxa de mortalidade menor do que o vírus original, as aves sobreviventes à inoculação experimental tinham lesões claras IBD, indicando que o vírus afetou todas as galinhas inoculadas. Cães alimentados com aves mortas infectados com vvIBDV, podem desempenhar um importante papel como reservatório do vírus dentro das instalações, ou a propagação do vírus facilmente de uma galinha de quintal para o outra (PAGÈSMANTE et al., 2004). Patogenia O sistema imune é responsável por conferir proteção às aves, evitando a entrada de patógenos (SHARMA et al., 2000). Estes, por não encontrarem sua entrada impedida pelas barreiras físicas ou controlados pelos mecanismos inatos de defesa, desencadeiam uma resposta imune adaptativa que será mediada principalmente pelos linfócitos T, linfócitos B e os macrófagos (GLICK, 1995; SHARMA et al., 2000). A imunidade adaptativa é altamente específica para o agente que estimula seu desenvolvimento, enquanto que a imunidade não-adaptativa ou inata é inespecífica. As células que participam da imunidade específica retêm uma "memória" de seu encontro com os patógenos mesmo depois deste ter sido eliminado do corpo e que a resposta imune detectável diminuiu (SANTIAGO et al.,1999). As imunoglobulinas (Ig), também conhecida como anticorpos, são secretadas pelos linfócitos B, e constituem o principal componente da imunidade humoral. As aves têm três classes principais de imunoglobulinas: IgM, IgG e IgA. A IgM é encontrada na superfície da maioria dos linfócitos B e é o primeiro anticorpo produzido depois da imunização primária. Com a evolução da resposta imune, as células produtoras de IgM passam a produzir IgG ou IgA. A IgA tem importância fundamental na indução da imunidade de mucosa. A IgG é o principal anticorpo produzido depois da imunização secundária e é a classe de Imunoglobulina predominante no sangue, também denominada de IgY quando extraída da gema de ovos. (HIGGINS & WARR, 2000). Para proteção de aves contra desafios ou agente infeccioso, quatro tipos de imunidade são importantes. Elas são: anticorpos circulantes ou humorais, imunidade produzida localmente no trato respiratório ou intestinal, imunidade mediada por células – T e a imunidade de origem materna. Anticorpos humorais são produzidos em resposta à infecção ou pela vacinação. A imunidade mediada por células é considerada a mais importante na proteção contra os desafios, embora somente agora comecem a estar disponíveis as técnicas que possibilitam o estudo da imunidade neste sentido. Os níveis de anticorpos maternos declinam rapidamente. Em diversos locais da cabeça da galinha, a glândula de Harder (GH), glândula lacrimal (GL) e conjuntiva têm demonstrado conter elementos linfóides. Estes locais são denominados como Tecido Linfóide Associado à Cabeça (HALT) e acredita-se que eles constituem um sistema imune regional e, que quando o HALT está comprometido, a ave como um todo está potencialmente em risco (MONTGOMERY et al., 1997). Em condições naturais, o modo de infecção mais frequente do IBDV se dá pela mucosa oral, porém as vias respiratórias e ocular também são usadas. Depois de quatro a cinco horas da entrada do vírus no organismo do animal, por células mononucleares fagocitárias, denominadas macrófagos e células linfóides do ceco, duodeno e jejuno, bem como nas células de Kupfer do fígado (SHARMA et al., 2000). Nesses sítios podem ser observadas alterações funcionais importantes que resultarão em gastroenteropatias com eliminação de fezes aquosas e, principalmete, imunodeficiência local (ITO at al., 2001). Ao cair na corrente sanguínea, aproximadamente onze horas após a infecção, o agente viral infecta inicialmente a bursa, afetando sua morfologia e fisiologia, destruindo células linfóides nas regiões medulares e corticais foliculares (SHARMA et al., 2000). Posteriormente, uma segunda viremia ocorre e se estende aos órgãos como baço, timo e glândulas de Harder (MÜLLER et al., 2003; BERNARDINO & LEFFER, 2009). Os antígenos virais podem ser encontrados no fígado e rim nas primeiras horas de infecção (SHARMA et al., 2000) e, na bursa, até nove dias pósinfecção (MÜLLER et al., 2003; BERNARDINO E LEFFER, 2009). O IBDV destrói os linfócitos B e ativa outras células imunes. As aves expostas ao vírus são acometidas por uma imunodepressão transitória, mas que pode comprometer tanto a resposta humoral quanto a celular. A inibição da imunidade humoral ocorre pela destruição das células produtoras de imunoglobulinas pelo vírus. Os efeitos imunossupressivos podem atingir as aves a partir da terceira semana de idade e tende a desenvolver uma perda parcial ou permanente das funções do sistema imune, levando a diminuição do desempenho destas aves e danos para sua saúde (ITO et al., 2001; MARTINS et al., 2005) A doença pode apresentar a forma clínica ou aguda, com mortalidade variável, e a forma subclínica, sem mortalidade (ITO et al., 2001; SANTOS et al., 2004). A patogênese e a resposta imune causada pelo IBDV podem variar dependendo da idade da ave infectada (RAUTENSCHLEIN et al., 2007). Aves a partir da terceira semana de idade são mais sensíveis à doença clínica e aves com menos de três semanas de idade são acometidas da doença subclínica com grave imunossupressão (ITO et al., 2001; SANTOS et al., 2004; RAUTENSCHLEIN et al., 2007). O período de incubação da doença é muito curto e os sinais clínicos são vistos entre dois a três dias após infecção (ITO et al., 2001; SANTOS et al., 2004). De acordo com Müller et al. (2003), o resultado de uma infecção pelo IBDV depende geralmente da cepa, da quantidade de vírus infectante, da idade e da raça da galinha, da rota de inoculação e da presença ou ausência de anticorpos neutralizantes. Como consequência da alta taxa de mutação e variabilidade genética, as diferentes cepas do IBDV apresentam disparidade em relação às propriedades antigênicas e patogênicas. Sinais Clínicos e Lesões Os sinais clínicos ocorrem em 10 a 20% das aves infectadas (MORAES et al., 2005) e estão associados à doença aguda ou clínica e incluem anorexia, depressão, penas arrepiadas, tremores, diminuição ingestão de água, desidratação, prostração, diarréia com fezes de tonalidade esbranquiçada ou consistência aquosa, apresentando cloaca suja e mortalidade variável (DI FÁBIO et al., 1999; SHARMA et al., 2000; BOLIS et al., 2003; BANDA & VILLEGAS, 2004). As lesões mais típicas dessa doença, nos três primeiros dias após a infecção são edema e aumento de tamanho da bursa de Fabrícius, que é o órgão alvo do vírus, com ou sem deposição de material gelatinoso na superfície da serosa e às vezes hemorrágica. Existem cepas que causam severas hemorragias na bursa de Fabrícius. No período subsequente, o edema desaparece e a bursa atrofia. As alterações da mesma sempre estão presentes, independente de as aves apresentarem infecção clínica ou subclínica. Na necropsia são evidenciadas hemorragias no tecido subcutâneo e, principalmente, nos músculos das regiões das sobrecoxas e da coxas (NAGARAJAN & KIBENGE, 1997; TESSARI et al., 2000; VAN DEN BERG, 2000; SANTOS et al., 2004). Lesões hemorrágicas também estão presentes na porção glandular do proventrículo (STOUTE et al., 2009). O baço encontra-se aumentado de volume e os intestinos mostram-se com a mucosa espessa e com grande quantidade de muco. Os rins apresentam-se congestos, aumentados de volume e com presença de uratos (TESSARI et al., 2000; SANTOS et al., 2004). A evolução das lesões microscópicas na bursa de Fabrícius se dá da seguinte maneira: no primeiro dia pós-infecção pode ser observada degeneração de células linfóides, início de afluxo de heterófilos e/ou células mononucleares e hiperemia. A partir do segundo ao terceiro dia, visualiza-se necrose folicular com acúmulo significativo de células inflamatórias, exsudato plasmático e, às vezes hemorragias. De modo geral, a atrofia folicular começa no ápice da cripta e a partir de quatro dias em diante, verificase atrofia folicular com depleção linfóide e formação de cavidade cística, mais evidente quando da infecção com o vírus mais patogênico (DI FÁBIO et al., 1999). Em outros órgãos, há predomínio de alterações no período de dois a três dias pós-infecção e são mais severos com vírus mais patogênicos. No baço, pode ser visualizada necrose de bainha perarteriolar e ou acúmulo de células mononucleares na zona marginal e ou infiltrado de heterófilo. No timo, observa-se linfocitólise e atrofia cortical. Na tonsila cecal encontra-se infiltração aguda e predominante de heterófilos e linfocitólise. Já na glândula de Harder, ocorre degeneração de plasmócitos e aumento de células mesenquiais e fibroblastos. No rim aparecem aumentados e pálidos ou esbranquiçados, observa-se também necrose tubular, nefrite e nefrose devido à desidratação. No fígado nota-se degeneração de células de Kupffer (BOLIS et al., 2003). As lesões post-mortem observadas incluem atrofia da bursa, desidratação e coloração enegrecida dos músculos peitorais, ambas frequentemente associadas com hemorragias na coxa. As aves que sobrevivem à fase aguda da doença eliminam o vírus e se recuperam dos sinais clínicos. A inibição da função das células B e T causada pela IBDV também é superada, e a bursa de Fabrício é recuperada (SHARMA et al., 2000). Na forma subclínica, os sinais clínicos são moderados, manifestando com quadro de retardo de crescimento, palidez de crista e barbela, sonolência discreta ou redução da atividade geral. Devido a imunossupressão, as aves tornam-se mais susceptíveis a outras infecções como: colibacilose, coccidiose, dermatite gangrenosa e doença de Marek. As respostas vacinais também podem ser comprometidas devido à diminuição dos títulos de anticorpos (SHARMA et al., 2000). As cepas clássicas são caracterizadas pela indução de depressão, anorexia, penas arrepiadas, tremores, diarréia esbranquiçada e aquosa, prostração e morte. Essas cepas também induzem nefrite severa, bursite e atrofia da bursa (BANDA et al., 2003), resultando em imunodeficiência e mortalidade moderada (WANG et al., 2007), podendo chegar a 25% (VAN DEN BERG et al., 1991). As cepas variantes antigênicas são mutações antigênicas da cepa clássica e possuem a habilidade de induzir imunossupressão em aves com níveis adequados de imunidade humoral. Elas causam uma rápida e severa atrofia da bursa de Fabrício, porém não produzem sinais clínicos da doença. A presença da cepa variante em poedeiras comerciais aumenta a suscetibilidade a outras doenças virais como a bronquite infecciosa, doença de Newcastle e laringotraqueíte, assim como a ocorrência de infecções oportunistas. Além disso, as aves apresentam redução no ganho de peso e, consequentemente, desuniformidade do lote (BANDA et al., 2003). As cepas atenuadas foram geradas a partir da adaptação das cepas clássica e cepas variantes aos fibroblastos de embriões de galinha ou outras linhagens celulares, não provocam doença em galinhas e são utilizadas para produzir vacinas vivas (LIM et al., 1999). As cepas muito virulentas podem causar dano severo na bursa de Fabrício, timo, baço e medula óssea, e são caracterizadas por alta mortalidade, que variam entre 60-100%. Essas cepas podem romper a imunidade conferida pelos anticorpos maternos, e apesar de produzirem sinais clínicos semelhantes aos das cepas clássicas e possuírem o mesmo período de incubação de 4 dias, a fase aguda é mais severa para as galinhas infectadas (LIM et al., 1999; WANG et al., 2007). 2.5 Diagnóstico Para que haja controle efetivo da Doença Infecciosa Bursal em determinada área geográfica é fundamental que seja realizado o diagnóstico apropriado, uma vez que os animais acometidos podem não apresentar sinais clínicos evidentes ou característicos. O diagnóstico epidemiológico deve considerar informações a respeito de ocorrências anteriores, sinais clínicos observados, morbidade, mortalidade e idade das aves afetadas são fundamentais. A adoção rápida de medidas de controle e a redução de prejuízos depende do conhecimento da cadeia epidemiológica da doença e do estudo de todos os dados relacionados à ocorrência no plantel, avaliando as informações qualitativa e quantitativamente do ponto de vista sanitário (BERNARDINO & LEFFER, 2009). Para o diagnóstico presuntivo são utilizadas ferramentas como a necropsia, associadas à provas laboratoriais, que são confirmatórias. O diagnóstico laboratorial pode ser direto, por meio de isolamento viral, ou indireto, com técnicas sorológicas convencionais (DI FÁBIO, 2002). Inicialmente, o diagnóstico do IBDV era realizado pelo isolamento viral, pela precipitação em gel de ágar e pelos métodos de microscopia eletrônica que detectavam o vírus, mas não identificavam algumas de suas características antigênicas ou patogênicas. Os métodos que empregam anticorpos monoclonais foram usados para detectar IBDV e identificar a presença dos locais antigênicos (JACKWOOD et al., 2003). O diagnóstico sorológico é usualmente realizado através do teste de imunodifusão em ágar gel (TAKASE et al., 1993), vírus-neutralização (WEISMAN & HITCHNER, 1978) ou ELISA (HOWIE & THORSEN, 1981). A imunodifusão em ágar gel é um teste simples, mas a sensibilidade e especificidade podem variar entre laboratórios. O teste de vírus-neutralização é altamente específico porém, laborioso e demorado, requerendo estrutura laboratorial. Por isso não é utilizado na rotina de diagnóstico. O ELISA é o ensaio comumente utilizado e é sensível, específico e quantitativo. Os kits comerciais são viáveis para detectar anticorpos em amostras de soro. (JACKWOOD et al., 1996; MARTINEZ-TORRECUADRADA et al., 2000; DEY et al., 2009). A difusão de uma substância solúvel em um meio fluido é um processo pelo qual a substância é transportada, de uma parte para outra, como resultado do movimento molecular. Para realização do teste, o ágar é colocado em placa de Petri ou lâmina de vidro. Em locais apropriados do gel são feitos orifícios em que se colocam volumes precisos de soros a serem testados, bem como soluções-padrão. O recipiente é incubado em câmara úmida até que ocorra a difusão (48 a 72 horas), sendo então determinada a área do halo de precipitação formado (FERREIRA & ÁVILA, 1996). O ELISA é o mais notável desses testes porque foi adaptado para examinar muitas amostras em um curto intervalo de tempo (JACKWOOD et al., 2003). Desde os anos 80, o ELISA tem se tornado um método de diagnóstco de rotina fundamental para a melhoria do manejo sanitário das granjas de frangos de corte, por demonstrar a resposta imune em animais ou detectar anticorpos de maneira precoce, rápida, eficiente e econômica, possibilitando assim identificar a existência de infecção em uma granja independente da manifestação da enfermidade, observada no animal, através de sintomas e lesões (DI FÁBIO, 2001). O teste pode ser classificado, inicialmente, em ELISA de fase sólida ou fase líquida. O ELISA de fase sólida é o teste comumente realizado em microplaca de 96 cavidades. Ele compreende uma sequência de etapas de reação de subsequente lavagem. Em kits comerciais, o antígeno já vem fixado na placa. Inicialmente coloca-se o soro sanguíneo para teste da presença de anticorpos no soro. Os anticorpos presentes no soro fixam-se ao antígeno na placa e a seguir procede-se a lavagem e os passos de revelação da relação antígeno-anticorpo (VIDAL & RAZIA, 2001). A sensibilidade e especificidade de um teste é essesncial para a interpretação do mesmo. A sensibilidade mede a capacidade de um teste em detectar indivíduos com a infecção, classificados como verdadeiros positivos e, a especificidade, mede a capacidade de um teste em evitar resultados falso-positivos (ARAGON, 2007). Independentemente do exame laboratorial solicitado é de extrema importância o envio do histórico de vacinações, pois as vacinas vivas podem causar certo grau de lesão na bursa (HOWIE & THORSEN, 1981). Na pesquisa de lesão através da histopatologia, deve-se coletar bursa fechada, rins, proventrículo, fígado, baço e conservá-los em formalina a 10 % (JACKWOOD & SOMMER, 2002). Para realização de provas sorológicas deverão ser remetidos soros de no mínimo 20 aves do lote para realização principalmente de ELISA e os soros devem ser límpidos e congelados a – 20 0C até a realização do teste (HOWIE & THORSEN, 1981). Os métodos de tipificação convencional incluem a vírus-neutralização (VN) e ensaio imunoenzimático de captura do antígeno com anticorpos monoclonais (AC-ELISA). Para a realização do teste de VN, as cepas de campo devem ser adaptadas a desenvolver-se in vitro, porém, a maioria das cepas isoladas é difícil de adaptar ao crescimento; além disso, as características antigênicas e patogênicas do vírus podem ser modificadas durante os procedimentos de adaptação (BANDA et al., 2003). Além de consumir muito tempo, a VN é um teste caro e requer replicação da cepa utilizada em cultura de células SPF (JACKWOOD, 2004). O uso de técnicas moleculares cresceu rapidamente devido à rapidez, exatidão, e versatilidade do AC-ELISA, bem como as possíveis correlações com as propriedades antigênicas das cepas do IBDV. Os métodos baseados em ácidos nucléicos são ferramentas úteis para detecção viral porque o vírus pode ser detectado e tipificado sem o isolamento e propagação em culturas de células ou ovos embrionados. Estudos genômicos permitem analisar as mutações no cromossomo que ocorrem naturalmente ou através de atenuações dos vírus de campo. Estes estudos permitem estimar a virulência e antigenicidade dos diferentes vírus e avaliar a evolução dos diferentes IBDVs (ITO et al., 2001). Após o desenvolvimento da reação em cadeia da polimerase (PCR), testes diagnósticos baseados nessa tecnologia foram criadas para o IBDV (JACKWOOD et al., 2003). A PCR aliada à digestão por enzimas de restrição (RFLP) serve para identificar e avaliar amostras de diferentes graus de patogenicidade, além de diferenciar isolados de campos e vacinais (JACKWOOD & SOMMER, 2002; BANDA et al., 2003). Embora este teste identifique somente um número relativamente pequeno dos nucleotídeos, é um teste rápido e pode ser usado para testar um grande número de amostras para uma sequência específica ou para uma mutação dentro dessa sequência. (JACKWOOD et al., 2003). Através da análise dos resíduos de aminoácidos, foi possível reconhecer 13 padrões distintos de vírus da doença infecciosa bursal, sorotipo 1. As vacinas comerciais são classificadas em grupos 3, 4, 5, 6 e 9. Já os vírus de campo são classificados em grupos 7, 11, 14, 15, 16 e 17. A maioria dos vírus de campo do Brasil são classificados nos grupos 15 e 16 (ITO et al., 2001). Para prova de PCR devem ser coletadas bursas de Fabrícius de cinco a oito aves acometidas, que devem ser congeladas para melhor conservação (JACKWOOD & SOMMER, 2002). Algumas lesões e sinais clínicos semelhantes à aqueles induzidos pelo IBDV podem ser encontrados em várias outras doenças, portanto é necessário considerar o diagnóstico diferencial para algumas enfermidades (BOLIS et al., 2003). Clinicamente a IBD confunde-se com a coccidiose, devido à prostação e penas arrepiadas e, à doença de Newcastle, devido a mortalidade. Quadros de nefrite/nefrose devem ser diferenciados da Bronquite Infecciosa e, lesões no proventrículo devem ser diferenciados da Doença de Newcastle e Anemia Infecciosa. Deve ser feito diagnóstico diferencial no quadro de atrofia da bursa para a Doença de Marek (ITO et al., 2001; BOLIS et al., 2003). 2.6. Prevenção e Controle Medidas gerais de prevenção e controle Devido à alta resistência do IBDV às condições ambientais e à sua distribuição global, medidas de biosseguridade associadas à vacinação são essenciais para o controle e prevenção da IBD, que têm sido um dos grandes desafios da avicultura mundial (DIAS, 2007). Em produção de aves, o programa de biosseguridade requer o desenvolvimento e implementação de um conjunto de políticas e normas operacionais eficazes que terão a função de proteger as aves contra a introdução de qualquer tipo de agentes infecciosos, tais como vírus, bactérias, fungos e/ou parasitas (SESTI, 2005). Programas de biosseguridade são compostos por várias etapas de manejo e têm como objetivo a redução da introdução de microrganismos patogênicos, responsáveis pelos riscos de enfermidade aguda ou crônica em plantéis de frango de corte (ANDREOTTI & GUIMARÃES, 2003). De acordo com SESTI (2005), a implantação de bons programas de biosseguridade inicia-se na elaboração de ações de controle a serem estabelecidas e seguidas nas normas específicas e findam na sua aplicação prática no campo e nas atividades diárias. Antes da elaboração e implantação de qualquer programa de biosseguridade, é necessário que seja realizada uma análise e definição dos riscos e desafios aos quais o sistema de produção está sujeito. No entanto, para o êxito de um programa de biosseguridade na prevenção e controle das doenças aviárias nas granjas, é necessária uma ação de educação continuada, envolvendo a participação de todas as pessoas que atuam na produção, por intermédio da orientação técnica aos funcionários e a confiança dos empresários (SESTI, 2005). Para estabelecer um programa de controle é importante caracterizar as propriedades antigênicas e virulentas das cepas prevalentes em determinada área geográfica. Depois é necessário desenvolver métodos rápidos e acurados para tipificar as diferentes cepas de IBDV (BANDA et al., 2003). Medidas específicas de prevenção e controle O IBDV é altamente infeccioso e muito resistente e, por isso, a vacinação torna-se indispensável para proteger as galinhas, pois existe elevada pressão da infecção durante a primeira semana vida (MÜLLER et al., 2003). A imunização é o principal método utilizado para o controle da IBD em frangos, porque as aves infectadas montam uma resposta imunológica vigorosa, e acredita-se que esta resposta de anticorpos desempenha um importante papel na defesa contra a doença (RAUTENSCHLEIN et al., 2003; WANG et al., 2008). A estratégia de controle contra o IBDV em galinhas consiste em hiperimunizar matrizes para que possam ser transmitidos altos níveis de anticorpos maternos para a progênie. Os anticorpos maternos garantem a proteção durante as primeiras semanas de vida da ave, e a proteção contra o IBDV se mantém através da administração da vacina com vírus vivo antes dos anticorpos maternos chegarem a níveis de subproteção (CORLEY et al., 2002; MÜLLER et al., 2003). O controle da doença é complexo devido ao grande número de variáveis envolvidas como, por exemplo, a produção de aves de diferentes idades, as características do vírus, os níveis irregulares de anticorpos, os tipos de vacinas. Estas fazem com que seja alcançado apenas um controle parcial da atividade do vírus na granja. Todas essas variáveis, juntamente com a ocorrência de surtos causados por novas cepas do IBDV com grande patogenicidade, fazem com que o controle da enfermidade seja mais difícil e as medidas de biosseguridade a serem aplicadas se tornem fundamentais (PAGÈSMANTE et al., 2004). Ismail & Saif (1991) demonstraram que a vacinação com um subtipo do sorotipo não protege aves contra outra variante do mesmo sorotipo, particularmente quando a dose da vacina contém baixos títulos do vírus. A rápida identificação das cepas do IBDV é um pré-requisito para o efetivo controle desta doença de importância econômica para aves comerciais, com aplicação de programas de imunoprofilaxia apropriados e desenvolvimento de vacinas que protegem eficientemente contra os isolados encontrados (BIDIN et al., 2001). Nos Estados Unidos, os integrados utilizam programas desenvolvidos para enfrentar desafio precoce e imunizam suas reprodutoras com vacinas inativadas com amostras de vírus variantes, devido à preocupação com amostras desse tipo, principalmente as variantes que surgiram em Delaware, e, mais recentemente, com a amostra CA-6 e outra amostra isolada no estado da Geórgia. Na Europa, África e Oriente Médio, a preocupação desde a década de 80 é o desafio por amostras muito virulentas (vvIBDV). A tentativa de controlar esse tipo de desafio com vacinas intermediárias não foi bem sucedido, uma vez que o vírus altamente virulento chegava antes do vírus vacinal à bursa de Fabrícius (RAUTENSCHLEIN & HAASE, 2005). A variação dos anticorpos maternos e o alto desafio de campo não permitiam a ação da vacina em todas as aves vacinadas entre 14 e 21 dias de idade (WOOD et al., 1981). Sendo assim, foi necessário criar um programa vacinal baseado na utilização de vacinas vivas mais invasivas, para um melhor controle da IBD nestas situações (DI FÁBIO, 1999; VAN DEN BERG, 2000; BANDA & VILLEGAS, 2004). No Brasil, até o final da década de 90 só eram encontradas no mercado vacinas com amostras intermediárias. Em 1997, houve no Brasil o surgimento de amostra classificada como “grupo molecular 11” (G11), semelhante à vvIBDV européia, levando à necessidade de utilização de vacinas mais invasivas como as intermediáriasplus e as forte, nas criações avícolas de frango de corte (MICHELL, 2007). Quanto maior a concentração viral no galpão mais precoce tende a ser o desafio, isto explica o porquê da enfermidade normalmente vir atingindo lotes em idades cada vez mais jovens. Tanto na Europa, África do Sul quanto no Brasil, os problemas iniciaram em frangos de corte entre quatro e cinco semanas de idade e depois atingiram aves de duas a três semanas de idade (BANDA & VILLEGAS, 2004). Borne e Comte (2003) demonstraram que as vacinas vivas atenuadas utilizadas no controle da IBD induzem o mesmo tipo de reação sorológica, porém diferem em termos de agressividade. As vacinas suaves são aquelas em que a amostra vacinal é de patogenicidade muito baixa, não causando lesões na bursa de Fabrícius, e são neutralizadas pelos anticorpos maternos. As vacinas intermediárias possuem patogenicidade e conseguem suplantar níveis médios de anticorpos passivos. Já as amostras intermediárias plus, possuem grau mais elevado de patogenicidade e podem causar algumas lesões em aves sem imunidade. São recomendadas para revacinações e em áreas de alto desafio. As vacinas fortes são bem agressivas para a bursa e são indicadas em revacinações em situações de ocorrência da IBD muito virulenta. Kumar et al. (2000) e Ahmed et al. (2003) observaram que os títulos de aves vacinadas no décimo ou no décimo quarto dia de vida, com vacinas de patogenicidade intermediária plus ou forte, apresentaram titulação crescente, chegando a altos títulos de proteção vacinal nas aves em idade de abate. Di Fábio (2002), demonstrou que as vacinas mais virulentas mostraram-se mais eficientes contra o vvIBDV, no sentido de proteger contra a mortalidade, porém, não soube relatar o grau de agressão que estas vacinas podem causar na bursa de Fabrícius e se pode comprometer o desenvolvimento do sistema imune da ave, aumentando sua susceptibilidade a outros patógenos. A partir do ano de 2003, estudos permitiram a identificação de vírus menos virulentos, classificados como clássicos e as cepas consideradas variantes moleculares. Assim, os programas vacinais com cepas mais fortes e com várias doses de vacinas invasivas, estão sendo substituídos por programas mais suaves, como intermediárias e intermediárias plus e com menos doses por lote. Este é o caso da vacinação “in ovo”, que já vem sendo utilizada para doença de Marek em várias partes do mundo, inclusive no Brasil e começa a ser usada também contra a Doença Infecciosa Bursal (WHITFILL et al., 2002). A vacinação “in ovo” contra a IBD é um método relativamente novo de imunização de aves. Baseia-se na inoculação aos 18 dias, de anticorpos específicos para IBDV associado com uma dose ideal de vírus vacinal, cepa intermediária (estirpe 2512 IBDV-ICX). Esta combinação parece garantir a preservação do IBDV em presença de altos títulos de anticorpos passivos, uma vez que se relata a capacidade deste imunocomplexo em se alojar em sítios privilegiados do sistema imune, como as células dendríticas foliculares presentes nos centros germinativos dos órgãos imunes, sendo liberada a dose vacinal, quando os títulos de anticorpos diminuem (CORLEY & GIAMBRONE, 2002). De acordo com Iván et al. (2001), a vacinação “in ovo” com vacina contendo imunocomplexo (Cevac transmune IBD vaccine: IBDV-BDA) foi causadora da depleção de folículos bursais das aves vacinadas, porém, aves comerciais apresentaram depleção bursal mais tardia, menos severa e durante menor tempo quando comparadas a aves livres de patógenos específicos (SPF). Di Fábio et al. (1999) sugeriram que as amostras de vvIBDV isoladas no Brasil tenham sofrido modificações em aspectos imunofenotípicos, com perdas ou mudanças de epítopos, ou que tenha acontecido atenuação da virulência, pela passagem em aves. Isso justificaria a redução de ocorrências da forma grave da doença causadas por estas amostras, e à maior identificação de formas subclínicas. 3. ARTIGOS CIENTÍFICOS 3.1 Artigo 1 Frequência de anticorpos contra o vírus da Doença Infecciosa Bursal e detecção viral através da PCR/RFLP em criações de frango de corte e galinhas de quintal no polo avícola da Bahia. SILVA, Priscila Sousa da1 *; SALES, Tatiane Santana1 ; RAMOS, Izabella1; MAIA, Paulo César Costa1; FERNANDES, Lia Muniz Barretto1 . 1 Universidade Federal da Bahia, Escola de Medicina Veterinária, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva. Avenida Adhemar de Barros, 500. Ondina. Salvador, Bahia, Brasil. *Correspondência para o autor: [email protected] RESUMO Esse estudo teve como objetivo determinar a frequência de anticorpos e detectar o vírus da Doença Infecciosa Bursal em criações de frangos de corte e em criações de subsistência localizadas em duas regiões do pólo avícola da Bahia. Foram coletadas 758 amostras de soro de frangos de corte e 320 amostras de galinhas de quintal para avaliação da frequência de anticorpos utilizando ELISA indireto. Para a detecção e caracterização do vírus foram coletados 6 pools de bursas de Fabrícius em frangos de corte e 3 pools em criações de subsistência, analisados posteriormente com PCR/RFLP. Os resultados revelaram que não há proteção uniforme na criação comercial nas duas regiões estudadas, sugerindo falha na vacinação e desafio com vírus no ambiente. Também observou-se altos títulos em aves de subsistencia não vacinadas, com variação nos títulos de relacionada com desafios de campo. Nos testes moleculares verificou-se que 3 pools de frangos de corte eram positivos, sendo dois para cepa vacinal (G3) e um para cepa variante (G15). Nas criações de subsistência houve uma amostra positiva para cepa variante (G15). Os resultados demonstram a necessidade de monitoramento em ambas criações. Palavras-chave: Doença Infecciosa Bursal, ELISA, PCR, frangos de corte, galinhas de quintal. SUMMARY The aim of this study was to determine the frequency of antibodies anti-Infectious Bursal Disease Virus as well as to detect the virus in broilers and small scale chickens, raised in two different regions at Bahia’s poultry production area. A total of 758 serum samples were collected from broilers and 320 from free-ranging chickens, in order to assess the frequency of antibodies using an indirect ELISA. For virus detection and characterization there were collected 6 bursal pools from broilers and 3 from freeranging chickens, which were further analyzed with PCR/RFLP. The results showed that there is no uniform protection in commercial flocks of the two different regions, suggesting that it may be occurring vaccination errors and that it may be occurring challenge from viruses at the environment. High titers were observed in no vaccinated free-ranging chickens, with titers varying related with environmental challenge. Molecular tests revealed that 3 broilers pools were positive in which 2 matched the vaccine strain (G3) and 1 a variant strain (G15). One sample from free-ranging chickens was positive for the variant strain (G15). These results demonstrate the need for monitoring both types of exploration. KEY-WORDS: Infectious Bursal Disease, ELISA, PCR, broilers, free-ranging chickens INTRODUÇÃO A Doença Infecciosa Bursal (IBD) é uma doença viral aguda, contagiosa, que afeta aves jovens com 3 a 6 semanas de idade (ASHRAF et al., 2007), causando grandes prejuízos para a indústria avícola (ABDEL-ALIM et al., 2003). O vírus da Doença Infecciosa Bursal (IBDV) multiplica-se nos tecidos linfóides, com predileção pela bursa de Fabrícius, provocado destruição das células linfóides com consequente imunossupressão e aumento da suscetibilidade a outras doenças infecciosas (AL-NATOUR et al., 2004; BANDA et al., 2003; MORAES et al., 2005; ELANKUMARAN et al., 2002). O IBDV pertence a família Birnaviridae e gênero Birnavirus e seu genoma consiste em dois segmentos de RNA de fita dupla (BANDA et al., 2003; ASHRAF et al., 2007). O vírus é constituído de dois sorotipos distintos, denominados sorotipo 1 e sorotipo 2. O sorotipo 1 é patogênico para aves e sua virulência é variável, e o sorotipo 2 é apatogênico para aves, mas infecta galinhas e perus (BANDA et al., 2003). As mutações genéticas no genoma do IBDV resultaram em variantes antigênicas e patogênicas que continuam a causar a doença em frangos de corte (JACKWOOD & SOMMERWAGNER, 2005). A IBD está presente em todas as áreas produtoras de frango e tem causado perdas econômicas para a avicultura industrial em todo o mundo. As perdas estão relacionadas com o aumento da mortalidade e da imunossupressão nas aves acometidas, resultando em queda da performance (KNEIPP, 2000). No Brasil, o aumento do número de casos a partir da década de 90 se deve ao aparecimento de formas variantes de alta virulência (VAN DEN BERG, 2000). Surtos da enfermidade foram relatados no final da década de 90 em São Paulo envolvendo cepas muito virulentas, classificadas através de técnicas moleculares como G-11 (TESSARI et al., 2001). Di Fábio et al. (1999) relataram surtos de IBDV com amostras variantes consideradas de alta patogenicidade no estado de Minas Gerais. A caracterização das cepas de campo do IBDV tem sido fundamental no desenvolvimento de medidas preventivas e campanhas epidemiológicas tendo como objetivo controlar a propagação do vvIBDV. Nos últimos anos, o uso de técnicas moleculares como a RT-PCR (reação em cadeia da polimerase) tem sido útil na detecção e genotipagem das diferentes cepas de IBDV presentes no campo (NOUEN et al., 2006 ). Através da técnica molecular, são reconhecidos 17 grupos distintos de vírus da Doença Infecciosa Bursal, sorotipo 1. As vacinas comerciais existentes são classificadas nos grupos 3, 4, 5, 6 e 7. A maioria dos vírus de campo do Brasil estão classificados nos grupos 15 e 16 (KNEIPP, 2000). Banda et al. (2003) caracterizaram IBDV isolados do campo dos Estados Unidos e de alguns países da América Latina com base nas diferenças na região hipervariável do gene VP2 através da técnica de RT-PCR/RFLP e, observaram que as cepas brasileiras do vvIBDV possuem identidade entre 98,8% e 100% com as cepas do vvIBDV prevalentes na Europa e na Ásia. Cardoso et al. (2008) detectaram a cepa muito virulenta do IBDV no Brasil, em frangos de corte em um lote com mortalidade superior ao esperado. A população constituída de aves que são criadas para o consumo próprio, conhecidas como galinhas de fundo de quintal ou caipiras, não é beneficiada com o programa de biosseguridade aplicado nas criações comerciais. No Rio Grande do Sul, foi realizada uma pesquisa para detectar a presença de anticorpos contra o IBDV nesta população e os resultados indicaram que o vírus está presente nessas aves, ressaltando a necessidade de elaboração de um programa de vigilância permanente, uma vez que existe o risco de transmissão destas criações às criações comerciais (SANTOS et al., 2008). O conhecimento da ocorrência e distribuição da Doença Infecciosa Bursal em frangos de corte e em galinhas de quintal pode ter grande utilidade para indicar a necessidade implantação de medidas de prevenção e controle específicas. Uma vez que galinhas de quintal não são vacinadas e são criadas próximas às granjas de frango de corte, este trabalho tem por objetivo determinar a frequência de anticorpos e detectar o vírus em ambas criações. MATERIAL E MÉTODOS Sorologia Foram coletadas 1078 amostras de soro, sendo 758 amostras de frangos de corte e 320 amostras de galinhas de quintal, provenientes de 13 municípios localizados no polo avícola da Bahia, no período de março de 2009 a dezembro de 2010. O número de amostras coletadas em cada município variou de acordo com o tamanho dos lotes de frango e das criações de galinhas. As amostras foram agrupadas em duas regiões importantes do polo avícola da Bahia, que concentram granjas comerciais de corte e criações de subsistência de galinhas. Em criações de galinhas de quintal, a região de Feira de Santana abrange amostras dos municípios de Feira de Santana e São Gonçalo dos Campos e, a região de Alagoinhas abrange amostras de Alagoinhas e Irará. Em criações de frango de corte, na região de Feira de Santana estão contemplados os municípios de Conceição da Feira, Feira de Santana e São Gonçalo dos Campos, e a região de Alagoinhas abrange os municípios de Alagoinhas e Entre Rios. Em frango de corte, as amostras de sangue e a bursa foram coletadas em animais com idade de abate, selecionados aleatoriamente. Para a coleta de amostras de galinhas de quintal foram selecionadas aves jovens, previamente anilhadas para possibilitar posterior identificação e coleta das bursas. Os ensaios sorológicos foram realizados no Laboratório de Sanidade Avícola da Bahia (LASAB) – UFBA. Os soros foram testados através da técnica de ELISA Indireto utilizando o kit comercial FlockChek* IBD (Laboratório IDEXX ©) e, os procedimentos do teste foram conduzidos de acordo com instruções do fabricante. Os resultados do teste foram calculados e interpretados utilizando o programa xChek®, onde as densidades óticas (D.O.) de cada uma das amostras são correlacionadas com o controles positivos e negativos da placa em que foram testadas, gerando um índice denominado razão S/P (sample/positive). A razão S/P determina o ponto de corte, ou seja, o valor de densidade ótica no teste que determina os soros positivos e negativos. As análises estatísticas foram feitas através do programa SPSS 13.0. Os dados foram analisados por meio do teste t de Student, considerando o intervalo de confiança de 95%. Biologia molecular Para detecção do vírus, foram coletadas 09 pools de bursas de Fabricius, sendo 06 pools de frango de corte e 03 pools de galinhas de quintal. Cada pool continha 10 bursas de aves selecionadas aleatoriamente em frango de corte. As aves criadas no sistema alternativo, foram anilhadas no momento da coleta de sangue e, somente as que tiveram títulos de anticorpos elevados na sorologia foram adquiridas para a realização da técnica de biologia molecular. Todas as bursas foram armazenadas à temperatura de -20oC no LASAB até serem encaminhados para o JF Laboratório, onde foram processadas utilizando a técnica PCR/RFLP. A metodologia utilizada para genotipagem do IBDV consistiu na amplificação de uma região do gene VP2 com posterior digestão com enzimas de restrição. A região do VP2 é escolhida para a determinação dos subtipos virais, pois está relacionada com a produção de anticorpos neutralizantes que determinam a especificidade dos anticorpos subtipo-específicos do IBDV (JACKWOOD & JACKWOOD, 1994). RESULTADOS E DISCUSSÃO O monitoramento sorológico de plantéis avícolas tem por objetivo analisar os níveis de imunidade materna, determinar imunocompetência, avaliar e reajustar programas de vacinação, diagnosticar surtos de doença e avaliar a biossegurança na granja (TESSARI et al., 2003). ELISA é o teste sorológico rotineiramente utilizado para detectar anticorpos contra o IBDV devido ao fato de permitir o processamento de grande número de amostras simultaneamente (ASHRAF et al., 2006). Os resultados obtidos na análise sorológica das 758 amostras de frango de corte, coletadas de aves em idade de abate, provenientes de municípios localizados no pólo avícola e agrupadas em regiões estão demonstrados na Tabela 1 e nas Figuras 1 e 2. As aves eram vacinadas e não apresentavam sintomatologia clínica da enfermidade. Do total das amostras de frangos de corte analisadas, 90,1% foram sorologicamente positivas. Nas regiões de Feira de Santana e Alagoinhas, os CV foram de 54% e 70,8%, respectivamente. Tabela 1. Distribuição dos títulos de anticorpos, coeficiente de variação, desvio-padrão e frequência de anticorpos em frangos de corte nas duas regiões estudadas. Conceição da Feira Feira de Santana São Gonçalo dos Campos SUBTOTAL Alagoinhas Entre Rios SUBTOTAL TOTAL Região de Feira de Santana Amostras Mín-Máx 246 1-9.415 136 1-6.399 160 1-8.498 542 1-9.415 Região de Alagoinhas 108 536-12.908 108 7-7.092 216 7-12.908 758 1-12.908 SD 2032,1 1341,6 1577,6 1765,7 CV (%) 61,7 46,7 83,6 54,0 2727,5 1886,0 2519,5 2011,9 60,7 71,8 70,8 60,0 Figura 1. Distribuição dos títulos de anticorpos contra o IBDV em frangos de corte da região de Feira de Santana com média de títulos evidenciada. Figura 2. Distribuição dos títulos de anticorpos contra o IBDV em frangos de corte da região de Alagoinhas com média de títulos evidenciada. O coeficiente de variação é uma medida relativa de dispersão bastante utilizada para verificar a uniformidade da resposta humoral e avaliar a eficiência de programas de vacinação na avicultura. Ristow (2004) classifica os programas de vacinação de acordo com o CV em excelente (CV<30%), bom (CV entre 30-50%), razoável (CV entre 5180%) e ruim (CV>80%). Podemos observar que dentre as amostras de frangos de corte nos 5 municípios estudados, nenhum teve CV excelente, 20% bom, 60% razoável e 20% ruim. Coeficientes de variação classificados como bons (30-50%) demonstram que a imunização do lote foi bem sucedida por gerar títulos uniformes (OPENGART, 2003). Os dados obtidos nesse trabalho demonstram que não existe uniformidade nos títulos de anticorpos dos lotes comerciais e, portanto, que o programa de vacinação não conseguiu atingir a proteção esperada nos lotes avaliados. Verificou-se também grande disparidade na média de títulos nos municípios analisados, com amostras apresentando títulos inferiores a 2500, valor considerado como limite para lotes vacinados, sugerindo que parte das aves não estava protegida, podendo ter ocorrido falha na imunização. Além disso, várias amostras apresentaram títulos superiores a 8.000, sinalizando que deve estar havendo exposição ao vírus no campo (BOLIS et al., 2003). Como todos os lotes foram submetidos ao mesmo programa de vacinação, e a coleta foi feita em aves da mesma idade, esses resultados não eram esperados. Falhas na imunidade conferida por vacinas podem ser devidas à má aplicação ou à resposta deficiente de alguns indivíduos. Moraes et al. (2005), argumentaram que é importante que sejam tomados os cuidados necessários para que a vacinação atinja o maior número de aves possível, uma vez que nem todos respondem de acordo com o esperado. Nas criações de subsistência, os dados obtidos também sinalizaram que há necessidade de maior atenção por parte das agências de vigilância epidemiológica, já que a circulação do vírus em criações de fundo de quintal pode proporcionar o surgimento de cepas de maior patogenicidade. Os resultados da análise das amostras de soro de 320 aves criadas em sistema alternativo de criação, em municípios localizados no pólo avícola da Bahia estão representados na tabela 2 e nas figuras 3 e 4. As aves não eram vacinadas e não apresentavam sintomatologia clínica. As duas regiões estudadas apresentaram animais com resultados positivos, com índices acima de 50%. Do total de 320 amostras, 79,7% foram positivas no ELISA. Observa-se que nas duas regiões foram obtidos elevados coeficientes de variação (CV), que sugerem não haver resposta imunológica uniforme nas aves frente a possíveis desafios, uma vez que essas aves não são vacinadas. Tabela 2. Distribuição dos títulos de anticorpos, coeficiente de variação, desvio-padrão e frequência de anticorpos em galinhas de quintal nas duas regiões estudadas. Região de Feira de Santana Amostras Mín-Máx SD CV (%) No aves positivas (%) Feira de Santana São Gonçalo dos Campos SUBTOTAL Alagoinhas Irará SUBTOTAL TOTAL 30 407-7.024 1453,9 68,4 139 48-9.370 1973,9 76,5 169 48-9.370 1896,2 75,9 Região de Alagoinhas 40 93-4.845 1316,9 114,2 111 1-9.727 1937,2 109,8 151 1-9.727 1810,0 112,9 320 1-9.727 1906,6 91,8 30 (100%) 117 (84,2%) 147 (87%) 26 (65%) 82 (73,9%) 108 (71,5%) 255 (79,7%) Figura 3. Distribuição dos títulos de anticorpos contra o IBDV em galinhas de quintal da região de Feira de Santana com média de títulos evidenciada. Figura 4. Distribuição dos títulos de anticorpos contra o IBDV em galinhas de quintal da região de Alagoinhas com média de títulos evidenciada. Estudo de prevalência de anticorpos contra o IBDV realizado por Santos et al. (2008) em galinhas de quintal de 22 municípios no Rio Grande do Sul revelou positividade em 80,2% das amostras, demonstrando que o vírus está presente neste tipo de criação. Altas taxas de amostras soropositivas também foram encontradas em criações de subsistência avaliadas por Volk (2005) na Eslovênia e, por Hernandez-Divers (2006) no Equador, que obtiveram em seus estudos 78% e 100% de positividade, respectivamente. A frequência alta de amostras positivas contra o IBDV identificadas em criações de galinhas de quintal indica que o vírus circula nessa população (TAN et al., 2000). A circulação do vírus no ambiente em criações alternativas pode ser considerada um risco à indústria avícola uma vez que os animais estão localizados próximos às granjas de empresas, não apresentam sintomatologia clínica e, considerando a capacidade de disseminação do vírus (SANTOS et al., 2008). Os resultados obtidos na detecção e genotipagem do IBDV podem ser visualizados na tabela 3. O PCR/RFLP em frangos de corte em idade de abate indicou a presença de padrões de restrição compatíveis com cepas variantes brasileiras do grupo molecular G15 em 01 pool, e de cepas vacinais do grupo molecular G3 em 02 pools de frangos de corte vacinados. Em 03 pools enviados ao laboratório não houve amplificação específica de ácido nucléico do IBDV da região do gene VP2. Já na análise de amostras de bursas de Fabrícius para identificação e genotipagem do IBDV em aves criadas em sistema alternativo de produção houve amplificação específica de ácido nucléico do IBDV da região do gene VP2 na amostra da região de Alagoinhas. Tabela 3. Detecção e caracterização do IBDV em frangos de corte e aves de subsistência de duas regiões do polo avícola da Bahia. Tipo de criação Frangos de corte Positivos 1 (G15) – São Gonçalo Negativos 3 2 (G3) – Feira de Santana e São Gonçalo Criação de subsistência 1 (G15) - Alagoinhas 2 O resultado obtido no PCR/RFLP é baseado em sequências descritas na literatura, banco de genes, análises de vacinas comerciais e de amostras provenientes de estudo de campo. Este grupo é classificado como grupo de variantes brasileira com padrões não vacinais e está disseminado em todo o país. Nossos resultados demonstram a circulação desta variante do vírus em criações de frangos de corte e em criações de galinhas de quintal localizadas no pólo avícola da Bahia. Além da proximidade entre as criações comerciais e de subsistência, a presença de vetores e reservatórios do IBDV pode favorecer a disseminação da doença. Estudos anteriores têm sugerido que cães, aves selvagens, roedores e insetos podem ser importantes vetores do IBDV. A viabilidade do IBDV após passar pelo sistema digestivo de alguns animais foi demonstrada. O cão, animal frequentemente encontrado dentro dos núcleos de criação comercial e em pequenas propriedades, pode ser bastante importante propagador da doença. Pagès-Manté et al. (2004) isolaram o IBDV das fezes de um cão 24 e 48h após a ingestão de tecido de animais infectados com uma cepa muito virulenta do IBDV (vvIBDV). Park et al. (2010) isolaram o IBDV do baço, fígado e fezes de camundongos 12 e 24h após inoculação com a cepa altamente virulenta do IBDV, indicando a viabilidade e patogenicidade dos IBDV mesmo depois de transitar pelo sistema digestivo, ressaltando que esses animais podem ser considerados portadores do IBDV. Jeon et al. (2008) relataram que a relevância da enfermidade em criação de galinhas de quintal não está bem definida, apesar do conhecimento do risco decorrente do surgimento de amostras virulentas e, da possibilidade de transmissão para aves silvestres, que podem servir como reservatório do vírus. A transmissão da IBD de galinhas de quintal para aves silvestres foi relatada na Costa Rica, onde aves do gênero Columbas, Corvus e Passeriformes, que entraram em contato com galinhas de quintal, apresentaram resultado positivo para a enfermidade (Hernandez-Divers et al., 2008). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil estabelece que a criação de animais domésticos de outras espécies, deve ter um afastamento mínimo de 5m de criações comerciais (BRASIL, 2007). Os órgãos de defesa sanitária animal exercem rigoroso controle sanitário sobre a criação industrial de galinhas, no entanto, pouca atenção é dada às criações de galinhas de quintal em todo o Brasil (SANTOS et al., 2008). Nesse estudo pudemos verificar a susceptibilidade das criações comerciais de frangos de corte à IBD, demonstradas nos testes sorológicos e na detecção molecular, bem como identificamos o risco da presença do IBDV em criações de subsistência. Este é o primeiro relato de detecção e caracterização do IBDV em criações de subsistência na Bahia. Os resultados obtidos reforçam a necessidade de monitoramento constante em ambos tipos de criação, visando evitar as perdas relacionadas a essa importante enfermidade. REFERÊNCIAS ABDEL-ALIM, G. A.; AWAAD, M. H. H.; SAIF, Y. M. Characterization of Egyptian field strains of infectious bursal disease virus. Avian Diseases, v.47, p.1452-1457, 2003. AL-NATOUR, M. Q.; WARD, L. A.; SAIF, Y. M.; STEWART-BROWN, B.; KECK, L. D. Effect of different levels of maternally derived antibodies on protection against infectious bursal disease virus. Avian Diseases, v.48, n.1, p.177-182, 2004. ASHRAF, S.; ABDEL-ALIM, G.; SAIF, Y. M. Detection of antibodies against serotypes 1 and 2 infectious bursal disease virus commercial ELISA kits. Avian Diseases, v.50, p.104-109, 2006. ASHRAF, S.; TANG, Y.; SAIF, Y. M. 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Salvador, Bahia, Brasil. 2 Médico Veterinário autônomo. *Correspondência para o autor: [email protected] RESUMO Foram coletadas 76 amostras de soro de aves de vida livre que circulavam nos arredores dos aviários de frangos de corte, na região do pólo avícola da Bahia, para avaliação da presença de anticorpos contra o vírus da Doença Infecciosa Bursal. Foi encontrada evidência sorológica da infecção por IBDV em 5 (6,6%) das amostras em uma das espécies aviárias analisadas. Esses resultados sugerem a possibilidade que as aves silvestres que circulam nos arredores dos aviários comerciais atuam como propagadoras do IBDV na região. Este é o primeiro levantamento sorológico da IBD em aves silvestres da Bahia. PALAVRAS-CHAVE: Doença Infecciosa bursal, aves silvestres, IDGA. ABSTRACT A total of 76 serum samples were collected from free-living birds circulating around the broiler aviaries in the region of Bahia’s most important poultry production area, in order to evaluate the presence of antibodies anti-IBDV. Serological evidence of IBDV infection was found in 5 (6.6%) samples from one of the bird species analyzed. These finding suggests that these wild birds can be responsible for spreading IBDV in the area. This is the first report of serological survey of IBD in wild birds from Bahia State, Brazil. KEY-WORDS: Infectious Bursal Disease, wild birds, IDGA. INTRODUÇÃO A doença infecciosa bursal (IBD) é uma enfermidade viral, altamente contagiosa, causada pelo vírus da Doença Infecciosa Bursal, caracterizada por causar imunossupressão e mortalidade em galinhas domésticas com idade variando entre 3 a 6 semanas (SAIF, 1991). É considerada mundialmente a mais importante doença imunossupressora na avicultura comercial, podendo levar a perdas econômicas significativas seja por sua manifestação clínica ou subclínica. (BANDA & VILLEGAS, 2004; LASHER & DAVIS, 1997; PHONG et al., 2003). O IBDV pertence ao gênero Avibirnavirus da família Birnaviridae. Existem dois sorotipos do IBDV, chamados de sorotipo 1 e 2. Amostras do sorotipo 1 são patogênicas apenas para galinhas e os vírus do sorotipo 2 são isolados de perus e não são patogênicos para galinhas (LIN et al., 1994). Galinhas e perus são considerados os hospedeiros naturais do IBDV (LASHER & SHANE, 1994). No entanto o IBDV já foi identificado em várias outras espécies aviárias, como avestruzes (GOUCH et al., 1998); gaivotas e patos (HOLLMÉN et al., 2000); falconídeos e passeriformes (OGAWA et al., 1998); e pinguins (GARDNER et al., 1997). Aves silvestres podem atuar como intermediárias na disseminação de agentes infecciosos. A probabilidade de envolvimento destas aves na propagação do IBDV a partir de resíduos de criatórios de aves comerciais pode ocorrer a partir de um aumento de espécies sensíveis à infecção, com hábitos gregários que conduzam a elevadas densidades populacionais (GILCHRIST, 2005). Relatos de infecção pelo sorotipo 1 do IBDV em aves silvestres, sugerem que essas aves possam participam da cadeia epidemiológica do vírus, servindo como reservatório (OGAWA et al., 1998; WILCOX et al., 1983). A Instrução Normativa 59, de 2 de Dezembro de 2009 do Ministério da Agricultura, no parágrafo 3, exige que todos os estabelecimentos avícolas comerciais tenham instaladas telas com malha não superior a uma polegada ou 2,54 cm nos vãos externos livres dos galpões (BRASIL, 2009). Essas telas, comumente chamadas de telas passarinheiras, devem evitar o acesso de aves silvestres ao interior dos aviários comerciais. No entanto, o prazo para adoção dessa medida vai até dezembro de 2012 e muitos estabelecimentos ainda não se adequaram à exigência. Além disso, as aves de vida livre entram em contato com aves de criações de subsistência e já foi demonstrada a ocorrência de IBD em aves silvestres nestas situações (OGAWA et al., 1998). Considerando a possibilidade das aves silvestres servirem como disseminadoras e propagadoras do IBDV, a confirmação da circulação do vírus na Bahia e a importância da IBD para os plantéis comerciais, este trabalho tem por objetivo detectar a frequência de anticorpos contra o IBDV em aves silvestres que circulam nos arredores dos aviários de corte no pólo avícola da Bahia. MATERIAL E MÉTODOS Coleta das amostras A captura das aves silvestres foi realizada entre janeiro de 2009 e agosto de 2010 em propriedades com criação comercial de frangos de corte em atividade, na região do polo avícola da Bahia. Foram capturadas 76 espécimes, com o auxílio de redes de espera tipo “neblina”, armadas ao nível do solo e posicionadas próximas aos aviários de frangos de corte. Após a captura, as aves foram retiradas das malhas de rede e acondicionadas individualmente em sacos de tecido de algodão até o momento da identificação e colheita de sangue. As aves foram identificadas de acordo com a espécie e anilhadas. A seguir, puncionou-se a veia jugular e coletou-se 0,2 ml de sangue com seringas de 1ml e agulhas estéreis 26G. Após a punção, as aves foram libertadas, e o soro separado e mantido a -20 oC até a execução dos testes sorológicos. A coleta das amostras foi oficialmente autorizada pelo IBAMA (SISBIO licença n°. 22935-1 / autenticação 56858429) e realizou-se seguindo as normas deste instituto. Imunodifusão em Gel de Ágar (IDGA) Os ensaios sorológicos foram realizados no Laboratório de Sanidade Avícola da Bahia (LASAB) – UFBA. Para a realização da IDGA, utilizou-se Bacto Ágar (Difco, Brasil) a 1,25% em Solução Salina Tamponada, pH 7,6. Os poços foram perfurados com perfurador hexagonal com sete orifícios (um central e seis periféricos) medindo 4 mm de diâmetro, com distância entre orifícios de 3mm e com capacidade para 30 µL de soro/antígeno por orifício. Os orifícios 1 e 4 foram preenchidos com soro controle, os orifícios 2, 3, 5 e 6 com os soros testes e orifício central, com o antígeno. O antígeno e o soro controle utilizados no testes foram o AGA-GUM e AGP-GUM (GD Diagnostics Netherlands). Após a distribuição dos reagentes, as lâminas foram colocadas em câmara úmida à temperatura ambiente e a leitura realizada após 72h de incubação, em luz direta, sobre fundo escuro. Para a leitura, primeiramente foram observadas as linhas do soro controle positivo (1 e 4), e em seguida as linhas dos soros testes, verificando a ocorrencia de linhas de precipitação com identidade com àquelas do soro controle. RESULTADOS A maioria das aves capturadas pertencia à espécie Passer domesticus (Pardal), totalizando 68 indivíduos. As outras espécies capturadas foram: quatro indivíduos da espécie Agelaius ruficapillus (Chapéu-de-couro), dois indivíduos da espécie Molothrus bonariensis (Chupim), um Molothrus badius (Asa-de-Telha) e uma Columbina talpacoti (Rolinha-caldo-de-feijão). Das 76 amostras analisadas para presença de anticorpos contra o vírus da Doença Infecciosa Bursal, 6,6% (5/76) foram positivas, sendo estas oriundas de Pardais (Tabela 1). Nenhuma ave das outras espécies apresentou reação positiva no teste de Imunodifusão em gel-de-ágar. Tabela 1. Soropositividade para Doença Infecciosa Bursal em espécies de aves silvestres Espécie Nome popular Amostras Positividade Passer domesticus Pardal 68 5 Agelaius ruficapillus Chapéu-de-couro 4 - Molothrus bonariensis Chupim 2 - Molothrus badius Asa-de-telha 1 - Columbina talpacoti Rolinha-caldo-de-feijão 1 - 76 5 Total DISCUSSÃO Ogawa et al. (1998) realizaram levantamento sorológico em aves silvestres de vida livre no Japão, incluindo espécies sedentárias e migratórias para determinar o papel das aves silvestres na epidemiologia do IBDV. Neste estudo foram coletados 739 amostras de soro de aves de 44 espécies e testados os sorotipos 1 e 2 do IBDV através da técnica de Vírus Neutralização. Os autores encontraram soropositividade dos sorotipos 1 e 2 em 15 (2%) dos soros de 6 espécies e 36 (4,9%) dos soros de 11 espécies, respectivamente. Esses resultados sugerem que aves de vida livre e aves silvestres têm importante papel na história natural do IBDV e, levantam a possibilidade de que o IBDV prevalente em aves de outros países possam ser importados pelas espécies migratórias. As aves silvestres circulam livremente nos galpões comerciais de frango, atraídas pela ração. Essas aves podem estar infectadas ou vir a se infectar com o IBDV, uma vez que, de acordo com Wang et al. (2007), a disseminação do vírus em um lote de aves ocorre pelas vias aéreas, digestiva e ocular, assim como, pela cama e fezes de aves infectadas. Liu et al. (2002) identificaram, por meio de análise molecular, que amostras de IBDV isoladas aves selvagens estavam intimamente relacionadas com o vvIBDV isolados de criações de frangos em regiões endêmicas da China. Jeon et al. (2008), analisaram, por meio da técnica de RT-PCR, 107 amostras de aves encontradas mortas na Coréia do Sul, representando 07 espécies de aves de vida livre. O resultado da análise molecular, baseado na sequencia do gene VP2, revelou o IBDV em 05 aves, dentre as quais 04 pertenciam a espécies aquáticas sugerindo que essas espécies podem ter importancia na epidemiologia do IBDV como reservatório, similar a Influenza Aviária e Doença de Newcastle. Esses resultados demonstram que o IBDV está presente em aves silvestres, destacando um papel relevante dessas aves na epidemiologia da IBD em áreas endêmicas. Nawathe et al. (1978) realizou estudo sorológico na Nigéria com 50 soros de aves silvestres de 6 espécies, utilizando o IDGA e obteve 06 amostras positivas, correlacionando a soropositividade com o fato de as aves terem sido capturadas ao redor das criações comerciais. Kasanga et al. (2008) realizaram levantamento sorológico e molecular do IBDV em galinhas d’angola e pombos aparentemente saudáveis. Sorologicamente o IBDV foi detectado apenas em 9,5% (2/21) nas galinhas d’angola. A análise filogenética realizada através do RT-PCR indicou que as amostras de IBDV detectadas em galinhas d’angola e em pombos são geneticamente relacionadas com o vírus muito virulento e com o vírus clássico, sugerindo que as aves silvestres podem estar envolvidas na evolução e epidemiologia da Doença Infecciosa Bursal naturalmente. Neste trabalho demonstramos que aves de vida livre que circulam nos arredores dos aviários comerciais do polo avícola da Bahia possuem anticorpos contra o IBDV. A sua importância como propagadoras da enfermidade e o impacto para a saúde das aves infectadas precisam ser melhor investigados. REFERÊNCIAS BANDA, A.; VILLEGAS, P. Genetic characterization of very virulent infectious bursal disease viruses from Latin America. Avian Diseases, v.48, p.540-549, 2004. BRASIL. Instrução Normativa 59, de 2 de Dezembro de 2009. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Diário Oficial da União, Brasília, de 04 dez 2009, Seção 1, p.4. GARDNER, H.; KERRY, K.; RIDDLE, M.; BROUWER, S.; GLEESON, L. Poultry virus infection in Antartic penguins.. Nature, v.387, p.245, 1997. GILCHRIST, P. Involvement of free-flying wild birds in the spread of the viruses of avian influenza, newcastle disease and infectious bursal disease from poultry products to commercial poultry. World Poultry Science Journal, v.61, n.2, p.198-214, 2005. GOUCH, R.E.; DRURY, S.E.; COX, W.J.; JOHNSON, C.T.; COURTENAY, A.E. 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CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho foi determinada a frequência de anticorpos contra o IBDV em frangos de corte, galinhas de quintal e aves silvestres do Pólo Avícola da Bahia, e detectadas e classificadas as amostras virais circulantes nas populações de frangos e galinhas de quintal. Pôde-se identificar que as os programas de controle adotados na criação comercial não geraram a proteção esperada e que as aves de criação de subsistência entraram em contato com o vírus no ambiente. A detecção do vírus revelou a circulação da amostra vacinal G3 em frangos de corte e da amostra variante G15 em frangos de corte e em galinhas de quintal. A sorologia em aves silvestres revelou positividade em 6,6% das amostras, demonstrando que as mesmas podem ser hospedeiras do vírus. Os resultados reforçam a importância do conhecimento da cadeia epidemiológica da enfermidade e a necessidade do monitoramento, tanto das aves comerciais, quanto das aves de vida livre, para melhoria da eficácia dos programas de controle da doença. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDEL-ALIM, G.A.; AWAAD, M.H.H.; SAIF, Y.M. Characterization of Egyptian field strains of infectious bursal disease virus. Avian Diseases, v.47, p.1452-1457, 2003. AHMED, Z.; INAYAT, S.; NAEEM, K.; MALIK, S.A. Comparative immune response pattern of commercial infectious bursal disease vaccines against field isolates in Pakistan. International Journal of Poultry Science, v.2, n.6, p.449-453, 2003. AL-NATOUR, M.Q.; WARD, L.A.; SAIF, Y.M.; STEWART-BROWN, B.; KECK, L.D. Effect of different levels of maternally derived antibodies on protection against infectious bursal disease virus. Avian Diseases, v.48, n.1, p.177-182, 2004. ALVES, F.M.X. 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