Filosofia para crianças: Uma reflexão sobre sua fundamentação

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Filosofia para crianças: Uma reflexão sobre sua fundamentação teórica e de sua
prática.
Autor: Ayany Pires (mestranda)
Linha de pesquisa: Educação Ensino e Humanidades
Instituição: Faculdade de Educação (FaE) da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG).
Orientador: Profa. Dra. Renata Aspis.
Eixo Temático: Pesquisa, Educação e seus Fundamentos.
Categoria: Pôster
E-MAIL: [email protected]
OBJETIVOS:
Geral:
Este trabalho de pesquisa tem por objetivo refletir sobre a fundamentação teórica e da
prática do Programa Filosofia para Crianças – Educação para o Pensar -
de Matthew
Lipman, dando atenção aos principais teóricos que problematizaram este ensino, ou
conversam com a temática; procurando entender porque a filosofia seria a disciplina mais
adequada para a Educação para o Pensar.
Específicos:
a) Descrever e refletir sobre a concepção do programa de Lipman ressaltando as
referências dos teóricos que são citados pelo autor, trazendo as ideias dos principais
teóricos críticos do programa de Filosofia para crianças em questão.
d) Refletir e apontar os pontos críticos do Programa de Filosofia para Crianças de Lipman,
dando ênfase na questão da formação dos professores.
e) Analisar uma novela filosófica, mostrando como esta se estrutura e como funciona sua
aplicação em sala de aula, ou como diz o autor, em uma comunidade de investigação. Para
o estudo prático será procurado uma escola pública de Belo horizonte. De início, pois pode
ser mudada, a novela escolhida chama-se Pimpa, junto a ela existe um manual contendo
atividades e exercícios para o professor, este material tem como proposta, segundo Lipman,
preparar as crianças das 3ª e 4ª séries ao raciocínio formal, dando ênfase às estruturas
semânticas e sintáticas, como, ambiguidades, conceitos que estabelecem relações e noções
filosóficas abstratas;
f) A partir da reflexão teórica pretende-se um estudo da prática junto a crianças de uma
escola regular para fomentar a possibilidade de construção/elaboração de material didático
do ensino de filosofia para crianças, levando em conta a realidade educacional do ensino.
DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA:
A Filosofia para Crianças vem sendo adotada escolas em do Brasil e do mundo, deste que
M. Lipman concebeu seu programa de filosofia para Crianças. Alguns pontos positivos
podem ser destacados, como a ideia de que a filosofia ou o filosofar poderia contribuir para
educação das crianças em sala de aula; ou a ideia da comunidade de investigação, que tem
como pilar transformar a sala de aula em um lugar de indagação e reflexão. Entretanto,
algumas questões são levantadas diante desta proposta de ensino: a) a fundamentação
teórica do programa; a) Quais as recomendações para a formação dos professores de
filosofia para crianças segundo Lipman, e qual é o lugar deste profissional dentro do
programa, ou qual deveria ser a formação desse profissional; c) Qual é a equivalência do
currículo de filosofia proposto por Lipman ao currículo escolar de uma realidade
educacional; d) Da possibilidade de novos materiais didáticos e metodologias que sejam
autônomas em relação ao programa proposto por Lipman.
JUSTIFICATIVA:
A filosofia para crianças teve sua origem através de um programa de filosofia idealizado por
Matthew Lipman na década de setenta para fazer parte do currículo escolar norte
americano. O objetivo do programa é desenvolver a capacidade de pensar nas crianças
que, nem sempre, segundo o autor, tem a sala de aula como um lugar de pensar temas que
integram o mundo de suas dúvidas.
O Programa propõe que a sala de aula seja transformada em uma comunidade de
investigação, onde os alunos dialogam buscando solucionar problemas. Cada série escolar
recebe uma novela filosófica1 compatível com as exigências de ensino e de aprendizagem.
O currículo utilizado por Lipman foi publicado pelo Institute for the Advancement of
Philosophy for Children (IAPC). No Brasil algumas escolas passaram a ter em seu currículo
um currículo de Filosofia para Crianças. Ou, projetos inspirados no Programa de Filosofia
para Crianças, como por exemplo, o Projeto Filosofia na Escola da Faculdade Educação da
Universidade de Brasília UnB, aprovado em 1997 como projeto de extensão, com a proposta
de pensar a filosofia com crianças de escolas públicas, com a perspectiva de educarem
alunos mais criativos e críticos. Entendendo assim, que a filosofia pode contribuir para o
desenvolvimento das habilidades cognitivas dos alunos envolvidos no projeto. Inspirados
pelo filosofar com crianças, a experiência escolar foi sendo construída, como se lê na
citação abaixo:
1 As novelas filosóficas apresentam uma história com personagens geralmente infantis, estes possuem um
modelo pensamento investigativo sobre o mundo.
Em junho de 1997, Walter Kohan, já professor da Faculdade de Educação da
UnB, e Ana Míriam Wüensch, do Departamento de Filosofia, realizaram
oficinas, palestras e projeções de vídeos sobre o filosofar com crianças para
mais de 200 pessoas. Em julho daquele ano, mais de 120 pessoas
participaram de uma jornada sobre a filosofia na educação das crianças que
contou mais uma vez com a presença de Ann Sharp. Outros pequenos cursos
foram realizados. Gradativamente criava-se um contexto na universidade e
em diversas escolas para a acolhida de uma experiência piloto: o Projeto
2
Filosofia na Escola.
O programa lipmaniano tem como propósito principal ensinar o aluno a pensar bem. Lipman
acreditava que as crianças poderiam raciocinar ainda mais se existisse um paradigma em
meio à educação tradicional, ou seja, um modelo de ensino que as educassem ao
“Pensamento Superior”, crítico, reflexivo e criativo. Portanto, com a filosofia, as crianças
desenvolveriam os atos mentais e o pensar sobre o pensar. Os atos mentais são como,
admitir, supor, concordar, estimar, conjecturar, relembrar; os atos metacognitivos, saber que
se lembra, querer desejar ou esperar amar; os atos mentais sobre os atos mentais relativos,
meu inferir que você infere. Segundo o autor, quando a criança volta seu pensamento para
si, ela toca no ponto em que é possível a autocorreção. “O ato metacognitivo é o que torna
possível a autocorreção”.
As palavras de Lipman abaixo citadas mostram a origem do seu desejo de pensar na
educação infantil, verifica-se nelas também sua opinião de que crianças e filosofia são
aliadas, porque os infantes tomam a vida com o assombro. Contudo, parece que as crianças
poderiam ir além se fossem conduzidas pelas novelas filosóficas que trazem em seus
diálogos a tradição do pensamento filosófico. E o simples assombro dos pequenos poderia
ser levado até o pensamento mais reflexivo e discursivo.
Nessa época, também, tive a oportunidade de observar os esforços de um
professor de criança com deficiências neurológicas para ensiná-las a ler. Os
mais novos pareciam capazes de ler as palavras, mas eram incapazes de
extrair o sentido do parágrafo. Sugeri que lhes fossem dados exercícios para
tirar as inferências lógicas, e o professor me informou que tal prática foi útil.
Confirmou meu palpite de que as crianças podiam aproveitar a instrução no
raciocínio, contanto que recebessem isso antes de seu desenvolvimento. Era
possível ajudar as crianças a pensar com maior habilidade? Eu não tinha
dúvidas que as crianças pensavam tão naturalmente e respiravam. Mas
3
como conseguir que pensassem bem?
O principal Instituto responsável por capacitar e desenvolver a filosofia para criança é o
IAPC (Institute for the Advancement of Philosophy for Children). A partir deste Instituto a
filosofia de Lipman foi sendo difundida, inclusive no Brasil, através do CBFC - Centro
Brasileiro de Filosofia para Criança. O CBFC não existe mais, porém outras instituições
regionais continuam a desenvolver um trabalho semelhante, e estão ligadas ao IAPC dos
2
RIBEIRO, T. S; BESSA, D. FILOSOFIA NA ESCOLA: Uma apresentação. Revista Sul-Americana de Filosofia e
Educação, Nº 4 (2005).
3
KOHAN, 1998, p. 22 apud LIPMAN, 1992, p. 3-7.
Estados Unidos, como é o caso do IFEP4 (Instituto de Filosofia e Educação para o pensar)
localizado no sul do Brasil. Algumas escolas no Brasil têm adotado o programa de filosofia
para crianças, assim, integrando a filosofia como disciplina na Educação infantil, no Ensino
Fundamental I e II. A filosofia de Lipman vem sendo pesquisada por graduandos e pósgraduandos no Brasil de várias universidades federais e privadas. Portanto, seria relevante
fazer uma reflexão sobre sua fundamentação teórica, utilizando as fontes já existentes, mas
não somente, também relacionar a teoria à prática em uma realidade educacional, desta
forma, os entraves e pontos positivos dessa educação alternativa poderão ser bem
explorados, explicitados e conhecidos. Este trabalho, através da observação da prática de
uma novela filosófica, poderá mostrar sua estrutura e como funciona sua aplicação; dando
atenção ao lugar do professor e à sua formação no contexto desta filosofia, através
questionamentos e explicações. Podendo, assim, pensar e elaborar/construir materiais
didáticos de ensino de filosofia para crianças que levem em conta nossa realidade
educacional.
REVISÃO DE LITERATURA:
Há uma pergunta importante e que precisa de uma reflexão sobre sua resposta, por que a
filosofia? Inicialmente, podemos considerar que a filosofia desempenha um papel
fundamental no desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo, com isso, parece a
Lipman que é mais próprio da filosofia pensar sobre o pensar, ou mesmo pensar como
pensar. Por isso, através da filosofia, Matthew Lipman acredita em uma mudança na
educação tradicional desde a fase infantil até a fase final que ele diz ser o 2° grau, para
alunos mais críticos, reflexivos e criativos, capazes de pensarem por si mesmos.
Para ter uma educação plena, é preciso ser capaz de tratar cada disciplina
como uma linguagem e de pensar fluentemente nessa linguagem; de ser
culto em seu raciocínio, assim como em todo o mais, lembrando que o
raciocínio é mais efetivamente cultivado no contexto da filosofia; e de
demonstrar habilidades educacionais não meramente como aquisições de
propriedades intelectuais ou como o acúmulo de um capital espiritual, mas
como uma apropriação genuína que resulta no engrandecimento do ser. Por
ser a filosofia a disciplina que melhor nos prepara para pensar nos termos
das outras disciplinas, tem de lhe ser dado um papel central nos estágios
5
iniciais (assim como nos posteriores) do processo tradicional.
Nas novelas filosóficas criadas por Lipman, os personagens são modelos de crianças
reflexivas que possuem o “Pensamento de Ordem Superior”, um pensamento crítico, criativo
e
4
reflexivo. As
crianças
ensinadas
pelas
novelas
filosóficas
internalizariam
um
“O Instituto de Filosofia e Educação para o Pensar (IFEP) é uma organização da sociedade civil brasileira de
caráter filosófico, educacional e cultural que tem por missão promover, incentivar e desenvolver a Educação
Filosófica na Educação Básica formal (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio) e na educação informal.”
(http://www.philosletera.org.br/)
5
KOHAN, p. 85, 2008
comportamento cognitivo e social padronizado, portanto, a partir dessa leitura, poderia ser
dito que, o aprendizado da criança em relação ao conteúdo filosófico das novelas se daria
por imitação. Diante desta questão, Lipman pensa em uma educação livre de doutrinação,
os personagens seriam sim modelos, mas como um paradigma. No trecho a seguir, a
respeito da novela filosófica “A descoberta de Ari dos Telles” junto ao manual intitulado de
“investigação filosófica”, mostra a intenção de Lipman de educá-los para pensarem por si
mesmos.
Aqui, a ênfase está na aquisição da lógica formal e informal. A novela oferece
um modelo de diálogo tanto entre as próprias crianças e os adultos. O texto
relata a história de um grupo de crianças da mesma sala de aula que começa
a aprender os fundamentos do raciocínio lógico quando Ari, que não está
prestando atenção na aula, diz que um cometa é planeta porque se lembra de
ter ouvido que os cometas giram em torno do sol do mesmo modo que os
planetas. O que acontece em seguida na sala de aula, e fora da escola, recria
os diversos modos de pensar e de agir que as crianças poderiam ter A
história é um modelo de educação não autoritária e antidoutrinadora.
Respeita o valor do questionamento e do raciocínio estimula o
desenvolvimento de métodos alternativos de pensar e imaginar e mostra
6
como as crianças são capazes de aprender umas com as outras.
Platão no Livro VII da república não oferece a filosofia para as crianças. Ora, Platão
acreditava que as crianças ainda não estavam preparadas para aprenderem a dialética,
porque ainda estavam susceptíveis a se perderem, agindo tal como os sofistas, sem
procurar a verdade. Vejamos segundo o que diz Platão na passagem em questão:
- Pois bem! A aritmética, a geometria e todo ensinamento que deve preceder
a dialética, devem lhe ser proposto enquanto eles são crianças ainda, sem
que tornemos a forma de ensino uma imposição.
- Por quê?
- Porque, disse eu, nenhuma lição o homem livre deve aprender como se
fosse escravo. Se os trabalhos do corpo, mesmo quando exercidos sob
coação, em nada prejudicam o corpo, para alma nenhum aprendizado é
duradouro se imposto à força.
- É verdade, disse.
- Pois bem! Falei. Não use da força, meu excelentíssimo amigo, com as
crianças durante as lições, mas deixa-as brincar, a fim de que as possas
7
observar qual é a inclinação natural de cada uma.
Fica claro que só mais tarde e por uma inclinação natural é que o mais jovem deveria se
envolver com o ensino da dialética. A respeito da passagem do Livro VII da República de
Platão, onde é negado até então a chamada dialética, Lipman responde a questão, dizendo
que tal proibição foi um tipo de prudência diante do estado da filosofia em Atenas, a
condenação da filosofia às crianças por Platão, então, seria uma forma de salvar os mais
jovens do que faziam os sofistas.
Uma razão, portanto, para separar as crianças da filosofia é protege-la, pois
se for concedido às crianças fazer filosofia ela parecerá indigna para os
adultos. Outra razão é a proteção das crianças: a dialética irá subvertê-las,
8
corrompê-las, infectá-las com a desordem”.
6
LIPMAN, P. 80, 2001
PLATÃO, P. 298, 534a – 537ª, 2006.
8
LIPMAN, p. 29, 1998.
7
O aspecto epistemológico é muito importante, saber da distinção entre a filosofia que
Lipman se refere e a filosofia a qual Platão se refere. Pois, como se sabe, a filosofia possuiu
significados diferentes na história da tradição filosófica. Segundo Pierre Hadot, na história da
filosofia estuda-se as várias “filosofias”. Na filosofia antiga de Platão o discurso estava em
comunhão com o modo de vida do filósofo. Então, a partir de uma reflexão epistemológica,
devemos questionar os limites legítimos das referências de Lipman sobre Platão em seu
Programa de Filosofia para Crianças.
O Banquete de Platão imortalizou a figura de Sócrates como filósofo, isto é,
como o homem que procura, a um só tempo por seu discurso e por seu modo
de vida, aproximar-se e fazer aproximar-se os outros dessa maneira de ser,
desse estado ontológico transcendente que é a sabedoria. Assim a filosofia
de Platão e posteriormente todas as filosofias da Antiguidade, mesmo as
mais distantes do platonismo, terão em comum a particularidade de vincular
9
estreitamente, nessa perspectiva, discurso e modo de vida filosófico.
A linguagem é sempre utilizada por Lipman para fazer analogias, pois ela está relacionada
ao desenvolvimento da criança e, quanto mais ela cresce, mais a linguagem nela se
desenvolve; Este modo de pensar possui semelhanças ao de Vygotsky, porque ambos
fazem ligação entre a linguagem e o fluxo do pensamento, quanto mais uma criança cresce,
mais seu pensamento e sua fala ficam organizados logicamente. Lipman acredita que o
pensamento é a internalização do próprio diálogo. As bases de Lipman em relação ao
diálogo (no caso da comunidade de investigação na sala de aula) e o pensamento podem
ser verificados na citação abaixo, onde diálogo e pensamento são associados. Em seguida
nota-se uma descrição simplória entre Lipman e Vygotsky.
A insistência de que a formação de uma comunidade na sala de aula tem
uma importância crucial para estimular o pensar não deixa de ter uma base
na psicologia cognitiva e social. Se olharmos, por exemplos, os trabalhos de
George Herbert Mead [...] ou a obra de Lev Vygotsky [...] encontramos tanto o
suporte filosófico como psicológico para a tese de que o pensamento é a
internalização do diálogo. Vygotsky, por exemplo, reconhece clara e
abertamente a existência de uma diferença entre a capacidade que as
crianças têm de solucionarem problemas individualmente e a capacidade de
resolverem tais problemas com a colaboração de seus professores e colegas.
Assim como Mead, Vygotsky considera a formação de uma comunidade em
sala de aula algo indispensável para estimular os estudantes a pensarem e
10
terem níveis de desempenho mais altos do que se agirem individualmente.
Vygotsky, de Piaget, toma dois grupos de ideias nas crianças, relacionadas à realidade. Um
grupo refere-se às ideias não-espontâneas, porque foram influenciadas pelos adultos
decisivamente; outro grupo, as ideias espontâneas, porque foram desenvolvidas segundo
seu próprio esforço. Vygotsky e Piaget quanto a natureza dos conceitos não-espontâneos,
concordam que, “[...] a socialização progressiva do pensamento é a própria essência do
9
HADOT, P. 89, 2004.
LIPMAN, 2001, p. 45.
10
desenvolvimento mental da criança”11. A comunidade de investigação de Lipman possui um
lugar essencial, ela é uma espécie de paradigma em meio ao modelo tradicional de
educação, o professor como orientador aproveitando a curiosidade da criança é a peça
fundamental para que nela possam ser desenvolvidas as habilidades do pensamento. As
habilidades do pensamento permitem aquisição de significados, quanto mais o pensamento da
criança se torna habilidoso, ela é capaz de captar significados quando faz inferências,
avaliações, questionamentos, relações, definições e etc.
Para Lipman, com a oportunidade de falar e de serem escutadas, elas sairiam de suas
conchas e se envolveriam voluntariamente no diálogo comunitário. O diálogo é, então, um
estágio necessário para o desenvolvimento da criança em sua experiência ao aprender. O
pensar reflexivo e dialógico é uma das pressuposições que seu programa partilha,
corroborando com a ideia do convívio mútuo onde o aprendizado é explorado em grupo,
nesse contexto, a sala de aula deve se transformar em uma comunidade de investigação.
Certas condições estabelecem- se como pré-requisitos essenciais: a prontidão para a razão,
o respeito mútuo (das crianças entre si e das crianças e professores entre si), e ausência de
doutrinação.
Talvez a comunidade de investigação seja o legado mais importante do programa de
Matthew Lipman. Ao refletir sobre a concepção do pensamento lipmaniano, a comunidade
de investigação, pode ser compartilhada ao se pensar em outras teorias educacionais, ou
Filosofia da Educação. Por outro lado, saber dos entraves para implementar a Filosofia para
Crianças ou de uma nova Filosofia com crianças é pertinente, devido ao dilema da
correspondência do currículo do programa aos diferentes currículos e realidades
educacionais, o custo do material, a formação dos professores para trabalharem com esta
educação alternativa.
Outro referencial diz respeito ao conceito de experiência de Jonh Dewey, este autor, assim
como Lipman, critica a educação tradicional, enquanto apenas transmite o passado sem
tornar-se experiência viva para os alunos. A educação tradicional não enfatiza a construção
de conhecimentos, mas apenas vive de repassá-los, sendo assim, o conhecimento é
estático, aprende-se o que está nos livros segundo as gerações anteriores, não havendo
atenção à forma como o conteúdo é construído. É uma unidade fundamental da educação
de Jonh Dewey, os processos da experiência real com a educação, indagando o lugar do
currículo, e como suas matérias possibilitam a experiência escolar viva.
O verdadeiro ponto de ataque é que as experiências que tanto alunos quanto
professores têm nas escolas são, em grande parte, de um tipo errado.
Quantos alunos, por exemplo, tornaram-se insensíveis a certas ideias, e
quantos perderam a motivação para aprender por causa da forma como
experimentaram o processo de aprendizagem? Quantos adquiriram
habilidades específicas por meios de exercícios automáticos que limitaram
11
VIGOTSKY, 2005, p.106.
seu poder de julgamento e sua capacidade de agir com inteligência diante de
12
novas situações?
É interessantíssimo o que expõe Dewey, “tornaram-se insensíveis a certas ideias”, parece
mesmo que com o passar do tempo, as ideias estudadas se tornam tão normais que o
estudante não é capaz de perguntar sobre elas. A escola é o lugar de aprender, e como
defendido pelo autor acima, um lugar de construir conhecimentos através da experiência,
entretanto, muitas vezes não é este o significado da escola. No início da obra de Lipman,
Filosofia Na Sala de Aula, ele diz da experiência como obtenção de sentido, em outra parte
desta obra citada, a falta unidade da experiência é estabelecida como um dos mais graves
problemas da educação tradicional, porque não possibilita à criança fazer conexão entre o
conhecimento e sua vida, configurando então a fragmentação da experiência.
METODOLOGIA E CRONOGRAMA:
Para o desenvolvimento da pesquisa será necessária primeiramente uma abordagem
sobre a distinção entre certo aspecto da filosofia platônica e a Filosofia para Crianças de M.
Lipman; e a concepção do programa de Filosofia para Crianças será apresentada
ressaltando seus principais críticos. Após a reflexão sobre a fundamentação teórica, o
passo subsequente será um estudo prático de uma novela filosófica, Pimpa. Tratará de
análise de uma novela, mostrando como esta se estrutura e como funciona sua aplicação.
Alguns episódios da novela serão aplicados em sala de aula a fim de conhecer na prática os
pontos positivos do programa. Para tanto será buscado a possibilidade de se ter um
encontro com crianças de escolas regulares. Depois da análise da novela filosófica, o
terceiro passo será interrogar a possibilidade trabalho da filosofia com crianças sem
recorrer às novelas filosóficas do autor em questão, e, portanto, elaborar um material
didático do ensino de filosofia para/ com crianças segundo uma nova perspectiva didática.
ETAPAS
24 meses
Meses
2
Concepção da Filosofia para
Crianças. Fundamentação teórica
Leitura de Lipman relacionado a
outros
pensadores:
Platão,
Dewey, Vygotsky e entre outros.
Novelas filosóficas. Estudo prático
de uma novela e elaboração de
um novo material didático.
Considerações finais.
12
DEWEY, 2011, p. 27.
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Traduzido por Anísio S. Teixeira, 6ªed. São Paulo: Edições Melhoramento, 1967.
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Vozes, 2011.
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Filosofia para criança: o modelo de Matthew Lipman em discussão/Claudine Leleux (org.);
Brii-Mari Barth ... [et al.]; tradução Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Filosofia para crianças na prática escolar/ Water Omar Kohan, vera Waksman. Petrópolis,
Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
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Walter Omar Kohan, Ana Míriam Wuensch. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998, da série
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Acesso em: 31de Março 2012.
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http://www.philosletera.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=89&Itemid=9
4 Acesso em: 20 de agosto. 2013.
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