Cenário Macroeconômico

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Cenário Macroeconômico
14 de setembro de 2015
O ANO DE 2016 SERÁ UM PROLONGAMENTO DE 2015
•
O anúncio de um orçamento federal deficitário para 2016 demonstra que o governo está abdicando de realizar um
ajuste fiscal mais compatível com a estabilidade da dívida pública. Com isso, a agência S&P decidiu rebaixar a nota de
classificação de risco brasileira, fazendo o país perder o grau de investimento. Acreditamos que o Brasil encontrará
dificuldade para atingir um superávit em 2016, fazendo com que outras agências de risco rebaixem a nota brasileira para
“Grau Especulativo” até o final do segundo trimestre de 2016.

Com um cenário interno desfavorável, em decorrência do menor esforço do setor público em ajustar suas contas, a
atual perda do grau de investimento e a elevação das incertezas sobre a economia chinesa, alteramos o nosso cenário de
taxa de câmbio de R$ 3,65/USD para R$ 4,00/USD para o fim de 2015, com trajetória de contínua desvalorização para
2016.

O resultado negativo do PIB do segundo trimestre oficializou o cenário recessivo da economia brasileira. Nos próximos
trimestres, a contração da atividade econômica deverá continuar sendo influenciada pela elevada incerteza em relação ao
ambiente político e econômico, pela perda do grau de investimento, pela desvalorização cambial e pela queda na renda
da população. Dessa forma, reduzimos nossa projeção de variação do PIB de 2015, de -2,1% para -2,7%.
•
Apesar da inflação corrente ainda se encontrar em patamares elevados, os preços já começaram a dar sinais de
desaceleração, com isso, reduzimos nossa projeção anterior de inflação, de 9,7%, para 9,5%. Para o próximo ano, devido
à desvalorização cambial, subimos a expectativa de inflação de 5,4% para 5,8%.
•
O Banco Central manteve a taxa Selic em 14,25% a.a., mesmo com um câmbio mais desvalorizado e uma política
fiscal menos rígida. Acreditamos que, diante do cenário de atividade econômica desfavorável, a autoridade monetária
está mais tolerante com a inflação em 2016. Nesse contexto, mantemos o cenário de taxa de juros inalterado, em 14,25%
a.a. até meados do próximo ano, quando as mesmas começarão a ser reduzidas para cerca de 12% a.a. ao término de
2016.

O crédito segue desacelerando em função da posição restritiva das instituições financeiras e da falta de confiança de
consumidores e empresários. Mantivemos nossa projeção de crescimento da carteira do Sistema Financeiro Nacional em
8%. Em 2016, esperamos uma taxa de crescimento próxima de 7% de expansão.
Cenário Político e Ajuste Fiscal
O ambiente interno, o qual já estava debilitado, piorou de maneira acentuada nas últimas semanas, muito em
conta das novidades relativas às contas públicas. No final de agosto, o governo anunciou um orçamento deficitário
para 2016, o primeiro nestas condições desde a adoção do tripé de política macroeconômica, em 1999. O
resultado das contas do governo (sem contar o pagamento de juros) projetado para o próximo ano, que já havia
sido alterado de 2% para apenas 0,7% do PIB, agora se tornou um déficit de 0,5%, indicando uma redução
significativa do esforço do governo em perseguir o ajuste fiscal. Há dois pontos que agravam ainda mais a situação
orçamentária anunciada: o otimismo do governo na arrecadação e a previsão de aumento dos seus gastos para o
próximo ano. De acordo com o Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2016 (PLOA 2016), a União espera um
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crescimento do PIB de 0,2%, o que acabaria ajudando – mesmo que modestamente – no aumento da arrecadação
para o próximo ano. Contudo, contar com um resultado positivo do PIB em 2016 não parece o mais provável, uma
vez que grande parte do mercado já espera uma retração para o próximo ano. Adicionalmente, a elevação da
despesa total, de 19% do PIB para 19,4% no próximo ano, indica um retrocesso ao ajuste fiscal que estava em
curso, dado que haveria espaço para cortes maiores no orçamento. Segundo o PLOA 2016, o governo pretende
aumentar o gasto nominal com pessoal em 9,4%, possivelmente repassando a inflação e aumentando o número
de funcionários, algo que não está ocorrendo no setor privado. Adicionalmente, teria em torno de R$ 250 bilhões
em despesas não obrigatórias que o governo poderia cortar para ficar mais próximo da meta de superávit
primário. Vale mencionar que, mesmo que a meta de superávit primário de 0,7% do PIB fosse cumprida, a dívida
bruta já aumentaria em proporção do PIB, podendo romper os 70% ao longo de 2016.
Em nossa visão, o resultado reflete um cabo-de-guerra entre Congresso Nacional e Planalto, com o primeiro
exigindo queda de despesa e o segundo priorizando aumento de impostos para atenuar a crise das finanças
públicas. Nesse sentido, podemos interpretar que ao enviar ao congresso um orçamento deficitário, os esforços
do governo no sentido de combater a elevação da dívida pública serão pequenos e que as promessas feitas pelo
Ministro da Fazenda, logo quando assumiu o cargo, estão cada vez mais longe de serem cumpridas. Assim,
revisamos o cenário de superávit primário de 2015 de -0,1% para -0,5% e de 2016 de um superávit de 0,4% para
um déficit de 0,3%.
Com o anúncio do orçamento de 2016 e a “falta de coordenação política para ajustar as contas”, a empresa de
classificação de risco de crédito Standard and Poors (S&P), uma das três mais importantes do mundo nesse
segmento, rebaixou a nota de crédito do Brasil de “BBB-”, considerado “Grau de Investimento” para “BB+”,
considerado “Grau Especulativo”. Além disso, a perspectiva tornou-se negativa, indicando uma probabilidade
maior de nova queda no futuro. O Brasil passou a ser classificado como quem “poderá apresentar problemas de
solvência no futuro”, segundo a agência. Caso outra agência tome o mesmo procedimento, tanto governo quanto
empresas nacionais deixariam de ter acesso a um mercado de crédito mais abundante e com condições mais
favoráveis de prazo e de juros, uma vez que grande parte dos maiores fundos de investimento estrangeiros
restringe a aplicação em países que não possuem o “selo” de grau de investimento. Em outras palavras, esse
cenário traria um encarecimento adicional para o governo e para as empresas privadas de contratarem ou rolarem
suas dívidas, o que significa uma menor capacidade de crescimento potencial para economia. (Ver nosso relatório
sobre Rebaixamento de Rating.
Taxa de câmbio
Dentro de uma janela de 40 dias, a taxa de câmbio saiu de R$ 3,39/USD (final de julho) para um patamar próximo
de R$ 3,85/USD, configurando uma desvalorização de aproximadamente 13,6%, afetada principalmente pela
piora no ambiente doméstico. Além disso, os recentes eventos envolvendo a China levaram a um período de
aversão ao risco a países emergentes, desvalorizando a moeda destes. Por sua vez, mesmo diante de um cenário
internacional mais desfavorável, o início do ciclo de elevação dos juros nos Estados Unidos deverá ocorrer ainda
neste ano, dada a melhora na atividade econômica daquele País, o que ocasionará uma redução na oferta de
dólares nas praças financeiras de todo o mundo. No ambiente interno, o qual já estava conturbado em
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decorrência da crise política entre o Planalto e o Congresso, piorou ainda mais com o anúncio de um Orçamento
deficitário para 2016. A piora da perspectiva fiscal, somada a uma percepção de que o ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, vem perdendo espaço no governo, levou a agência de classificação de risco S&P a rebaixar a nota
do Brasil. Mesmo antes do anúncio, o Real se desvalorizou consideravelmente e deverá permanecer nessa
trajetória pelo próximo ano, até porque, usualmente, os países que perdem sua classificação de risco apresentam
trajetória de desvalorização de sua moeda, tanto antes quanto depois da perda.
Contudo, a desvalorização cambial não se trata apenas de riscos internos. Externamente, preocupações recentes
envolvendo a China trouxeram volatilidade para o mercado global. Depois de quase duas décadas, as autoridades
chineses resolveram pela primeira vez promover desvalorização na moeda local, a fim de buscar estimular a
economia que apresenta até o segundo trimestre de 2015, 7% de crescimento em relação ao mesmo período do
ano passado. Apesar de a medida ser positiva para melhorar a competitividade chinesa, a interpretação é de que
a medida é conflitante com a modificação do modelo de crescimento que estava sendo buscada pelos chineses
(menos exportações industriais/investimentos e mais serviços/consumo), o que pode significar que as
autoridades chinesas estariam preocupadas com uma desaceleração da economia e, assim, preferiram dar um
passo atrás no processo de modificação do modelo de crescimento local. Adicionalmente, entre o final de maio
do último ano e 12 de junho deste ano, a bolsa de valores de Xangai avançou cerca de 157%, fortemente
incentivada pelo governo chinês e por pessoas que, vendo a forte elevação, tomavam crédito para comprar ainda
mais ações (alavancagem). Contudo, no meio do ano, o processo de supervalorização começou a chegar ao fim, e
a bolsa começou a cair de forma expressiva - apenas no mês de julho a bolsa caiu 16,7%. Esse quadro de correção
da bolsa chinesa somado à mudança na expectativa de crescimento da China fez a bolsa local cair 14% em agosto,
deixando os mercados ainda mais preocupados com a China. É provável, apesar da baixa inserção das aplicações
em bolsa no total da renda das famílias, que o crescimento de 2015 acabe sendo impactado pela queda na riqueza
gerada pela desvalorização. Dado que a economia chinesa é uma das maiores importadoras de commodities e
estas compõem grande parcela da pauta exportadora brasileira, problemas envolvendo a China deverão ter
reflexos no Brasil e, por via de consequência, no Real.
Adicionalmente, a divulgação de que os Estados Unidos cresceu 3,7% no segundo trimestre, além da revisão da
atividade do primeiro trimestre - de uma queda de 0,2% para um crescimento de 0,6% -, trouxeram indícios de
que a economia americana continua melhorando de maneira vigorosa. Por sua vez, a taxa de desemprego do mês
de agosto foi de 5,1% com ajuste sazonal, bem próxima do objetivo do Banco Central dos EUA (FED). Por outro
lado, a inflação ainda se encontra em patamares muito baixos, muito em conta da queda nos preços de energia
no mercado mundial. Mesmo com essa folga no cenário inflacionário, que fará o FED continuar agindo de forma
cautelosa, projetamos que a elevação dos juros deva acontecer ainda este ano, em uma das duas últimas reuniões
de 2015, que ocorrem em outubro e dezembro.
Em resumo, diante de um ambiente interno conturbado, com a atual perda de grau de investimento, e um cenário
externo mais adverso, com a China desacelerando mais do que o esperado e com a possível elevação dos juros
nos Estados Unidos no final do ano, a taxa de câmbio deverá continuar no patamar atual até o fim do ano.
Portanto, revisamos nossa projeção para R$ 4,00 /USD para 2015 e R$ 4,20/USD para 2016, muito em decorrência
do afrouxamento do governo no cenário fiscal.
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Atividade Econômica
A divulgação recente do PIB referente ao segundo trimestre do ano oficializou a recessão brasileira, ao configurar
duas quedas consecutivas. Além disso, trouxe uma revisão do crescimento trimestral do primeiro trimestre do
ano, de -0,2% para -0,7%, e do quarto trimestre de 2014, de 0,1% para 0,0%, mostrando que o nível de atividade
foi menor do que o IBGE havia informado anteriormente. No segundo trimestre, a atividade recuou 1,9% em
comparação com os três primeiros meses do ano, sendo a maior queda desde o primeiro trimestre de 2009 –
quando o mundo ainda estava vivendo os efeitos da crise financeira. Por sua vez, no comparativo com o mesmo
período do ano anterior, a atividade econômica brasileira teve retração de 2,6% - sendo a quinta queda
consecutiva nessa comparação. Ao analisar o desempenho setorial, a indústria e os serviços apresentaram recuos
de 4,3% e 0,7%, respectivamente. A agropecuária também teve desempenho ruim (-2,7%), após ter sido o único
setor a ter apresentado resultado positivo nos primeiros três meses do ano (+4%). No acumulado em 12 meses,
o setor agropecuário está crescendo 1,6%, puxado pela produção de Soja, Milho, Arroz, Cana-de-açúcar entre
outros. Ao observar o lado da despesa, destaca-se o desempenho fraco da demanda doméstica, dentro da qual o
consumo privado e o investimento apresentaram quedas de 2,1% e 8,1%, respectivamente. São situações
semelhantes à observada nos trimestres da última crise financeira. Em contrapartida, os gastos do governo
cresceram 0,7%, enquanto o setor externo teve um incremento, com uma elevação de 3,4% nas exportações e
uma queda maior nas importações (-8,8%).
A queda no consumo pode ser explicada pela contínua piora do mercado de trabalho, pelo aumento de impostos
e redução de subsídios, pelo esgotamento das políticas de estímulo ao consumo, pela taxa de juros em patamar
elevado e pelo baixo nível de confiança na economia, de consumidores e empresários. Os dados referentes ao
terceiro trimestre devem continuar mostrando contração do consumo das famílias, tendo em vista que a renda
deverá permanecer sendo achatada pela manutenção da taxa de juros em patamar elevado, além da contínua
deterioração do mercado de trabalho. Em relação a esse último, a taxa de desemprego subiu de 6,6% para 7,3%
em julho, na série com ajuste sazonal, enquanto o rendimento real recuou 2,4% em relação ao mesmo mês do
ano passado. Como as empresas ainda seguem com baixíssima confiança, os postos de trabalho deverão continuar
sendo cortados, o que deverá deixar a confiança e a renda em condições piores. Acreditamos que a taxa de
desemprego deverá continuar se elevando na direção de 8% até o final de 2015. Adicionalmente, o encarecimento
dos produtos importados (pela desvalorização cambial) e a possibilidade de repasse de custos, os quais ainda
pressionam as empresas brasileiras, também deverão afetar a renda das famílias.
Com relação aos investimentos, podemos verificar que três elementos têm sido fundamentais para a forte
contração. O primeiro está atrelado ao agravamento do encarecimento da economia brasileira, gerado pela
redução dos subsídios e pelo aumento dos impostos em um ambiente no qual a mão de obra já estava
excessivamente cara. Além disso, a perda de confiança gerada pelas incertezas políticas, principalmente a
condução do ajuste fiscal e a perda do grau de investimento, tornam o ambiente econômico menos propício ao
investimento. Ainda, o forte incentivo ao investimento no passado recente fez os agentes anteciparem o que
estava planejado para anos posteriores, criando uma capacidade de produção que a demanda brasileira não
consegue atender. Olhando para frente, vemos que esse processo deverá permanecer, dado que os índices de
confiança encontram-se no menor patamar ao longo de toda a série, indicando que o empresário continua incerto
sobre os rumos da economia. Adicionalmente, nos primeiros dias de setembro, a curva de juros futura para cinco
anos já estava operando em níveis superiores a 14,40% ao ano, algo bastante superior aos 12,75% que do final de
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junho, refletindo a perda do grau de investimento e um desestímulo ao investimento de longo prazo na economia.
Por fim, as constantes desvalorizações da nossa taxa de câmbio deverão dificultar ainda mais os investimentos
por parte das empresas brasileiras, pois a compra de máquinas e equipamentos importados tornou-se ainda mais
cara.
Por outro lado, o setor externo, o qual vem apresentando seguidos superávits, tende a continuar com resultados
positivos nos próximos meses. A queda do preço das commodities, as quais representam elevada parcela na nossa
pauta exportadora, está sendo mais do que compensada por um câmbio mais depreciado e por uma atividade
cada vez mais fraca, que acaba reduzindo de maneira acentuada as importações. Assim, parte da piora da
atividade deverá ser aliviada pela desvalorização da nossa moeda, o que tornará o setor exportador o principal
vetor de crescimento para este e para o próximo ano. Vale mencionar que, se mantida a taxa de câmbio nos
patamares atuais ao longo de 2016 e de 2017, a indústria poderá voltar a ofertar produtos que hoje são trazidos
de fora, o que pode reduzir ainda mais a nossa importação de bens manufaturados, especialmente os bens
intermediários da produção industrial, sendo este um dos principais impulsionadores da economia no médio
prazo.
Diante desse contexto, esperamos que a recessão atual se alongue para o terceiro e o quarto trimestres, com uma
deterioração do consumo das famílias e do investimento. Sendo assim, levando-se em conta a revisão do PIB
realizada pelo IBGE citada acima, as incertezas no campo político doméstico e as frequentes desvalorizações
cambiais que deverão encarecer no curto prazo os custos das empresas, alteramos a nossa projeção de variação
do PIB de 2015 de -2,1% para -2,7%, bem como alteramos a nossa projeção do crescimento de 2016, o qual deverá
novamente apresentar um resultado negativo (-0,8%).
Inflação e taxa de juros
O IPCA de agosto apresentou elevação de 0,22%, com o índice de preços no acumulado em 12 meses tendo leve
desaceleração, de 9,56% para 9,53%. A baixa variação se deu por conta da deflação do grupo de alimentos no
domicílio, que normalmente se manifesta entre junho e agosto, quando entram importantes safras de produtos
in natura no mercado. Além disso, as passagens aéreas, depois de terem variações elevadas nos últimos meses,
tiveram um recuo de 25%, o que também contribuiu para a baixa variação do indicador de inflação. Contudo, os
núcleos de inflação, os quais dão uma noção de inércia inflacionária, ainda se apresentam em patamares elevados,
apesar de terem tido uma boa desaceleração no mês. Considerando a média das medidas de núcleos de inflação,
a variação foi de 0,44%, o que corresponde a uma taxa anualizada de 5,4%, ainda acima do centro da meta
inflacionária (4,5%). Esse mesmo indicador no mês anterior estava em 0,57%, mostrando um nível
substancialmente superior. Dessa forma, avaliamos que a variação foi fortemente impactada por efeitos sazonais
e transitórios e que as medidas que buscam excluir esses efeitos mostram uma inflação um pouco menor do que
nos últimos meses, mas ainda elevada.
Para os próximos meses, projetamos que a inflação seguirá desacelerando, influenciada pelo movimento de
queda dos alimentos e também pela redução do valor cobrado nas contas de luz com o acionamento da bandeira
vermelha, de R$ 5,50 para R$ 4,50 por cada 100 kilowatt-hora consumidos, medida que valerá a partir deste mês.
Entretanto, no final do ano, acreditamos que os preços dos alimentos voltarão a subir em decorrência das fortes
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chuvas causadas pelo El Niño no Sul e Sudeste do País, o que deverá, em conjunto com a alta desvalorização
cambial, voltar a pressionar os preços agregados. Consideramos também a possibilidade de a Petrobras reajustar
o preço da gasolina no último trimestre, com reflexos não desprezíveis sobre o IPCA. Com estes fatores todos
considerados, revisamos a taxa de inflação de 2015 de 9,7% para 9,5%, em função do movimento dos alimentos
e da tarifa de energia. Para 2016, vemos uma grande desaceleração nos preços, gerado pela fraqueza do mercado
de trabalho e pela contração do PIB. No entanto, devido à forte desvalorização já ocorrida e a esperada para o
próximo ano, vemos que a inflação não conseguirá atingir os 4,5%, fechando em 5,8%.
No início desse mês, o Copom decidiu permanecer com a taxa Selic estável no patamar atual de 14,25%, mantendo
o mesmo comunicado da reunião anterior: “O Comitê entende que a manutenção desse patamar da taxa básica
de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no
final de 2016”. Adicionalmente, na ata da última reunião, a autoridade monetária reconheceu a piora no balanço
de riscos por conta da piora fiscal e seus desdobramentos na taxa de câmbio, a qual se desvalorizou fortemente
nos últimos meses. Por outro lado, o Copom destacou que a atividade econômica encontra-se abaixo do seu
potencial e a deterioração do mercado de trabalho continua a se intensificar. Nesse sentido, em suas projeções,
o efeito cambial parece ser vencido pelo impacto da atividade econômica, já que, segundo a autoridade, o IPCA
de 2016 está “em torno da metas de 4,5%”, o que está em consonância com nossa projeção de permanência dos
juros em 14,25% até aproximadamente junho de 2016.
Apesar disso, segundo nossa avaliação, o Banco Central parece ter encerrado o seu ciclo de elevação de juros
cedo demais, uma vez que o cenário de inflação corrente permanece alto, há novos riscos inflacionários e as
expectativas para 2016 ainda se encontram longe do centro da meta. Além disso, o cenário criado pela autoridade
monetária leva em consideração uma taxa de câmbio de R$ 3,55/USD, patamar que consideramos baixo e,
inclusive, inferior ao nível do início do mês de setembro (R$3,80/USD). Caso o câmbio seja reajustado, o cenário
de inflação da autoridade monetária se aproximará de 5,0%, algo que foge do objetivo anunciado. Nesse sentido,
não descartamos a possibilidade da autoridade ter que voltar a subir a taxa de juros ou ser obrigada a permanecer
por mais tempo com ela no patamar atual.
Crédito
A carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional em julho apresentou expansão de 9,9% em comparação com
o mesmo período do ano anterior, sendo o sexto mês, com exceção de março (devido ao Carnaval), em que o
crédito apresenta desaceleração nesse tipo de comparação. Acreditamos que esse processo deverá continuar,
sendo puxado pela contínua redução dos subsídios creditícios, pela queda no nível de atividade e perda de
confiança por parte dos agentes.
Ao desagregar a carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional, o que se verifica é uma desaceleração maior
dos recursos direcionados do que dos livres. No caso do crédito livre, estão estáveis há alguns meses com um
crescimento bastante modesto em torno de 5%, refletindo a postura restritiva das instituições financeiras e a
baixa confiança das famílias e empresas, que evitam tomar crédito. Por sua vez, no caso do crédito direcionado,
este vem mostrando sinais claros de desaceleração contínua no seu crescimento, saindo de um patamar de
crescimento de 19,6% em dezembro de 2014 para 15,3% em julho deste ano. O principal efeito tem sido a redução
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de subsídios nas taxas de juros e do montante total de crédito, especialmente nas linhas do BNDES e da Caixa
Econômica Federal, os quais têm adotado uma postura menos agressiva diante do ajuste fiscal. As concessões de
crédito direcionado vêm caindo tanto para a pessoa física quanto para a pessoa jurídica, com destaque para as
quedas fortes na modalidade de financiamentos imobiliários no caso da PF e do BNDES para PJ, com queda de
26,3% e 38,2%, respectivamente, no comparativo com o mesmo mês do ano anterior. É válido destacar que desde
maio as concessões de crédito habitacional vêm apresentando quedas acentuadas em relação ao ano anterior.
Isso pode ser explicado, em grande parte, pelo aumento da restrição da instituição com maior participação de
financiamento imobiliário do país. A partir do início de maio, o banco público passou a financiar no máximo 50%
do valor dos imóveis usados.
Já a inadimplência da certeira do sistema financeiro nacional vem apresentando trajetórias diferentes entre
pessoa física e pessoa jurídica. No caso de PF, as linhas de recursos livres têm apresentado estabilidade apesar da
queda nos salários reais e da queda do número de ocupados. A postura mais restritiva das instituições financeiras
e a falta de confiança na economia, tem permitido que a inadimplência se mantenha acomodada. Podemos ver
que as famílias estão com o comprometimento de seus orçamentos estáveis, apesar da expansão do crédito,
elevação dos juros e queda na massa de salários. O que está ocorrendo é que as famílias têm tomado crédito
imobiliário e reduzido as dívidas em outras linhas no SFN, o que fez o endividamento total ficar praticamente
estável de junho do ano passado até junho de 2015 em torno de 45%, enquanto que o endividamento excluindo
o crédito imobiliário passou de 29% para 27,1%. O comprometimento de renda não caiu mais porque o gasto com
juros, gerado pelo encarecimento das linhas de crédito com a alta da taxa Selic, ocupou a parcela da renda que
antes era referente à amortização. Para frente, vemos que a queda da renda deverá continuar ocorrendo nesse e
no próximo ano, impactada pela fraqueza do mercado de trabalho, desvalorização cambial e elevação de
impostos. Com isso, para que o comprometimento de renda não se eleve substancialmente, será necessário que
o processo de desalavancagem verificado desde o ano passado continue. Caso isso não ocorra, poderemos ver
uma elevação no comprometimento de renda que levará ao aumento da inadimplência nos próximos períodos.
Pela parte da pessoa jurídica, observamos que tanto as linhas de crédito direcionadas quanto as linhas de recursos
livres apresentam elevação nos atrasos e na inadimplência. No caso dos recursos livres, os atrasos entre 15 e 60
dias subiram de 2,6% da carteira em julho/14 para 3,3% em julho de 2015, ao passo que a inadimplência subiu de
3,5% para 4,1% no mesmo período. Adicionalmente, as linhas de crédito direcionadas, que sempre se
apresentaram menos arriscadas, mostraram elevação de 0,4 p.p. de julho de 2014 para julho de 2015, atingindo
1,3% da carteira. O que está ocorrendo com as empresas é uma queda na demanda das empresas combinada
com uma elevação de custos (pessoas, impostos e energia) em cima de uma situação de baixas margens de lucro,
que são verificadas desde 2013 e, especialmente, de 2014 no setor industrial. Como seguimos vendo queda da
demanda interna e os custos deverão continuar subindo, ainda que em magnitude inferior a 2015, acreditamos o
cenário para as empresas, de modo geral, segue difícil. Adicionalmente, com a perda do grau de investimento,
podemos ver uma escassez maior de recursos para pequenas e médias empresas, tornando o ambiente ainda
mais adverso. Assim, acreditamos que a inadimplência da PJ continuará subindo nos próximos períodos.
A carteira de crédito deverá permanecer desacelerando de forma mais rápida, uma vez que a atividade econômica
tem se arrefecido, sendo puxada pela queda forte do consumo das famílias e do investimento das empresas.
Nossa projeção para o término de 2015 é de um crescimento de 8% na comparação com o ano anterior. Para
2016, acreditamos que os recursos livres deverão continuar no patamar de expansão de 5%, influenciado pela
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permanente postura restritiva das instituições financeiras, e os direcionados devem seguir desacelerando na
direção de 8%, em função da necessidade de ajuste fiscal por parte do governo. Vale lembrar que, em havendo
flexibilização na política fiscal, podemos voltar a acelerar a carteira de crédito direcionada, tanto pelo lado do
crédito imobiliário quanto pelo lado dos desembolsos do BNDES, mas não é nosso cenário básico.
Taxa de Juros Selic (% a.a)
Crescimento do PIB Ac. em 4 trimestres (%)
9,0
Projeção
7,0
5,0
3,0
1,0
-0,8
-1,2
-1,0
-3,0
-2,7
1º Trim
2º Trim
3º Trim
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1º Trim
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3º Trim
4º Trim
1º Trim
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1º Trim
2º Trim
3º Trim
4º Trim
-5,0
2010
Taxa de câmbio nominal (R$/US$)
4,50
2013
2014
2015
4,00
2016
Projeção
10,0%
4,20
4,00
2012
Taxa de inflação - IPCA
11,0%
Projeção
3,50
2011
9,5%
9,0%
8,0%
3,21
7,0%
3,00
6,4%
6,0%
2,50
2,00
5,8%
5,0%
2,20
4,0%
1,50
3,0%
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2,0%
1º Trim
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1º Trim
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1º Trim
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4º Trim
1º Trim
2º Trim
3º Trim
4º Trim
1º Trim
2º Trim
3º Trim
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1,00
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Fonte: IBGE e Sicredi
Banco Cooperativo Sicredi
Gerência de Análise Econômica
Cenário Macroeconômico
Dados e Projeções Econômicas
2010
2011
2012
Atividade Econômica
PIB Nominal, R$ bi
3.675,0
PIB Nominal, US$ bi
2.087,9
Crescimento Real do PIB, %
7,6
Taxa de Desemprego, Média (%)
6,7
Taxa de Desemprego c/ Ajuste, Fim de Período (%)
6,2
Inflação
IPCA, %
5,9
IGP-M, %
11,3
Juros
Taxa Selic, Fim do Período (%)
10,75
Taxa Selic, Média do Período (%)
9,90
Taxa de Juros Real, Fim do Período (%)
4,57
Taxa de Câmbio
Taxa de Câmbio (R$/US$), Fim de Período
1,67
Taxa de Câmbio (R$/US$), Média do Período
1,76
Setor Público
Resultado Primário, % PIB
2,8
Crédito
Crescimento da Carteira de Crédito (%)
20,6
2013
2014
2015P
2016P
4.019,5
2.421,4
3,9
6,0
5,5
4.402,5
2.246,2
1,8
5,5
5,4
4.779,3
2.212,6
2,7
5,4
5,1
5.090,3
1.913,6
0,1
4,9
5,1
5.421,6
1.355,4
-2,7
6,8
8,0
5.687,7
1.354,2
-0,8
8,6
9,4
6,5
5,1
5,8
7,8
5,9
5,5
6,4
3,7
9,5
7,5
5,8
6,2
11,00
11,76
4,23
7,25
8,57
1,33
10,00
8,38
3,86
11,75
10,96
5,03
14,25
13,58
4,37
12,00
13,52
5,91
1,88
1,66
2,04
1,96
2,34
2,16
2,66
2,35
4,00
3,39
4,20
4,12
3,1
2,4
1,9
-0,6
-0,5
-0,3
18,8
16,4
14,6
11,3
8,0
7,0
Obs: Dados destacados em cinza referem-se às projeções.
Para dúvidas ou sugestões, favor enviar e-mail para [email protected]
Disclaimer
Esse documento foi produzido pela Gerência de Análise Econômica do Banco Cooperativo Sicredi S.A. e tem por objetivo fornecer informações de indicadores
econômicos. Ressaltamos, no entanto, que as análises bem como as projeções contidas refletem a percepção da Gerência de Análise Econômica no momento
em que o texto é produzido, podendo ser alteradas posteriormente. O Banco Cooperativo Sicredi S.A. não se responsabiliza por atos/decisões tomadas com
base nos dados divulgados nesse relatório.
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