CIDADANIA no muro Jovem artista plástico da Bahia é professor voluntário de grafitagem no Projeto Cidadão s crianças não têm o que fazer fora da escola e é preciso tirá-las da rua”, diz Denis Sena, 24 anos, artista plástico e professor voluntário de grafitagem. Ele dá aula, desde junho do ano passado, no Projeto Cidadão, no bairro do Cabula, Salvador, Bahia. Fundado em março de 2000, o projeto acolhe 120 alunos, de 7 a 17 anos, em dez oficinas: dança moderna, grafitagem, futebol e reforço escolar, entre outras. O objetivo, além de ocupar o tempo das crianças e dos jovens, é dar noções de cidadania. “Eles precisam ter consciência dos seus direitos e deveres”, diz Antônio Jorge dos Santos, coordenador do projeto, que convidou Denis para participar. Denis mora no bairro há 15 anos. Aprendeu a desenhar sozinho. “Sou um autodidata”, diz . “Ganhei livros de Picasso e Van Gogh, me interesso por eles. Mas nunca senti influência em meu trabalho”. Hoje expõe grafites, telas em acrílico e esculturas, em ferro ou material reciclável, e quer prestar vestibular de Belas Artes. A “ 42 PARCERIAS A maioria das crianças do Projeto Cidadão estuda na Escola Municipal Cabula I, onde Denis cursou a 3a e 4a séries do ensino fundamental. A escola doa materiais, como cadernos e lápis. E a diretora Eugênia da Silva Reis é voluntária na oficina de reforço escolar. “O projeto é como uma continuação da escola”, diz Eugênia. “Depois de passar por ele, os alunos valorizam mais as aulas”. A Universidade Estadual da Bahia – Uneb é outra parceira e fornece material de apoio às oficinas. O projeto conseguiu juntar até dois adversários no futebol : o Bahia e o Vitória, que vão doar material. Não há processo seletivo para participar do projeto. Entra quem chegar primeiro. Mesmo assim, Antônio Jorge diz que 90% das crianças são de baixa renda. “Nós temos um garoto que é o símbolo do projeto: o Cleidison, ou Kekéu”, conta. “Ele tinha uma gangue. Convidei-o a participar da oficina de futebol, e hoje, com 10 anos, participa de três oficinas. E ainda trouxe cinco amigos. Ver as crianças mudarem o comportamento é um dos maiores estímulos. “Os alunos resgatam sua auto-estima. Chegam quietos e, com o tempo, vão se soltando”, conta Denis. “Dar aula para esses garotos é uma aprendizagem para mim, redescubro a importância deste trabalho.” FOTO: ISABEL GOUVÊA PICHAÇÃO, NÃO O artista tem 32 alunos no Projeto Cidadão – 16 por turma. No sábado, as duas turmas se juntam e aprendem técnicas como cerâmica, argila e massa de modelar. “A gente faz até esculturas com garrafas de plástico”, conta Denis. Mas o ponto alto é a grafitagem. “Quando as crianças entram, tentam imitar os pichadores. Aos poucos, ensino que é vandalismo, e que o grafite deve ter valor plástico”, explica. O projeto ainda não tem sede própria. Por isso, as primeiras lições são em uma sala do Conselho de Moradores do Cabula. Lápis e caderno na mão, as crianças aprendem técnicas de sombra, desenho e pintura de painéis. “Só dou a pistola de pintura Nome: Denis Sena Profissão: artista plástico Cidade: Salvador, BA Atividade preferida: ensinar grafitagem quando eles já têm noção de desenho”, diz Denis. “O auge do curso é pintar um muro. “ E onde eles encontram os muros? “Uma das diferenças entre o grafite e a pichação é que o grafite é autorizado. A gente pede autorização ao dono da casa”. O grafiteiro Denis e seu trabalho no muro. TV ESCOLA