Contenção Física em Hospital Psiquiátrico na Prática da Enfermagem

Propaganda
Artigo de Pesquisa
Original Article
Artículo de Investigación
Paes MR, Borba LO, Brusamarello T, Guimarães AN, Maftum MA
CONTENÇÃO FÍSICA EM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO E A
PRÁTICA DA ENFERMAGEM
PHYSICAL RESTRAINT AT A PSYCHIATRIC HOSPITAL AND NURSING
PRACTICE
CONTENCIÓN FÍSICA EN HOSPITAL PSIQUIÁTRICO Y LA PRÁCTICA
DE ENFERMERÍA
Marcio Roberto PaesI
Letícia de Oliveira BorbaII
Tatiana BrusamarelloIII
Andréa Noeremberg GuimarãesIV
Mariluci Alves MaftumV
RESUMO: Pesquisa descritiva realizada de fevereiro a junho de 2007, em um hospital psiquiátrico na região
metropolitana de Curitiba, Paraná. Objetivo: investigar como ocorre a contenção física para paciente em hospital
psiquiátrico. Participaram do estudo dois enfermeiros e seis auxiliares de enfermagem que atuam nas unidades de
internação para pacientes agudos. Obteve-se os dados mediante entrevista semiestruturada e observação sistemática
e apresentados nas categorias temáticas: A contenção como recurso terapêutico para o paciente agressivo; A comunicação verbal antes, durante e após a contenção física; Cuidados de enfermagem na técnica de contenção física. Os
profissionais de enfermagem compreendem a técnica de contenção física como procedimento terapêutico para
paciente em risco de agressividade, devendo ser utilizada com critérios preestabelecidos. A comunicação e o
relacionamento interpessoal podem ajudar na resolução da situação e evitar a contenção física. Concluiu-se que
deve haver maior discussão entre os profissionais da área de saúde mental sobre a temática.
Palavras-Chave
Palavras-Chave: Enfermagem; cuidados de enfermagem; saúde mental; contenção física.
ABSTRACT
ABSTRACT:: Descriptive research developed from February to June, 2007, in a psychiatric hospital in the metropolitan
region of Curitiba, Paraná, Brazil. Objective: to investigate physical restraint to the patient in a psychiatric hospital.
Participants: two nurses and six nursing assistants of the internment units for acute patients. The data were obtained
through semi-structured interviews and systematic observation and presented in thematic categories: the restraint as
a therapeutic resource for the aggressive patient; verbal communication before, during, and after the physical
restraint; nursing care in the technique of the physical restraint. Nursing professionals understand the technique of
physical restraint as a therapeutic procedure with the patient in risk of aggressiveness, having to be used with preestablished criteria. Communication and interpersonal relationship can help in the resolution of the situation and avoid
physical restraint. Conclusions show there should be more discussion on the subject in the area of mental health.
Keywords
Keywords: Nursing; nursing care; mental health; physical restraint.
RESUMEN: Investigación descriptiva desarrollada de febrero a junio de 2007, en un hospital psiquiátrico en la región
metropolitana de Curitiba, Paraná-Brasil. Objetivo: investigar como ocurre la contención física para paciente en
hospital psiquiátrico. Participaron del estudio dos enfermeros y seis auxiliares de enfermería que actúan en las unidades
de internación para pacientes agudos. Se obtuvo los datos mediante entrevista semiestructurada y observación sistemática y presentados en categorías temáticas: La contención como recurso terapéutico para el paciente agresivo; La
comunicación verbal antes, durante y después de la contención física; Cuidados de enfermería en la técnica de
contención física. Los profesionales de enfermería comprenden la técnica de contención física como procedimiento
terapéutico para paciente en riesgo de agresividad, debiendo ser utilizada con criterios preestablecidos. La comunicación
y el relacionamiento interpersonal pueden ayudar en la resolución de la situación y evitar la contención física. Se llegó
a la conclusión que debe haber más debates entre los profesionales del área de salud mental sobre el tema.
Palabras Clave
Clave: Enfermería; atención de enfermería; salud mental; contención física.
Enfermeiro do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do
Paraná. Membro do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Cuidado Humano de Enfermagem. Curitiba, Paraná, Brasil. E-mail: [email protected].
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Paraná. Membro do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão
em Cuidado Humano de Enfermagem. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Curitiba, Paraná, Brasil. E-mail:
[email protected].
III
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Paraná. Membro do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão
em Cuidado Humano de Enfermagem. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Curitiba, Paraná, Brasil. E-mail:
[email protected].
IV
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Paraná. Membro do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão
em Cuidado Humano de Enfermagem. Bolsista do Plano de Desenvolvimento da Educação Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. Curitiba,
Paraná, Brasil. E-mail: [email protected].
V
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta II do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Paraná. Vice-Coordenadora do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Cuidado Humano de Enfermagem. Curitiba, Paraná, Brasil. E-mail: [email protected].
I
II
Recebido em: 20.12.2008
11.05.2009 – Aprovado em: 25.05.2009
18.07.2009
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 out/dez; 17(4):479-84.
• p.479
Contenção física em hospital psiquiátrico
Artigo de Pesquisa
Original Article
Artículo de Investigación
INTRODUÇÃO
REFERENCIAL TEÓRICO
Historicamente, no imaginário social tem se
consolidado a crença de que as pessoas com transtorno mental são perigosas, agressivas, sem a capacidade
de compreender e responder de modo efetivo a uma
abordagem verbal ou não verbal. No entanto, a magnitude dessa crença é desproporcional ao número de
pessoas que manifestam comportamentos que constituem risco real em situações de exacerbação dos sintomas decorrente do transtorno1.
Por outro lado, há que se considerar a possibilidade do paciente com sintomas agudos relativos ao
transtorno mental manifestar comportamento agressivo e agitação psicomotora, de modo que as abordagens de acolhimento pela comunicação verbal não
sejam suficientes, e a contenção física poderá constituir procedimento válido no atendimento às emergências psiquiátricas2,3.
Destarte, ela deve ser realizada por equipes treinadas, com técnica adequada e em ambiente
terapêutico. É importante atribuir o mesmo valor à
contenção tal como as demais técnicas que são utilizadas no trabalho em saúde2.
A realização de contenção física em sua maioria
tem ficado a cargo da equipe de enfermagem, como
uma herança da prática em hospícios do século XIX e
XX, onde cabia aos ‘enfermeiros’ as atividades restritivas e coercitivas4. Entretanto, atualmente, a realização desse procedimento não é concebida como específica da Enfermagem, haja vista que é preconizado
que todo o trabalho em saúde mental seja desenvolvido por equipe multidisciplinar, devendo constar em
um projeto terapêutico, o qual consiste no registro
prévio de todas as ações terapêuticas a serem utilizadas no tratamento do paciente internado no hospital
psiquiátrico visando a sua recuperação5,6 .
A contenção física e o hospital psiquiátrico são
ícones representativos do modelo manicomial caracterizado pela exclusão social, isolamento, coerção e
violação dos direitos humanos e sociais da pessoa com
transtorno mental. Com a vigência da legislação atual em saúde mental, busca-se a reintegração da pessoa com transtorno mental à sociedade, bem como
oferecer tratamentos que os distancie das práticas
manicomiais. Para tanto, a Reforma Psiquiátrica no
Brasil valoriza o tratamento extra-hospitalar com
emprego de tratamentos menos invasivos e restritivos possíveis7.
Nesta pesquisa a questão norteadora é: como
os profissionais de enfermagem vivenciam as situações de contenção física para paciente com transtorno mental em situações de emergências? Tevese como objetivo investigar como ocorre a contenção física para paciente internado em hospital psiquiátrico.
A técnica de contenção física envolve o uso de
p.480 •
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 out/dez; 17(4):479-84.
dispositivos mecânicos ou manuais para limitar as
ações do paciente, quando esse oferece perigo para si
e para terceiros. Esses recursos devem ser utilizados
somente depois de esgotadas todas as alternativas
como abordagem verbal, mudanças no ambiente, eliminação de fatores externos que podem influenciar
negativamente o comportamento do paciente1,8. Desse modo, ela é entendida como uma forma adequada e
efetiva de manter o paciente no leito mediante a restrição de seus movimentos físicos, e que não permita
retirá-los com facilidade2,4,9.
Como medida terapêutica, a contenção física se
mostra segura e efetiva, evita danos aos pacientes com
manifestação de agressividade e aos profissionais envolvidos no cuidado àqueles. Contudo, ela deve ser o
último recurso utilizado1,3, pois “a prevenção do comportamento que exige contenções é a ação de enfermagem mais importante”8:359.
Para a utilização da contenção física, é imprescindível a avaliação rigorosa e global da situação em
que o paciente se encontra. Para seu uso deve-se levar em consideração fatores ambientais, recursos físicos, técnicos e humanos disponíveis e não somente
focar-se no comportamento manifestado pelo paciente. É importante considerar que esse comportamento pode estar relacionado, por exemplo, com a
presença de um familiar ou estimulado pela agitação
de outros pacientes e, assim, o enfermeiro, ao perceber essa situação, pode intervir no ambiente retirando o agente desencadeador2,4,10.
O uso de medidas restritivas deve ter sempre a
finalidade terapêutica e, portanto, serem incluídas
no plano de tratamento ou projeto terapêutico do
paciente bem como cumprir os seguintes critérios:
indicação individualizada e tempo limitado. É imprescindível a integração da equipe multidisciplinar
na discussão e descrição dos critérios necessários para
utilizar uma técnica de cuidado em saúde mental6,11.
Em situações atípicas de emergência, a equipe
de enfermagem poderá tomar a decisão de conter o
paciente, porém deve comunicar imediatamente ao
médico para validar a indicação pela prescrição. Ressalta-se que, sempre que possível, se deve indicar a
medida menos restritiva e que em nenhum caso esta
deverá ocorrer como punição ou intimidação ao paciente8.
Na abordagem ao paciente com manifestação
de comportamento agressivo, é importante o uso
gradativo de técnicas de comunicação, de forma clara, firme, transmitindo o desejo de ajudá-lo, estimulando-o a falar sobre seus sentimentos, tentando
acalmá-lo e procurar manter distância adequada para
proteção de ambos2,12. Essa aproximação deve ser plaRecebido em: 20.12.2008 – Aprovado em: 25.05.2009
Artigo de Pesquisa
Original Article
Artículo de Investigación
nejada, pois o paciente precisa sentir confiança no
profissional que o está abordando. Isso requer dos profissionais de enfermagem habilidade e competência
para estabelecer com o paciente uma interação mediada pela comunicação terapêutica. Destarte, a comunicação terapêutica contribui para a excelência da
prática da enfermagem e cria oportunidade de aprendizagem para o paciente podendo estimular sentimentos de confiança entre ele e a equipe de enfermagem,
permitindo-lhe experimentar a sensação de segurança e apoio13,14.
Em momentos nos quais a comunicação terapêutica não se mostrar suficiente para resolver a situação, tenta-se a imposição de limites pela restrição
de espaço e, se essa medida ainda não responder às
necessidades do paciente, faz-se o uso da contenção
física. Ressalta-se que a contenção física pode ou não
ser acompanhada pela contenção química, que é a
utilização de medicamentos parenterais com o intuito de sedar o paciente1,4.
Restrição de espaço refere-se à utilização de sala
reservada ou ambiente em que o paciente possa perceber-se e situar-se em um local e não se deve confundir com o isolamento em cela forte, comumente
utilizada no passado e atualmente proibida pela Portaria GM nº 251/0215. Destaca-se que a falta de limite
pode apresentar-se como sintomas de alguns quadros
psicopatológicos, e cabe ao profissional que atende o
paciente percebê-la, avaliar a sua gravidade e propor
o uso de medidas terapêuticas.
Existe uma íntima relação entre a agressividade
apresentada pela pessoa em sofrimento mental e o
medo, pois se considera que o paciente que agride é
uma pessoa que está assustada e amedrontada. A insegurança gera o medo, que produz descontrole de
impulsos agressivos, os quais resultam em
agressividade. O medo pode surgir pela manifestação
de sintomas da doença, alucinações visuais ou auditivas, contudo, dependendo da forma como o paciente
é abordado, a agressividade pode aumentar ou diminuir9. Assim, destaca-se a importância da abordagem
adequada, bem como da relação interpessoal efetiva
da equipe de enfermagem com o paciente14.
Ocasionalmente, há pacientes que solicitam a
contenção física. Tal solicitação deve ser considerada
e atendida pelos profissionais, entretanto é preciso
procurar diferenciá-la da tentativa de obter atenção
excessiva, garantir a gratificação da dependência ou
legitimar a regressão. Também, quando possível, se
deve explicar ao paciente que está contido a finalidade do procedimento para que ele não entenda como
uma conduta punitiva e venha resultar em quebra do
vínculo paciente-profissional, o que poderá ocasionar desconforto para a equipe4,8.
Recebido em: 20.12.2008 – Aprovado em: 25.05.2009
Paes MR, Borba LO, Brusamarello T, Guimarães AN, Maftum MA
METODOLOGIA
Pesquisa descritiva, mediante abordagem quali-
tativa, realizada de fevereiro a junho de 2007, em um
hospital público especializado em psiquiatria, situado na região metropolitana de Curitiba, Paraná.
Do total de 20 profissionais de enfermagem que
trabalham no período diurno, foram participantes:
dois enfermeiros e seis auxiliares de enfermagem. Foi
estabelecido como critérios de inclusão ser da equipe
de enfermagem, desenvolver cuidados direto ao paciente internado com sintomas agudos e concordarem
em participar desta pesquisa por meio da assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). Foram excluídos os que se recusaram a participar do estudo e que não assinaram o TCLE.
Os dados foram coletados mediante entrevista
semiestruturada e gravada em fita cassete, com a questão: relate como você percebe o uso da contenção
física aos pacientes. Utilizou-se também a observação sistemática, complementada pela busca ativa em
prontuários de pacientes que necessitaram de contenção física no período da pesquisa, bem como registro no diário do pesquisador.
Os sujeitos receberam as informações sobre os
objetivos da pesquisa sendo-lhes garantido o sigilo
e anonimato. Para isso, foram identificados neste
estudo por código (S1, S2,...). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Setor de
Ciências da Saúde da UFPR, sob o nº 0722000009107 e todos os preceitos éticos foram salvaguardados
atendendo à Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde.
Os dados foram analisados e organizados em
categorias temáticas de acordo com a proposta de
interpretação qualitativa de dados de Minayo16 que
sugere: ordenação dos dados, classificação dos dados e análise final. Na ordenação dos dados, utilizase o conjunto de materiais de observação, transcrições das gravações, releitura do material e organização dos relatos. Na classificação dos dados, realizase leitura exaustiva e repetida dos dados coletados,
busca-se a relação dos questionamentos do pesquisador com base em uma fundamentação teórica; e
na Análise final, são estabelecidos articulações entre os dados e a fundamentação teórica da pesquisa,
as relações entre o concreto e o abstrato, o geral e o
particular, a teoria e a prática.
Da análise final emergiram as categorias
temáticas: A contenção como recurso terapêutico
para o paciente agressivo; A comunicação verbal antes, durante e após a contenção física; Cuidados de
enfermagem na técnica de contenção física.
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 out/dez; 17(4):479-84.
• p.481
Contenção física em hospital psiquiátrico
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Contenção como Recurso Terapêutico para
o Paciente
Os sujeitos percebem a contenção física como
terapêutica e que deve ser utilizada em situações de
agitação psicomotora, agressividade ou quando há a
necessidade de estabelecer limites. Para eles, na maioria das vezes, obtêm-se resultados positivos: diminui a ansiedade, acalma, permite a liberação de sentimentos de raiva, entre outros. Relataram que em algumas situações o efeito da contenção física é efetivo
e acaba por dispensar o uso de medicamentos, e confere tempo e condições ao paciente de repensar suas
atitudes, sua vida e até de falar a respeito de sentimentos não externados em grupos terapêuticos ou
em outros espaços.
Funciona [...]. A contenção é boa, às vezes é necessário
quando o paciente está muito agressivo. (S2)
Não é só uma contenção no sentido de segurar, é uma
contenção física que acaba sendo terapêutica. Ele precisa desse limite e se sente mais seguro, acaba relaxando, dormindo, enfim se acalmando. Às vezes a contenção física é necessária. (S1)
A contenção física é melhor que a medicamentosa, porque ele tem tempo para refletir. Faz-se medicação, muitas vezes, ele dorme, e não consegue refletir naquilo que
fez. Na contenção física, ele tem tempo para chorar,
falar tudo o que não estava conseguindo. O paciente se
sente seguro em realizar a explosão de raiva, de sentimentos. É bem mais fácil de conseguir um efeito positivo, do que na contenção medicamentosa, porque a
medicação o tira do ar, dá uma apagada, e na contenção física não. (S4)
Houve relato com ênfase na importância da
contenção para segurança e proteção da equipe que,
ao dispor desse recurso, se sente mais protegida de
possíveis agressões físicas advindas dos pacientes. Um
sujeito enfoca o uso inadequado da contenção física
na história da psiquiatria, no entanto, reconhece a
necessidade de utilizá-la em situações extremas:
Ajuda bastante, além de proteger a gente. Quando a
pessoa está muito agitada e não consegue parar, na
contenção eles param e chegam até a pensar no que fez,
chega a pedir desculpa. Uma segurança para gente e
para os pacientes mesmos. (S5)
Quando o paciente está muito agitado, agredindo ou
mesmo vem agredir a enfermagem, ou está quebrando o
patrimônio [...], se autoagredindo, muitas vezes tem
que fazer contenção. (S8)
O uso da contenção física foi por longos tempos mal
usada, hoje, eu acho que é um mal necessário, em determinados momentos não tem como não usar. (S3)
Quando o paciente apresenta comportamento
agressivo, isso significa que seus controles internos
p.482 •
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 out/dez; 17(4):479-84.
Artigo de Pesquisa
Original Article
Artículo de Investigación
da agressividade entraram em colapso. Com isso, a
intervenção da equipe de saúde que o atende deve
ocorrer de forma emergencial3. As opções terapêuticas de controle da agressividade devem iniciar pela
abordagem verbal e somente quando esta se mostrar
insuficiente é que se opta por medidas de contenção
física. Uma vez contido e mantido em ambiente
terapêutico com companhia permanente, o paciente
poderá minimizar sua agressividade4. Entretanto, salienta-se que essas ações devem ser planejadas e sistematizadas para que possa ser desenvolvida
terapeuticamente, uma vez que medidas restritivas
mal utilizadas podem caracterizar elementos do modelo manicomial17.
A insegurança e o medo que culturalmente caracteriza e estigmatiza a pessoa com transtorno mental pode ocasionar situações e sentimentos na equipe
de enfermagem que a leve a utilizar a contenção física
precipitadamente. Dessa forma, o procedimento pode
ser desenvolvido de forma equivocada e trazer consigo ações iatrogênicas e imprudentes na abordagem
aos pacientes, descaracterizando o ambiente
terapêutico2,3.
Alguns estudiosos da área das ciências humanas e da saúde são contrários ao uso da contenção
física, justificando que ela não pode ser considerada
uma prática de cuidado em saúde, uma vez que submete o paciente a algo pela força física18, 19.
A Comunicação Verbal Antes, Durante e
Após a Contenção Física
Os participantes reconhecem a importância da
comunicação para criar vínculo paciente-equipe e,
consequentemente, relacionamento interpessoal. Do
mesmo modo, a comunicação terapêutica estabelecida
com o paciente antes, durante e após um episódio de
agitação foi considerada como fator relevante no cuidado de enfermagem em saúde mental. Essa atitude
do profissional colabora para resolução da situação e
auxilia na aceitação do paciente em relação à contenção física. Os sujeitos reconhecem o diálogo como
recurso terapêutico para a abordagem a pacientes em
situação de agressividade.
Teve uma paciente agressiva que eu tinha um bom contato com ela. Um dia ela se agitou, quebrou a unidade,
bateu na enfermeira. Fui lá, ela estava no pátio e ninguém chegava perto dela. Conversei com ela e consegui
levá-la para contenção. Expliquei que iria ficar três
horas porque quebrou vidros. Ela aceitou porque eu
tinha um bom relacionamento com ela. Mas se eu não
tivesse [...]. (S2)
Tento falar antes, se ele está agitado, nervoso, tento um
contato verbal, se não funciona daí [...]. A contenção,
às vezes, é necessária quando o paciente está muito
agressivo, mas às vezes uma boa conversa, um bom
contato verbal, resolve. (S3)
Recebido em: 20.12.2008 – Aprovado em: 25.05.2009
Artigo de Pesquisa
Original Article
Artículo de Investigación
A gente não deve falar quando está fazendo a contenção. O paciente tem que ver que é uma coisa séria,
não dá pra ficar fazendo brincadeira, tem que entender que é um momento, que ele está precisando daquela atenção. (S4)
Houve relatos dos participantes de que alguns
pacientes, quando em extrema agitação ou em situação de emergência psiquiátrica, necessitam de contenção física imediata, pois há momentos em que não
se obtém controle da situação somente mediante o
uso da comunicação.
Não adianta explicar, conversar, elas se autoagridem de
forma violenta. (S8)
Quando ele está agredindo e quebrando o patrimônio, aí
é contenção. Não tem como ficar conversando, é muito
difícil, eles não aceitam diálogo [...] se está contido e
medicado você pode conversar com ele um tempo depois,
mas antes disso não adianta ficar conversando. (S6)
Quando o paciente está totalmente descontrolado [...]
você já conversou, fez o grupo de ajuda, usou os teus
recursos, chamou o plantão e dentro dessa agitação
dela é medicada, vai para a contenção. (S7)
O paciente quando está assim a gente procura conversar, e quando ele não aceita o diálogo, e quer agredir as
pacientes e a equipe de enfermagem, aí a gente procura
acalmar, chama o médico, o supervisor e a gente contem a paciente. Às vezes conversando com a paciente
ela se acalma, tem vez que não, tem vez que ela parte
para a agressão, daí tem que conter. (S8)
A comunicação, além de um instrumento básico do cuidado de enfermagem, é uma das necessidades humanas básicas, porque sem ela a existência
humana seria impossível. A comunicação permeia
o relacionamento interpessoal terapêutico e a criação do vínculo entre o profissional de enfermagem
e paciente. Uma vez alcançado este vínculo, podese oferecer apoio, conforto, segurança e ajudá-lo a
compreender a importância em mudar comportamento e atitudes inadequados, haja vista que a comunicação afeta e influencia o comportamento das
pessoas. Desse modo, a Enfermagem tem lançado
mão em angariar maior conhecimento sobre comunicação humana e terapêutica e implementá-las no
cuidado às pessoas, dando maior ênfase em sua atuação na área de saúde mental13,14,20.
A comunicação verbal que ocorre mediante a
fala ou a escrita, quando complementada pela comunicação não-verbal com o uso dos cinco sentidos,
surte maior efeito, como por exemplo, ao abordar um
paciente agitado empregar entonação de voz adequada, ter um contato visual não desafiador, expressão
facial que transmita calma, dar atenção ao paciente
quando ele falar algo13.
A comunicação humana é uma habilidade própria do ser humano e é adquirida pelas experiências
cotidianas, em contrapartida a comunicação terapêuRecebido em: 20.12.2008 – Aprovado em: 25.05.2009
Paes MR, Borba LO, Brusamarello T, Guimarães AN, Maftum MA
tica é uma competência profissional que necessita de
capacidade em desenvolvê-la subsidiada pelo conhecimento e habilidade21.
Cuidados de Enfermagem na Técnica de Contenção Física
Os sujeitos externam a preocupação quanto à
adequação dos instrumentos (faixas) utilizados no
procedimento de contenção física. Relatam, ainda, a
existência de cuidados de enfermagem complementares em relação à técnica de contenção física: a vigilância contínua do paciente, conforto, proteção, avaliação na presença de comorbidades clínicas e obstétricas, controle de sinais vitais e perfusão sanguínea,
avaliação do enfermeiro.
As faixas têm que ser de tecido apropriado, de algodão,
não pode ser sintético para não cortar a pele, ele não
estica; devem ser utilizadas quantas vezes for necessário para dar ao paciente um pouco de segurança. De
preferência colocar em uma enfermaria menor para
permitir que relaxe. Ele fica anatomicamente contido.
Tem que ficar olhando o tempo todo, avaliar, ver se o
paciente não tem problema de pressão alta. É
contraindicada para paciente convulsivo [...] tem que
fazer de forma que fique mais fácil para soltar. (S1)
O principal cuidado é o paciente não sofrer, porque ele
está internando para tratamento. Não deixar o paciente sozinho; porque como ele agrediu outro paciente e ele
está desprotegido ali, aquele paciente pode agredi-lo na
contenção. Saber a condição do paciente se é epilético,
cardíaco. Um paciente epilético corre-se o risco de perdêlo na contenção. O cuidado com a refeição, se ele almoçou, jantou, porque se fizer com muita força, às vezes
provoca vômito e o paciente fica numa posição que
pode aspirar. Cuidar com os nós, se não sabe fazer um
nó para enfaixar as mãos e os pés, às vezes tem que tirar,
desfazer, porque pode garrotear. (S2)
O enfermeiro tem que avaliar a contenção e liberar
assim que o paciente estiver bem. (S4)
O cuidar em saúde mental requer do profissional de enfermagem visão diferenciada e que lhe permita vislumbrar o ser humano em sua totalidade, contemplando suas dimensões biológica, psicossocial e
espiritual. Isso é imprescindível para realizar o cuidado qualificado. A Enfermagem é a profissionalização
da capacidade humana em realizar o cuidado a outras
pessoas, o que exige da profissão a busca constante do
conhecimento, habilidades e atitude para o desenvolvimento das competências específicas que dele são
esperadas. Com isso, suas ações devem estar focadas
nas necessidades do paciente, de modo a dar condições para que ele alcance a sua melhor condição de
bem-estar. Dessa forma, é necessário que a equipe de
enfermagem, ao desenvolver a técnica de contenção
física, dê suporte ao paciente em suas necessidades
apresentadas naquele momento8,17.
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 out/dez; 17(4):479-84.
• p.483
Contenção física em hospital psiquiátrico
CONCLUSÃO
A escassez de literatura e estudos sobre a temática
constituiu uma das dificuldades que surgiram durante a realização desta pesquisa, por outro lado, se mostrou como desafio na construção do conhecimento
sobre o assunto.
A contenção física, prática antiga, por muito tempo foi realizada de maneira equivocada e por vezes
teratogênica. No entanto, a humanização das práticas
de cuidar em saúde mental, alavancadas pelas transformações ensejadas pela reforma psiquiátrica no país,
requer e instiga os profissionais repensar a sua finalidade, indicação e modos de realizá-la, para que ela seja
um procedimento terapêutico e não de repressão.
Percebeu-se que a contenção física desenvolvida de maneira correta e respaldada pela comunicação
terapêutica se mostra eficiente e um instrumento
importante para a equipe de saúde ao trabalhar com
pacientes em momentos de agitação intensa e de
agressividade.
Conclui-se que é necessário aumentar as discussões sobre a prática em saúde mental, principalmente quanto aos procedimentos restritivos, aprimorar o uso das técnicas de contenção, buscar desenvolver novas tecnologias e maior conhecimento acerca desse tema. Cabe aos enfermeiros investir em estudos e aplicação de estratégias de comunicação terapêutica, bem como incentivar a equipe a utilizá-la de
forma sistematizada e contínua com os pacientes.
REFERÊNCIAS
1.Sadock BJ, Sadock VA. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 9ª ed. Porto
Alegre (RS): Artmed; 2007.
2.Marcolan JF. A contenção física do paciente: uma abordagem terapêutica. São Paulo: Edição do autor; 2004.
3.Estelmhsts P, Brusamarello T, Borille D, Maftum MA.
Emergência em saúde mental: prática da equipe de enfermagem durante o período de internação. Rev enferm
UERJ. 2008; 16: 399-403.
4.Cavalcante MBG, Humerez DC. A contenção na assistência de enfermagem como ação mediadora na relação enfermeiro-paciente. Acta paul enferm. 1997; 10 (2):69-73.
5.Jorge MSB, Randemark NFR, Queiroz MVO, Ruiz EM.
Reabilitação psicossocial: visão da equipe de Saúde Mental. Rev bras enferm. 2006; 59:734-9.
6.Loyola CMD, Porto KF, Rocha KS. Implicações do programa nacional de avaliação do sistema hospitalar psiquiátrico para a enfermagem psiquiátrica. Rev enferm UERJ.
2009; 17:9-13.
7.Torre EHG, Amarante P. Protagonismo e subjetividade:
p.484 •
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2009 out/dez; 17(4):479-84.
Artigo de Pesquisa
Original Article
Artículo de Investigación
a construção coletiva no campo da saúde mental. Cienc
saúde coletiva. 2001; 6(1): 73-85.
8.Stuart GW, Laraia MT. Enfermagem psiquiátrica: princípios e prática. 6ª ed. Porto Alegre (RS): Artmed; 2001.
9.Timby BK. Atendimento de enfermagem: conceitos e
habilidades fundamentais. 6ª ed. Porto Alegre (RS):
Artmed; 2001.
10.Souza MGG, Cruz EMTN, Stefanelli MC. Educação
continuada e enfermeiros de um hospital psiquiátrico. Rev
enferm UERJ. 2007; 15:190-6.
11.Marqués Andrés S. La vivencia de la sujeción mecánica
experimentada por el personal de enfermería de una
unidad de psiquiatria infanto-juvenil. Index enferm. [On
Line]. 2007 [citado em 02 jul 2009]; 16(58): 21-25. Disponível em: http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=
sci_arttext&pid =S1132-12962007000300004&lng=es.
12.Cánovas Rodríguez JM, Hernández Ortega RC.
Intervención de enfermería ante la agitación de una
persona discapacitada intellectual institucionalizada.
Enfermería Global.[On line]. 2008 [citado em 01 jul 2009].
14:1-8. Disponível em: http://revistas.um.es/eglobal/
article/viewFile/36051/34571.
13.Stefanelli MC, Carvalho EC. A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. Barueri (SP): Manole; 2005.
14.Pontes AC, Leitão IMTA, Ramos IC. Comunicação
terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do
cuidado. Rev bras enferm. 2008; 61:312-8.
15.Ministério da Saúde (Br). Portaria GM n. 251, de 31 de
janeiro de 2002. Estabelece diretrizes e normas para a assistência hospitalar em psiquiatria, reclassifica os hospitais
psiquiátricos, define e estrutura, a porta de entrada para
as internações psiquiátricas na rede do SUS e dá outras
providências. In: Legislação em saúde mental: 1990-2004.
Secretaria de Atenção à Saúde. 5ª ed. ampl. Brasília (DF):
Ministério da Saúde; 2004.
16.Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa
qualitativa em saúde. 8ª ed. São Paulo: Hucitec; 2004.
17.Brusamarello T, Guimarães AN, Paes MR, Borba LO,
Borille DC, Maftum MA. Cuidado de enfermagem em
saúde mental ao paciente internado em hospital psiquiátrico. Cogitare enferm. 2009; 14(1):79-84.
18.Silva JLP. O direito fundamental a singularidade do
portador de sofrimento mental: uma análise da Lei n°
10.216/01 à luz do princípio da Integralidade do Direito.
[dissertação de mestrado]. Brasília (DF): Universidade
de Brasília; 2007
19.Foucault M. Microfísica do poder. Rio de
Janeiro:Editora Graal; 1998.
20.Kantorski LP, Pinho LB, Schrank G. O ensino de enfermagem psiquiátrica e saúde mental- um estudo a partir da
produção científica da enfermagem. Rev enferm UFPE.
[On Line]. 2007 [citado em 01 jul 2009]. 1(2): 225-8.
Disponível em: http://www.ufpe.br/revistaenfermagem/
index.php/ enfermagem/article/viewArticle/66.
21.Braga EM, Silva MJP. Comunicação competente: visão
de enfermeiros especialistas em comunicação. Acta paul
enferm. 2007; 20:410-4.
Recebido em: 20.12.2008 – Aprovado em: 25.05.2009
Download