UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI FABÍOLA MARIALVA MARQUES DESIGN EM DIÁLOGO NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO: A MEMÓRIA DO EDIFÍCIO THEATRO CASA DO ATOR, O PRÉDIO DE VIDRO São Paulo 2011 FABÍOLA MARIALVA MARQUES DESIGN EM DIÁLOGO NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO: A MEMÓRIA DO EDIFÍCIO THEATRO CASA DO ATOR, O PRÉDIO DE VIDRO Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Design, área de concentração em Design, Arte, Moda e Tecnologia da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Profa. Dra. Ana Mae Barbosa. São Paulo 2011 M317d MARQUES, Fabíola Marialva Design em diálogo no espaço universitário: A memória do Edifício Theatro Casa do Ator, o Prédio de Vidro / Fabíola Marialva Marques. - 2011 217f.;il.; 30 cm. Orientador: Ana Mae Barbosa Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2011. Bibliografia: f. 207-210. 1.Design. 2. Memória. 3. Arquitetura. 4. Prédio de Vidro. 5. Universidade. I Título. CDD 741.6 DEDICATÓRIA Dedico este espaço para, mais do que agradecer, mandar aquele abraço a todos os amigos e os professores que confiaram nesta pesquisa, em especial a minha Banca – Ana Mae Barbosa, Maria Helena Flynn e Marcia Merlo, com grande consideração intelectual agradeço a atenção, dedicação e paciência ao contribuir com um pouco de todo conhecimento. Agradeço a todos aqueles que participaram da pesquisa, oferecendo apoio, respondendo a entrevista, deixando seu depoimento e disponibilizando seu tempo para contar uma boa história. Aquele abraço especial para o arquiteto Francisco Petracco, ao reitor Gabriel Rodrigues, Regina Ambrósio, Lucilene Casteliano Faria, Ricardo Centurione, Ailton Bernardes, Dr. Fabiano Laperuta, arquiteta Deise Marques Araujo, engenheiros Delduque Oliveira, Eduardo Sobrosa, Wilson Mello, Luis Araujo, Luiz Crepaldi, Leonardo Lenharo e meus eternos mestres, no curso de arquitetura da Universidade Anhembi Morumbi. Um abraço carinhoso a uma pessoa muito especial que tornou esta dissertação possível; Luciano Gilio, muito obrigada pelo apoio, dedicação, companheirismo e cumplicidade. Aquele abraço para a algumas pessoas especiais que estão sempre presente, Mã, Abu, Cláudio Lima, Melissa, por entender o processo, acompanharem os desafios e dificuldades que se vive ao fazer uma pesquisa, sempre oferecendo um ombro amigo nas horas mais difíceis. Aquele abraço, também, aos alunos, ex-alunos, funcionários, ex-funcionários, colegas que conheci, amigos que conquistei durante os 10 anos de Anhembi Morumbi e que sempre levarei no coração. E mesmo não podendo fazê-lo fisicamente, aquele abraço ao meu pai, distante; mas sempre vivo e presente. RESUMO ABSTRACT O presente trabalho tem como objetivo traçar a trajetória da concepção e uso do Prédio de Vidro, a Unidade 6 da Universidade Anhembi Morumbi, situado na Rua Casa do Ator, nº 275, do Campus Vila Olímpia. A Universidade Anhembi Morumbi nasce em 1971 a partir da iniciativa de um pequeno grupo de engenheiros e arquitetos do estado de São Paulo locados no Departamento de Obras Públicas liderados por Gabriel Mário Rodrigues, onde iniciam suas atividades em uma única edificação no Bairro do Morumbi abrigando o curso de Turismo com quatro turmas de 90 alunos. Em 1978, transfere-se para o Bairro da Vila Olímpia, expandindo-se posteriormente para os Bairros do Brás, Centro, Brooklin e Bela Vista, totalizando cinco Campi. Atualmente, 40 anos após sua fundação, transformou-se em uma universidade com aproximadamente 32.000 alunos distribuídos em quinze edificações, oferecendo 104 cursos entre graduação, pós-graduação, graduação tecnológica e graduação executiva. A partir de 2005, passa a integrar a Rede Internacional de Universidades Laureate presente em 28 países. Diante de tal contexto, esta pesquisa propõe resgatar, através de documentos e testemunhos, a história do primeiro edifício da Instituição concebido para ser um espaço universitário, contrariando as adaptações em espaços fabris já existentes no tecido urbano, que fazia até 2001. É uma tentativa de resgatar uma parte da Memória da Universidade Anhembi Morumbi contada a partir de sua arquitetura, bem como identificar aspectos interpretativos deste espaço acadêmico, decodificar sua obra, entender seu design estabelecido e identificar elementos que possibilitem o significado de sua forma. This paper aims to trace the trajectory of the design and use of Prédio de Vidro, Unit 6 at Anhembi Morumbi University, located at Actor House Street, nº. 275, Vila Olímpia Campus. The University Anhembi Morumbi born in 1971 on the initiative of a small group of engineers and architects of the Sao Paulo state leased at the Department of Public Works led by Gabriel Mario Rodrigues, which begin their activities in a single building in the neighborhood of Morumbi harboring Tourism course with four classes of 90 students. In 1978, he moved to the district of Vila Olímpia, expanding later to the neighborhoods of Bras, Downtown, Brooklyn and Bela Vista, totaling five campuses. Today, 40 years after its founding, became a university with approximately 32,000 students distributed in fifteen buildings, offering 104 courses from undergraduate, graduate, undergraduate and graduate technology executive. Starting in 2005, joins the Laureate International Network of Universities in 28 countries. Given this context, this research proposes to redeem, through documents and testimony, the history of the institution's first building designed to be a university area, contrary to the adaptations in existing manufacturing spaces in the urban fabric, which was until 2001. It is an attempt to rescue a part of the Memory Anhembi Morumbi told from its architecture, and identify interpretive aspects of academic space, decode his work, understand and identify established design elements that enable the significance of its shape. Palavras-chave: Design. Memória. Arquitetura. Prédio de Vidro. Universidade. Keywords: Design. Memory. Architecture. Prédio de Vidro. University. UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI Reitor Gabriel Mário Rodrigues Vice-reitor Ricardo Grau Pró-reitora Josiane Tonelotto Coordenação de Mestrado em Design Jofre Silva Corpo Docente (2011) Agda Regina de Carvalho Ana Mae Barbosa Cristiane Ferreira Mesquita Gisela Beluzzo de Campos Jofre Silva Luisa Paraguai Márcia Merlo Rachel Zuanon Rosane Preciosa Corpo Docente (2009-2011) Kátia Castilho Maria Izabel Ribeiro Maria Lúcia Bueno Mônica Moura BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Ana Mae Barbosa Orientadora Universidade Anhembi Morumbi Profa. Dra. Márcia Merlo Professora convidada Interna Universidade Anhembi Morumbi Profa. Dra. Maria Helena de Moraes Flynn Professora convidada Externa Universidade Católica de Santos SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 14 INTRODUÇÃO 1 15 CAPÍTULO 1: CONDIÇÃO HISTÓRICA 25 2 1.1 O ENSINO SUPERIOR E A ARQUITETURA 1.2 O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL 1.3 A UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI 25 29 37 CAPÍTULO 2: O PRÉDIO DE VIDRO 2.1 A ORIGEM DA UNIDADE 6 2.2 UM POUCO SOBRE O ARQUITETO 2.3 A ARQUITETURA 2.3.1 O DESENHO 2.3.2 A ESTRUTURA 2.3.3 O RITMO 2.4 A CONSTRUÇÃO 83 83 93 118 118 142 153 165 CAPÍTULO 3: POR UMA LEITURA POSSÍVEL O FIM DO COMEÇO OU O COMEÇO DO FIM A ESCOLA ABERTA 188 188 194 CONSIDERAÇÕES FINAIS PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS 202 205 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 207 ANEXOS 211 Figura 1 – Implantação do Prédio de Vidro – Desenho do Complexo Theatro, no Campus Vila Olímpia, com a fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua Casa do Ator, sobre recorte do Bairro Vila Olímpia no mapa GEGRAN, de 1974. Fonte: Acervo Pessoal da Autora LISTA DE FIGURAS Figura 1 Implantação do Prédio de Vidro 10 Figura 26 Fachada principal do Campus Centro 65 Figura 2 Complexo Theatro 19 Figura 27 Fachada posterior do Campus Centro 65 Figura 3 Estabelecimento de campus no estrangeiro 33 Figura 28 Projeto do Campus Centro 66 Figura 4 McDonaldização da Educação Superior 34 Figura 29 Implantação atual do Campus Centro 67 Figura 5 Programas conjuntos Mapa de localização dos Campi da Universidade Anhembi Morumbi 34 Figura 30 Fachada principal da Unidade 6 do Campus Vila Olímpia 69 Figura 31 Catálogo informativo sobre o Processo Seletivo de 2001 70 Figura 32 Fachada do Campus Vale do Anhangabaú 71 Figura 33 72 Figura 34 Fachada principal do Campus Morumbi Maquete eletrônica do projeto para o Edifício Jardim no Campus Morumbi Figura 35 Mapa do Campus Morumbi 73 Figura 36 Fachada do Complexo Theatro 74 75 Figura 6 Figura 7 36 Figura 13 Capa do livro "Se Não Foi a Primeira, Não Foi a Segunda" Apresentação do corpo diretivo e docente da Faculdade de Turismo do Morumbi Primeiras publicações da Faculdade de Turismo do Morumbi no jornal Folha de São Paulo Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Turismo do Morumbi Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Comunicação Social Anhembi Recorte do informe publicitário da Faculdade de Comunicação Social Anhembi no jornal Folha de São Paulo Fachada principal do Faculdade de Comunicação Social Anhembi, Campus Vila Olímpia Figura 14 Informativo Faculdade Anhembi Morumbi 47 Figura 15 Logotipo das Instituições 47 Figura 16 Figura 17 Evolução do Logotipo da Universidade Anhembi Morumbi Fachada principal da Faculdade Anhembi Morumbi, Campus Vila Olímpia: Figura 18 Semana Brasileira de Moda Figura 19 Laboratório específico de gastronomia Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Figura 12 37 39 40-42 43 72 Figura 37 Fachada do Complexo Theatro 45 Figura 38 Evolução urbana do Campus Vila Olímpia 45 Figura 39 Fachada lateral do Complexo Theatro 78 Figura 40 Informe publicitário Folha de São Paulo: 79 Figura 41 Laboratório de Simulação do curso de Medicina 80 Figura 42 Fachada do Campus Avenida Paulista 80 Figura 43 Hall de acesso das salas da BSP no Campus Morumbi 81 Figura 44 Hall de acesso as salas de graduação no Campus Morumbi 81 50 Figura 45 Mapa de uso e ocupação do solo da Regional de Pinheiros 83 51 Figura 46 Francisco Colman 85 54-55 Figura 47 Ocupação do terreno Casa do Ator, 265 e 275 88 Figura 48 Desenho esquemático da implantação do Prédio de Vidro Vista áerea com delimitação da área do terreno e implantação do Prédio de Vidro 90 91 Figura 51 Estudo de viabilização construtiva da Unidade 6 Quadro de áreas apresentado em conjunto com o estudo para viabilização construtiva da Unidade 6 92 Figura 52 Francisco Petracco 93 Figura 53 Concurso para a Assembleia Legislativa de São Paulo 95 Figura 54 Desenhos para o Concurso do Clube XV de Santos 92 Figura 55 Clube XV de Santos 92 46 48-49 Figura 20 Laboratório específico da Escola de Ciências da Saúde 54-55 Figura 21 Laboratórios específicos da Universidade Anhembi Morumbi 56-57 Figura 22 Figura 23 Antiga sede da Alpargatas Implantação e projeto arquitetônico para construção do campus universitário na Universidade Estácio de Sá 62 Figura 24 Proposta de Implantação do Campus Centro de 1997 63 Figura 25 Mapa de localização do Campus Centro 64 Figura 26 Fachada principal do Campus Centro 61 Figura 27 Fachada posterior do Campus Centro 61 59 Figura 49 Figura 50 76-77 90 Figura 54 Desenhos para o Concurso do Clube XV de Santos 96 Figura 85 Unidade 06, projeto de 2001 126 Figura 55 Clube XV de Santos 96 Figura 86 Unidade 07, projeto de 2003 127 Figura 56 Concurso Palácio da Justiça de Santa Catarina 97 Figura 87 Unidade 05, projeto de 2005. 127 Figura 57 Palácio da Justiça de Santa Catarina 97 Figura 88 Átrio Central 128 Figura 58 Residencia Cláudio Morelli 98 Figura 89 Vista da galeria de circulação para o átrio de convivência 129 Figura 59 Residencia Vicente Izzo 98 Figura 90 Estrutura metálica de sustentação da caixa do elevador. 130 Figura 60 Residencia Pedro Marrey 98 Figura 91 Circulação vertical 131 Figura 61 Edifícios residências 98 Figura 92 Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro 132 Figura 62 Projeto urbanístico de Reurbanização do Eixo Tamanduateí-Luz 99 Figura 93 Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro 133 Figura 63 Projeto urbanístico – Proposta para o Rio Tietê 100 Figura 94 134 Figura 64 Projeto para Palácio das Nações 101 Figura 65 Projeto Escola Museu, Jundiaí 102 Figura 66 Escola Gomes Cardim 102 Figura 67 Jardim Santo Inácio 104 Figura 68 Jardim Santo Inácio 104 Figura 69 Escola Poá 105 Figura 70 Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago - 1º projeto 107 Figura 71 Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto. 108 Figura 72 Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto. 108 Figura 73 Figura 95 A espiral do Conhecimento. Descobrindo o Prédio de Vidro, a partir da espiral do conhecimento. Figura 96 Evolução do Prédio de Vidro Figura 97 Capa do Catálogo do Processo Seletivo de 2001 141 Figura 98 Fachada frontal do Prédio de Vidro 142 Figura 99 Corte esquemático da concepção estrutural 144 Figura 100 Croqui com medidas 145 Figura 101 Fachada esquemática da concepção estrutural 146 Figura 102 Corte esquemático da concepção estrutural 146 Figura 103 Detalhamento do piso de Steel Deck 147 Figura 104 Detalhe de conexões nas treliças 148 150 135 138-139 Proposta de Francisco Petracco para a Fachada do Campus Centro Implantação proposta por Francisco Petracco para Campus Figura 74 Centro 112 Figura 105 Sala de aula padrão Figura 75 Distribuição atual do Campus Centro 113 Figura 106 Projeto do Auditório no Prédio de Vidro Figura 76 Mapa do Campus Centro 114 Figura 107 Capela de São Judas Tadeu 157 Figura 77 Compatibilização dos projetos para o Campus Centro 115 Figura 108 Capela de São Judas Tadeu, vista externa 158 Figura 78 Fachada da Unidade 6 116 Figura 109 Capela de São Judas Tadeu, vista interna 159 Figura 79 Ata de reunião de 10 de junho de 1999 117 Figura 110 Esplanada do Complexo Theatro 160 Figura 80 Croqui da Unidade 6 118 Figura 111 Ilustração comparativo da disposição das salas de aula. 162 Figura 81 Planta do pavimento tipo do Prédio de Vidro 122 Figura 112 Proporções arquitetônicas 164 Figura 82 Pavimento tipo da Unidade 6 124 Figura 113 Cliente Astra Zeneca 166 Figura 83 Pavimento tipo da Unidade 7 124 Figura 114 Cliente EFACEC do Brasil Ltda 166 Figura 84 Pavimento tipo da Unidade 5 125 Figura 85 Unidade 06, projeto de 2001 122 Figura 86 Unidade 07, projeto de 2003 122 Figura 116 Pedra Fundamental 166 Figura 117 Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental 167 111 155-156 LISTA DE TABELAS Figura 115 Cronograma físico de execução apresentado para a concorrência na obra do Prédio de Vidro 167 Figura 116 Pedra Fundamental 170 Figura 117 Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental 171 Figura 118 Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental 172-173 Figura 119 Cápsula do Tempo 174-175 Figura 120 Capela São Judas Tadeu 176 Tabela 4 Intervenções arquitetônicas da AOP Histórico arquitetônico das Universidades realizados por Pinto e Buffa (2006) Relação de metro quadrado das áreas acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi Evolução da empresa Alpargatas e Universidade Anhembi Morumbi Figura 121 Arquiteto Francisco Petracco 177 Tabela 5 Quadro único anexo a LEI Nº 8.211 Figura 122 Coração Solar do Prédio de Vidro 178 Figura 123 Cobertura de vidro. 179 Figura 124 Construção do Prédio de Vidro 180-181 Figura 125 Construção do piso do Prédio de Vidro 182-183 Figura 126 Fachada do Prédio de Vidro em construção 184-185 Figura 127 186 Figura 128 Fachada do Prédio de Vidro Catálogo da exposição “A boa arquitetura de uma geração” Figura 129 Acabamento do piso 189 Figura 130 Impactos estéticos por falta de manutenção Figura 131 Rebaixo do piso 192 Figura 132 Iluminação da escada do Prédio de Vidro 193 187 190 - 191 Tabela 1 Tabela 2 Tabela 3 17 26 53 60-61 89 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Proporção de áreas acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi por campus 53 Gráfico 2 Número de salas de aula por Campus 54 Gráfico 3 Número de laboratórios de informática por Campus 54 Gráfico 4 Número de laboratórios específicos por Campus 54 Gráfico 5 Relação de funcionários na AOP Indice de satisfação com a infraestrutura da Capela São Judas Tadeu 76 Gráfico 6 157 14 recadastramento de cursos da Universidade Anhembi APRESENTAÇÃO Morumbi, regularização dos imóveis junto à Prefeitura da Durante o colegial em Alfenas, os professores comentavam a diferença no desempenho dos estudantes de ensino médio em cidades com universidade; diziam que este tipo de instituição era um elemento muito marcante no Alfenas é uma cidade no sul do Estado de Minas Gerais com economia agropastoril voltada para o café; contudo é conhecida por suas duas universidades: A Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) e a Universidade de Alfenas – José do Rosário Vellano (UNIFENAS). contexto social e urbano, e assim um estímulo para os estudantes que também gostariam de vivenciar as a convivência era muito estimulante. Como era amiga de Viviane Velano, realizava os estudos acadêmicos no gabinete da reitoria da Unifenas, e a frequência dentro dos espaços universitários só aumentavam o desejo de participar deste universo acadêmico. Viviane Araújo Velano Cassis (1981), filha de Edson Antônio Velano (19432008), fundador da Unifenas. Atualmente é Próreitora de Planejamento e Desenvolvimento da Universidade de Alfenas. 1. Ver anexo da relação de cursos oferecidos pela Universidade Anhembi Morumbi. Em 2001, após ter cursado um ano na faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Alfenas, solicitei a transferência para a Universidade Anhembi Morumbi, na qual fui convidada a trabalhar no departamento de Assessoria a Obras e Projetos (AOP). Trabalhei neste departamento por 10 anos, acompanhando as mudanças e o desenvolvimento do novos espaços acadêmicos que se apresentavam desde salas de aula até laboratórios específicos das faculdades em cursos① tradicionais a inovadores. Em janeiro de 2011, desliguei-me da AOP para me dedicar aos estudos acadêmicos e a docência. Embora a mudança na área de atuação profissional, a área universitária experiências universitárias. Particularmente, Cidade de São Paulo e desenvolvimento e implantação de espaço físico da universidade, participando de alguns processos de reconhecimento e sempre foi muito presente e marcante na minha trajetória, o que levou a instigar questões relacionadas aos projetos de espaços universitários. Os anos de convivência e experiência dentro da Universidade Anhembi Morumbi conduziram-me a uma pesquisa sobre o espaço da Instituição. Esta que me acolheu como aluna de graduação e pós-graduação, funcionária da área administrativa e, atualmente, como funcionária da área acadêmica como professora. Esta experiência proporcionou um olhar diferenciado sobre seu espaço acadêmico, que não é construído com fins estritamente acadêmicos, mas também considera aspectos econômicos, sociais, jurídicos, culturais e comerciais. 15 arquitetônica INTRODUÇÃO deve privilegiar ambientes da tríade educacional: ensino, pesquisa e extensão; bem como demais Segundo portal do Ministério da Educação e Cultura espaços auxiliares que possibilitem seu funcionamento. Desta forma, para abrir um curso, por exemplo, a (MEC), para uma Instituição de Ensino Superior (IES) iniciar suas atividades, deve solicitar seu credenciamento de acordo com sua organização acadêmica. O credenciamento, com as prerrogativas de autonomia, depende de ter um funcionamento regular e um padrão satisfatório de qualidade. O recredenciamento da IES deve ser solicitado ao final de cada ciclo avaliativo do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes); que avalia instituições, cursos e desempenho dos estudantes por meio de processos coordenados pela Comissão Nacional de Num processo de avaliação da IES, são considerados como o ensino, pesquisa, extensão, responsabilidade social desenvolvido pela instituição, gestão da instituição, seu corpo docente e discente. O espaço físico é avaliado dentro de um indicador de instalações físicas, como exigência mínima para avaliação e funcionamento de um curso de graduação. Esta premissa leva a crer que uma infraestrutura básica para abertura e funcionamento e exige a existência de espaços, que podem ser construídos e adaptados pela IES, ou, ainda, podem ser utilizados em parceria ou convênio com outras instituições. Contudo, apesar de definir os ambientes necessários, não estabelece diretrizes para um plano qualitativo deste espaço, ficando a cargo da Instituição definir a infraestrutura que lhe melhor convém. A Assessoria de Obras e Projetos (AOP) responsável pelas Avaliação da Educação Superior (Conaes). aspectos Comissão de Especialista de Ensino pelo MEC, estabelece a proposta intervenções, de caráter educacional, nos imóveis adquiridos pela Universidade Anhembi Morumbi, atende essas diretrizes de infraestrutura solicitadas pelo MEC, de três formas distintas: 1. Novas construções: Dependendo da necessidade acadêmica, o número de salas ou localidade distinta dos campi existentes e do porte da construção, a universidade contrata um projeto arquitetônico para suas instalações, o qual será a tradução da ideia que o arquiteto julga ser necessário para atender a demanda solicitada. O projeto 16 2. 3. contratado terá a imagem moldada a partir de um briefing da instituição e de como o espaço se manifesta para o seu idealizador; culminando na construção de um novo edifício; Implantação de novo Campus: Em caso de um edifício já consolidado que atenda a necessidade acadêmica e a localidade, a universidade ora contrata um projeto arquitetônico, ora desenvolve junto ao AOP a adaptação dos espaços, traduzindo as exigências acadêmicas ao espaço a ser modificado para o novo uso; Adaptação de edifícios existentes: Quando a universidade já apresenta o espaço físico dentro da própria instituição, o ambiente é adaptado de acordo com as novas necessidades acadêmicas pela própria AOP. motivos de convênio ou parceria acontecem devido à complexidade da infraestrutura e o custo dos equipamentos para montagem de um espaço que será utilizado eventualmente durante o curso. Embora a AOP desenvolva espaços de acordo com as diretrizes de infraestrutura básica estabelecida pelo MEC, a construção de um edifício acadêmico é resposta, não só de uma proposta arquitetônica, mas também dos anseios da Instituição. As diferenças encontradas nas edificações de Ensino Superior Além da construção de novos espaços, a Anhembi Morumbi, mantém parcerias e convênios de espaços físicos, buscando em outras Instituições, públicas ou privadas, a locação de infraestrutura que complementem suas instalações atendendo as exigências acadêmicas do seu curso; por exemplo, a parceria em laboratórios do Instituto de Pesquisa e Tecnologia (IPT) da Universidade de São Paulo (USP) para cursos nas áreas de Engenharias e tecnologias; ou ainda convênios com Hospitais para estágios acadêmicos em cursos da área da Saúde. Em ambos os casos, os principais traduzem Universidades o dentro posicionamento do Cenário adotado pelas Educacional e, consequentemente, a proposta em investimento de suas infraestruturas; sujeitando o projeto à ação de valorização e desvalorização de seu ambiente, sob o aspecto físico, influenciando em seu reconhecimento simbólico. Esta diferenciação, encontrada nas edificações da Universidade Anhembi Morumbi, evidencia aspectos acadêmicos, econômicos, sociais, jurídicos, culturais e comerciais da Instituição; o que instigou a realização desta pesquisa. 17 FORMA DE INTERVENÇÃO 1 NOVAS CONSTRUÇÕES CAMPUS EXEMPLO Campus Vila Olímpia (Unidade 5, Unidade6 e Unidade7) Campus Morumbi – Edifício Jardim Campus Vila Olímpia – Ginásio da Unidade 5 2 IMPLANTAÇÃO DE NOVO CAMPUS Campus Centro Campus Morumbi – Galpão Campus Vale do Anhangabaú Campus Avenida Paulista Campus Avenida Paulista 3 ADAPTAÇÃO DE EDIFÍCIOS EXISTENTES Campus Morumbi – Edifício Jardim Campus Morumbi – Galpão Campus Vila Olímpia (Unidade1 e Unidade 9) Adaptações Gerais Campus Vila Olímpia – Unidade 9 Campus Vila Olímpia – Unidade Gastronomia Graduação Executiva Tabela 1 – Intervenções arquitetônicas da AOP – Exemplos dos tipos de intervenções arquitetônicas realizadas pela AOP nos imóveis adquiridos pela Universidade Anhembi Morumbi com intuito de atender as diretrizes de infraestrutura solicitadas pelo MEC, desenvolvendo ambientes para fins acadêmicos. Fonte: Tabela elaborada pela autora 18 ABORDAGENS DO PROBLEMA reconheça o partido arquitetônico e identifique o espaço acadêmico de uma Universidade?”. Para Kahn, em Giurgola e Mehta (1994), a vontade Como esta é uma questão ampla, procurou-se focar de expressão do homem é a razão de ser do indivíduo, sendo em um estudo de caso do Edifício Theatro Casa do Ator, que cada gesto é um signo. As Instituições são carregadas conhecido como Prédio de Vidro, no Campus Vila Olímpia da destes signos, sendo que “muitas vezes, essas edificações são Universidade Anhembi Morumbi, a fim de conseguir concebidas como recintos cercados por paredes sólidas que identificar, a partir de uma análise de sua trajetória, desde o não deixam adivinhar a flexibilidade das circulações internas, processo criativo do arquiteto aos valores simbólicos da disposições que correspondem, no interior, à necessidade de arquitetura, a história por trás de seu design. Acredita-se que reclusão e, no exterior, à expressão simbólica”. as memórias nas edificações da Instituição traduzem a Contudo, nem sempre a proposta que o arquiteto faz História da Universidade Anhembi Morumbi, seu processo para um espaço seduz seu usuário. Isto por que os signos para a posição de destaque no cenário educacional, como físicos projetados precisam ser apropriados por quem os resposta a seus objetivos de crescimento, seu planejamento vivencia. O usuário em contato com o edifício, percorre-o estratégico na distribuição dos Campi na malha urbana e as identificando, vivenciando e (re) conhecendo os significados dificuldades e resultados alcançados na concepção e pessoais que cada ambiente e elemento lhe transmitem, implantação de seus cursos. E, ainda, que a interpretação dos podendo apropriar-se ou rejeitar este lugar. usuários de seus espaços esteja intimamente ligada ao A consolidação do projeto universitário em um repertório sociocultural e satisfação com a Instituição como edifício e a forma como ele é reconhecido, conduziu a um todo, seja por sua infraestrutura, como também por seguinte questão: “quais fatores contribuem para que se questões acadêmicas e institucionais. 19 HIPÓTESE A hipótese identificada para esta pesquisa foi: OBJETIVOS ESPECÍFICOS Analisando a trajetória arquitetônica do Edifício Theatro Casa do Ator da Universidade Anhembi Morumbi, em que se enquadra a Universidade Anhembi Morumbi; conhecido como Prédio de Vidro, é possível identificar elementos arquitetônicos, com base nos aspectos históricos Identificar o partido arquitetônico e o processo criativo do arquiteto Francisco Petracco para o Prédio de Vidro; e simbólicos, que contribuem para que o usuário deste espaço reconheça e identifique o ambiente acadêmico. Analisar o contexto físico, econômico, político e cultural Identificar os motivos das diferenças entre projeto e construção; Analisar quais elementos o usuário percebe no espaço. A memória do Prédio de Vidro evidencia a presença destes elementos na arquitetura desde o projeto, passando pela construção, a manutenção até o uso do espaço acadêmico. OBJETIVO GERAL O presente trabalho tem como objetivo investigar a memória do Edifício Theatro Casa do Ator, a unidade 6 da Universidade Anhembi Morumbi, conhecido como Prédio de Vidro, buscando identificar os elementos arquitetônicos de seus ambientes que representem a atividade-fim que é ser um espaço universitário. Figura 2 - Complexo Theatro – Unidade 6 e 7 do Campus Vila Olímpia, fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua Casa do Ator, com totem de identificação da unidade em primeiro plano, seguido pelo Prédio de Vidro e ao fundo a Unidade 7. Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi 20 INSTRUMENTAL TEÓRICO A partir de 1960, diante dos questionamentos sobre a Arquitetura Moderna e sua funcionalidade, a subjetividade no ato de projetar passa a ser questionada. Começa-se a avaliar a pré-existência ambiental do projeto, suas relações com o lugar, seu entorno; o importante papel da História e a Tradição na arquitetura; as relações antropológicas e psicológicas com a arquitetura, de forma a analisar como as pessoas percebem e interagem com o espaço. Para Harvey (2005), as práticas espaciais são providas de sutilezas e complexidades estreitamente implicadas em processo de reprodução e de transformação das relações sociais e as generalidades dos seus usos. Harvey tenta explicar esta complexidade em uma grade de práticas espaciais em três estágios: o vivido, o percebido e o imaginado. Nojima (1999) classifica os aspectos comunicacionais Lynch (1982) propõe que o repertório cultural e a percepção sensorial que o observador tem, faz com que ele leia as relações e distinções sugeridas pelo meio. Santos (1985) estabelece como método de análise do espaço, a investigação sobre a função que os elementos compõem dentro de um ambiente urbano. Sendo que a leitura e a interpretação do meio ambiente aconteçam devido à percepção e interação dos elementos observados dentro de um contexto de tempo e lugar. Cullen (1984) define visão serial como a sucessão de súbitas revelações ou surpresas percebidas pelo usuário no decorrer do percurso. E indica que a leitura e interpretação do ambiente urbano conceituam o local e o conteúdo, isto inter-relacionado a termos como: individualização da paisagem; identificabilidade por elementos e identificabilidade por tradição funcionalista, temas elaborados por ele. Rapoport (1978) aborda o cunho psicológico do meio ambiente construído como possibilidade de comunicação não verbal, possibilitada pela leitura de signos que reconheceu na cidade. Implica três estágios de inter-relação com o ambiente: conhecer, sentir e agir. Ferrara (1988), analisa a leitura não verbal do meio urbano a partir da semiótica, sugerindo uma Teoria do espaço urbano composta de três vertentes: percepção, leitura e interpretação do espaço urbano. do espaço urbano, sob o ponto de vista de alguns teóricos que apresentam noções de leitura e interpretação do espaço. Sendo eles: Também, é possível encontrar uma classificação semelhante na área do Design. Norman (2004) divide a 21 prática do design em três níveis: o visceral, o Insinua a leitura do espaço e suas relações de forma comportamental e o reflexivo. O autor estabelece uma consciente, quando o observador analisa o objeto observado. relação entre as ciências cognitivas e a visão sobre o lugar e O interpretar é a leitura simbólica que orienta as as emoções no design, sendo que a leitura e a interpretação atividades e dá sentido com o uso. É quando os elementos do meio ambiente acontecem devido à percepção e a arquitetônicos são entendidos e, a partir de uma análise, interação dos elementos observados dentro de um contexto evocam sentimentos que completam os espaços com de tempo e lugar. imagens pessoais, causando emoções e tocando o imaginário Ou ainda, Okamoto (2002) que busca compreender o que o usuário de hoje vê e como interpreta a realidade, a de quem usa. O observador reflete sobre o objeto observado e dá a ele sentido e significado próprio. partir de seu comportamento e ideais, classificando o Diante deste contexto, esta pesquisa buscou um processo criativo arquitetônico em dois elementos: os método para leitura do espaço universitário através da objetivos e os subjetivos. análise arquitetônica do espaço e percepção gerada a partir Embora termos distintos, em uma análise geral, todos os teóricos dividem a leitura do espaço em três momentos: o identificar, o vivenciar e o interpretar. O identificar sendo a análise inicial que se faz, o contato imediato. É um estado pré-consciente, anterior ao da interação dos usuários com o meio ambiente, através de leituras dos textos Del Rio (1996) e Ricceur (2010). O estudo sobre o espaço universitário baseou-se nos conceitos históricos de Pinto e Buffa (2006) e Chistopher Charle, Jacques Verger (1996). entendimento do que é o gosto ou aversão ao projeto, está A busca pela compreensão do design do espaço relacionado à primeira impressão e aos cinco sentidos. universitário, entender qual a proposta de Educação no Implica em uma relação de observador e objeto observado. Ensino Superior, baseou-se na leitura de textos de Onusic O vivenciar é o percurso realizado por entre o (2009), Oliveira (2009), Morosini (2005), Wanderley (1988), edifício. É uma primeira interação a partir do uso dos cinco Lauanda (1987) e Minogue (1981), enquanto a história da sentidos ao conhecimento da sensação evocado por ele. Universidade Anhembi Morumbi e do Prédio de Vidro 22 aconteceu através de depoimentos e pesquisa documental, além da leitura de Rodrigues (2005). identificação e reconhecimento do espaço. Para a análise do edifício, foi considerada uma pesquisa documental e entrevistas levando em consideração METODOLOGIA ADOTADA as referências arquitetônicas adotadas pelo arquiteto, definidas como: desenho, estrutura e ritmo. Os temas são Para desenvolvimento deste trabalho, a primeira ilustrados com desenhos e imagens que permitem o parte constituir-se-á de uma pesquisa bibliográfica, com entendimento do edifício a partir de suas características revisão de literatura nas áreas de Arquitetura, Educação e Design, referente às linhas de pesquisa sobre Universidade. Além de livros, serão estudados e analisados pesquisas e artigos desenvolvidos principalmente sobre a Universidade Anhembi Morumbi. arquitetônicas funcionais, formais e estruturais; uma análise urbana avaliando seu entorno e sua evolução histórica; representações de sua organização, acessos e circulações, aberturas e fechamentos, distribuição de espaços, estruturas e suas memórias. Visualizando as várias opções de projeto universitário As análises simbólicas são oriundas de depoimentos e toda a sua complexidade, esta pesquisa utilizar-se-á de e testemunhos em questionário②, além de entrevistas com estudo de caso de um projeto consolidado, sendo analisado o o arquiteto e funcionários da área administrativa da Edifício Theatro Casa do Ator, a unidade 6 da Universidade Instituição. Anhembi Morumbi, no Campus Vila Olímpia, projetado pelo arquiteto Francisco Petracco. Uma universidade particular 2. Ver anexos com relação JUSTIFICATIVA que solicitou a construção de um edifício para expansão do de entrevistados e ques- seu campus que resultou na edificação de um prédio em Não se pode negar que para elaboração de um tionário aplicado sobre a vidro e aço, mas comumente conhecido como Prédio de projeto arquitetônico de IES, o arquiteto pode modificar o pesquisa. Vidro por seus funcionários e alunos, já demonstrando certa projeto diante de diretrizes, avaliação e aprovação da gestão 23 que administra a instituição, fazendo, muitas vezes, com que tradução real de dados inconscientes de algo que acredita ser o projeto inicial não seja concretizado. No entanto, a seu ideal de universidade. Instituição deve entender o olhar proposto para o que se Quando idealizada, a arquitetura do espaço constrói, pois é isso que irá possibilitar a compreensão, por universitário deve compreender e satisfazer as necessidades meio de uma linguagem simbólica, sobre o que foi idealizado do usuário, apresentar, em si, signos que garantam a como identidade do lugar, já que o homem utiliza-se das qualificação do ambiente acadêmico e, consequentemente, construções para falar de si. seu valor social e cultural, já que o usuário lê o design Segundo Ferrara (2007), percorrer a construção supõe não só ler os materiais e competências estruturais presente no projeto e deixa-se descobrir no percurso de seu espaço os usos, hábitos, valores, crenças e signos. existentes, mas também perceber “que a espacialidade cria Assim, como a arquitetura segue uma ordem e a uma teoria do espaço enquanto comunicação ideológica da imagem está carregada de lembranças, o contato e a cultura e exige o resgate das manifestações presentes nas interação com um espaço arquitetônico possibilita uma suas constituições históricas”. forma de decifrar a composição. O ambiente edificado, que é Para desenvolver Okamoto projetos (2002), que os arquitetos atendam a devem a materialização de uma imagem mental do autor, deixa de permanente ter um único significado e passa a ser significado para o necessidade de interação afetiva do homem com o meio ambiente, favorecendo o crescimento pessoal, a harmonia no relacionamento social e melhorando a qualidade de vida. O arquiteto, a partir da composição feita através da forma, função e estrutura, projeta o espaço com elementos usuário. Por meio de uma análise dos múltiplos aspectos do espaço universitário do Edifício Theatro Casa do Ator, buscase identificar estes significados, suas características, possíveis deficiências e a forma como se articula com o usuário. de design selecionados em seu repertório, com certa Verificar se o Prédio de Vidro traduz uma arquitetura intenção de leitura; proporcionando uma construção que com a forma de ensino, com a função educadora a ser resulta de uma técnica e uma estética. Essa intenção é a exercida nos usuários que o vivenciam e experimentam seu 24 espaço, e se é capaz de transmitir informações, aglutinar projeto, as grandes mudanças ocasionadas durante a pessoas e produzir sensações que o identifiquem como um construção e os elementos que o descaracterizam. O terceiro capítulo apresentará um olhar sobre seus espaço universitário. De forma que esta dissertação pretende contribuir espaços através de depoimentos, que adentram em com o estudo deste espaço universitário, retratando o simbologias pessoais e respostas as entrevistas, sobre como processo desde sua concepção até sua construção e uso. o espaço cria símbolos para seus usuários③. E, por fim, serão apresentadas as considerações finais ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO sobre a pesquisa, buscando entender a arquitetura do edifício A pesquisa será dividida em três capítulos, sendo: 3. Foram identificados nas O primeiro capítulo busca identificar o espaço respostas aos questioná- universitário, a relação entre a arquitetura e a educação, os rios além dos aspectos conceitos de ensino superior nacional, com o objetivo de arquitetônicos, significados atribuídos ao espaço contextualizar o cenário educacional até chegar à instituição a partir das considerações do estudo de caso. Apresentando sua História, um panorama relacionadas à satisfação sobre seu espaço construído, analisando brevemente suas e insatisfação frente à edificações e procurando o entendimento da Instituição a política educacional adotada pela instituição. Não cabendo a esta pesquisa partir de sua arquitetura. O segundo capítulo ilustrará a trajetória do Prédio de classificar ou analisar es- Vidro, seu território, as principais razões para a construção, tes resultados. apresentação do arquiteto, a busca pelo significado do seu e identificar quais são os elementos proporcionem uma interação entre projeto e o seu uso. que 25 Educação Escolástica de Bacon, explorada com o surgimento CAPÍTULO 1 – CONDIÇÃO HISTÓRICA de Academias e Bibliotecas a partir do Humanismo, impressa no lançamento do primeiro livro de Gutenberg, formulada nas primeiras teorias para o Ensino até as Reformas 1.1 O Ensino Superior e a Arquitetura Educacionais atuais. Cada um destes fatos históricos proporcionou a “O ensino começou quando um homem, sentado embaixo de uma árvore, se pôs a discutir, sem saber que era um professor, com jovens que ignoravam ser estudantes; pensavam simplesmente no que se dizia na companhia de um homem tão agradável. E desejavam que um dia seus filhos também tivessem a oportunidade de ouvir um homem igual. Foi assim que nasceu a primeira escola e nasceu o primeiro pátio de recreio: consequência das aspirações do homem.” (Kahn apud Giurgola e Mehta, 1994, pag. 94-95) construção de espaços que abrigassem a divulgação do saber, estabelecendo sentido construtivo a partir da cultura predominante em cada contexto. Em um período de Antiguidade Clássica, o Ensino se dava em ágoras, teatros e fóruns; na Idade Média em Igrejas; no Renascimento até aos dias de hoje em Academias e Universidades. Pinto e Buffa (2006) traçam um histórico sobre a arquitetura das universidades investigando aspectos políticos, sociais, filosóficos, históricos, pedagógicas e Pode-se dizer que o início da educação aconteceu a partir da possibilidade de transmissão do conhecimento. diretrizes arquitetônicas e urbanísticas, destacando as seguintes fases: Troca de experiências iniciadas com conversas entre pais e filhos, passando a ser documentada com a invenção da Surgimento escrita pelos fenícios, difundida com a criação da primeira Século XV Escola de Ciências por Thales, retransmitida a partir do Século XVII florescimento da Enciclopédia com Plínio, questionada na Século XX 26 SURGIMENTO SÉCULO XV CONTEXTO Maior uso da escrita; Desgaste da exclusividade no conhecimento detido pela Igreja; Criação de escolas com técnicas de leitura. Financiamento de alunos pela igreja; Segregação de alunos pela aristocracia, em vestuário acadêmico, cerimônias universitárias, atividades sociais, atividades pedagógicas e em uso dos prédios das universidades. CONSTRUÇÃO Construção simples, similar ao modelo colonial; Cerimônias importantes realizadas em igrejas, com espaços mais amplos e propícios para reunião de pessoas. SÉCULO XVII SÉCULO XX Reforma política e religiosa; Educação com regime de internato para formação integral do cidadão. Ideia de Campus, com a educação funcionando no campo, longe do descontrole das cidades. Espaço para atividades de ensino e pesquisa acadêmica, situados num determinado sítio, com suas próprias regras, leis e instituições próprias. Construções com ar gótico simples e austero Bibliotecas com ambientes mais elaborados. Inspiração em claustros medievais, com plantas quadrangulares e espaço articulador cercado por arcadas cobertas com as laterais abertas. Reestruturação da arquitetura, cercando edifícios acadêmicos com alas de dormitório e espaços de serviços que sustentem as atividades internas de moradia articulado por um espaço central. Edifícios acadêmicos isolados, mas espaço para abrigar uma comunidade inteira, separados por áreas verdes abertas; Rejeita a tradição das estruturas em claustros A construção principal era a biblioteca; marcando a ruptura entre o ensino ligado à Igreja e o ensino livre. Plantas com estilo clássico de arquitetura, numa representação simbólica de academicismo e racionalidade. CONFORTO AMBIENTAL Aberturas definidas pelas técnicas construtivas, gerando fechamentos sem grandes aberturas; Não apresentavam função especifica para ensino, sem isolamento, privacidade ou conforto, portanto sem conforto ambiental de iluminação, ventilação, acústica ou térmico. Circulação livre nas arcadas proporcionando melhor ventilação ao edifício. Espaço central articulador composto de gramado , com fácil acesso e visualização do conjunto, possibilitando iluminação e ventilação dos ambientes internos de cada sala. Formas simples e com muitas aberturas permitindo que os edifícios tivessem iluminação e ventilação apropriada. Tabela 2 – Histórico arquitetônico das Universidades realizado por Pinto e Buffa (2006), em Arquitetura, urbanismo e educação: campus universitários brasileiros; referente a pesquisa financiada pelo CNPQ, sobre a evolução das universidades, desde a Idade Média, mostrando a evolução no continente europeu, na Inglaterra, nos Estados Unidos e Brasil, mostrando o surgimento do campus universitário, sua organização e significado. Fonte: Tabela elaborada pela autor, do artigo publicado no Anais do Vi Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, 2006, pág. 5724 -5746 27 A escolha do local apropriado para uma escola estimulará o diretor de um instituto a sugerir ao arquiteto o que uma escola deveria ser, com o que ele já definirá um início de programa. (Kahn apud Giurgola e Mehta, 1994, pag. 94-95) No texto de Giurgola e Mehta (1994), quando mencionado o pensamento de Kahn, o “início de um programa” refere-se ao programa arquitetônico, estabelecido pelo solicitante, no qual se definem quais são os ambientes necessários para a construção do espaço. A elaboração de um programa arquitetônico parte da premissa de que os profissionais envolvidos entendem o objetivo do espaço, as exigências formais, funcionais, estruturais e os estímulos psicológicos que lhe são atribuídos. Decidir o partido a ser adotado, selecionar quais ambientes serão contemplados, manipular de que forma irá se organizar e se isto fará parte da composição arquitetônica, ou ainda garantir abrangência necessária ao fim a que se destina, são fundamentos que acompanham o arquiteto na busca por repertório e desenvolvimento de seu processo criativo. Projetar um espaço, em arquitetura, exige fundamentos para o entendimento da função, do público e das expectativas que o projeto gera; seja por parte do usuário, seja por parte da administração, seja, ainda, por parte do próprio arquiteto, mas acima de tudo, por parte do observador, que independente do vínculo com o edifício, incita uma percepção sensorial e afetiva que proporcionará o entendimento do objeto e sua compleição. A Universidade, o lugar, que segundo Wanderley (1988), é privilegiado para conhecer a cultura universal e as várias ciências, tem a função de criar e divulgar o saber com a finalidade da Educação com base no ensino, na pesquisa e extensão. Lauanda (1987) posiciona-se frente à questão da função da Universidade dizendo que é preciso voltar-se para o homem tal qual qualquer questão de Filosofia da Educação, isto porque, acredita que a Universidade apoia-se no caráter livre do conhecimento, bem além das estruturas políticas da instituição. Já Minogue (1981), acredita que as universidades são capazes “de criar seu próprio interesse na busca do conhecimento”, sendo que esta busca pode ser influenciada por outros tipos de excitação; tais como politica, religião, patriotismo entre outros. Assim, o espaço de ensino universitário é resultado 28 de ambientes que insiram o usuário ao universo do saber, públicas, que prioriza a pesquisa, é dedicado aos docentes. calcado no tripé da educação: o ensino, a pesquisa e a extensão, devendo proporcionar locais Os agentes usuários das Instituições de Ensino, para definidos por Wanderley (1988), são os professores, alunos e desenvolvimento de atividades acadêmicas geradoras de funcionários. Podendo, ainda, incluir outros agentes deste conhecimento que colaborem no processo de ensino e espaço, tais como: familiares dos alunos e convidados aprendizagem. externos (palestrantes, auditores, prestadores de serviços e E como explicitar estes princípios nestes ambientes? Como produzir estes espaços? afins). Este público, que mesmo pequeno e esporádico, tem Como projetar esta arquitetura universitária que grande influência na permanência dos usuários tradicionais atenda a função primordial de se produzir e difundir dentro da universidade, já que o contato possibilita conhecimento? intercâmbio de ideias e participações construtivas que Sabendo que não existe resposta exata a este questionamento, o arquiteto busca no contexto histórico, econômico e político da instituição respostas reforçam o pensamento de espaço inclusivo e disseminador de experiências e conhecimento. que Conhecer o usuário da Universidade proporciona possibilitem o entendimento das expectativas para o seu identificar as peculiaridades de projeto, identificar a quem se espaço físico. As características de cada Instituição destina possibilita determinar fluxos, acessos, demarcações influenciam o programa arquitetônico, por vezes sendo territoriais de áreas públicas e privadas, administrativas e possível identificar, o foco de espaços físicos para alunos em acadêmicas, o dimensionamento destas áreas, a tipologia do instituições privadas, que atuam a partir da quantidade partido arquitetônico, as prioridades do espaço e as discente na instituição; enquanto o foco em instituições expectativas de usos e usuários. 29 1.2 O Ensino Superior no Brasil universidades em 1964. Até o fim do Estado Novo, os modelos universitários De acordo com Pinto e Buffa (2006), apesar das brasileiros eram semelhantes aos das universidades missões jesuítas oferecerem cursos superiores de teologia, o europeias, a partir dali, adotam os modelos norte- ensino superior no Brasil inicia-se com a chegada da família americanos influenciados pela contribuição tecnológica do real. Primeiramente em Salvador e depois no Rio de Janeiro, esforço bélico, inclusive referente à organização espacial da são criados: cursos superiores profissionais para militares, na cidade universitária. Academia Militar e Academia da Marinha; cursos de Segundo Charles e Verger (1996), as instituições medicina e cirurgia; cursos de matemática exigidos pela universitárias transformaram-se profundamente durante os engenharia séculos, o que de certa forma possibilita compreender militar e engenharia civil; cursos para profissionais da burocracia do Estado, como agronomia, melhor química, desenho técnico, economia política e arquitetura; funcionamento das sociedades. cursos para profissionais produtores de bens simbólicos, como música, desenho e história. No período imperial brasileiro, estes cursos são uma em 1827. Em 1920, é criado o primeiro ensino superior com Universidade de São Paulo (1934), chegando a um total de 37 herança intelectual e do Institucionais de Educação Superior, no Brasil, foram: sendo aberta a Academia de Direito de São Paulo e Olinda Posteriormente, a Universidade de Minas Gerais (1927) e a da Para Morosini (2005), os modelos mais marcantes implementados com a vinda da Missão Francesa de 1820, nome de universidade, a Universidade do Rio de Janeiro. parte Modelo napoleônico: registro mais antigo e com vertentes presentes até hoje, marcada pela presença do elitismo, formação profissional isolada e transmissão do saber. Temos como exemplo Escolas de Medicina, Politécnica e de Direito, com formação de profissionais para atendimento das necessidades da sociedade, com referência no mundo do trabalho. Modelo humboldtiano: marcado pela liberdade acadêmica e pesquisa como principal meio de construção de conhecimento. O surgimento da Universidade de São Paulo marca a nova requisição de instituições universitárias mais integradas, para além 30 da formação, mas agora baseado na articulação do tripé de ensino, pesquisa e extensão. Modelo latino-americano: marcada pela busca de nova ordem social fortalecendo a compreensão do homem e da convivência humana. Universidades Ibero-americana, fundadas após a ditadura militar, são exemplos por acreditarem na participação coletiva universitária. Modelo inovador e sustentável: Fortifica elementos institucionais mantenedores de transformação, com diversidade na base financeira, fortalecimento do centro diretivo, estímulo à comunidade acadêmica, consolidação da cultura empreendedora integrada. São modelos de parques científicos e tecnológicos em que as universidades podem se autotransformar para um caráter proativo e sob controle. Modelo comercial/empresarial: instituições com capital privado e acionistas, visam lucro e assemelham-se a empresas privadas. O conhecimento é voltado para a prática. Como por exemplo Universidades que admitem administração com aplicadores de mercado, com capitais privados e acionista, visando à lucratividade e gestão semelhante a empresas privadas. Numa análise feita por Onusic (2009), o Ensino Superior no Brasil apresenta uma trajetória histórica de quatro fases: Antes de 1930, com predomínio de instituições públicas; Entre 1930 a 1964, com a consolidação do ensino privado; Entre 1964 a 1980, com a reforma do ensino superior e o predomínio do setor privado; e Entre 1980 a 2002, com o aumento de oferta de vagas do setor privado, o crescimento de vagas não preenchidas e evasão acadêmica. Atualmente, das 2.314 IES registradas pelo Inep, cerca de 90% são privadas, estando mais concentrada numa classificação de pequeno porte com até 1.000 alunos. Podese notar que a característica da Educação Superior no Brasil está calcada em um modelo privatizado com ininterrupta expansão. Morosini (2005) avalia que a demanda por Educação Superior é responsável pela abertura da Educação no setor privado, visto que o crescimento da economia do conhecimento, as mudanças demográficas paralelas às limitações orçamentárias do Estado não conseguem atender todo o movimento para a educação continuada. Enquanto Martins (2009) atribui o surgimento deste novo padrão de Educação Superior à implantação da Reforma de 1968, onde se privilegiou uma estrutura seletiva, acadêmica e social facilitando a organização de empresas educacionais, de forma que a escalada da privatização não 31 representou uma democratização do acesso ao Ensino O intenso movimento de fusões institucionais de Superior no país, apenas uma ampliação de vagas no setor universidades privadas no Brasil, que vem ocorrendo desde privado. 2007, a exemplo da Anhanguera e da Estácio de Sá, traduz De acordo com Silva Jr e Sguissard (1999), as bem esse novo contexto. Estas fusões refletem a necessidade políticas públicas para a educação superior brasileira e as de reestruturação do processo de gerenciamento entre reações dos diferentes setores (públicos e privados), universidades, com adaptação da filosofia aos novos promoveram um reordenamento no espaço social através do resultados de crescimento qualitativo, quantitativo e, acima fortalecimento de processos mercantilistas, o que tem de tudo, financeiro. Embora se observe que, muitas vezes, acentuado a transformação das identidades das IES este crescimento qualitativo não sendo atingido. particulares. Além de transitar pelo entendimento da cultura e Este processo pode ser entendido como reflexo da sociedade nacional, este novo perfil com visão lucrativa transição do modelo de capitalismo fordiano para o atual intervém no perfil institucional e, consequentemente, no capitalismo pós-moderno vivenciado de forma mundial, processo construtivo dos seus espaços físicos. As IES contudo não é foco desta pesquisa centrar-se nesta questão. particulares, numa tentativa de atingir nichos de mercado e O entendimento deste novo contexto, apenas, sugere, de diferenciar-se de suas concorrentes, estabelecem, a partir do forma isolada, que em um predomínio de IES particulares, seu corpo administrativo, medidas que a individualizem ou que buscam atender a demanda de mercado, estas estão minimizem seus custos como forma de garantir destaque. cada vez mais modificando sua identidade, profissionalizando Desta as empresas, racionalizando sua estrutura organizacional amplamente interna e buscando atender a seu mais novo objetivo: o revestimentos luxuosos como atrativos para alunos de classe lucro. A e B, enquanto outras instituições revelam baixo forma, é comum reformadas verificar e instituições instalando sendo materiais e 32 investimento na infraestrutura com foco no público de positivos e negativos, favorecendo o crescimento acelerado classes C, D e E. das Instituições, generalizando a educação e aumentando a O reflexo deste mercantilismo da educação preocupa oferta de mercado: Arquitetura, não só na questão da descaracterização da 1. A crescente centralidade da educação na discussão identidade, mas também na forma como esta política faz acerca do desenvolvimento e da preparação para o com que o Edifício apresente aspectos de baixa qualidade do trabalho, decorrente das mudanças em curso na base espaço físico influenciando no conforto ambiental até técnica e no processo produtivo; questões psicológicas, podendo gerar apartação social. Enquanto a escolha ou intervenção no tipo de revestimento de um edifício possa, por um lado, alterar 2. A crescente introdução de tecnologias no processo educativo, por meio de softwares educativos e pelo recurso à educação a distância; somente a estética do edifício; por outro, pode indicar uma 3. A implementação de reformas educativas muito segregação de público onde, culturalmente, alguns usuários similares entre si na grande maioria dos países do sintam-se deslocados e excluídos acreditando não ter mundo; recursos financeiros para estudar neste lugar; já a falta de 4. A transformação da educação em objeto do interesse investimento na construção pode acarretar em má qualidade do grande capital, ocasionando uma crescente espacial, impossibilitar a acessibilidade, prejudicando a comercialização do setor. ergonomia e o conforto ambiental. Por exemplo, é comum identificar algumas construções que para ampliação da área acadêmica, constroem salas sem iluminação e ventilação natural. Oliveira (2009) identifica quatro consequências da globalização na Educação que podem gerar resultados Nesta última dimensão, tem se dedicado bastante atenção ao debate em curso na Organização Mundial do Comércio/Acordo Geral de Tarifas e Comércio (OMC/GATT), acerca da conceituação da educação como um bem de serviço. A aprovação de tais acordos faria com que a educação passasse a ser regida pelas normas que se aplicam à comercialização de serviços em geral (cf. Dias, 33 2003, 2004; Dourado, 2002; Siqueira, 2005; Rikowski, 2003; Kelk & Worth, 2002). Em consequência, ter-se-ia, além da ampliação da mercantilização na área, a internacionalização da oferta, com a penetração de grandes corporações multinacionais em países menos desenvolvidos. Entretanto, mesmo sem a aprovação de tais acordos, a educação tem se transformado, crescentemente, em mercadoria. Instituições lucrativas crescem a olhos vistos, assim como a internacionalização da oferta (cf. Altbach, 2000, 2002; Balan, 1990, 1993, 2000; Callan, 1997; Carlson, 1992; Morey, 2001). Nas singelas palavras de Angel Gurria, secretário geral da OECD, em manifestação realizada em Lagonissi, Grécia, em 28/06/2006, ao encerrar a conferência de Ministros de Educação daquela Organização: "A educação é hoje uma mercadoria negociável. Tornou-se exportável, portável e negociável." (Oliveira, 2009, pag. 740) ao capitalismo acadêmico, baseado em processos de ensino. Podendo ser: 1. Estabelecimento de campus no estrangeiro – curso e currículo em instituição estrangeira com supervisão e língua da instituição matriz. 2. Modelo padrão de exportação – curso no exterior, em instituição educacional ou organização corporativa, por instituição de país industrializado para país em desenvolvimento. Exemplo: Cursos oferecidos na Malásia por instituições australianas e/ou britânicas. Morosini (2005) resume estas consequências em um processo que denomina como Internacionalização. Um esforço sistemático com objetivo de tornar a educação superior mais próxima às exigências e desafios de uma sociedade, uma economia e um mercado de trabalho mais globalizados. Esta internacionalização é baseada em relações entre nações e suas instituições. Dentro das definições para internacionalização da Educação Superior, vem se desenvolvendo um modelo de educação transnacional ligado Figura 3 – Estabelecimento de campus no estrangeiro: Campanha da Universidade de Chicago com Campus em Paris para estudos nas áreas de ciências sociais, naturais e físicas. Fonte: Site Paris Travel Guide 34 3. “McDonaldização” da Educação Superior – cursos via 4. Programas conjuntos oferecidos por instituições de pacote por meio de franchising, a instituição cede o educação superior em outro país. Entende-se como nome e o currículo, supervisionando e controlando a exemplo o grupo de universidades da Rede Laureate, que qualidade de ensino dentro de outra instituição. Como conta, atualmente, com 66 instituições em 28 países – 5 exemplo, pode-se citar as redes de referência em instituições na América do Norte, 29 instituições na Gastronomia América Latina, 19 instituições na Europa, 2 instituições e Hotelaria, sendo respectivamente, Kendall College e Glion, nas áreas de Hospitalidade da UAM. Figura 4 –McDonaldização da Educação Superior: Foto da fachada de Glion na Suíça, referência na área em hotelaria. Fonte: Site Glion Figura 5 – Programas conjuntos: Mapa de localização dos Campi da Rede Laureate, grupo internacional de universidades, com mais de 66 instituições de ensino, em 28 países. Fonte: Site Laureate no nordeste da África e 11 instituições na Ásia. 35 Em 2006, a Associação Brasileira das Mantenedoras Ainda segundo Rodrigues, em entrevista ao Portal do Ensino Superior (ABMES) editou um documento de Educação da UOL, frente a um cenário educacional com “Políticas para a Educação Superior – Propostas do Setor muita concorrência, com aumento de custos acadêmicos e a Privado”, para impulsionar o desenvolvimento do ensino queda do poder aquisitivo da população, a educação, sob o superior particular no Brasil. Diante do documento, Gabriel ponto de vista de negócio, apresenta uma oportunidade para Mário Rodrigues, presidente da associação e reitor da captação de recursos do setor privado para financiar a Universidade Anhembi Morumbi, em entrevista ao Portal expansão da Educação; na perspectiva do investidor, pode Aprender do Ensino Superior sob tema de “Ainda há muito ser uma atividade instigante e com bom retorno, desde que que fazer pelo ensino privado”, traçou um panorama sobre a bem administrada. situação do ensino superior no Brasil: Dentro deste contexto, a Universidade Anhembi Morumbi, primeira, universidade brasileira adquirida por “O ensino particular, para atender à demanda da democratização educacional, cresceu bastante nesses últimos anos, e está em uma fase de consolidação. Principalmente nas grandes cidades, terá como tendência a união de instituições, no sentido de aprimorar suas práticas, tanto de gestão quanto pedagógicas, para fazer frente à concorrência das grandes universidades. Por outro lado, com o advento da tecnologia da informação, novas formas de entrega de cursos existirão - o que obrigatoriamente fará com que as instituições mudem o processo de ensinamento. Na realidade, estamos próximos de uma transformação no processo de ensino, tudo será diferente do que estamos acostumados.” capital estrangeiro, em 2005, teve o Banco Pátria como administrador principal do seu fundo de investimento, reestruturando organizacionalmente a universidade para sua venda. Segundo Oliveira (2009) a aquisição foi manifestada nos seguintes termos: “A aquisição do controle acionário da universidade paulista Anhembi Morumbi pelo grupo americano Laureate, em dezembro, representou muito mais que um bom negócio para o arquiteto Gabriel Monteiro Rodrigues, de 73 anos, fundador da instituição. Com a venda, fechada por 165 milhões de reais, pela primeira vez uma instituição estrangeira passou a mandar 36 em uma universidade no Brasil, um marco da entrada do capital internacional num setor da economia que tem aumentado exponencialmente de tamanho. No ano passado, somente os cursos universitários privados movimentaram algo em torno de 15 bilhões de reais, ou 50% mais que três anos atrás. A injeção de recursos de um grupo do porte do Laureate, com universidades espalhadas por 15 países, deve dar novo fôlego a esse mercado. De acordo com os planos do Laureate, 100% das ações da Anhembi Morumbi serão adquiridas pelos americanos até 2013.” (Oliveira, 2009, pag. 744,745) Até 2011, 51% das ações da Universidade Anhembi Morumbi foram adquiridas pela Rede Laureate que conta com 600 mil estudantes distribuídos em 100 Campi. A UAM possui 5% deste corpo acadêmico, com mais de 30 mil alunos distribuídos nos Campi Vila Olímpia, Centro, Morumbi, Paulista, Anhangabaú e com previsão de crescimento de mais três Campi até 2013, segundo voz corrente da universidade. Figura 6 – Mapa de localização dos Campi da Universidade Anhembi Morumbi: composto de cinco campi: 1. Campus Vila Olímpia, no bairro Vila Olímpia. 2. Campus Centro, no bairro Brás. 3. Campus Anhangabaú, no bairro Centro. 4. Campus Morumbi, no bairro Brooklin Velho. 5. Campus Avenida Paulista, no bairro Bela Vista. Fonte: Mapa Google Maps com edição da autora 37 1.3 A Universidade Anhembi Morumbi De acordo com o livro Se não foi a primeira, não foi a segunda – o desafio de implantar a faculdade de Turismo no início dos anos 70, Rodrigues (2005), conta a trajetória da Universidade Anhembi Morumbi desde a fundação até os dias atuais. A partir da formação fundamental, participação acadêmica e inspiração em Clycie Mendes Carneiro (exprofessora e jornalista), Rodrigues sonhava em cursar comunicação, mas acaba formando-se em arquitetura por influência de sua mãe. Ao finalizar a graduação, trabalha no Departamento de Obras Públicas (DOP) de São Paulo onde fiscaliza obras e construções escolares. Dentro do DOP, começou a idealizar projetos de comunicação, tais como revistas, seminários e projetos dessa natureza. E na reestruturação do departamento, no governo de Adhemar de Barros, foi encarregado para implantar o Grupo Técnico de Comunicação (GTCom) com objetivo de fazer o DOP ser reconhecido como principal construtor de obras do Estado de São Paulo mostrando o valor de seus profissionais. Com este trabalho iniciou, também, cursos de Figura 7 – Capa do livro “Se Não Foi a Primeira, Não Foi a Segunda: O desafio de implantar a faculdade de Turismo do Morumbi no início dos anos 70”, do Reitor Gabriel Mário Rodrigues sobre o pioneirismo do curso de Turismo da Universidade Anhembi Morumbi. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 38 treinamento para funcionários com capacitação e divulgação dos trabalhos. Frente a alguns problemas políticos internos construído. Segundo Rodrigues (26/08/11), de maneira geral, o no departamento, começa a questionar-se sobre seu futuro desenvolvimento profissional e a possibilidade de seguir novos desafios, tal brasileiro foi baseada no aproveitamento de edificações pré- como a criação de um curso preparatório para os existentes, em um primeiro momento na ocupação de funcionários do DOP ingressarem em faculdades. Em algumas instituições religiosas que deixaram de oferecer conjunto com Vitório Lanza Filho, engenheiro agrimensor e serviços educacionais e tiveram seus espaços desocupados, Walter posteriormente Rodrigues da Silva, desenhista, idealizam a do por sistema espaços universitário fabris que, paulista e também Organização Bandeirante de Tecnologia e Cultura - OBTC, a desocupados, apresentavam áreas com grandes vãos futura mantenedora da Faculdade de Turismo do Morumbi. possibilitando a distribuição de salas de aula. Somente mais Diante o incentivo à criação de novas Instituições de tarde, entre 1980 e 1990, as Instituições passaram a construir Ensino Superior pelo governo de Médici, Rodrigues e seus espaços específicos para o Ensino Superior devido ao sócios entram com requerimento no MEC para solicitar a aumento de demanda e vagas no setor privado da Educação. autorização de funcionamento de um curso superior. Em Este primeiro espaço acadêmico que a Instituição iria meio à necessidade de conseguir um prédio para iniciar as ocupar, era composto por dois blocos um correspondente a atividades, encontram parceria com uma ordem religiosa de parte destinada aos dormitórios dos seminaristas, e a outra irmãos pavonianos recém-chegados em São Paulo, que estava nos alicerces, com a obra parada por falta de verba contava com poucos seminaristas, e não conseguiam finalizar para finalização, o que possibilitou sua inteira remodelação a uma construção do seu espaço educacional, visto os poucos partir do projeto e obra administrados por Rodrigues. irmãos em formação. Desta forma, começaram a reformar Na metade do ano de 1970, dividindo atividades este edifício, na Rua Visconde de Nacar, nº 86, no bairro Real entre o DOP e a obra da sede, une-se a Vitório Lanza, Walter Parque com a proposta de alugar quando estivesse Rodrigues, August Wagner Tafner, com apoio dos irmãos 39 Figura 8 – Apresentação do corpo diretivo e docente da Faculdade de Turismo do Morumbi: Parte integrante da edição piloto na publicação “Estudos Turísticos”, apresentando o corpo administrativo da Faculdade de Turismo do Morumbi, em 1972. Fonte: Estudos Turísticos: Órgão oficial da Faculdade de Turismo Morumbi – São Paulo; edição piloto, junho – 1972. 40 41 Figura 9 – Primeiras publicações da Faculdade de Turismo do Morumbi no jornal Folha de São Paulo: Recortes de informes publicitários A– “Vestibulando”: 10 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 13; B– “Faça Turismo a sua profissão”: 17 e 21 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 6 e 10, respectivamente; “Primeiro Exame de Turismo”: 07 de março de 1971, Primeiro Caderno, página 12; C – “Faculdade de Turismo, um novo curso a Cr$ 2.300,00”: 20 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 6; “1º Curso Superior de Turismo no Brasil”: 24 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 16; D – “1º Curso Superior de Turismo do Brasil”: 24 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno, página 16 Fonte: Acervo Digital Folha 42 Figura 9 – Primeiras publicações da Faculdade de Turismo do Morumbi no jornal Folha de São Paulo: Recortes de informes publicitários E – “Primeiro Exame de Turismo”: 07 de março de 1971, Primeiro Caderno, página 12; F – “1º Curso Superior de Turismo do Brasil”: 28 de janeiro de 1971, Primeiro Caderno página 12; Fonte: Acervo Digital Folha 43 Figura 10 - Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Turismo do Morumbi, Campus no Real Parque , em 1971; com sobreposição do informe publicitário do Curso Superior de Turismo, vinculado na Folha de São Pau-lo em 14 de fevereiro e 02 de março de 1971,no Primeiro Caderno, nas páginas 2 e 16, respectivamente. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi e Acervo Digital Folha, montagem elaborada pela autora 44 4. Ver reportagem “Livro do Reitor Dr. Gabriel Mário Rodrigues fala sobre o pioneirismo do curso de Turismo na Universidade” disponível em http://anhembi.br/publiqu e/cgi/cgilua.exe/sys/start. htm?infoid=5089&sid=2, acessado em 25/08/2011. Renata e Floriano Rodrigues e implantam a Faculdade de publicitários de São Paulo, liderados por João Batista Reimão Turismo do Morumbi, iniciando as atividades no ano Netto, implantam, em 24 de junho de 1969, a Faculdade de seguinte. De acordo com Rodrigues, a data de nascimento da Comunicação Social Anhembi, tendo como mantenedora o Instituição foi baseada na primeira aula lecionada no curso Instituto Superior de Comunicação Publicitária – ISCP. de Turismo, no dia 9 de março de 1971. Diante do crescimento da Faculdade de Turismo e da A opção pelo curso de Turismo é decorrente do intenção de Reimão de mudar de ramo, das novas opções de objetivo inicial de oferecer cursos diferenciados no mercado, mercado e tendências para o futuro da Educação, a OBTC e a fora dos padrões acadêmicos de graduação existentes na ISCP passam a dividir o mesmo espaço físico. época. Segundo Rodrigues, em reportagem ao Portal da Universidade Anhembi Morumbi④ sobre a metodologia implantada no curso, no lançamento de seu livro, ele conta: Com a fusão das duas Instituições veio à dúvida: em qual Campus permanecer? O campus da Faculdade de Turismo do Morumbi, no bairro Real Parque, embora apresentasse um edifício com “Seria fácil imprimir à Faculdade de Turismo do Morumbi uma abordagem em Ciências Sociais, a fim de proporcionar-lhe uma aura agradável e eminentemente cultural. Contudo, a realidade do turismo brasileiro exigia outra atitude, uma metodologia própria. Se as matérias que influem diretamente no fenômeno do turismo fossem lecionadas com autonomia em relação às outras matérias básicas, seria um curso técnico e não superior. ‘Turisficamos’ a Geografia, a Economia, a Psicologia e a História para conferir um conteúdo superior ao curso de Turismo. É isso que não existia em parte alguma do mundo” (Rodrigues, 2005) Concomitante a esta iniciativa, um grupo de ambientes bem adaptados para desenvolver as atividades de ensino e aprendizagem com salas visivelmente bem iluminadas e ventiladas, visto que fora reformado com o intuito educacional, não oferecia a possibilidade de expansão naquele momento, assim não apresentava espaço suficiente para abrigar a transferência do curso de Comunicação Social em suas instalações. O prédio da Faculdade de Comunicação Social Anhembi apresentava alguns problemas junto a Prefeitura por ser um espaço fabril, de produção de cera, adaptado 45 Figura 11 – Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Comunicação Social Anhembi: Frente para a Rua Pará, em 1969. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi igura 12 – Recorte do informe publicitário da Faculdade de Comunicação Social Anhembi no jornal Folha de São Paulo, em 25 de setembro de 1969, Caderno Ilustrada página 34, apresentando a fachada do Campus. Fonte: Acervo Folha 46 para instalações acadêmicas da Faculdade de Comunicação a ideia da mudança devido à distância entre os Campi, de Social, contudo apresentava um grande potencial de aproximadamente 7 km, é adotado o nome de Faculdade expansão capaz de abrigar os dois cursos no mesmo espaço. Anhembi Morumbi para que os alunos não perdessem a Esta questão de infraestrutura facilitou a decisão de concentração das faculdades na Casa do Ator, nº 90; já que No início da década de 80, a ISCP e a OBTC, verificam em 1973, o MEC autoriza a transferência de sede da que a convivência diária já facilitava a integração entre corpo Faculdade de Turismo do Morumbi para o bairro da Vila acadêmico e administrativo de ambas as faculdades, o que Olímpia. estimulou a união das duas entidades, em 1982; sendo que o Embora autorizada cinco anos antes, somente em 1978 a mudança acontece de fato. Em meio à frustração do corpo administrativo e de alguns alunos que não aprovavam Imagem 13 – Fachada principal da Faculdade de Comunicação Social Anhembi, Campus Vila Olímpia: frente para a Rua Casa do Ator, número 90, década de 1970. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi identidade de suas instituições. Instituto permanece como entidade mantenedora e assume a responsabilidade da então Faculdade Anhembi Morumbi. 47 Figura 14 – Informativo Faculdade Anhembi Morumbi: Catálogo de 1982, como instrumento de informação sobre o processo de fusão entre Faculdade de Turismo Morumbi e Faculdade de Comunicação Social Anhembi. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi Figura 15 – Logotipo das Instituições: Faculdade de Comunicação Social Anhembi e Faculdade de Turismo do Morumbi, década de 1970. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 48 49 Figura 16 – Evolução do Logotipo da Universidade Anhembi Morumbi: desde a fundação da Faculdade de Turismo do Morumbi até os dias atuais. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 50 Imagem 17 – Fachada principal da Faculdade Anhembi Morumbi, Campus Vila Olímpia: cruzamento entre as ruas Casa do Ator e Baluarte, década de 1980. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 51 De 1985 a 1997, a partir de uma organização acadêmica estruturada com funcionamento regular e padrão de qualidade considerado satisfatório pelo MEC, credencia-se como Universidade implantando onze novos cursos. Baseando-se num processo de qualificação profissional, lança cursos como Moda, em 1990, a partir da evolução das atividades de ensino e pesquisa do Centro Brasileiro de Formação para a Moda – Cebrafam, e Educação Artística, em 1994, com ênfase em computação gráfica e multimídia, futuramente transformado em Design Digital. Figura 18 – Semana Brasileira de Moda: realizada pela Faculdade Anhembi Morumbi, no final da década de 1990. A – Mesa de apresentação da Semana Brasileira de Moda B – Vestuário em exposição Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 52 Em 1997, a cargo da filha de Rodrigues, arquiteta as necessidades acadêmicas exigidas pelas coordenações de Ângela Regina Rodrigues de Paula Freitas, é idealizado e cursos e equipavam os espaços com materiais próprios para concebido o projeto de ampliação do prédio sede. Com a as aulas a serem ministradas. saída de seu irmão Floriano Rodrigues da Faculdade Anhembi O que se observou desta iniciativa da arquiteta Deise Morumbi, Ângela passa a dedicar-se à área administrativa foi que os alunos, que anteriormente depredavam os deixando o arquiteto Glauco Humberto Fioritti a frente do laboratórios por falta de cuidado com os equipamentos, departamento de obras e projetos e, posteriormente, a mudaram seu comportamento demonstrando maior apreço arquiteta Deise Marques Araújo. pelo lugar. Assim, alunos do curso de comunicação ganharam A partir daí a Instituição cresce ano a ano e o Campus estúdios e laboratórios de foto e vídeo, enquanto alunos de Vila Olímpia é ampliado com novas construções em espaços moda ganhavam ateliês de corte e costura, reconhecendo, próximos ou distantes deste conjunto principal. dentro do ambiente educacional, laboratórios que refletiam Deise que entrou na instituição em 1994, recém- as atividades profissionais que seriam enfrentadas no formada no curso de arquitetura pela Universidade de Belas mercado de trabalho, adotando uma visão de que os Artes, desenvolvia junto à coordenação de cursos estudos laboratórios eram também ambientes de trabalho e não só para mapear as salas da universidade e alocar os alunos de extensão da sala de aula. Um exemplo, foi o laboratório de graduação nas salas existentes. As salas, neste período, Planejamento Turístico para o curso de Turismo como um tinham distribuição padrão e atendiam a todos os cursos de laboratório de informática composto de equipamentos forma digitais e mapoteca. tradicional e unificada. Contudo, diante das reclamações acadêmicas e solicitações administrativas, a A partir da década de 1980, as instalações dos cursos arquiteta propõe a implantação de laboratórios específicos da Anhembi Morumbi fortalecem-se com o desenvolvimento demarcando o perfil do curso e proporcionando maior de projetos práticos, tais como: Rádio Brasil 2000, em 1986; e identidade a cada espaço. Estes laboratórios caracterizaram Colégio Anhembi Morumbi, em 1993. 53 Campus Unidade 1 5 Vila Olímpia 6 7 9 Centro Master 1 Master 2 Anhangabaú Morumbi Edifício Galpão Edifício Jardim Av. Paulista Edifício Área do Terreno (m²) Área Construída (m²) Sala de Aula Laboratório de Informática 6.000,00 6.940,54 916,87 44,34 6.443,94 30.481,80 3.060,67 918,99 1.272,59 1.994,93 9.696,41 1.871,97 630,42 62,55 2.987,88 15.657,39 3.090,64 491,16 400,65 1.733.59 1.686,78 24.896,79 45.792,10 8.649,51 14.686,03 16.523,17 206,72 635,90 8.500,96 629,80 109,84 13.836,16 7.982,25 316,00 908,46 4.089,60 3.087,22 10.702,14 2.219,14 766,51 1.039,87 990,00 9.092,45 1.898,68 264,14 957,32 Laboratório Específico 1.002,09 1.603,76 9.965,58 8.265,46 Tabela 03 – Relação de metro quadrado das áreas acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi: Nesta relação é possível verificar a importância dos laboratórios específicos na Instituição. Fonte: Tabela elaborada pela autora, dados de junho de 2011. Gráfico 01 – Proporção de áreas acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi por campus: Nota-se que a maior concentração de laboratórios específicos está, hoje, no Campus Centro; Campus Vila Olímpia e Campus Morumbi. Da infraestrutura total da Instituição 25% corresponde a Laboratórios de informática, 84% a Sala de aula e 17% a Laboratório específico. Fonte: Tabela elaborada pela autora, dados de junho de 2011. 54 Gráfico 02 – Número de salas de aula por Campus. Gráfico 03 – Número de laboratórios de informática por Campus. Gráfico 04 – Número de laboratórios específicos por Campus. Fonte: Gráficos elaborados pela autora, dados de junho de 2011. 55 Figura 19 – Laboratório específico de gastronomia: A - Campus Vila Olímpia, composto por 6 cozinhas, sala de vinhos, área de buffet, área de preparo, área de fornos e Coult lounge; B – Campus Centro, composto por 12 cozinhas, 2 salas de vinho, laboratório nestlé; área de buffet, área de preparo, área de fornos e Coult longe; C – Vista lateral esquerda da cozinha 04 – Campus Vila Olímpia D - Vista lateral direita da cozinha 04 – Campus Vila Olímpia Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi Figura 20 – Laboratório específico da Escola de Ciências da Saúde: A e B – Hospital Simulado do Centro de Simulação e Treinamento da Escola de Ciências da Saúde C – Vista lateral esquerda do Hospital Simulado D – Vista lateral direita do Hospital Simulado Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 56 A- Laboratório específico do curso de Turismo Laboratório de planejamento turístico. B - Laboratório específico do curso de Arquitetura Maquetaria C - Laboratório específico do curso de Teatro – Sala de Ensaio E – Laboratório específico do curso de Aviação Laboratório de Simulação de vôo F – Laboratório específico do curso de Design de Moda – Ateliê de corte e confecção I- Laboratório específico do curso de Veterinária Laboratório Morfofuncional 57 D – Laboratório específico do curso de Rádio e TV Estúdio de Vídeo e gravação G – Laboratório específico do curso de Quiropraxia Laboratório de Quiropraxia H -Laboratório específico do curso de Produção Musical – Ilha de edição I – Laboratório específico do curso de Maquiagem Laboratório de Visagismo e Maquiagem J – Laboratório específico do curso de Engenharia Civil Laboratório de Metalografia e Metrologia Figura 21 – Laboratórios específicos da Universidade Anhembi Morumbi Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi K – Laboratório específico do curso de Direito Mini Tribunal 58 Entre 1978 e 1998, diante do crescimento da associado a um grupo inglês, constroem no Bairro da Mooca, Universidade, a infraestrutura física é ampliada e a Anhembi, a Fábrica Brasileira de Alpargatas e Calçados. Apesar dos que a princípio tinha apenas um edifício na Rua Casa do Ator, problemas na produção decorrentes do período entre passa a contar com cinco unidades distribuídas no Bairro da guerras, a empresa se consolida no mercado passando a Vila Olímpia. chamar-se São Paulo Alpargatas S.A., a partir da década de Em 1997, a instituição havia comprado o antigo 5. 1940. prédio fabril da indústria têxtil São Paulo Alpargatas, na Na década de 1990, transfere sua fábrica para o divisa dos tradicionais bairros paulistanos, Mooca e Brás, o nordeste mantendo apenas a sede do escritório em São edifício da Alpargatas que outrora fora tombado pelo Paulo, desocupando as instalações na Rua Doutor Almeida Patrimônio como Lima, 1134. Para implantação do novo Campus, Deise Universidade Anhembi Morumbi, a instituição expande sua desenvolve um estudo com a potencialidade de ocupação do estrutura e porte acadêmico, adaptando este edifício para edifício para a administração apresentar junto ao MEC. A uso educacional, contribuindo para requalificação de áreas partir deste estudo, o arquiteto Francisco Petracco, então degradadas da cidade de São Paulo, constituindo o Campus coordenador do curso de arquitetura da instituição denominado Centro, e iniciando suas atividades em 1998. apresenta um projeto⑤, o qual não é realizado. Histórico. Após o credenciamento De acordo com Vargas e Castilho (2006), intervir em Para Vargas e Castilho (2006), a recuperação de Ver histórico da empresa Alpargatas, disponível em http://www.alpargatas.com. br/index.htm, acessado em 25/08/2011. centros urbanos “pressupõe avaliar sua herança histórica e centros urbanos nos dias atuais significa melhorar a imagem patrimonial, seu caráter funcional e sua posição relativa na da cidade, perpetuar a história e criar um espírito de estrutura urbana, mas principalmente, precisar o porquê de comunidade e pertencimento ao lugar. A reutilização de se fazer necessária a intervenção.” edifícios, a valorização do patrimônio construído, a Ver detalhamento do projeto no Capítulo 2, em “um pouco sobre o arquiteto”, na página 93 A empresa Alpargatas, que inicia suas atividades em 3 de abril de 1907, com a vinda do escocês Robert Fraser otimização da infraestrutura já estabelecida, a recuperação do comércio, implementam ações atrativas para 59 55 investimentos, moradores, usuários e turistas que dinamizam a Figura 22 – Antiga sede da Alpargatas Fonte: Foto de Frucci, pertencente ao acervo da Universidade Anhembi Morumbi 60 LINHA DO TEMPO POR MODA BRASIL UNIVERSIDADE ANHEMBI ALPARGATAS MORUMBI 1907 1910 1920 1930 1940 1950 1960 • Robert Frase inicia a construção da fábrica brasileira de calçados. • Produção de alpargatas, rodas e encerados no bairro da Mooca. • A empresa muda o nome para São Paulo Alpargatas S.A. • Num país cafeeiro, os empregados que trabalham na lavoura utilizam alpargatas na colheita e encerado na secagem do produto. • A empresa coloca suas ações na BOVESPA. • Superprodução de café e quebra da bolsa de valores de Nova Iorque fazem cessar a fabricação de alpargatas. • Momento de instabilidade no país. Contudo, a Alpargatas tem total apoio de seus funcionários. • Getúlio Vargas assume o Governo Provisório. • Por ocasião da Revolução Constitucionalista inicia-se a fabricação de fardas, mochilas e barracas. • A empresa muda de nome em definitivo para o atual São Paulo Alpargatas S.A. • O Brasil está na Segunda Guerra Mundial. Faltam alimentos e combustível. • A empresa retoma a produção de alpargatas e consegue crescer em meio à adversidade. • Ao fim da Segunda Guerra a empresa lança o primeiro brim préencolhido “O Coringa”. • Primeira empresa a adotar o jingle como estratégia de comunicação. Todas as rádios tocam os jingles da Alpargatas Roda. • Lança a calça jeans Far West, calçados Sete Vidas e lonas Sempre Viva. • Juscelino Kubitschek assume o Governo Federal. • A Alpargatas patrocina as transmissões dos jogos da Copa do Mundo. Vitória do Brasil. • Lança as sandálias Havaianas, calçados Conga, Bamba, Passo Doble e Calças Coringa, Rodeio e Topeka. • O termo “fajuta” é incorporado ao dicionário Aurélio por decorrência das campanhas das Havaianas. • A empresa adquire a Chenille do Brasil produtos das colchas Madrigal. • Alteração do logotipo. Um triângulo que lembra o “A” inicial da Alpargatas com a sensação de movimento é o novo símbolo da empresa. 61 LINHA DO TEMPO POR MODA BRASIL ALPARGATAS UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI 1970 • Iniciam -se as campanhas de cunho social com o slogan “Criança calçada, criança sadia”.-USTOP; TOPPER; TRAVELLER • Aquisição da fábrica Rainha. 1980 • Adquire a Jeaneration •Lançamentos da década: Samoa; Jeans TOP PLUS • Prêmio “Maiores e Melhores Empresa do Ano”, Revista EXAME. 1990 • Licencia as marcas Timberland e Mizuno; • Recorde na produção de Havaianas:100 milhões de pares 2000 • Novo recorde de produção de Havaianas. •É considerada pela Revista Exame uma das “Melhores Empresas para se Trabalhar”. • Publicitários instalam em São Paulo a Faculdade de Comunicação Social Anhembi Morumbi • Engenheiros e arquitetos implantam a Faculdade de Turismo do Morumbi, a primeira do país. • União da Faculdade Anhembi e Faculdade Morumbi. • Na segunda metade da década integram-se outras duas organizações: Rádio Brasil 2000FM e Colégio Anhembi Morumbi. • Inaugura o CEBRAFAM-Centro Brasileiro de Formação para a Moda. • Lança o primeiro Curso Superior de Moda do Brasil. • Adquire o prédio da Alpargatas no Brás. • Credencia-se como Universidade. • Inaugura o Campus Centro e o primeiro Centro de Gastronomia da América Latina. • Ganha o Prêmio Master Imobiliário 98-SECOVI categoria Revitalização Urbana de São Paulo. • Implanta os Cursos Superiores de Formação Específica (sequenciais) com duração de 2 anos. • Implanta o conceito de Graduação Modulada. • Cria a Associação de Ex-Alunos. • Inaugura o Centro de Educação Permanente em Saúde Anhembi Morumbi, o Campus Vale do Anhangabaú e o Centro de Design e Moda. Tabela 4 – Evolução da empresa Alpargatas e Universidade Anhembi Morumbi. Histórico das empresas desde 1907, com a construção da fábrica brasileira de calçados por Robert Frase; até o final do século XX, com a criação do Centro de Design e Moda pela Universidade Anhembi Morumbi. Fonte: Tabela adaptada pela autora da Linha do tempo elaborada por Moda Brasil, disponível no site Moda Brasil. Disponível em: http://www2.uol.com.br/modabrasil/trilhadotempo/linhadotempo/index.htm, acessado em 25/08/2011. 62 economia urbana e contribuem para a melhoria da qualidade de vida. Visando estes objetivos, a Universidade Anhembi Morumbi desenvolve um planejamento estratégico que culmina na contratação do arquiteto Vicente Giffoni, do Rio de Janeiro, para desenvolver um estudo para um centro de Educação, Cultura e Lazer, similar ao que havia projetado em 1993, para a Universidade Estácio de Sá, na Barra da Tijuca. A proposta seria fundamentada no conceito de Shopping Universitário, onde a universidade teria equipamentos de convivência, tais como cinema, hotel, teatro e lojas, além dos tradicionais espaços educacionais. O projeto do Campus Centro buscava a requalificação do edifício, recuperando e preservando as características básicas da estrutura arquitetônica e histórica da construção feita para a Alpargatas; revitalizando uma área abandonada a margem da linha ferroviária e transformando o campus em uma centralidade destinada, não somente a área acadêmica, mas também aberto a comunidade. Figura 23 – Implantação e projeto arquitetônico para construção do campus universitário na Universidade Estácio de Sá, com capacidade para 15000 alunos, na Barra da Tijuca, 1993, projeto. Fonte: Site oficial do escritório VG Vicente Giffoni Arquitetura e Planejamento, disponível em http://www.vicentegiffoni.com.br/ port/, acessado em 23/08/2011 Vicente Giffoni Filho é arquiteto urbanista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1985, com produção nas áreas acadêmicas, construção, interiores e planejamentos imobiliários. Fundou o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estácio de Sá no Rio de Janeiro, em 1996. E, atualmente, mantém o escritório VG Vicente Giffoni Arquitetura e Planejamento Ltda. 63 Figura 24 – Proposta de Implantação do Campus Centro de 1997, projeto desenvolvido pela arquiteta Deise Marques Araújo com consultoria do arquiteto Vicente Giffoni Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi 64 O prêmio, criado em 1995 pelo Capitulo Nacional Brasileiro da Federação Internacional das Profissões Imobiliárias (Fiabci/Brasil) e o Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP), é uma homenagem da indústria imobiliária a produção de alto nível de arquitetura, engenharia, construção, desenvolvimento urbano, incorporação, administração, vendas e marketing, entre outras atividades relacionadas. Figura 25 – Mapa de localização do Campus Centro no quadrilátero urbano compreendido entre a Radial Leste, Linha da CPTM e Viaduto Bresser. Fonte: Mapa Google Maps com edição da autora O projeto recebe o Prêmio Master Imobiliário de A construção inicia-se em novembro de 1997, 1998, por Revitalização Urbana na cidade de São Paulo finalizando a primeira fase em janeiro de 2004. com a recuperação urbana do quadrilátero urbano Atualmente, este Campus continua em construção, compreendido entre a Radial Leste e a Linha da CPTM, devido o potencial construtivo para expansão e a no Bairro do Brás. crescente demanda pelo Ensino Superior. 65 Figura 26 – Fachada principal do Campus Centro, frente para a Rua Doutor Almeida Lima. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi Figura 27– Fachada posterior do Campus Centro, frente para Radial Leste. Fonte: Acervo Vicente Giffoni. Disponível em http://www.vicentegiffoni.com.br/port/, acessado em 25/08/2011. 66 Figura 28 – Projeto do Campus Centro desenvolvido pela arquiteta Deise Marque Araújo com consultoria do arquiteto Vicente Giffoni, para obtenção de financiamento junto Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDS) Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 67 Figura 29 – Implantação atual do Campus Centro: projeto da arquiteta Deise Marques Araújo, com consultoria do arquiteto Vicente Giffoni. O espaço ainda vem sofrendo modificações diante do crescimento da Instituição, realizados pelo Departamento de Obras e Projetos da Instituição. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 68 As propostas de implantação do Campus Centro finalizado. elaboradas pela arquiteta Deise e Giffoni são, relativamente, similares. Algumas áreas da primeira proposta foram remanejadas ou extintas, tais como: Segundo arquiteta Deise (02/08/2011), em 1998, o Campus Centro inicia suas atividades com aproximadamente 400 alunos, chegando a quase 700 no segundo semestre e A área de Esporte e Lazer hoje é ocupada por salas saltando para algo em torno de 2000 alunos no terceiro de aula denominadas Città; semestre. o Centro de Eventos com 6 salas de aula e um mini paralelamente a ocupação do campus tem seu ritmo teatro foi substituído pela Área de Eventos com acelerado. E as propostas para os laboratórios específicos Teatro Anhembi Morumbi, com capacidade para 700 passam a ser mais bem elaborados. lugares, e duas quadras poliesportivas descobertas As Desta obras forma, que para estavam sendo desenvolver a realizadas área de O Centro de Rádio e TV foi transferido para área de gastronomia, medicina veterinária, fisioterapia, buscou-se o Práticas Jurídicas e Forense. que se tinha de referência, informada pelas coordenações de A área de Práticas Jurídicas e Forense não foi curso, na área para desenvolvimento dos projetos. Como o implantada no Campus Centro. Foi projetada uma espaço era generoso, com pé-direito alto, vãos grandes, área denominada Núcleo de Práticas Jurídicas no instalações e fundações existentes, os custos da obra eram Campus Vale do Anhangabaú, sendo transferida, direcionados para investir em revestimentos diferenciados; recentemente, para o Campus Avenida Paulista. tentando conciliar a estrutura histórica com acabamentos A área institucional não foi construída, teve a atuais. academia instalada de 2007 a 2010, sendo que , Com o crescimento da instituição, a concorrência de atualmente, abriga a área da Central de Atendimento mercado, que exibiam abertura de novas universidades, e um ao Candidato e Agência Experimental. O piso das estudo apontando o baixo crescimento vegetativo da áreas que não são ocupadas academicamente não foi população brasileira, a Anhembi Morumbi com uma visão 69 empreendedora, em 1999, implanta cursos Sequenciais. arquitetura solicitassem a transferência do curso para o Estes cursos tinham intuito de atenderia, não somente a prédio, são os cursos sequenciais – Cursos Superiores de demanda de calouros na faixa etária entre 17 e 22 anos, Formação Específica, que lá são alocados, de acordo com recém-saídos do Ensino Médio, mas conquistaria, também, demanda de mercado crescente e a grande quantidade de um público mais velho, atuante no mercado de trabalho e alunos ingressantes nesta nova modalidade acadêmica. que buscavam enriquecer o currículo, profissionalizar-se, inserindo diplomas de Formação Específica, com duração de dois anos. Em 2000, associa-se a outras IES de diversas regiões do país e cria a Universidade Virtual Brasileira (uvb.br), posteriormente denominada Instituto Universidade Virtual Brasileiro (iuvb.br) responsável pela oferta de cursos à distância e on-line. O Campus Vila Olímpia que até então tem seus espaços adaptados para atender a demanda acadêmica, consegue aprovação de investimento para ampliação de sua infraestrutura predial e expansão da marca. A instituição, que havia adquirido o lote onde funcionava o antigo Retiro dos Artistas de São Paulo, constrói, em 2001, seu primeiro edifício vertical neste campus, a Unidade 6, projeto do arquiteto Francisco Petracco, da qual a trajetória será discorrida no capítulo 2. Embora os alunos do curso de Figura 30 – Fachada principal da Unidade 6 do Campus Vila Olímpia, frente para a Rua Casa do Ator, evidenciando a estrutura metálica e o vidro com destaque para a escada central solta do chão através de tirantes. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 70 Em 2001, cria-se o curso de Mestrado em Hospitalidade e para abrigar este novo corpo acadêmico, reforma-se o a Unidade 8, denominando como Villagio, para implantação da área de Stricto Sensu. Neste ambiente, além das áreas de pesquisa, encontra-se um ambiente de convivência com lojas, cafés como lugar de estar no campus. Ainda, em 2001, dando continuidade na iniciativa de revitalização arquitetônica, inaugura o novo campus no Centro Velho de São Paulo, demonstrando apoio no sentido de melhoria da área central. Para o reitor Rodrigues, o Campus Vale do Anhangabaú, atendia duas necessidades básicas da Universidade: uma de ordem privada, que seria a expansão de infraestrutura com melhores espaços sob o aspecto logístico; e a outra, de ordem pública referente à ativação do processo de valorização e revitalização do Centro de São Paulo. Vargas e Castilho (2006), narram o processo de preservação urbana, comum no período de 1970 a 1990, como um momento em que a preocupação estava na importância da preservação das vizinhanças e na restauração histórica de edifícios, com o aproveitamento da estrutura Figura 31 – Catálogo informativo sobre o Processo Seletivo de 2001 , apresentando o novo Campus Anhangabaú como mais uma opção de localização e espaço acadêmico na área de Direito e Negócios. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi existente e introdução de novas atividades, principalmente 71 de lazer e cultura. O objetivo deste período é a valorização da memória, na organização da sociedade em defesa ao patrimônio histórico e na divulgação de que os centros da cidade seriam espaços essenciais para a vida urbana, carregado de infraestrutura, identidade e orgulho cívico. A proposta para o Campus Vale do Anhangabaú, atendia estas prerrogativas, marcando a presença da Universidade Anhembi Morumbi no Centro Histórico da cidade de São Paulo, através da intervenção em um edifício que outrora abrigava a sede do Banco de Boston desde 1960. O Banco de Boston acompanhava a dinâmica de deslocamento das atividades centrais para novos polos, tais como a transferência de instituições que buscavam tecnologia e edifícios mais modernos na Avenida Paulista, caminhando para Avenida Faria Lima, depois Marginais e Figura 32 – Fachada do Campus Vale do Anhangabaú frente para a Rua Líbero Badaró, com vista para o cruzamento com a Avenida São João. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi finalmente na área do Brooklin – onde a cidade assume o 6. novo conceito de cidade que sobrevive sem a infraestrutura necessidades arquitetônicas advinda de seu programa e básica aliada a um estilo arquitetônico⑥. A Instituição demanda acadêmica, mas não atrai seu público de imediato. bancária passa a ter sua sede em um arranha-céu próximo a Embora a infraestrutura urbana facilite o acesso com as Marginal Pinheiros com 145 metros, até ser vendido ao proximidades das estações de metro São Bento e Banco Itaú, em 2006. Anhangabaú, os horários das aulas e a falta de segurança da O projeto do Campus Vale do Anhangabaú, atende as região central inibiram o sucesso da iniciativa. Atualmente, MEYER, Regina - O centro da metrópole como projeto artigo da coletânea São Paulo XXI – Entre o projeto e a história – Viva o Centro, pág. 6 a 10, disponível em http://www.vivaocentro.org. br/download/publicacoes/sa opaulocenroxxi.pdf, acessado em 05/05/2011. 72 com nova politica de segurança por parte da Prefeitura para a área, busca-se novamente uma tentativa para se dar vida à área Central. Em 2002, é inaugurado o Campus Morumbi, também sob um aspecto de requalificação de galpão fabril, a antiga Durex, no bairro do Brooklin. Embora a construção não apresente o mesmo valor histórico das outras construções, a iniciativa de se manter toda a estrutura e instalações aparentes, gerou um universo simbólico para a área de concentração do campus, que inicialmente, implantados os cursos de Design e Moda, e atualmente ampliado para Escola Figura 33 - Fachada principal do Campus Morumbi, frente para a Avenida Roquei Petroni Junior, evidenciando sua escadaria de acesso ao campus. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi de Arte, Arquitetura, Design, Moda e Business School São Paulo (BSP). Os galpões requalificados ganharam o nome de Galpão das Artes, proporcionado por novos e grandes espaços de ateliês e laboratórios específicos com objetivo de agrupar todas as atividades artísticas e poder expandir a identidade própria desta Escola. Em 2007, a infraestrutura acompanha o crescimento do campus e emerge um edifício de 10 andares denominado Edifício Jardim, visto o grande bosque refletido em sua fachada de vidro. Figura 34 – Maquete eletrônica do projeto para o Edifício Jardim no Campus Morumbi, da arquiteta Deise Marques, para efeito ilustrativo da edificação. Na imagem, foi retirada a vegetação das árvores, existentes em frente ao edifício, que refletem o jardim no fechamento em vidro. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 73 Figura 35 – Mapa do Campus Morumbi, para localização das salas de aula no início do período letivo, versão janeiro de 2011. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 74 A partir de 2003, continua-se a expansão da Figura 36 – Fachada do Complexo Theatro, vista da Rua Casa do Ator. A esquerda, unidade 6 projeto de Francico Petracco, a direita, unidade 7,projeto de Deise Marques. É possível identificar a diferença de materiais onde um é de estrutura metálica azul e vidro e a o outro em tijolo aparente e revestimento tipo fulget. Nota-se, também, a relação de níveis dos edifícios, no qual o pavimento térreo da Unidade 6 forma uma esplanada com o pavimento térreo da Unidade 7; e o subsolo da Unidade 7 favorece uma entrada independente a esta unidade. Fonte: Desenho em AutoCAD produzido pela autora competição de arquitetura. infraestrutura do Campus Vila Olímpia, iniciando obras para Desta forma, mesmo com que as construções construção do segundo edifício vertical, interligado a apresentassem características distintas em seu projeto, o Unidade 6, a uma nova unidade intitulada de Unidade 7, diálogo aconteceria entre os níveis dos prédios. Como o ficando a cargo da arquiteta Deise que era a então terreno é íngreme, o pavimento térreo da unidade 7 coordenadora da AOP naquele ano. acompanharia o térreo da unidade 6, ficando três metros Segundo Deise (02/08/2011), a proposta do novo acima do nível da rua, isto faria com que a nova edificação edifício seria compor um diálogo entre a nova construção e a ficasse solta do solo. Nesta cota a entrada do edifício existente, contudo este diálogo deveria ser encontrado na aconteceria pela própria unidade 6. O desnível gerado entre oposição da arquitetura desenvolvida por Petracco, isto o térreo e a rua, provocaria um primeiro subsolo, fazendo porque qualquer edificação que sugerisse a mesma que a construção criasse outro acesso, uma entrada linguagem, única deste edifício existente, seria uma independente para a unidade 7. 75 Ainda de acordo com Deise (02/08/2011), outro Outro ponto levantado por Deise (02/08/11) foi à motivo para opção pelo volume fechado na Unidade 7 é aproximação do partido entre as edificações por meio de sua resposta a um fator econômico, isto porque foi solicitado modulação estrutural. Como não é possível conhecer a pela instituição uma maior economia no uso de vidro, demanda de alunos a serem matriculados, as salas de aula cortinas e materiais acústicos. E embora esta solicitação precisavam apresentar um caráter mais flexível. Facilitando a produzisse uma arquitetura distinta, o partido do projeto modificação e redimensionamento da mesma. preferiu por um sistema construtivo que mantivesse o Após a construção da Unidade 7, a arquiteta Deise foi mesmo perfil da Unidade 6, o que resultou na utilização do convidada a desenvolver o projeto para a unidade 5, também aço como elemento de estruturação do projeto, haja vista o no Campus Vila Olímpia; formando, assim, o Complexo valor do aço no mercado financeiro e, acima de tudo, a Theatro, composto por três imponentes edifícios na rua Casa agilidade durante a construção. construção do Ator, or, integrando uma nova paisagem da região. Figura 37 – Fachada Complexo Theatro, frente para a Rua Casa do Ator, com a Unidade 6 em primeiro plano e a Unidade 7 ao fundo, mostrando a diferenças arquitetônicas entre as fachadas de vidro e de tijolo a vista; bem como sua integração a partir da esplanada do térreo, com entrada pela Unidade 6 Fonte: Acervo pessoal da autora 76 Figura 38 - Ocupação urbana dos imóveis destinados as unidades acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi no Campus Vila Olímpia, no período de 1978 a 2011 Fonte: Desenho da autora 77 78 Atendendo a globalização, em 2005, a Universidade Anhembi Morumbi alia-se a Rede Internacional de Universidades Laureate, com o objetivo de ampliar sua presença no mercado, conferindo um caráter internacional. Os cursos da Universidade Anhembi Morumbi passam a oferecer vantagens como complemento da grade curricular e estágios internacionais. Nesta mesma época, o departamento de obras e projetos da universidade é terceirizado, e a equipe que outrora era composta de quase 15 funcionários passa a contar com uma equipe de seis pessoas na empresa GMA Incorporadora e dois funcionários na AOP da universidade. Figura 39 – Fachada lateral do Complexo Theatro, com a Rua Casa do Ator entre as unidades 6, em primeiro plano, e a Unidade 5, ao fundo. É possível observar a arquitetura semelhante entre a Unidade 5 e 7, o que faz com que a arquitetura da Unidade 6 destaque-se na paisagem. Fonte: Acervo pessoal da autora Gráfico 5– Relação de funcionários na AOP, no decorrer dos anos e expansão do campus Fonte: Tabela elaborada pela autora 79 Figura 40– Informe publicitário Folha de São Paulo: Recorte do Informe publicitário apresentado como encarte na Folha de São Paulo, em dezembro de 2005, anunciando a aliança entre a Universidade Anhembi Morumbi e a Rede Internacional de Universidades Laureate Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 80 Sim Man 3G é um manequim de última geração que simula comportamentos humanos, tais como choro, sangramento, convulsão e responde a estímulos químicos, biológicos, radiológicos e nucleares. Ver: http://portal.anhembi.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/star t.htm?infoid=5325&sid=2 Em 2006, com o reconhecimento da CAPES aos dois cursos de Mestrado, o Mestrado em Design e o Mestrado de vice-reitoria e todo o corpo diretivo administrativo da Instituição. Comunicação, ratificam o status como Universidade. E, em 2007, a AOP é reestabelecida dentro da Instituição, sob a gerência do arquiteto Glauco Humberto Fioritti, arquiteto urbanista, formado pela Universidade de Belas Artes e que já trabalhava na instituição na área de Segurança do Trabalho há aproximadamente 15 anos. Neste mesmo ano, o Campus Centro passa por nova transformação, parte de suas instalações são readequadas Figura 41– Laboratório de Simulação do curso de Medicina, com destaque para a presença do boneco SimMan 3G, que simula comportamentos humanos e facilita demonstrar situações de casos reais a partir da programação do equipamento, dinamizando o método de ensino. para receber o curso de Medicina, com ênfase na prática de simulação, a partir do uso do SimMan 3G. Em 2008, a Universidade inaugura o Campus Avenida Paulista. O edifício que abrigava a Faculdade de São Paulo (FASP), agora sedia a área de Negócios da Universidade Anhembi Morumbi. O edifício projetado inicialmente para ser um espaço comercial, apresentava uma série de problemas legais para funcionamento acadêmico, um dos motivos que fizeram com que a antiga faculdade abandonasse o imóvel. Ciente da importante localização do Campus, a Instituição opta por investir na infraestrutura deste espaço, localizado em um dos maiores centros empresarial da América Latina. Figura 42 – Fachada do Campus Avenida Paulista, frente para a Avenida Paulista, nº2000, com destaque para o calçadão no primeiro plano e a presença da Universidade Anhembi Morumbi na Avenida que é o cartão postal da cidade de São Paulo. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 81 Neste mesmo ano, incorpora a Business School São Paulo – BSP, com intuito de fazê-la seu braço especializado em MBAs e cursos para empresas dentro do Campus Morumbi. Com a transferência da sede da BSP para o Campus Morumbi e todos os riscos administrativos e financeiros devidamente planejados e ajustados, a Universidade deparou-se com uma questão incomum, o Campus caracterizado pelo público dos cursos da Escola de Artes, Arquitetura, Design e Moda eram totalmente distintos do público da BSP, evidenciando suas diferenças socioculturais. Figura 43- Hall de acesso das salas da BSP no Campus Morumbi, com recepção para os alunos, conta com balcão de informação poltrona estofadas e mesas de estudo. Os alunos da BSP são profissionais formados com mais de cinco anos de experiência de mercado, sendo a maioria diretores ou executivos de liderança das grandes empresas; enquanto os alunos da UAM são em sua maioria jovens recém-saídos do colegial e cursando sua primeira faculdade. Com perfis distintos desde o vestuário até o valor do investimento no curso, a universidade proporcionou diferenças no espaço físico dos dois segmentos acadêmicos. Esta diferença de cultura acadêmica tem sido superada, mas já existe projeto para transferência deste público para uma unidade estritamente de negócios. Figura 44– Hall de acesso as salas de graduação no Campus Morumbi, com o espaço do corredor vazio, de acordo com a entrega da obra em 2007. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 82 7. 8. Missão e Visão divulgadas no site da Universidade Anhembi Morumbi: Disponível em: http://portal.anhembi.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/star t.htm?sid=119. Acesso em 14.01.2011 Ver citação de Rodrigues (2005), “Queria ser jornalista, graduei-me em arquitetura, trabalhei para o estado, abracei a causa do Turismo e há 35 anos sou um empreendedor educacional.” Pag. 246 Atualmente, a Universidade, respeitada pela sua 11 cursos de graduação executiva; missão de “contribuir para a construção de um mundo 3 cursos de mestrado; melhor, produzindo conhecimento e formando talentos 765 funcionários administrativos e criativos e empreendedores, capazes de ter sucesso em sua 835 professores atuando na Instituição. vida pessoal, social e profissional”⑦ é, em muito, o reflexo Todas as atividades distribuídas em um total de seu idealizador, que a princípio queria ser jornalista, de 77.292,44 de m² da área de São Paulo, com 162.465,00 de cursou arquitetura, trabalhou no DOP com fiscalização de m² construídos, lançados em 5 Campi, com um total de 15 escolas, edificações. idealizou e implantou cursos de formação profissional e tornou-se um empreendedor da Educação⑧; abraçando a visão de criar “uma intuição moderna, arrojada e inovadora, com modelos pedagógicos e administrativos diferenciados e capazes de desenvolver, nos alunos sua competência para empreender e inovar em sua atuação profissional.” Atualmente, após 40 anos de sua fundação, que iniciava com 360 alunos em uma única edificação no Bairro do Morumbi, a universidade conta com: 32 mil alunos cursando a universidade; 44 cursos de graduação; 14 cursos de graduação tecnológica; 11 cursos on-line; 19 cursos de especialização; 83 Capítulo 2. VIVENCIAR O prédio de vidro 2.1 A origem da unidade 6 De acordo com o portal da Prefeitura de São Paulo⑨, o bairro da Vila Olímpia compõe o distrito de Itaim Bibi em conjunto com a Chácara Itaim, Vila Funchal, Brooklin Novo, Brooklin Paulista, Jardim Edith, Cidade Monções, Conjunto JK, Vila Cordeiro, Vila Gertrudes e Vila Uberabinha. 9. Disponível em http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidad e/secretarias/subpre feituras/pinheiros/hi storico/index.php?p =472, acessado em 18 de julho de 2011 Figura 45 – Mapa de uso e ocupação do solo da Regional de Pinheiros, incluindo o Bairro Vila Olímpia, evidenciando que a macrozona de estruturação urbana da área onde situa o campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi é Zona Mista de Alta Densidade. Fonte: Site da Subprefeitura de Pinheiros 84 Este distrito surge com características de bairro popular, entre a década de 1920 e 1930, com uma população se as indústrias e depósitos fabris, delimitados pelas favelas Coliseo e Juscelino Jubitschek. modesta de classe média, nas terras da chácara de 120 Assim se manteve até 1989, quando, durante a alqueires do general José Vieira Couto de Magalhães. A administração de Janio Quadros, o arquiteto Julio Neves, propriedade, que posteriormente foi passada para seu irmão apresenta o projeto do “Bulevar Zona Sul”, como resposta ao Leopoldo, era conhecida como “terreno de Bibi”, que transito existente nesta região e valorização imobiliária da acrescido do passado indígena, em que Itaim em tupi área. O projeto consistia em demolições e reurbanização de significa pedra pequena, origina o nome do Bairro. quadras no eixo da Avenida Brigadeiro Faria Lima e A Vila Olímpia fazia parte do espólio da chácara, que Engenheiro Carlos Berrini, rejeitado por moradores da área, o segundo Sávio (2004), tiveram as propriedades do general que acarretou seu primeiro veto. O projeto é retomado no desmembradas por seus herdeiros em lotes e pequenas governo de Luiza Erundina, mas só é aprovado em 1993, na chácaras entre a parte alta, próximo a avenida Santo Amaro e gestão de Paulo Maluf, decorrente da Operação Urbana da Bandeirantes e terrenos na parte baixa, próximo a avenida Faria Lima. Nações Unidas e Presidente Juscelino Kubitschek . De acordo com Sávio (2004), o então prefeito Maluf Por estar distante do corredor de passagem entre anunciou o prolongamento da Avenida Brigadeiro Faria Lima Santo Amaro e o centro da cidade, teve um desenvolvimento como obra emblemática de sua gestão, viabilizada pela lento. Sávio (2004), conta que enquanto na década de 70, venda de potencial construtivo através da Operação Urbana. apresentava-se como bairro de classe média consolidada, a Contudo, receando não concluir a obra até o final do ocupação era mista, sendo que na parte alta estabeleciam-se mandato, iniciou o projeto com recursos que previa casas térreas e assobradadas geminadas com edifícios recuperar posteriormente por meio do interesse do mercado residenciais de pequeno porte, enquanto na parte baixa, imobiliário na região. próximos aos córregos uberada e uberabinha, encontravam- Com a inauguração em 1997, evidenciava-se o 85 aumento de casas noturnas e de espetáculos, bares e restaurantes, aferindo o nome de Brejo Alegre decorrente da atratividade no entreterimento noturno. No portal do Bairro Vila Olímpia⑩, conta-se que as primeiras construções horizontais, com gabaritos baixos residenciais e comerciais, tinham as ruas identificadas por 10. Ver histórico no site Bairro Vila Olímpia, disponível em http://www.bairroilaolimp ia.com.br/htmHISTORIA.ht m, acessado em 18 de julho de 2011. números. Na Seção de Denominação de Lougradores Públicos, a oficialização da rua Casa do Ator, refere-se a Casa de Ator como sendo a residência do artista. A origem do nome aconteceu com a chegada da entidade circense, de Francisco Colman, que constrói sua sede no número 275, fazendo com que esta rua passe a abrigar uma casa para artistas circenses aposentados, com algumas atividades da Academia Piolin de Artes Circenses, patrocinada pelo governo estadual. A entidade funcionou entre o período de 1978 até 1982, vendendo seu terreno a mantenedoura da Universidade Anhembi Morumbi em 1995. Em relatos no Blog Verônica Tamaoki, a pesquisadora Figura 46 – Francisco Colman, entre 1979 e 1980. Fonte: http://blog.pindoramacircus.com.br escreve como a coleção de Boletim Mensal da Federação Circence constituída por Francisco Colman chegou as suas Tamaoki relata que enquanto aluna da Academia mãos possibilidando realizar uma pesquisa sobre o Circo no Piolin, quando a escola funcionava sob as arquibancadas do Brasil no início do século. Estádio do Pacaembu, conheceu Colman como diretor. Narra Verônica Tamaoki é jornalista, atriz e diretora circense, produziu o evento Circo Nerino no Sesc Pompéia em homenagem ao palhaço Piolin, fundou o site Pindorama Circus com notícias do Circo Brasileiro, escreveu o livro Circo Nerine ao lado de Roger Avanzi. Os relatos sobre a Casa dos Artista no Bairro Vila Olímpia encontram-se Disponíveis em http:// blog.pindoramacircus.com .br/category/circo-teatro, acessado em 18 de julho de 2011. 86 Revista Scena: Revista Circense, órgão oficial do Circo Theatro Romano. Revista Máscara: Revista Circense, órgão oficial do Sindicato dos Atores Teatrais, Cenógrafos e Cenotécnicos do Estado de São Paulo. em 11. Disponível http://blog.pindoramacirc us.com.br/category/circoteatro Delduque Oliveira Martins, foi Diretor de Gestão de Campus e de Patrimônio da Universidade Anhembi Morumbi e atualmente trabalha como Superintendente do Instituto Racine em São Paulo. a trajetória do artista que foi secretário do Circo Nerine, em Waldemar Merizio Vieira, administravam um espaço e 1936 lança a revista Scena, em 1950 é diretor e redador da reinvindicavam auxílio à classe dos profissionais do circo. revista Máscaras e em 1977, torna-se presidente da Tamaoki, em visita a Casa do Ator no ano de 1986, Associação Piolin de Artes Circenses, entidade responsável conta que Francisco Colman morava no escritório da sede e pela Casa do Ator, em São Paulo. Sr. Waldemar continuava ao seu lado como caseiro. Quando Segundo depoimentos do pesquisador Sérgio Freitas, em 11 de abril de 1977, a Secretaria do Estado dos Negócios retornou entre os anos de 1991 e 1992, Sr. Waldemar informou-lhe da morte de Colman. da Cultura, Ciência e Tecnologia, fundou a Associação Piolin de Artes Circenses, inaugurando suas atividades com o “Festival Piolin de Artes Cirscenses”, “Natal no Circo” e o espetáculo de circos no Ginásio do Estadio Municial “Paulo Machadao de Carvalho”. Em 08 de agosto de 1977, inaugura a Escola Oficial de Artes Circenses dirigida ao ensino e aprimoramento das artes circenses, com aulas as segundas e quartas-feiras no Estádio Municipal “Paulo Machado de Carvalho” A Casa do Ator não era apenas uma casa, eram várias. Tinha uma casa central, e outras casas, inclusive uma edícula comprida, uma capela, um jardim e acho que mais uma pequena casa no fundo do terreno. Entre os apartamentos situados na edícula, esses com quarto e banheiro, e nas outras casas, acredito que havia uma média de uns 25. Muitas vezes, a Academia Piolin ensaiou no quintal da Casa do Ator, no início da década de 1980, e já na época, a maioria de seus apartamentos estava vazio. (Veronica Tamaoki⑪, 2007) No portal da Fundação Nacional das Artes, em depoimento de Dirce Tangará Militello, o principal objetivo da escola de circo, naquela época, era tentar trazer de volta a profissão dos mestres circenses. Assim, Sr. Francisco Colman e seu secretário De acordo com os relatos do engenheiro Delduque (26/07/11), os primeiros contatos que a Universidade teve com este terreno foi o aluguel do estacionamento e de parte edificada para alocar a manutenção do Campus Vila Olímpia. 87 De acordo com os relatos do engenheiro Delduque (26/07/11), os primeiros contatos que a Universidade teve Academia Piolin, agora seria espaço pertencente aos anseios acadêmicos de Ensino Superior. com este terreno foi o aluguel do estacionamento e de parte Ainda que o bairro estivesse passando por esta edificada para alocar a manutenção do Campus Vila Olímpia. crescente imobiliária e a universidade estivesse contando A Universidade dividia o espaço com a Associação Piolin, que com aproximadamente três mil alunos, no final da década de mantinha o espaço também para guardar materiais e 1990, o terreno encontrava-se em Z2, zona que corresponde equipamentos artisticos para locação, tais como som ao uso predominatemente residencial com densidade fantasias, equipamentos de circo, entre outros. No final da década de 1990, segundo Savio (2004), o bairro da Vila Olímpia sofria intensa verticalização, valorização fundiária e adensamento; com constução de vários edificíos comerciais. A instituição, sob regência de Rodrigues, conhecedor do mercado imobiliário e aspirando ampliação da infra-estrutura do Campus Vila Olímpia, adquire, em 12 de janeiro de 1994, o terreno da Casa do Ator, 265, sob propriedade de “Casa do Ator Centro de Comunicações Artísticas e Culturais”. O terreno de 1.000m² continha uma pequena edificação, a capela e a grande área do estacionamento. E em 23 de março de 2005, adquire o lote 275, também com 1000m² composto de pequenas edificações. Estes lotes demonstravam sua vocação educacional, onde outrora participaram da construção da Imagem 47 – Ocupação do terreno Casa do Ator, 265 e 275, pela Universidade Anhembi Morumbi, em 1995. Fonte: Acervo Sobrosa Construtora 88 demográfica baixa. Terrenos nestas condições, segundo a lacuna nesta legislação que possibilitasse a construção de um Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA): edifício para a universidade. A construtora que estava trabalhando em pequenas reformas na unidade 5 e fazia Corresponde à parte da área urbana não incluída nos perímetros das demais zonas, caracterizando-se pela predominância residencial, sendo também permitidos usuos comerciais, de serviços, industriais de pequeno porte e institucionais. Nesta zona, as edificações podem ter área construída máxima igual à ocupação do lote, ocupando apenas metade do terreno, sendo permitido que nos edifícios residenciais, a área construída seja o dobro da área do lote, com uma ocupação menor da superfície do lote (SEMPLA⑫, grifo da autora) algumas demolições no Campus Centro, via o potencial de se manter parceria na construção de novos edifícios e consoliar os laços com a instituição. Sua insistência na pesquisa revela uma possibilidade construtiva na LEI Nº 8.211, de 06 de março de 1975. Esta Lei, que estabelecia condições de localização, aproveitamento, ocupação e recuos para edificações destinadas a estabelecimento de ensino, onde apresentava como aproveitamento do terreno de (40 x 50) metros que, a 12. Secretaria Municipal de Planejamento, disponível em http://www.prodam. sp.gov.br/sempla/zone.ht m, acessado em 18 de julho de 2011 13. Ver histórico da Construtora Sobrosa no Capítulo 2 – A construção Ver Anexo com a Lei Nº 8.211 Diante da legislação, a administração da Universidade princípio, permitirra uma construção de apenas uma vez o Anhembi Morumbi solicita um estudo para verificar qual o lote do terreno; com o uso desta lei permitiria a construção potencial construtivo do terreno e depara-se com o resultado de de construção com, no máximo, a equivalência da área do aproveitamento que antes tinha coeficiente 1 e, passa a ser terreno de 2.000 m²; metragem esta que não atenderia a 2. Embora a área possa ser maior, a taxa de ocupação estimativa de crescimento almejada. permanecesse igual, considerando a ocupação da metade do Consciente de que a legislação urbanistíca define acordos e propõe limites invisíveis, Eduardo Sobrosa, sócio da construtora Sobrosa⑬, que acompanhando o processo em reuniões com o engenheiro Delduque, procura uma quase 4.000 m²; resultado do aumento do terreno. Estes dados podem ser melhor visualizados, na análise da tabela abaixo: 89 Lei dos estabelecimentos do ensino pertencentes ao sistema educacional do estado de São Paulo e dos estabelecimentos de educação infantil Zona de Coeficiente de Taxa de ocupação uso aproveitamento máxima A B C D Z1 1 1 0,5 Z2 2 2 0,5 Z3 6 2 Z4 6 Z5 Recuos mínimos E Estacionamento de veículos Espaço destinado a desembarque e manobras de veículos F G H - 6 3 uma vaga p/ cada 75 m² de área 0,5 6 3 edificada resultante da aplicação dos É obrigatório proporcionar fora do logradouro púb. de 0,5 0,5 5 - coeficientes estabelecidos na coluna C acesso e especificar no projeto os pátios e vias de 2 0,5 0,7 5 - para os estabelecimentos de categoria circulação destinadas a: 6 2 0,5 0,8 - - E1 e E2; Z6 3 1,5 0,5 0,7 6 3 Z7 - - - - - - p/ os estabelecimentos da cat. E3 a COGEP estabelecerá p/ cada caso I a) embarque e desemb. de estudantes; b) carga e descarga de veículos de serviço; c) parada temporária e manobra de veículos específico o nº mínimo de vagas Tabela 5– Quadro único anexo a LEI Nº 8.211, de 06 de março de 1975, complementado pelas LM 8.769/78 e 9.094/80, com diretrizes para construção de espaços pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo, com grifo da autora nos itens referentes ao projeto do Edifício Theatro Casa do Ator. Fonte: Prefeitura de São Paulo – Disponível em http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/plantas_on_line/ legislacao/index.php?p=8664, acessado em 18 de julho de 2011. Com a possibilidade de verticalização oferecida pela legislação, Sobrosa reuniu-se⑭ ao corpo administrativo para apresentar a solução com um estudo das exigências mínimas e possíveis características que pré-determinariam o edifício a ser implantado na Casa do Ator, 275. Investi na verticalização do gabarito acadêmico pela universidade, em um bairro residencial, acompanhava a ascensão imobiliária vivenciada pela Vila Olímpia, no final da década de 1990, descrita por Sávio (2004); com torres comerciais que substituiam antigos sobrados e galpões do bairro, atraídos por soluções tecnológicas e especificações técnicas de última geração, além de flexibilidade espacial dos novos edifícios com a sofisticação dos empreendimentos. 15. O arquivo denominado Prefeitura.doc, não apresentou data e a Construtora , também, não soube informar com precisão. Acredita-se que as negociações ocorreram entre o segundo semestre de 1998 e o primeiro semestre de 1999. 90 A instituição que até o momento, só realizava adaptações nas unidades da Vila Olímpia, investe na atualização de sua infraestrutura e faz emergir um edíficio consolidando o seu crescimento no mercado educacional, marcando o prestígio do recém-adquirido status de Universidade Anhembi Morumbi. - Figura 48 – Desenho esquemático da implantação do Prédio de Vidro, de acordo com as diretrizes impostas pela Lei Nº 8.211, referente aos recuos mínimos exigidos para aprovação do projeto com uso educacional. Fonte: Desenho elaborado pela autora Imagem 49 – Vista áerea com delimitação da área do terreno e implantação do Prédio de Vidro, de acordo com as diretrizes da Lei Nº 8.211 Fonte: Google maps 2011, com edição da autora. 91 Figura 50 – Estudo de viabilização construtiva da Unidade 6, de acordo com diretrizes imposta pela Lei Nº 8.211, referente as condicionantes mínimas exigidas para aprovação do projeto de edifício com uso educacional. Fonte: Acervo digital da Construtora Sobrosa 92 Figura 51 – Quadro de áreas apresentado em conjunto com o estudo para viabilização construtiva da Unidade 6, de acordo com diretrizes imposta pela Lei Nº 8.211, referente as condicionantes mínimas exigidas para aprovação do projeto de edifício com uso educacional. Fonte: Acervo digital da Construtora Sobrosa 93 2.2. Um pouco sobre o arquiteto Partindo deste contexto, da importância do terreno para a rua e bairro, das dificuldades enfrentadas para potencializar a construção do edifício e a relevância da construção na conjuntura da Universidade, era preciso apontar o arquiteto que idealizaria o projeto. A partir de entrevistas, publicações em revistas e sua tese de doutorado, foi possível conhecer Francisco Petracco. Petracco era o coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Anhembi Morumbi, com rica trajetória profissional acadêmica e arquitetônica, quando convidado a projetar o Prédio de Vidro. Neto de arquiteto e de pai artesão industrial e violinista, foi seduzido pela profissão do avô quando desde cedo o acompanhava em suas obras. Em sua vida acadêmica conhece o professor Vicente Mecozzi, desenhista e pintor, que incentivava alunos com aptidões plásticas a inclinarem-se ao curso de Arquitetura; Orestes Rosalia que romantizava a História em fatos poéticos Francisco Petracco é neto de Francisco Verrone, arquiteto responsável por projetar e coordenar as obras da IRF Matarazzo, tais como Maternidade Matarazzo e Casa das Caldeiras. e humanísticos; e Pedro Corona, já na graduação, grande promotor do Desenho do Projeto e do Desenho do Figura 52 – Francisco Petracco Fonte: Acervo Anhembi Morumbi 94 Urbanismo, por quem tem grande admiração pelo aprendizado pelo desenho referenciado no tempo e espaço. curso de preparação de Professor de Desenho na FAAP, em 1963, e em 1964, a partir da reformulação vivenciada pelo Em sua formação arquitetônica, além das atividades Mackenzie, é convidado a dar aulas nesta instituição pedagógicas cursadas na universidade, participava de buscando enfatizar o Desenho como aprendido com Pedro atividades paralelas ao curso, garantindo ser de grande Corona. importancia para formação pessoal e profissional, tais como No ano de 1971, com a implantação do terceiro curso estágios, concursos, acampamentos de topografia e jogos de arquitetura no Estado de São Paulo por Osvaldo Correa internos do curso. Estas atividades estimulavam o desejo Gonçalves em Santos, Petracco presenciou a unanimidade participativo estudantil e o envolvimento com a educação. profissional e ideologia comportametnal de uma Escola com Nos estágios que frequentou, impulsionado pelo foco no Modernismo, tendo o desenho e o projeto crescimento do Brasil incentivado por Juscelino, aprendeu arquitetônico como pré-requisito do curso; deixando a através de diálogos extra-aulas, a influência dos canteiros de cadeira de Projeto em 1996. Em 1983, compõe o corpo obra na linguagem arquitetônica e o raciocínio construtivo. docente do curso da Faculdade de Belas Artes, recriado por Trabalhou em escritórios com Eduardo Corona, Fábio Jorge Caron. Em 1992, retorna ao Mackenzie para ministrar Penteado, Paulo Mendes da Rocha, Botti Rubin, Jorge aulas aos trabalhos de graduação interdisciplinar (TGI), Wilheim, Julio Neves, entre outros. permanecendo lá até hoje. As primeiras experiências acadêmicas foram como Em 1994, torna-se coordenador do curso de instrutor em cursos de Aspirante a Oficial e Tenente de Arquitetura e Urbanismo da Anhembi Morumbi, com a Artilharia, enquanto ainda era estudante, no qual, por missão de construir um novo curso para a universidade virtude da estrutura militar, aprendeu os conceitos de buscando formar uma Escola que traduzisse sua experiência ordem, respeito, espírito de equipe e nacionalismo. e anseios. Na formação do curso, coordenou professores Posteriormente, como Orpheu Zamboni para Projeto, Maria Helena Flynn em já arquiteto formado, lecionou no 95 História e Luiz Carlos Chichierchio em Conforto. Infelizmente, só Chichierchio permanece no corpo docente atualmente. Pouco antes da venda para o grupo Laureate, em 30 de junho 2003, Petracco deixa a coordenação do curso dedicando mais tempo às atividades arquitetônicas profissionais. O início de sua carreira profissional acontece em 1959, com a maturidade da linguagem moderna paulistana, conhecida como “Escola Paulista de Arquitetura Moderna”, impulsionada, principamente, pela presença do arquiteto Villanova Artigas; com quem Petracco tem convivência durante o regime militar. As obras de Petracco encontram-se num período pós-Artigas e traduz os impactos ocasionados pelas transformações sócio-políticas e culturais dos anos de 1960 e, mesmo que se adaptando as novas configurações sociais, não perdem as posições ideológicas funcionais. Entrando na década de 1970, com um quadro internacional exigindo novas formas e significados para a arquitetura, Petracco (2004) relata que a arquitetura passou por uma reformulação em seu conceito de forma, mas sem alterar as perspectivas da arquitetura moderna, e sim embasada em questões filosóficas para produção de espaços para o ser humano. Figura 53 – Concurso para a Assembleia Legislativa de São Paulo, projeto, equipe coordenada pelo Arquiteto Eduardo Knezse de Mello. XoA -Perspectiva externa. B- Perspectiva interna. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 96 para o ser humano. Figura 54– Desenhos para o Concurso do Clube XV de Santos, obra construída. Referência à analogia do projeto: Escola Gomes Cardim. XoA -Perspectiva externa. B- Perspectiva interna. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 Figura 55– Clube XV de Santos - Fotografia da Obra construída. A -Fachada frontal, B -Fachada lateral direita e C -Vista aérea. Referência à analogia do projeto: Escola Gomes Cardim Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 97 Figura 56 – Concurso Palácio da Justiça de Santa Catarina. Equipe Pedro Paulo Saraiva, Sami Bussab e Francisco Petracco. A – Perspectiva externa. B – Planta do conjunto Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 Figura 57 – Palácio da Justiça de Santa Catarina– Obra construída. Equipe Pedro Paulo Saraiva, Sami Bussab e Francisco Petracco. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 98 Figura 58– Residencia Cláudio Morelli Figura 59– Residencia Vicente Izzo Figura 61– Edifícios residências: A - Edifício Lorena. B - Edifício Paulista Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 Figura 60– Residencia Pedro Marrey Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 99 Figura 62 – Projeto urbanístico de Reurbanização do Eixo Tamanduateí-Luz Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 100 Figura 63 – Projeto urbanístico – Proposta para o Rio Tietê Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 101 Figura 64 – Projeto para Palácio das Nações. A – Corte perspectiva do conjunto. B- Perspectiva Externa. C-Perspectiva Interna. D – Vista aérea. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 102 Para Petracco (2004), o projeto para o Edifício Escolar é um dos temas mais emocionantes pela complexidade, abrangência e política educacional que deveria ser de sociabilização democrática. A evolução de um povo é sem dúvida proporcional à sua alfabetização, à sua educação, à sua culturalização e, por fim ao estudo continuado. Admira-nos, ou melhor, constrange-nos ler trabalhos do final do século XIX, e primeira metade do século XX, como os de Anísio Teixeira, e constatar a reduzidíssima evolução que conseguimos, devido à não implementação de planos simples e sumários, obviamente impedidos por interesses da manutenção do “status quo”. Observando os Atos Institucionais, tais como o 477, do regime de exceção pós 1964, (...) perniciosos às questões da Educação, verificamos a pertinência de nossa afirmação. Voltando-nos, todavia, para o conteúdo arquitetônico das escolas brasileiras, o objetivo precípuo deste capítulo, verificamos fases luminares na história da educação nestes últimos mais de cem anos, e suas construções escolares. Entendemos, em sentido lato, que esta afirmação seja totalmente cabível e desejável num país emergente. Cremos que edifícios escolares centenários da Europa ainda se prestam, e bem, a esse exercício, principalmente no que diz respeito ao ensino secundário e superior, onde prima a tradição do ensino consolidado, cientificamente opulente, capaz de gestar gerações de cientistas, filhos, pais e avós. Sem ufanismos acreditamos, todavia que países como o nosso têm na qualidade arquitetônica e do espaço da escola, um componente transcendental na formação democrática e intelectual do nosso alunato. São as vicissitudes de um povo em formação que se coadunam integralmente com espaços despojados, simples e alegres, como as escolas propostas pelo arquiteto Silva Neves, (1938) características que até hoje buscamos. Sem destruir o mérito de outros arquitetos, que sem dúvida deram grande contribuição à leitura deste percurso das construções escolares, antes da vigência do convenio escolar em 1949, (quando não tinham respaldo de uma política contextual de apoio para seus projetos, repetindo modismos europeus), acreditamos que os anseios e posturas de nossa sociedade se compuseram harmoniosamente com as propostas quase espartanas da simplicidade modernista, onde não existe a busca do suntuoso, mas a 103 procura do espaço: a escola aberta. (Tese de Doutorado - Petracco, 2004, pag. 225-226) Diante deste discurso, Petracco projetou uma série de edifícios educacionais com corpos independentes, mas interligados por meio de áreas de convivência, onde acontecem as atividades sociais. Sendo elas: Figura 65 – Projeto Escola Museu, Jundiaí. A – Fachada principal. B – Fachada lateral. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 Figura 66 –Escola Gomes Cardim, A - Fachada Principal. B- Planta do conjunto. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 104 Figura 67 – Jardim Santo Inácio. A -Planta do conjunto, B - vista da área de convivência. CCorte. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 Figura 68 – Jardim Santo Inácio. A - Perspectiva da entrada das salas de aula. B -Fachada do conjunto. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 105 Figura 69 – Escola Poá. A - Perspectiva do conjunto. B - Maquete eletrônica do projeto, vista frontal. C - Maquete eletrônica do projeto, vista lateral. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 106 Delduque (26/07/11), conta que a primeira proposta de trabalho da Universidade Anhembi Morumbi em conjunto com Petracco foi para o Campus de Interlagos. Um Campus na região de Parelheiros, para atender a expansão da Universidade em área com grande densidade populacional e carente deste equipamento urbanos, Universidade. Ao descrever o projeto, Petracco apresenta um memorial bem detalhado onde expõe que: Em terreno de 120.000m2 com 2 nascentes, 2 pequenas “matas ciliares”, justapostas a seus cursos d’água, e vários lagos pensou-se a implantação um campus nos moldes das grandes universidades européias e americanas. Deveria contemplar as atividades pedagógicas em todos seus enfoques, teóricas e práticas, coroados pelos cursos de extensão, de iniciação científica e de pesquisa. Pela sua localização, próximo a bairros de baixa renda, também era objetivo trabalhar junto à comunidade pensando-lhe serviços e oferecendo suas instalações para conjunto sócio, cultural e esportivo. Pretendia-se enfim perfazer o arcabouço da educação ou seja a formação competente, diálogo com a sociedade, coroando com a educação continuada de qualidade. O terreno com topografia acidentada em sua maior parte, e seus conteúdos físicos favoráveis representará um sério desafio para a implantação do conjunto. Dos partidos possíveis, o pavilionar, vários edifícios espalhados pela área geralmente de integração difícil, optou-se pela hipótese de um grande setor pedagógico como centro das atividades e outras, pontuais de apoio, dialogando e coadjuvando com o edifício principal, dentro de uma proposta de arquitetura compositiva coerente com a linguagem moderna. Desta forma propusemos a conjunção de dois elementos baixos e longos com pavimento térreo, predominantemente livre e mais dois superior, dispostos de maneira a criar um núcleo com todos os ambientes de salas de aulas, laboratórios e oficinas. Uma laje cobertura, desenha-se junto aos blocos, contendo espaços administrativos e outras de vivência. Evitando pilares que pudesse cercear e engessar a maleabilidade dos espaços, e ainda como elemento simbólico de linguagem, propusemos uma grande viga treliça metálica que atiranta as vigas estruturais desta grande marquise. Completando a composição implantamos um bloco redondo com uma estrutura externa que abriga um teatro auditório no andar térreo e uma biblioteca, situada em dois pavimentos elevados em forma de anel circular, com um grande vazio central que integra os dois espaços, da platéia e dos ambientes de leitura. Fazem parte do conjunto um Ginásio coberto, com uma elegante cobertura formada por vigas metálicas esbeltas dentro de um ritmo marcante, atirantada em uma super viga, também metálica, que se apoia em dois pilares “gigantes”. Em virtude da topografia e do lago, propusemos um 107 anfiteatro a céu aberto, cuja arquibancada se casa às curvas de nível, que tem como palco uma concha acústica em forma de casca de concreto, que juntamente com a água colabora para a boa acústica. A proximidade contígua da estrada de ferro da antiga Fepasa concorria para a viabilidade de implantação do campus, mas mesmo assim a Universidade preferiu investir em campus espaços pela cidade seguindo um procedimento já adotado por outras Instituições postergando sua eventual implantação. (Tese de Doutorado - Petracco, 2004 . Memorial do projeto para o Campus Interlagos da Universidade Anhembi Morumbi. pág. 245-247) a área central. Atualmente, o terreno está inserido dentro de uma Área de Preservação Ambiental (APA), onde a viabilidade para construção é pequena. E a proposta concebida para ser a ampliação da Universidade Anhembi Morumbi como um espaço amplo de cultura, lazer e aprendizagem procrastina aos olhos de seus idealizadores. Segundo Rodrigues (26/08/12), a proposta do Campus em Parelheiros estava relacionado a expansão do trem metropolitano, atual “Linha 9 – Esmeralda da CPTM”. Esta linha atenderia a região com a estação denominada Parelheiros, próxima ao terreno; contudo, a viabilização mostrava-se cada vez mais remota. Considerando a distância do Campus e a falta deste transporte urbano público na região, adiou-se a implantação na expectativa da futura construção. Como até o momento não foi finalizada, o projeto não foi retomado. Com a compra da antiga sede da Alpargatas, o foco de expansão na região de Parelheiros foi redirecionado para Figura 70 – Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 1º projeto Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 108 Figura 71 – Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto. A – Implantação. B – Vista aérea do conjunto. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 Figura 72– Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto A – Corte das salas. B – Corte do conjunto. C – Corte do conjunto esportivo. D – Perspectiva do conjunto esportivo. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 109 Voltando-se para a outra área de implantação do novo Campus, próximo ao Brás, o novo programa previa não só o diálogo com o edifício, mas com a área central da cidade de São Paulo. Esta região que apresenta a história da cidade em suas ruas e edificações revela em seus galpões industriais como foi um período do desenvolvimento econômico da cidade. Petracco, conhecedor da importância da área, desenvolve um projeto de acordo com o descritivo abaixo, reproduzido na íntegra: Em 1996, a Instituição da qual era Coordenador de Curso, adquiriu o imóvel onde situou-se por décadas a Indústria Alpargatas São Paulo SA, na rua Almeida Lima. Um edifício Art Deco, despojado, sem adereços de outros edifícios da época, porem com características marcantes. Formado por dois grandes blocos de 24 m de largura por 64 m de comprimento e sete pavimentos de altura ligados por um núcleo central de circulação vertical e apoio. Anteriormente contratado pela própria Alpargatas, a fim de buscar as vocações possíveis de adequações do prédio, fizemos vários estudos e concluímos que pelas qualidades dos espaços ligados por um grande núcleo de circulação, como também pela estrutura de suas lajes cogumelo com pilares distanciados 8 m entre si, o uso mais adequável seria de um Shopping ou uma Universidade. Pelas características da área de entorno optou-se pela Universidade. Fizemos então um Estudo Preliminar, com programa forjado para demonstrar a viabilização do Empreendimento que satisfez o Reitor da Universidade comprando-a consciente da importância do empreendimento numa área fantasticamente rica em potenciais urbanísticos. Iniciamos o estudo de implantação do Campus. Trata-se de uma área de terreno de 25.000 m2 com 45.000 m2 construídos sendo 16.000 m2 nas torres e o restaurante, em galpões, térreos em sua maioria. Embora os edifícios tivessem um apelo maior, também, outros apresentaram boa qualidade, e em contraposição aqueles edifícios altos e emergentes na época, tinham uma inserção mais adequada à área. Tal constatação nos fez preservar todas as áreas sem qualquer demolição, propondo apenas a readequação e revitalização. Propusemos dois grandes eixos ortogonais, o primeiro uma continuação da rua Frei Gaspar que penetraria no Campus, com a mesma largura 110 da rua permanecendo toda região do entorno com a vivência universitária. O outro, paralelo à rua Almeida Lima, portanto perpendicular ao primeiro, serviria de ligação de todas atividades acadêmicas e seus rebatimentos, cruzando todos os 200 m de terreno, do Viaduto Alcântara Machado de um lado até o Museu da Imigração do outro, para cuja praça teria posteriormente uma abertura, pois era intenção incorpora-lo às atividades culturais do Campus, até porque seu Reitor era descendente de imigrantes italianos. O programa rico e eclético constava de dois centros, o de cultura e o de atividades acadêmicas propriamente dito. Da rua acesso dirigíamos-nos em frente ao Museu do Bairro, do qual a Alpargatas tinha grande participação, para a esquerda ao conjunto de atividades culturais como o Cinema de Arte, Teatro, Praça das Livrarias e Galeria de Arte, que espelhavam-se na Praça de apoio e lanchonetes e cafés. Do outro lado da rua de acesso localizavam-se a administração e Biblioteca de um lado e os DAs, com Diretório Central de outro, terminando em uma grande arena de discussão dos problemas acadêmicos universitários, Oficinas e Laboratórios. Tínhamos desta forma, quatro grandes núcleos interligados porém resguardados, dando-lhes o caráter próprio a cada um deles, preservando-os em suas devidas posturas, que hoje infelizmente vimos quebradas, entre o comportamento acadêmico e o de um mero shopping. Além do mezanino que dava apoio às atividades do térreo, propomos cinco andares de salas de aula e Laboratórios, todos eles com uma grande área central de vivência e apoio pedagógicos, com as coordenações e pequenas bibliotecas especificas às atividades que abrigavam. O sexto andar, aproveitando o grande espaço que servia de refeitório e vivência aos operários, propusemos um auditório com balcões em sua periferia desfrutando de seu alto pédireito. No sétimo andar a administração da reitoria e dos negócios da Universidade. Os dois blocos eram ligados por uma elegante cobertura que cobria o vão central dos edifícios além de ordenar as muitas torres das casas de maquinas, caixas d‟água, etc. Ainda ligando-os propusemos uma rampa que atendesse a evasão dos alunos em hora de pico, que dava um fecho ao vazio central dando-lhe um caráter majestoso, digno das atividades dos encontros acadêmicos. O conjunto Art Deco deveria inicialmente ser 111 composto por três alas ligadas por dois núcleos. Faziam parte da fase inicial, que culminou sendo a definitiva, dois blocos o núcleos que os unia, mas parte de outro núcleo que deveria interligar uma terceira perna, o que descaracterizava a singeleza do segundo bloco, justamente o mais proeminente para a paisagem oeste, ou seja a vista do Centro da Cidade. Era realmente um anexo, que incomodava, porém grande demais para ser demolido. Tivemos então a ideia de usa-lo como edifício suporte de um quadro Mondrianesco de mensagens oportunas que escondendo-o, devolvesse a pureza da torre justaposta. A fachada oposta à rua existia uma grande marquise em balanço que derrubar enfatizando o corpo central dando-lhe maior verticalidade. (Tese de Doutorado - Petracco, 2004, Memorial do projeto para o Campus Centro da Universidade Anhembi Morumbi. pág. 255258) Figura 73 – Proposta de Francisco Petracco para a Fachada do Campus Centro da Universidade Anhembi Morumbi. A – Fachada Frontal. B - Fachada Posterior Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 112 Figura 74 – Implantação proposta por Francisco Petracco para Campus Centro da Universidade Anhembi Morumbi. Entrada por acesso central principal, cruzando com acesso secundário no interior do complexo. Eixos de circulação que articulam o projeto e sua distribuição das áreas acadêmicas, administrativas e de convivência. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 113 Apesar das tratativas, vistorias ao imóvel, análises e Segundo Rodrigues (26/08/12), a proposta de propostas apresentadas pelo arquiteto a instituição, este intervenção de Petracco sugeria o rebaixamento do piso em projeto acaba não sendo executado. alguns ambientes de convivência e auditórios, o que faria Comenta-se pelos corredores administrativos da com que a construção tivesse um prazo de execução mais universidade, que o projeto desenvolvido por Petracco, longo. Como a inauguração já estava agendada, a demora na apesar de preservar toda a edificação vertical da antiga sede implantação do novo Campus não atendia ao planejamento da Alpargatas, os galpões térreos existentes precisariam ser estratégico da Instituição. demolidos para atender ao novo programa, com auditórios e Estas seriam algumas das justificativas adotadas para áreas comerciais. Esta intervenção exigiria a demolição de a contratação da consultoria do arquiteto carioca Vicente grande parte da cobertura e estrutura dos edifícios gerando Giffoni e da nova proposta para o campus, onde se propunha perda ao valor histórico da construção e, consequentemente, áreas de intervenção que não alteravam a malha estrutural e maior gasto para edificação de novos espaços. a cobertura existente; uma infraestrutura com características Atualmente, toda a área onde está concentrada a mais comerciais, assemelhando as instalações da parte de lojistas e laboratórios específicos, tais como de universidade a um Shopping Center; e cronograma de aviação civil, estúdios, gastronomia, spa e salas de aula do adaptações do antigo espaço fabril, executadas em um curto Città seria demolida. prazo, para reconfiguração do edifício em espaço acadêmico. 114 Figura 76 – Mapa do Campus Centro, para localização das salas de aula no início do período letivo, versão janeiro de 2011. Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi 115 Figura 77 – Compatibilização dos projetos para o Campus Centro. Implantação apresentada pelo arquiteto Francisco Petracco com sobreposição da atual implantação do Campus Centro, projetado pela arquiteta Deise Marques Araújo sob consultoria do arquiteto Vicente Giffoni. Da esquerda para a direita, é possível identificar as diferenças na planta: No atual “Teatro Anhembi Morumbi”, cabine primária de energia e quadras, foi proposto por Petracco um amplo espaço de exposições e uma quadra poliesportiva com arquibancadas. No térreo dos edifícios, onde, hoje, está concentrado a central de atendimento ao aluno, agência experimental e praça de alimentação, no projeto de Petracco estariam as áreas administrativas e diretórios da universidade. Nos galpões, onde, atualmente, estão as lojas, central de atendimento ao aluno, estúdios, salas de aula do Città, spa, centro de gastronomia, seriam lojas e auditórios na proposta de Petracco. E onde se concentra a parte administrativa da Instituição seria um espaço de apoio a convenções. Fonte: Proposta de Implantação do arquiteto Francisco Petracco extraída da Tese de Doutorado (Petracco, 2004) e a Implantação do Campus cedida pelo acervo da Universidade Anhembi Morumbi, dados de 2011. 116 Embora nenhuma das propostas tenha sido concretizada, Campus de Interlagos e Campus Centro, Petracco é convidado a desenvolver um novo projeto de expansão da infraestrutura no Campus Vila Olímpia. Dando continuidade ao crescimento acadêmico e as transformações da Universidade Anhembi Morumbi, a instituição demanda de novas áreas e espaço para receber os novos alunos. O Campus Vila Olímpia, primeira campus da universidade, sediaria sua primeira construção de edifício projetado para ser um espaço acadêmico, a Unidade 6: O Prédio de Vidro. E em 10 de junho de 1999, a construtora Sobrosa apresentaria, durante uma reunião de planejamento na instituição com Ângela Freitas, Eng. Delduque Martins, Arqto. Petracco e Eng. Eduardo Sobrosa, as diretrizes exigidas pela legislação para darem início no processo projetual. E é a Figura 78 – Fachada da Unidade 6 no Campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi, destacando a presença da estrutura metálica e do vidro e evidenciando sua escada principal, elemento central da edificação. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 partir desta reunião, que fica estabelecido a data para inauguração da nova unidade, no primeiro semestre de 2001. 117 Figura 79 – Ata de reunião de 10 de junho de 1999, referente aos questionamentos sobre as possibilidades construtivas de acordo com a legislação corrente para Z2 e construção de estabelecimento de ensino. Fonte: Acervo digital da Construtora Sobrosa 118 das faculdades de arquitetura no Brasil, em 1968, a 2.3 A ARQUITETURA instauração de três departamentos dentro da Escola: o de Nas obras de Petracco, é possível identificar sua linha Projeto, o de Técnicas e o de História. Em sua tese de “modernista e estruturalista”, valorizada no contexto urbano, doutorado, Petracco discute estas bases conceituais do habilmente interpretado. A leveza das edificações, que ensino de Arquitetura: parecem flutuar sobre o chão, contraria a presença marcante das estruturas que modulam sua arquitetura em conjunto com o material bruto empregado. Segundo Petracco (2004), toda a arquitetura apresenta o projeto, a tecnologia e a história como elementos indissociáveis, “porque advém das constantes leituras dos arquitetônicas O arquiteto João Batista Vilanova Artigas (1915 – 1985) foi um arquiteto referência do movimento moderno da Arquitetura Brasileira, conhecido como Escola Paulista. comportamentos nos transmitem, que as assim linguagens como Vitruvio Escolas Lucio Costa Petracco Voluptas Projeto Proporção Desenho Soliditas Commoditas Tecnologia Comodulação História Modinatura Estrutura Ritmo das possibilidades das soluções tecnológicas que permitem sua E é neste tripé desenvolvido pelo arquiteto, que esta estabilidade”. Como estes elementos serão usados, depende pesquisa, busca desvendar as características arquitetônicas da liberdade que o arquiteto explora em seu processo presente em seu projeto para a Unidade 6, do Campus Vila projetual e no atrevimento que o instiga no momento de Olímpia, tentando observar, a partir do próprio pensamento criação. Assim a leveza derivada do desenho, estabiliza-se em do arquiteto, uma estrutura para análise de sua obra. suas estruturas mencionando a natureza do material em seus esforços. 2.3.1 O Desenho Esta tríade apresentada por Petracco tem referência na organização que Vilanova Artigas que defende na reforma Para o Desenho, instrumento básico para a arte de projetar, verifica-se que o autor pode ser o 119 protagonista solitário e desenvolver todos os três estágios num só trabalho, ou seja, o gesto inicial do primeiro traço, a evolução para a otimização e um eventual declínio da composição de sua obra em processo. O início é difícil; o papel em branco a quem o autor se dirige e o inibe, os primeiros passos que quebram o silêncio e iniciam um diálogo cognitivo da mensagem. (...) Vencido este constrangimento o autor dirige-se audaciosa e livremente em busca da conclusão de sua proposta em forma de síntese e é este o momento de equilíbrio, autoanálise e discernimento: o equilíbrio e a clareza do escopo de sua frase sob o risco de romper a referida síntese, exacerbar-se e torná-la piegas, distorcida pelos ruídos de uma comunicação poluída, entroncada por uma proliferação de sinais que só a fazem fragilizar-se. (...) A este tipo de mensagem gráfica que chamamos de Desenho Historiológico, ou seja, aquele portador de leitura e de crítica de um determinado desenho histórico. (Petracco, 2004, pág. 417 a 419) janelas sequenciais, térreo com lanchonetes e áreas administrativas, todavia foi surpreendido com a proposta em vidro e estrutura metálica apresentada por Petracco. O croqui de Petracco apresentava o projeto de um espaço aberto, um prédio com estrutura em aço e vidro onde a relação entre o público e o privado é tão tênue que não se vê fechamentos, apenas sua permeabilidade e livre acesso ao conhecimento. Suspenso sob uma grande esplanada, o térreo que se encontra a 60 centímetros acima do nível da rua, pode ser acessado por uma ampla e suave escada com 9 metros de largura. Todo o acesso é rodeado por um jardim compondo o desenho do talude e formando uma barreira natural entre o espaço interno e o externo, sem a necessidade de edificar qualquer volume como forma de anteparo. Na fachada frontal, face com a Rua Casa do Ator, é possível observar o grande vão de 33 metros, gerado pelo Sobrosa (19/07/11) conta que após a primeira reunião sobre legislação passaram-se cerca de 50 dias para a apresentação da primeira proposta. Os recuos que a lei exigia, fizeram com que o engenheiro esperasse um projeto tradicional, um grande cubo em concreto armado com desenho de sua estrutura e modulação. O travamento metálico, além de estruturar o volume, demonstra uma repetição compassada em um padrão lógico e geométrico de seu esquema de continuidade e constância, sendo interrompido, somente, pela presença marcante da escada, 120 Figura 80 – Croqui da Unidade 6, desenvolvida pelo arquiteto Francisco Petracco para apresentar a fachada do edifício com frente para a rua Casa do Ator, em estrutura metálica com vãos de 33 metros e fechamento em vidro. Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004 121 elemento central da edificação, pendente por tirantes. vencer grandes vãos, tornando os espaços mais flexíveis. O A escada, que simbolicamente, apresenta sentido de prédio deveria ser todo livre, livre de paredes, livre de ascensão é solta do solo, como que representasse uma estruturas, livre de preconceitos, livre de segredos. Um secção, um corte em um caminho infinito de sabedoria que espaço que evidenciasse a transparência de seu conteúdo, assim que adentrado não tem limites, nem pra cima, nem pra que expusesse a sociedade todo o conhecimento difundido baixo, nem para os lados. Ela expande-se em si mesmo, em seu interior, revelando as atividades acadêmicas à cidade através da transparência, de sua leveza, e por força ao e consistindo-se em um lugar onde os estudantes poderiam contrariar a gravidade. estar e admirar o horizonte, o cotidiano e a paisagem. E é, Por ser uma arquitetura em vidro, é possível observar em virtude desta transparência que o edifício foi apelidado que as laterais contemplam brises, controlando a insistência por alunos e funcionários como o “Prédio de Vidro”, forma da luz por adentrar pelos ambientes acadêmicos, sem como será tratado desta parte do texto em diante. impedir sua passagem, mas legitimando sua entrada. Este projeto significaria muito mais que o Durante a noite, este edifício pode ser entendido crescimento e desenvolvimento da Universidade Anhembi como o farol do conhecimento, suas luzes acesas emanam o Morumbi configurava a transformação do Campus que caminho a ser percorrido na busca por sabedoria e discussão. mantinha uma postura de adaptação de espaços existentes, Um volume cúbico de vidro que amplia as fronteiras da sala para um novo modelo de espaço educacional, uma de aula, carregando em si questionamentos sobre quais são construção com valor reconhecido devido a sua imponência, os limites na construção de um espaço universitário, e a forma como utilizou o aço para estruturar destacando a projetando não só o conteúdo produzido dentro da sala de tecnologia e a concepção de um edifício atraente e captador aula, mas o que se concilia com a dinâmica da cidade. de atenção. Segundo Petracco (22/07/11), a proposta era Graças ao pensamento do arquiteto, das análises proporcionar a liberdade ao espaço e, para tanto, precisava reflexivas, da pesquisa artística para o edifício, e das 122 Pavimento tipo é o nome dado a planta baixa do pavimento que tem sua distribuição interna repetida em outros andares da construção. exigências legais sobre o terreno; a proposta materializa-se para salas de aula, 12% ao vazio central do átrio, 20% para em um desenho organizado com ambientes restritos e circulação – incluindo escadas, elevadores, galerias de abertos, espaços públicos e espaços privados, diretrizes circulação, e 3% para áreas de apoio, tais como sanitários e básicas evidenciadas em seus outros projetos educacionais já depósito. construídos e publicados. A disposição interna do andar apresenta uma planta Pode-se observar, através da planta de pavimento dividida em dois corpos acadêmicos - uma releitura aos tipo, que a distribuição do espaço corresponde a 65% da área colégios coloniais onde apresentava a separação entre o sexo dos alunos, com uma ala feminina e outra masculina; separados por um vazio do átrio que centraliza toda a área de convivência, permitindo ao usuário do espaço acadêmico estabelecer uma relação entre o espaço restrito e o espaço aberto - situação cada vez mais escassa no espaço universitário da instituição. Com intuito de diminuir as galerias de circulação das edificações e ampliar o potencial construtivo de salas de aula - espaços com maior valor agregado a universidades, a arquitetura dos edifícios na Anhembi Morumbi está sendo direcionada a perder a relação do espaço de convívio com os ambientes acadêmicos. Pode-se observar esta relação, conforme comparativos apresentado nas plantas do Complexo Theatro – Unidade 5, 6 e 7 do Campus Vila Olímpia, edifícios projetados para o uso acadêmico. Figura 81 – Planta do pavimento tipo do Prédio de Vidro (3º andar) Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora 123 Esta análise permite observar, a segregação do Pode-se notar, também, a disposição das galerias de espaço de convivência, como é o campo visual do usuário ao circulação, que permitem isolamento e clausura dos espaços caminhar pelas galerias de circulação, como é a relação entre acadêmicos, a disposição é idealizada para otimização da aberturas e fechamentos dos espaços e como que com o área construída de salas de aula, o que resulta no passar distanciamento desta a área com o convívio. do tempo os ambientes enclausurados vão aumentando. Em um recorte destas áreas por unidade, é possível No Prédio de Vidro, a única barreira visual das observar a evolução da circulação até a restrição da galeria. galerias para a área de convivência é proporcionada pela Estas galerias de circulação, assim como as salas de aula circulação vertical representada pelos elevadores. Elevadores tradicionais também, apresentam sua aptidão educacional na estes que são panorâmicos e possibilitam visualizar todo o dimensão lúdica de espaços concebidos para a vida coletiva. cotidiano de seu interior. São locais que refletem a harmonia e a totalidade da Na unidade 7, ainda é possível ter contato com a área diversidade do conhecimento e deveriam chamar a atenção de convivência. Ela é interrompida também pela circulação para a riqueza que trazem ao processo de aprendizagem, vertical representada pela escada. A escada por ser, pelo simples fato de também permitir a troca de informação, completamente, vazada possibilita visão parcial do convívio, seja ela relevante ou não. obstruído apenas pela distância entre o patamar da galeria No Prédio de Vidro, em declarações colhidas na de circulação e o patamar da escada. Contudo a área de visão construtora (19/07/11), a proposta do vazio central seria de é bem reduzida, diante da disposição das salas e pátio fácil execução com pilares estruturando as extremidades, central. facilitando o processo construtivo e agilizando o prazo da Já na Unidade 5, inicia-se o princípio de exclusão da obra, porém o arquiteto já previa o balanço da galeria de relação convívio e galerias de circulação, sendo que o contato circulação, consequência da ausência de pilares. Na visual com a área de convivência é quase nulo. concepção arquitetônica, a presença da estrutura interferiria 124 125 Figura 82 – Planta do pavimento tipo da Unidade 6 Planta esquemática para análise do campo visual do pavimento tipo do Prédio de Vidro (2º andar), projeto arquiteto Francisco Petracco, 2001 Figura 83 – Pavimento tipo da Unidade 7 Planta esquemática para análise do campo visual do pavimento tipo do Prédio de Vidro (3º andar), projeto arquiteta Deise Marques Araujo, 2003 Figura 84 – Pavimento tipo da Unidade 5 Planta esquemática para análise do campo visual do pavimento tipo do Prédio de Vidro (3º andar), projeto arquiteta Deise Marques Araujo, 2005 Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora 126 no olhar, no diálogo sobre o espaço coletivo, no desenho do conhecimento com o professor, a pressa desajeitada do espaço que deveria ser percebido dos múltiplos pavimentos, atrasado ou, simplesmente, a concentração no olhar distante sem interrupção, como se fosse um balcão de contemplação, do estudante. um mirante aos movimentos acadêmicos; e deveria ser executado de acordo com o projeto do arquiteto. Enquanto a proposta para as salas de aula, separadas da cidade por uma pele de vidro, também traduzem uma filosofia educativa: estar em contato com a sociedade, proporcionando uma nova experiência acadêmica. A ideia da sala que capta a mítica relação entre a natureza e o conhecimento, utilizando-se da transparência para demonstrar ações urbanas como o tempo e o espaço, expõe o usuário a atuar sua experiência. O usuário torna-se artista e plateia de e para a cidade, neste palco que encena a ensino de forma dinâmica e aberta. Já as galerias de circulação, tradicionalmente, construídas como lugar de passagem, foram projetadas oferecendo uma percepção do entorno educacional de forma instantânea, um flash para a memória. Na condição proposta por Petracco, a circulação permite que a paisagem seja um quadro a ser apreciado, tendo como tela de fundo o jeito acadêmico, a conversa descontraída com o colega, a troca de Figura 85 - Unidade 06, projeto de 2001 Planta esquemática para análise da galeria de circulação – salas abertas para o átrio central Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora 127 Figura 86 - Unidade 07, projeto de 2003. Planta esquemática para análise da galeria de circulação – salas parcialmente abertas para o átrio central Figura 87 - Unidade 05, projeto de 2005. Planta esquemática para análise da galeria de circulação – salas abertas exclusivamente para a galeria de circulação Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora 128 Figura 88 – Átrio Central A - Vista do Átrio central a partir das galerias de circulação; B- Vista do Átrio Central a partir do 2º pavimento. Fonte: Arquivo pessoal da autora 129 Figura 89 – Vista da galeria de circulação para o átrio de convivência, destaque para o campo de visão proporcionado pelo vazio central, com detalhes da caixa do elevador panorâmico, que com a porta aberta possibilita a vista da escada principal ao fundo e da distribuição da circulação nos três pavimentos. Fonte: Arquivo pessoal da autora 130 Na circulação vertical, os elevadores panorâmicos, são exercícios de perceptibilidade construtiva. Mais uma releitura do pensamento de Mies van der Rohe, sobre a arquitetura de “pele e osso”; ou seja, estrutura e membrana externa que unem técnica e detalhes gerando vazios espaciais que serão preenchidos com vida. Envolto por uma malha estrutural vazada, os elevadores, evidenciam a habilidade acadêmica. Ensinam através de suas engrenagens como é o seu funcionamento. É como se o edifício tivesse vida e fosse possível vê-lo pulsando, transportando os usuários em seu eixo, conduzindo, distribuindo os estudantes por entre os quatro pavimentos num ato de comunicação e encontro. Assumindo o papel de passeio e portal de contemplação, consentindo ao usuário novos ângulos para o olhar e notar a Academia. Figura 90 – Estrutura metálica de sustentação da caixa do elevador. É possível observar as engrenagens do elevador em movimento. Fonte: Arquivo pessoal da autora Figura 91 – Circulação vertical A – Vista da galeria de circulação para o átrio central, com destaque para a estrutura do elevador; B – Engrenagens da circulação vertical; C – Vista dos elevadores no 2º pavimento, destaque para a estrutura metálica e o fechamento em vidro, conforme proposta da Arquitetura Moderna de Mies van der Rohe; D- Detalhe do elevador em movimento; E – Acesso a circulação vertical, porta do elevador aberta; F – Acesso a circulação vertical, porta dos elevadores fechada destaque para a transparência da estrutura com vista para o átrio central. Fonte: Arquivo pessoal da autora 131 132 E por fim a escada principal, o espiral de entrada ao conhecimento. Envolta por uma caixa quadrada cercada por vidros, circular pela escada principal conectando-se a todos os pisos, é um “passeio arquitetônico”, conforme proposto por Le Corbusier⑮. Em um lance evidencia o entorno com a paisagem externa, em outro patamar revela a arquitetura e sua paisagem interna e por vezes comprova a presença marcante da estrutura do edifício. Suspensa do chão por uma estrutura de tirantes, em um gesto de composição, a escada foi disposta sobre um espelho d´água com uma rotação de 45º em seu eixo. A intervenção gerada por este movimento evidencia a leveza do volume resultante dos novos ângulos agudos e obtusos da fachada, promovendo uma aresta que imprime a centralidade, não só da escada, mas do cubo como um todo. Figura 92 – Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua Casa do Ator, com destaque para a escada principal, estruturada por cabos de aço, compondo o volume de aço e vidro Fonte: Arquivo pessoal da autora 15. Ver Le Corbusier em Por uma arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 1994. 133 Minha primeira obra em aço, porém com partido de que se assemelha muito à primeira escola projetada há quase quarenta anos atrás. Duas alas de salas de aula e um grande vazio central, fechado na parte frontal por uma cortina, vazado pelo volume de uma escada com sabor de escultura e na posterior pelas salas de Coordenação e Laboratórios pertinentes. Como na precedente o vão central é generoso, 15,40 m antecipado por um maior, de quase 33m. Os mesmos anseios dos passos fluidos, onde as circulações horizontais e verticais servem de espaços para o comportamento coloquial de interação. O grande saguão é um espaço árido onde as pessoas constroem sua dinâmica, através de encontros cotidianamente sistemáticos dos diálogos acadêmicos com a riqueza de seus pés-direitos descontínuos e variáveis. As salas de panos de vidros refletem o convívio com a sociedade expondo-se e magnetizando. A busca da harmonia se faz na repetição da linguagem estrutural de seus componentes principais, sempre solicitadas a grandes vãos e no espaço térreo, já em detalhe, pelo ritmo de suas lajes mistas de formas metálicas. A escada tem a tem a proposição de não macular a generosidade do térreo de vivência, tão esquecido nos programas contemporâneos de escolas e por isso não apoia no chão, está alçada por três tirantes que se pendem a cobertura e se engasta nas vigas dos andares, refletindo-se no espelho d’água, como se fosse o acesso virtual do conhecimento. (Tese de Doutorado - Petracco, 2004 . Memorial do projeto para o Campus Interlagos da Universidade Anhembi Morumbi. pág. 261) Figura 93 – Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua Casa do Ator, com destaque para a escada principal, suspensa por cabos de aço. Fonte: Arquivo pessoal da autora 134 Figura 94 – A espiral do Conhecimento. A - Vista da escada principal a partir da cobertura, com detalhe para o rebaixo do piso para o espelho d´água que não foi finalizado . B - Detalhe de fixação do cabo de aço que sustenta a escada principal, que mesmo em seu ponto de apoio mantém a escada solta da estrutura . C – Vista da escada principal a partir do espelho d´água. D- Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua Casa do Ator, com destaque para a escada principal, suspensa por cabos de aço. E – Vista da caixa de vidro do espiral do conhecimento, a partir da cobertura. Fonte: Arquivo pessoal da autora 135 Figura 95 – Descobrindo o Prédio de Vidro, a partir da espiral do conhecimento. A – Vista para a área externa; B – Vista para a área interna: pavimento; C – vista para área interna: térreo; C – Vista da cobertura para o térreo; D – Vista do espelho d´água para a cobertura de vidro. Fonte: Arquivo pessoal da autora 136 Diante dos estudos realizados para o projeto, Do Chico patrão, aprendi a melhor relação Petracco (22/07/11) conta que convida o aluno do curso de entre funcionário e empregados. Aprendi as arquitetura Luis Cláudio Araújo, ciente de que este tinha coisas boas e ruins, pois como era só eu domínio em programas digitais, para desenhar o projeto trabalhando pra ele percebi que eu deveria executivo de arquitetura em AutoCAD. Também participaram ser um de seus fatores motivacionais. Ele deste projeto Ana Lydia Faria, Leonardo Lenharo e Luiz sempre me contava dos momentos áureos de Crepaldi. seu escritório, cheio de desenhistas e muitos Para Araújo (14/07/11), a experiência em trabalhar trabalhos (...). Eu mesmo não sei dizer como com “Chico”, como Petracco é conhecido por ele, foi um era, mas uma colega minha, Adriana Barbosa, grande aprendizado. que chegou a visitar seu escritório, na Rua Itápolis, me dizia que lá era cheio de Eu sempre tive a visão “romântica” da arquitetura e pude vivenciar parte dela em meus trabalhos com Chico. Como eu era técnico em edificações já havia trabalhado em escritórios antes de trabalhar com ele e até hoje foi a melhor relação chefe funcionário que já tive. (Depoimento de Araújo em 14 de julho de 2011) desenhistas trabalhando. Então sendo o seu único funcionário pude acompanhar projetos em seus primeiros traços e participar em alguns pequenos momentos destes, mas minha função maior era tornar o seu desenho digital. Passá-lo para um AutoCAD, Araújo descreve poeticamente a experiência no escritório como se fosse “uma janela que se abria em um quarto fechado”, e que lhe possibilitou conhecer três Chicos durante o período acadêmico: o Chico-Patrão, o ChicoCoordenador e o Chico-amigo. Sobre o Chico-Patrão ele comenta:. CorelDRAW, etc. O que não era fácil porque ele valorizava muito o traço e sentia a perda da sua identidade quando via seus projetos na tela de um monitor. 137 ano da faculdade, assim que Araújo vai trabalhar na Ao sair do escritório em 2000, Araújo trabalha com a Systemac. Explana sobre a oportunidade de trabalho no empresa Sistemac até 2002, por indicação do próprio projeto que acredita ter “identidade e caráter próprio”. Para Petracco. A empresa era responsável pela estrutura metálica Lenharo a riqueza da experiência estava nas conversas que do Prédio de Vidro, onde Araújo vai trabalhar no projeto da teve com o arquiteto em seu ateliê nos finais de semana ao escada principal fazendo parte da equipe que projetou e detalhar o projeto que considera ser “um espaço livre e de executou os detalhes da circulação vertical metálica. contato entre todos alunos e professores”. Luiz Fernando Crepaldi (13/07/11) era responsável Ana Lydia Faria (22/03/11) conta que trabalhou com pelas maquetes eletrônicas da primeira proposta e do “Chico Petracco”, em um primeiro momento, como estagiária projeto final do projeto e teve participação nos desenhos e depois como assistente de curso na função de assistente de executivos. Recorda do final de semana, faltando apenas três pesquisa dos professores da faculdade de Arquitetura e dias para o prazo final de entrega do projeto para a Urbanismo. Quando participou do projeto da Unidade 6 o universidade, as pranchas ainda não estavam finalizadas, e a prédio já estava concluído, desta forma desenvolvia desenho convite de Araújo auxilia nestes desenhos. Crepaldi ao para apresentação do projeto aos mantenedores, participou caminhar experiências de novos projetos para implantação do auditório e profissionais, mas também das acadêmicas onde o professor desenvolveu detalhes de paisagismo. Ana Lydia refere-se à Jose Henrique Seraphim, professor de estrutura metálica da Petracco com muita calentura, relembrando o aprendizado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade que adquiriu com o professor, o coordenador e o arquiteto. Anhembi Morumbi, apresentava aos alunos o canteiro de Posteriormente, conheceu melhor a produção arquitetônica obras do Prédio de Vidro. de Petracco quando foi convidada a participar da equipe que pelo edifício relembra das Leonardo Lenharo (14/07/11) comenta que foi convidado a participar do projeto quando estava no segundo trabalhou na pesquisa de digitalizando parte de sua obra. doutorado do arquiteto, 138 139 Figura 96 –Evolução do Prédio de Vidro A - Primeiro estudo volumétrico para aprovação do projeto da Unidade 6, junto a Prefeitura de São Paulo, desenvolvida pela Construtora Sobrosa. Fonte: Acervo Construtora Sobrosa B - Maquete eletrônica da primeira proposta para o Prédio de Vidro, desenvolvido por Luis Crepaldi. Fonte: Acervo Construtora Sobrosa C - Maquete eletrônica da proposta final do Prédio de Vidro, desenvolvida por Luis Crepaldi. Fonte: Acervo Construtora Sobrosa D - Primeira publicação do Prédio de Vidro no Catálogo do Processo Seletivo de 2001 . Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi 140 Pelas maquetes eletrônicas do Prédio de Vidro é opacas, fazendo as salas tornarem-se infinita; e, por fim, possível observar a evolução do projeto, como o arquiteto foi surge o espelho d´água compondo a expressividade do soltando o traço, e concluindo seus pensamentos e ideais em edifício, contrapondo a dualidade do peso na solidez da um volume mais equilibrado e intenso. A arquitetura buscou forma e leveza do estado líquido da água. A cobertura da sua identidade, e já nos primeiros esboços, sugeriu a sua escada remete uma leitura da cúpula coroando o elemento conduta acadêmica, representou sua estrutura e conversou de destaque que agora, embora suspenso do chão, chega até com o entorno. o pavimento térreo. Na primeira maquete do estudo volumétrico do A última maquete eletrônica aprovada reforça o cubo projeto, nota-se que o volume já estava resolvido com a conceitual, demonstrando a presença de um auditório presença marcante da escada principal, no eixo da edificação proposto no térreo. A fachada impõe sua presença com um direcionando o foco do olhar em um sentido de ascensão. jogo de tecnologia e rigidez, resultante da estrutura; cheios e Chama à atenção a posição da escada de acesso entre o vazios, decorrentes dos panos de vidro; e abertos e fechados, mezanino e o térreo. Deslocada do eixo central do edifício consequência do desenho volumétrico. Agora, o coroamento para próximo da garagem, talvez demonstre que o intuito do da escada se faz pela expressão espiritual da pirâmide de arquiteto sempre foi soltar a circulação vertical principal do vidro que lembra o conhecimento egípcio e toda sua forma chão, mas sem a confiança de como seria. Também é possível clássica. observar a presença da estrutura, não com a ênfase do projeto final, mas participando do conjunto. A pedido de Delduque (26/07/11), esta última imagem foi ampliada e emoldurada para ser exposta na área As alterações exploradas por Petracco, na segunda administrativa da universidade, na sala do departamento de maquete, revela a força do projeto. A estrutura torna-se obras e projetos do Campus Vila Olímpia, lá permanecendo evidente expondo seu esqueleto rígido e tecnológico; a pele até 2003 quando o departamento é transferido para o de vidro confirma sua presença abolindo as paredes sólidas e Campus Centro e em seguida extinto. 141 Atualmente, não se sabe onde este quadro está guardado. E, por último, a fotomontagem que foi feita a partir do edifício finalizado para o Catálogo do Processo Seletivo feito pela Universidade Anhembi em 2001, sendo a primeira publicação impressa da instituição com a apresentação do projeto. Esta imagem prova a concretização do desenho idealizado pelo arquiteto e a realização do conjunto de espaços projetado a partir da combinação do aço e do vidro. Com o surgimento dos cursos de Graduação Modulada, novos catálogos são elaborados publicando o projeto do Edifício Theatro Casa do Ator. Figura 97 – Capa do Catálogo do Processo Seletivo de 2001, formato A4, apresentando o Prédio de Vidro para os alunos e candidatos Fonte: Acervo Anhembi Morumbi 142 2.3.2 A Estrutura Figura 98 – Fachada frontal do Prédio de Vidro, com destaque para a estrutura em aço e vidro Fonte: Tese de Doutorado Petracco, 2004 Podemos afirmar que a Estrutura, em termos físicos, seja a sistematização dos elementos construtivos que formam uma determinada composição arquitetônica. Da mesma maneira ela compareceu na formação de todos os corpos, sejam concretos ou abstratos. Não seria exagero dizer que a Engenharia, forjada na Revolução Industrial com suas novas propostas, Ter, de certa forma, se sobreposto à Arquitetura no comportamento técnico profissional relevante, em virtude desta preocupação. Mas Estrutura como a vemos não é um mero dimensionamento de peças e sim proposta plástico-estética, filosófica até, e por isso aquela impressão tecnicista se dissipa. Pensamo-la como formalizadora, da asa de um pássaro, às costelas que abrigam os pulmões, à estrutura dos espaços construídos, assim como a estrutura de todos os processos compositivos, que se observa em todas Artes Plásticas, na Poesia, Música etc e, por que não, também nas ciências. (Petracco, 2004, pag.429 a 431) 143 Embora a unidade 6 seja conhecida como Prédio de aliança com o aço, grande parte graças às condições Vidro, o que marca sua presença, na Rua Casa do Ator, é a adequadas da distancia com mar, a presença do minério do estrutura do edifício. A leveza do aço, somado a liberdade do ferro no solo e o apoio tecnológico da Usina Siderúrgica de vão livre e a originalidade do projeto alude a linguagem da Minas Gerais (Usiminas). Mas foi na arquitetura corporativa arquitetura brasileira a partir de um apelo tecnológico, como nacional que esta estrutura vem se destacado. Muito pelas o paradigmático edifício de Mies van der Rohe para o Crown possibilidades estruturais e soluções técnicas, contudo mais Hall. pela questão econômica e simbólica. A construção metálica Para Andrade (2006), apesar de o Modernismo Brasileiro destacar o uso do concreto armado em suas proporciona a redução no desperdício de material de construção e transmite a imagem do progresso. edificações, alguns arquitetos identificaram vantagens na Apesar das facilidades apontadas, pode-se observar construção com aço, tais como liberdade projetual graças a que a mão-de-obra qualificada para este método construtivo possibilidade de desenvolver projetos mais expressivos, ainda é escassa; o custo da obra, embora sem desperdício, flexibilidade no uso em virtude do sistema geométrico ainda é mais caro que a construção em concreto; e a modular, maior área útil obtida através de vãos estruturais produção em larga escala ainda não está tão pronta a maiores, menor prazo para execução decorrente do produzir e construir, proporcionando a redução do déficit planejamento sistematizado, abertura de frente de trabalho habitacional por exemplo. simultânea, e fabricação do material. Petracco (22/07/11) conta que, embora já tivesse Ainda segundo Andrade (2006), as primeiras feito stands para exposições, o Prédio de vidro foi sua construções metálicas aconteciam como uma reprodução da primeira obra metálica. Uma audácia projetada para ser linguagem do concreto armado, sem evidenciar o material emocionante, uma entrada por um pórtico metálico do utilizado. Com o passar do tempo, “a primeira grande saber. Esta estrutura, realmente, compõe um pórtico, renovação” pós-modernista mineira abre espaço para a chamado de indeformável devido à estabilidade obtida pelos S.R. Crown Hall (1956), Faculdade de Arquitetura no Instituto de Tecnologia de Illinois em Chicago, projetado pelo arquiteto alemão Mies van der Rohe. 144 fachada em duas treliças horizontais e duas treliças verticais. As treliças horizontais são vigas que vencendo o vão longitudinalmente no prédio, absorvem as forças verticais atuantes na edificação, a exemplo a própria força da gravidade. Enquanto as treliças verticais estabilizam o Prédio de Vidro contra os esforços horizontais que agem perpendicularmente a estrutura do edifício, como por exemplo a ação dos ventos. Os contraventamentos apresentam perfis em “I” de 0,20 x 0,20 metros, dimensionamento que garante a Figura 99 – Corte esquemático da concepção estrutural com as cargas acidentais proporcionadas pela ação do vento e da gravidade Fonte: Desenho da autora travamentos em X. De acordo com Salvadori (2006), essa estabilidade deriva da resistência que a estrutura tem frente às forças, basicamente, de ventos laterais e terremotos, assegurada pelos encaixes rigidamente presos as vigas e pilares. Esta estrutura, não só canaliza as forças externas para o solo como também resistem com um balanço relativamente pequeno. No Prédio de Vidro, Petracco utiliza da estabilidade proporcionada pela estrutura para compor a estética da estabilidade da edificação deixando-se aparente os formatos em “X” na fachada. No plano horizontal, as lajes do primeiro pavimento e da cobertura auxiliam o contraventamentos da fachada, reforçando a estrutura contra as ações e efeitos do vento. Nas fachadas, a estrutura do térreo apresentam vãos de 33 metros de largura, na fachada frontal, e 17,50 metros nas fachadas laterais. Para vencer tais vãos, o projeto exigiu perfis de viga soldada (VS) de 0,35 x 0,30 metros na parte inferior com vãos de treliça de 3,50 metros; e perfis coluna viga soldada (CVS) de 0,35 x 0,35 metros na parte superior com vãos de treliças de 2,60 metros. 145 Figura 100 – Croqui do Prédio de vidro com dimensionamento dos vãos e estrutura Fonte: Croqui elaborado pela autora 146 Este dimensionamento permite que a treliça superior estruture o projeto por tração sustentando todo o peso entre o terceiro e quarto andar, enquanto a treliça inferior trabalha por compressão, suportando todo o peso do mezanino ao segundo pavimento; por fim, transmitindo as cargas das lajes de steel deck até o solo. Além da compressão, a treliça inferior sofre um esforço maior por ser uma treliça de transição de onde nascem novos pilares que Figura 101 – Fachada esquemática da concepção estrutural, apresentando a disposição das treliças e os esforços atuantes na estrutura, no qual a treliça horizontal absorve os esforços verticais, enquanto a treliça vertical absorve os esforços horizontais. Fonte: Desenho elaborado da autora sustentam o edifício e descarregam as cargas nos pilares da extremidade. É a existência desta viga que possibilita que a fachada apresente seu vão central com 33 metros. O piso de steel deck utilizado no projeto do Prédio de Vidro, consiste em formas metálicas com aplicação de concreto no formato trapezoidal. Conforme Dias (1997), o desenho geométrico de trapézio, das chapas, aumentam as propriedades de resistência, permitindo vencer maiores cargas e vãos sem apoios intermediários. O concreto trabalha em conjunto com a chapa, evitando deformação. Economicamente, assume a função de fôrma, evitando Figura 102 – Corte esquemático da concepção estrutural com a distribuição dos esforços aplicados na edificação Fonte: Desenho da autora gastos com madeiramento e permitem a instalação de 147 conectores, podendo ser calculada pelo sistema misto, ou seja, ligação de aço e concreto. Por recomendação da empresa que executou a estrutura, todos os perfis são soldados. De acordo com Dias Na planta quadrada do edifício, a modulação (1997), para a fabricação de perfis estruturais de aço determina o compasso da estrutura, uma presença seriada soldados é exigido um esboço da composição exata do perfil, de perfis metálicos que permitem a flexibilidade espacial com com as características geométricas, marcação das bordas e vãos dispostos, aproximadamente, a cada 3,50m. Como a extremidades componentes, a altura do cordão da solda, etc. proposta idealizou o uso de divisórias de dry-wall para Este processo embora trabalhoso permite grande variedade fechamentos internos, as salas apresentariam disposições de formas e dimensões entre as seções maleáveis de acordo com a demanda do curso ou solicitação administrativa. Embora a planta de estrutura apresente a modulação Diferente da Unidade 7, toda a estrutura do Prédio de Vidro, além dos perfis, apresenta suas conexões soldadas, conservando a continuidade do material e suas propriedades. de 3,50 metros, as vigas lançadas no piso vencem vãos de 8,0 metros, diferente do padrão de piso steel deck normatizado em vãos máximos de 4,0 metros. Isto acontece, porque a Systemac desenvolveu um sistema para aplicação do piso com uso de ferragens para aumentar a resistência do piso, o que possibilita laje pré-fabricada trabalhar como uma laje nervurada, utilizar menos perfis durante a execução e baratear o custo da obra. Contudo, por estar bi apoiada sobre a viga, a movimentação da estrutura facilita o surgimento de fissuras no piso. Figura 103 – Detalhamento do piso de Steel Deck com apresentação da malha estrutural de distribuição e a presença de perfis de ferro CA50 Fonte: Acervo Sobrosa Construtora 148 De acordo com Dias (1997), a vantagem no uso de conexões soldadas é a maior rigidez nas ligações; redução de definido, controle de deformação compatível à corrosão atmosférica, entre outros itens. custo de fabricação, não gerando a necessidade de fazer Independe se a estrutura é soldada ou parafusada, furações e produzir parafusos; além da redução na segundo Salvadori (2006), para que o aço, quando exposto a quantidade de aço, já que as conexões apresentam-se intempéries, não enferruje é preciso fazer uma pintura compactas e um melhor acabamento final para limpeza e periódica para impedir a oxidação. Esta pintura, conhecida pintura. como tinta intumescente retarda a propagação de chamas e No caso da Unidade 7, a estrutura é parafusada com a elevação da temperatura do aço, sendo premissa básica parafusos de alta resistência exigindo mais cuidado na exigida pelo Corpo de Bombeiro para liberação do Auto de compra, visto que as ligações tem controle de aperto Vistoria do Bombeiro (AVCB). Delduque (26/07/11), relata que ciente do alto custo da pintura, durante as vistorias para o obtenção do AVCB, os fiscais apresentavam alta rigidez na validação dos projetos, sendo necessário desenvolver uma série de laudos comprovando o uso da tinta para emissão de documentação e liberação do Prédio de Vidro para funcionamento. Apesar do valor reconhecido, a tecnologia da estrutura de aço, a transparência da pele de vidro, do partido arquitetônico abraçar questões referentes ao espaço interno e externo trabalhando a continuidade visual, o edifício Figura 104 – Detalhe de conexões nas treliças. A – Unidade 6 com conexões soldadas na treliça frontal. B – Unidade 7 com conexão parafusada na estrutura do átrio central. Fonte: Arquivo pessoal da autora apresentava algumas questões a serem discutida referente ao conforto ambiental da edificação. 149 Em um estudo realizado por pesquisadores do IPT, “Não recomendaria. Pela fachada de vidro, muita sobre a sustentabilidade nos aspectos de conforto e luz natural, pouca ventilação nas salas de aula e desempenho das edificações, reconhece-se que a sensação áreas pouco aproveitadas.” E.H. aluno de conforto é subjetiva. Em artigo para a revista Téchine, os pesquisadores atribuem a definição da norma ASHRAE 55 como a melhor explicação do termo, quando se diz que o conforto térmico é a condição mental que expressa a “Não recomendaria. Existe vazamento sonoro entre as salas. Elevadores em sua maioria sempre em manutenção. Chove nos laboratórios e salas de aula. Piso cheio de irregularidades. Banheiros satisfação com o ambiente térmico de forma individual, mal cheirosos por problemas de esgoto. Anexos sendo impossível conseguir condições satisfatórias a todos os entre unidade 6 e 7 perigosos por terem baixo ocupantes do ambiente ao mesmo tempo. parapeito e quando chove a aderência do piso e No questionário realizado pela autora com usuários insatisfatória”. A.F. ex-aluno e funcionário do espaço, no primeiro semestre de 2011, foram levantadas algumas reclamações relacionadas ao conforto ambiental do Prédio de Vidro, sendo que uma pequena parcela das 80 respostas colhidas, quando indagados se recomendariam ter aulas no Prédio de Vidro, responderam que o edifício apresenta certo desconforto térmico. “Definitivamente não recomendaria. O prédio sofre de super insolação, o que em alguns momentos do dia torna impossível ver com clareza a lousa, ou utilizar projeções. O calor também se tornava um problema. O uso de ar condicionado é pouquíssimo eficiente, pois não há isolamento eficiente nos painéis de vidro “Definitivamente recomendaria. Apesar de sentir (vidros duplos ou algo assim) ou nas divisórias falta do conforto térmico.” R.G. Funcionário internas. O pátio interno é amplo, porém não propicia real integração entre os ambientes.” P.K. “Recomendaria, apesar do conforto ambiental falho.” A.M.R. Professora ex-aluno 150 Diferente do projeto original, onde consta o detalhe garantindo que o ambiente passasse da claridade à do brise-soleil nas fachadas laterais da edificação, durante a penumbra sem interferir na qualidade espacial e no conforto construção do Prédio de Vidro o orçamento para instalação ambiental das salas. deste elemento de contenção de raios solares, amplamente Para Corbioli (2001), a seleção do vidro para uma utilizado na composição da arquitetura moderna prevenindo edificação deve ser avaliada de forma ampla e com contra a incidência direta de radiação solar no interior do planejamento em longo prazo, pois uma instalação edifício, não é aprovado. equivocada de material pode trazer problemas diversos de Perante a exclusão deste dispositivo arquitetônico, acordo com o seu comportamento nas distintas condições do seria fundamental a escolha de um vidro, tecnologia ou dia-a-dia; e uma possível correção, às vezes, torna-se inviável tratamento adequado à incidência de radiação solar, pelo custo da troca ou da tecnologia a ser empregada. Segundo o autor, a luz solar pode ser dividida em três componentes, sendo a luminosidade, responsável pela iluminação dos ambientes; os raios infravermelhos que causam o aquecimento do espaço; e os raios ultravioletas, responsáveis pelo desbotamento. Já o vidro pode se classificar em três tipos, o incolor comum que é utilizado apenas para o fechamento deixando passar a luz e o calor; os coloridos que apresentam grande capacidade de absorção de raios infravermelhos, e que consequentemente diminuem o Figura 105: Sala de aula padrão com uso de cortinas tipo “black out” como forma de contenção da claridade em momentos que o espaço exige uma iluminação mais baixa, por exemplo para uso de equipamento de projeção . Fonte: Acervo da autora aquecimento do ambiente; e os metalizados que refletem boa parte da radiação solar. A combinação entre estes tipos 151 de tratamentos nos vidros garantem efeitos capazes de Quanto maior o fator solar pior o desempenho energético do transmitir, refletir e absorver melhor as radiações solares. material, e consequentemente mais uso do equipamento. No Em casos como o do Prédio de Vidro, para solucionar caso da unidade 6, que não apresentava em seu projeto problemas referentes ao calor nas salas, de acordo com original o sistema de ar condicionado, justificaria a falta de Corbioli (2001), os vidros deveriam ter índices na faixa de cálculo na capacidade do material em relação ao sistema; 20% a 30% voltados para a transmissão do calor. Estes contudo, poderia ter sido previsto o processo de metalização índices estão relacionados a cor dos vidros. O problema é garantindo o sombreamento do vidro e uma boa reflexão que quanto menor os índices, mais escuros ficam os solar. ambientes, criando a necessidade do uso de lâmpadas para iluminar as salas mesmo em dias claros e ensolarados. Referente ao conforto acústico, parte dos problemas relacionam-se ao uso de vidro na fachada, que segundo Referente ao sistema de ar condicionado, Corbioli Corbioli (2001), adotar vidros duplos auxiliariam no (2001) atribui ao tipo de arquitetura, guiada pelos padrões isolamento. Para Schaia Akkerman, sócio-diretor da Acústica estrangeiros, a necessidade de se adotar a instalação destes Engenharia, é de fundamental importância para a acústica, a equipamentos, que por causa do aquecimento das salas são compatibilização de projetos de estrutura, caixilharia, vidros, frequentemente Joana ar condicionado, iluminação e interiores, visto que cada ruído Gonçalves, do departamento de tecnologia da arquitetura da gera uma curva acústica distinta, e o que pode parecer USP, o fato de permitir a ventilação cruzada no período inofensivo, como um sistema hidráulico, quando não tratado noturno, muito auxiliaria na dissipação do calor acumulado pode acarretar efeitos sonoros desagradáveis para dentro do ao longo do dia, resfriando a estrutura no primeiro horário ambiente. utilizados. Por orientação de do dia seguinte. No caso do Prédio de Vidro, a região onde está Outro fator que exige o constante uso do ar localizado gera um problema ainda maior, o barulho causado condicionado é o coeficiente de sombreamento do vidro. pelo intenso tráfego e rota de avião, ruídos graves, são os 152 mais difíceis de isolar, determinando o uso de lâminas algumas tecnologias para tratamento do vidro, cortinas espessas para barrar as frequências variadas, fato que não foi automatizadas ou revestimentos acústicos eram escassas no instalado nesta unidade, talvez por problemas no orçamento mercado ou apresentavam alto valor de investimento, bem ou pronta-entrega de material. como poderiam demandar uma customização do material Mas não só do vidro depende a boa acústica, o para o ambiente, fatores que justificariam a não instalação ambiente também precisa ser bem vedado, as divisórias de materiais mais eficientes. Contudo as sugestões entre as salas de aula deveriam conter revestimento acústico elaboradas pelo arquiteto, tal como o brise, também, foram interno, ou ao menos que as divisórias se prolongassem até o descartadas durante a construção, prejudicando as condições teto acima do forro, evitando que o ruído de uma sala fosse ambientais do edifício. Estas modificações geram discussões transmitido para a outra. O que se observa na unidade 6 é e algumas impressões negativas referentes à qualidade do que a divisória, sem o revestimento interno, termina assim projeto, tais como apresentadas nos depoimentos de alunos, que o forro é instalado, trazendo mais um problema ao ex-alunos e professores na recomendação do espaço. conforto ambiental do edifício. O que fica evidente é que o elemento de destaque da A implantação do edifício que privilegiou a escada na Unidade 6, o vidro que motivou o apelido do prédio, deveria face frontal auxilia a acústica criando uma barreira e ter sido tratado com mais dedicação, já que a quantidade de reduzindo as condições de exposição do ruído que vem da material utilizado e o conhecimento dos problemas que rua. O projeto utiliza-se do vazio central para uma melhor poderiam provocar eram inequívocos. O edifício, que situado ventilação cruzada, pouco sendo utilizado por questões de em uma área de alto trafego, sofreria das interferências segurança com relação aos equipamentos de multimídia que sonoras constantes, e a proposta de translucidez exigia maior ficam dentro das salas. cuidado durante sua execução, maior investimento, recursos Sabe-se que durante a idealização do projeto, e tratamentos especiais. 153 precisava traçar uma relação entre a forma exigida pela 2.3.3 O Ritmo legislação e os ideais de projeto. Esta dialética exigia valores estéticos a ser incorporado na arquitetura como resposta ao Podemos considerar Ritmo em Arquitetura como a organização compositiva dos espaços, obtida por meio da disposição harmônica de elementos construtivos, sejam vedos ou estruturais. (Petracco, 2004, pág. 451) processo de consolidação do Campus, insinuando um edifício com característica para multiuso, que acompanhasse a dinâmica da instituição. Esta condição foi o que reforçou a importância do ritmo na edificação. O edifício que é quase um quadrado com a Petracco (2004), no texto sobre ritmo, reconhece a capacidade de abrigar 1.800 alunos distribuídos entre térreo, importância de parâmetros no ato projetual, sendo o mezanino e quatro pavimentos. Além de possuir dois principal a modulação, que apesar de estabelecer limites e subsolos para estacionamento. restringir ideias, organiza o pensamento arquitetônico. Esta No térreo foi proposto um auditório com capacidade modulação expressa o compasso da edificação, que abriga o para 180 lugares, com plateias distribuídas entre o térreo e o programa, os anseios do arquiteto, representa seu repertório mezanino, que veio a ser implantado na construção vizinha, a e retrata sua proposta. Enfim, é o ritmo do projeto. Unidade 7, com a capacidade para 420 lugares, atendendo Ainda segundo Petracco (2004) “o arquiteto é o eventos de maior porte. Os fechamentos verticais seriam agente transformador da cultura e da identidade de sua realizados com a modulação de painéis de madeiras sociedade”, assim expressa na arquitetura valores que pivotantes; uma contraposição entre o material tradicional e vinculem o projeto ao âmbito da cultura, seja relacionado a a estrutura inovadora. Contudo, para atingir uma área de linguagem arquitetônica, ao posicionamento da instituição, 8.125m² construídos, ocupação máxima aprovada pela ou na relação com a sociedade. Prefeitura, foi considerada e aprovada a exclusão do Para a composição do Prédio de Vidro, o arquiteto auditório. 154 A - Planta do pavimento térreo com plateia do Auditório B - Planta do mezanino com plateia do Auditório Fonte: Acervo da Universidade com edição da autora 155 C - Corte Longitudinal com representação do Auditório D - Fachada posterior com representação do Auditório no pavimento térreo Figura 106 - Projeto do Auditório no Prédio de Vidro, projeto de Francisco Petracco Fonte: Acervo da Universidade com edição da autora 156 16. Não foram encontrados, nos registros da universidade, dados sobre arquiteta que restaurou a Capela tais como nome ou referências de projeto em que atuou. O nome Beth foi mencionado pelo engenheiro Delduque quando comentava sobre o projeto e das recordações de algumas reuniões que fizeram durante a obra de restauro. Esta escolha, que por um lado excluiu um importante esquadria metálica. Parte do telhado foi refeito sendo equipamento do universo acadêmico, destacou a estrutura substituída parte das telhas de barro existente por telhas de metálica modulada; gerou uma área de pilotis, símbolo da vidro translúcidos sobre o altar, melhorando a iluminação Arquitetura Moderna e precursora na linguagem de térreo interior livre neste Campus; e evidenciou a presença da Capela de construção. O piso cerâmico foi restaurado com tratamento São Judas Tadeu. químico para limpeza e impermeabilização a fim de facilitar a e proporcionando maior valor espiritual a A Capela, datada de 1944, é doação de Otillia preservação. Ao lado da Capela foram mantidos a imagem do Amorin, atriz e cantora carioca que dedicou uma parte de sua patrono São Judas Tadeu e o sino, ambos originais da trajetória profissional ao circo. A artista oferece ao Retiro dos edificação. Atores a escultura de São Judas Tadeu, patrono das causas A conservação da capela é o reflexo de uma desesperadas, tornando-se padroeiro da capela. Por consciência sobre o valor da preservação da História, uma acreditar que o espaço simbolizava paz e trazia boas tentativa de se manter um lugar de espiritualidade dentro da vibrações, Rodrigues solicita permanência da construção na instituição, mesmo que com preferência religiosa definida. concepção do novo espaço. Do ponto de vista simbólico, o contraste entre a Com capacidade para 24 pessoas sentadas, foi quase Capela de São Judas Tadeu e o Prédio de Vidro evidenciam destruída durante as escavações do subsolo, e a pedido de uma mudança de valores na construção tardo eclética Gláucia Rodrigues, filha do reitor Gabriel Rodrigues, foi passando para a edificação com estilo “high tech”, quase que agraciada com o Restauro⑯ de sua construção. numa leitura indicando a transição do Campus e sua busca Foram refeitas as pinturas internas e algumas pela modernização da infraestrutura. restaurações da estrutura. Duas das quatro janelas foram Situada ao fundo do terreno, em seu lugar de origem, substituídas por vitrais com leitura floral, as janelas a localização por si só não foi capaz de promover o interesse posteriores mantem o mesmo formato com a conservação da da comunidade acadêmica em conhecer o espaço, menos 157 ainda visitá-lo. Mesmo com a intenção generosa de livre acesso, onde o arquiteto abre o espaço para visualização da capela, poucas pessoas conhecem a sua existência na Universidade Anhembi Morumbi. Dos 101 entrevistados nesta pesquisa, quando questionados sobreo grau de satisfação com a infraestrutura Capela São Judas Tadeu na Unidade 6, do Prédio de Vidro, considerando 1 (um) para “nada satisfeito” e 5 (cinco) para “muito satisfeito”, apenas 52 entrevistados responderam esta pergunta, sendo que 32% afirmaram não conhecer a capela, impossibilitando a resposta sobre o questionamento. Gráfico 06 – Indice de satisfação com a infraestrutura da Capela São Judas Tadeu na Unidade 6 do Campus Vila Olímpia Fonte: Arquivo pessoal da autora Figura 107 – Capela de São Judas Tadeu, localizada no térreo do Prédio de Vidro, na área posterior a construção, vista frontal. Fonte: Arquivo pessoal da autora 158 Figura 108 - Capela de São Judas Tadeu, vista externa. A – Inscrição sobre a porta de entrada da capela com detalhes da doação pela atriz Ottilia Amorin; B – Imagem de São Judas Tadeu original da capela desde a docação de Ottilia Amorin; C – Vista do conjunto da capela; D – Vista exterior da da porta de entrada ; E – Vista interior da porta de entrada; F- Abertura com vitral trabalhado instalado após a restauração; G – Abertura com esquadria original da capela. Fonte: Arquivo pessoal da autora 159 Figura 109 – Capela São Judas Tadeu, vista interna. A – Altar da capela; B – Vista lateral direita, sentido altar; C – Vista lateral esquerda, sentido altar; D – Vista lateral direita, sentido porta de entrada; E – Vista lateral esquerda, sentido porta de entrada. Fonte: Arquivo pessoal da autora 160 Figura 110 – Esplanada do Complexo Theatro. Integração entre as áreas de convivência da Unidade 6 e Unidade 7 onde é possível ver a localização da Capela no fundo do terreno, de forma que embora sem obstrução visual, é pouco identificada pelos usuários deste espaço. Fonte: Desenho elaborada pela autora 161 Já o térreo, atende o seu propósito, uma grande que estabelecem entre o espaço acadêmico e as áreas de praça aberta, estendendo naturalmente a rua para dentro do reclusão social, presídios ou penitenciárias. Tal associação convívio universitário, local de acesso aos andares e ao pode estar relacionada a uma memória coletiva das relações mezanino, onde se encontram as maiores salas da unidade, que estas instituições apresentam, tais como a distribuição com 150m² de área útil. Salas espaçosas e suficientemente de salas ao redor de um pátio central, o banho de sol confortáveis para abrigar oficinas, ateliês ou laboratórios associado ao intervalo para o café; ou ainda questões mais específicos. acadêmicas, como “grade” curricular, “disciplina” do curso, Nos pavimentos tipo, a distribuição de dois blocos inspetores de corredor, entre outros. Estas são hipóteses que principais com 220 m² deixa explorar a divisão das salas com merecem outro estudo, mas que podem ser ponto de partida repartição de uma até cinco salas de aula, de acordo com a para entendimento de comentários respondidos na pesquisa: necessidade acadêmica. Esta flexibilidade decorre da modulação estrutural e fechamento das paredes em placas de gesso, de fácil montagem e desmontagem. A possibilidade “O conceito do edifício é de improviso. A aparência, olhando por dentro, é de que se está numa penitenciária.” T.C. ex-aluno de modificar o tamanho das salas sem grandes impactos na infraestrutura era algo tentador. Durante o uso, várias alterações foram feitas na distribuição das salas, desvirtuando consideravelmente a qualidade flexível do espaço⑰ e interferindo no valor de aceitação do espaço pelo usuário. Salas pequenas, num corredor com muitas portas geraram um impacto negativo aos estudantes. É possível identificar na opinião dos alunos, a relação “Acredito que, com o espaço do mezanino e os corredores na lateral, lembram uma prisão e sua celas de confinamento, talvez um ar mais colorido resolva ou ajude esse lado sombrio.” D.P. Professor “ Parecia que eu estava em uma prisão.” M.M. exfuncionária “Acho que o partido adotado em conceitos de materiais é muito válido, porém a forma da 17. Ver anexo Distribuição de salas em Uso acadêmico no período de 2001 a 2011. 162 distribuição interna torna difícil uma convivência maior.” N.P.S ex-aluno “Achei o espaço das salas de aulas e de convivência muito apertados.” N.A.R.F. aluna Nestas respostas, a percepção espacial demonstra a distinta relação que o usuário tem do espaço, seja por meio de apelo solicitando maior intervenção para as áreas de convívio, ou identificando a relação nada intimista com a construção, como também a satisfação pelos materiais do espaço. Estas questões estão diretamente relacionadas ao repertório do usuário e como ele é aplicado no ambiente edificado. Os espaços de salas de aula projetados para atender a modulação da estrutura, com salas amplas e arejadas, são redefinidos não respeitando a paginação da esquadria ou forro, não atendem as dimensões mínimas para ambientes de estudo e lançam o mobiliário de acordo com o número de estudantes necessário dentro da sala. Estas divisões de salas com vãos menores adaptados para a crescente demanda acadêmica justifica a sensação de ambientes “apertados” Figura 111 – Ilustração comparativo da disposição das salas de aula. A – Divisão original das salas da unidade 6 B – Divisão atual das salas da unidade 6, no 3º andar Fonte: Desenho adaptadao pela autora Além de a disposição prejudicar o ângulo de visão dos estudantes que se sentam próximo às extremidades da 163 sala, não conseguindo visualizar o quadro negro por mini tribunal de práticas jurídicas. completo, a distribuição da iluminação natural é deficiente, A distribuição dos ambientes acadêmicos acontece adentrando no ambiente pela abertura de menor dimensão; ao redor do grande vão central, de 15 metros de altura que evidenciando mais uma alteração da arquitetura que se origina no primeiro pavimento e alcança a cobertura, interfere no conforto ambiental do Prédio de Vidro. assegurando a transparência visual de todo o espaço interno Estas modificações são decorrentes a proposta do edifício apresentar-se com o máximo de flexibilidade das e a iluminação por meio da grande cobertura em vidro translúcido. salas. Assim a distribuição dos ambientes acontece de acordo Os acessos aos ambientes acontecem numa cadência com o programa solicitado pela instituição, permitindo o uso fluida decorrente da continuidade espacial projetada, são do espaço tanto de forma acadêmica como administrativa. amplas galerias de circulação que variam suas dimensões de Embora o edifício seja composto basicamente de acordo com a organização do fluxo de estudantes, de forma salas de aula e laboratórios, em todos os pavimentos foram que em frente aos elevadores onde a concentração na previstos sanitários masculinos e femininos, escadas de chegada e saída das aulas é intensa até sua distribuição, emergências e áreas técnicas; dispostos na parte posterior do apresentam-se galerias com 3,00 metros de largura. Em edifício. Como complemento as áreas acadêmicas – 32 salas frente as salas de aula que exigem maior conforto e de aula e 9 laboratórios de informática, o Prédio de Vidro facilidade no percurso, as galerias apresentam-se com2,10 conta departamentos metros de largura, e na área restrita a interligação entre as administrativos: a Central de Tecnologia e Informação (CTI), e galerias de circulação principais, foi previsto 1,75 metros de o departamentos de Áudio Visual; além de duas áreas de largura para passagem dos estudantes a frente dos apoio ao aluno: o posto bancário do Santander e a Copiadora sanitários. com a presença de dois Tecopy; e um laboratório específico para a área de Direito, o 164 Figura 112 – Proporções arquitetônicas. A – Corte transversal esquemático do Prédio de Vidro evidenciando as medidas de pé-direito adotado B – Corte transversal horizontal do Prédio de Vidro evidenciando as medidas de pé-direito adotado Fonte: Desenho elaborada pela autora 165 A Construtora Sobrosa, fundada em 1989 sob o nome 2.4 A Construção Para a construção do Prédio de Vidro, a Instituição solicitou a três construtoras, através de carta convite, a formalização de propostas para concorrência na execução do edifício. Este é o procedimento comercial adotado pela Anhembi Morumbi nas negociações que envolvem compra O departamento de compras envia a carta-convite as especificações técnicas elaboradas pelo departamento de obras e projetos ao fornecedor, e assim aguarda as propostas a fim de avaliar a empresa em critérios de preço, prazo, histórico construtivo e qualidade nas obras realizadas. A Construtora Sobrosa, uma das concorrentes, tinha um diferencial; como já estava a par das negociações desde a compra do terreno e auxiliou na viabilização do projeto, estava ciente das exigências legais que a construção acarretaria. Desta forma apresentou uma proposta não só com o valor estimado da obra, como também ofereceu a Instituição a legalização do projeto junto a Prefeitura sem custos adicionais. Esta jogada comercial fez com que ganhasse a concorrência. apresentava dez anos de experiência no mercado de construção civil e já trabalhava com a Universidade Anhembi Morumbi em pequenas obras da antiga unidade 5. Com uma estratégia de marketing para fidelizar-se com o cliente, a construtora apostava no desenvolvimento de parcerias ou contratação, mantido até os dias atuais. com Sobrosa Melo e Silva Construções e Engenharia Ltda., comerciais. Para tanto demonstrava participação nas atividades contratadas e buscava envolver-se nas metas da contratante. Para a obra na Anhembi Morumbi, com intuito de demonstrar uma prioridade à universidade, a Construtora disponibilizou o acompanhamento da obra pelo corpo diretivo, com engenheiro Wilson Mello no trabalho em campo, enquanto o engenheiro Eduardo Sobrosa realizava os tramites comerciais. Para Delduque (26/07/11), a contratação da Sobrosa era quase certa, visto que além de apresentar melhores condições para viabilização do projeto, já conhecia o sistema administrativo da Universidade Anhembi Morumbi, o que facilitaria o andamento da obra e agilizaria as burocracias que envolvem a construção. 166 Aprovada a contratação para a construção do Prédio de Vidro a construtora apresentou o cronograma da obra com data prevista para início das obras em junho de 1999, a construtora previa um prazo de nove meses para construção do Prédio de Vidro, de forma que a Universidade Anhembi Morumbi já poderia contar com os alunos em sala de aula no segundo semestre de 2000. Como a Universidade estava Figura 113 – Cliente Astra Zeneca, situada na Rodovia Raposo Tavares, Km 26,90, Cotia / SP, onde a Construtora Sobrosa executou a construção da nova portaria do complexo em cobertura metálica com balanço ancorada em estrutura de concreto armado. Fonte: Arquivo da Construtora Sobrosa, disponível em http://www.sobrosa.com.br/site/obras.asp, acessado em 25/08/2011 crescendo, o foco para a expansão estava na finalização do prédio da Alpargatas no Brás, o que resultou no adiamento dos inícios da obra. Em uma pesquisa de mercado sobre a proposta dos cursos de Sequenciais, a Instituição que já esperava uma aceitação positiva foi surpreendida com a procura pelos cursos no Campus da Vila Olímpia. Diante deste novo contexto dos rumos de expansão, Delduque relembra que, para retomar as tratativas do Prédio de Vidro, precisava desenvolver um planejamento preciso entre a construção e o início das aulas, solicitando a construtora Sobrosa o planejamento técnico da construção. A construtora previu a entrega do Prédio de Vidro em Figura 114 – Cliente EFACEC do Brasil Ltda. – Companhia do Metropolitano de São Paulo - Metrô, em que a Construtora Sobrosa construiu a subestação elétrica da Estação Tamanduateí para alimentação da Linha Verde do metrô de São Paulo Fonte: Arquivo da Construtora Sobrosa, disponível em http://www.sobrosa.com.br/site/obras.asp, acessado em 25/08/2011 duas fases, sendo a primeira com a entrega do mezanino e mais dois pavimentos tipos para 29 de fevereiro de 2000 e a 167 Figura 114 –Cronograma físico de execução apresentado para a concorrência na obra do Prédio de Vidro, com data de início prevista para junho de 1999 e término nove meses depois em março de 2000 Fonte: Acervo Sobrosa Construtora 168 conclusão final para 31 de julho de 2000, considerando o Com o início da obra e o canteiro de obras instalado, início dos trabalhos em primeiro de setembro de 1999. Com a primeira ação tomada foi à demolição e remoção das término da obra, finalizaria e entregaria a aprovação do edificações existentes no terreno. projeto junto a Prefeitura de São Paulo. Como a capela era a única construção a ser mantida, Com a conclusão da primeira fase, previa-se que os algumas soluções para sua permanência foram levantadas. A andares a serem utilizados pelos alunos deveriam contar com primeira ideia seria fazer um reforço na fundação para que a construção de um caminho protegido de acesso ao prédio, pudesse escavar abaixo e ampliar a área de estacionamento e tapumes provisórios instalados nas salas que não tivessem e foi descartada mediante o custo que iria gerar. Outra opção a cortina de vidro finalizada. seria a desmontagem da estrutura e a reconstrução a partir Como na concorrência para a construtora, foram do mesmo material, mas o valor da mão-de-obra e a feitas concorrências para todos os seguimentos da obra, possibilidade de se perder a capela inviabilizaram a proposta. configurou-se o quadro abaixo com alguns dos fornecedores E por fim, optou-se por não escavar sob a construção e fazer que foram levantados nos documentos da universidade e da um muro de contenção para suportar as cargas produzidas construtora: pelo empuxo da terra naquele local. ÁREA Construtora Concreto Estrutura Impermeabilização Muro de arrimo Piso Piso de Borracha da escada Vidro EMPRESA SOBROSA MELO E SILVA CONSTRUÇÃO E ENGENHARIA LTDA DIAMOND FIX PERFURAÇÃO E CORTE EM CONCRETO S/C LTDA SYSTEMAC CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADA IMPERPOL IMPERMEABILIZAÇÕES LTDA RIMOBLOCO TECNIPISO ENG. PISOS E REVEST. LTDA INDEVAL CONTEMPERA – DISTRIBUIDORA DE VIDROS LTDA Em seguida, cravaram fundações profundas em todo o perímetro da obra para iniciar a contenção perimetral do terreno, utilizando perfis metálicos e pranchões de madeira que seriam incorporados posteriormente às cortinas laterais. A escavação do terreno foi dividida em duas etapas, a primeira deixando taludes de contenção no perímetro da obra para compensar o empuxo da área de corte. E a segunda etapa, após o travamento das cortinas perimetrais, 169 escavar pelos complementos das lajes dos subsolos. metálica, fechada com um cadeado, foram descobertos Ao término da escavação, a pedra fundamental, jornais datados de 1943 envolto em um saco plástico. datada de outubro de 1999 marcou a cerimônia de colocação Quando os operários da obra encontraram tal caixa levaram da primeira pedra na construção do Prédio de Vidro. ao conhecimento do engenheiro Delduque que rememora ler Esta solenidade do início da obra contou com o uma matéria sobre a pintura de bancos na Alemanha para tradicional ritual de se adicionar uma cápsula do tempo com diferenciar o uso do espaço público entre judeus e alemães. documento e cartas das pessoas envolvidas no evento. Estes Delduque (26/07/11), conta que o reitor Gabriel Rodrigues responsabilidade do professor Sebastião Hermes Verniano, escreveu uma carta de próprio punho, a qual leu durante o que na época estava como assistente de reitoria. Após o evento, e depositou dentre de uma caixa de vidro com fotos, restauro, os documentos ficaram guardados com Diva canetas, o vídeo institucional da universidade, a ata de Aparecida Correa, também assistente na reitoria, responsável reunião das pessoas presentes e outros documentos por coletar publicações e documentos da Instituição que administrativos. saiam em mídia externa. Lucilene Casteliano Faria (22/07/11), jornais foram levados para restauro sob oradora Com a saída de Diva da universidade, conta-se que os durante a missa realizada na cerimônia, narra que escreveu documentos foram para a biblioteca aos cuidados da uma carta contando sobre o nascimento do seu filho, e junto Bibliotecária Maria do Rosário Godoi (Madu). Atualmente, dela depositou o cordão umbilical e uma aliança. Ela sob administração da bibliotecária Marli Cacciatori, esta relembra que quem ministrou a homilia foi Frei Leonel, bem relata que não se tem cadastro de catalogação ou entrada relacionado com a Diretoria da Universidade. destes documentos na Biblioteca da universidade e A ideia desta capsula do tempo, surgiu da descoberta desconhece onde possam estar guardados. Rodrigues de uma caixa encontrada durante as escavações da obra, (26/08/12) acredita que foram enterrados, novamente, em próximo à capela de São Judas Tadeu. Dentro da caixa conjunto a nova cápsula do tempo. 170 Embora a pedra fundamental seja, tradicionalmente, cravada no canto nordeste das construções, esta escultura está implantanda no lado noroeste do Prédio de Vidro, a esquerda da capela, onde foi originalmente encontrada a primeira cápsula do tempo. Figura 116 – Pedra Fundamental A - Detalhe da Pedra Fundamental com inscrição do marco inicial da construção B - Pedra Fundamental em primeiro plano, datada de outubro de 1999, implantada a noroeste do terreno. Acima da Pedra está o sino originário da Capela. Fonte: Arquivo pessoal da autora 171 Figura 117 – Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental A – Cerimônica ministrada por Frei Leonel; B - Cerimônia religiosa realização em outubro de 1999 por Frei Leonel, Lucilene Casteliano como oradora, presença do reitor Gabriel Mário Rodrigues, arquiteta Angela Freitas; C – Cerimônia religiosa, presença do arquiteto Francisco Petracco, Rita Amorim, Jair Barreto, José Leôncio Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi 172 173 Página 118 – Cerimônia Religiosa da Pedra Fundamental A – Discurso Reitor Gabriel Rodrigues na presença de Prof. Hermes Verniano,; F – Prof. Hermems Verniano Figura 171 e 172: Discurso do Reitor durante a cerimônia de inauguração da Pedra Fundamental, na presença de prof. Hermes Verniano, Nilton Campos, Lúcia Ribeiro, Maria Helena Flynn, Angela Freitas, Eng. Eduardo Sobrosa, Wandy Cavalheiro, Eng. Vilson Mello e Eng. Delduque Martins. B – Prof. Hermes Verniano; C - Angela Freitas; D - Delduque Martins; E- Reitor Gabriel Mário Rodrigues; F – Prof. Hermes, Eng. Eduardo Sobrosa e arquiteto Francisco Petracco guardando depoimentos dentro da caixa de vidro; G – Discurso do Reitor Gabriel Rodrigues; H - Apresentação prof. Hermes Verniano; I – Guarda de depoimentos dentro da caixa de vidro a ser enterrada sob a Pedra Fundamental. Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi 174 Figura 119 – Cápsula do Tempo A – Caixa de vidro enterrada como capsula do tempo com material datados da cerimônia de lançamento da pedra fundamental, com depoimentos, revistas, jornais e publicações de 2001; B e C – Fechamento da base por Jair Barreto e funcionários administrativos da manutenção da Universidade Anhembi Morumbi; E, F e G – Cerimônia religiosa sobre a Pedra Fundamental com a presença do Reitor Gabriel Rodrigues, Angela Freitas e Frei Leonel. Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi 175 176 Embora Ainda referente as escavações, surgiu nos corredores Figura 120 – Capela São Judas Tadeu isolada durante o processo construtivo do Prédio de Vidro Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi alguns críticos contestem o da universidade a lenda de que dois corpos foram dimensionamento da estrutura do Prédio de Vidro, Petracco encontrados na retirada de terra. Como o terreno sediava a (22/07/11) afirma que é a estrutura que dá força ao projeto. residência dos artistas, dizem que lá foram enterradas duas De fato o contorno das linhas ortogonais, proposta pela belas atrizes, que vestidas de branco, continuam a caminhar estrutura metálica, em contraste com a cortina de vidro e o pelos cantos do Prédio de Vidro procurando o antigo lar. vão livre do térreo, alternam o desenho em cheios e vazios Funcionários da manutenção comentam que até hoje o que atraem pelo próprio confronto do peso e da leveza. pessoal da limpeza não tem apreço pelos serviços noturnos Durante a construção, com as estacas a pouco mais no edifício, evitando ao máximo o uso dos vestiários, de um metro da capela, notaram que a pequena construção situados no subsolo, por ser o local onde se avistam os vultos apresentava trinca. Como não se conseguia acessar devido a com mais frequência. Questionado sobre a crendice, Sobrosa profundidade em que o divertiu-se com a estória, afirmando que não foram terreno encontrados corpos no local, somente a cápsula do tempo. escavado, estava precisou-se Com a obra em andamento, a primeira reunião esperar nivelar o piso acontece em 22 de outubro de 1999, e consta em ata de para fazer os reparos na reunião que o projeto de cálculo estrutural do Prédio de construção com intuito Vidro estava a cargo de Sodré Engenharia. No decorrer da de obra, a empresa Systemac, responsável pela montagem da estrutura. Conta-se que estrutura metálica, sugere a troca do projeto de cálculo a indicando a empresa Kelly Pilteco, renomada em cálculo de chegou a abrir um vão torres de transmissão. de cinco centímetros. preservar trinca na sua capela 177 Com o esqueleto da obra pronto, as lajes préfabricadas foram lançadas e os fechamentos que deveriam ser em placas de siporex, acabaram sendo executadas em blocos de tijolo, em função do atraso pela espera do material, que não tinha a pronta entrega. Com o prazo de entrega do prédio diminuindo, os últimos andares acabaram sendo executados com blocos de tijolo tradicional. Conforme a estrutura do edifício ia se formando, e os detalhes construtivos foram surgindo, Sobrosa (19/07/11) relembra que nas vistorias do arquiteto a troca de experiências era sempre interessante. Conta que Petracco incluía a participação dos operários em tomada de decisão de acabamentos ou detalhes da obra, a atitude demonstrava o interesse do arquiteto na opinião do construtor e motivava o operário a sentir-se parte do processo construtivo. Tal atitude faz parte da metodologia de trabalho do arquiteto que acredita que o trabalho em equipe é melhor que a postura de alguns arquitetos que preferem ilhar-se como dono da verdade. Da construção Delduque (26/07/11) recorda a passagem em que o arquiteto explicava aos operários a importância do desenho no piso, no centro da área de Figura 121 – Arquiteto Francisco Petracco em visita a construção do Prédio de Vidro durante a instalação dos perfis de sustentação em estrutura metálica Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi 178 convivência do Prédio de Vidro. O arquiteto atribuiu ao comenta que durante o assentamento do piso, o arquiteto ponto central do edifício a imagem do sol, de forma que as acompanhou de perto a execução subindo e descendo os juntas de dilatação douradas representam os raios solares andares para verificar se a composição estava de acordo com emergindo em meio ao azul do piso de granilite. Ainda o desenho proposto. Figura 122 - Coração Solar do Prédio de Vidro A - Juntas de dilatação douradas representando os raios solares emergindo em meio ao azul do piso de granilite Fonte: Arquivo pessoal da autora B – Evento “Danças Circulares” ministrados no primeiro andar do Prédio de Vidro sobre o Coração Solar. Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi 179 Mesmo que a tecnologia permitisse rapidez na Vidro. A solução, contudo, durou pouco tempo, com a execução, alguns imprevistos fizeram com que as aulas primeira chuva no bairro da Vila Olímpia, a lona estava cheia fossem iniciadas antes do término das obras. A cobertura de de água. Delduque recorda a ligação feita pela manutenção vidro, por atraso na fabricação de material, apresentava-se solicitando a liberação dos alunos da unidade e a autorização como um vão aberto nos primeiros dias de aula. Delduque para rasgar o material com intuito de evitar algum acidente. (26/07/11) conta que para remediar a situação pediu para E foi após sua autorização que o Prédio de Vidro teve todos transportarem um grande banner em lona de propaganda da os seus andares lavados com a enxurrada d´água advinda da universidade que estava no Campus Centro para revestir a cobertura. Pouco tempo depois a cobertura foi finalizada em cobertura a fim de evitar que chovesse dentro do Prédio de estrutura metálica e vidro. A obra foi finalizada em julho de 2001,e embora alguns arremates tenham ficado para serem resolvidos, a universidade já contava com sua nova unidade no Campus Vila Olímpia. Entendendo a universidade como polo gerador de deslocamento veicular, a Prefeitura da Cidade de São Paulo solicita a construtora um plano de melhorias para o tráfego e estudo de vagas do estacionamento que atendesse a nova demanda de veículos que frequentaria o bairro⑱. Com toda a documentação aprovada, a Construtora Figura 123 – Cobertura de vidro no vazio central do Prédio de Vidro. Fonte: Arquivo pessoal da autora entrega o Habite-se do Prédio de Vidro após seis meses do término da obra. 18. Ver anexo Plano de Melhorias e Estudo de vagas para estacionamento. 180 181 Página 124 – Construção do Prédio de Vidro A – Canteiro de obra; B – Escavações para lançamento das fundações; C – Lançamento das primeiras estruturas metálicas; D, E e F –Concretagem do piso. Fonte: Acervo Sobrosa Construtora 182 Página 125 – Construção do piso do Prédio de Vidro A e B – Lançamento do piso steel deck; C, D, E e F – Concretagem do piso; Fonte: Acervo Sobrosa Construtora 183 184 Página 126 – Fachada do Prédio de Vidro em construção A – Esqueleto metálico com edição da autora; B – Esqueleto metálico visto do estacionamento da antiga Unidade 5; C – Esqueleto metálico com a presentaça da estrutura da escada principal. Fonte: Acervo Sobrosa Construtora 185 186 187 Em 2009, durante a exposição “A boa arquitetura de uma geração” organizada pelo arquiteto Ziegbert Zanettini em parceria com o Centro Brasileiro de Construção em Aço (CBCA), a Associação Brasileira da Construção Metálica (ABCEM) a editora PINI e a Escola de Arte e Design Panamericana, chamou a atenção o cartaz de propaganda exposto pela CBCA para divulgação de suas atividades e a forma como atua no mercado, com a imagem do Prédio de Vidro como pano de fundo. O projeto que já havia sido publicado em material institucional de marketing da Universidade Anhembi Morumbi e exposto na Bienal de Arquitetura, agora era referenciado como marco na construção metálica nacional, rompendo os limites da arquitetura educacional para ser um projeto de referência arquitetônica. O arquiteto (22/07/11) conta que ao chegar no evento para prestigiar os colegas, surpreendeu-se com a exposição do seu projeto no cartaz do patrocinador. Mesmo sem seu conhecimento e aprovação, interpretou a publicação como uma forma de reconhecimento do para o seu trabalho. Página 127 – Fachada do Prédio de Vidro Fonte: Acervo Sobrosa Construtora Figura 207 e 208 – Catálogo da exposição “A boa arquitetura de uma geração”, de 25 de outubro de 2009; organizada pelo arquiteto Ziegbert Zanettini em parceria com o Centro Brasileiro de Construção em Aço (CBCA), a Associação Brasileira da Construção Metálica (ABCEM) a editora PINI e a Escola de Arte e Design Panamericana. Destaque par o cartaz de publicidade da CBCA com tema de fundo o Prédio de Vidro Fonte: Acervo arquiteto Francisco Petracco 188 CAPÍTULO 3: POR UMA LEITURA POSSÍVEL revestimento para a fachada, prevê pontos de apoio na cobertura para sustentação dos equipamentos da limpeza. 3.1 o fim do começo ou o começo do fim? Consequentemente a manutenção contrata funcionários que irão descer pela fachada higienizando e vistoriando o estado Para Rocha (2007), a vida de um edifício está dos vidros, garantindo a conservação do material no estado compreendida em duas fases. A primeira é a fase da que foi idealizado. Na falha de um dos processos, o edifício construção quando uma série de problemas relativos a pode ter a arquitetura comprometida pela falta de limpeza, durabilidade podem ser resolvidos, tais como a orientação depredação ou ainda pelo próprio desgaste do material. adequada do projeto, as normas técnicas e legais De acordo com Rocha (2007), certos sistemas e devidamente atendidas, o programa de uso bem resolvido, e equipamentos prediais exigem serviços de inspeção e a qualidade dos materiais condizentes com a propostas vistorias programadas a fim de garantir sua conservação, estrutural e arquitetônica. A segunda fase refere-se ao uso, devendo ser realizada independente de deformidades quando surgem os problemas a partir do desgaste e usos estarem aparentes ou mesmo não existirem. A falta de indevidos, necessitando de manutenção constante. manutenção em caráter preventivo acarreta em desgastes Enquanto na construção os detalhes construtivos desnecessários, substituições e, futuramente, novos custos. asseguram condições e facilidade para a manutenção, é no No Prédio de Vidro, o que se tem observado é que a ato de conservar que se encontra o grande segredo da vida falta de manutenção tem prejudicado a imagem do edifício, útil do edifício. Um exemplo clássico, e que pode ser adotado transmitido uma imagem de descuido e negligência por parte para o Prédio de Vidro, é o uso da cortina de vidro no da instituição. Nos depoimentos apresentados, pode-se notar edifício. Ao projetar, o arquiteto está ciente de que a que grande parte do desconforto do usuário está relacionado manutenção e limpeza do vidro garantem a boa aparência da a problemas de manutenção, tais como sanitários, construção, portanto, quando opta por este tipo de equipamentos de ar condicionado e limpeza. 189 Na escada principal, o piso de borracha aplicado Outra questão são os impactos estéticos sobre a estrutura metálica, apresenta problemas de proporcionados por problemas de impermeabilização, tais aderência, onde o material está descolado do piso nas juntas como: entre a escada e a construção. Para correção, o revestimento do piso deveria ser removido, a estrutura ser retratada para Infiltração na estrutura metálica do edifício e da escada; retirar qualquer agente contaminante que pudesse interferir O crescimento de vegetação na estrutura; na aderência e trocar pelo novo revestimento. Infiltração na fachada posterior. Problemas de infiltração acarretados pelo período de chuvas não interferem somente na estética do edifício, mas também comprometem o desempenho da estrutura. A água ao atravessar a peça de concreto pode atingir suas armaduras, que sujeitas a ferrugem, podem ficar tão comprometidas a ponto de romperem. A descaracterização do Prédio de Vidro, resultado das inúmeras modificações de layout35 e da manutenção precária, evidencia certo descaso da instituição para com o edifício. Mas o que mais chama a atenção é a falta de finalização do projeto. Sabe-se que a construção do auditório foi descartada Figura 129: Acabamento do piso no Prédio de Vidro descolando na junta entre a escada e o piso do pavimento, no quarto andar. Fonte: Acervo da autora mediante área máxima exigida pela Prefeitura, contudo o resultado gerou uma grande praça de convivência e 190 continuidade urbana. Mas não se pode dizer do mesmo do espelho d´água. O rebaixo do espelho d´água foi idealizado para refletir a escada principal, chegou a ser preenchido com água em 2008 para uma atividade da Escola de Engenharia e Tecnologia, contudo por falta de impermeabilização, a água escorreu para o primeiro subsolo, precisando urgentemente ser esvaziado. Recorrentemente, o arquiteto solicita ao departamento de obras e projetos a finalização do espelho d´água para finalização do projeto, o retorno embora sempre positivo, ainda não se concretizou. E por fim, o projeto inacabado da iluminação da escada. Com o inicio das aulas e a escada na penumbra já que a iluminação não havia sido finalizada, foi solicitada a manutenção a instalação de lâmpadas de vapor metálico em caráter provisório. Contudo é possível observar que até hoje as lâmpadas não foram substituídas pelo seu projeto de iluminação original e funcionam como sistema de iluminação definitivo. 191 Figura 130 – Impactos estéticos por falta de manutenção A - Infiltração na estrutura do Prédio de Vidro; B - Infiltração na estrutura da escada principal; C - Crescimento de vegetação na estrutura da Fachada Principal, frente para a Rua Casa do Ator; D - Infiltração presente na Fachada Posterior do Prédio de Vidro, vista da Rua Gomes de Carvalho, é possível observar o desgaste da pintura e a falta de manutenção. Fonte: Acervo da autora 192 Figura 131: Rebaixo do piso, no pavimento térreo. A e B – Vista de onde deveria ter sido feito a instalação do espelho d´água. Foi cogitado pelo arquiteto utilizar o espaço como um jardim com uso de vegetação e pedra, contudo a instituição somente disponibilizou quatro vasos com palmeiras dispostos nas extremidades do espaço. Fonte: Acervo da autora 193 Figura 132: Iluminação da escada do Prédio de Vidro A - O projeto provisório que se tornou definitivo com a aplicação de apenas uma lâmpada por pavimento, o que deixa a escada em total penumbra no período noturno, dificultando o acesso e conduzindo o intenso uso dos elevadores. B – Detalhe da fixação das luminárias Fonte: Acervo da autora da pintura e a falta de manutenção. 194 3.2 A Escola Aberta homem, a partir de uma necessidade de partilhar com os demais o que pensa ou sente, cria símbolos que tomam o Entender o processo da concepção do projeto, a construção e os anseios da instituição contratante facilita o lugar de algo que está na mente ou no sentimento; fazendose visível e público o que há de mais privado em cada ser. entendimento de seu espaço edificado. É possível identificar E segundo Jung (1977) o homem utiliza uma um fio condutor que delimita o percurso do projeto, os linguagem cheia de símbolos para se comunicar. Seja ela um motivos das adequações e mudanças do projeto em virtude termo, nome ou imagem que se familiariza com o cotidiano e de questões econômicas; culturais, tanto do arquiteto suas conotações especiais, além do significado evidente e quanto da universidade; e sociais relacionando a arquitetura convencional que se pode atribuir a este símbolo. não só a seus ocupantes, mas também de como se apresenta para a cidade. Estudos realizados pelo PROARQ/FAU/UFRJ sobre valores e significados atribuídos aos espaços, constataram Na elaboração de um projeto universitário, estar que quando um usuário entra em contato com um atento ao que se constrói, possibilita a compreensão, por determinado espaço, recebe impactos iniciais a partir das meio de uma linguagem simbólica, sobre o que foi idealizado impressões que ele visualiza e que geram nele uma e como se traduz como identidade do lugar. percepção; esta é a primeira etapa de um processo de Para Ferrara (1988), toda representação é uma forma conhecimento do lugar (processo cognitivo). Nos próximos de imagem; um gesto que codifica parcialmente o universo passos desta percepção imediata, a possibilidade de através de uma expectativa de interpretá-lo. E a ação discriminar e classificar os signos do ambiente é garantido interpretante é o modo usado para a representação da pelo domínio que o usuário tem do código apresentado, do linguagem. qual decorre uma percepção mecânica independente das Já Bordenave (1984) descreve o meio como a própria características contextuais temporais ou espaciais. Em mensagem, o que faz deste uma forma de linguagem. O sistemas similares, a percepção desprovida de qualquer 195 parâmetro codificado, é tensa e profundamente influenciada pelas características espaciais ou temporais, Neste contexto optou-se tratar interpretações que sendo, conduziram a escolha do objeto: o design de sua arquitetura necessariamente, a apreensão do novo como descoberta a partir da memória documentada. A problemática do que é perceptiva. um espaço universitário traduzido pelo pensamento do Desta forma, muitas podem ser as vertentes de arquiteto sobre o que é a formação universitária; onde interpretações do contexto apresentado, já que a trajetória pressupõe que o uso do espaço é uma ferramenta para do Prédio de Vidro pode ser analisada sob vários pontos de preparar um futuro profissional atuante na sociedade, partida. O olhar pode-se voltar para a História de um espaço traduzindo o espaço do Prédio de Vidro como um edifício completamente distinto das edificações do Retiro dos que acompanha a transformação da sociedade. E como são Artistas, mas que mantém certa relação ao atribuir como as relações estabelecidas entre o espaço percebido e as nome oficial da unidade “Edifício Theatro Casa do Ator”; relações geradas pelas experiências nele vividas, de usuários também pode ser interpretado sob o viés da tecnologia em que gostam, abandonam, estranham, surpreendem-se, que, como marco da arquitetura, o projeto está alinhado ao reencontram as referências simbólicas nesta arquitetura, movimento High Tech presente no cenário arquitetônico identificando a importância da História do projeto para mundial na década de 1990; outro aspecto seria a evolução entendimento de seu design. urbana apresentada com a verticalização da Universidade e Para Ricceur (2010), a noção de espacialidade do Bairro Vila Olímpia; ou ainda a concepção arquitetônica corporal e ambiental está intrínseca a evocação da do edifício e a relação de design adotada em sua arquitetura lembrança, partindo da reflexão como forma de explicá-la. com intuito de ser reconhecido como espaço universitário, Uma associação perceptiva de recordações e leituras do entre tantas outras. espaço físico, articulada a sensações e sentidos de fluxos, Escolher um ponto de partida sugere decifrar as inquietações do observador. instiga a memória íntima e, posteriormente, a memória compartilhada. Assim, o espaço edificado diferencia-se do 196 espaço habitado, enquanto um é resultado apenas da luz, cheiros sons ou ruídos que estão presentes são sentidos. construção, e o outro está relacionado ao uso, ao A experiência conjunta, de relacionamento estabelecido gerando lembranças, ligações perceptuais, motoras ou conceituais que podem ser afetivas ou não. Durante o período que esta relação é identificadas, estabelece valores para o espaço. Os detalhes mantida para si desenvolve uma memória intima, e a partir são assimilados e culminam no reconhecimento ou do momento em que é transmitida ao outro estimula uma distanciamento do usuário, a partir de significados que ele memória compartilhada. atribui, variando de acordo com a vivência cultural e as Para Del Rio (1996), a percepção é “um processo todas as características estruturas cognitivas prévias. mental de interação do indivíduo com o meio ambiente, que A arquitetura, por proporcionar projetos livres e se dá através de mecanismos perceptivos propriamente ditos independentes, assume a possibilidade de gerar novos e, principalmente, cognitivos”. Assim, desde o primeiro significados na medida em que é percorrida. No ambiente contato com o ambiente, o homem se inter-relaciona através construído, o usuário identifica o lugar e tem o poder de dos seus sentidos, à percepção, à memória, aos valores transformá-lo. Este espaço, que a princípio é fruto do desejo culturais e ao espaço em que se está imerso, passando a do arquiteto, que já percorreu esta trajetória de leitura a sentir e carregar as informações dos significados culturais, interpretação, passa a ser o lugar do usuário. percebendo e reavaliando o ambiente de modo a dialogar A partir da compreensão e reconhecimento do lugar ciclicamente com ele. O ambiente construído dirige ao pelo usuário, que faz uma análise e uso de seus valores usuário estímulos sensoriais, captados pelos cinco sentidos. A impregnados pelos elementos edificados desse espaço, este partir da compreensão, a racionalidade gera um processo de atribui o significado que melhor traduz seus anseios organização mental, na qual a realidade percebida é inconscientes. Isto porque, ele não observa somente a representada por esquemas e imagens mentais associadas. função específica do que foi construído, mas também faz a Ao deparar-se com um espaço, as cores, formas, padrões de relação dos aspectos simbólicos do conjunto para com ele. 197 Assim, um edifício apresenta, em si, forma de se sensações aguçadas pela arquitetura traduzem a experiência expressar baseado em símbolos e elementos representativos pessoal traduzindo a estrutura em leveza ou solidez; o vidro do seu conceito arquitetônico. O espaço é entendido não só em exposição ou liberdade visual; praça para comemoração pelo que tem de visível, mas da relação com a história ou aridez; circulação em movimento ou estar; distribuição da cultural, a composição do conjunto edificado e a forma como sala em flexibilidade ou enclausura; da arquitetura em quem o desvenda. inovação ou falta de conforto. Esta orientação da percepção Isto justificaria o fato da associação do espaço do a valores opostos partem do conhecimento, do uso e das Prédio de Vidro ao espaço cerceante da vida humana. As referências particularmente adotadas, e produzem a lembranças identificação da arquitetura como espaço destinado a sua geradas pelo sistema educacional com regulamentos e leis transferidas e identificadas no espaço função, neste caso para a universidade. como a representação de ambientes enclausurados, cheio de Na pesquisa realizada fica evidente esta dualidade. portas, ou exposição através das cortinas de vidro, As mesmas perguntas e espaços questionados a um público transmitindo a sensação de um usuário que tem sua constituído por alunos, ex-alunos, arquitetos, professores, liberdade vigiada. Vivenciar o edifício é deparar-se com usuários da arquitetura como um todo, alternam o resultado obstáculos que, embora projetados para garantir maior na sua própria concepção de como é habitar o Prédio de contato, visibilidade e socialização, inquietam e ameaçam a Vidro. Algumas vezes evidenciam a paixão do estudante que zona de conforto de alguns usuários. A sensação de deseja usufruir deste espaço, outras vezes relatam o exposição, ligado ao fato de não estar no casulo familiar, é desconforto com a arquitetura. reforçada pelo predomínio do vazio, da luz e da abertura. Para Ricceur (2010), o ato de construir caracteriza a Esta mesma relação, também, traduz os depoimentos configuração do tempo pela composição do enredo; em que os espaços abertos e as praças geram insegurança conformando o espaço construído geométrico, mensurável e pela exposição e opressão geradas pelas sombras e cores. As calculável, que qualifica a forma de vida; ao tempo narrado 198 que interage nas experiências de uma época. De tal modo transcrições das lembranças e transformações que afetaram que a construção insere-se no vazio urbano como narrativa tanto espaço, como a própria memória consultada. de um contexto momentâneo, facilitador da história, gostos e formas culturais de uma época. Ricceur (2010) escreve que o testemunho dá condições formais ao conteúdo das “coisas do passado”, das O Prédio de Vidro é uma narrativa do processo de condições de possibilidade de processo efetivo da operação inovação arquitetônica da Universidade Anhembi Morumbi historiográfica. Parte-se da memória declarada, passa-se pelo traduzindo a manipulação de um conjunto de fatores arquivo e pelos documentos e termina como prova técnicos, construtivos, socioeconômicos e culturais em uma documental. Uma relação de processo onde há o registro de arquitetura sólida, emotiva, com valorização da história vivências e formas de rememorar. desde o nome da rua até iniciativa do arquiteto em suas Assim o estudo da história do projeto busca entender primeiras experiências metálicas. Assim sendo esta traduz o os acontecimentos que derivaram a construção do Prédio de tempo de ver e ler uma época, uma arquitetura Vidro, trazendo a tona o conhecimento do seu processo. essencialmente, moderna com apelo tecnológico reflexo da Conhecer a origem, a escala do território, do bairro, do lote; evolução arquitetônica da Instituição. chegando ao edifício e os impactos ambientais e urbanos Para Ricceur (2010), tudo na História tem início no inevitavelmente gerados a partir de sua proposta testemunho. Apesar da carência principal de confiabilidade, é construtiva; a busca pela transformação do ambiente urbano a segurança de que algo realmente aconteceu, de que foi em que está inserido e produzindo novas extensões urbanas assistido por alguém, ou atestado com outros tipos de numa relação de espaço público e privado; e a evidencia de documentos que desarma aqueles que precisam dos arquivos que este é um projeto a ser finalizado, que não está como forma precisa da realidade. Calcada neste pensamento, integralmente pronto, seja pelas mudanças construtivas, seja os depoimentos, tanto coletivos como privados, resgataram a pela falta de alguns elementos projetados, ou ainda pelas história do Prédio de Vidro em conversas informais, mudanças de seu layout; mas acima de tudo, porque é uma 199 proposta de não ser um projeto fechado há um tempo que o corpo acadêmico edificado é determinado por salas de preciso, mas passível de acompanhar a dinâmica da aulas com paredes e muros, propondo espaços livres e instituição. translúcidos. Decorrente de uma sociedade capitalista e A construção do edifício demonstra a construção de consumista, os ideais propostos de transparência, igualdade um conhecimento, propício de uma época, de um anseio e liberdade, estão sendo convertidos a conceitos de momentâneo da instituição o e de um ideal do arquiteto. O fragmentação e isolamento do espaço, garantindo sensações tempo muda, as expectativas e as referências também. de falta de conforto e segurança. Uma contradição Buscar o elemento flexível, adaptável as mudanças sociais e legitimada, onde a rua expulsa o indivíduo e o muro o liberta. históricas está além das barreiras arquitetônicas, por que o No Prédio de Vidro o arquiteto busca integrar o viver espaço universitário é só a casca para a formação na cidade dentro de um ambiente acadêmico; criar lugares profissional, a produção do conhecimento vai além das comuns, produzindo praças, pátios, mirantes em constantes barreiras de espaço e do tempo. diálogos com a cidade; propõe uma união do pátio ao Na arquitetura de seu espaço deve-se observar a real espelho d´água, que mesmo que não emitente do reflexo da busca do arquiteto em projetar um espaço universitário com escada num sentido de ser o portal do conhecimento, torna- qualidade para difusão do conhecimento. A transformação se banco, oferecendo um novo cenário de convivência e arquitetônica e o crescimento da Universidade Anhembi troca de conhecimento. A Capela de São Judas Tadeu, que Morumbi gerou um design representado através da fachada mesmo escondida atrás do edifício, preserva o ar lúdico e inovadora, um traço do ideal projetado pelo arquiteto de se bucólico do que já representou um dia ao retiro dos artistas conceber uma Escola Aberta. que ali viveram, garantindo espiritualidade e memória em Esta Escola traduzida na construção de um objeto de suas portas abertas a comunidade. As galerias de circulação uso humano que compõe uma nova paisagem social que convertem a comunicação do programa e do público educativa para o Ensino Superior rompe os paradigmas de revelam como a comunidade acadêmica funciona. Desta 200 forma, os espaços não são projetados simplesmente como projeção de conteúdo onde é preciso virar as costas para o resposta a sua função, mas sim, são geradoras de novas natural e cotidiano, ao invés de integrar-se a ele. formas, usos, sentidos, sensações e lições. Considerando as dificuldades proporcionadas pelo viés da Embora Escola da Ponte é uma instituição pública portuguesa, referência na formação básica integrada de seus alunos. Disponível em http://www.escoladaponte. com.pt/, acessado em 12/08/2011 não contemple todas as questões sustentabilidade dos materiais e técnicas empregadas, estabelecidas pelo tripé da educação universitária o ensino, a indaga-se a tendência atual de priorizar as relações pesquisa e a extensão, já que o espaço dispõe de salas de insustentáveis criadas com longos corredores e salas de aulas aula, laboratórios de informática e um laboratório específico, fechadas, enclausurados por suas portas fechadas, enquanto sua composição estrutural favorece a utilização do edifício de se podem explorar elementos que possibilitem ventilação e acordo com o planejamento espacial proposto pela iluminação natural. instituição, cabendo à universidade abrigar todas as Pode-se dizer que na busca de identificar fatores que diretrizes do MEC em um único espaço ou distribuindo pelas caracterizariam o Prédio de Vidro como um espaço demais construções do campus. universitário, o que se desvendou foi que para elaboração de No Prédio de Vidro o compasso da estrutura permite espaços acadêmicos deve-se evidenciar a consciência social quebrar o protocolo e superar a lógica da disciplina como na da arquitetura como forma convidativa a educação. Não são Escola da Ponte⑲, onde não se precisa separar o ensino por o acabamento, revestimentos ou tratamentos do edifício, ou lugar fixo ou fechado, podendo ser organizados em grupos suas salas, galerias de circulação, pátios ou laboratórios que de interesse comum, criando espaços de inclusão, inter- fazem de um espaço um local de aprendizagem, afinal o que relação e conexão. se aprende por meio do ensino não é físico, é empírico e vai Problemas com a cortina de vidro, provedora de luz muito além dos limites edificados do espaço acadêmico. natural e calor, evidenciam o apego à exposição do conteúdo E este pensamento pode ser identificado na proposta de forma clássica. Este padrão herdado do ensino tradicional de Petracco, um projeto que aproxima os lugares às pessoas; gera inquietações quando o novo modelo questiona a evidenciam as engrenagens de seu funcionamento; os 201 esforços de sua estrutura; cria sentidos e significados distintos a partir de seus vazios; e abre-se para a cidade. E isto, pode-se dizer do Prédio de Vidro, que cada usuário guarda um pouco do espírito livre do projeto, que desconstrói as barreiras; algumas vezes gerando desconforto, outras insegurança, mas acima de tudo transmitindo liberdade e transpondo os obstáculos tradicionais do espaço universitário. 202 CONSIDERAÇÕES FINAIS Unidade 5, 6 e 7, e a do Campus Morumbi, o Edifício Jardim; As adaptações de patrimônio industrial, com A pesquisa que partiu do intuito de discutir o espaço requalificação de infraestrutura e mudança da universitário cogitou, em um primeiro momento, o estudo categoria de uso, num processo de valorização sobre os espaços acadêmicos da Universidade Anhembi patrimonial e urbana, tais como o Campus Centro Morumbi a partir de sua produção arquitetônica, para um e os Galpões do Campus Morumbi; e. entendimento sobre o ambiente universitário sob o viés da As adaptações de edifícios existentes em centros Instituição. Contudo, a escolha do Prédio de Vidro como foco urbanos de pesquisa reflete a importância dada a esta edificação, que investimentos em áreas que apresentam ampla foi a primeira obra construída pela Universidade para sediar rede de transporte e maior visibilidade comercial, seus espaços acadêmicos, e que marcou a preocupação da além de requalificar e valorizar o patrimônio Instituição em não mais, adaptar espaços fabris através de existente, tais como o Campus Paulista e Campus uma maquiagem arquitetônica, mas de qualificar seus Vale do Anhangabaú. da metrópole, demonstrando ambientes com melhores acabamentos e infraestrutura diferenciada. Conhecendo os espaços acadêmicos da Instituição, Para o atual universo educacional, além do acadêmico, a apresentação de uma infraestrutura pode-se observar que a Universidade apresenta três tipos de consolidada, esteticamente bela e atrativa é um diferencial construções: competitivo. O investimento dedicado às instalações físicas As construídas, evidenciando uma arquitetura reflete um posicionamento da instituição sob aspectos com aspectos modernos e inovadores, tais como acadêmicos, culturais, sociais e comerciais. A partir do as novas edificações do Campus Vila Olímpia – momento em que a universidade se propõe a marcar sua 203 presença no mercado de Ensino Superior, adotou uma aflorando todas as sensações proporcionadas pela natureza: política de reestruturação de seus edifícios, propondo não só luz, calor, frio, barulho, silêncio, e afins. O vazio central uma cenografia para os usuários, mas uma qualificação de organiza a distribuição das galerias de circulação, rampas, seus ambientes acadêmicos. salas e espaços acadêmicos. O espaço abriga todas as E foi a partir deste contexto que se observou a atividades definidas pela tríade do Ensino Superior: Ensino possibilidade de um estudo sobre os aspectos importantes com suas salas, ateliês, laboratórios; a Pesquisa com para o entendimento da arquitetura e construções da Biblioteca, departamentos, diretoria, auditório, diretoria, Universidade Anhembi Morumbi, e a partir deles tratar a secretaria; e a Extensão com espaço de convivência, salão memória institucional de sua História, com foco na análise caramelo, museu, café e grêmio. deste edifício pioneiro concebido para representar o Este espaço universitário, provavelmente, foi potencial construtivo da instituição, o Prédio de Vidro, do utilizado por Petracco como referência para conceber o arquiteto Francisco Petracco. Prédio de Vidro. Algumas relações podem ser feitas a partir Em arquitetura, o espaço universitário considerado da análise do edifício. ideal se traduz na construção da Faculdade de Arquitetura e As duas obras contam sua história a partir da Urbanismo da Universidade de São Paulo, (FAU-USP), estrutura, enquanto o Prédio de Vidro trabalha a tecnologia projetada por Vilanova Artigas. O edifício é um jogo de do aço, a FAU-USP retrata a linguagem brutalista do concreto volumes fechados e abertos proporcionando um percurso aparente característico do movimento Escola Paulista de corrente, uma fluidez com limites imperceptíveis entre o Arquitetura. Os pilares de Artigas destacam-se através de seu espaço público e o privado demonstrando completa desenho, enquanto a estrutura de Petracco intensifica a força liberdade a seu usuário. As vedações internas são quase do projeto. exoneradas onde os níveis dos andares conformam a A caixilharia em vidro apresenta o entorno de forma delimitação dos ambientes com o máximo de translucidez atrativa e aberta sendo cuidadosamente tratado na 204 arquitetura de Artigas com o uso de empenas suspensas que E é em um único espaço arquitetônico que os garantem um maior controle da luminosidade; ação que não projetos não coincidem. Enquanto a FAU-USP apresenta um ocorre no Prédio de Vidro em detrimento a exclusão do brise térreo interligado o espaço urbano ao espaço acadêmico, soleil. onde o usuário é convidado a adentrar o recinto; o Prédio de Nos dois projetos é possível observar a presença do Vidro abre seu espaço a cidade, mas interrompe a entrada ao pátio central iluminado por uma cobertura translúcida. espaço acadêmico a partir da segmentação entre acadêmico Enquanto na FAU a cobertura é composta por vigas e convivência. Esta segregação pode ser atribuída ao fato da entrelaçadas vedadas por domus, o projeto de Petracco proposta de auditório que não foi construída, onde o térreo apresenta uma malha estrutural em aço e vidro. teria um outro uso, além da área de convívio entre os alunos. A circulação vertical das construções descreve o Mas o que se pode concluir, é que nos dois projetos o passeio interno e as sensações de mudança do espaço, de partido adotado para o espaço universitário decorre dos forma que no projeto de Artigas este percurso é feito pelo ideais políticos e acadêmicos que os arquitetos guardam da pedestre através das rampas, ao passo que na UAM esta Academia. Ambos tiveram sua vida profissional ligada a área transição acontece mecanicamente por meio dos elevadores acadêmica, foram professores e buscaram estruturar o panorâmicos. Ensino de Arquitetura e Urbanismo nas universidades em Até mesmo nas questões de conforto ambiental os que atuaram. Desta forma, o projeto não é apenas a problemas são similares, tanto no projeto de Artigas como no representação do seu design, mas um conjunto de aspirações projeto de Petracco, a acústica e o conforto térmico são decorrente da produção de cada arquiteto, podendo ser decorrentes do uso e disposição do material. Contudo, a considerados a síntese da relação arquitetônica à proposta FAU-USP, atualmente passa por um processo de restauro da de ensino. edificação onde alguns problemas estão sendo reavaliados. E retomando a questão principal desta pesquisa, só foi possível chegar a esta conclusão a partir do conhecimento 205 da História do projeto, seus elementos arquitetônicos, sua pode-se concluir que muito ainda precisa ser feito para construção e a forma como vem sendo utilizado; bem como documentar o percurso desta instituição. entender a trajetória do arquiteto, a postura da Universidade Algumas dificuldades foram enfrentadas neste Anhembi Morumbi e como a evolução de seu patrimônio estudo a fim de colher material para análise, tais como arquitetônico proporcionou a oportunidade de construção do documentos, datas e projetos das construções. Parte do Prédio de Vidro. material produzido pelas construções da universidade encontra-se perdido no arquivo morto ou foram excluídos PROPOSTA PARA FUTUROS TRABALHOS destes arquivos, solicitado a catalogação e arquivamento adequado em local próprio para consulta, como a própria A trajetória da Universidade Anhembi Morumbi biblioteca da universidade. apresenta uma relação rica com a arquitetura, onde é Muito do material aqui apresentado é decorrente de possível identificar a preocupação da instituição com depoimentos de pessoas que trabalham ou trabalharam com questões não só acadêmicas, mas sociais e urbanas. Talvez a Instituição, sendo que algumas ainda ficaram de esta preocupação seja decorrente de ter a frente da reitoria encaminhar seus depoimentos. A documentação fotográfica um arquiteto urbanista, que mesmo empresário do ensino, dos primeiros anos da universidade e da obra foi adquirida sempre demonstrou aos que o conhecem, a preocupação junto ao acervo da universidade nos departamentos de com a História, haja visto seus discursos em cerimônias marketing, obras e reitoria; e da construtora do Prédio de institucionais e na publicação de seu livro narrando a Vidro. Poucos documentos foram conseguidos a partir do fundação do primeiro curso de graduação em Turismo. departamento de projetos e obras e biblioteca. Apesar do interesse da Instituição e da boa vontade Foram entrevistados o arquiteto, reitor, funcionários dos que participaram para a elaboração deste trabalho, e ex-funcionários, alunos e ex-alunos que sempre tinham 206 algo a acrescentar que não faz parte dos arquivos da Instituição. Desta forma, e diante da riqueza de material que se pode produzir, narrando a trajetória da instituição, o desenvolvimento do patrimônio arquitetônico da universidade e da relação urbana com a ocupação de espaços da cidade pelo Ensino Superior, a pesquisadora sugere que se inicie um processo de memória da Universidade Anhembi Morumbi, com intuito de resguardar suas conquistas arquitetônicas e educacionais, evidenciando o seu processo de gestão institucional, que vivenciou um período familiar e agora apresenta uma administração multinacional, apontando outras Histórias tão promissoras e que carecem ser contadas. 207 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HARVEY, David – Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola – 14º edição – 2005. BORDENAVE, Juan E. Diaz. Além dos meios e mensagens, Petrópolis: Editora Vozes Ltda, 1983. Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1977 CHARLE, Cristophe; VERGER, Jacques; Fernandes. História das Universidades. (Traduçao E. Fernandes) MINOGUE, Kenneth. 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A qualidade de serviço de ensino superior: o caso de uma instituição de ensino púbico – Tese de Doutorado – Universidade de São Paulo, 2009. PETRACCO, Francisco L.M. Arquitetura: Desenho, estrutura e ritmo – Tese Universidade de São Paulo, 2004 de Doutorado – 211 ANEXOS Ana Lydia Faria Deise Marques Araújo ANEXO 1 - RELAÇÃO DE ENTREVISTADOS (EM ORDEM ALFABÉTICA) Gabriel Mário Rodrigues Francisco Petracco Reitor da Universidade Anhembi Morumbi Arquiteto autor do projeto Delduque Oliveira Martins Eduardo Sobrosa Francisco Petracco Jair Barreto Glauco Humberto Fioritti José Leôncio Leonardo Lenharo Luis Araujo Luiz Fernando Crepaldi Lucilene Santos Rosângela Albuquerque Wilson Mello Alunos Professores Funcionários Assistente/ estagiária no projeto da Unidade 6 Arquiteta, autora dos projetos Unidade 5 e 7 Do Campus Vila Olímpia; Edifício Jardim no Campus Morumbi e Adequação dos imóveis dos Campi Centro e Morumbi para uso acadêmico Diretor administrativo da Universidade Anhembi Morumbi, durante a obra do Prédio de Vidro Engenheiro responsável pela Construção do Prédio de Vidro Arquiteto autor do projeto Coordenador de Manutenção – Conservação predial Gerente de Projetos e Obras Coordenador de Manutenção – Conservação do patrimônio Assistente/ estagiário no projeto da Unidade 6 Assistente/ estagiário no projeto da Unidade 6 Assistente/ estagiário no projeto da Unidade 6 Funcionária do Marketing – área de reconhecimento Coordenadora do Departamento Pedagógico Engenheiro responsável pela Construção do Prédio de Vidro Alunos usuários do espaço Professores usuários do espaço Funcionários usuários do espaço – segurança, limpeza, administrativo 212 ANEXO 3 - LEI Nº 8.211, DE 06 DE MARÇO DE 1975 ANEXO 3 - LEI Nº 8.211, DE 06 DE MARÇO DE 1975 Legislação - LEI Nº 8.211, DE 06 DE MARÇO DE 1975 Estabelece condições de localização, aproveitamento, ocupação e recuos para edificações destinadas a estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e aos estabelecimentos de educação infantil. (Alterada) Complementada pelas LM 8.769/78 e 9.094/80 Mantidas as disposições pela LM 13.885/04 Ver DM 45.726/05 - Retificado DOM 14/03/85 - já anotado MIGUEL COLASUONNO, Prefeito do Município de São Paulo, usando das atribuições que lhe são conferidas por lei. Faço saber que a Câmara Municipal, em sessão de 28 de fevereiro de 1.975, decretou e eu promulgo a seguinte lei: Art. 1º - Os estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e os estabelecimentos de educação infantil são enquadrados nas categorias de uso E1, E2 e E3, definidas pela Lei nº 7.805 de 1 de novembro de 1972, devendo obedecer a todas as exigências fixadas para essas categorias de uso, bem como as exigências da Lei nº 8.001 de 24 de dezembro de 1973, excetuando-se o estabelecido por esta lei. Art. 2º - Os estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e os estabelecimentos de educação infantil poderão instalar-se nas zonas de uso constantes do Quadro anexo, de acordo com todas as exigências nele fixadas quanto à área mínima de terreno, coeficiente de aproveitamento máximo, taxa de ocupação máxima, recuos mínimos obrigatórios, área destinada a estacionamento, embarque, desembarque e manobras de veículos e demais exigências desta lei. Art. 3º - Os estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e os estabelecimentos de educação infantil regularmente instalados até a data da publicação desta Lei, em qualquer zona de uso, exceptuando-se as zonas Z-1 e os corredores de uso especiais Z8-CR1 quando a área construída já tenha ultrapassado as exigências estabelecidas no Quadro anexo, poderão ser objeto de ampliação, desde que atendendo às seguintes condições: I - seja motivada por necessidades técnicas devidamente comprovadas e justificadas pelo órgão competente para a fiscalização dos estabelecimentos de ensino; II - receba parecer favorável da Comissão de Zoneamento, que poderá, em caráter excepcional, adotar critério diverso do estabelecido nas colunas B, C, D e E do Quadro anexo; III - a área a ser edificada não ultrapasse a 20% da construção existente; IV - as novas partes edificadas que se beneficiarem das disposições deste artigo deverão atender às exigências das colunas H e I do Quadro anexo. Art. 4º - Quando no imóvel de localização do projeto do estabelecimento de ensino pertencente ao sistema educacional do Estado de São Paulo ou estabelecimentos de educação infantil houver áreas arborizadas de valor paisagístico ambiental, a critério da Prefeitura e mediante acordo formal com esta, em que os proprietários e seus sucessores se responsabilizem pela sua total preservação e manutenção, a área edificada resultante da aplicação dos coeficientes fixados no Quadro anexo poderá ser acrescida de área igual à área arborizada a ser preservada. Parágrafo único - O acréscimo de áreas a que se refere o "caput" deste artigo destinar-se-á exclusivamente a instalações escolares. Art. 5º - Os estabelecimentos de educação infantil, bem como os pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo do primeiro grau, poderão se instalar em imóveis localizados em zonas de uso Z-1, desde que: 213 I - numa faixa de 250 metros de largura, envolvendo o imóvel, não exista área pertencente a qualquer outra zona de uso onde são permitidos os usos objeto desta lei; II - numa faixa de 500 metros de largura, envolvendo o imóvel, não exista área pertencente a outro estabelecimento escolar de mesmo grau de atendimento; às disposições do item IV do artigo 5º e admitindo-se exclusivamente as reformas essenciais à segurança e higiene das edificações, instalações e equipamentos. Parágrafo único - No caso de reforma com aumento de área construída, será considerado como um projeto novo, devendo atender integralmente ao disposto nesta lei. III - o interessado obtenha a anuência expressa, devidamente firmada e registrada em Registro de Títulos e Documentos, de todos os proprietários limítrofes ao imóvel em que se pretenda a instalação do estabelecimento, bem como de, pelo menos, dois-terços dos proprietários dos imóveis que tenham mais de 50% de sua área contida numa faixa de 100 metros de largura envolvendo o imóvel em que se pretenda a instalação do estabelecimento escolar; IV - não será permitida a derrubada ou a remoção de nenhuma árvore sem prévia autorização da Administração Municipal. Art. 7º - Aos estabelecimentos de ensino ou de educação infantil instalados em zonas de uso Z-1 ou corredor de uso especial Z8-CR1 em situação irregular na data da publicação desta lei, que não puderem atender o que ora é estatuído, fica estabelecido que após o encerramento do atual ano-letivo será aplicado o disposto no Capítulo VI do Decreto 11.106 de 28 de junho de 1974. § 1º - A largura das faixas a que se refere este artigo poderá ser alterada, a critério da Comissão de Zoneamento, quando atingirem obstáculos de transposição impossível ou difícil. § 2º - Para efeito do disposto no item II deste artigo, será considerada a ordem cronológica de entrada do pedido de licença ou de funcionamento ou de aprovação de projeto para cada Administração Regional, separadamente. Art. 6º - Os estabelecimentos de educação infantil e os pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo do primeiro grau, regularmente instalados anteriormente à vigência da Lei nº 7.805 de 1 de novembro de 1972, ou da Lei nº 8.001 de 24 de dezembro de 1973, em zonas que passaram à categoria de uso Z-1 ou corredor de uso especial Z8-CR1, deverão atender apenas Art. 8º - Para atender às exigências de vagas para estacionamento de veículos previstas no Quadro anexo, poderá ser utilizado um outro imóvel localizado a uma distância máxima de 100 metros, mediante a vinculação desse imóvel com o estabelecimento de ensino. Parágrafo único - As disposições deste artigo não se aplicam às zonas de uso Z-1. Art. 9º - Não se aplica o disposto no artigo 24 da Lei nº 7.805, de 1 de novembro de 1972, aos estabelecimentos de ensino que se beneficiarem com o estatuído nesta lei. Art. 10 - As edificações que, ao utilizarem os benefícios desta lei, ultrapassarem aos valores máximos permitidos para a zona de uso em que se localizam, não poderão ter outra destinação que não as objeto desta lei. Art. 11 - A aplicação dos benefícios desta lei às zonas de uso especial Z-8 fica a critério da Comissão de Zoneamento da Coordenadoria-Geral de Planejamento – COGEP. (Ver Res. SEMPLA/CZ 82/82) 214 Art. 12 - Os novos estabelecimentos de ensino objeto desta lei, que se instalarem em imóveis lindeiros a vias que integrem o sistema de vias expressas ou o sistema de vias arteriais do Município, não poderão se beneficiar desta lei. Art. 13 - Publicado pelo Presidente da Câmara e pelo Prefeito, faz parte integrante desta lei o Quadro anexo. Art. 14 - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, aos 6 de março de 1975, 422º da fundação de São Paulo O PREFEITO, MIGUEL COLASUONNO O Secretário de Negócios Internos e Jurídicos, THEÓPHILO ARTHUR DE SIQUEIRA CALVACANTI FILHO O Secretário das Finanças, KLAUS DIETMAR ALVAREZ. Respondendo pelo Expediente O Secretário de Obras, IVAN LUBACHESCKI O Secretário Municipal da Educação, ROBERTO FERREIRA DO AMARAL O Secretário dos Negócios Extraordinários, LUIZ MENDONÇA DE FREITAS Publicada na Chefia do Gabinete do Prefeito, em 6 de março de 1975. O Chefe do Gabinete, ERWIN FRIEDRICH FUHRMANN 215 ANEXO 4 - PLANO DE MELHORIAS Controlador com 08 planos compatíveis com equipamento existente no corredor Santo Amaro. Local: Av. Hélio Pellegrino X Praça Edgard Hermelino Leite (R. Baluarte). 1) Controladores compatíveis com a rede proposta para a Vila Olímpia. Especificações Técnicas: - 08 fases veiculares; - 02 fases para pedestres; - trabalhar em rede; - mínimo de 08 planos; - acessibilidade à qualquer outro controlador similar ( para programação e leitura) Locais: - Av. Hélio Pellegrino X R. Nova Cidade - Av. Hélio Pellegrino X R. Atílio Inocentti (acesso da R. Fiandeiras) - R. Ribeirão Claro X R. Quatá - R. Ribeirão Claro X R. Casa do Ator - R. Ribeirão Claro X R. Gomes de Carvalho - R. Ribeirão Claro X R. Cardoso de Melo - R. Ribeirão Claro X Hélio Pellegrino 2) Deverão ainda ser implantados os seguintes equipamentos: - Colunas semafóricas: a) braços projetados: 10 b) colunas simples: 22 - Grupos focais: a) para veículos: 21 b) para pedestre: 32 - Laços detetores (seções): 10 - Botoeiras para pedestres: 16 - Cabos elétricos (4 x 11/12”): 1.500 metros para ligações entre controladores e grupos focais. 3) Readequação da configuração geométrica do cruzamento da Av. Hélio Pellegrino com a Pça. Edgard Hermelino Leite (R. Baluarte), a ser semaforizado, conforme Croqui nº 1 juntado às Fls. 99 à 101 do processo nº 1999-0243.453-3. 4) Deverá ser implantada e/ou revitalizada a sinalização horizontal e vertical dos cruzamentos indicados nos itens 01 e 02. 216 ANEXO 5 – ESTUDO DE VAGAS PARA ESTACIONAMENTO São Paulo, 12 de Julho de 2000. À CET Rua Jaques Felix, 66 – 6º andar São Paulo - SP Att.: Luis Fernando Corresp. N° 240/2000 Prezados Senhores, Conforme solicitação de V.S.ª encaminhamos documentação conforme processo nº 1999-0.243.453-3 de acordo com os documentos relacionados abaixo que seguem em anexo: nº278; com a ROD estacionamentos para 160 vagas de estacionamento; conforme tabela a seguir: Sem mais para o momento, Atenciosamente, Sobrosa Melo e Silva Construtora e Engenharia Ltda. Tr. Ubirassanga,35 - São Paulo - SP Fone 5561 7505 Fax 5561 7504 www.sobrosa.eng.br 217 ANEXO 6 – DISTRIBUIÇÃO DE SALAS EM USO ACADÊMICO NO PERÍODO DE 2001 A 2011