Arquivo PDF - PPG Design | Anhembi Morumbi

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
FABÍOLA MARIALVA MARQUES
DESIGN EM DIÁLOGO NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO:
A MEMÓRIA DO EDIFÍCIO THEATRO CASA DO ATOR,
O PRÉDIO DE VIDRO
São Paulo
2011
FABÍOLA MARIALVA MARQUES
DESIGN EM DIÁLOGO NO ESPAÇO UNIVERSITÁRIO:
A MEMÓRIA DO EDIFÍCIO THEATRO CASA DO ATOR,
O PRÉDIO DE VIDRO
Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como
exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Design, área
de concentração em Design, Arte, Moda e Tecnologia da Universidade
Anhembi Morumbi, sob a orientação do Profa. Dra. Ana Mae Barbosa.
São Paulo
2011
M317d
MARQUES, Fabíola Marialva
Design em diálogo no espaço universitário: A memória
do Edifício Theatro Casa do Ator, o Prédio de Vidro /
Fabíola Marialva Marques. - 2011
217f.;il.; 30 cm.
Orientador: Ana Mae Barbosa
Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade
Anhembi Morumbi, São Paulo, 2011.
Bibliografia: f. 207-210.
1.Design. 2. Memória. 3. Arquitetura. 4. Prédio de Vidro.
5. Universidade. I Título.
CDD 741.6
DEDICATÓRIA
Dedico este espaço para, mais do que agradecer, mandar aquele abraço a todos
os amigos e os professores que confiaram nesta pesquisa, em especial a minha
Banca – Ana Mae Barbosa, Maria Helena Flynn e Marcia Merlo, com grande
consideração intelectual agradeço a atenção, dedicação e paciência ao contribuir
com um pouco de todo conhecimento.
Agradeço a todos aqueles que participaram da pesquisa, oferecendo apoio,
respondendo a entrevista, deixando seu depoimento e disponibilizando seu
tempo para contar uma boa história. Aquele abraço especial para o arquiteto
Francisco Petracco, ao reitor Gabriel Rodrigues, Regina Ambrósio, Lucilene
Casteliano Faria, Ricardo Centurione, Ailton Bernardes, Dr. Fabiano Laperuta,
arquiteta Deise Marques Araujo, engenheiros Delduque Oliveira, Eduardo Sobrosa,
Wilson Mello, Luis Araujo, Luiz Crepaldi, Leonardo Lenharo e meus eternos
mestres, no curso de arquitetura da Universidade Anhembi Morumbi.
Um abraço carinhoso a uma pessoa muito especial que tornou esta dissertação
possível; Luciano Gilio, muito obrigada pelo apoio, dedicação, companheirismo e
cumplicidade.
Aquele abraço para a algumas pessoas especiais que estão sempre presente, Mã,
Abu, Cláudio Lima, Melissa, por entender o processo, acompanharem os desafios
e dificuldades que se vive ao fazer uma pesquisa, sempre oferecendo um ombro
amigo nas horas mais difíceis.
Aquele abraço, também, aos alunos, ex-alunos, funcionários, ex-funcionários,
colegas que conheci, amigos que conquistei durante os 10 anos de Anhembi
Morumbi e que sempre levarei no coração.
E mesmo não podendo fazê-lo fisicamente, aquele abraço ao meu pai, distante;
mas sempre vivo e presente.
RESUMO
ABSTRACT
O presente trabalho tem como objetivo traçar a trajetória da concepção
e uso do Prédio de Vidro, a Unidade 6 da Universidade Anhembi Morumbi,
situado na Rua Casa do Ator, nº 275, do Campus Vila Olímpia.
A Universidade Anhembi Morumbi nasce em 1971 a partir da iniciativa
de um pequeno grupo de engenheiros e arquitetos do estado de São Paulo
locados no Departamento de Obras Públicas liderados por Gabriel Mário
Rodrigues, onde iniciam suas atividades em uma única edificação no Bairro do
Morumbi abrigando o curso de Turismo com quatro turmas de 90 alunos. Em
1978, transfere-se para o Bairro da Vila Olímpia, expandindo-se posteriormente
para os Bairros do Brás, Centro, Brooklin e Bela Vista, totalizando cinco Campi.
Atualmente, 40 anos após sua fundação, transformou-se em uma universidade
com aproximadamente 32.000 alunos distribuídos em quinze edificações,
oferecendo 104 cursos entre graduação, pós-graduação, graduação tecnológica e
graduação executiva. A partir de 2005, passa a integrar a Rede Internacional de
Universidades Laureate presente em 28 países.
Diante de tal contexto, esta pesquisa propõe resgatar, através de
documentos e testemunhos, a história do primeiro edifício da Instituição
concebido para ser um espaço universitário, contrariando as adaptações em
espaços fabris já existentes no tecido urbano, que fazia até 2001. É uma tentativa
de resgatar uma parte da Memória da Universidade Anhembi Morumbi contada a
partir de sua arquitetura, bem como identificar aspectos interpretativos deste
espaço acadêmico, decodificar sua obra, entender seu design estabelecido e
identificar elementos que possibilitem o significado de sua forma.
This paper aims to trace the trajectory of the design and use of Prédio de
Vidro, Unit 6 at Anhembi Morumbi University, located at Actor House Street, nº.
275, Vila Olímpia Campus.
The University Anhembi Morumbi born in 1971 on the initiative of a
small group of engineers and architects of the Sao Paulo state leased at the
Department of Public Works led by Gabriel Mario Rodrigues, which begin their
activities in a single building in the neighborhood of Morumbi harboring Tourism
course with four classes of 90 students. In 1978, he moved to the district of Vila
Olímpia, expanding later to the neighborhoods of Bras, Downtown, Brooklyn and
Bela Vista, totaling five campuses. Today, 40 years after its founding, became a
university with approximately 32,000 students distributed in fifteen buildings,
offering 104 courses from undergraduate, graduate, undergraduate and graduate
technology executive. Starting in 2005, joins the Laureate International Network
of Universities in 28 countries.
Given this context, this research proposes to redeem, through
documents and testimony, the history of the institution's first building designed
to be a university area, contrary to the adaptations in existing manufacturing
spaces in the urban fabric, which was until 2001. It is an attempt to rescue a part
of the Memory Anhembi Morumbi told from its architecture, and identify
interpretive aspects of academic space, decode his work, understand and identify
established design elements that enable the significance of its shape.
Palavras-chave: Design. Memória. Arquitetura. Prédio de Vidro. Universidade.
Keywords: Design. Memory. Architecture. Prédio de Vidro. University.
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
Reitor
Gabriel Mário Rodrigues
Vice-reitor
Ricardo Grau
Pró-reitora
Josiane Tonelotto
Coordenação de Mestrado em Design
Jofre Silva
Corpo Docente (2011)
Agda Regina de Carvalho
Ana Mae Barbosa
Cristiane Ferreira Mesquita
Gisela Beluzzo de Campos
Jofre Silva
Luisa Paraguai
Márcia Merlo
Rachel Zuanon
Rosane Preciosa
Corpo Docente (2009-2011)
Kátia Castilho
Maria Izabel Ribeiro
Maria Lúcia Bueno
Mônica Moura
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Ana Mae Barbosa
Orientadora
Universidade Anhembi Morumbi
Profa. Dra. Márcia Merlo
Professora convidada Interna
Universidade Anhembi Morumbi
Profa. Dra. Maria Helena de Moraes Flynn
Professora convidada Externa
Universidade Católica de Santos
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
14
INTRODUÇÃO
1
15
CAPÍTULO 1: CONDIÇÃO HISTÓRICA
25
2
1.1 O ENSINO SUPERIOR E A ARQUITETURA
1.2 O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
1.3 A UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
25
29
37
CAPÍTULO 2: O PRÉDIO DE VIDRO
2.1 A ORIGEM DA UNIDADE 6
2.2 UM POUCO SOBRE O ARQUITETO
2.3 A ARQUITETURA
2.3.1 O DESENHO
2.3.2 A ESTRUTURA
2.3.3 O RITMO
2.4 A CONSTRUÇÃO
83
83
93
118
118
142
153
165
CAPÍTULO 3: POR UMA LEITURA POSSÍVEL
O FIM DO COMEÇO OU O COMEÇO DO FIM
A ESCOLA ABERTA
188
188
194
CONSIDERAÇÕES FINAIS
PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS
202
205
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
207
ANEXOS
211
Figura 1 – Implantação do Prédio de Vidro – Desenho do Complexo Theatro, no
Campus Vila Olímpia, com a fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua
Casa do Ator, sobre recorte do Bairro Vila Olímpia no mapa GEGRAN, de 1974.
Fonte: Acervo Pessoal da Autora
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Implantação do Prédio de Vidro
10
Figura 26
Fachada principal do Campus Centro
65
Figura 2
Complexo Theatro
19
Figura 27
Fachada posterior do Campus Centro
65
Figura 3
Estabelecimento de campus no estrangeiro
33
Figura 28
Projeto do Campus Centro
66
Figura 4
McDonaldização da Educação Superior
34
Figura 29
Implantação atual do Campus Centro
67
Figura 5
Programas conjuntos
Mapa de localização dos Campi da Universidade Anhembi
Morumbi
34
Figura 30
Fachada principal da Unidade 6 do Campus Vila Olímpia
69
Figura 31
Catálogo informativo sobre o Processo Seletivo de 2001
70
Figura 32
Fachada do Campus Vale do Anhangabaú
71
Figura 33
72
Figura 34
Fachada principal do Campus Morumbi
Maquete eletrônica do projeto para o Edifício Jardim no Campus
Morumbi
Figura 35
Mapa do Campus Morumbi
73
Figura 36
Fachada do Complexo Theatro
74
75
Figura 6
Figura 7
36
Figura 13
Capa do livro "Se Não Foi a Primeira, Não Foi a Segunda"
Apresentação do corpo diretivo e docente da Faculdade de
Turismo do Morumbi
Primeiras publicações da Faculdade de Turismo do Morumbi no
jornal Folha de São Paulo
Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Turismo
do Morumbi
Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de
Comunicação Social Anhembi
Recorte do informe publicitário da Faculdade de Comunicação
Social Anhembi no jornal Folha de São Paulo
Fachada principal do Faculdade de Comunicação Social Anhembi,
Campus Vila Olímpia
Figura 14
Informativo Faculdade Anhembi Morumbi
47
Figura 15
Logotipo das Instituições
47
Figura 16
Figura 17
Evolução do Logotipo da Universidade Anhembi Morumbi
Fachada principal da Faculdade Anhembi Morumbi, Campus Vila
Olímpia:
Figura 18
Semana Brasileira de Moda
Figura 19
Laboratório específico de gastronomia
Figura 8
Figura 9
Figura 10
Figura 11
Figura 12
37
39
40-42
43
72
Figura 37
Fachada do Complexo Theatro
45
Figura 38
Evolução urbana do Campus Vila Olímpia
45
Figura 39
Fachada lateral do Complexo Theatro
78
Figura 40
Informe publicitário Folha de São Paulo:
79
Figura 41
Laboratório de Simulação do curso de Medicina
80
Figura 42
Fachada do Campus Avenida Paulista
80
Figura 43
Hall de acesso das salas da BSP no Campus Morumbi
81
Figura 44
Hall de acesso as salas de graduação no Campus Morumbi
81
50
Figura 45
Mapa de uso e ocupação do solo da Regional de Pinheiros
83
51
Figura 46
Francisco Colman
85
54-55
Figura 47
Ocupação do terreno Casa do Ator, 265 e 275
88
Figura 48
Desenho esquemático da implantação do Prédio de Vidro
Vista áerea com delimitação da área do terreno e implantação do
Prédio de Vidro
90
91
Figura 51
Estudo de viabilização construtiva da Unidade 6
Quadro de áreas apresentado em conjunto com o estudo para
viabilização construtiva da Unidade 6
92
Figura 52
Francisco Petracco
93
Figura 53
Concurso para a Assembleia Legislativa de São Paulo
95
Figura 54
Desenhos para o Concurso do Clube XV de Santos
92
Figura 55
Clube XV de Santos
92
46
48-49
Figura 20
Laboratório específico da Escola de Ciências da Saúde
54-55
Figura 21
Laboratórios específicos da Universidade Anhembi Morumbi
56-57
Figura 22
Figura 23
Antiga sede da Alpargatas
Implantação e projeto arquitetônico para construção do campus
universitário na Universidade Estácio de Sá
62
Figura 24
Proposta de Implantação do Campus Centro de 1997
63
Figura 25
Mapa de localização do Campus Centro
64
Figura 26
Fachada principal do Campus Centro
61
Figura 27
Fachada posterior do Campus Centro
61
59
Figura 49
Figura 50
76-77
90
Figura 54
Desenhos para o Concurso do Clube XV de Santos
96
Figura 85
Unidade 06, projeto de 2001
126
Figura 55
Clube XV de Santos
96
Figura 86
Unidade 07, projeto de 2003
127
Figura 56
Concurso Palácio da Justiça de Santa Catarina
97
Figura 87
Unidade 05, projeto de 2005.
127
Figura 57
Palácio da Justiça de Santa Catarina
97
Figura 88
Átrio Central
128
Figura 58
Residencia Cláudio Morelli
98
Figura 89
Vista da galeria de circulação para o átrio de convivência
129
Figura 59
Residencia Vicente Izzo
98
Figura 90
Estrutura metálica de sustentação da caixa do elevador.
130
Figura 60
Residencia Pedro Marrey
98
Figura 91
Circulação vertical
131
Figura 61
Edifícios residências
98
Figura 92
Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro
132
Figura 62
Projeto urbanístico de Reurbanização do Eixo Tamanduateí-Luz
99
Figura 93
Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro
133
Figura 63
Projeto urbanístico – Proposta para o Rio Tietê
100
Figura 94
134
Figura 64
Projeto para Palácio das Nações
101
Figura 65
Projeto Escola Museu, Jundiaí
102
Figura 66
Escola Gomes Cardim
102
Figura 67
Jardim Santo Inácio
104
Figura 68
Jardim Santo Inácio
104
Figura 69
Escola Poá
105
Figura 70
Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago - 1º projeto
107
Figura 71
Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto.
108
Figura 72
Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto.
108
Figura 73
Figura 95
A espiral do Conhecimento.
Descobrindo o Prédio de Vidro, a partir da espiral do
conhecimento.
Figura 96
Evolução do Prédio de Vidro
Figura 97
Capa do Catálogo do Processo Seletivo de 2001
141
Figura 98
Fachada frontal do Prédio de Vidro
142
Figura 99
Corte esquemático da concepção estrutural
144
Figura 100
Croqui com medidas
145
Figura 101
Fachada esquemática da concepção estrutural
146
Figura 102
Corte esquemático da concepção estrutural
146
Figura 103
Detalhamento do piso de Steel Deck
147
Figura 104
Detalhe de conexões nas treliças
148
150
135
138-139
Proposta de Francisco Petracco para a Fachada do Campus Centro
Implantação proposta por Francisco Petracco para Campus
Figura 74 Centro
112
Figura 105
Sala de aula padrão
Figura 75
Distribuição atual do Campus Centro
113
Figura 106
Projeto do Auditório no Prédio de Vidro
Figura 76
Mapa do Campus Centro
114
Figura 107
Capela de São Judas Tadeu
157
Figura 77
Compatibilização dos projetos para o Campus Centro
115
Figura 108
Capela de São Judas Tadeu, vista externa
158
Figura 78
Fachada da Unidade 6
116
Figura 109
Capela de São Judas Tadeu, vista interna
159
Figura 79
Ata de reunião de 10 de junho de 1999
117
Figura 110
Esplanada do Complexo Theatro
160
Figura 80
Croqui da Unidade 6
118
Figura 111
Ilustração comparativo da disposição das salas de aula.
162
Figura 81
Planta do pavimento tipo do Prédio de Vidro
122
Figura 112
Proporções arquitetônicas
164
Figura 82
Pavimento tipo da Unidade 6
124
Figura 113
Cliente Astra Zeneca
166
Figura 83
Pavimento tipo da Unidade 7
124
Figura 114
Cliente EFACEC do Brasil Ltda
166
Figura 84
Pavimento tipo da Unidade 5
125
Figura 85
Unidade 06, projeto de 2001
122
Figura 86
Unidade 07, projeto de 2003
122
Figura 116
Pedra Fundamental
166
Figura 117
Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental
167
111
155-156
LISTA DE TABELAS
Figura 115
Cronograma físico de execução apresentado para a
concorrência na obra do Prédio de Vidro
167
Figura 116
Pedra Fundamental
170
Figura 117
Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental
171
Figura 118
Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental
172-173
Figura 119
Cápsula do Tempo
174-175
Figura 120
Capela São Judas Tadeu
176
Tabela 4
Intervenções arquitetônicas da AOP
Histórico arquitetônico das Universidades realizados por
Pinto e Buffa (2006)
Relação de metro quadrado das áreas acadêmicas da
Universidade Anhembi Morumbi
Evolução da empresa Alpargatas e Universidade Anhembi
Morumbi
Figura 121
Arquiteto Francisco Petracco
177
Tabela 5
Quadro único anexo a LEI Nº 8.211
Figura 122
Coração Solar do Prédio de Vidro
178
Figura 123
Cobertura de vidro.
179
Figura 124
Construção do Prédio de Vidro
180-181
Figura 125
Construção do piso do Prédio de Vidro
182-183
Figura 126
Fachada do Prédio de Vidro em construção
184-185
Figura 127
186
Figura 128
Fachada do Prédio de Vidro
Catálogo da exposição “A boa arquitetura de uma
geração”
Figura 129
Acabamento do piso
189
Figura 130
Impactos estéticos por falta de manutenção
Figura 131
Rebaixo do piso
192
Figura 132
Iluminação da escada do Prédio de Vidro
193
187
190 - 191
Tabela 1
Tabela 2
Tabela 3
17
26
53
60-61
89
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1
Proporção de áreas acadêmicas da Universidade Anhembi
Morumbi por campus
53
Gráfico 2
Número de salas de aula por Campus
54
Gráfico 3
Número de laboratórios de informática por Campus
54
Gráfico 4
Número de laboratórios específicos por Campus
54
Gráfico 5
Relação de funcionários na AOP
Indice de satisfação com a infraestrutura da Capela São
Judas Tadeu
76
Gráfico 6
157
14
recadastramento de cursos da Universidade Anhembi
APRESENTAÇÃO
Morumbi, regularização dos imóveis junto à Prefeitura da
Durante o colegial em Alfenas, os professores
comentavam a diferença no desempenho dos estudantes de
ensino médio em cidades com universidade; diziam que este
tipo de instituição era um elemento muito marcante no
Alfenas é uma cidade no sul
do Estado de Minas Gerais
com economia agropastoril
voltada para o café;
contudo é conhecida por
suas duas universidades: A
Universidade Federal de
Alfenas (UNIFAL) e a Universidade de Alfenas – José
do
Rosário
Vellano
(UNIFENAS).
contexto social e urbano, e assim um estímulo para os
estudantes que também
gostariam de vivenciar as
a
convivência
era
muito
estimulante. Como era amiga de Viviane Velano, realizava os
estudos acadêmicos no gabinete da reitoria da Unifenas, e a
frequência dentro dos espaços universitários só aumentavam
o desejo de participar deste universo acadêmico.
Viviane Araújo Velano
Cassis (1981), filha de Edson
Antônio Velano (19432008),
fundador
da
Unifenas. Atualmente é Próreitora de Planejamento e
Desenvolvimento da Universidade de Alfenas.
1.
Ver anexo da relação de
cursos
oferecidos
pela
Universidade
Anhembi
Morumbi.
Em 2001, após ter cursado um ano na faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Alfenas, solicitei
a transferência para a Universidade Anhembi Morumbi, na
qual fui convidada a trabalhar no departamento de
Assessoria a Obras e Projetos (AOP). Trabalhei neste
departamento por 10 anos, acompanhando as mudanças e o
desenvolvimento
do
novos espaços acadêmicos que se apresentavam desde salas
de aula até laboratórios específicos das faculdades em
cursos① tradicionais a inovadores.
Em janeiro de 2011, desliguei-me da AOP para me
dedicar aos estudos acadêmicos e a docência. Embora a
mudança na área de atuação profissional, a área universitária
experiências universitárias.
Particularmente,
Cidade de São Paulo e desenvolvimento e implantação de
espaço
físico
da
universidade,
participando de alguns processos de reconhecimento e
sempre foi muito presente e marcante na minha trajetória, o
que levou a instigar questões relacionadas aos projetos de
espaços universitários.
Os anos de convivência e experiência dentro da
Universidade Anhembi Morumbi conduziram-me a uma
pesquisa sobre o espaço da Instituição. Esta que me acolheu
como aluna de graduação e pós-graduação, funcionária da
área administrativa e, atualmente, como funcionária da área
acadêmica como professora. Esta experiência proporcionou
um olhar diferenciado sobre seu espaço acadêmico, que não
é construído com fins estritamente acadêmicos, mas também
considera aspectos econômicos, sociais, jurídicos, culturais e
comerciais.
15
arquitetônica
INTRODUÇÃO
deve
privilegiar
ambientes
da
tríade
educacional: ensino, pesquisa e extensão; bem como demais
Segundo portal do Ministério da Educação e Cultura
espaços auxiliares que possibilitem seu funcionamento.
Desta forma, para abrir um curso, por exemplo, a
(MEC), para uma Instituição de Ensino Superior (IES) iniciar
suas atividades, deve solicitar seu credenciamento de acordo
com sua organização acadêmica. O credenciamento, com as
prerrogativas
de
autonomia,
depende
de
ter
um
funcionamento regular e um padrão satisfatório de
qualidade. O recredenciamento da IES deve ser solicitado ao
final de cada ciclo avaliativo do Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Superior (Sinaes); que avalia
instituições, cursos e desempenho dos estudantes por meio
de processos coordenados pela Comissão Nacional de
Num processo de avaliação da IES, são considerados
como
o
ensino,
pesquisa,
extensão,
responsabilidade social desenvolvido pela instituição, gestão
da instituição, seu corpo docente e discente. O espaço físico
é avaliado dentro de um indicador de instalações físicas,
como exigência mínima para avaliação e funcionamento de
um curso de graduação.
Esta premissa leva a crer que
uma infraestrutura básica para abertura e funcionamento e
exige a existência de espaços, que podem ser construídos e
adaptados pela IES, ou, ainda, podem ser utilizados em
parceria ou convênio com outras instituições. Contudo,
apesar de definir os ambientes necessários, não estabelece
diretrizes para um plano qualitativo deste espaço, ficando a
cargo da Instituição definir a infraestrutura que lhe melhor
convém.
A Assessoria de Obras e Projetos (AOP) responsável pelas
Avaliação da Educação Superior (Conaes).
aspectos
Comissão de Especialista de Ensino pelo MEC, estabelece
a proposta
intervenções, de caráter educacional, nos imóveis adquiridos
pela Universidade Anhembi Morumbi, atende essas diretrizes
de infraestrutura solicitadas pelo MEC, de três formas
distintas:
1.
Novas construções: Dependendo da necessidade
acadêmica, o número de salas ou localidade distinta dos
campi existentes e do porte da construção, a universidade
contrata um projeto arquitetônico para suas instalações, o
qual será a tradução da ideia que o arquiteto julga ser
necessário para atender a demanda solicitada. O projeto
16
2.
3.
contratado terá a imagem moldada a partir de um briefing
da instituição e de como o espaço se manifesta para o seu
idealizador; culminando na construção de um novo
edifício;
Implantação de novo Campus: Em caso de um edifício já
consolidado que atenda a necessidade acadêmica e a
localidade, a universidade ora contrata um projeto
arquitetônico, ora desenvolve junto ao AOP a adaptação
dos espaços, traduzindo as exigências acadêmicas ao
espaço a ser modificado para o novo uso;
Adaptação de edifícios existentes: Quando a universidade
já apresenta o espaço físico dentro da própria instituição,
o ambiente é adaptado de acordo com as novas
necessidades acadêmicas pela própria AOP.
motivos de convênio ou parceria acontecem devido à
complexidade da infraestrutura e o custo dos equipamentos
para montagem de um espaço que será utilizado
eventualmente durante o curso.
Embora a AOP desenvolva espaços de acordo com as
diretrizes de infraestrutura básica estabelecida pelo MEC, a
construção de um edifício acadêmico é resposta, não só de
uma proposta arquitetônica, mas também dos anseios da
Instituição.
As diferenças encontradas nas edificações de Ensino
Superior
Além da construção de novos espaços, a Anhembi
Morumbi, mantém parcerias e convênios de espaços físicos,
buscando em outras Instituições, públicas ou privadas, a
locação
de
infraestrutura
que
complementem
suas
instalações atendendo as exigências acadêmicas do seu
curso; por exemplo, a parceria em laboratórios do Instituto
de Pesquisa e Tecnologia (IPT) da Universidade de São Paulo
(USP) para cursos nas áreas de Engenharias e tecnologias; ou
ainda convênios com Hospitais para estágios acadêmicos em
cursos da área da Saúde. Em ambos os casos, os principais
traduzem
Universidades
o
dentro
posicionamento
do
Cenário
adotado
pelas
Educacional
e,
consequentemente, a proposta em investimento de suas
infraestruturas; sujeitando o projeto à ação de valorização e
desvalorização de seu ambiente, sob o aspecto físico,
influenciando em seu reconhecimento simbólico.
Esta diferenciação, encontrada nas edificações da
Universidade
Anhembi
Morumbi,
evidencia
aspectos
acadêmicos, econômicos, sociais, jurídicos, culturais e
comerciais da Instituição; o que instigou a realização desta
pesquisa.
17
FORMA DE INTERVENÇÃO
1
NOVAS CONSTRUÇÕES
CAMPUS
EXEMPLO
Campus Vila Olímpia
(Unidade 5, Unidade6 e Unidade7)
Campus Morumbi – Edifício Jardim
Campus Vila Olímpia – Ginásio da Unidade 5
2
IMPLANTAÇÃO DE NOVO CAMPUS
Campus Centro
Campus Morumbi – Galpão
Campus Vale do Anhangabaú
Campus Avenida Paulista
Campus Avenida Paulista
3
ADAPTAÇÃO DE EDIFÍCIOS
EXISTENTES
Campus Morumbi – Edifício Jardim
Campus Morumbi – Galpão
Campus Vila Olímpia
(Unidade1 e Unidade 9)
Adaptações Gerais
Campus Vila Olímpia – Unidade 9
Campus Vila Olímpia – Unidade
Gastronomia
Graduação Executiva
Tabela 1 – Intervenções arquitetônicas da AOP – Exemplos dos tipos de intervenções arquitetônicas realizadas pela AOP nos imóveis adquiridos pela Universidade Anhembi Morumbi com intuito
de atender as diretrizes de infraestrutura solicitadas pelo MEC, desenvolvendo ambientes para fins acadêmicos.
Fonte: Tabela elaborada pela autora
18
ABORDAGENS DO PROBLEMA
reconheça o partido arquitetônico e identifique o espaço
acadêmico de uma Universidade?”.
Para Kahn, em Giurgola e Mehta (1994), a vontade
Como esta é uma questão ampla, procurou-se focar
de expressão do homem é a razão de ser do indivíduo, sendo
em um estudo de caso do Edifício Theatro Casa do Ator,
que cada gesto é um signo. As Instituições são carregadas
conhecido como Prédio de Vidro, no Campus Vila Olímpia da
destes signos, sendo que “muitas vezes, essas edificações são
Universidade Anhembi Morumbi, a fim de conseguir
concebidas como recintos cercados por paredes sólidas que
identificar, a partir de uma análise de sua trajetória, desde o
não deixam adivinhar a flexibilidade das circulações internas,
processo criativo do arquiteto aos valores simbólicos da
disposições que correspondem, no interior, à necessidade de
arquitetura, a história por trás de seu design. Acredita-se que
reclusão e, no exterior, à expressão simbólica”.
as memórias nas edificações da Instituição traduzem a
Contudo, nem sempre a proposta que o arquiteto faz
História da Universidade Anhembi Morumbi, seu processo
para um espaço seduz seu usuário. Isto por que os signos
para a posição de destaque no cenário educacional, como
físicos projetados precisam ser apropriados por quem os
resposta a seus objetivos de crescimento, seu planejamento
vivencia. O usuário em contato com o edifício, percorre-o
estratégico na distribuição dos Campi na malha urbana e as
identificando, vivenciando e (re) conhecendo os significados
dificuldades e resultados alcançados na concepção e
pessoais que cada ambiente e elemento lhe transmitem,
implantação de seus cursos. E, ainda, que a interpretação dos
podendo apropriar-se ou rejeitar este lugar.
usuários de seus espaços esteja intimamente ligada ao
A consolidação do projeto universitário em um
repertório sociocultural e satisfação com a Instituição como
edifício e a forma como ele é reconhecido, conduziu a
um todo, seja por sua infraestrutura, como também por
seguinte questão: “quais fatores contribuem para que se
questões acadêmicas e institucionais.
19
HIPÓTESE
A hipótese identificada para esta pesquisa foi:
OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Analisando a trajetória arquitetônica do Edifício
Theatro Casa do Ator da Universidade Anhembi Morumbi,
em que se enquadra a Universidade Anhembi Morumbi;

conhecido como Prédio de Vidro, é possível identificar
elementos arquitetônicos, com base nos aspectos históricos
Identificar o partido arquitetônico e o processo criativo
do arquiteto Francisco Petracco para o Prédio de Vidro;

e simbólicos, que contribuem para que o usuário deste
espaço reconheça e identifique o ambiente acadêmico.
Analisar o contexto físico, econômico, político e cultural
Identificar os motivos das diferenças entre projeto e
construção;

Analisar quais elementos o usuário percebe no espaço.
A memória do Prédio de Vidro evidencia a presença
destes elementos na arquitetura desde o projeto, passando
pela construção, a manutenção até o uso do espaço
acadêmico.
OBJETIVO GERAL
O presente trabalho tem como objetivo investigar a
memória do Edifício Theatro Casa do Ator, a unidade 6 da
Universidade Anhembi Morumbi, conhecido como Prédio
de Vidro, buscando identificar os elementos arquitetônicos
de seus ambientes que representem a atividade-fim que é
ser um espaço universitário.
Figura 2 - Complexo Theatro
– Unidade 6 e 7 do Campus
Vila
Olímpia,
fachada
frontal do Prédio de Vidro,
frente para a Rua Casa do
Ator, com totem de
identificação da unidade
em primeiro plano, seguido
pelo Prédio de Vidro e ao
fundo a Unidade 7.
Fonte: Acervo Universidade
Anhembi Morumbi
20
INSTRUMENTAL TEÓRICO
A partir de 1960, diante dos questionamentos sobre
a Arquitetura Moderna e sua funcionalidade, a subjetividade
no ato de projetar passa a ser questionada. Começa-se a
avaliar a pré-existência ambiental do projeto, suas relações
com o lugar, seu entorno; o importante papel da História e a
Tradição na arquitetura; as relações antropológicas e
psicológicas com a arquitetura, de forma a analisar como as
pessoas percebem e interagem com o espaço.
Para Harvey (2005), as práticas espaciais são providas
de sutilezas e complexidades estreitamente implicadas em
processo de reprodução e de transformação das relações
sociais e as generalidades dos seus usos. Harvey tenta
explicar esta complexidade em uma grade de práticas
espaciais em três estágios: o vivido, o percebido e o
imaginado.
Nojima (1999) classifica os aspectos comunicacionais

Lynch (1982) propõe que o repertório cultural e a
percepção sensorial que o observador tem, faz com que
ele leia as relações e distinções sugeridas pelo meio.

Santos (1985) estabelece como método de
análise do espaço, a investigação sobre a função que os
elementos compõem dentro de um ambiente urbano.
Sendo que a leitura e a interpretação do meio ambiente
aconteçam devido à percepção e interação dos elementos
observados dentro de um contexto de tempo e lugar.

Cullen (1984) define visão serial como a sucessão
de súbitas revelações ou surpresas percebidas pelo
usuário no decorrer do percurso. E indica que a leitura e
interpretação do ambiente urbano conceituam o local e o
conteúdo, isto inter-relacionado a termos como:
individualização da paisagem; identificabilidade por
elementos e identificabilidade por tradição funcionalista,
temas elaborados por ele.

Rapoport (1978) aborda o cunho psicológico do
meio ambiente construído como possibilidade de
comunicação não verbal, possibilitada pela leitura de
signos que reconheceu na cidade. Implica três estágios de
inter-relação com o ambiente: conhecer, sentir e agir.

Ferrara (1988), analisa a leitura não verbal do
meio urbano a partir da semiótica, sugerindo uma Teoria
do espaço urbano composta de três vertentes: percepção,
leitura e interpretação do espaço urbano.
do espaço urbano, sob o ponto de vista de alguns teóricos
que apresentam noções de leitura e interpretação do espaço.
Sendo eles:
Também, é possível encontrar uma classificação
semelhante na área do Design. Norman (2004) divide a
21
prática
do
design
em
três
níveis:
o
visceral,
o
Insinua a leitura do espaço e suas relações de forma
comportamental e o reflexivo. O autor estabelece uma
consciente, quando o observador analisa o objeto observado.
relação entre as ciências cognitivas e a visão sobre o lugar e
O interpretar é a leitura simbólica que orienta as
as emoções no design, sendo que a leitura e a interpretação
atividades e dá sentido com o uso. É quando os elementos
do meio ambiente acontecem devido à percepção e a
arquitetônicos são entendidos e, a partir de uma análise,
interação dos elementos observados dentro de um contexto
evocam sentimentos que completam os espaços com
de tempo e lugar.
imagens pessoais, causando emoções e tocando o imaginário
Ou ainda, Okamoto (2002) que busca compreender o
que o usuário de hoje vê e como interpreta a realidade, a
de quem usa. O observador reflete sobre o objeto observado
e dá a ele sentido e significado próprio.
partir de seu comportamento e ideais, classificando o
Diante deste contexto, esta pesquisa buscou um
processo criativo arquitetônico em dois elementos: os
método para leitura do espaço universitário através da
objetivos e os subjetivos.
análise arquitetônica do espaço e percepção gerada a partir
Embora termos distintos, em uma análise geral,
todos os teóricos dividem a leitura do espaço em três
momentos: o identificar, o vivenciar e o interpretar.
O identificar sendo a análise inicial que se faz, o
contato imediato. É um estado pré-consciente, anterior ao
da interação dos usuários com o meio ambiente, através de
leituras dos textos Del Rio (1996) e Ricceur (2010).
O estudo sobre o espaço universitário baseou-se nos
conceitos históricos de Pinto e Buffa (2006) e Chistopher
Charle, Jacques Verger (1996).
entendimento do que é o gosto ou aversão ao projeto, está
A busca pela compreensão do design do espaço
relacionado à primeira impressão e aos cinco sentidos.
universitário, entender qual a proposta de Educação no
Implica em uma relação de observador e objeto observado.
Ensino Superior, baseou-se na leitura de textos de Onusic
O vivenciar é o percurso realizado por entre o
(2009), Oliveira (2009), Morosini (2005), Wanderley (1988),
edifício. É uma primeira interação a partir do uso dos cinco
Lauanda (1987) e Minogue (1981), enquanto a história da
sentidos ao conhecimento da sensação evocado por ele.
Universidade Anhembi Morumbi e do Prédio de Vidro
22
aconteceu através de depoimentos e pesquisa documental,
além da leitura de Rodrigues (2005).
identificação e reconhecimento do espaço.
Para a análise do edifício, foi considerada uma
pesquisa documental e entrevistas levando em consideração
METODOLOGIA ADOTADA
as referências arquitetônicas adotadas pelo arquiteto,
definidas como: desenho, estrutura e ritmo. Os temas são
Para desenvolvimento deste trabalho, a primeira
ilustrados com desenhos e imagens que permitem o
parte constituir-se-á de uma pesquisa bibliográfica, com
entendimento do edifício a partir de suas características
revisão de literatura nas áreas de Arquitetura, Educação e
Design, referente às linhas de pesquisa sobre Universidade.
Além de livros, serão estudados e analisados pesquisas e
artigos desenvolvidos principalmente sobre a Universidade
Anhembi Morumbi.
arquitetônicas funcionais, formais e estruturais; uma análise
urbana avaliando seu entorno e sua evolução histórica;
representações de sua organização, acessos e circulações,
aberturas e fechamentos, distribuição de espaços, estruturas
e suas memórias.
Visualizando as várias opções de projeto universitário
As análises simbólicas são oriundas de depoimentos
e toda a sua complexidade, esta pesquisa utilizar-se-á de
e testemunhos em questionário②, além de entrevistas com
estudo de caso de um projeto consolidado, sendo analisado o
o arquiteto e funcionários da área administrativa da
Edifício Theatro Casa do Ator, a unidade 6 da Universidade
Instituição.
Anhembi Morumbi, no Campus Vila Olímpia, projetado pelo
arquiteto Francisco Petracco. Uma universidade particular
2.
Ver anexos com relação
JUSTIFICATIVA
que solicitou a construção de um edifício para expansão do
de entrevistados e ques-
seu campus que resultou na edificação de um prédio em
Não se pode negar que para elaboração de um
tionário aplicado sobre a
vidro e aço, mas comumente conhecido como Prédio de
projeto arquitetônico de IES, o arquiteto pode modificar o
pesquisa.
Vidro por seus funcionários e alunos, já demonstrando certa
projeto diante de diretrizes, avaliação e aprovação da gestão
23
que administra a instituição, fazendo, muitas vezes, com que
tradução real de dados inconscientes de algo que acredita ser
o projeto inicial não seja concretizado. No entanto, a
seu ideal de universidade.
Instituição deve entender o olhar proposto para o que se
Quando
idealizada,
a
arquitetura
do
espaço
constrói, pois é isso que irá possibilitar a compreensão, por
universitário deve compreender e satisfazer as necessidades
meio de uma linguagem simbólica, sobre o que foi idealizado
do usuário, apresentar, em si, signos que garantam a
como identidade do lugar, já que o homem utiliza-se das
qualificação do ambiente acadêmico e, consequentemente,
construções para falar de si.
seu valor social e cultural, já que o usuário lê o design
Segundo Ferrara (2007), percorrer a construção
supõe não só ler os materiais e competências estruturais
presente no projeto e deixa-se descobrir no percurso de seu
espaço os usos, hábitos, valores, crenças e signos.
existentes, mas também perceber “que a espacialidade cria
Assim, como a arquitetura segue uma ordem e a
uma teoria do espaço enquanto comunicação ideológica da
imagem está carregada de lembranças, o contato e a
cultura e exige o resgate das manifestações presentes nas
interação com um espaço arquitetônico possibilita uma
suas constituições históricas”.
forma de decifrar a composição. O ambiente edificado, que é
Para
desenvolver
Okamoto
projetos
(2002),
que
os
arquitetos
atendam
a
devem
a materialização de uma imagem mental do autor, deixa de
permanente
ter um único significado e passa a ser significado para o
necessidade de interação afetiva do homem com o meio
ambiente, favorecendo o crescimento pessoal, a harmonia
no relacionamento social e melhorando a qualidade de vida.
O arquiteto, a partir da composição feita através da
forma, função e estrutura, projeta o espaço com elementos
usuário.
Por meio de uma análise dos múltiplos aspectos do
espaço universitário do Edifício Theatro Casa do Ator, buscase identificar estes significados, suas características, possíveis
deficiências e a forma como se articula com o usuário.
de design selecionados em seu repertório, com certa
Verificar se o Prédio de Vidro traduz uma arquitetura
intenção de leitura; proporcionando uma construção que
com a forma de ensino, com a função educadora a ser
resulta de uma técnica e uma estética. Essa intenção é a
exercida nos usuários que o vivenciam e experimentam seu
24
espaço, e se é capaz de transmitir informações, aglutinar
projeto, as grandes mudanças ocasionadas durante a
pessoas e produzir sensações que o identifiquem como um
construção e os elementos que o descaracterizam.
O terceiro capítulo apresentará um olhar sobre seus
espaço universitário.
De forma que esta dissertação pretende contribuir
espaços através de depoimentos, que adentram em
com o estudo deste espaço universitário, retratando o
simbologias pessoais e respostas as entrevistas, sobre como
processo desde sua concepção até sua construção e uso.
o espaço cria símbolos para seus usuários③.
E, por fim, serão apresentadas as considerações finais
ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO
sobre a pesquisa, buscando entender a arquitetura do
edifício
A pesquisa será dividida em três capítulos, sendo:
3.
Foram identificados nas
O primeiro capítulo busca identificar o espaço
respostas aos questioná-
universitário, a relação entre a arquitetura e a educação, os
rios além dos aspectos
conceitos de ensino superior nacional, com o objetivo de
arquitetônicos, significados atribuídos ao espaço
contextualizar o cenário educacional até chegar à instituição
a partir das considerações
do estudo de caso. Apresentando sua História, um panorama
relacionadas à satisfação
sobre seu espaço construído, analisando brevemente suas
e insatisfação frente à
edificações e procurando o entendimento da Instituição a
política educacional adotada pela instituição. Não
cabendo a esta pesquisa
partir de sua arquitetura.
O segundo capítulo ilustrará a trajetória do Prédio de
classificar ou analisar es-
Vidro, seu território, as principais razões para a construção,
tes resultados.
apresentação do arquiteto, a busca pelo significado do seu
e
identificar
quais
são
os
elementos
proporcionem uma interação entre projeto e o seu uso.
que
25
Educação Escolástica de Bacon, explorada com o surgimento
CAPÍTULO 1 – CONDIÇÃO HISTÓRICA
de Academias e Bibliotecas a partir do Humanismo, impressa
no lançamento do primeiro livro de Gutenberg, formulada
nas primeiras teorias para o Ensino até as Reformas
1.1 O Ensino Superior e a Arquitetura
Educacionais atuais.
Cada um destes fatos históricos proporcionou a
“O ensino começou quando um homem, sentado
embaixo de uma árvore, se pôs a discutir, sem saber que era um professor, com jovens que ignoravam ser estudantes; pensavam simplesmente no
que se dizia na companhia de um homem tão
agradável. E desejavam que um dia seus filhos
também tivessem a oportunidade de ouvir um homem igual. Foi assim que nasceu a primeira escola
e nasceu o primeiro pátio de recreio: consequência das aspirações do homem.”
(Kahn apud Giurgola e Mehta, 1994, pag. 94-95)
construção de espaços que abrigassem a divulgação do
saber, estabelecendo sentido construtivo a partir da cultura
predominante em cada contexto. Em um período de
Antiguidade Clássica, o Ensino se dava em ágoras, teatros e
fóruns; na Idade Média em Igrejas; no Renascimento até aos
dias de hoje em Academias e Universidades.
Pinto e Buffa (2006) traçam um histórico sobre a
arquitetura
das
universidades
investigando
aspectos
políticos, sociais, filosóficos, históricos, pedagógicas e
Pode-se dizer que o início da educação aconteceu a
partir da possibilidade de transmissão do conhecimento.
diretrizes arquitetônicas e urbanísticas, destacando as
seguintes fases:
Troca de experiências iniciadas com conversas entre pais e
filhos, passando a ser documentada com a invenção da

Surgimento
escrita pelos fenícios, difundida com a criação da primeira

Século XV
Escola de Ciências por Thales, retransmitida a partir do

Século XVII
florescimento da Enciclopédia com Plínio, questionada na

Século XX
26
SURGIMENTO
SÉCULO XV

CONTEXTO

Maior uso da escrita;

Desgaste da exclusividade no
conhecimento detido pela
Igreja;

Criação de escolas com técnicas
de leitura.
Financiamento de alunos pela
igreja;

Segregação de alunos pela
aristocracia, em vestuário
acadêmico, cerimônias
universitárias, atividades
sociais, atividades pedagógicas
e em uso dos prédios das
universidades.


CONSTRUÇÃO
Construção simples, similar ao
modelo colonial;

Cerimônias importantes
realizadas em igrejas, com
espaços mais amplos e propícios
para reunião de pessoas.

SÉCULO XVII
SÉCULO XX



Reforma política e
religiosa;
Educação com regime de
internato para formação
integral do cidadão.

Ideia de Campus, com a educação
funcionando no campo, longe do
descontrole das cidades.
Espaço para atividades de ensino e
pesquisa acadêmica, situados num
determinado sítio, com suas próprias
regras, leis e instituições próprias.

Construções com ar gótico
simples e austero
Bibliotecas com ambientes mais
elaborados.

Inspiração em claustros
medievais, com plantas
quadrangulares e espaço
articulador cercado por arcadas
cobertas com as laterais
abertas.

Reestruturação da
arquitetura, cercando
edifícios acadêmicos com
alas de dormitório e
espaços de serviços que
sustentem as atividades
internas de moradia
articulado por um espaço
central.
Edifícios acadêmicos isolados, mas espaço
para abrigar uma comunidade inteira,
separados por áreas verdes abertas;

Rejeita a tradição das estruturas em
claustros

A construção principal era a biblioteca;
marcando a ruptura entre o ensino ligado à
Igreja e o ensino livre.

Plantas com estilo clássico de arquitetura,
numa representação simbólica de
academicismo e racionalidade.

CONFORTO
AMBIENTAL
Aberturas definidas pelas
técnicas construtivas, gerando
fechamentos sem grandes
aberturas;

Não apresentavam função
especifica para ensino, sem
isolamento, privacidade ou
conforto, portanto sem
conforto ambiental de
iluminação, ventilação, acústica
ou térmico.


Circulação livre nas arcadas
proporcionando melhor
ventilação ao edifício.
Espaço central articulador
composto de gramado ,
com fácil acesso e
visualização do conjunto,
possibilitando iluminação
e ventilação dos
ambientes internos de
cada sala.

Formas simples e com muitas aberturas
permitindo que os edifícios tivessem
iluminação e ventilação apropriada.
Tabela 2 – Histórico arquitetônico das Universidades realizado por Pinto e Buffa (2006), em Arquitetura, urbanismo e educação: campus universitários brasileiros; referente a
pesquisa financiada pelo CNPQ, sobre a evolução das universidades, desde a Idade Média, mostrando a evolução no continente europeu, na Inglaterra, nos Estados Unidos e
Brasil, mostrando o surgimento do campus universitário, sua organização e significado.
Fonte: Tabela elaborada pela autor, do artigo publicado no Anais do Vi Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, 2006, pág. 5724 -5746
27
A escolha do local apropriado para uma escola
estimulará o diretor de um instituto a sugerir ao
arquiteto o que uma escola deveria ser, com o
que ele já definirá um início de programa. (Kahn
apud Giurgola e Mehta, 1994, pag. 94-95)
No texto de Giurgola e Mehta (1994), quando
mencionado o pensamento de Kahn, o “início de um
programa”
refere-se
ao
programa
arquitetônico,
estabelecido pelo solicitante, no qual se definem quais são os
ambientes necessários para a construção do espaço.
A elaboração de um programa arquitetônico parte da
premissa de que os profissionais envolvidos entendem o
objetivo do espaço, as exigências formais, funcionais,
estruturais e os estímulos psicológicos que lhe são atribuídos.
Decidir o partido a ser adotado, selecionar quais ambientes
serão contemplados, manipular de que forma irá se organizar
e se isto fará parte da composição arquitetônica, ou ainda
garantir abrangência necessária ao fim a que se destina, são
fundamentos que acompanham o arquiteto na busca por
repertório e desenvolvimento de seu processo criativo.
Projetar
um
espaço,
em
arquitetura,
exige
fundamentos para o entendimento da função, do público e
das expectativas que o projeto gera; seja por parte do
usuário, seja por parte da administração, seja, ainda, por
parte do próprio arquiteto, mas acima de tudo, por parte do
observador, que independente do vínculo com o edifício,
incita uma percepção sensorial e afetiva que proporcionará o
entendimento do objeto e sua compleição.
A Universidade, o lugar, que segundo Wanderley
(1988), é privilegiado para conhecer a cultura universal e as
várias ciências, tem a função de criar e divulgar o saber com a
finalidade da Educação com base no ensino, na pesquisa e
extensão.
Lauanda (1987) posiciona-se frente à questão da
função da Universidade dizendo que é preciso voltar-se para
o homem tal qual qualquer questão de Filosofia da Educação,
isto porque, acredita que a Universidade apoia-se no caráter
livre do conhecimento, bem além das estruturas políticas da
instituição.
Já Minogue (1981), acredita que as universidades são
capazes “de criar seu próprio interesse na busca do
conhecimento”, sendo que esta busca pode ser influenciada
por outros tipos de excitação; tais como politica, religião,
patriotismo entre outros.
Assim, o espaço de ensino universitário é resultado
28
de ambientes que insiram o usuário ao universo do saber,
públicas, que prioriza a pesquisa, é dedicado aos docentes.
calcado no tripé da educação: o ensino, a pesquisa e a
extensão,
devendo
proporcionar
locais
Os agentes usuários das Instituições de Ensino,
para
definidos por Wanderley (1988), são os professores, alunos e
desenvolvimento de atividades acadêmicas geradoras de
funcionários. Podendo, ainda, incluir outros agentes deste
conhecimento que colaborem no processo de ensino e
espaço, tais como: familiares dos alunos e convidados
aprendizagem.
externos (palestrantes, auditores, prestadores de serviços e
E como explicitar estes princípios nestes ambientes?
Como produzir estes espaços?
afins).
Este público, que mesmo pequeno e esporádico, tem
Como projetar esta arquitetura universitária que
grande influência na permanência dos usuários tradicionais
atenda a função primordial de se produzir e difundir
dentro da universidade, já que o contato possibilita
conhecimento?
intercâmbio de ideias e participações construtivas que
Sabendo que não existe resposta exata a este
questionamento, o arquiteto busca no contexto histórico,
econômico
e
político
da
instituição
respostas
reforçam o pensamento de espaço inclusivo e disseminador
de experiências e conhecimento.
que
Conhecer o usuário da Universidade proporciona
possibilitem o entendimento das expectativas para o seu
identificar as peculiaridades de projeto, identificar a quem se
espaço físico. As características de cada Instituição
destina possibilita determinar fluxos, acessos, demarcações
influenciam o programa arquitetônico, por vezes sendo
territoriais de áreas públicas e privadas, administrativas e
possível identificar, o foco de espaços físicos para alunos em
acadêmicas, o dimensionamento destas áreas, a tipologia do
instituições privadas, que atuam a partir da quantidade
partido arquitetônico, as prioridades do espaço e as
discente na instituição; enquanto o foco em instituições
expectativas de usos e usuários.
29
1.2 O Ensino Superior no Brasil
universidades em 1964.
Até o fim do Estado Novo, os modelos universitários
De acordo com Pinto e Buffa (2006), apesar das
brasileiros
eram
semelhantes
aos
das
universidades
missões jesuítas oferecerem cursos superiores de teologia, o
europeias, a partir dali, adotam os modelos norte-
ensino superior no Brasil inicia-se com a chegada da família
americanos influenciados pela contribuição tecnológica do
real. Primeiramente em Salvador e depois no Rio de Janeiro,
esforço bélico, inclusive referente à organização espacial da
são criados: cursos superiores profissionais para militares, na
cidade universitária.
Academia Militar e Academia da Marinha; cursos de
Segundo Charles e Verger (1996), as instituições
medicina e cirurgia; cursos de matemática exigidos pela
universitárias transformaram-se profundamente durante os
engenharia
séculos, o que de certa forma possibilita compreender
militar
e
engenharia
civil;
cursos
para
profissionais da burocracia do Estado, como agronomia,
melhor
química, desenho técnico, economia política e arquitetura;
funcionamento das sociedades.
cursos para profissionais produtores de bens simbólicos,
como música, desenho e história.
No período imperial brasileiro, estes cursos são
uma

em 1827.
Em 1920, é criado o primeiro ensino superior com
Universidade de São Paulo (1934), chegando a um total de 37
herança
intelectual
e
do
Institucionais de Educação Superior, no Brasil, foram:
sendo aberta a Academia de Direito de São Paulo e Olinda
Posteriormente, a Universidade de Minas Gerais (1927) e a
da
Para Morosini (2005), os modelos mais marcantes
implementados com a vinda da Missão Francesa de 1820,
nome de universidade, a Universidade do Rio de Janeiro.
parte

Modelo napoleônico: registro mais antigo e com
vertentes presentes até hoje, marcada pela presença
do elitismo, formação profissional isolada e
transmissão do saber. Temos como exemplo Escolas
de Medicina, Politécnica e de Direito, com formação
de profissionais para atendimento das necessidades
da sociedade, com referência no mundo do trabalho.
Modelo humboldtiano: marcado pela liberdade
acadêmica e pesquisa como principal meio de
construção de conhecimento. O surgimento da
Universidade de São Paulo marca a nova requisição de
instituições universitárias mais integradas, para além
30



da formação, mas agora baseado na articulação do
tripé de ensino, pesquisa e extensão.
Modelo latino-americano: marcada pela busca de
nova ordem social fortalecendo a compreensão do
homem e da convivência humana. Universidades
Ibero-americana, fundadas após a ditadura militar, são
exemplos por acreditarem na participação coletiva
universitária.
Modelo inovador e sustentável: Fortifica elementos
institucionais mantenedores de transformação, com
diversidade na base financeira, fortalecimento do
centro diretivo, estímulo à comunidade acadêmica,
consolidação da cultura empreendedora integrada.
São modelos de parques científicos e tecnológicos em
que as universidades podem se autotransformar para
um caráter proativo e sob controle.
Modelo comercial/empresarial: instituições com
capital privado e acionistas, visam lucro e
assemelham-se a empresas privadas. O conhecimento
é voltado para a prática. Como por exemplo
Universidades que admitem administração com
aplicadores de mercado, com capitais privados e
acionista, visando à lucratividade e gestão semelhante
a empresas privadas.
Numa análise feita por Onusic (2009), o Ensino Superior
no Brasil apresenta uma trajetória histórica de quatro fases:

Antes de 1930, com predomínio de instituições públicas;

Entre 1930 a 1964, com a consolidação do ensino
privado;

Entre 1964 a 1980, com a reforma do ensino superior e o
predomínio do setor privado; e

Entre 1980 a 2002, com o aumento de oferta de vagas do
setor privado, o crescimento de vagas não preenchidas e
evasão acadêmica.
Atualmente, das 2.314 IES registradas pelo Inep,
cerca de 90% são privadas, estando mais concentrada numa
classificação de pequeno porte com até 1.000 alunos. Podese notar que a característica da Educação Superior no Brasil
está calcada em um modelo privatizado com ininterrupta
expansão.
Morosini (2005) avalia que a demanda por Educação
Superior é responsável pela abertura da Educação no setor
privado, visto que o crescimento da economia do
conhecimento, as mudanças demográficas paralelas às
limitações orçamentárias do Estado não conseguem atender
todo o movimento para a educação continuada.
Enquanto Martins (2009) atribui o surgimento deste
novo padrão de Educação Superior à implantação da
Reforma de 1968, onde se privilegiou uma estrutura seletiva,
acadêmica e social facilitando a organização de empresas
educacionais, de forma que a escalada da privatização não
31
representou uma democratização do acesso ao Ensino
O intenso movimento de fusões institucionais de
Superior no país, apenas uma ampliação de vagas no setor
universidades privadas no Brasil, que vem ocorrendo desde
privado.
2007, a exemplo da Anhanguera e da Estácio de Sá, traduz
De acordo com Silva Jr e Sguissard (1999), as
bem esse novo contexto. Estas fusões refletem a necessidade
políticas públicas para a educação superior brasileira e as
de reestruturação do processo de gerenciamento entre
reações dos diferentes setores (públicos e privados),
universidades, com adaptação da filosofia aos novos
promoveram um reordenamento no espaço social através do
resultados de crescimento qualitativo, quantitativo e, acima
fortalecimento de processos mercantilistas, o que tem
de tudo, financeiro. Embora se observe que, muitas vezes,
acentuado a transformação das identidades das IES
este crescimento qualitativo não sendo atingido.
particulares.
Além de transitar pelo entendimento da cultura e
Este processo pode ser entendido como reflexo da
sociedade nacional, este novo perfil com visão lucrativa
transição do modelo de capitalismo fordiano para o atual
intervém no perfil institucional e, consequentemente, no
capitalismo pós-moderno vivenciado de forma mundial,
processo construtivo dos seus espaços físicos. As IES
contudo não é foco desta pesquisa centrar-se nesta questão.
particulares, numa tentativa de atingir nichos de mercado e
O entendimento deste novo contexto, apenas, sugere, de
diferenciar-se de suas concorrentes, estabelecem, a partir do
forma isolada, que em um predomínio de IES particulares,
seu corpo administrativo, medidas que a individualizem ou
que buscam atender a demanda de mercado, estas estão
minimizem seus custos como forma de garantir destaque.
cada vez mais modificando sua identidade, profissionalizando
Desta
as empresas, racionalizando sua estrutura organizacional
amplamente
interna e buscando atender a seu mais novo objetivo: o
revestimentos luxuosos como atrativos para alunos de classe
lucro.
A e B, enquanto outras instituições revelam baixo
forma, é
comum
reformadas
verificar
e
instituições
instalando
sendo
materiais
e
32
investimento na infraestrutura com foco no público de
positivos e negativos, favorecendo o crescimento acelerado
classes C, D e E.
das Instituições, generalizando a educação e aumentando a
O reflexo deste mercantilismo da educação preocupa
oferta de mercado:
Arquitetura, não só na questão da descaracterização da
1. A crescente centralidade da educação na discussão
identidade, mas também na forma como esta política faz
acerca do desenvolvimento e da preparação para o
com que o Edifício apresente aspectos de baixa qualidade do
trabalho, decorrente das mudanças em curso na base
espaço físico influenciando no conforto ambiental até
técnica e no processo produtivo;
questões psicológicas, podendo gerar apartação social.
Enquanto a escolha ou intervenção no tipo de
revestimento de um edifício possa, por um lado, alterar
2. A crescente introdução de tecnologias no processo
educativo, por meio de softwares educativos e pelo
recurso à educação a distância;
somente a estética do edifício; por outro, pode indicar uma
3. A implementação de reformas educativas muito
segregação de público onde, culturalmente, alguns usuários
similares entre si na grande maioria dos países do
sintam-se deslocados e excluídos acreditando não ter
mundo;
recursos financeiros para estudar neste lugar; já a falta de
4. A transformação da educação em objeto do interesse
investimento na construção pode acarretar em má qualidade
do grande capital, ocasionando uma crescente
espacial, impossibilitar a acessibilidade, prejudicando a
comercialização do setor.
ergonomia e o conforto ambiental. Por exemplo, é comum
identificar algumas construções que para ampliação da área
acadêmica, constroem salas sem iluminação e ventilação
natural.
Oliveira (2009) identifica quatro consequências da
globalização na Educação que podem gerar resultados
Nesta última dimensão, tem se dedicado bastante atenção
ao debate em curso na Organização Mundial do
Comércio/Acordo Geral de Tarifas e Comércio
(OMC/GATT), acerca da conceituação da educação como
um bem de serviço. A aprovação de tais acordos faria com
que a educação passasse a ser regida pelas normas que se
aplicam à comercialização de serviços em geral (cf. Dias,
33
2003, 2004; Dourado, 2002; Siqueira, 2005; Rikowski,
2003; Kelk & Worth, 2002). Em consequência, ter-se-ia,
além da ampliação da mercantilização na área, a
internacionalização da oferta, com a penetração de
grandes corporações multinacionais em países menos
desenvolvidos. Entretanto, mesmo sem a aprovação de
tais acordos, a educação tem se transformado,
crescentemente, em mercadoria. Instituições lucrativas
crescem a olhos vistos, assim como a internacionalização
da oferta (cf. Altbach, 2000, 2002; Balan, 1990, 1993,
2000; Callan, 1997; Carlson, 1992; Morey, 2001). Nas
singelas palavras de Angel Gurria, secretário geral da
OECD, em manifestação realizada em Lagonissi, Grécia, em
28/06/2006, ao encerrar a conferência de Ministros de
Educação daquela Organização: "A educação é hoje uma
mercadoria negociável. Tornou-se exportável, portável e
negociável." (Oliveira, 2009, pag. 740)
ao capitalismo acadêmico, baseado em processos de ensino.
Podendo ser:
1. Estabelecimento de campus no estrangeiro – curso e
currículo em instituição estrangeira com supervisão e
língua da instituição matriz.
2. Modelo padrão de exportação – curso no exterior, em
instituição educacional ou organização corporativa, por
instituição de país industrializado para país em
desenvolvimento. Exemplo: Cursos oferecidos na Malásia
por instituições australianas e/ou britânicas.
Morosini (2005) resume estas consequências em um
processo que denomina como Internacionalização. Um
esforço sistemático com objetivo de tornar a educação
superior mais próxima às exigências e desafios de uma
sociedade, uma economia e um mercado de trabalho mais
globalizados. Esta internacionalização é baseada em relações
entre nações e suas instituições. Dentro das definições para
internacionalização
da
Educação
Superior,
vem
se
desenvolvendo um modelo de educação transnacional ligado
Figura 3 – Estabelecimento de campus no estrangeiro: Campanha da Universidade de Chicago com Campus
em Paris para estudos nas áreas de ciências sociais, naturais e físicas.
Fonte: Site Paris Travel Guide
34
3. “McDonaldização” da Educação Superior – cursos via
4. Programas conjuntos oferecidos por instituições de
pacote por meio de franchising, a instituição cede o
educação superior em outro país. Entende-se como
nome e o currículo, supervisionando e controlando a
exemplo o grupo de universidades da Rede Laureate, que
qualidade de ensino dentro de outra instituição. Como
conta, atualmente, com 66 instituições em 28 países – 5
exemplo, pode-se citar as redes de referência em
instituições na América do Norte, 29 instituições na
Gastronomia
América Latina, 19 instituições na Europa, 2 instituições
e
Hotelaria,
sendo
respectivamente,
Kendall College e Glion, nas áreas de Hospitalidade da
UAM.
Figura 4 –McDonaldização da Educação Superior: Foto da
fachada de Glion na Suíça, referência na área em hotelaria.
Fonte: Site Glion
Figura 5 – Programas conjuntos: Mapa de localização dos
Campi da Rede Laureate, grupo internacional de
universidades, com mais de 66 instituições de ensino, em 28
países.
Fonte: Site Laureate
no nordeste da África e 11 instituições na Ásia.
35
Em 2006, a Associação Brasileira das Mantenedoras
Ainda segundo Rodrigues, em entrevista ao Portal
do Ensino Superior (ABMES) editou um documento de
Educação da UOL, frente a um cenário educacional com
“Políticas para a Educação Superior – Propostas do Setor
muita concorrência, com aumento de custos acadêmicos e a
Privado”, para impulsionar o desenvolvimento do ensino
queda do poder aquisitivo da população, a educação, sob o
superior particular no Brasil. Diante do documento, Gabriel
ponto de vista de negócio, apresenta uma oportunidade para
Mário Rodrigues, presidente da associação e reitor da
captação de recursos do setor privado para financiar a
Universidade Anhembi Morumbi, em entrevista ao Portal
expansão da Educação; na perspectiva do investidor, pode
Aprender do Ensino Superior sob tema de “Ainda há muito
ser uma atividade instigante e com bom retorno, desde que
que fazer pelo ensino privado”, traçou um panorama sobre a
bem administrada.
situação do ensino superior no Brasil:
Dentro deste contexto, a Universidade Anhembi
Morumbi, primeira, universidade brasileira adquirida por
“O ensino particular, para atender à demanda da
democratização educacional, cresceu bastante
nesses últimos anos, e está em uma fase de
consolidação. Principalmente nas grandes
cidades, terá como tendência a união de
instituições, no sentido de aprimorar suas
práticas, tanto de gestão quanto pedagógicas,
para fazer frente à concorrência das grandes
universidades. Por outro lado, com o advento da
tecnologia da informação, novas formas de
entrega de cursos existirão - o que
obrigatoriamente fará com que as instituições
mudem o processo de ensinamento. Na realidade,
estamos próximos de uma transformação no
processo de ensino, tudo será diferente do que
estamos acostumados.”
capital estrangeiro, em 2005, teve o Banco Pátria como
administrador principal do seu fundo de investimento,
reestruturando organizacionalmente a universidade para sua
venda. Segundo Oliveira (2009) a aquisição foi manifestada
nos seguintes termos:
“A aquisição do controle acionário da
universidade paulista Anhembi Morumbi pelo
grupo americano Laureate, em dezembro,
representou muito mais que um bom negócio
para o arquiteto Gabriel Monteiro Rodrigues, de
73 anos, fundador da instituição. Com a venda,
fechada por 165 milhões de reais, pela primeira
vez uma instituição estrangeira passou a mandar
36
em uma universidade no Brasil, um marco da
entrada do capital internacional num setor da
economia que tem aumentado exponencialmente
de tamanho. No ano passado, somente os cursos
universitários privados movimentaram algo em
torno de 15 bilhões de reais, ou 50% mais que
três anos atrás. A injeção de recursos de um
grupo do porte do Laureate, com universidades
espalhadas por 15 países, deve dar novo fôlego a
esse mercado. De acordo com os planos do
Laureate, 100% das ações da Anhembi Morumbi
serão adquiridas pelos americanos até 2013.”
(Oliveira, 2009, pag. 744,745)
Até 2011, 51% das ações da Universidade Anhembi
Morumbi foram adquiridas pela Rede Laureate que conta
com 600 mil estudantes distribuídos em 100 Campi. A UAM
possui 5% deste corpo acadêmico, com mais de 30 mil alunos
distribuídos nos Campi Vila Olímpia, Centro, Morumbi,
Paulista, Anhangabaú e com previsão de crescimento de mais
três Campi até 2013, segundo voz corrente da universidade.
Figura 6 – Mapa de localização dos Campi da
Universidade Anhembi Morumbi: composto de cinco
campi:
1. Campus Vila Olímpia, no bairro Vila Olímpia.
2. Campus Centro, no bairro Brás.
3. Campus Anhangabaú, no bairro Centro.
4. Campus Morumbi, no bairro Brooklin Velho.
5. Campus Avenida Paulista, no bairro Bela Vista.
Fonte: Mapa Google Maps com edição da autora
37
1.3 A Universidade Anhembi Morumbi
De acordo com o livro Se não foi a primeira, não foi a
segunda – o desafio de implantar a faculdade de Turismo no
início dos anos 70, Rodrigues (2005), conta a trajetória da
Universidade Anhembi Morumbi desde a fundação até os
dias atuais.
A partir da formação fundamental, participação
acadêmica e inspiração em Clycie Mendes Carneiro (exprofessora e jornalista), Rodrigues sonhava em cursar
comunicação, mas acaba formando-se em arquitetura por
influência de sua mãe. Ao finalizar a graduação, trabalha no
Departamento de Obras Públicas (DOP) de São Paulo onde
fiscaliza obras e construções escolares. Dentro do DOP,
começou a idealizar projetos de comunicação, tais como
revistas, seminários e projetos dessa natureza. E na
reestruturação do departamento, no governo de Adhemar de
Barros, foi encarregado para implantar o Grupo Técnico de
Comunicação (GTCom) com objetivo de fazer o DOP ser
reconhecido como principal construtor de obras do Estado de
São Paulo mostrando o valor de seus profissionais. Com este
trabalho
iniciou,
também,
cursos
de
Figura 7 – Capa do
livro “Se Não Foi a
Primeira, Não Foi
a Segunda: O
desafio de implantar a faculdade de
Turismo do Morumbi no início
dos anos 70”, do
Reitor
Gabriel
Mário Rodrigues
sobre o pioneirismo do curso de
Turismo da Universidade Anhembi Morumbi.
Fonte: Acervo da
Universidade
Anhembi Morumbi
38
treinamento para funcionários com capacitação e divulgação
dos trabalhos. Frente a alguns problemas políticos internos
construído.
Segundo Rodrigues (26/08/11), de maneira geral, o
no departamento, começa a questionar-se sobre seu futuro
desenvolvimento
profissional e a possibilidade de seguir novos desafios, tal
brasileiro foi baseada no aproveitamento de edificações pré-
como a criação de um curso preparatório para os
existentes, em um primeiro momento na ocupação de
funcionários do DOP ingressarem em faculdades. Em
algumas instituições religiosas que deixaram de oferecer
conjunto com Vitório Lanza Filho, engenheiro agrimensor e
serviços educacionais e tiveram seus espaços desocupados,
Walter
posteriormente
Rodrigues
da
Silva,
desenhista,
idealizam
a
do
por
sistema
espaços
universitário
fabris
que,
paulista e
também
Organização Bandeirante de Tecnologia e Cultura - OBTC, a
desocupados, apresentavam áreas com grandes vãos
futura mantenedora da Faculdade de Turismo do Morumbi.
possibilitando a distribuição de salas de aula. Somente mais
Diante o incentivo à criação de novas Instituições de
tarde, entre 1980 e 1990, as Instituições passaram a construir
Ensino Superior pelo governo de Médici, Rodrigues e seus
espaços específicos para o Ensino Superior devido ao
sócios entram com requerimento no MEC para solicitar a
aumento de demanda e vagas no setor privado da Educação.
autorização de funcionamento de um curso superior. Em
Este primeiro espaço acadêmico que a Instituição iria
meio à necessidade de conseguir um prédio para iniciar as
ocupar, era composto por dois blocos um correspondente a
atividades, encontram parceria com uma ordem religiosa de
parte destinada aos dormitórios dos seminaristas, e a outra
irmãos pavonianos recém-chegados em São Paulo, que
estava nos alicerces, com a obra parada por falta de verba
contava com poucos seminaristas, e não conseguiam finalizar
para finalização, o que possibilitou sua inteira remodelação a
uma construção do seu espaço educacional, visto os poucos
partir do projeto e obra administrados por Rodrigues.
irmãos em formação. Desta forma, começaram a reformar
Na metade do ano de 1970, dividindo atividades
este edifício, na Rua Visconde de Nacar, nº 86, no bairro Real
entre o DOP e a obra da sede, une-se a Vitório Lanza, Walter
Parque com a proposta de alugar quando estivesse
Rodrigues, August Wagner Tafner, com apoio dos irmãos
39
Figura 8 – Apresentação do corpo diretivo e docente da Faculdade de Turismo do Morumbi: Parte integrante da edição piloto na publicação “Estudos Turísticos”, apresentando o corpo
administrativo da Faculdade de Turismo do Morumbi, em 1972.
Fonte: Estudos Turísticos: Órgão oficial da Faculdade de Turismo Morumbi – São Paulo; edição piloto, junho – 1972.
40
41
Figura
9
–
Primeiras
publicações da Faculdade de
Turismo do Morumbi no jornal
Folha de São Paulo: Recortes
de informes publicitários
A– “Vestibulando”: 10 de
janeiro de 1971, Primeiro
Caderno página 13;
B– “Faça Turismo a sua
profissão”: 17 e 21 de janeiro
de 1971, Primeiro Caderno
página
6
e
10,
respectivamente;
“Primeiro
Exame de Turismo”: 07 de
março de 1971, Primeiro
Caderno, página 12;
C – “Faculdade de Turismo, um
novo curso a Cr$ 2.300,00”: 20
de janeiro de 1971, Primeiro
Caderno página 6; “1º Curso
Superior de Turismo no Brasil”:
24 de janeiro de 1971, Primeiro
Caderno página 16;
D – “1º Curso Superior de
Turismo do Brasil”: 24 de
janeiro de 1971, Primeiro
Caderno, página 16
Fonte: Acervo Digital Folha
42
Figura 9 – Primeiras publicações da Faculdade de Turismo do Morumbi no jornal
Folha de São Paulo: Recortes de informes publicitários
E – “Primeiro Exame de Turismo”: 07 de março de 1971, Primeiro Caderno,
página 12;
F – “1º Curso Superior de Turismo do Brasil”: 28 de janeiro de 1971, Primeiro
Caderno página 12;
Fonte: Acervo Digital Folha
43
Figura 10 - Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Turismo do Morumbi, Campus no Real Parque ,
em 1971; com sobreposição do informe publicitário do Curso Superior de Turismo, vinculado na Folha de São Pau-lo em 14 de fevereiro e 02 de março de 1971,no Primeiro Caderno, nas páginas 2 e 16, respectivamente.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi e Acervo Digital Folha, montagem elaborada pela autora
44
4.
Ver reportagem “Livro do
Reitor Dr. Gabriel Mário
Rodrigues fala sobre o
pioneirismo do curso de
Turismo na Universidade”
disponível
em
http://anhembi.br/publiqu
e/cgi/cgilua.exe/sys/start.
htm?infoid=5089&sid=2,
acessado em 25/08/2011.
Renata e Floriano Rodrigues e implantam a Faculdade de
publicitários de São Paulo, liderados por João Batista Reimão
Turismo do Morumbi, iniciando as atividades no ano
Netto, implantam, em 24 de junho de 1969, a Faculdade de
seguinte. De acordo com Rodrigues, a data de nascimento da
Comunicação Social Anhembi, tendo como mantenedora o
Instituição foi baseada na primeira aula lecionada no curso
Instituto Superior de Comunicação Publicitária – ISCP.
de Turismo, no dia 9 de março de 1971.
Diante do crescimento da Faculdade de Turismo e da
A opção pelo curso de Turismo é decorrente do
intenção de Reimão de mudar de ramo, das novas opções de
objetivo inicial de oferecer cursos diferenciados no mercado,
mercado e tendências para o futuro da Educação, a OBTC e a
fora dos padrões acadêmicos de graduação existentes na
ISCP passam a dividir o mesmo espaço físico.
época. Segundo Rodrigues, em reportagem ao Portal da
Universidade Anhembi Morumbi④ sobre a metodologia
implantada no curso, no lançamento de seu livro, ele conta:
Com a fusão das duas Instituições veio à dúvida: em
qual Campus permanecer?
O campus da Faculdade de Turismo do Morumbi, no
bairro Real Parque, embora apresentasse um edifício com
“Seria fácil imprimir à Faculdade de Turismo do
Morumbi uma abordagem em Ciências Sociais, a
fim de proporcionar-lhe uma aura agradável e
eminentemente cultural. Contudo, a realidade do
turismo brasileiro exigia outra atitude, uma
metodologia própria. Se as matérias que influem
diretamente no fenômeno do turismo fossem
lecionadas com autonomia em relação às outras
matérias básicas, seria um curso técnico e não
superior. ‘Turisficamos’ a Geografia, a Economia,
a Psicologia e a História para conferir um
conteúdo superior ao curso de Turismo. É isso que
não existia em parte alguma do mundo”
(Rodrigues, 2005)
Concomitante a esta iniciativa, um grupo de
ambientes bem adaptados para desenvolver as atividades de
ensino e aprendizagem com salas visivelmente bem
iluminadas e ventiladas, visto que fora reformado com o
intuito educacional, não oferecia a possibilidade de expansão
naquele momento, assim não apresentava espaço suficiente
para abrigar a transferência do curso de Comunicação Social
em suas instalações.
O prédio da Faculdade de Comunicação Social
Anhembi apresentava alguns problemas junto a Prefeitura
por ser um espaço fabril, de produção de cera, adaptado
45
Figura 11 – Fachada principal do primeiro campus da Faculdade de Comunicação Social Anhembi: Frente para a Rua
Pará, em 1969.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
igura 12 – Recorte do informe publicitário da Faculdade de Comunicação Social Anhembi no jornal Folha de São
Paulo, em 25 de setembro de 1969, Caderno Ilustrada página 34, apresentando a fachada do Campus.
Fonte: Acervo Folha
46
para instalações acadêmicas da Faculdade de Comunicação
a ideia da mudança devido à distância entre os Campi, de
Social, contudo apresentava um grande potencial de
aproximadamente 7 km, é adotado o nome de Faculdade
expansão capaz de abrigar os dois cursos no mesmo espaço.
Anhembi Morumbi para que os alunos não perdessem a
Esta questão de infraestrutura facilitou a decisão de
concentração das faculdades na Casa do Ator, nº 90; já que
No início da década de 80, a ISCP e a OBTC, verificam
em 1973, o MEC autoriza a transferência de sede da
que a convivência diária já facilitava a integração entre corpo
Faculdade de Turismo do Morumbi para o bairro da Vila
acadêmico e administrativo de ambas as faculdades, o que
Olímpia.
estimulou a união das duas entidades, em 1982; sendo que o
Embora autorizada cinco anos antes, somente em
1978 a mudança acontece de fato. Em meio à frustração do
corpo administrativo e de alguns alunos que não aprovavam
Imagem 13 – Fachada principal
da Faculdade de Comunicação
Social Anhembi, Campus Vila
Olímpia: frente para a Rua Casa
do Ator, número 90, década de
1970.
Fonte: Acervo da Universidade
Anhembi Morumbi
identidade de suas instituições.
Instituto permanece como entidade mantenedora e assume
a responsabilidade da então Faculdade Anhembi Morumbi.
47
Figura 14 – Informativo Faculdade Anhembi Morumbi: Catálogo de 1982, como
instrumento de informação sobre o processo de fusão entre Faculdade de Turismo Morumbi e Faculdade de Comunicação Social Anhembi.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
Figura 15 – Logotipo das Instituições: Faculdade de Comunicação Social Anhembi e
Faculdade de Turismo do Morumbi, década de 1970.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
48
49
Figura 16 – Evolução do Logotipo da
Universidade Anhembi Morumbi:
desde a fundação da Faculdade de
Turismo do Morumbi até os dias
atuais.
Fonte: Acervo da Universidade
Anhembi Morumbi
50
Imagem 17 – Fachada principal da Faculdade Anhembi Morumbi, Campus Vila Olímpia: cruzamento entre as ruas Casa do Ator e Baluarte, década de 1980.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
51
De 1985 a 1997, a partir de uma organização
acadêmica estruturada com funcionamento regular e padrão
de qualidade considerado satisfatório pelo MEC, credencia-se
como Universidade implantando onze novos cursos.
Baseando-se
num
processo
de
qualificação
profissional, lança cursos como Moda, em 1990, a partir da
evolução das atividades de ensino e pesquisa do Centro
Brasileiro de Formação para a Moda – Cebrafam, e Educação
Artística, em 1994, com ênfase em computação gráfica e
multimídia, futuramente transformado em Design Digital.
Figura 18 – Semana
Brasileira de Moda:
realizada pela Faculdade Anhembi Morumbi, no final da
década de 1990.
A – Mesa de
apresentação
da
Semana Brasileira de
Moda
B – Vestuário em
exposição
Fonte: Acervo da
Universidade
Anhembi Morumbi
52
Em 1997, a cargo da filha de Rodrigues, arquiteta
as necessidades acadêmicas exigidas pelas coordenações de
Ângela Regina Rodrigues de Paula Freitas, é idealizado e
cursos e equipavam os espaços com materiais próprios para
concebido o projeto de ampliação do prédio sede. Com a
as aulas a serem ministradas.
saída de seu irmão Floriano Rodrigues da Faculdade Anhembi
O que se observou desta iniciativa da arquiteta Deise
Morumbi, Ângela passa a dedicar-se à área administrativa
foi que os alunos, que anteriormente depredavam os
deixando o arquiteto Glauco Humberto Fioritti a frente do
laboratórios por falta de cuidado com os equipamentos,
departamento de obras e projetos e, posteriormente, a
mudaram seu comportamento demonstrando maior apreço
arquiteta Deise Marques Araújo.
pelo lugar. Assim, alunos do curso de comunicação ganharam
A partir daí a Instituição cresce ano a ano e o Campus
estúdios e laboratórios de foto e vídeo, enquanto alunos de
Vila Olímpia é ampliado com novas construções em espaços
moda ganhavam ateliês de corte e costura, reconhecendo,
próximos ou distantes deste conjunto principal.
dentro do ambiente educacional, laboratórios que refletiam
Deise que entrou na instituição em 1994, recém-
as atividades profissionais que seriam enfrentadas no
formada no curso de arquitetura pela Universidade de Belas
mercado de trabalho, adotando uma visão de que os
Artes, desenvolvia junto à coordenação de cursos estudos
laboratórios eram também ambientes de trabalho e não só
para mapear as salas da universidade e alocar os alunos de
extensão da sala de aula. Um exemplo, foi o laboratório de
graduação nas salas existentes. As salas, neste período,
Planejamento Turístico para o curso de Turismo como um
tinham distribuição padrão e atendiam a todos os cursos de
laboratório de informática composto de equipamentos
forma
digitais e mapoteca.
tradicional e
unificada.
Contudo,
diante
das
reclamações acadêmicas e solicitações administrativas, a
A partir da década de 1980, as instalações dos cursos
arquiteta propõe a implantação de laboratórios específicos
da Anhembi Morumbi fortalecem-se com o desenvolvimento
demarcando o perfil do curso e proporcionando maior
de projetos práticos, tais como: Rádio Brasil 2000, em 1986; e
identidade a cada espaço. Estes laboratórios caracterizaram
Colégio Anhembi Morumbi, em 1993.
53
Campus
Unidade
1
5
Vila Olímpia
6
7
9
Centro
Master 1
Master 2
Anhangabaú
Morumbi
Edifício
Galpão
Edifício Jardim
Av. Paulista
Edifício
Área do Terreno (m²)
Área Construída (m²)
Sala de Aula
Laboratório de
Informática
6.000,00
6.940,54
916,87
44,34
6.443,94
30.481,80
3.060,67
918,99
1.272,59
1.994,93
9.696,41
1.871,97
630,42
62,55
2.987,88
15.657,39
3.090,64
491,16
400,65
1.733.59
1.686,78
24.896,79
45.792,10
8.649,51
14.686,03
16.523,17
206,72
635,90
8.500,96
629,80
109,84
13.836,16
7.982,25
316,00
908,46
4.089,60
3.087,22
10.702,14
2.219,14
766,51
1.039,87
990,00
9.092,45
1.898,68
264,14
957,32
Laboratório Específico
1.002,09
1.603,76
9.965,58
8.265,46
Tabela 03 – Relação de metro quadrado das áreas acadêmicas da Universidade
Anhembi Morumbi: Nesta relação é possível verificar a importância dos
laboratórios específicos na Instituição.
Fonte: Tabela elaborada pela autora, dados de junho de 2011.
Gráfico 01 – Proporção de áreas acadêmicas da Universidade Anhembi
Morumbi por campus: Nota-se que a maior concentração de laboratórios
específicos está, hoje, no Campus Centro; Campus Vila Olímpia e Campus
Morumbi. Da infraestrutura total da Instituição 25% corresponde a
Laboratórios de informática, 84% a Sala de aula e 17% a Laboratório específico.
Fonte: Tabela elaborada pela autora, dados de junho de 2011.
54
Gráfico 02 – Número de salas de aula por Campus.
Gráfico 03 – Número de laboratórios de informática por
Campus.
Gráfico 04 – Número de laboratórios específicos por Campus.
Fonte: Gráficos elaborados pela autora, dados de junho de
2011.
55
Figura 19 – Laboratório específico de gastronomia:
A - Campus Vila Olímpia, composto por 6 cozinhas, sala de
vinhos, área de buffet, área de preparo, área de fornos e
Coult lounge;
B – Campus Centro, composto por 12 cozinhas, 2 salas de
vinho, laboratório nestlé; área de buffet, área de preparo,
área de fornos e Coult longe;
C – Vista lateral esquerda da cozinha 04 – Campus Vila
Olímpia
D - Vista lateral direita da cozinha 04 – Campus Vila Olímpia
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
Figura 20 – Laboratório específico da Escola de Ciências da
Saúde:
A e B – Hospital Simulado do Centro de Simulação e
Treinamento da Escola de Ciências da Saúde
C – Vista lateral esquerda do Hospital Simulado
D – Vista lateral direita do Hospital Simulado
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
56
A- Laboratório específico do curso de Turismo
Laboratório de planejamento turístico.
B - Laboratório específico do curso de Arquitetura
Maquetaria
C - Laboratório específico do curso de Teatro –
Sala de Ensaio
E – Laboratório específico do curso de Aviação
Laboratório de Simulação de vôo
F – Laboratório específico do curso de Design de
Moda – Ateliê de corte e confecção
I- Laboratório específico do curso de Veterinária
Laboratório Morfofuncional
57
D – Laboratório específico do curso de Rádio e TV
Estúdio de Vídeo e gravação
G – Laboratório específico do curso de Quiropraxia
Laboratório de Quiropraxia
H -Laboratório específico do curso de Produção
Musical – Ilha de edição
I – Laboratório específico do curso de Maquiagem
Laboratório de Visagismo e Maquiagem
J – Laboratório específico do curso de Engenharia Civil
Laboratório de Metalografia e Metrologia
Figura 21 – Laboratórios específicos da Universidade
Anhembi Morumbi
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
K – Laboratório específico do curso de Direito
Mini Tribunal
58
Entre 1978 e 1998, diante do crescimento da
associado a um grupo inglês, constroem no Bairro da Mooca,
Universidade, a infraestrutura física é ampliada e a Anhembi,
a Fábrica Brasileira de Alpargatas e Calçados. Apesar dos
que a princípio tinha apenas um edifício na Rua Casa do Ator,
problemas na produção decorrentes do período entre
passa a contar com cinco unidades distribuídas no Bairro da
guerras, a empresa se consolida no mercado passando a
Vila Olímpia.
chamar-se São Paulo Alpargatas S.A., a partir da década de
Em 1997, a instituição havia comprado o antigo
5.
1940.
prédio fabril da indústria têxtil São Paulo Alpargatas, na
Na década de 1990, transfere sua fábrica para o
divisa dos tradicionais bairros paulistanos, Mooca e Brás, o
nordeste mantendo apenas a sede do escritório em São
edifício da Alpargatas que outrora fora tombado pelo
Paulo, desocupando as instalações na Rua Doutor Almeida
Patrimônio
como
Lima, 1134. Para implantação do novo Campus, Deise
Universidade Anhembi Morumbi, a instituição expande sua
desenvolve um estudo com a potencialidade de ocupação do
estrutura e porte acadêmico, adaptando este edifício para
edifício para a administração apresentar junto ao MEC. A
uso educacional, contribuindo para requalificação de áreas
partir deste estudo, o arquiteto Francisco Petracco, então
degradadas da cidade de São Paulo, constituindo o Campus
coordenador do curso de arquitetura da instituição
denominado Centro, e iniciando suas atividades em 1998.
apresenta um projeto⑤, o qual não é realizado.
Histórico.
Após
o
credenciamento
De acordo com Vargas e Castilho (2006), intervir em
Para Vargas e Castilho (2006), a recuperação de
Ver histórico da empresa
Alpargatas, disponível em
http://www.alpargatas.com.
br/index.htm, acessado em
25/08/2011.
centros urbanos “pressupõe avaliar sua herança histórica e
centros urbanos nos dias atuais significa melhorar a imagem
patrimonial, seu caráter funcional e sua posição relativa na
da cidade, perpetuar a história e criar um espírito de
estrutura urbana, mas principalmente, precisar o porquê de
comunidade e pertencimento ao lugar. A reutilização de
se fazer necessária a intervenção.”
edifícios, a valorização do patrimônio construído, a
Ver detalhamento do projeto
no Capítulo 2, em “um pouco
sobre o arquiteto”, na página
93
A empresa Alpargatas, que inicia suas atividades em
3 de abril de 1907, com a vinda do escocês Robert Fraser
otimização da infraestrutura já estabelecida, a recuperação
do
comércio,
implementam
ações
atrativas
para
59
55
investimentos, moradores, usuários e turistas que dinamizam
a
Figura 22 – Antiga sede da Alpargatas
Fonte: Foto de Frucci, pertencente ao acervo da Universidade Anhembi Morumbi
60
LINHA DO TEMPO POR MODA BRASIL
UNIVERSIDADE ANHEMBI
ALPARGATAS
MORUMBI
1907
1910
1920
1930
1940
1950
1960
• Robert Frase inicia a construção da fábrica brasileira de calçados.
• Produção de alpargatas, rodas e encerados no bairro da Mooca.
• A empresa muda o nome para São Paulo Alpargatas S.A.
• Num país cafeeiro, os empregados que trabalham na lavoura utilizam
alpargatas na colheita e encerado na secagem do produto.
• A empresa coloca suas ações na BOVESPA.
• Superprodução de café e quebra da bolsa de valores de Nova Iorque
fazem cessar a fabricação de alpargatas.
• Momento de instabilidade no país. Contudo, a Alpargatas tem total
apoio de seus funcionários.
• Getúlio Vargas assume o Governo Provisório.
• Por ocasião da Revolução Constitucionalista inicia-se a fabricação de
fardas, mochilas e barracas.
• A empresa muda de nome em definitivo para o atual São Paulo
Alpargatas
S.A.
• O Brasil está na Segunda Guerra Mundial. Faltam alimentos e
combustível.
• A empresa retoma a produção de alpargatas e consegue crescer em
meio à adversidade.
• Ao fim da Segunda Guerra a empresa lança o primeiro brim préencolhido “O Coringa”.
• Primeira empresa a adotar o jingle como estratégia de comunicação.
Todas as rádios tocam os jingles da Alpargatas Roda.
• Lança a calça jeans Far West, calçados Sete Vidas e lonas Sempre Viva.
• Juscelino Kubitschek assume o Governo Federal.
• A Alpargatas patrocina as transmissões dos jogos da Copa do Mundo.
Vitória do Brasil.
• Lança as sandálias Havaianas, calçados Conga, Bamba, Passo Doble e
Calças Coringa, Rodeio e Topeka.
• O termo “fajuta” é incorporado ao dicionário Aurélio por decorrência
das campanhas das Havaianas.
• A empresa adquire a Chenille do Brasil produtos das colchas Madrigal.
• Alteração do logotipo. Um triângulo que lembra o “A” inicial da
Alpargatas com a sensação de movimento é o novo símbolo da empresa.
61
LINHA DO TEMPO POR MODA BRASIL
ALPARGATAS
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
1970
• Iniciam -se as campanhas de cunho social com o slogan
“Criança calçada, criança sadia”.-USTOP; TOPPER; TRAVELLER
• Aquisição da fábrica Rainha.
1980
• Adquire a Jeaneration
•Lançamentos da década: Samoa; Jeans TOP PLUS
• Prêmio “Maiores e Melhores Empresa do Ano”, Revista
EXAME.
1990
• Licencia as marcas Timberland e Mizuno;
• Recorde na produção de Havaianas:100 milhões de pares
2000
• Novo recorde de produção de Havaianas.
•É considerada pela Revista Exame uma das “Melhores
Empresas para se Trabalhar”.
• Publicitários instalam em São Paulo a Faculdade de
Comunicação Social Anhembi Morumbi
• Engenheiros e arquitetos implantam a Faculdade de Turismo
do Morumbi, a primeira do país.
• União da Faculdade Anhembi e Faculdade Morumbi.
• Na segunda metade da década integram-se outras duas
organizações: Rádio Brasil 2000FM e Colégio Anhembi
Morumbi.
• Inaugura o CEBRAFAM-Centro Brasileiro de Formação para a
Moda.
• Lança o primeiro Curso Superior de Moda do Brasil.
• Adquire o prédio da Alpargatas no Brás.
• Credencia-se como Universidade.
• Inaugura o Campus Centro e o primeiro Centro de
Gastronomia da América Latina.
• Ganha o Prêmio Master Imobiliário 98-SECOVI categoria
Revitalização Urbana de São Paulo.
• Implanta os Cursos Superiores de Formação Específica
(sequenciais) com duração de 2 anos.
• Implanta o conceito de Graduação Modulada.
• Cria a Associação de Ex-Alunos.
• Inaugura o Centro de Educação Permanente em Saúde
Anhembi Morumbi, o Campus Vale do Anhangabaú e o Centro
de
Design
e Moda.
Tabela 4 – Evolução da empresa Alpargatas e Universidade Anhembi Morumbi. Histórico das empresas desde 1907, com a construção da fábrica brasileira
de calçados por Robert Frase; até o final do século XX, com a criação do Centro de Design e Moda pela Universidade Anhembi Morumbi.
Fonte: Tabela adaptada pela autora da Linha do tempo elaborada por Moda Brasil, disponível no site Moda Brasil. Disponível em:
http://www2.uol.com.br/modabrasil/trilhadotempo/linhadotempo/index.htm, acessado em 25/08/2011.
62
economia urbana e contribuem para a melhoria da qualidade
de vida.
Visando estes objetivos, a Universidade Anhembi
Morumbi desenvolve um planejamento estratégico que
culmina na contratação do arquiteto Vicente Giffoni, do Rio
de Janeiro, para desenvolver um estudo para um centro de
Educação, Cultura e Lazer, similar ao que havia projetado em
1993, para a Universidade Estácio de Sá, na Barra da Tijuca. A
proposta seria fundamentada no conceito de Shopping
Universitário, onde a universidade teria equipamentos de
convivência, tais como cinema, hotel, teatro e lojas, além dos
tradicionais espaços educacionais.
O projeto do Campus Centro buscava a requalificação
do edifício, recuperando e preservando as características
básicas da estrutura arquitetônica e histórica da construção
feita para a Alpargatas; revitalizando uma área abandonada a
margem da linha ferroviária e transformando o campus em
uma centralidade destinada, não somente a área acadêmica,
mas também aberto a comunidade.
Figura 23 – Implantação e projeto arquitetônico para construção do campus universitário na Universidade Estácio de
Sá, com capacidade para 15000 alunos, na Barra da Tijuca, 1993, projeto.
Fonte: Site oficial do escritório VG Vicente Giffoni Arquitetura e Planejamento, disponível em
http://www.vicentegiffoni.com.br/ port/, acessado em 23/08/2011
Vicente Giffoni Filho é arquiteto urbanista formado pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro em 1985, com produção nas áreas acadêmicas,
construção, interiores e planejamentos imobiliários. Fundou o curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estácio de Sá no Rio de Janeiro, em
1996. E, atualmente, mantém o escritório VG Vicente Giffoni Arquitetura e
Planejamento Ltda.
63
Figura 24 – Proposta de Implantação do Campus Centro de 1997, projeto desenvolvido pela arquiteta Deise Marques Araújo com consultoria do arquiteto Vicente Giffoni
Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
64
O prêmio, criado em
1995
pelo
Capitulo
Nacional Brasileiro da
Federação Internacional
das
Profissões
Imobiliárias
(Fiabci/Brasil)
e
o
Sindicato das Empresas
de Compra, Venda,
Locação e Administração
de Imóveis Residenciais
e Comerciais de São
Paulo (Secovi-SP), é uma
homenagem da indústria
imobiliária a produção
de
alto
nível
de
arquitetura, engenharia,
construção,
desenvolvimento
urbano, incorporação,
administração, vendas e
marketing, entre outras
atividades relacionadas.
Figura 25 – Mapa de
localização
do
Campus
Centro
no
quadrilátero
urbano compreendido entre
a Radial Leste, Linha da
CPTM e Viaduto Bresser.
Fonte: Mapa Google Maps
com edição da autora
O projeto recebe o Prêmio Master Imobiliário de
A
construção
inicia-se
em
novembro
de
1997,
1998, por Revitalização Urbana na cidade de São Paulo
finalizando a primeira fase em janeiro de 2004.
com a recuperação urbana do quadrilátero urbano
Atualmente, este Campus continua em construção,
compreendido entre a Radial Leste e a Linha da CPTM,
devido o potencial construtivo para expansão e a
no Bairro do Brás.
crescente demanda pelo Ensino Superior.
65
Figura 26 – Fachada principal do Campus Centro, frente para a Rua Doutor Almeida Lima.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
Figura 27– Fachada posterior do Campus Centro, frente para Radial Leste.
Fonte: Acervo Vicente Giffoni. Disponível em http://www.vicentegiffoni.com.br/port/, acessado
em 25/08/2011.
66
Figura 28 – Projeto do Campus Centro desenvolvido pela arquiteta Deise Marque Araújo com consultoria do arquiteto Vicente Giffoni, para obtenção de financiamento junto
Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDS)
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
67
Figura 29 – Implantação atual do Campus Centro: projeto da arquiteta Deise Marques Araújo, com consultoria do arquiteto Vicente Giffoni. O espaço ainda vem sofrendo modificações
diante do crescimento da Instituição, realizados pelo Departamento de Obras e Projetos da Instituição.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
68
As propostas de implantação do Campus Centro
finalizado.
elaboradas pela arquiteta Deise e Giffoni são, relativamente,
similares. Algumas áreas da primeira proposta foram
remanejadas ou extintas, tais como:


Segundo arquiteta Deise (02/08/2011), em 1998, o
Campus Centro inicia suas atividades com aproximadamente
400 alunos, chegando a quase 700 no segundo semestre e
A área de Esporte e Lazer hoje é ocupada por salas
saltando para algo em torno de 2000 alunos no terceiro
de aula denominadas Città;
semestre.
o Centro de Eventos com 6 salas de aula e um mini
paralelamente a ocupação do campus tem seu ritmo
teatro foi substituído pela Área de Eventos com
acelerado. E as propostas para os laboratórios específicos
Teatro Anhembi Morumbi, com capacidade para 700
passam a ser mais bem elaborados.
lugares, e duas quadras poliesportivas descobertas



As
Desta
obras
forma,
que
para
estavam
sendo
desenvolver
a
realizadas
área
de
O Centro de Rádio e TV foi transferido para área de
gastronomia, medicina veterinária, fisioterapia, buscou-se o
Práticas Jurídicas e Forense.
que se tinha de referência, informada pelas coordenações de
A área de Práticas Jurídicas e Forense não foi
curso, na área para desenvolvimento dos projetos. Como o
implantada no Campus Centro. Foi projetada uma
espaço era generoso, com pé-direito alto, vãos grandes,
área denominada Núcleo de Práticas Jurídicas no
instalações e fundações existentes, os custos da obra eram
Campus Vale do Anhangabaú, sendo transferida,
direcionados para investir em revestimentos diferenciados;
recentemente, para o Campus Avenida Paulista.
tentando conciliar a estrutura histórica com acabamentos
A área institucional não foi construída, teve a
atuais.
academia instalada de 2007 a 2010, sendo que ,
Com o crescimento da instituição, a concorrência de
atualmente, abriga a área da Central de Atendimento
mercado, que exibiam abertura de novas universidades, e um
ao Candidato e Agência Experimental. O piso das
estudo apontando o baixo crescimento vegetativo da
áreas que não são ocupadas academicamente não foi
população brasileira, a Anhembi Morumbi com uma visão
69
empreendedora, em 1999, implanta cursos Sequenciais.
arquitetura solicitassem a transferência do curso para o
Estes cursos tinham intuito de atenderia, não somente a
prédio, são os cursos sequenciais – Cursos Superiores de
demanda de calouros na faixa etária entre 17 e 22 anos,
Formação Específica, que lá são alocados, de acordo com
recém-saídos do Ensino Médio, mas conquistaria, também,
demanda de mercado crescente e a grande quantidade de
um público mais velho, atuante no mercado de trabalho e
alunos ingressantes nesta nova modalidade acadêmica.
que buscavam enriquecer o currículo, profissionalizar-se,
inserindo diplomas de Formação Específica, com duração de
dois anos.
Em 2000, associa-se a outras IES de diversas regiões
do país e cria a Universidade Virtual Brasileira (uvb.br),
posteriormente denominada Instituto Universidade Virtual
Brasileiro (iuvb.br) responsável pela oferta de cursos à
distância e on-line.
O Campus Vila Olímpia que até então tem seus
espaços adaptados para atender a demanda acadêmica,
consegue aprovação de investimento para ampliação de sua
infraestrutura predial e expansão da marca. A instituição, que
havia adquirido o lote onde funcionava o antigo Retiro dos
Artistas de São Paulo, constrói, em 2001, seu primeiro
edifício vertical neste campus, a Unidade 6, projeto do
arquiteto Francisco Petracco, da qual a trajetória será
discorrida no capítulo 2. Embora os alunos do curso de
Figura 30 – Fachada principal da Unidade 6 do Campus Vila Olímpia, frente para a Rua Casa do Ator,
evidenciando a estrutura metálica e o vidro com destaque para a escada central solta do chão através de
tirantes.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
70
Em 2001, cria-se o curso de Mestrado em
Hospitalidade e para abrigar este novo corpo acadêmico,
reforma-se o a Unidade 8, denominando como Villagio, para
implantação da área de Stricto Sensu. Neste ambiente, além
das áreas de pesquisa, encontra-se um ambiente de
convivência com lojas, cafés como lugar de estar no campus.
Ainda, em 2001, dando continuidade na iniciativa de
revitalização arquitetônica, inaugura o novo campus no
Centro Velho de São Paulo, demonstrando apoio no sentido
de melhoria da área central. Para o reitor Rodrigues, o
Campus Vale do Anhangabaú, atendia duas necessidades
básicas da Universidade: uma de ordem privada, que seria a
expansão de infraestrutura com melhores espaços sob o
aspecto logístico; e a outra, de ordem pública referente à
ativação do processo de valorização e revitalização do Centro
de São Paulo.
Vargas e Castilho (2006), narram o processo de
preservação urbana, comum no período de 1970 a 1990,
como um momento em que a preocupação estava na
importância da preservação das vizinhanças e na restauração
histórica de edifícios, com o aproveitamento da estrutura
Figura 31 – Catálogo informativo sobre o Processo Seletivo de 2001 , apresentando o novo Campus
Anhangabaú como mais uma opção de localização e espaço acadêmico na área de Direito e Negócios.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
existente e introdução de novas atividades, principalmente
71
de lazer e cultura. O objetivo deste período é a valorização da
memória, na organização da sociedade em defesa ao
patrimônio histórico e na divulgação de que os centros da
cidade seriam espaços essenciais para a vida urbana,
carregado de infraestrutura, identidade e orgulho cívico.
A proposta para o Campus Vale do Anhangabaú,
atendia estas prerrogativas, marcando a presença da
Universidade Anhembi Morumbi no Centro Histórico da
cidade de São Paulo, através da intervenção em um edifício
que outrora abrigava a sede do Banco de Boston desde 1960.
O Banco de Boston acompanhava a dinâmica de
deslocamento das atividades centrais para novos polos, tais
como a transferência de instituições que buscavam
tecnologia e edifícios mais modernos na Avenida Paulista,
caminhando para Avenida Faria Lima, depois Marginais e
Figura 32 – Fachada do Campus Vale do Anhangabaú frente para a Rua
Líbero Badaró, com vista para o cruzamento com a Avenida São João.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
finalmente na área do Brooklin – onde a cidade assume o
6.
novo conceito de cidade que sobrevive sem a infraestrutura
necessidades arquitetônicas advinda de seu programa e
básica aliada a um estilo arquitetônico⑥. A Instituição
demanda acadêmica, mas não atrai seu público de imediato.
bancária passa a ter sua sede em um arranha-céu próximo a
Embora a infraestrutura urbana facilite o acesso com as
Marginal Pinheiros com 145 metros, até ser vendido ao
proximidades das estações de metro São Bento e
Banco Itaú, em 2006.
Anhangabaú, os horários das aulas e a falta de segurança da
O projeto do Campus Vale do Anhangabaú, atende as
região central inibiram o sucesso da iniciativa. Atualmente,
MEYER, Regina - O centro da
metrópole como projeto artigo da coletânea São Paulo
XXI – Entre o projeto e a
história – Viva o Centro, pág.
6 a 10, disponível em
http://www.vivaocentro.org.
br/download/publicacoes/sa
opaulocenroxxi.pdf, acessado
em 05/05/2011.
72
com nova politica de segurança por parte da Prefeitura para
a área, busca-se novamente uma tentativa para se dar vida à
área Central.
Em 2002, é inaugurado o Campus Morumbi, também
sob um aspecto de requalificação de galpão fabril, a antiga
Durex, no bairro do Brooklin. Embora a construção não
apresente o mesmo valor histórico das outras construções, a
iniciativa de se manter toda a estrutura e instalações
aparentes, gerou um universo simbólico para a área de
concentração do campus, que inicialmente, implantados os
cursos de Design e Moda, e atualmente ampliado para Escola
Figura 33 - Fachada principal do Campus Morumbi, frente para a Avenida
Roquei Petroni Junior, evidenciando sua escadaria de acesso ao campus.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
de Arte, Arquitetura, Design, Moda e Business School São
Paulo (BSP).
Os galpões requalificados ganharam o nome de
Galpão das Artes, proporcionado por novos e grandes
espaços de ateliês e laboratórios específicos com objetivo de
agrupar todas as atividades artísticas e poder expandir a
identidade própria desta Escola. Em 2007, a infraestrutura
acompanha o crescimento do campus e emerge um edifício
de 10 andares denominado Edifício Jardim, visto o grande
bosque refletido em sua fachada de vidro.
Figura 34 – Maquete eletrônica do projeto para o Edifício Jardim no
Campus Morumbi, da arquiteta Deise Marques, para efeito ilustrativo da
edificação. Na imagem, foi retirada a vegetação das árvores, existentes
em frente ao edifício, que refletem o jardim no fechamento em vidro.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
73
Figura 35 – Mapa do Campus Morumbi, para localização das salas de aula no início do período letivo, versão janeiro de 2011.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
74
A partir de 2003, continua-se a expansão da
Figura 36 – Fachada do Complexo
Theatro, vista da Rua Casa do Ator. A
esquerda, unidade 6 projeto de
Francico Petracco, a direita, unidade
7,projeto de Deise Marques. É possível
identificar a diferença de materiais
onde um é de estrutura metálica azul e
vidro e a o outro em tijolo aparente e
revestimento tipo fulget. Nota-se,
também, a relação de níveis dos
edifícios, no qual o pavimento térreo
da Unidade 6 forma uma esplanada
com o pavimento térreo da Unidade 7;
e o subsolo da Unidade 7 favorece uma
entrada independente a esta unidade.
Fonte: Desenho em AutoCAD produzido
pela autora
competição de arquitetura.
infraestrutura do Campus Vila Olímpia, iniciando obras para
Desta forma, mesmo com que as construções
construção do segundo edifício vertical, interligado a
apresentassem características distintas em seu projeto, o
Unidade 6, a uma nova unidade intitulada de Unidade 7,
diálogo aconteceria entre os níveis dos prédios. Como o
ficando a cargo da arquiteta Deise que era a então
terreno é íngreme, o pavimento térreo da unidade 7
coordenadora da AOP naquele ano.
acompanharia o térreo da unidade 6, ficando três metros
Segundo Deise (02/08/2011), a proposta do novo
acima do nível da rua, isto faria com que a nova edificação
edifício seria compor um diálogo entre a nova construção e a
ficasse solta do solo. Nesta cota a entrada do edifício
existente, contudo este diálogo deveria ser encontrado na
aconteceria pela própria unidade 6. O desnível gerado entre
oposição da arquitetura desenvolvida por Petracco, isto
o térreo e a rua, provocaria um primeiro subsolo, fazendo
porque qualquer edificação que sugerisse a mesma
que a construção criasse outro acesso, uma entrada
linguagem, única deste edifício existente, seria uma
independente para a unidade 7.
75
Ainda de acordo com Deise (02/08/2011), outro
Outro ponto levantado por Deise (02/08/11) foi à
motivo para opção pelo volume fechado na Unidade 7 é
aproximação do partido entre as edificações por meio de sua
resposta a um fator econômico, isto porque foi solicitado
modulação estrutural. Como não é possível conhecer a
pela instituição uma maior economia no uso de vidro,
demanda de alunos a serem matriculados, as salas de aula
cortinas e materiais acústicos. E embora esta solicitação
precisavam apresentar um caráter mais flexível. Facilitando a
produzisse uma arquitetura distinta, o partido do projeto
modificação e redimensionamento da mesma.
preferiu por um sistema construtivo que mantivesse o
Após a construção da Unidade 7, a arquiteta Deise foi
mesmo perfil da Unidade 6, o que resultou na utilização do
convidada a desenvolver o projeto para a unidade 5, também
aço como elemento de estruturação do projeto, haja vista o
no Campus Vila Olímpia; formando, assim, o Complexo
valor do aço no mercado financeiro e, acima de tudo, a
Theatro, composto por três imponentes edifícios na rua Casa
agilidade durante a construção.
construção
do Ator,
or, integrando uma nova paisagem da região.
Figura 37 – Fachada
Complexo Theatro,
frente para a Rua
Casa do Ator, com a
Unidade
6
em
primeiro plano e a
Unidade 7 ao fundo,
mostrando
a
diferenças
arquitetônicas entre
as fachadas de vidro
e de tijolo a vista;
bem
como
sua
integração a partir da
esplanada do térreo,
com entrada pela
Unidade 6
Fonte: Acervo pessoal
da autora
76
Figura 38 - Ocupação urbana dos imóveis destinados as unidades acadêmicas da Universidade Anhembi Morumbi no Campus Vila Olímpia, no período de 1978 a 2011
Fonte: Desenho da autora
77
78
Atendendo a globalização, em 2005, a Universidade Anhembi
Morumbi alia-se a Rede Internacional de Universidades
Laureate, com o objetivo de ampliar sua presença no
mercado, conferindo um caráter internacional. Os cursos da
Universidade
Anhembi
Morumbi
passam
a
oferecer
vantagens como complemento da grade curricular e estágios
internacionais.
Nesta mesma época, o departamento de obras e
projetos da universidade é terceirizado, e a equipe que
outrora era composta de quase 15 funcionários passa a
contar com uma equipe de seis pessoas na empresa GMA
Incorporadora e dois funcionários na AOP da universidade.
Figura 39 – Fachada lateral do Complexo Theatro, com a Rua Casa do Ator entre as unidades
6, em primeiro plano, e a Unidade 5, ao fundo. É possível observar a arquitetura semelhante
entre a Unidade 5 e 7, o que faz com que a arquitetura da Unidade 6 destaque-se na
paisagem.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Gráfico 5– Relação de funcionários na AOP, no decorrer dos anos e
expansão do campus
Fonte: Tabela elaborada pela autora
79
Figura 40– Informe publicitário Folha de São Paulo: Recorte do Informe publicitário apresentado como encarte na Folha de São Paulo, em dezembro de 2005, anunciando a aliança entre a
Universidade Anhembi Morumbi e a Rede Internacional de Universidades Laureate
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
80
Sim Man 3G é um manequim
de última geração que simula
comportamentos humanos,
tais como choro, sangramento, convulsão e responde
a estímulos químicos, biológicos, radiológicos e nucleares.
Ver:
http://portal.anhembi.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/star
t.htm?infoid=5325&sid=2
Em 2006, com o reconhecimento da CAPES aos dois
cursos de Mestrado, o Mestrado em Design e o Mestrado de
vice-reitoria e todo o corpo diretivo administrativo
da Instituição.
Comunicação, ratificam o status como Universidade.
E, em 2007, a AOP é reestabelecida dentro da
Instituição, sob a gerência do arquiteto Glauco Humberto
Fioritti, arquiteto urbanista, formado pela Universidade de
Belas Artes e que já trabalhava na instituição na área de
Segurança do Trabalho há aproximadamente 15 anos.
Neste mesmo ano, o Campus Centro passa por nova
transformação, parte de suas instalações são readequadas
Figura 41– Laboratório de Simulação do curso de Medicina, com destaque
para a presença do boneco SimMan 3G, que simula comportamentos
humanos e facilita demonstrar situações de casos reais a partir da
programação do equipamento, dinamizando o método de ensino.
para receber o curso de Medicina, com ênfase na prática de
simulação, a partir do uso do SimMan 3G.
Em 2008, a Universidade inaugura o Campus Avenida
Paulista. O edifício que abrigava a Faculdade de São Paulo
(FASP), agora sedia a área de Negócios da Universidade
Anhembi Morumbi. O edifício projetado inicialmente para ser
um espaço comercial, apresentava uma série de problemas
legais para funcionamento acadêmico, um dos motivos que
fizeram com que a antiga faculdade abandonasse o imóvel.
Ciente da importante localização do Campus, a Instituição
opta por investir na infraestrutura deste espaço, localizado
em um dos maiores centros empresarial da América Latina.
Figura 42 – Fachada do Campus Avenida Paulista, frente para a Avenida
Paulista, nº2000, com destaque para o calçadão no primeiro plano e a
presença da Universidade Anhembi Morumbi na Avenida que é o cartão
postal da cidade de São Paulo.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
81
Neste mesmo ano, incorpora a Business School São
Paulo – BSP, com intuito de fazê-la seu braço especializado
em MBAs e cursos para empresas dentro do Campus
Morumbi. Com a transferência da sede da BSP para o
Campus Morumbi e todos os riscos administrativos e
financeiros
devidamente
planejados
e
ajustados,
a
Universidade deparou-se com uma questão incomum, o
Campus caracterizado pelo público dos cursos da Escola de
Artes, Arquitetura, Design e Moda eram totalmente distintos
do
público
da
BSP,
evidenciando
suas
diferenças
socioculturais.
Figura 43- Hall de acesso das salas da BSP no Campus Morumbi, com
recepção para os alunos, conta com balcão de informação poltrona
estofadas e mesas de estudo.
Os alunos da BSP são profissionais formados com
mais de cinco anos de experiência de mercado, sendo a
maioria diretores ou executivos de liderança das grandes
empresas; enquanto os alunos da UAM são em sua maioria
jovens recém-saídos do colegial e cursando sua primeira
faculdade. Com perfis distintos desde o vestuário até o valor
do investimento no curso, a universidade proporcionou
diferenças no espaço físico dos dois segmentos acadêmicos.
Esta diferença de cultura acadêmica tem sido superada, mas
já existe projeto para transferência deste público para uma
unidade estritamente de negócios.
Figura 44– Hall de acesso as salas de graduação no Campus Morumbi, com o
espaço do corredor vazio, de acordo com a entrega da obra em 2007.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
82
7.
8.
Missão e Visão divulgadas no
site
da
Universidade
Anhembi
Morumbi:
Disponível
em:
http://portal.anhembi.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/star
t.htm?sid=119. Acesso em
14.01.2011
Ver citação de Rodrigues
(2005), “Queria ser jornalista,
graduei-me em arquitetura,
trabalhei para o estado, abracei a causa do Turismo e há
35 anos sou um empreendedor educacional.” Pag. 246
Atualmente, a Universidade, respeitada pela sua

11 cursos de graduação executiva;
missão de “contribuir para a construção de um mundo

3 cursos de mestrado;
melhor, produzindo conhecimento e formando talentos

765 funcionários administrativos e
criativos e empreendedores, capazes de ter sucesso em sua

835 professores atuando na Instituição.
vida pessoal, social e profissional”⑦ é, em muito, o reflexo
Todas as atividades distribuídas em um total
de seu idealizador, que a princípio queria ser jornalista,
de 77.292,44 de m² da área de São Paulo, com 162.465,00 de
cursou arquitetura, trabalhou no DOP com fiscalização de
m² construídos, lançados em 5 Campi, com um total de 15
escolas,
edificações.
idealizou e
implantou cursos de
formação
profissional e tornou-se um empreendedor da Educação⑧;
abraçando a visão de criar “uma intuição moderna, arrojada
e inovadora, com modelos pedagógicos e administrativos
diferenciados e capazes de desenvolver, nos alunos sua
competência para empreender e inovar em sua atuação
profissional.”
Atualmente, após 40 anos de sua fundação, que
iniciava com 360 alunos em uma única edificação no Bairro
do Morumbi, a universidade conta com:

32 mil alunos cursando a universidade;

44 cursos de graduação;

14 cursos de graduação tecnológica;

11 cursos on-line;

19 cursos de especialização;
83
Capítulo 2. VIVENCIAR O prédio de vidro
2.1 A origem da unidade 6
De acordo com o portal da Prefeitura de São Paulo⑨,
o bairro da Vila Olímpia compõe o distrito de Itaim Bibi em
conjunto com a Chácara Itaim, Vila Funchal, Brooklin Novo,
Brooklin Paulista, Jardim Edith, Cidade Monções, Conjunto
JK, Vila Cordeiro, Vila Gertrudes e Vila Uberabinha.
9.
Disponível
em
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidad
e/secretarias/subpre
feituras/pinheiros/hi
storico/index.php?p
=472, acessado em
18 de julho de 2011
Figura 45 – Mapa de uso
e ocupação do solo da
Regional de Pinheiros,
incluindo o Bairro Vila
Olímpia, evidenciando
que a macrozona de
estruturação urbana da
área onde situa o campus Vila Olímpia da
Universidade Anhembi
Morumbi é Zona Mista
de Alta Densidade.
Fonte: Site da Subprefeitura de Pinheiros
84
Este distrito surge com características de bairro
popular, entre a década de 1920 e 1930, com uma população
se as indústrias e depósitos fabris, delimitados pelas favelas
Coliseo e Juscelino Jubitschek.
modesta de classe média, nas terras da chácara de 120
Assim se manteve até 1989, quando, durante a
alqueires do general José Vieira Couto de Magalhães. A
administração de Janio Quadros, o arquiteto Julio Neves,
propriedade, que posteriormente foi passada para seu irmão
apresenta o projeto do “Bulevar Zona Sul”, como resposta ao
Leopoldo, era conhecida como “terreno de Bibi”, que
transito existente nesta região e valorização imobiliária da
acrescido do passado indígena, em que Itaim em tupi
área. O projeto consistia em demolições e reurbanização de
significa pedra pequena, origina o nome do Bairro.
quadras no eixo da Avenida Brigadeiro Faria Lima e
A Vila Olímpia fazia parte do espólio da chácara, que
Engenheiro Carlos Berrini, rejeitado por moradores da área, o
segundo Sávio (2004), tiveram as propriedades do general
que acarretou seu primeiro veto. O projeto é retomado no
desmembradas por seus herdeiros em lotes e pequenas
governo de Luiza Erundina, mas só é aprovado em 1993, na
chácaras entre a parte alta, próximo a avenida Santo Amaro e
gestão de Paulo Maluf, decorrente da Operação Urbana da
Bandeirantes e terrenos na parte baixa, próximo a avenida
Faria Lima.
Nações Unidas e Presidente Juscelino Kubitschek .
De acordo com Sávio (2004), o então prefeito Maluf
Por estar distante do corredor de passagem entre
anunciou o prolongamento da Avenida Brigadeiro Faria Lima
Santo Amaro e o centro da cidade, teve um desenvolvimento
como obra emblemática de sua gestão, viabilizada pela
lento. Sávio (2004), conta que enquanto na década de 70,
venda de potencial construtivo através da Operação Urbana.
apresentava-se como bairro de classe média consolidada, a
Contudo, receando não concluir a obra até o final do
ocupação era mista, sendo que na parte alta estabeleciam-se
mandato, iniciou o projeto com recursos que previa
casas térreas e assobradadas geminadas com edifícios
recuperar posteriormente por meio do interesse do mercado
residenciais de pequeno porte, enquanto na parte baixa,
imobiliário na região.
próximos aos córregos uberada e uberabinha, encontravam-
Com a inauguração em 1997, evidenciava-se o
85
aumento de casas noturnas e de espetáculos, bares e
restaurantes, aferindo o nome de Brejo Alegre decorrente da
atratividade no entreterimento noturno.
No portal do Bairro Vila Olímpia⑩, conta-se que as
primeiras construções horizontais, com gabaritos baixos
residenciais e comerciais, tinham as ruas identificadas por
10. Ver histórico no site Bairro
Vila Olímpia, disponível em
http://www.bairroilaolimp
ia.com.br/htmHISTORIA.ht
m, acessado em 18 de
julho de 2011.
números. Na Seção de Denominação de Lougradores
Públicos, a oficialização da rua Casa do Ator, refere-se a Casa
de Ator como sendo a residência do artista.
A origem do nome aconteceu com a chegada da
entidade circense, de Francisco Colman, que constrói sua
sede no número 275, fazendo com que esta rua passe a
abrigar uma casa para artistas circenses aposentados, com
algumas atividades da Academia Piolin de Artes Circenses,
patrocinada pelo governo estadual. A entidade funcionou
entre o período de 1978 até 1982, vendendo seu terreno a
mantenedoura da Universidade Anhembi Morumbi em 1995.
Em relatos no Blog Verônica Tamaoki, a pesquisadora
Figura 46 – Francisco Colman, entre 1979 e 1980.
Fonte: http://blog.pindoramacircus.com.br
escreve como a coleção de Boletim Mensal da Federação
Circence constituída por Francisco Colman chegou as suas
Tamaoki relata que enquanto aluna da Academia
mãos possibilidando realizar uma pesquisa sobre o Circo no
Piolin, quando a escola funcionava sob as arquibancadas do
Brasil no início do século.
Estádio do Pacaembu, conheceu Colman como diretor. Narra
Verônica
Tamaoki
é
jornalista, atriz e diretora
circense,
produziu
o
evento Circo Nerino no
Sesc
Pompéia
em
homenagem ao palhaço
Piolin, fundou o site
Pindorama Circus com
notícias do Circo Brasileiro,
escreveu o livro Circo
Nerine ao lado de Roger
Avanzi. Os relatos sobre a
Casa dos Artista no Bairro
Vila Olímpia encontram-se
Disponíveis em http://
blog.pindoramacircus.com
.br/category/circo-teatro,
acessado em 18 de julho
de 2011.
86
Revista Scena: Revista
Circense, órgão oficial do
Circo Theatro Romano.
Revista Máscara: Revista
Circense, órgão oficial do
Sindicato dos Atores
Teatrais, Cenógrafos e
Cenotécnicos do Estado
de São Paulo.
em
11. Disponível
http://blog.pindoramacirc
us.com.br/category/circoteatro
Delduque
Oliveira
Martins, foi Diretor de
Gestão de Campus e de
Patrimônio
da
Universidade Anhembi Morumbi e atualmente trabalha como Superintendente do Instituto
Racine em São Paulo.
a trajetória do artista que foi secretário do Circo Nerine, em
Waldemar Merizio Vieira, administravam um espaço e
1936 lança a revista Scena, em 1950 é diretor e redador da
reinvindicavam auxílio à classe dos profissionais do circo.
revista Máscaras e em 1977, torna-se presidente da
Tamaoki, em visita a Casa do Ator no ano de 1986,
Associação Piolin de Artes Circenses, entidade responsável
conta que Francisco Colman morava no escritório da sede e
pela Casa do Ator, em São Paulo.
Sr. Waldemar continuava ao seu lado como caseiro. Quando
Segundo depoimentos do pesquisador Sérgio Freitas,
em 11 de abril de 1977, a Secretaria do Estado dos Negócios
retornou entre os anos de 1991 e 1992, Sr. Waldemar
informou-lhe da morte de Colman.
da Cultura, Ciência e Tecnologia, fundou a Associação Piolin
de Artes Circenses, inaugurando suas atividades com o
“Festival Piolin de Artes Cirscenses”, “Natal no Circo” e o
espetáculo de circos no Ginásio do Estadio Municial “Paulo
Machadao de Carvalho”. Em 08 de agosto de 1977, inaugura
a Escola Oficial de Artes Circenses dirigida ao ensino e
aprimoramento das artes circenses, com aulas as segundas e
quartas-feiras no Estádio Municipal “Paulo Machado de
Carvalho”
A Casa do Ator não era apenas uma casa, eram
várias. Tinha uma casa central, e outras casas,
inclusive uma edícula comprida, uma capela, um
jardim e acho que mais uma pequena casa no
fundo do terreno. Entre os apartamentos situados
na edícula, esses com quarto e banheiro, e nas
outras casas, acredito que havia uma média de
uns 25. Muitas vezes, a Academia Piolin ensaiou
no quintal da Casa do Ator, no início da década de
1980, e já na época, a maioria de seus
apartamentos estava vazio. (Veronica Tamaoki⑪,
2007)
No portal da Fundação Nacional das Artes, em
depoimento de Dirce Tangará Militello, o principal objetivo
da escola de circo, naquela época, era tentar trazer de volta a
profissão dos mestres circenses.
Assim, Sr. Francisco Colman e seu secretário
De acordo com os relatos do engenheiro Delduque
(26/07/11), os primeiros contatos que a Universidade teve
com este terreno foi o aluguel do estacionamento e de parte
edificada para alocar a manutenção do Campus Vila Olímpia.
87
De acordo com os relatos do engenheiro Delduque
(26/07/11), os primeiros contatos que a Universidade teve
Academia Piolin, agora seria espaço pertencente aos anseios
acadêmicos de Ensino Superior.
com este terreno foi o aluguel do estacionamento e de parte
Ainda que o bairro estivesse passando por esta
edificada para alocar a manutenção do Campus Vila Olímpia.
crescente imobiliária e a universidade estivesse contando
A Universidade dividia o espaço com a Associação Piolin, que
com aproximadamente três mil alunos, no final da década de
mantinha o espaço também para guardar materiais e
1990, o terreno encontrava-se em Z2, zona que corresponde
equipamentos artisticos para locação, tais como som
ao uso predominatemente residencial com densidade
fantasias, equipamentos de circo, entre outros.
No final da década de 1990, segundo Savio (2004), o
bairro da Vila Olímpia sofria intensa verticalização,
valorização fundiária e adensamento; com constução de
vários edificíos comerciais. A instituição, sob regência de
Rodrigues, conhecedor do mercado imobiliário e aspirando
ampliação da infra-estrutura do Campus Vila Olímpia,
adquire, em 12 de janeiro de 1994, o terreno da Casa do
Ator, 265, sob propriedade de “Casa do Ator Centro de
Comunicações Artísticas e Culturais”. O terreno de 1.000m²
continha uma pequena edificação, a capela e a grande área
do estacionamento. E em 23 de março de 2005, adquire o
lote 275, também com 1000m² composto de pequenas
edificações.
Estes
lotes
demonstravam
sua
vocação
educacional, onde outrora participaram da construção da
Imagem 47 – Ocupação do terreno Casa do Ator, 265 e 275, pela Universidade Anhembi Morumbi, em
1995.
Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
88
demográfica baixa. Terrenos nestas condições, segundo a
lacuna nesta legislação que possibilitasse a construção de um
Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA):
edifício para a universidade. A construtora que estava
trabalhando em pequenas reformas na unidade 5 e fazia
Corresponde à parte da área urbana não
incluída nos perímetros das demais zonas,
caracterizando-se
pela
predominância
residencial, sendo também permitidos usuos
comerciais, de serviços, industriais de pequeno
porte e institucionais. Nesta zona, as edificações
podem ter área construída máxima igual à
ocupação do lote, ocupando apenas metade do
terreno, sendo permitido que nos edifícios
residenciais, a área construída seja o dobro da
área do lote, com uma ocupação menor da
superfície do lote (SEMPLA⑫, grifo da autora)
algumas demolições no Campus Centro, via o potencial de se
manter parceria na construção de novos edifícios e consoliar
os laços com a instituição. Sua insistência na pesquisa revela
uma possibilidade construtiva na LEI Nº 8.211, de 06 de
março de 1975.
Esta Lei, que estabelecia condições de localização,
aproveitamento, ocupação e recuos para edificações
destinadas a estabelecimento de ensino, onde apresentava
como aproveitamento do terreno de (40 x 50) metros que, a
12. Secretaria Municipal de
Planejamento, disponível
em http://www.prodam.
sp.gov.br/sempla/zone.ht
m, acessado em 18 de
julho de 2011
13. Ver
histórico
da
Construtora Sobrosa no
Capítulo 2 – A construção
Ver Anexo com a Lei Nº
8.211
Diante da legislação, a administração da Universidade
princípio, permitirra uma construção de apenas uma vez o
Anhembi Morumbi solicita um estudo para verificar qual o
lote do terreno; com o uso desta lei permitiria a construção
potencial construtivo do terreno e depara-se com o resultado
de
de construção com, no máximo, a equivalência da área do
aproveitamento que antes tinha coeficiente 1 e, passa a ser
terreno de 2.000 m²; metragem esta que não atenderia a
2. Embora a área possa ser maior, a taxa de ocupação
estimativa de crescimento almejada.
permanecesse igual, considerando a ocupação da metade do
Consciente de que a legislação urbanistíca define
acordos e propõe limites invisíveis, Eduardo Sobrosa, sócio
da construtora Sobrosa⑬, que acompanhando o processo
em reuniões com o engenheiro Delduque, procura uma
quase
4.000
m²;
resultado
do
aumento
do
terreno.
Estes dados podem ser melhor visualizados, na
análise da tabela abaixo:
89
Lei dos estabelecimentos do ensino pertencentes ao sistema educacional do estado de São Paulo e dos estabelecimentos de educação infantil
Zona de
Coeficiente de
Taxa de ocupação
uso
aproveitamento
máxima
A
B
C
D
Z1
1
1
0,5
Z2
2
2
0,5
Z3
6
2
Z4
6
Z5
Recuos mínimos
E
Estacionamento de veículos
Espaço destinado a desembarque e manobras de
veículos
F
G
H
- 6
3
uma vaga p/ cada 75 m² de área
0,5
6
3
edificada resultante da aplicação dos
É obrigatório proporcionar fora do logradouro púb. de
0,5
0,5
5
-
coeficientes estabelecidos na coluna C
acesso e especificar no projeto os pátios e vias de
2
0,5
0,7
5
-
para os estabelecimentos de categoria
circulação destinadas a:
6
2
0,5
0,8
-
-
E1 e E2;
Z6
3
1,5
0,5
0,7
6
3
Z7
-
-
-
-
-
-
p/ os estabelecimentos da cat.
E3 a COGEP estabelecerá p/ cada caso
I
a) embarque e desemb. de estudantes;
b) carga e descarga de veículos de serviço;
c) parada temporária e manobra de veículos
específico o nº mínimo de vagas
Tabela 5– Quadro único anexo a LEI Nº 8.211, de 06 de março de 1975, complementado pelas LM 8.769/78 e 9.094/80, com diretrizes para construção de espaços pertencentes ao sistema
educacional do Estado de São Paulo, com grifo da autora nos itens referentes ao projeto do Edifício Theatro Casa do Ator.
Fonte: Prefeitura de São Paulo – Disponível em http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/plantas_on_line/ legislacao/index.php?p=8664, acessado em 18 de julho de 2011.
Com a possibilidade de verticalização oferecida pela
legislação, Sobrosa reuniu-se⑭ ao corpo administrativo para
apresentar a solução com um estudo das exigências mínimas
e possíveis características que pré-determinariam o edifício a
ser implantado na Casa do Ator, 275. Investi na
verticalização do gabarito acadêmico pela universidade, em
um bairro residencial, acompanhava a ascensão imobiliária
vivenciada pela Vila Olímpia, no final da década de 1990,
descrita por Sávio (2004); com torres comerciais que
substituiam antigos sobrados e galpões do bairro, atraídos
por soluções tecnológicas e especificações técnicas de última
geração, além de flexibilidade espacial dos novos edifícios
com a sofisticação dos empreendimentos.
15. O arquivo denominado
Prefeitura.doc,
não
apresentou data e a
Construtora , também, não
soube
informar
com
precisão. Acredita-se que as
negociações
ocorreram
entre o segundo semestre
de 1998 e o primeiro
semestre de 1999.
90
A instituição que até o momento, só realizava
adaptações nas unidades da Vila Olímpia, investe na
atualização de sua infraestrutura e faz emergir um edíficio
consolidando o seu crescimento no mercado educacional,
marcando o prestígio do recém-adquirido status de
Universidade Anhembi Morumbi.
-
Figura 48 – Desenho esquemático da implantação do Prédio de Vidro, de
acordo com as diretrizes impostas pela Lei Nº 8.211, referente aos recuos
mínimos exigidos para aprovação do projeto com uso educacional.
Fonte: Desenho elaborado pela autora
Imagem 49 – Vista áerea com delimitação da área do terreno e
implantação do Prédio de Vidro, de acordo com as diretrizes da Lei Nº
8.211
Fonte: Google maps 2011, com edição da autora.
91
Figura 50 – Estudo de viabilização construtiva da Unidade 6, de acordo com diretrizes imposta pela Lei Nº 8.211, referente as condicionantes mínimas exigidas para aprovação do projeto de
edifício com uso educacional.
Fonte: Acervo digital da Construtora Sobrosa
92
Figura 51 – Quadro de áreas apresentado em conjunto com o estudo para viabilização construtiva da Unidade 6, de acordo com diretrizes imposta pela Lei Nº 8.211, referente as condicionantes
mínimas exigidas para aprovação do projeto de edifício com uso educacional.
Fonte: Acervo digital da Construtora Sobrosa
93
2.2. Um pouco sobre o arquiteto
Partindo deste contexto, da importância do terreno
para a rua e bairro, das dificuldades enfrentadas para
potencializar a construção do edifício e a relevância da
construção na conjuntura da Universidade, era preciso
apontar o arquiteto que idealizaria o projeto. A partir de
entrevistas, publicações em revistas e sua tese de doutorado,
foi possível conhecer Francisco Petracco.
Petracco era o coordenador do curso de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade Anhembi Morumbi, com rica
trajetória profissional acadêmica e arquitetônica, quando
convidado a projetar o Prédio de Vidro.
Neto de arquiteto e de pai artesão industrial e
violinista, foi seduzido pela profissão do avô quando desde
cedo o acompanhava em suas obras.
Em sua vida acadêmica conhece o professor Vicente
Mecozzi, desenhista e pintor, que incentivava alunos com
aptidões plásticas a inclinarem-se ao curso de Arquitetura;
Orestes Rosalia que romantizava a História em fatos poéticos
Francisco Petracco é neto de
Francisco Verrone, arquiteto
responsável por projetar e
coordenar as obras da IRF
Matarazzo,
tais
como
Maternidade Matarazzo e
Casa das Caldeiras.
e humanísticos; e Pedro Corona, já na graduação, grande
promotor do Desenho do Projeto e do Desenho do
Figura 52 – Francisco Petracco
Fonte: Acervo Anhembi Morumbi
94
Urbanismo, por quem tem
grande
admiração
pelo
aprendizado pelo desenho referenciado no tempo e espaço.
curso de preparação de Professor de Desenho na FAAP, em
1963, e em 1964, a partir da reformulação vivenciada pelo
Em sua formação arquitetônica, além das atividades
Mackenzie, é convidado a dar aulas nesta instituição
pedagógicas cursadas na universidade, participava de
buscando enfatizar o Desenho como aprendido com Pedro
atividades paralelas ao curso, garantindo ser de grande
Corona.
importancia para formação pessoal e profissional, tais como
No ano de 1971, com a implantação do terceiro curso
estágios, concursos, acampamentos de topografia e jogos
de arquitetura no Estado de São Paulo por Osvaldo Correa
internos do curso. Estas atividades estimulavam o desejo
Gonçalves em Santos, Petracco presenciou a unanimidade
participativo estudantil e o envolvimento com a educação.
profissional e ideologia comportametnal de uma Escola com
Nos estágios que frequentou, impulsionado pelo
foco no Modernismo, tendo o desenho e o projeto
crescimento do Brasil incentivado por Juscelino, aprendeu
arquitetônico como pré-requisito do curso; deixando a
através de diálogos extra-aulas, a influência dos canteiros de
cadeira de Projeto em 1996. Em 1983, compõe o corpo
obra na linguagem arquitetônica e o raciocínio construtivo.
docente do curso da Faculdade de Belas Artes, recriado por
Trabalhou em escritórios com Eduardo Corona, Fábio
Jorge Caron. Em 1992, retorna ao Mackenzie para ministrar
Penteado, Paulo Mendes da Rocha, Botti Rubin, Jorge
aulas aos trabalhos de graduação interdisciplinar (TGI),
Wilheim, Julio Neves, entre outros.
permanecendo lá até hoje.
As primeiras experiências acadêmicas foram como
Em 1994, torna-se coordenador do curso de
instrutor em cursos de Aspirante a Oficial e Tenente de
Arquitetura e Urbanismo da Anhembi Morumbi, com a
Artilharia, enquanto ainda era estudante, no qual, por
missão de construir um novo curso para a universidade
virtude da estrutura militar, aprendeu os conceitos de
buscando formar uma Escola que traduzisse sua experiência
ordem, respeito, espírito de equipe e nacionalismo.
e anseios. Na formação do curso, coordenou professores
Posteriormente,
como Orpheu Zamboni para Projeto, Maria Helena Flynn em
já
arquiteto
formado,
lecionou
no
95
História e Luiz Carlos Chichierchio em Conforto. Infelizmente,
só Chichierchio permanece no corpo docente atualmente.
Pouco antes da venda para o grupo Laureate, em 30 de junho
2003, Petracco deixa a coordenação do curso dedicando mais
tempo às atividades arquitetônicas profissionais.
O início de sua carreira profissional acontece em
1959, com a maturidade da linguagem moderna paulistana,
conhecida como “Escola Paulista de Arquitetura Moderna”,
impulsionada, principamente, pela presença do arquiteto
Villanova Artigas; com quem Petracco tem convivência
durante o regime militar. As obras de Petracco encontram-se
num período pós-Artigas e traduz os impactos ocasionados
pelas transformações sócio-políticas e culturais dos anos de
1960 e, mesmo que se adaptando as novas configurações
sociais, não perdem as posições ideológicas funcionais.
Entrando na década de 1970, com um quadro
internacional exigindo novas formas e significados para a
arquitetura, Petracco (2004) relata que a arquitetura passou
por uma reformulação em seu conceito de forma, mas sem
alterar as perspectivas da arquitetura moderna, e sim
embasada em questões filosóficas para produção de espaços
para o ser humano.
Figura 53 – Concurso para a Assembleia Legislativa de São Paulo, projeto, equipe coordenada pelo
Arquiteto Eduardo Knezse de Mello. XoA -Perspectiva externa. B- Perspectiva interna.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
96
para o ser humano.
Figura 54– Desenhos para o Concurso do Clube XV de Santos, obra construída. Referência à
analogia do projeto: Escola Gomes Cardim. XoA -Perspectiva externa. B- Perspectiva interna.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
Figura 55– Clube XV de Santos - Fotografia da Obra construída. A -Fachada frontal, B -Fachada
lateral direita e C -Vista aérea. Referência à analogia do projeto: Escola Gomes Cardim
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
97
Figura 56 – Concurso Palácio da Justiça de Santa Catarina. Equipe Pedro Paulo Saraiva, Sami
Bussab e Francisco Petracco. A – Perspectiva externa. B – Planta do conjunto
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
Figura 57 – Palácio da Justiça de Santa Catarina– Obra construída. Equipe Pedro Paulo Saraiva,
Sami Bussab e Francisco Petracco.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
98
Figura 58– Residencia Cláudio Morelli
Figura 59– Residencia Vicente Izzo
Figura 61– Edifícios residências: A - Edifício Lorena. B - Edifício Paulista
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
Figura 60– Residencia Pedro Marrey
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
99
Figura 62 – Projeto urbanístico de Reurbanização do Eixo Tamanduateí-Luz
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
100
Figura 63 – Projeto urbanístico – Proposta para o Rio Tietê
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
101
Figura 64 – Projeto para Palácio das Nações. A – Corte perspectiva do conjunto. B- Perspectiva Externa. C-Perspectiva Interna. D – Vista aérea.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
102
Para Petracco (2004), o projeto para o Edifício
Escolar é
um
dos temas mais emocionantes pela
complexidade, abrangência e política educacional que
deveria ser de sociabilização democrática.
A evolução de um povo é sem dúvida
proporcional à sua alfabetização, à sua
educação, à sua culturalização e, por fim ao
estudo continuado. Admira-nos, ou melhor,
constrange-nos ler trabalhos do final do
século XIX, e primeira metade do século XX,
como os de Anísio Teixeira, e constatar a
reduzidíssima evolução que conseguimos,
devido à não implementação de planos
simples e sumários, obviamente impedidos
por interesses da manutenção do “status
quo”. Observando os Atos Institucionais, tais
como o 477, do regime de exceção pós 1964,
(...) perniciosos às questões da Educação,
verificamos a pertinência de nossa afirmação.
Voltando-nos, todavia, para o conteúdo
arquitetônico das escolas brasileiras, o
objetivo precípuo deste capítulo, verificamos
fases luminares na história da educação
nestes últimos mais de cem anos, e suas
construções escolares. Entendemos, em
sentido lato, que esta afirmação seja
totalmente cabível e desejável num país
emergente. Cremos que edifícios escolares
centenários da Europa ainda se prestam, e
bem, a esse exercício, principalmente no que
diz respeito ao ensino secundário e superior,
onde prima a tradição do ensino consolidado,
cientificamente opulente, capaz de gestar
gerações de cientistas, filhos, pais e avós.
Sem ufanismos acreditamos, todavia que
países como o nosso têm na qualidade
arquitetônica e do espaço da escola, um
componente transcendental na formação
democrática e intelectual do nosso alunato.
São as vicissitudes de um povo em formação
que se coadunam integralmente com espaços
despojados, simples e alegres, como as
escolas propostas pelo arquiteto Silva Neves,
(1938) características que até hoje buscamos.
Sem destruir o mérito de outros arquitetos,
que sem dúvida deram grande contribuição à
leitura deste percurso das construções
escolares, antes da vigência do convenio
escolar em 1949, (quando não tinham
respaldo de uma política contextual de apoio
para seus projetos, repetindo modismos
europeus), acreditamos que os anseios e
posturas de nossa sociedade se compuseram
harmoniosamente com as propostas quase
espartanas da simplicidade modernista, onde
não existe a busca do suntuoso, mas a
103
procura do espaço: a escola aberta. (Tese de
Doutorado - Petracco, 2004, pag. 225-226)
Diante deste discurso, Petracco projetou uma série
de edifícios educacionais com corpos independentes, mas
interligados por meio de áreas de convivência, onde
acontecem as atividades sociais. Sendo elas:
Figura 65 – Projeto Escola Museu, Jundiaí. A – Fachada principal. B – Fachada lateral.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
Figura 66 –Escola Gomes Cardim, A - Fachada Principal. B- Planta do conjunto.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
104
Figura 67 – Jardim Santo Inácio. A -Planta do conjunto, B - vista da área de convivência. CCorte.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
Figura 68 – Jardim Santo Inácio. A - Perspectiva da entrada das salas de aula. B -Fachada do
conjunto.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
105
Figura 69 – Escola Poá. A - Perspectiva do conjunto. B - Maquete eletrônica do projeto, vista frontal. C - Maquete eletrônica do projeto, vista lateral.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
106
Delduque (26/07/11), conta que a primeira proposta
de trabalho da Universidade Anhembi Morumbi em conjunto
com Petracco foi para o Campus de Interlagos. Um Campus
na região de Parelheiros, para atender a expansão da
Universidade em área com grande densidade populacional e
carente deste equipamento urbanos, Universidade.
Ao descrever o projeto, Petracco apresenta um
memorial bem detalhado onde expõe que:
Em terreno de 120.000m2 com 2 nascentes, 2
pequenas “matas ciliares”, justapostas a seus
cursos d’água, e vários lagos pensou-se a
implantação um campus nos moldes das grandes
universidades européias e americanas. Deveria
contemplar as atividades pedagógicas em todos
seus enfoques, teóricas e práticas, coroados pelos
cursos de extensão, de iniciação científica e de
pesquisa. Pela sua localização, próximo a bairros
de baixa renda, também era objetivo trabalhar
junto à comunidade pensando-lhe serviços e
oferecendo suas instalações para conjunto sócio,
cultural e esportivo. Pretendia-se enfim perfazer o
arcabouço da educação ou seja a formação
competente, diálogo com a sociedade, coroando
com a educação continuada de qualidade. O
terreno com topografia acidentada em sua maior
parte, e seus conteúdos físicos favoráveis
representará um sério desafio para a implantação
do conjunto. Dos partidos possíveis, o pavilionar,
vários edifícios espalhados pela área geralmente
de integração difícil, optou-se pela hipótese de
um grande setor pedagógico como centro das
atividades e outras, pontuais de apoio, dialogando
e coadjuvando com o edifício principal, dentro de
uma proposta de arquitetura compositiva
coerente com a linguagem moderna. Desta forma
propusemos a conjunção de dois elementos
baixos e longos com pavimento térreo,
predominantemente livre e mais dois superior,
dispostos de maneira a criar um núcleo com todos
os ambientes de salas de aulas, laboratórios e
oficinas. Uma laje cobertura, desenha-se junto
aos blocos, contendo espaços administrativos e
outras de vivência. Evitando pilares que pudesse
cercear e engessar a maleabilidade dos espaços, e
ainda como elemento simbólico de linguagem,
propusemos uma grande viga treliça metálica que
atiranta as vigas estruturais desta grande
marquise.
Completando
a
composição
implantamos um bloco redondo com uma
estrutura externa que abriga um teatro auditório
no andar térreo e uma biblioteca, situada em dois
pavimentos elevados em forma de anel circular,
com um grande vazio central que integra os dois
espaços, da platéia e dos ambientes de leitura.
Fazem parte do conjunto um Ginásio coberto,
com uma elegante cobertura formada por vigas
metálicas esbeltas dentro de um ritmo marcante,
atirantada em uma super viga, também metálica,
que se apoia em dois pilares “gigantes”. Em
virtude da topografia e do lago, propusemos um
107
anfiteatro a céu aberto, cuja arquibancada se casa
às curvas de nível, que tem como palco uma
concha acústica em forma de casca de concreto,
que juntamente com a água colabora para a boa
acústica. A proximidade contígua da estrada de
ferro da antiga Fepasa concorria para a
viabilidade de implantação do campus, mas
mesmo assim a Universidade preferiu investir em
campus espaços pela cidade seguindo um
procedimento já adotado por outras Instituições
postergando sua eventual implantação. (Tese de
Doutorado - Petracco, 2004 . Memorial do projeto
para o Campus Interlagos da Universidade
Anhembi Morumbi. pág. 245-247)
a área central. Atualmente, o terreno está inserido dentro de
uma Área de Preservação Ambiental (APA), onde a
viabilidade para construção é pequena. E a proposta
concebida para ser a ampliação da Universidade Anhembi
Morumbi como um espaço amplo de cultura, lazer e
aprendizagem procrastina aos olhos de seus idealizadores.
Segundo Rodrigues (26/08/12), a proposta do
Campus em Parelheiros estava relacionado a expansão do
trem metropolitano, atual “Linha 9 – Esmeralda da CPTM”.
Esta linha atenderia a região com a estação denominada
Parelheiros, próxima ao terreno; contudo, a viabilização
mostrava-se cada vez mais remota. Considerando a distância
do Campus e a falta deste transporte urbano público na
região, adiou-se a implantação na expectativa da futura
construção. Como até o momento não foi finalizada, o
projeto não foi retomado.
Com a compra da antiga sede da Alpargatas, o foco
de expansão na região de Parelheiros foi redirecionado para
Figura 70 – Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 1º projeto
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
108
Figura 71 – Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto.
A – Implantação. B – Vista aérea do conjunto.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
Figura 72– Universidade Anhembi Morumbi, Campus Interlago – 2º projeto
A – Corte das salas. B – Corte do conjunto. C – Corte do conjunto esportivo. D – Perspectiva do
conjunto esportivo.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
109
Voltando-se para a outra área de implantação do
novo Campus, próximo ao Brás, o novo programa previa não
só o diálogo com o edifício, mas com a área central da cidade
de São Paulo. Esta região que apresenta a história da cidade
em suas ruas e edificações revela em seus galpões industriais
como foi um período do desenvolvimento econômico da
cidade. Petracco, conhecedor da importância da área,
desenvolve um projeto de acordo com o descritivo abaixo,
reproduzido na íntegra:
Em 1996, a Instituição da qual era
Coordenador de Curso, adquiriu o imóvel
onde situou-se por décadas a Indústria
Alpargatas São Paulo SA, na rua Almeida
Lima. Um edifício Art Deco, despojado, sem
adereços de outros edifícios da época, porem
com características marcantes. Formado por
dois grandes blocos de 24 m de largura por
64 m de comprimento e sete pavimentos de
altura ligados por um núcleo central de
circulação vertical e apoio. Anteriormente
contratado pela própria Alpargatas, a fim de
buscar as vocações possíveis de adequações
do prédio, fizemos vários estudos e
concluímos que pelas qualidades dos espaços
ligados por um grande núcleo de circulação,
como também pela estrutura de suas lajes
cogumelo com pilares distanciados 8 m entre
si, o uso mais adequável seria de um
Shopping ou uma Universidade. Pelas
características da área de entorno optou-se
pela Universidade.
Fizemos então um Estudo Preliminar, com
programa forjado para demonstrar a
viabilização do Empreendimento que satisfez
o Reitor da Universidade comprando-a
consciente
da
importância
do
empreendimento numa área fantasticamente
rica em potenciais urbanísticos. Iniciamos o
estudo de implantação do Campus. Trata-se
de uma área de terreno de 25.000 m2 com
45.000 m2 construídos sendo 16.000 m2 nas
torres e o restaurante, em galpões, térreos
em sua maioria. Embora os edifícios tivessem
um
apelo
maior,
também,
outros
apresentaram boa qualidade, e em
contraposição aqueles edifícios altos e
emergentes na época, tinham uma inserção
mais adequada à área. Tal constatação nos
fez preservar todas as áreas sem qualquer
demolição, propondo apenas a readequação
e revitalização. Propusemos dois grandes
eixos
ortogonais,
o
primeiro
uma
continuação da rua Frei Gaspar que
penetraria no Campus, com a mesma largura
110
da rua permanecendo toda região do
entorno com a vivência universitária. O
outro, paralelo à rua Almeida Lima, portanto
perpendicular ao primeiro, serviria de ligação
de todas atividades acadêmicas e seus
rebatimentos, cruzando todos os 200 m de
terreno, do Viaduto Alcântara Machado de
um lado até o Museu da Imigração do outro,
para cuja praça teria posteriormente uma
abertura, pois era intenção incorpora-lo às
atividades culturais do Campus, até porque
seu Reitor era descendente de imigrantes
italianos. O programa rico e eclético constava
de dois centros, o de cultura e o de
atividades acadêmicas propriamente dito. Da
rua acesso dirigíamos-nos em frente ao
Museu do Bairro, do qual a Alpargatas tinha
grande participação, para a esquerda ao
conjunto de atividades culturais como o
Cinema de Arte, Teatro, Praça das Livrarias e
Galeria de Arte, que espelhavam-se na Praça
de apoio e lanchonetes e cafés. Do outro lado
da rua de acesso localizavam-se a
administração e Biblioteca de um lado e os
DAs, com Diretório Central de outro,
terminando em uma grande arena de
discussão dos problemas acadêmicos
universitários, Oficinas e Laboratórios.
Tínhamos desta forma, quatro grandes
núcleos interligados porém resguardados,
dando-lhes o caráter próprio a cada um
deles, preservando-os em suas devidas
posturas, que hoje infelizmente vimos
quebradas,
entre
o
comportamento
acadêmico e o de um mero shopping. Além
do mezanino que dava apoio às atividades do
térreo, propomos cinco andares de salas de
aula e Laboratórios, todos eles com uma
grande área central de vivência e apoio
pedagógicos, com as coordenações e
pequenas
bibliotecas
especificas
às
atividades que abrigavam. O sexto andar,
aproveitando o grande espaço que servia de
refeitório e vivência aos operários,
propusemos um auditório com balcões em
sua periferia desfrutando de seu alto pédireito. No sétimo andar a administração da
reitoria e dos negócios da Universidade. Os
dois blocos eram ligados por uma elegante
cobertura que cobria o vão central dos
edifícios além de ordenar as muitas torres
das casas de maquinas, caixas d‟água, etc.
Ainda ligando-os propusemos uma rampa
que atendesse a evasão dos alunos em hora
de pico, que dava um fecho ao vazio central
dando-lhe um caráter majestoso, digno das
atividades dos encontros acadêmicos. O
conjunto Art Deco deveria inicialmente ser
111
composto por três alas ligadas por dois
núcleos. Faziam parte da fase inicial, que
culminou sendo a definitiva, dois blocos o
núcleos que os unia, mas parte de outro
núcleo que deveria interligar uma terceira
perna, o que descaracterizava a singeleza do
segundo bloco, justamente o mais
proeminente para a paisagem oeste, ou seja
a vista do Centro da Cidade. Era realmente
um anexo, que incomodava, porém grande
demais para ser demolido. Tivemos então a
ideia de usa-lo como edifício suporte de um
quadro Mondrianesco de mensagens
oportunas que escondendo-o, devolvesse a
pureza da torre justaposta. A fachada oposta
à rua existia uma grande marquise em
balanço que derrubar enfatizando o corpo
central dando-lhe maior verticalidade. (Tese
de Doutorado - Petracco, 2004, Memorial do
projeto para o Campus Centro da
Universidade Anhembi Morumbi. pág. 255258)
Figura 73 – Proposta de Francisco Petracco para a Fachada do Campus Centro da Universidade Anhembi
Morumbi. A – Fachada Frontal. B - Fachada Posterior
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
112
Figura 74 – Implantação proposta por Francisco Petracco para Campus Centro da Universidade Anhembi Morumbi. Entrada por acesso central principal, cruzando com acesso secundário no
interior do complexo. Eixos de circulação que articulam o projeto e sua distribuição das áreas acadêmicas, administrativas e de convivência.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
113
Apesar das tratativas, vistorias ao imóvel, análises e
Segundo Rodrigues (26/08/12), a proposta de
propostas apresentadas pelo arquiteto a instituição, este
intervenção de Petracco sugeria o rebaixamento do piso em
projeto acaba não sendo executado.
alguns ambientes de convivência e auditórios, o que faria
Comenta-se pelos corredores administrativos da
com que a construção tivesse um prazo de execução mais
universidade, que o projeto desenvolvido por Petracco,
longo. Como a inauguração já estava agendada, a demora na
apesar de preservar toda a edificação vertical da antiga sede
implantação do novo Campus não atendia ao planejamento
da Alpargatas, os galpões térreos existentes precisariam ser
estratégico da Instituição.
demolidos para atender ao novo programa, com auditórios e
Estas seriam algumas das justificativas adotadas para
áreas comerciais. Esta intervenção exigiria a demolição de
a contratação da consultoria do arquiteto carioca Vicente
grande parte da cobertura e estrutura dos edifícios gerando
Giffoni e da nova proposta para o campus, onde se propunha
perda ao valor histórico da construção e, consequentemente,
áreas de intervenção que não alteravam a malha estrutural e
maior gasto para edificação de novos espaços.
a cobertura existente; uma infraestrutura com características
Atualmente, toda a área onde está concentrada a
mais
comerciais,
assemelhando
as
instalações
da
parte de lojistas e laboratórios específicos, tais como de
universidade a um Shopping Center; e cronograma de
aviação civil, estúdios, gastronomia, spa e salas de aula do
adaptações do antigo espaço fabril, executadas em um curto
Città seria demolida.
prazo, para reconfiguração do edifício em espaço acadêmico.
114
Figura 76 – Mapa do Campus Centro, para localização das salas de aula no início do período letivo, versão janeiro de 2011.
Fonte: Acervo da Universidade Anhembi Morumbi
115
Figura 77 – Compatibilização dos projetos para o Campus Centro. Implantação apresentada pelo arquiteto Francisco Petracco com sobreposição da atual implantação do Campus Centro,
projetado pela arquiteta Deise Marques Araújo sob consultoria do arquiteto Vicente Giffoni. Da esquerda para a direita, é possível identificar as diferenças na planta:
No atual “Teatro Anhembi Morumbi”, cabine primária de energia e quadras, foi proposto por Petracco um amplo espaço de exposições e uma quadra poliesportiva com arquibancadas. No térreo
dos edifícios, onde, hoje, está concentrado a central de atendimento ao aluno, agência experimental e praça de alimentação, no projeto de Petracco estariam as áreas administrativas e diretórios
da universidade. Nos galpões, onde, atualmente, estão as lojas, central de atendimento ao aluno, estúdios, salas de aula do Città, spa, centro de gastronomia, seriam lojas e auditórios na
proposta de Petracco. E onde se concentra a parte administrativa da Instituição seria um espaço de apoio a convenções.
Fonte: Proposta de Implantação do arquiteto Francisco Petracco extraída da Tese de Doutorado (Petracco, 2004) e a Implantação do Campus cedida pelo acervo da Universidade Anhembi Morumbi,
dados de 2011.
116
Embora
nenhuma
das
propostas
tenha
sido
concretizada, Campus de Interlagos e Campus Centro,
Petracco é convidado a desenvolver um novo projeto de
expansão da infraestrutura no Campus Vila Olímpia.
Dando continuidade ao crescimento acadêmico e as
transformações da Universidade Anhembi Morumbi, a
instituição demanda de novas áreas e espaço para receber os
novos alunos.
O Campus Vila Olímpia, primeira campus da
universidade, sediaria sua primeira construção de edifício
projetado para ser um espaço acadêmico, a Unidade 6: O
Prédio de Vidro.
E em 10 de junho de 1999, a construtora Sobrosa
apresentaria, durante uma reunião de planejamento na
instituição com Ângela Freitas, Eng. Delduque Martins, Arqto.
Petracco e Eng. Eduardo Sobrosa, as diretrizes exigidas pela
legislação para darem início no processo projetual. E é a
Figura 78 – Fachada da Unidade 6 no Campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi, destacando
a presença da estrutura metálica e do vidro e evidenciando sua escada principal, elemento central da
edificação.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
partir desta reunião, que fica estabelecido a data para
inauguração da nova unidade, no primeiro semestre de 2001.
117
Figura 79 – Ata de reunião de 10 de junho de 1999, referente aos questionamentos sobre as possibilidades construtivas de acordo com a legislação corrente para Z2 e construção de
estabelecimento de ensino.
Fonte: Acervo digital da Construtora Sobrosa
118
das faculdades de arquitetura no Brasil, em 1968, a
2.3 A ARQUITETURA
instauração de três departamentos dentro da Escola: o de
Nas obras de Petracco, é possível identificar sua linha
Projeto, o de Técnicas e o de História. Em sua tese de
“modernista e estruturalista”, valorizada no contexto urbano,
doutorado, Petracco discute estas bases conceituais do
habilmente interpretado. A leveza das edificações, que
ensino de Arquitetura:
parecem flutuar sobre o chão, contraria a presença marcante
das estruturas que modulam sua arquitetura em conjunto
com o material bruto empregado.
Segundo Petracco (2004), toda a arquitetura
apresenta o projeto, a tecnologia e a história como
elementos indissociáveis, “porque advém das constantes
leituras
dos
arquitetônicas
O arquiteto João Batista Vilanova Artigas
(1915 – 1985) foi um
arquiteto referência do
movimento moderno
da Arquitetura Brasileira, conhecido como
Escola Paulista.
comportamentos
nos
transmitem,
que
as
assim
linguagens
como
Vitruvio
Escolas
Lucio Costa
Petracco
Voluptas
Projeto
Proporção
Desenho
Soliditas
Commoditas
Tecnologia Comodulação
História
Modinatura
Estrutura
Ritmo
das
possibilidades das soluções tecnológicas que permitem sua
E é neste tripé desenvolvido pelo arquiteto, que esta
estabilidade”. Como estes elementos serão usados, depende
pesquisa, busca desvendar as características arquitetônicas
da liberdade que o arquiteto explora em seu processo
presente em seu projeto para a Unidade 6, do Campus Vila
projetual e no atrevimento que o instiga no momento de
Olímpia, tentando observar, a partir do próprio pensamento
criação. Assim a leveza derivada do desenho, estabiliza-se em
do arquiteto, uma estrutura para análise de sua obra.
suas estruturas mencionando a natureza do material em seus
esforços.
2.3.1 O Desenho
Esta tríade apresentada por Petracco tem referência
na organização que Vilanova Artigas que defende na reforma
Para o Desenho, instrumento básico para a arte
de projetar, verifica-se que o autor pode ser o
119
protagonista solitário e desenvolver todos os três
estágios num só trabalho, ou seja, o gesto inicial
do primeiro traço, a evolução para a otimização e
um eventual declínio da composição de sua obra
em processo. O início é difícil; o papel em branco
a quem o autor se dirige e o inibe, os primeiros
passos que quebram o silêncio e iniciam um
diálogo cognitivo da mensagem. (...) Vencido este
constrangimento o autor dirige-se audaciosa e
livremente em busca da conclusão de sua
proposta em forma de síntese e é este o
momento
de
equilíbrio,
autoanálise
e
discernimento: o equilíbrio e a clareza do escopo
de sua frase sob o risco de romper a referida
síntese, exacerbar-se e torná-la piegas, distorcida
pelos ruídos de uma comunicação poluída,
entroncada por uma proliferação de sinais que só
a fazem fragilizar-se. (...) A este tipo de mensagem
gráfica que chamamos de Desenho Historiológico,
ou seja, aquele portador de leitura e de crítica de
um determinado desenho histórico. (Petracco,
2004, pág. 417 a 419)
janelas sequenciais, térreo com lanchonetes e áreas
administrativas, todavia foi surpreendido com a proposta em
vidro e estrutura metálica apresentada por Petracco.
O croqui de Petracco apresentava o projeto de um
espaço aberto, um prédio com estrutura em aço e vidro onde
a relação entre o público e o privado é tão tênue que não se
vê fechamentos, apenas sua permeabilidade e livre acesso ao
conhecimento. Suspenso sob uma grande esplanada, o
térreo que se encontra a 60 centímetros acima do nível da
rua, pode ser acessado por uma ampla e suave escada com 9
metros de largura. Todo o acesso é rodeado por um jardim
compondo o desenho do talude e formando uma barreira
natural entre o espaço interno e o externo, sem a
necessidade de edificar qualquer volume como forma de
anteparo.
Na fachada frontal, face com a Rua Casa do Ator, é
possível observar o grande vão de 33 metros, gerado pelo
Sobrosa (19/07/11) conta que após a primeira
reunião sobre legislação passaram-se cerca de 50 dias para a
apresentação da primeira proposta. Os recuos que a lei
exigia, fizeram com que o engenheiro esperasse um projeto
tradicional, um grande cubo em concreto armado com
desenho de sua estrutura e modulação. O travamento
metálico, além de estruturar o volume, demonstra uma
repetição compassada em um padrão lógico e geométrico de
seu esquema de continuidade
e
constância, sendo
interrompido, somente, pela presença marcante da escada,
120
Figura 80 – Croqui da Unidade 6, desenvolvida pelo arquiteto Francisco Petracco para apresentar a fachada do edifício com frente para a rua Casa do Ator, em estrutura metálica com vãos de
33 metros e fechamento em vidro.
Fonte: Tese de Doutorado - Petracco, 2004
121
elemento central da edificação, pendente por tirantes.
vencer grandes vãos, tornando os espaços mais flexíveis. O
A escada, que simbolicamente, apresenta sentido de
prédio deveria ser todo livre, livre de paredes, livre de
ascensão é solta do solo, como que representasse uma
estruturas, livre de preconceitos, livre de segredos. Um
secção, um corte em um caminho infinito de sabedoria que
espaço que evidenciasse a transparência de seu conteúdo,
assim que adentrado não tem limites, nem pra cima, nem pra
que expusesse a sociedade todo o conhecimento difundido
baixo, nem para os lados. Ela expande-se em si mesmo,
em seu interior, revelando as atividades acadêmicas à cidade
através da transparência, de sua leveza, e por força ao
e consistindo-se em um lugar onde os estudantes poderiam
contrariar a gravidade.
estar e admirar o horizonte, o cotidiano e a paisagem. E é,
Por ser uma arquitetura em vidro, é possível observar
em virtude desta transparência que o edifício foi apelidado
que as laterais contemplam brises, controlando a insistência
por alunos e funcionários como o “Prédio de Vidro”, forma
da luz por adentrar pelos ambientes acadêmicos, sem
como será tratado desta parte do texto em diante.
impedir sua passagem, mas legitimando sua entrada.
Este
projeto
significaria
muito
mais
que
o
Durante a noite, este edifício pode ser entendido
crescimento e desenvolvimento da Universidade Anhembi
como o farol do conhecimento, suas luzes acesas emanam o
Morumbi configurava a transformação do Campus que
caminho a ser percorrido na busca por sabedoria e discussão.
mantinha uma postura de adaptação de espaços existentes,
Um volume cúbico de vidro que amplia as fronteiras da sala
para um novo modelo de espaço educacional, uma
de aula, carregando em si questionamentos sobre quais são
construção com valor reconhecido devido a sua imponência,
os limites na construção de um espaço universitário,
e a forma como utilizou o aço para estruturar destacando a
projetando não só o conteúdo produzido dentro da sala de
tecnologia e a concepção de um edifício atraente e captador
aula, mas o que se concilia com a dinâmica da cidade.
de atenção.
Segundo Petracco (22/07/11), a proposta era
Graças ao pensamento do arquiteto, das análises
proporcionar a liberdade ao espaço e, para tanto, precisava
reflexivas, da pesquisa artística para o edifício, e das
122
Pavimento tipo é o
nome dado a planta
baixa do pavimento
que tem sua distribuição interna repetida
em outros andares da
construção.
exigências legais sobre o terreno; a proposta materializa-se
para salas de aula, 12% ao vazio central do átrio, 20% para
em um desenho organizado com ambientes restritos e
circulação – incluindo escadas, elevadores, galerias de
abertos, espaços públicos e espaços privados, diretrizes
circulação, e 3% para áreas de apoio, tais como sanitários e
básicas evidenciadas em seus outros projetos educacionais já
depósito.
construídos e publicados.
A disposição interna do andar apresenta uma planta
Pode-se observar, através da planta de pavimento
dividida em dois corpos acadêmicos - uma releitura aos
tipo, que a distribuição do espaço corresponde a 65% da área
colégios coloniais onde apresentava a separação entre o sexo
dos alunos, com uma ala feminina e outra masculina;
separados por um vazio do átrio que centraliza toda a área
de convivência, permitindo ao usuário do espaço acadêmico
estabelecer uma relação entre o espaço restrito e o espaço
aberto - situação cada vez mais escassa no espaço
universitário da instituição.
Com intuito de diminuir as galerias de circulação das
edificações e ampliar o potencial construtivo de salas de aula
- espaços com maior valor agregado a universidades, a
arquitetura dos edifícios na Anhembi Morumbi está sendo
direcionada a perder a relação do espaço de convívio com os
ambientes acadêmicos. Pode-se observar esta relação,
conforme
comparativos apresentado
nas plantas
do
Complexo Theatro – Unidade 5, 6 e 7 do Campus Vila
Olímpia, edifícios projetados para o uso acadêmico.
Figura 81 – Planta do pavimento tipo do Prédio de Vidro (3º andar)
Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora
123
Esta análise permite observar, a segregação do
Pode-se notar, também, a disposição das galerias de
espaço de convivência, como é o campo visual do usuário ao
circulação, que permitem isolamento e clausura dos espaços
caminhar pelas galerias de circulação, como é a relação entre
acadêmicos, a disposição é idealizada para otimização da
aberturas e fechamentos dos espaços e como que com o
área construída de salas de aula, o que resulta no
passar
distanciamento desta a área com o convívio.
do
tempo
os
ambientes
enclausurados
vão
aumentando.
Em um recorte destas áreas por unidade, é possível
No Prédio de Vidro, a única barreira visual das
observar a evolução da circulação até a restrição da galeria.
galerias para a área de convivência é proporcionada pela
Estas galerias de circulação, assim como as salas de aula
circulação vertical representada pelos elevadores. Elevadores
tradicionais também, apresentam sua aptidão educacional na
estes que são panorâmicos e possibilitam visualizar todo o
dimensão lúdica de espaços concebidos para a vida coletiva.
cotidiano de seu interior.
São locais que refletem a harmonia e a totalidade da
Na unidade 7, ainda é possível ter contato com a área
diversidade do conhecimento e deveriam chamar a atenção
de convivência. Ela é interrompida também pela circulação
para a riqueza que trazem ao processo de aprendizagem,
vertical representada pela escada. A escada por ser,
pelo simples fato de também permitir a troca de informação,
completamente, vazada possibilita visão parcial do convívio,
seja ela relevante ou não.
obstruído apenas pela distância entre o patamar da galeria
No Prédio de Vidro, em declarações colhidas na
de circulação e o patamar da escada. Contudo a área de visão
construtora (19/07/11), a proposta do vazio central seria de
é bem reduzida, diante da disposição das salas e pátio
fácil execução com pilares estruturando as extremidades,
central.
facilitando o processo construtivo e agilizando o prazo da
Já na Unidade 5, inicia-se o princípio de exclusão da
obra, porém o arquiteto já previa o balanço da galeria de
relação convívio e galerias de circulação, sendo que o contato
circulação, consequência da ausência de pilares. Na
visual com a área de convivência é quase nulo.
concepção arquitetônica, a presença da estrutura interferiria
124
125
Figura 82 – Planta do pavimento tipo da Unidade 6
Planta esquemática para análise do campo visual do pavimento tipo do
Prédio de Vidro (2º andar), projeto arquiteto Francisco Petracco, 2001
Figura 83 – Pavimento tipo da Unidade 7
Planta esquemática para análise do campo visual do pavimento tipo do
Prédio de Vidro (3º andar), projeto arquiteta Deise Marques Araujo,
2003
Figura 84 – Pavimento tipo da Unidade 5
Planta esquemática para análise do campo visual do pavimento tipo do
Prédio de Vidro (3º andar), projeto arquiteta Deise Marques Araujo,
2005
Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora
126
no olhar, no diálogo sobre o espaço coletivo, no desenho do
conhecimento com o professor, a pressa desajeitada do
espaço que deveria ser percebido dos múltiplos pavimentos,
atrasado ou, simplesmente, a concentração no olhar distante
sem interrupção, como se fosse um balcão de contemplação,
do estudante.
um mirante aos movimentos acadêmicos; e deveria ser
executado de acordo com o projeto do arquiteto.
Enquanto a proposta para as salas de aula, separadas
da cidade por uma pele de vidro, também traduzem uma
filosofia educativa: estar em contato com a sociedade,
proporcionando uma nova experiência acadêmica. A ideia da
sala que capta a mítica relação entre a natureza e o
conhecimento,
utilizando-se
da
transparência
para
demonstrar ações urbanas como o tempo e o espaço, expõe
o usuário a atuar sua experiência. O usuário torna-se artista e
plateia de e para a cidade, neste palco que encena a ensino
de forma dinâmica e aberta.
Já as galerias de circulação, tradicionalmente,
construídas como lugar de passagem, foram projetadas
oferecendo uma percepção do entorno educacional de forma
instantânea, um flash para a memória. Na condição proposta
por Petracco, a circulação permite que a paisagem seja um
quadro a ser apreciado, tendo como tela de fundo o jeito
acadêmico, a conversa descontraída com o colega, a troca de
Figura 85 - Unidade 06, projeto de 2001
Planta esquemática para análise da galeria de circulação – salas abertas
para o átrio central
Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora
127
Figura 86 - Unidade 07, projeto de 2003.
Planta esquemática para análise da galeria de circulação – salas
parcialmente abertas para o átrio central
Figura 87 - Unidade 05, projeto de 2005.
Planta esquemática para análise da galeria de circulação – salas abertas
exclusivamente para a galeria de circulação
Fonte: Desenho em AutoCAD, edição da autora
128
Figura 88 – Átrio Central
A - Vista do Átrio central a partir das galerias de circulação; B- Vista do Átrio Central a partir do 2º pavimento.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
129
Figura 89 – Vista da galeria de circulação para o átrio de convivência, destaque para o campo de visão proporcionado pelo vazio central, com detalhes da caixa do elevador panorâmico, que
com a porta aberta possibilita a vista da escada principal ao fundo e da distribuição da circulação nos três pavimentos.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
130
Na circulação vertical, os elevadores panorâmicos, são
exercícios de perceptibilidade construtiva. Mais uma
releitura do pensamento de Mies van der Rohe, sobre a
arquitetura de “pele e osso”; ou seja, estrutura e membrana
externa que unem técnica e detalhes gerando vazios
espaciais que serão preenchidos com vida.
Envolto por uma malha estrutural vazada, os
elevadores, evidenciam a habilidade acadêmica. Ensinam
através de suas engrenagens como é o seu funcionamento.
É como se o edifício tivesse vida e fosse possível vê-lo
pulsando,
transportando
os
usuários
em
seu
eixo,
conduzindo, distribuindo os estudantes por entre os quatro
pavimentos num ato de comunicação e encontro. Assumindo
o papel de passeio e portal de contemplação, consentindo ao
usuário novos ângulos para o olhar e notar a Academia.
Figura 90 – Estrutura metálica de sustentação da caixa do elevador.
É possível observar as engrenagens do elevador em movimento.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
Figura 91 – Circulação vertical
A – Vista da galeria de circulação para o átrio central, com destaque para
a estrutura do elevador; B – Engrenagens da circulação vertical; C – Vista
dos elevadores no 2º pavimento, destaque para a estrutura metálica e o
fechamento em vidro, conforme proposta da Arquitetura Moderna de
Mies van der Rohe; D- Detalhe do elevador em movimento; E – Acesso a
circulação vertical, porta do elevador aberta; F – Acesso a circulação
vertical, porta dos elevadores fechada destaque para a transparência da
estrutura com vista para o átrio central.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
131
132
E por fim a escada principal, o espiral de entrada ao
conhecimento.
Envolta por uma caixa quadrada cercada por vidros,
circular pela escada principal conectando-se a todos os pisos,
é um “passeio arquitetônico”, conforme proposto por Le
Corbusier⑮. Em um lance evidencia o entorno com a
paisagem externa, em outro patamar revela a arquitetura e
sua paisagem interna e por vezes comprova a presença
marcante da estrutura do edifício.
Suspensa do chão por uma estrutura de tirantes, em
um gesto de composição, a escada foi disposta sobre um
espelho d´água com uma rotação de 45º em seu eixo. A
intervenção gerada por este movimento evidencia a leveza
do volume resultante dos novos ângulos agudos e obtusos da
fachada,
promovendo
uma
aresta
que
imprime
a
centralidade, não só da escada, mas do cubo como um todo.
Figura 92 – Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua Casa do Ator, com destaque para a escada
principal, estruturada por cabos de aço, compondo o volume de aço e vidro
Fonte: Arquivo pessoal da autora
15. Ver Le Corbusier em Por
uma arquitetura. São Paulo:
Perspectiva, 1994.
133
Minha primeira obra em aço, porém com partido de que
se assemelha muito à primeira escola projetada há quase
quarenta anos atrás. Duas alas de salas de aula e um
grande vazio central, fechado na parte frontal por uma
cortina, vazado pelo volume de uma escada com sabor de
escultura e na posterior pelas salas de Coordenação e
Laboratórios pertinentes. Como na precedente o vão
central é generoso, 15,40 m antecipado por um maior, de
quase 33m. Os mesmos anseios dos passos fluidos, onde
as circulações horizontais e verticais servem de espaços
para o comportamento coloquial de interação. O grande
saguão é um espaço árido onde as pessoas constroem sua
dinâmica, através de encontros cotidianamente
sistemáticos dos diálogos acadêmicos com a riqueza de
seus pés-direitos descontínuos e variáveis. As salas de
panos de vidros refletem o convívio com a sociedade
expondo-se e magnetizando. A busca da harmonia se faz
na repetição da linguagem estrutural de seus
componentes principais, sempre solicitadas a grandes vãos
e no espaço térreo, já em detalhe, pelo ritmo de suas lajes
mistas de formas metálicas. A escada tem a tem a
proposição de não macular a generosidade do térreo de
vivência, tão esquecido nos programas contemporâneos
de escolas e por isso não apoia no chão, está alçada por
três tirantes que se pendem a cobertura e se engasta nas
vigas dos andares, refletindo-se no espelho d’água, como
se fosse o acesso virtual do conhecimento. (Tese de
Doutorado - Petracco, 2004 . Memorial do projeto para o
Campus Interlagos da Universidade Anhembi Morumbi.
pág. 261)
Figura 93 – Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro, frente para a Rua Casa do Ator, com destaque para a escada
principal, suspensa por cabos de aço.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
134
Figura 94 – A espiral do Conhecimento.
A - Vista da escada principal a partir da cobertura, com detalhe para o rebaixo do piso para o espelho d´água que não foi finalizado . B - Detalhe de fixação do cabo de aço que sustenta a escada
principal, que mesmo em seu ponto de apoio mantém a escada solta da estrutura . C – Vista da escada principal a partir do espelho d´água. D- Vista da fachada frontal do Prédio de Vidro,
frente para a Rua Casa do Ator, com destaque para a escada principal, suspensa por cabos de aço. E – Vista da caixa de vidro do espiral do conhecimento, a partir da cobertura.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
135
Figura 95 – Descobrindo o Prédio de Vidro, a partir da espiral do conhecimento.
A – Vista para a área externa; B – Vista para a área interna: pavimento; C – vista para área interna: térreo; C – Vista da cobertura para o térreo; D – Vista do espelho d´água para a cobertura de
vidro.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
136
Diante dos estudos realizados para o projeto,
Do Chico patrão, aprendi a melhor relação
Petracco (22/07/11) conta que convida o aluno do curso de
entre funcionário e empregados. Aprendi as
arquitetura Luis Cláudio Araújo, ciente de que este tinha
coisas boas e ruins, pois como era só eu
domínio em programas digitais, para desenhar o projeto
trabalhando pra ele percebi que eu deveria
executivo de arquitetura em AutoCAD. Também participaram
ser um de seus fatores motivacionais. Ele
deste projeto Ana Lydia Faria, Leonardo Lenharo e Luiz
sempre me contava dos momentos áureos de
Crepaldi.
seu escritório, cheio de desenhistas e muitos
Para Araújo (14/07/11), a experiência em trabalhar
trabalhos (...). Eu mesmo não sei dizer como
com “Chico”, como Petracco é conhecido por ele, foi um
era, mas uma colega minha, Adriana Barbosa,
grande aprendizado.
que chegou a visitar seu escritório, na Rua
Itápolis, me dizia que lá era cheio de
Eu sempre tive a visão “romântica” da arquitetura
e pude vivenciar parte dela em meus trabalhos
com Chico. Como eu era técnico em edificações já
havia trabalhado em escritórios antes de
trabalhar com ele e até hoje foi a melhor relação
chefe funcionário que já tive. (Depoimento de
Araújo em 14 de julho de 2011)
desenhistas trabalhando. Então sendo o seu
único funcionário pude acompanhar projetos
em seus primeiros traços e participar em
alguns pequenos momentos destes, mas
minha função maior era tornar o seu
desenho digital. Passá-lo para um AutoCAD,
Araújo descreve poeticamente a experiência no
escritório como se fosse “uma janela que se abria em um
quarto fechado”, e que lhe possibilitou conhecer três Chicos
durante o período acadêmico: o Chico-Patrão, o ChicoCoordenador e o Chico-amigo. Sobre o Chico-Patrão ele
comenta:.
CorelDRAW, etc. O que não era fácil porque
ele valorizava muito o traço e sentia a perda
da sua identidade quando via seus projetos
na tela de um monitor.
137
ano da faculdade, assim que Araújo vai trabalhar na
Ao sair do escritório em 2000, Araújo trabalha com a
Systemac. Explana sobre a oportunidade de trabalho no
empresa Sistemac até 2002, por indicação do próprio
projeto que acredita ter “identidade e caráter próprio”. Para
Petracco. A empresa era responsável pela estrutura metálica
Lenharo a riqueza da experiência estava nas conversas que
do Prédio de Vidro, onde Araújo vai trabalhar no projeto da
teve com o arquiteto em seu ateliê nos finais de semana ao
escada principal fazendo parte da equipe que projetou e
detalhar o projeto que considera ser “um espaço livre e de
executou os detalhes da circulação vertical metálica.
contato entre todos alunos e professores”.
Luiz Fernando Crepaldi (13/07/11) era responsável
Ana Lydia Faria (22/03/11) conta que trabalhou com
pelas maquetes eletrônicas da primeira proposta e do
“Chico Petracco”, em um primeiro momento, como estagiária
projeto final do projeto e teve participação nos desenhos
e depois como assistente de curso na função de assistente de
executivos. Recorda do final de semana, faltando apenas três
pesquisa dos professores da faculdade de Arquitetura e
dias para o prazo final de entrega do projeto para a
Urbanismo. Quando participou do projeto da Unidade 6 o
universidade, as pranchas ainda não estavam finalizadas, e a
prédio já estava concluído, desta forma desenvolvia desenho
convite de Araújo auxilia nestes desenhos. Crepaldi ao
para apresentação do projeto aos mantenedores, participou
caminhar
experiências
de novos projetos para implantação do auditório e
profissionais, mas também das acadêmicas onde o professor
desenvolveu detalhes de paisagismo. Ana Lydia refere-se à
Jose Henrique Seraphim, professor de estrutura metálica da
Petracco com muita calentura, relembrando o aprendizado
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
que adquiriu com o professor, o coordenador e o arquiteto.
Anhembi Morumbi, apresentava aos alunos o canteiro de
Posteriormente, conheceu melhor a produção arquitetônica
obras do Prédio de Vidro.
de Petracco quando foi convidada a participar da equipe que
pelo
edifício
relembra
das
Leonardo Lenharo (14/07/11) comenta que foi
convidado a participar do projeto quando estava no segundo
trabalhou
na
pesquisa de
digitalizando parte de sua obra.
doutorado
do
arquiteto,
138
139
Figura 96 –Evolução do Prédio de Vidro
A - Primeiro estudo volumétrico para aprovação do projeto da Unidade 6, junto a
Prefeitura de São Paulo, desenvolvida pela Construtora Sobrosa.
Fonte: Acervo Construtora Sobrosa
B - Maquete eletrônica da primeira proposta para o Prédio de Vidro, desenvolvido por
Luis Crepaldi.
Fonte: Acervo Construtora Sobrosa
C - Maquete eletrônica da proposta final do Prédio de Vidro, desenvolvida por
Luis Crepaldi.
Fonte: Acervo Construtora Sobrosa
D - Primeira publicação do Prédio de Vidro no Catálogo do Processo Seletivo de 2001 .
Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
140
Pelas maquetes eletrônicas do Prédio de Vidro é
opacas, fazendo as salas tornarem-se infinita; e, por fim,
possível observar a evolução do projeto, como o arquiteto foi
surge o espelho d´água compondo a expressividade do
soltando o traço, e concluindo seus pensamentos e ideais em
edifício, contrapondo a dualidade do peso na solidez da
um volume mais equilibrado e intenso. A arquitetura buscou
forma e leveza do estado líquido da água. A cobertura da
sua identidade, e já nos primeiros esboços, sugeriu a sua
escada remete uma leitura da cúpula coroando o elemento
conduta acadêmica, representou sua estrutura e conversou
de destaque que agora, embora suspenso do chão, chega até
com o entorno.
o pavimento térreo.
Na primeira maquete do estudo volumétrico do
A última maquete eletrônica aprovada reforça o cubo
projeto, nota-se que o volume já estava resolvido com a
conceitual, demonstrando a presença de um auditório
presença marcante da escada principal, no eixo da edificação
proposto no térreo. A fachada impõe sua presença com um
direcionando o foco do olhar em um sentido de ascensão.
jogo de tecnologia e rigidez, resultante da estrutura; cheios e
Chama à atenção a posição da escada de acesso entre o
vazios, decorrentes dos panos de vidro; e abertos e fechados,
mezanino e o térreo. Deslocada do eixo central do edifício
consequência do desenho volumétrico. Agora, o coroamento
para próximo da garagem, talvez demonstre que o intuito do
da escada se faz pela expressão espiritual da pirâmide de
arquiteto sempre foi soltar a circulação vertical principal do
vidro que lembra o conhecimento egípcio e toda sua forma
chão, mas sem a confiança de como seria. Também é possível
clássica.
observar a presença da estrutura, não com a ênfase do
projeto final, mas participando do conjunto.
A pedido de Delduque (26/07/11), esta última
imagem foi ampliada e emoldurada para ser exposta na área
As alterações exploradas por Petracco, na segunda
administrativa da universidade, na sala do departamento de
maquete, revela a força do projeto. A estrutura torna-se
obras e projetos do Campus Vila Olímpia, lá permanecendo
evidente expondo seu esqueleto rígido e tecnológico; a pele
até 2003 quando o departamento é transferido para o
de vidro confirma sua presença abolindo as paredes sólidas e
Campus Centro e em seguida extinto.
141
Atualmente, não se sabe onde este quadro está
guardado.
E, por último, a fotomontagem que foi feita a partir
do edifício finalizado para o Catálogo do Processo Seletivo
feito pela Universidade Anhembi em 2001, sendo a primeira
publicação impressa da instituição com a apresentação do
projeto. Esta imagem prova a concretização do desenho
idealizado pelo arquiteto e a realização do conjunto de
espaços projetado a partir da combinação do aço e do vidro.
Com o surgimento dos cursos de Graduação
Modulada, novos catálogos são elaborados publicando o
projeto do Edifício Theatro Casa do Ator.
Figura 97 – Capa do Catálogo do Processo Seletivo de 2001, formato A4,
apresentando o Prédio de Vidro para os alunos e candidatos
Fonte: Acervo Anhembi Morumbi
142
2.3.2 A Estrutura
Figura 98 – Fachada frontal do Prédio de Vidro, com destaque para a estrutura em aço e vidro
Fonte: Tese de Doutorado Petracco, 2004
Podemos afirmar que a Estrutura, em
termos físicos, seja a sistematização dos
elementos construtivos que formam uma
determinada composição arquitetônica.
Da mesma maneira ela compareceu na
formação de todos os corpos, sejam
concretos ou abstratos.
Não seria exagero dizer que a
Engenharia, forjada na Revolução
Industrial com suas novas propostas, Ter,
de certa forma, se sobreposto à
Arquitetura no comportamento técnico
profissional relevante, em virtude desta
preocupação.
Mas Estrutura como a vemos não é um
mero dimensionamento de peças e sim
proposta plástico-estética, filosófica até,
e por isso aquela impressão tecnicista se
dissipa. Pensamo-la como formalizadora,
da asa de um pássaro, às costelas que
abrigam os pulmões, à estrutura dos
espaços construídos, assim como a
estrutura de todos os processos
compositivos, que se observa em todas
Artes Plásticas, na Poesia, Música etc e,
por que não, também nas ciências.
(Petracco, 2004, pag.429 a 431)
143
Embora a unidade 6 seja conhecida como Prédio de
aliança com o aço, grande parte graças às condições
Vidro, o que marca sua presença, na Rua Casa do Ator, é a
adequadas da distancia com mar, a presença do minério do
estrutura do edifício. A leveza do aço, somado a liberdade do
ferro no solo e o apoio tecnológico da Usina Siderúrgica de
vão livre e a originalidade do projeto alude a linguagem da
Minas Gerais (Usiminas). Mas foi na arquitetura corporativa
arquitetura brasileira a partir de um apelo tecnológico, como
nacional que esta estrutura vem se destacado. Muito pelas
o paradigmático edifício de Mies van der Rohe para o Crown
possibilidades estruturais e soluções técnicas, contudo mais
Hall.
pela questão econômica e simbólica. A construção metálica
Para Andrade (2006), apesar de o Modernismo
Brasileiro destacar o uso do concreto armado em suas
proporciona a redução no desperdício de material de
construção e transmite a imagem do progresso.
edificações, alguns arquitetos identificaram vantagens na
Apesar das facilidades apontadas, pode-se observar
construção com aço, tais como liberdade projetual graças a
que a mão-de-obra qualificada para este método construtivo
possibilidade de desenvolver projetos mais expressivos,
ainda é escassa; o custo da obra, embora sem desperdício,
flexibilidade no uso em virtude do sistema geométrico
ainda é mais caro que a construção em concreto; e a
modular, maior área útil obtida através de vãos estruturais
produção em larga escala ainda não está tão pronta a
maiores, menor prazo para execução decorrente do
produzir e construir, proporcionando a redução do déficit
planejamento sistematizado, abertura de frente de trabalho
habitacional por exemplo.
simultânea, e fabricação do material.
Petracco (22/07/11) conta que, embora já tivesse
Ainda segundo Andrade (2006), as primeiras
feito stands para exposições, o Prédio de vidro foi sua
construções metálicas aconteciam como uma reprodução da
primeira obra metálica. Uma audácia projetada para ser
linguagem do concreto armado, sem evidenciar o material
emocionante, uma entrada por um pórtico metálico do
utilizado. Com o passar do tempo, “a primeira grande
saber. Esta estrutura, realmente, compõe um pórtico,
renovação” pós-modernista mineira abre espaço para a
chamado de indeformável devido à estabilidade obtida pelos
S.R.
Crown
Hall
(1956), Faculdade de
Arquitetura no Instituto de Tecnologia de
Illinois em Chicago,
projetado pelo arquiteto alemão Mies van
der Rohe.
144
fachada em duas treliças horizontais e duas treliças verticais.
As treliças horizontais são vigas que vencendo o vão
longitudinalmente no prédio, absorvem as forças verticais
atuantes na edificação, a exemplo a própria força da
gravidade. Enquanto as treliças verticais estabilizam o Prédio
de Vidro contra os esforços horizontais que agem
perpendicularmente a estrutura do edifício, como por
exemplo a ação dos ventos.
Os contraventamentos apresentam perfis em “I” de
0,20 x 0,20 metros, dimensionamento que garante a
Figura 99 – Corte esquemático da concepção estrutural com as cargas
acidentais proporcionadas pela ação do vento e da gravidade
Fonte: Desenho da autora
travamentos em X.
De acordo com Salvadori (2006), essa estabilidade
deriva da resistência que a estrutura tem frente às forças,
basicamente, de ventos laterais e terremotos, assegurada
pelos encaixes rigidamente presos as vigas e pilares. Esta
estrutura, não só canaliza as forças externas para o solo
como também resistem com um balanço relativamente
pequeno.
No Prédio de Vidro, Petracco utiliza da estabilidade
proporcionada pela estrutura para compor a estética da
estabilidade da edificação deixando-se aparente os formatos
em “X” na fachada.
No plano horizontal, as lajes do primeiro pavimento e
da cobertura auxiliam o contraventamentos da fachada,
reforçando a estrutura contra as ações e efeitos do vento.
Nas fachadas, a estrutura do térreo apresentam vãos
de 33 metros de largura, na fachada frontal, e 17,50 metros
nas fachadas laterais. Para vencer tais vãos, o projeto exigiu
perfis de viga soldada (VS) de 0,35 x 0,30 metros na parte
inferior com vãos de treliça de 3,50 metros; e perfis coluna
viga soldada (CVS) de 0,35 x 0,35 metros na parte superior
com vãos de treliças de 2,60 metros.
145
Figura 100 – Croqui do Prédio de vidro com dimensionamento dos vãos e estrutura
Fonte: Croqui elaborado pela autora
146
Este dimensionamento permite que a treliça superior
estruture o projeto por tração sustentando todo o peso entre
o terceiro e quarto andar, enquanto a treliça inferior trabalha
por compressão, suportando todo o peso do mezanino ao
segundo pavimento; por fim, transmitindo as cargas das lajes
de steel deck até o solo.
Além da compressão, a treliça inferior sofre um
esforço maior por ser uma treliça de transição de onde
nascem novos pilares que
Figura 101 – Fachada esquemática da concepção estrutural, apresentando a disposição das treliças e
os esforços atuantes na estrutura, no qual a treliça horizontal absorve os esforços verticais, enquanto
a treliça vertical absorve os esforços horizontais.
Fonte: Desenho elaborado da autora
sustentam o edifício e
descarregam as cargas nos pilares da extremidade. É a
existência desta viga que possibilita que a fachada apresente
seu vão central com 33 metros.
O piso de steel deck utilizado no projeto do Prédio de
Vidro, consiste em formas metálicas com aplicação de
concreto no formato trapezoidal. Conforme Dias (1997), o
desenho geométrico de trapézio, das chapas, aumentam as
propriedades de resistência, permitindo vencer maiores
cargas e vãos sem apoios intermediários. O concreto trabalha
em
conjunto
com
a
chapa,
evitando
deformação.
Economicamente, assume a função de fôrma, evitando
Figura 102 – Corte esquemático da concepção estrutural com a distribuição dos esforços aplicados na
edificação
Fonte: Desenho da autora
gastos com madeiramento e permitem a instalação de
147
conectores, podendo ser calculada pelo sistema misto, ou
seja, ligação de aço e concreto.
Por recomendação da empresa que executou a
estrutura, todos os perfis são soldados. De acordo com Dias
Na planta quadrada do edifício, a modulação
(1997), para a fabricação de perfis estruturais de aço
determina o compasso da estrutura, uma presença seriada
soldados é exigido um esboço da composição exata do perfil,
de perfis metálicos que permitem a flexibilidade espacial com
com as características geométricas, marcação das bordas e
vãos dispostos, aproximadamente, a cada 3,50m. Como a
extremidades componentes, a altura do cordão da solda, etc.
proposta idealizou o uso de divisórias de dry-wall para
Este processo embora trabalhoso permite grande variedade
fechamentos internos, as salas apresentariam disposições
de formas e dimensões entre as seções
maleáveis de acordo com a demanda do curso ou solicitação
administrativa.
Embora a planta de estrutura apresente a modulação
Diferente da Unidade 7, toda a estrutura do Prédio
de Vidro, além dos perfis, apresenta suas conexões soldadas,
conservando a continuidade do material e suas propriedades.
de 3,50 metros, as vigas lançadas no piso vencem vãos de 8,0
metros, diferente do padrão de piso steel deck normatizado
em vãos máximos de 4,0 metros. Isto acontece, porque a
Systemac desenvolveu um sistema para aplicação do piso
com uso de ferragens para aumentar a resistência do piso, o
que possibilita laje pré-fabricada trabalhar como uma laje
nervurada, utilizar menos perfis durante a execução e
baratear o custo da obra. Contudo, por estar bi apoiada
sobre a viga, a movimentação da estrutura facilita o
surgimento de fissuras no piso.
Figura 103 – Detalhamento do piso
de Steel Deck com apresentação da
malha estrutural de distribuição e a
presença de perfis de ferro CA50
Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
148
De acordo com Dias (1997), a vantagem no uso de
conexões soldadas é a maior rigidez nas ligações; redução de
definido, controle de deformação compatível à corrosão
atmosférica, entre outros itens.
custo de fabricação, não gerando a necessidade de fazer
Independe se a estrutura é soldada ou parafusada,
furações e produzir parafusos; além da redução na
segundo Salvadori (2006), para que o aço, quando exposto a
quantidade de aço, já que as conexões apresentam-se
intempéries, não enferruje é preciso fazer uma pintura
compactas e um melhor acabamento final para limpeza e
periódica para impedir a oxidação. Esta pintura, conhecida
pintura.
como tinta intumescente retarda a propagação de chamas e
No caso da Unidade 7, a estrutura é parafusada com
a elevação da temperatura do aço, sendo premissa básica
parafusos de alta resistência exigindo mais cuidado na
exigida pelo Corpo de Bombeiro para liberação do Auto de
compra, visto que as ligações tem controle de aperto
Vistoria do Bombeiro (AVCB). Delduque (26/07/11), relata
que ciente do alto custo da pintura, durante as vistorias para
o obtenção do AVCB, os fiscais apresentavam alta rigidez na
validação dos projetos, sendo necessário desenvolver uma
série de laudos comprovando o uso da tinta para emissão de
documentação e liberação do Prédio de Vidro para
funcionamento.
Apesar do valor reconhecido, a tecnologia da
estrutura de aço, a transparência da pele de vidro, do partido
arquitetônico abraçar questões referentes ao espaço interno
e externo trabalhando a continuidade visual, o edifício
Figura 104 – Detalhe de conexões nas treliças.
A – Unidade 6 com conexões soldadas na treliça frontal. B – Unidade 7 com conexão parafusada na
estrutura do átrio central.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
apresentava algumas questões a serem discutida referente
ao conforto ambiental da edificação.
149
Em um estudo realizado por pesquisadores do IPT,
“Não recomendaria. Pela fachada de vidro, muita
sobre a sustentabilidade nos aspectos de conforto e
luz natural, pouca ventilação nas salas de aula e
desempenho das edificações, reconhece-se que a sensação
áreas pouco aproveitadas.” E.H. aluno
de conforto é subjetiva. Em artigo para a revista Téchine, os
pesquisadores atribuem a definição da norma ASHRAE 55
como a melhor explicação do termo, quando se diz que o
conforto térmico é a condição mental que expressa a
“Não recomendaria. Existe vazamento sonoro
entre as salas. Elevadores em sua maioria sempre
em manutenção. Chove nos laboratórios e salas
de aula. Piso cheio de irregularidades. Banheiros
satisfação com o ambiente térmico de forma individual,
mal cheirosos por problemas de esgoto. Anexos
sendo impossível conseguir condições satisfatórias a todos os
entre unidade 6 e 7 perigosos por terem baixo
ocupantes do ambiente ao mesmo tempo.
parapeito e quando chove a aderência do piso e
No questionário realizado pela autora com usuários
insatisfatória”. A.F. ex-aluno e funcionário
do espaço, no primeiro semestre de 2011, foram levantadas
algumas reclamações relacionadas ao conforto ambiental do
Prédio de Vidro, sendo que uma pequena parcela das 80
respostas colhidas, quando indagados se recomendariam ter
aulas no Prédio de Vidro, responderam que o edifício
apresenta certo desconforto térmico.
“Definitivamente não recomendaria. O prédio
sofre de super insolação, o que em alguns
momentos do dia torna impossível ver com
clareza a lousa, ou utilizar projeções. O calor
também se tornava um problema. O uso de ar
condicionado é pouquíssimo eficiente, pois não
há isolamento eficiente nos painéis de vidro
“Definitivamente recomendaria. Apesar de sentir
(vidros duplos ou algo assim) ou nas divisórias
falta do conforto térmico.” R.G. Funcionário
internas. O pátio interno é amplo, porém não
propicia real integração entre os ambientes.” P.K.
“Recomendaria, apesar do conforto ambiental
falho.” A.M.R. Professora
ex-aluno
150
Diferente do projeto original, onde consta o detalhe
garantindo que o ambiente passasse da claridade à
do brise-soleil nas fachadas laterais da edificação, durante a
penumbra sem interferir na qualidade espacial e no conforto
construção do Prédio de Vidro o orçamento para instalação
ambiental das salas.
deste elemento de contenção de raios solares, amplamente
Para Corbioli (2001), a seleção do vidro para uma
utilizado na composição da arquitetura moderna prevenindo
edificação deve ser avaliada de forma ampla e com
contra a incidência direta de radiação solar no interior do
planejamento em longo prazo, pois uma instalação
edifício, não é aprovado.
equivocada de material pode trazer problemas diversos de
Perante a exclusão deste dispositivo arquitetônico,
acordo com o seu comportamento nas distintas condições do
seria fundamental a escolha de um vidro, tecnologia ou
dia-a-dia; e uma possível correção, às vezes, torna-se inviável
tratamento adequado à incidência de radiação solar,
pelo custo da troca ou da tecnologia a ser empregada.
Segundo o autor, a luz solar pode ser dividida em três
componentes, sendo a luminosidade, responsável pela
iluminação dos ambientes; os raios infravermelhos que
causam o aquecimento do espaço; e os raios ultravioletas,
responsáveis pelo desbotamento. Já o vidro pode se
classificar em três tipos, o incolor comum que é utilizado
apenas para o fechamento deixando passar a luz e o calor; os
coloridos que apresentam grande capacidade de absorção de
raios infravermelhos, e que consequentemente diminuem o
Figura 105: Sala de aula padrão com uso de cortinas tipo “black out” como forma de contenção da
claridade em momentos que o espaço exige uma iluminação mais baixa, por exemplo para uso de
equipamento de projeção .
Fonte: Acervo da autora
aquecimento do ambiente; e os metalizados que refletem
boa parte da radiação solar. A combinação entre estes tipos
151
de tratamentos nos vidros garantem efeitos capazes de
Quanto maior o fator solar pior o desempenho energético do
transmitir, refletir e absorver melhor as radiações solares.
material, e consequentemente mais uso do equipamento. No
Em casos como o do Prédio de Vidro, para solucionar
caso da unidade 6, que não apresentava em seu projeto
problemas referentes ao calor nas salas, de acordo com
original o sistema de ar condicionado, justificaria a falta de
Corbioli (2001), os vidros deveriam ter índices na faixa de
cálculo na capacidade do material em relação ao sistema;
20% a 30% voltados para a transmissão do calor. Estes
contudo, poderia ter sido previsto o processo de metalização
índices estão relacionados a cor dos vidros. O problema é
garantindo o sombreamento do vidro e uma boa reflexão
que quanto menor os índices, mais escuros ficam os
solar.
ambientes, criando a necessidade do uso de lâmpadas para
iluminar as salas mesmo em dias claros e ensolarados.
Referente ao conforto acústico, parte dos problemas
relacionam-se ao uso de vidro na fachada, que segundo
Referente ao sistema de ar condicionado, Corbioli
Corbioli (2001), adotar vidros duplos auxiliariam no
(2001) atribui ao tipo de arquitetura, guiada pelos padrões
isolamento. Para Schaia Akkerman, sócio-diretor da Acústica
estrangeiros, a necessidade de se adotar a instalação destes
Engenharia, é de fundamental importância para a acústica, a
equipamentos, que por causa do aquecimento das salas são
compatibilização de projetos de estrutura, caixilharia, vidros,
frequentemente
Joana
ar condicionado, iluminação e interiores, visto que cada ruído
Gonçalves, do departamento de tecnologia da arquitetura da
gera uma curva acústica distinta, e o que pode parecer
USP, o fato de permitir a ventilação cruzada no período
inofensivo, como um sistema hidráulico, quando não tratado
noturno, muito auxiliaria na dissipação do calor acumulado
pode acarretar efeitos sonoros desagradáveis para dentro do
ao longo do dia, resfriando a estrutura no primeiro horário
ambiente.
utilizados.
Por
orientação
de
do dia seguinte.
No caso do Prédio de Vidro, a região onde está
Outro fator que exige o constante uso do ar
localizado gera um problema ainda maior, o barulho causado
condicionado é o coeficiente de sombreamento do vidro.
pelo intenso tráfego e rota de avião, ruídos graves, são os
152
mais difíceis de isolar, determinando o uso de lâminas
algumas tecnologias para tratamento do vidro, cortinas
espessas para barrar as frequências variadas, fato que não foi
automatizadas ou revestimentos acústicos eram escassas no
instalado nesta unidade, talvez por problemas no orçamento
mercado ou apresentavam alto valor de investimento, bem
ou pronta-entrega de material.
como poderiam demandar uma customização do material
Mas não só do vidro depende a boa acústica, o
para o ambiente, fatores que justificariam a não instalação
ambiente também precisa ser bem vedado, as divisórias
de materiais mais eficientes. Contudo as sugestões
entre as salas de aula deveriam conter revestimento acústico
elaboradas pelo arquiteto, tal como o brise, também, foram
interno, ou ao menos que as divisórias se prolongassem até o
descartadas durante a construção, prejudicando as condições
teto acima do forro, evitando que o ruído de uma sala fosse
ambientais do edifício. Estas modificações geram discussões
transmitido para a outra. O que se observa na unidade 6 é
e algumas impressões negativas referentes à qualidade do
que a divisória, sem o revestimento interno, termina assim
projeto, tais como apresentadas nos depoimentos de alunos,
que o forro é instalado, trazendo mais um problema ao
ex-alunos e professores na recomendação do espaço.
conforto ambiental do edifício.
O que fica evidente é que o elemento de destaque da
A implantação do edifício que privilegiou a escada na
Unidade 6, o vidro que motivou o apelido do prédio, deveria
face frontal auxilia a acústica criando uma barreira e
ter sido tratado com mais dedicação, já que a quantidade de
reduzindo as condições de exposição do ruído que vem da
material utilizado e o conhecimento dos problemas que
rua. O projeto utiliza-se do vazio central para uma melhor
poderiam provocar eram inequívocos. O edifício, que situado
ventilação cruzada, pouco sendo utilizado por questões de
em uma área de alto trafego, sofreria das interferências
segurança com relação aos equipamentos de multimídia que
sonoras constantes, e a proposta de translucidez exigia maior
ficam dentro das salas.
cuidado durante sua execução, maior investimento, recursos
Sabe-se que durante a idealização do projeto,
e tratamentos especiais.
153
precisava traçar uma relação entre a forma exigida pela
2.3.3 O Ritmo
legislação e os ideais de projeto. Esta dialética exigia valores
estéticos a ser incorporado na arquitetura como resposta ao
Podemos considerar Ritmo em Arquitetura como
a organização compositiva dos espaços, obtida
por meio da disposição harmônica de elementos
construtivos, sejam vedos ou estruturais.
(Petracco, 2004, pág. 451)
processo de consolidação do Campus, insinuando um edifício
com característica para multiuso, que acompanhasse a
dinâmica da instituição. Esta condição foi o que reforçou a
importância do ritmo na edificação.
O edifício que é quase um quadrado com a
Petracco (2004), no texto sobre ritmo, reconhece a
capacidade de abrigar 1.800 alunos distribuídos entre térreo,
importância de parâmetros no ato projetual, sendo o
mezanino e quatro pavimentos. Além de possuir dois
principal a modulação, que apesar de estabelecer limites e
subsolos para estacionamento.
restringir ideias, organiza o pensamento arquitetônico. Esta
No térreo foi proposto um auditório com capacidade
modulação expressa o compasso da edificação, que abriga o
para 180 lugares, com plateias distribuídas entre o térreo e o
programa, os anseios do arquiteto, representa seu repertório
mezanino, que veio a ser implantado na construção vizinha, a
e retrata sua proposta. Enfim, é o ritmo do projeto.
Unidade 7, com a capacidade para 420 lugares, atendendo
Ainda segundo Petracco (2004) “o arquiteto é o
eventos de maior porte. Os fechamentos verticais seriam
agente transformador da cultura e da identidade de sua
realizados com a modulação de painéis de madeiras
sociedade”, assim expressa na arquitetura valores que
pivotantes; uma contraposição entre o material tradicional e
vinculem o projeto ao âmbito da cultura, seja relacionado a
a estrutura inovadora. Contudo, para atingir uma área de
linguagem arquitetônica, ao posicionamento da instituição,
8.125m² construídos, ocupação máxima aprovada pela
ou na relação com a sociedade.
Prefeitura, foi considerada e aprovada a exclusão do
Para a composição do Prédio de Vidro, o arquiteto
auditório.
154
A - Planta do pavimento térreo com plateia do Auditório
B - Planta do mezanino com plateia do Auditório
Fonte: Acervo da Universidade com edição da autora
155
C - Corte Longitudinal com representação do Auditório
D - Fachada posterior com representação do Auditório no pavimento térreo
Figura 106 - Projeto do Auditório no Prédio de Vidro, projeto de Francisco Petracco
Fonte: Acervo da Universidade com edição da autora
156
16. Não foram encontrados,
nos registros da universidade, dados sobre arquiteta
que restaurou a Capela tais
como nome ou referências
de projeto em que atuou. O
nome Beth foi mencionado
pelo engenheiro Delduque
quando comentava sobre o
projeto e das recordações
de algumas reuniões que fizeram durante a obra de
restauro.
Esta escolha, que por um lado excluiu um importante
esquadria metálica. Parte do telhado foi refeito sendo
equipamento do universo acadêmico, destacou a estrutura
substituída parte das telhas de barro existente por telhas de
metálica modulada; gerou uma área de pilotis, símbolo da
vidro translúcidos sobre o altar, melhorando a iluminação
Arquitetura Moderna e precursora na linguagem de térreo
interior
livre neste Campus; e evidenciou a presença da Capela de
construção. O piso cerâmico foi restaurado com tratamento
São Judas Tadeu.
químico para limpeza e impermeabilização a fim de facilitar a
e
proporcionando
maior
valor
espiritual
a
A Capela, datada de 1944, é doação de Otillia
preservação. Ao lado da Capela foram mantidos a imagem do
Amorin, atriz e cantora carioca que dedicou uma parte de sua
patrono São Judas Tadeu e o sino, ambos originais da
trajetória profissional ao circo. A artista oferece ao Retiro dos
edificação.
Atores a escultura de São Judas Tadeu, patrono das causas
A conservação da capela é o reflexo de uma
desesperadas, tornando-se padroeiro da capela. Por
consciência sobre o valor da preservação da História, uma
acreditar que o espaço simbolizava paz e trazia boas
tentativa de se manter um lugar de espiritualidade dentro da
vibrações, Rodrigues solicita permanência da construção na
instituição, mesmo que com preferência religiosa definida.
concepção do novo espaço.
Do ponto de vista simbólico, o contraste entre a
Com capacidade para 24 pessoas sentadas, foi quase
Capela de São Judas Tadeu e o Prédio de Vidro evidenciam
destruída durante as escavações do subsolo, e a pedido de
uma mudança de valores na construção tardo eclética
Gláucia Rodrigues, filha do reitor Gabriel Rodrigues, foi
passando para a edificação com estilo “high tech”, quase que
agraciada com o Restauro⑯ de sua construção.
numa leitura indicando a transição do Campus e sua busca
Foram refeitas as pinturas internas e algumas
pela modernização da infraestrutura.
restaurações da estrutura. Duas das quatro janelas foram
Situada ao fundo do terreno, em seu lugar de origem,
substituídas por vitrais com leitura floral, as janelas
a localização por si só não foi capaz de promover o interesse
posteriores mantem o mesmo formato com a conservação da
da comunidade acadêmica em conhecer o espaço, menos
157
ainda visitá-lo. Mesmo com a intenção generosa de livre
acesso, onde o arquiteto abre o espaço para visualização da
capela, poucas pessoas conhecem a sua existência na
Universidade Anhembi Morumbi.
Dos 101 entrevistados nesta pesquisa, quando
questionados sobreo grau de satisfação com a infraestrutura
Capela São Judas Tadeu na Unidade 6, do Prédio de Vidro,
considerando 1 (um) para “nada satisfeito” e 5 (cinco) para
“muito satisfeito”, apenas 52 entrevistados responderam
esta pergunta, sendo que 32% afirmaram não conhecer a
capela, impossibilitando a resposta sobre o questionamento.
Gráfico 06 – Indice de satisfação com a infraestrutura da Capela São
Judas Tadeu na Unidade 6 do Campus Vila Olímpia
Fonte: Arquivo pessoal da autora
Figura 107 – Capela de São Judas Tadeu, localizada no térreo do Prédio de Vidro, na área
posterior a construção, vista frontal.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
158
Figura 108 - Capela de São Judas Tadeu, vista externa.
A – Inscrição sobre a porta de entrada da capela com detalhes da doação pela atriz Ottilia Amorin; B – Imagem de São Judas Tadeu original da capela desde a docação de Ottilia Amorin;
C – Vista do conjunto da capela; D – Vista exterior da da porta de entrada ; E – Vista interior da porta de entrada; F- Abertura com vitral trabalhado instalado após a restauração;
G – Abertura com esquadria original da capela.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
159
Figura 109 – Capela São Judas Tadeu, vista interna.
A – Altar da capela; B – Vista lateral direita, sentido altar; C – Vista lateral esquerda, sentido altar; D – Vista lateral direita, sentido porta de entrada; E – Vista lateral esquerda, sentido porta de
entrada.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
160
Figura 110 – Esplanada do Complexo Theatro. Integração entre as áreas de convivência da Unidade 6 e Unidade 7 onde é possível ver a localização da Capela no fundo do terreno, de forma que
embora sem obstrução visual, é pouco identificada pelos usuários deste espaço.
Fonte: Desenho elaborada pela autora
161
Já o térreo, atende o seu propósito, uma grande
que estabelecem entre o espaço acadêmico e as áreas de
praça aberta, estendendo naturalmente a rua para dentro do
reclusão social, presídios ou penitenciárias. Tal associação
convívio universitário, local de acesso aos andares e ao
pode estar relacionada a uma memória coletiva das relações
mezanino, onde se encontram as maiores salas da unidade,
que estas instituições apresentam, tais como a distribuição
com 150m² de área útil. Salas espaçosas e suficientemente
de salas ao redor de um pátio central, o banho de sol
confortáveis para abrigar oficinas, ateliês ou laboratórios
associado ao intervalo para o café; ou ainda questões mais
específicos.
acadêmicas, como “grade” curricular, “disciplina” do curso,
Nos pavimentos tipo, a distribuição de dois blocos
inspetores de corredor, entre outros. Estas são hipóteses que
principais com 220 m² deixa explorar a divisão das salas com
merecem outro estudo, mas que podem ser ponto de partida
repartição de uma até cinco salas de aula, de acordo com a
para entendimento de comentários respondidos na pesquisa:
necessidade acadêmica. Esta flexibilidade decorre da
modulação estrutural e fechamento das paredes em placas
de gesso, de fácil montagem e desmontagem. A possibilidade
“O conceito do edifício é de improviso. A
aparência, olhando por dentro, é de que se está
numa penitenciária.” T.C. ex-aluno
de modificar o tamanho das salas sem grandes impactos na
infraestrutura era algo tentador.
Durante o uso, várias alterações foram feitas na
distribuição das salas, desvirtuando consideravelmente a
qualidade flexível do espaço⑰ e interferindo no valor de
aceitação do espaço pelo usuário. Salas pequenas, num
corredor com muitas portas geraram um impacto negativo
aos estudantes.
É possível identificar na opinião dos alunos, a relação
“Acredito que, com o espaço do mezanino e os
corredores na lateral, lembram uma prisão e sua
celas de confinamento, talvez um ar mais colorido
resolva ou ajude esse lado sombrio.” D.P.
Professor
“ Parecia que eu estava em uma prisão.” M.M. exfuncionária
“Acho que o partido adotado em conceitos de
materiais é muito válido, porém a forma da
17. Ver anexo Distribuição de
salas em Uso acadêmico no
período de 2001 a 2011.
162
distribuição interna torna difícil uma convivência
maior.” N.P.S ex-aluno
“Achei o espaço das salas de aulas e de
convivência muito apertados.” N.A.R.F. aluna
Nestas respostas, a percepção espacial demonstra a
distinta relação que o usuário tem do espaço, seja por meio
de apelo solicitando maior intervenção para as áreas de
convívio, ou identificando a relação nada intimista com a
construção, como também a satisfação pelos materiais do
espaço. Estas questões estão diretamente relacionadas ao
repertório do usuário e como ele é aplicado no ambiente
edificado.
Os espaços de salas de aula projetados para atender
a modulação da estrutura, com salas amplas e arejadas, são
redefinidos não respeitando a paginação da esquadria ou
forro, não atendem as dimensões mínimas para ambientes
de estudo e lançam o mobiliário de acordo com o número de
estudantes necessário dentro da sala. Estas divisões de salas
com vãos menores adaptados para a crescente demanda
acadêmica justifica a sensação de ambientes “apertados”
Figura 111 – Ilustração comparativo da disposição das salas de aula.
A – Divisão original das salas da unidade 6
B – Divisão atual das salas da unidade 6, no 3º andar
Fonte: Desenho adaptadao pela autora
Além de a disposição prejudicar o ângulo de visão
dos estudantes que se sentam próximo às extremidades da
163
sala, não conseguindo visualizar o quadro negro por
mini tribunal de práticas jurídicas.
completo, a distribuição da iluminação natural é deficiente,
A distribuição dos ambientes acadêmicos acontece
adentrando no ambiente pela abertura de menor dimensão;
ao redor do grande vão central, de 15 metros de altura que
evidenciando mais uma alteração da arquitetura que
se origina no primeiro pavimento e alcança a cobertura,
interfere no conforto ambiental do Prédio de Vidro.
assegurando a transparência visual de todo o espaço interno
Estas modificações são decorrentes a proposta do
edifício apresentar-se com o máximo de flexibilidade das
e a iluminação por meio da grande cobertura em vidro
translúcido.
salas. Assim a distribuição dos ambientes acontece de acordo
Os acessos aos ambientes acontecem numa cadência
com o programa solicitado pela instituição, permitindo o uso
fluida decorrente da continuidade espacial projetada, são
do espaço tanto de forma acadêmica como administrativa.
amplas galerias de circulação que variam suas dimensões de
Embora o edifício seja composto basicamente de
acordo com a organização do fluxo de estudantes, de forma
salas de aula e laboratórios, em todos os pavimentos foram
que em frente aos elevadores onde a concentração na
previstos sanitários masculinos e femininos, escadas de
chegada e saída das aulas é intensa até sua distribuição,
emergências e áreas técnicas; dispostos na parte posterior do
apresentam-se galerias com 3,00 metros de largura. Em
edifício. Como complemento as áreas acadêmicas – 32 salas
frente as salas de aula que exigem maior conforto e
de aula e 9 laboratórios de informática, o Prédio de Vidro
facilidade no percurso, as galerias apresentam-se com2,10
conta
departamentos
metros de largura, e na área restrita a interligação entre as
administrativos: a Central de Tecnologia e Informação (CTI), e
galerias de circulação principais, foi previsto 1,75 metros de
o departamentos de Áudio Visual; além de duas áreas de
largura para passagem dos estudantes a frente dos
apoio ao aluno: o posto bancário do Santander e a Copiadora
sanitários.
com
a
presença
de
dois
Tecopy; e um laboratório específico para a área de Direito, o
164
Figura 112 – Proporções arquitetônicas.
A – Corte transversal esquemático do Prédio de Vidro evidenciando as medidas de pé-direito adotado
B – Corte transversal horizontal do Prédio de Vidro evidenciando as medidas de pé-direito adotado
Fonte: Desenho elaborada pela autora
165
A Construtora Sobrosa, fundada em 1989 sob o nome
2.4 A Construção
Para a construção do Prédio de Vidro, a Instituição
solicitou a três construtoras, através de carta convite, a
formalização de propostas para concorrência na execução do
edifício. Este é o procedimento comercial adotado pela
Anhembi Morumbi nas negociações que envolvem compra
O departamento de compras envia a carta-convite
as
especificações
técnicas
elaboradas
pelo
departamento de obras e projetos ao fornecedor, e assim
aguarda as propostas a fim de avaliar a empresa em critérios
de preço, prazo, histórico construtivo e qualidade nas obras
realizadas.
A Construtora Sobrosa, uma das concorrentes, tinha
um diferencial; como já estava a par das negociações desde a
compra do terreno e auxiliou na viabilização do projeto,
estava ciente das exigências legais que a construção
acarretaria. Desta forma apresentou uma proposta não só
com o valor estimado da obra, como também ofereceu a
Instituição a legalização do projeto junto a Prefeitura sem
custos adicionais. Esta jogada comercial fez com que
ganhasse a concorrência.
apresentava dez anos de experiência no mercado de
construção civil e já trabalhava com a Universidade Anhembi
Morumbi em pequenas obras da antiga unidade 5. Com uma
estratégia de marketing para fidelizar-se com o cliente, a
construtora apostava no desenvolvimento de parcerias
ou contratação, mantido até os dias atuais.
com
Sobrosa Melo e Silva Construções e Engenharia Ltda.,
comerciais. Para tanto demonstrava participação nas
atividades contratadas e buscava envolver-se nas metas da
contratante.
Para a obra na Anhembi Morumbi, com intuito de
demonstrar uma prioridade à universidade, a Construtora
disponibilizou o acompanhamento da obra pelo corpo
diretivo, com engenheiro Wilson Mello no trabalho em
campo, enquanto o engenheiro Eduardo Sobrosa realizava os
tramites comerciais.
Para Delduque (26/07/11), a contratação da Sobrosa
era quase certa, visto que além de apresentar melhores
condições para viabilização do projeto, já conhecia o sistema
administrativo da Universidade Anhembi Morumbi, o que
facilitaria o andamento da obra e agilizaria as burocracias
que envolvem a construção.
166
Aprovada a contratação para a construção do Prédio
de Vidro a construtora apresentou o cronograma da obra
com data prevista para início das obras em junho de 1999, a
construtora previa um prazo de nove meses para construção
do Prédio de Vidro, de forma que a Universidade Anhembi
Morumbi já poderia contar com os alunos em sala de aula no
segundo semestre de 2000. Como a Universidade estava
Figura 113 – Cliente Astra Zeneca, situada na Rodovia Raposo Tavares, Km 26,90, Cotia / SP, onde a
Construtora Sobrosa executou a construção da nova portaria do complexo em cobertura metálica com
balanço ancorada em estrutura de concreto armado.
Fonte: Arquivo da Construtora Sobrosa, disponível em http://www.sobrosa.com.br/site/obras.asp,
acessado em 25/08/2011
crescendo, o foco para a expansão estava na finalização do
prédio da Alpargatas no Brás, o que resultou no adiamento
dos inícios da obra.
Em uma pesquisa de mercado sobre a proposta dos
cursos de Sequenciais, a Instituição que já esperava uma
aceitação positiva foi surpreendida com a procura pelos
cursos no Campus da Vila Olímpia. Diante deste novo
contexto dos rumos de expansão, Delduque relembra que,
para retomar as tratativas do Prédio de Vidro, precisava
desenvolver um planejamento preciso entre a construção e o
início das aulas, solicitando a construtora Sobrosa o
planejamento técnico da construção.
A construtora previu a entrega do Prédio de Vidro em
Figura 114 – Cliente EFACEC do Brasil Ltda. – Companhia do Metropolitano de São Paulo - Metrô, em
que a Construtora Sobrosa construiu a subestação elétrica da Estação Tamanduateí para alimentação
da Linha Verde do metrô de São Paulo
Fonte: Arquivo da Construtora Sobrosa, disponível em http://www.sobrosa.com.br/site/obras.asp,
acessado em 25/08/2011
duas fases, sendo a primeira com a entrega do mezanino e
mais dois pavimentos tipos para 29 de fevereiro de 2000 e a
167
Figura 114 –Cronograma físico de execução apresentado para a concorrência na obra do Prédio de Vidro, com data de início prevista para junho de 1999 e término nove meses depois em
março de 2000
Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
168
conclusão final para 31 de julho de 2000, considerando o
Com o início da obra e o canteiro de obras instalado,
início dos trabalhos em primeiro de setembro de 1999. Com
a primeira ação tomada foi à demolição e remoção das
término da obra, finalizaria e entregaria a aprovação do
edificações existentes no terreno.
projeto junto a Prefeitura de São Paulo.
Como a capela era a única construção a ser mantida,
Com a conclusão da primeira fase, previa-se que os
algumas soluções para sua permanência foram levantadas. A
andares a serem utilizados pelos alunos deveriam contar com
primeira ideia seria fazer um reforço na fundação para que
a construção de um caminho protegido de acesso ao prédio,
pudesse escavar abaixo e ampliar a área de estacionamento
e tapumes provisórios instalados nas salas que não tivessem
e foi descartada mediante o custo que iria gerar. Outra opção
a cortina de vidro finalizada.
seria a desmontagem da estrutura e a reconstrução a partir
Como na concorrência para a construtora, foram
do mesmo material, mas o valor da mão-de-obra e a
feitas concorrências para todos os seguimentos da obra,
possibilidade de se perder a capela inviabilizaram a proposta.
configurou-se o quadro abaixo com alguns dos fornecedores
E por fim, optou-se por não escavar sob a construção e fazer
que foram levantados nos documentos da universidade e da
um muro de contenção para suportar as cargas produzidas
construtora:
pelo empuxo da terra naquele local.
ÁREA
Construtora
Concreto
Estrutura
Impermeabilização
Muro de arrimo
Piso
Piso de Borracha da
escada
Vidro
EMPRESA
SOBROSA MELO E SILVA CONSTRUÇÃO E
ENGENHARIA LTDA
DIAMOND FIX PERFURAÇÃO E CORTE EM
CONCRETO S/C LTDA
SYSTEMAC CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADA
IMPERPOL IMPERMEABILIZAÇÕES LTDA
RIMOBLOCO
TECNIPISO ENG. PISOS E REVEST. LTDA
INDEVAL
CONTEMPERA – DISTRIBUIDORA DE VIDROS
LTDA
Em seguida, cravaram fundações profundas em todo
o perímetro da obra para iniciar a contenção perimetral do
terreno, utilizando perfis metálicos e pranchões de madeira
que seriam incorporados posteriormente às cortinas laterais.
A escavação do terreno foi dividida em duas etapas, a
primeira deixando taludes de contenção no perímetro da
obra para compensar o empuxo da área de corte. E a
segunda etapa, após o travamento das cortinas perimetrais,
169
escavar pelos complementos das lajes dos subsolos.
metálica, fechada com um cadeado, foram descobertos
Ao término da escavação, a pedra fundamental,
jornais datados de 1943 envolto em um saco plástico.
datada de outubro de 1999 marcou a cerimônia de colocação
Quando os operários da obra encontraram tal caixa levaram
da primeira pedra na construção do Prédio de Vidro.
ao conhecimento do engenheiro Delduque que rememora ler
Esta solenidade do início da obra contou com o
uma matéria sobre a pintura de bancos na Alemanha para
tradicional ritual de se adicionar uma cápsula do tempo com
diferenciar o uso do espaço público entre judeus e alemães.
documento e cartas das pessoas envolvidas no evento.
Estes
Delduque (26/07/11), conta que o reitor Gabriel Rodrigues
responsabilidade do professor Sebastião Hermes Verniano,
escreveu uma carta de próprio punho, a qual leu durante o
que na época estava como assistente de reitoria. Após o
evento, e depositou dentre de uma caixa de vidro com fotos,
restauro, os documentos ficaram guardados com Diva
canetas, o vídeo institucional da universidade, a ata de
Aparecida Correa, também assistente na reitoria, responsável
reunião das pessoas presentes e outros documentos
por coletar publicações e documentos da Instituição que
administrativos.
saiam em mídia externa.
Lucilene
Casteliano
Faria
(22/07/11),
jornais
foram
levados
para
restauro
sob
oradora
Com a saída de Diva da universidade, conta-se que os
durante a missa realizada na cerimônia, narra que escreveu
documentos foram para a biblioteca aos cuidados da
uma carta contando sobre o nascimento do seu filho, e junto
Bibliotecária Maria do Rosário Godoi (Madu). Atualmente,
dela depositou o cordão umbilical e uma aliança. Ela
sob administração da bibliotecária Marli Cacciatori, esta
relembra que quem ministrou a homilia foi Frei Leonel, bem
relata que não se tem cadastro de catalogação ou entrada
relacionado com a Diretoria da Universidade.
destes documentos na Biblioteca da universidade e
A ideia desta capsula do tempo, surgiu da descoberta
desconhece onde possam estar guardados. Rodrigues
de uma caixa encontrada durante as escavações da obra,
(26/08/12) acredita que foram enterrados, novamente, em
próximo à capela de São Judas Tadeu. Dentro da caixa
conjunto a nova cápsula do tempo.
170
Embora a pedra fundamental seja, tradicionalmente,
cravada no canto nordeste das construções, esta escultura
está implantanda no lado noroeste do Prédio de Vidro, a
esquerda da capela, onde foi originalmente encontrada a
primeira cápsula do tempo.
Figura 116 – Pedra Fundamental
A - Detalhe da Pedra Fundamental com inscrição do marco inicial da construção
B - Pedra Fundamental em primeiro plano, datada de outubro de 1999, implantada a noroeste do terreno. Acima da Pedra está o sino originário da Capela.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
171
Figura 117 – Cerimônia religiosa da Pedra Fundamental
A – Cerimônica ministrada por Frei Leonel; B - Cerimônia religiosa realização em outubro de 1999 por Frei Leonel, Lucilene Casteliano como oradora, presença do reitor Gabriel Mário
Rodrigues, arquiteta Angela Freitas; C – Cerimônia religiosa, presença do arquiteto Francisco Petracco, Rita Amorim, Jair Barreto, José Leôncio
Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
172
173
Página 118 – Cerimônia Religiosa da Pedra Fundamental
A – Discurso Reitor Gabriel Rodrigues na presença de Prof. Hermes Verniano,; F – Prof. Hermems Verniano
Figura 171 e 172: Discurso do Reitor durante a cerimônia de inauguração da Pedra Fundamental, na presença de prof. Hermes Verniano, Nilton Campos, Lúcia Ribeiro, Maria Helena Flynn,
Angela Freitas, Eng. Eduardo Sobrosa, Wandy Cavalheiro, Eng. Vilson Mello e Eng. Delduque Martins.
B – Prof. Hermes Verniano; C - Angela Freitas; D - Delduque Martins; E- Reitor Gabriel Mário Rodrigues; F – Prof. Hermes, Eng. Eduardo Sobrosa e arquiteto Francisco Petracco guardando
depoimentos dentro da caixa de vidro; G – Discurso do Reitor Gabriel Rodrigues; H - Apresentação prof. Hermes Verniano; I – Guarda de depoimentos dentro da caixa de vidro a ser
enterrada sob a Pedra Fundamental. Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
174
Figura 119 – Cápsula do Tempo
A – Caixa de vidro enterrada como capsula do tempo com material datados da cerimônia de lançamento da pedra fundamental, com depoimentos, revistas, jornais e publicações de
2001; B e C – Fechamento da base por Jair Barreto e funcionários administrativos da manutenção da Universidade Anhembi Morumbi; E, F e G – Cerimônia religiosa sobre a Pedra
Fundamental com a presença do Reitor Gabriel Rodrigues, Angela Freitas e Frei Leonel.
Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
175
176
Embora
Ainda referente as escavações, surgiu nos corredores
Figura 120 – Capela São Judas
Tadeu isolada durante o
processo construtivo do Prédio
de Vidro
Fonte: Acervo Universidade
Anhembi Morumbi
alguns
críticos
contestem
o
da universidade a lenda de que dois corpos foram
dimensionamento da estrutura do Prédio de Vidro, Petracco
encontrados na retirada de terra. Como o terreno sediava a
(22/07/11) afirma que é a estrutura que dá força ao projeto.
residência dos artistas, dizem que lá foram enterradas duas
De fato o contorno das linhas ortogonais, proposta pela
belas atrizes, que vestidas de branco, continuam a caminhar
estrutura metálica, em contraste com a cortina de vidro e o
pelos cantos do Prédio de Vidro procurando o antigo lar.
vão livre do térreo, alternam o desenho em cheios e vazios
Funcionários da manutenção comentam que até hoje o
que atraem pelo próprio confronto do peso e da leveza.
pessoal da limpeza não tem apreço pelos serviços noturnos
Durante a construção, com as estacas a pouco mais
no edifício, evitando ao máximo o uso dos vestiários,
de um metro da capela, notaram que a pequena construção
situados no subsolo, por ser o local onde se avistam os vultos
apresentava trinca. Como não se conseguia acessar devido a
com mais frequência. Questionado sobre a crendice, Sobrosa
profundidade em que o
divertiu-se com a estória, afirmando que não foram
terreno
encontrados corpos no local, somente a cápsula do tempo.
escavado,
estava
precisou-se
Com a obra em andamento, a primeira reunião
esperar nivelar o piso
acontece em 22 de outubro de 1999, e consta em ata de
para fazer os reparos na
reunião que o projeto de cálculo estrutural do Prédio de
construção com intuito
Vidro estava a cargo de Sodré Engenharia. No decorrer da
de
obra, a empresa Systemac, responsável pela montagem da
estrutura. Conta-se que
estrutura metálica, sugere a troca do projeto de cálculo
a
indicando a empresa Kelly Pilteco, renomada em cálculo de
chegou a abrir um vão
torres de transmissão.
de cinco centímetros.
preservar
trinca
na
sua
capela
177
Com o esqueleto da obra pronto, as lajes préfabricadas foram lançadas e os fechamentos que deveriam
ser em placas de siporex, acabaram sendo executadas em
blocos de tijolo, em função do atraso pela espera do
material, que não tinha a pronta entrega. Com o prazo de
entrega do prédio diminuindo, os últimos andares acabaram
sendo executados com blocos de tijolo tradicional.
Conforme a estrutura do edifício ia se formando, e os
detalhes construtivos foram surgindo, Sobrosa (19/07/11)
relembra que nas vistorias do arquiteto a troca de
experiências era sempre interessante. Conta que Petracco
incluía a participação dos operários em tomada de decisão de
acabamentos ou detalhes da obra, a atitude demonstrava o
interesse do arquiteto na opinião do construtor e motivava o
operário a sentir-se parte do processo construtivo. Tal
atitude faz parte da metodologia de trabalho do arquiteto
que acredita que o trabalho em equipe é melhor que a
postura de alguns arquitetos que preferem ilhar-se como
dono da verdade.
Da construção Delduque (26/07/11) recorda a passagem em
que o arquiteto explicava aos operários a importância do
desenho
no
piso,
no
centro
da
área
de
Figura 121 – Arquiteto Francisco Petracco em visita a construção do
Prédio de Vidro durante a instalação dos perfis de sustentação em
estrutura metálica
Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
178
convivência do Prédio de Vidro. O arquiteto atribuiu ao
comenta que durante o assentamento do piso, o arquiteto
ponto central do edifício a imagem do sol, de forma que as
acompanhou de perto a execução subindo e descendo os
juntas de dilatação douradas representam os raios solares
andares para verificar se a composição estava de acordo com
emergindo em meio ao azul do piso de granilite. Ainda
o desenho proposto.
Figura 122 - Coração Solar do Prédio de Vidro
A - Juntas de dilatação douradas representando os raios solares emergindo em meio ao azul do piso de granilite
Fonte: Arquivo pessoal da autora
B – Evento “Danças Circulares” ministrados no primeiro andar do Prédio de Vidro sobre o Coração Solar.
Fonte: Acervo Universidade Anhembi Morumbi
179
Mesmo que a tecnologia permitisse rapidez na
Vidro. A solução, contudo, durou pouco tempo, com a
execução, alguns imprevistos fizeram com que as aulas
primeira chuva no bairro da Vila Olímpia, a lona estava cheia
fossem iniciadas antes do término das obras. A cobertura de
de água. Delduque recorda a ligação feita pela manutenção
vidro, por atraso na fabricação de material, apresentava-se
solicitando a liberação dos alunos da unidade e a autorização
como um vão aberto nos primeiros dias de aula. Delduque
para rasgar o material com intuito de evitar algum acidente.
(26/07/11) conta que para remediar a situação pediu para
E foi após sua autorização que o Prédio de Vidro teve todos
transportarem um grande banner em lona de propaganda da
os seus andares lavados com a enxurrada d´água advinda da
universidade que estava no Campus Centro para revestir a
cobertura. Pouco tempo depois a cobertura foi finalizada em
cobertura a fim de evitar que chovesse dentro do Prédio de
estrutura metálica e vidro.
A obra foi finalizada em julho de 2001,e embora
alguns arremates tenham ficado para serem resolvidos, a
universidade já contava com sua nova unidade no Campus
Vila Olímpia.
Entendendo a universidade como polo gerador de
deslocamento veicular, a Prefeitura da Cidade de São Paulo
solicita a construtora um plano de melhorias para o tráfego e
estudo de vagas do estacionamento que atendesse a nova
demanda de veículos que frequentaria o bairro⑱.
Com toda a documentação aprovada, a Construtora
Figura 123 – Cobertura de vidro no vazio central do Prédio de Vidro.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
entrega o Habite-se do Prédio de Vidro após seis meses do
término da obra.
18. Ver anexo Plano de
Melhorias e Estudo de
vagas para estacionamento.
180
181
Página 124 – Construção do Prédio de Vidro
A – Canteiro de obra; B – Escavações para lançamento das
fundações; C – Lançamento das primeiras estruturas
metálicas; D, E e F –Concretagem do piso.
Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
182
Página 125 – Construção do piso do Prédio de Vidro
A e B – Lançamento do piso steel deck; C, D, E e F – Concretagem do piso;
Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
183
184
Página 126 – Fachada do Prédio de Vidro em construção
A – Esqueleto metálico com edição da autora; B –
Esqueleto metálico visto do estacionamento da antiga
Unidade 5; C – Esqueleto metálico com a presentaça da
estrutura da escada principal.
Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
185
186
187
Em 2009, durante a exposição “A boa arquitetura de
uma geração” organizada pelo arquiteto Ziegbert Zanettini
em parceria com o Centro Brasileiro de Construção em Aço
(CBCA), a Associação Brasileira da Construção Metálica
(ABCEM) a editora PINI e a Escola de Arte e Design
Panamericana, chamou a atenção o cartaz de propaganda
exposto pela CBCA para divulgação de suas atividades e a
forma como atua no mercado, com a imagem do Prédio de
Vidro como pano de fundo. O projeto que já havia sido
publicado em material institucional de marketing da
Universidade Anhembi Morumbi e exposto na Bienal de
Arquitetura, agora era referenciado como marco na
construção metálica nacional, rompendo os limites da
arquitetura educacional para ser um projeto de referência
arquitetônica.
O arquiteto (22/07/11) conta que ao chegar no
evento para prestigiar os colegas, surpreendeu-se com a
exposição do seu projeto no cartaz do patrocinador. Mesmo
sem seu conhecimento e aprovação, interpretou a publicação
como uma forma de reconhecimento do para o seu trabalho.
Página 127 – Fachada do Prédio
de Vidro
Fonte: Acervo Sobrosa Construtora
Figura 207 e 208 – Catálogo da
exposição “A boa arquitetura
de uma geração”, de 25 de
outubro de 2009; organizada
pelo arquiteto Ziegbert Zanettini em parceria com o Centro
Brasileiro de Construção em
Aço (CBCA), a Associação
Brasileira
da
Construção
Metálica (ABCEM) a editora
PINI e a Escola de Arte e Design
Panamericana. Destaque par o
cartaz de publicidade da CBCA
com tema de fundo o Prédio de
Vidro
Fonte:
Acervo
arquiteto
Francisco Petracco
188
CAPÍTULO 3: POR UMA LEITURA POSSÍVEL
revestimento para a fachada, prevê pontos de apoio na
cobertura para sustentação dos equipamentos da limpeza.
3.1 o fim do começo ou o começo do fim?
Consequentemente a manutenção contrata funcionários que
irão descer pela fachada higienizando e vistoriando o estado
Para Rocha (2007), a vida de um edifício está
dos vidros, garantindo a conservação do material no estado
compreendida em duas fases. A primeira é a fase da
que foi idealizado. Na falha de um dos processos, o edifício
construção quando uma série de problemas relativos a
pode ter a arquitetura comprometida pela falta de limpeza,
durabilidade podem ser resolvidos, tais como a orientação
depredação ou ainda pelo próprio desgaste do material.
adequada do projeto, as normas técnicas e legais
De acordo com Rocha (2007), certos sistemas e
devidamente atendidas, o programa de uso bem resolvido, e
equipamentos prediais exigem serviços de inspeção e
a qualidade dos materiais condizentes com a propostas
vistorias programadas a fim de garantir sua conservação,
estrutural e arquitetônica. A segunda fase refere-se ao uso,
devendo ser realizada independente de deformidades
quando surgem os problemas a partir do desgaste e usos
estarem aparentes ou mesmo não existirem. A falta de
indevidos, necessitando de manutenção constante.
manutenção em caráter preventivo acarreta em desgastes
Enquanto na construção os detalhes construtivos
desnecessários, substituições e, futuramente, novos custos.
asseguram condições e facilidade para a manutenção, é no
No Prédio de Vidro, o que se tem observado é que a
ato de conservar que se encontra o grande segredo da vida
falta de manutenção tem prejudicado a imagem do edifício,
útil do edifício. Um exemplo clássico, e que pode ser adotado
transmitido uma imagem de descuido e negligência por parte
para o Prédio de Vidro, é o uso da cortina de vidro no
da instituição. Nos depoimentos apresentados, pode-se notar
edifício. Ao projetar, o arquiteto está ciente de que a
que grande parte do desconforto do usuário está relacionado
manutenção e limpeza do vidro garantem a boa aparência da
a problemas de manutenção, tais como sanitários,
construção, portanto, quando opta por este tipo de
equipamentos de ar condicionado e limpeza.
189
Na escada principal, o piso de borracha aplicado
Outra
questão
são
os
impactos
estéticos
sobre a estrutura metálica, apresenta problemas de
proporcionados por problemas de impermeabilização, tais
aderência, onde o material está descolado do piso nas juntas
como:
entre a escada e a construção. Para correção, o revestimento

do piso deveria ser removido, a estrutura ser retratada para
Infiltração na estrutura metálica do edifício e da
escada;
retirar qualquer agente contaminante que pudesse interferir

O crescimento de vegetação na estrutura;
na aderência e trocar pelo novo revestimento.

Infiltração na fachada posterior.
Problemas de infiltração acarretados pelo período de
chuvas não interferem somente na estética do edifício, mas
também comprometem o desempenho da estrutura. A água
ao atravessar a peça de concreto pode atingir suas
armaduras, que sujeitas a ferrugem, podem ficar tão
comprometidas a ponto de romperem.
A descaracterização do Prédio de Vidro, resultado
das inúmeras modificações de layout35 e da manutenção
precária, evidencia certo descaso da instituição para com o
edifício. Mas o que mais chama a atenção é a falta de
finalização do projeto.
Sabe-se que a construção do auditório foi descartada
Figura 129: Acabamento do piso no Prédio de Vidro descolando na junta
entre a escada e o piso do pavimento, no quarto andar.
Fonte: Acervo da autora
mediante área máxima exigida pela Prefeitura, contudo o
resultado gerou uma grande praça de convivência e
190
continuidade urbana. Mas não se pode dizer do mesmo do
espelho d´água.
O rebaixo do espelho d´água foi idealizado para
refletir a escada principal, chegou a ser preenchido com água
em 2008 para uma atividade da Escola de Engenharia e
Tecnologia, contudo por falta de impermeabilização, a água
escorreu para o primeiro subsolo, precisando urgentemente
ser esvaziado.
Recorrentemente,
o
arquiteto
solicita
ao
departamento de obras e projetos a finalização do espelho
d´água para finalização do projeto, o retorno embora sempre
positivo, ainda não se concretizou.
E por fim, o projeto inacabado da iluminação da
escada. Com o inicio das aulas e a escada na penumbra já
que a iluminação não havia sido finalizada, foi solicitada a
manutenção a instalação de lâmpadas de vapor metálico em
caráter provisório. Contudo é possível observar que até hoje
as lâmpadas não foram substituídas pelo seu projeto de
iluminação original e funcionam como sistema de iluminação
definitivo.
191
Figura 130 – Impactos estéticos por falta de manutenção
A - Infiltração na estrutura do Prédio de Vidro; B - Infiltração na estrutura da escada principal; C - Crescimento de vegetação na estrutura da Fachada Principal, frente para a Rua Casa
do Ator; D - Infiltração presente na Fachada Posterior do Prédio de Vidro, vista da Rua Gomes de Carvalho, é possível observar o desgaste da pintura e a falta de manutenção.
Fonte: Acervo da autora
192
Figura 131: Rebaixo do piso, no pavimento térreo.
A e B – Vista de onde deveria ter sido feito a instalação do espelho d´água. Foi cogitado pelo
arquiteto utilizar o espaço como um jardim com uso de vegetação e pedra, contudo a
instituição somente disponibilizou quatro vasos com palmeiras dispostos nas extremidades do
espaço.
Fonte: Acervo da autora
193
Figura 132: Iluminação da escada do Prédio de Vidro
A - O projeto provisório que se tornou definitivo com a aplicação
de apenas uma lâmpada por pavimento, o que deixa a escada
em total penumbra no período noturno, dificultando o acesso e
conduzindo o intenso uso dos elevadores.
B – Detalhe da fixação das luminárias
Fonte: Acervo da autora
da pintura e a falta de manutenção.
194
3.2 A Escola Aberta
homem, a partir de uma necessidade de partilhar com os
demais o que pensa ou sente, cria símbolos que tomam o
Entender o processo da concepção do projeto, a
construção e os anseios da instituição contratante facilita o
lugar de algo que está na mente ou no sentimento; fazendose visível e público o que há de mais privado em cada ser.
entendimento de seu espaço edificado. É possível identificar
E segundo Jung (1977) o homem utiliza uma
um fio condutor que delimita o percurso do projeto, os
linguagem cheia de símbolos para se comunicar. Seja ela um
motivos das adequações e mudanças do projeto em virtude
termo, nome ou imagem que se familiariza com o cotidiano e
de questões econômicas; culturais, tanto do arquiteto
suas conotações especiais, além do significado evidente e
quanto da universidade; e sociais relacionando a arquitetura
convencional que se pode atribuir a este símbolo.
não só a seus ocupantes, mas também de como se apresenta
para a cidade.
Estudos realizados pelo PROARQ/FAU/UFRJ sobre
valores e significados atribuídos aos espaços, constataram
Na elaboração de um projeto universitário, estar
que quando um usuário entra em contato com um
atento ao que se constrói, possibilita a compreensão, por
determinado espaço, recebe impactos iniciais a partir das
meio de uma linguagem simbólica, sobre o que foi idealizado
impressões que ele visualiza e que geram nele uma
e como se traduz como identidade do lugar.
percepção; esta é a primeira etapa de um processo de
Para Ferrara (1988), toda representação é uma forma
conhecimento do lugar (processo cognitivo). Nos próximos
de imagem; um gesto que codifica parcialmente o universo
passos desta percepção imediata, a possibilidade de
através de uma expectativa de interpretá-lo. E a ação
discriminar e classificar os signos do ambiente é garantido
interpretante é o modo usado para a representação da
pelo domínio que o usuário tem do código apresentado, do
linguagem.
qual decorre uma percepção mecânica independente das
Já Bordenave (1984) descreve o meio como a própria
características contextuais temporais ou espaciais. Em
mensagem, o que faz deste uma forma de linguagem. O
sistemas similares, a percepção desprovida de qualquer
195
parâmetro codificado, é tensa e profundamente influenciada
pelas
características
espaciais
ou
temporais,
Neste contexto optou-se tratar interpretações que
sendo,
conduziram a escolha do objeto: o design de sua arquitetura
necessariamente, a apreensão do novo como descoberta
a partir da memória documentada. A problemática do que é
perceptiva.
um espaço universitário traduzido pelo pensamento do
Desta forma, muitas podem ser as vertentes de
arquiteto sobre o que é a formação universitária; onde
interpretações do contexto apresentado, já que a trajetória
pressupõe que o uso do espaço é uma ferramenta para
do Prédio de Vidro pode ser analisada sob vários pontos de
preparar um futuro profissional atuante na sociedade,
partida. O olhar pode-se voltar para a História de um espaço
traduzindo o espaço do Prédio de Vidro como um edifício
completamente distinto das edificações do Retiro dos
que acompanha a transformação da sociedade. E como são
Artistas, mas que mantém certa relação ao atribuir como
as relações estabelecidas entre o espaço percebido e as
nome oficial da unidade “Edifício Theatro Casa do Ator”;
relações geradas pelas experiências nele vividas, de usuários
também pode ser interpretado sob o viés da tecnologia em
que gostam, abandonam, estranham, surpreendem-se,
que, como marco da arquitetura, o projeto está alinhado ao
reencontram as referências simbólicas nesta arquitetura,
movimento High Tech presente no cenário arquitetônico
identificando a importância da História do projeto para
mundial na década de 1990; outro aspecto seria a evolução
entendimento de seu design.
urbana apresentada com a verticalização da Universidade e
Para Ricceur (2010), a noção de espacialidade
do Bairro Vila Olímpia; ou ainda a concepção arquitetônica
corporal e ambiental está intrínseca a evocação da
do edifício e a relação de design adotada em sua arquitetura
lembrança, partindo da reflexão como forma de explicá-la.
com intuito de ser reconhecido como espaço universitário,
Uma associação perceptiva de recordações e leituras do
entre tantas outras.
espaço físico, articulada a sensações e sentidos de fluxos,
Escolher um ponto de partida sugere decifrar as
inquietações do observador.
instiga a memória íntima e, posteriormente, a memória
compartilhada. Assim, o espaço edificado diferencia-se do
196
espaço habitado, enquanto um é resultado apenas da
luz, cheiros sons ou ruídos que estão presentes são sentidos.
construção, e o outro está relacionado ao uso, ao
A experiência conjunta, de
relacionamento estabelecido gerando lembranças, ligações
perceptuais, motoras ou conceituais que podem ser
afetivas ou não. Durante o período que esta relação é
identificadas, estabelece valores para o espaço. Os detalhes
mantida para si desenvolve uma memória intima, e a partir
são assimilados e culminam no reconhecimento ou
do momento em que é transmitida ao outro estimula uma
distanciamento do usuário, a partir de significados que ele
memória compartilhada.
atribui, variando de acordo com a vivência cultural e as
Para Del Rio (1996), a percepção é “um processo
todas as características
estruturas cognitivas prévias.
mental de interação do indivíduo com o meio ambiente, que
A arquitetura, por proporcionar projetos livres e
se dá através de mecanismos perceptivos propriamente ditos
independentes, assume a possibilidade de gerar novos
e, principalmente, cognitivos”. Assim, desde o primeiro
significados na medida em que é percorrida. No ambiente
contato com o ambiente, o homem se inter-relaciona através
construído, o usuário identifica o lugar e tem o poder de
dos seus sentidos, à percepção, à memória, aos valores
transformá-lo. Este espaço, que a princípio é fruto do desejo
culturais e ao espaço em que se está imerso, passando a
do arquiteto, que já percorreu esta trajetória de leitura a
sentir e carregar as informações dos significados culturais,
interpretação, passa a ser o lugar do usuário.
percebendo e reavaliando o ambiente de modo a dialogar
A partir da compreensão e reconhecimento do lugar
ciclicamente com ele. O ambiente construído dirige ao
pelo usuário, que faz uma análise e uso de seus valores
usuário estímulos sensoriais, captados pelos cinco sentidos. A
impregnados pelos elementos edificados desse espaço, este
partir da compreensão, a racionalidade gera um processo de
atribui o significado que melhor traduz seus anseios
organização mental, na qual a realidade percebida é
inconscientes. Isto porque, ele não observa somente a
representada por esquemas e imagens mentais associadas.
função específica do que foi construído, mas também faz a
Ao deparar-se com um espaço, as cores, formas, padrões de
relação dos aspectos simbólicos do conjunto para com ele.
197
Assim, um edifício apresenta, em si, forma de se
sensações aguçadas pela arquitetura traduzem a experiência
expressar baseado em símbolos e elementos representativos
pessoal traduzindo a estrutura em leveza ou solidez; o vidro
do seu conceito arquitetônico. O espaço é entendido não só
em exposição ou liberdade visual; praça para comemoração
pelo que tem de visível, mas da relação com a história
ou aridez; circulação em movimento ou estar; distribuição da
cultural, a composição do conjunto edificado e a forma como
sala em flexibilidade ou enclausura; da arquitetura em
quem o desvenda.
inovação ou falta de conforto. Esta orientação da percepção
Isto justificaria o fato da associação do espaço do
a valores opostos partem do conhecimento, do uso e das
Prédio de Vidro ao espaço cerceante da vida humana. As
referências particularmente adotadas, e produzem a
lembranças
identificação da arquitetura como espaço destinado a sua
geradas
pelo
sistema
educacional
com
regulamentos e leis transferidas e identificadas no espaço
função, neste caso para a universidade.
como a representação de ambientes enclausurados, cheio de
Na pesquisa realizada fica evidente esta dualidade.
portas, ou exposição através das cortinas de vidro,
As mesmas perguntas e espaços questionados a um público
transmitindo a sensação de um usuário que tem sua
constituído por alunos, ex-alunos, arquitetos, professores,
liberdade vigiada. Vivenciar o edifício é deparar-se com
usuários da arquitetura como um todo, alternam o resultado
obstáculos que, embora projetados para garantir maior
na sua própria concepção de como é habitar o Prédio de
contato, visibilidade e socialização, inquietam e ameaçam a
Vidro. Algumas vezes evidenciam a paixão do estudante que
zona de conforto de alguns usuários. A sensação de
deseja usufruir deste espaço, outras vezes relatam o
exposição, ligado ao fato de não estar no casulo familiar, é
desconforto com a arquitetura.
reforçada pelo predomínio do vazio, da luz e da abertura.
Para Ricceur (2010), o ato de construir caracteriza a
Esta mesma relação, também, traduz os depoimentos
configuração do tempo pela composição do enredo;
em que os espaços abertos e as praças geram insegurança
conformando o espaço construído geométrico, mensurável e
pela exposição e opressão geradas pelas sombras e cores. As
calculável, que qualifica a forma de vida; ao tempo narrado
198
que interage nas experiências de uma época. De tal modo
transcrições das lembranças e transformações que afetaram
que a construção insere-se no vazio urbano como narrativa
tanto espaço, como a própria memória consultada.
de um contexto momentâneo, facilitador da história, gostos
e formas culturais de uma época.
Ricceur (2010) escreve que o testemunho dá
condições formais ao conteúdo das “coisas do passado”, das
O Prédio de Vidro é uma narrativa do processo de
condições de possibilidade de processo efetivo da operação
inovação arquitetônica da Universidade Anhembi Morumbi
historiográfica. Parte-se da memória declarada, passa-se pelo
traduzindo a manipulação de um conjunto de fatores
arquivo e pelos documentos e termina como prova
técnicos, construtivos, socioeconômicos e culturais em uma
documental. Uma relação de processo onde há o registro de
arquitetura sólida, emotiva, com valorização da história
vivências e formas de rememorar.
desde o nome da rua até iniciativa do arquiteto em suas
Assim o estudo da história do projeto busca entender
primeiras experiências metálicas. Assim sendo esta traduz o
os acontecimentos que derivaram a construção do Prédio de
tempo de ver e ler uma época, uma arquitetura
Vidro, trazendo a tona o conhecimento do seu processo.
essencialmente, moderna com apelo tecnológico reflexo da
Conhecer a origem, a escala do território, do bairro, do lote;
evolução arquitetônica da Instituição.
chegando ao edifício e os impactos ambientais e urbanos
Para Ricceur (2010), tudo na História tem início no
inevitavelmente
gerados
a
partir
de
sua
proposta
testemunho. Apesar da carência principal de confiabilidade, é
construtiva; a busca pela transformação do ambiente urbano
a segurança de que algo realmente aconteceu, de que foi
em que está inserido e produzindo novas extensões urbanas
assistido por alguém, ou atestado com outros tipos de
numa relação de espaço público e privado; e a evidencia de
documentos que desarma aqueles que precisam dos arquivos
que este é um projeto a ser finalizado, que não está
como forma precisa da realidade. Calcada neste pensamento,
integralmente pronto, seja pelas mudanças construtivas, seja
os depoimentos, tanto coletivos como privados, resgataram a
pela falta de alguns elementos projetados, ou ainda pelas
história do Prédio de Vidro em conversas informais,
mudanças de seu layout; mas acima de tudo, porque é uma
199
proposta de não ser um projeto fechado há um tempo
que o corpo acadêmico edificado é determinado por salas de
preciso, mas passível de acompanhar a dinâmica da
aulas com paredes e muros, propondo espaços livres e
instituição.
translúcidos. Decorrente de uma sociedade capitalista e
A construção do edifício demonstra a construção de
consumista, os ideais propostos de transparência, igualdade
um conhecimento, propício de uma época, de um anseio
e liberdade, estão sendo convertidos a conceitos de
momentâneo da instituição o e de um ideal do arquiteto. O
fragmentação e isolamento do espaço, garantindo sensações
tempo muda, as expectativas e as referências também.
de falta de conforto e segurança. Uma contradição
Buscar o elemento flexível, adaptável as mudanças sociais e
legitimada, onde a rua expulsa o indivíduo e o muro o liberta.
históricas está além das barreiras arquitetônicas, por que o
No Prédio de Vidro o arquiteto busca integrar o viver
espaço universitário é só a casca para a formação
na cidade dentro de um ambiente acadêmico; criar lugares
profissional, a produção do conhecimento vai além das
comuns, produzindo praças, pátios, mirantes em constantes
barreiras de espaço e do tempo.
diálogos com a cidade; propõe uma união do pátio ao
Na arquitetura de seu espaço deve-se observar a real
espelho d´água, que mesmo que não emitente do reflexo da
busca do arquiteto em projetar um espaço universitário com
escada num sentido de ser o portal do conhecimento, torna-
qualidade para difusão do conhecimento. A transformação
se banco, oferecendo um novo cenário de convivência e
arquitetônica e o crescimento da Universidade Anhembi
troca de conhecimento. A Capela de São Judas Tadeu, que
Morumbi gerou um design representado através da fachada
mesmo escondida atrás do edifício, preserva o ar lúdico e
inovadora, um traço do ideal projetado pelo arquiteto de se
bucólico do que já representou um dia ao retiro dos artistas
conceber uma Escola Aberta.
que ali viveram, garantindo espiritualidade e memória em
Esta Escola traduzida na construção de um objeto de
suas portas abertas a comunidade. As galerias de circulação
uso humano que compõe uma nova paisagem social
que convertem a comunicação do programa e do público
educativa para o Ensino Superior rompe os paradigmas de
revelam como a comunidade acadêmica funciona. Desta
200
forma, os espaços não são projetados simplesmente como
projeção de conteúdo onde é preciso virar as costas para o
resposta a sua função, mas sim, são geradoras de novas
natural e cotidiano, ao invés de integrar-se a ele.
formas, usos, sentidos, sensações e lições.
Considerando as dificuldades proporcionadas pelo viés da
Embora
Escola da Ponte é uma
instituição pública portuguesa, referência na formação básica integrada de
seus alunos. Disponível em
http://www.escoladaponte.
com.pt/, acessado em
12/08/2011
não
contemple
todas
as
questões
sustentabilidade dos materiais e técnicas empregadas,
estabelecidas pelo tripé da educação universitária o ensino, a
indaga-se a tendência atual de priorizar as relações
pesquisa e a extensão, já que o espaço dispõe de salas de
insustentáveis criadas com longos corredores e salas de aulas
aula, laboratórios de informática e um laboratório específico,
fechadas, enclausurados por suas portas fechadas, enquanto
sua composição estrutural favorece a utilização do edifício de
se podem explorar elementos que possibilitem ventilação e
acordo com o planejamento espacial proposto pela
iluminação natural.
instituição, cabendo à universidade abrigar todas as
Pode-se dizer que na busca de identificar fatores que
diretrizes do MEC em um único espaço ou distribuindo pelas
caracterizariam o Prédio de Vidro como um espaço
demais construções do campus.
universitário, o que se desvendou foi que para elaboração de
No Prédio de Vidro o compasso da estrutura permite
espaços acadêmicos deve-se evidenciar a consciência social
quebrar o protocolo e superar a lógica da disciplina como na
da arquitetura como forma convidativa a educação. Não são
Escola da Ponte⑲, onde não se precisa separar o ensino por
o acabamento, revestimentos ou tratamentos do edifício, ou
lugar fixo ou fechado, podendo ser organizados em grupos
suas salas, galerias de circulação, pátios ou laboratórios que
de interesse comum, criando espaços de inclusão, inter-
fazem de um espaço um local de aprendizagem, afinal o que
relação e conexão.
se aprende por meio do ensino não é físico, é empírico e vai
Problemas com a cortina de vidro, provedora de luz
muito além dos limites edificados do espaço acadêmico.
natural e calor, evidenciam o apego à exposição do conteúdo
E este pensamento pode ser identificado na proposta
de forma clássica. Este padrão herdado do ensino tradicional
de Petracco, um projeto que aproxima os lugares às pessoas;
gera inquietações quando o novo modelo questiona a
evidenciam as engrenagens de seu funcionamento; os
201
esforços de sua estrutura; cria sentidos e significados
distintos a partir de seus vazios; e abre-se para a cidade.
E isto, pode-se dizer do Prédio de Vidro, que cada
usuário guarda um pouco do espírito livre do projeto, que
desconstrói as barreiras; algumas vezes gerando desconforto,
outras insegurança, mas acima de tudo transmitindo
liberdade e transpondo os obstáculos tradicionais do espaço
universitário.
202
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Unidade 5, 6 e 7, e a do Campus Morumbi, o
Edifício Jardim;

As adaptações de patrimônio industrial, com
A pesquisa que partiu do intuito de discutir o espaço
requalificação de infraestrutura e mudança da
universitário cogitou, em um primeiro momento, o estudo
categoria de uso, num processo de valorização
sobre os espaços acadêmicos da Universidade Anhembi
patrimonial e urbana, tais como o Campus Centro
Morumbi a partir de sua produção arquitetônica, para um
e os Galpões do Campus Morumbi; e.
entendimento sobre o ambiente universitário sob o viés da

As adaptações de edifícios existentes em centros
Instituição. Contudo, a escolha do Prédio de Vidro como foco
urbanos
de pesquisa reflete a importância dada a esta edificação, que
investimentos em áreas que apresentam ampla
foi a primeira obra construída pela Universidade para sediar
rede de transporte e maior visibilidade comercial,
seus espaços acadêmicos, e que marcou a preocupação da
além de requalificar e valorizar o patrimônio
Instituição em não mais, adaptar espaços fabris através de
existente, tais como o Campus Paulista e Campus
uma maquiagem arquitetônica, mas de qualificar seus
Vale do Anhangabaú.
da
metrópole,
demonstrando
ambientes com melhores acabamentos e infraestrutura
diferenciada.
Conhecendo os espaços acadêmicos da Instituição,
Para o atual universo educacional, além do
acadêmico,
a
apresentação
de
uma
infraestrutura
pode-se observar que a Universidade apresenta três tipos de
consolidada, esteticamente bela e atrativa é um diferencial
construções:
competitivo. O investimento dedicado às instalações físicas

As construídas, evidenciando uma arquitetura
reflete um posicionamento da instituição sob aspectos
com aspectos modernos e inovadores, tais como
acadêmicos, culturais, sociais e comerciais. A partir do
as novas edificações do Campus Vila Olímpia –
momento em que a universidade se propõe a marcar sua
203
presença no mercado de Ensino Superior, adotou uma
aflorando todas as sensações proporcionadas pela natureza:
política de reestruturação de seus edifícios, propondo não só
luz, calor, frio, barulho, silêncio, e afins. O vazio central
uma cenografia para os usuários, mas uma qualificação de
organiza a distribuição das galerias de circulação, rampas,
seus ambientes acadêmicos.
salas e espaços acadêmicos. O espaço abriga todas as
E foi a partir deste contexto que se observou a
atividades definidas pela tríade do Ensino Superior: Ensino
possibilidade de um estudo sobre os aspectos importantes
com suas salas, ateliês, laboratórios; a Pesquisa com
para o entendimento da arquitetura e construções da
Biblioteca, departamentos, diretoria, auditório, diretoria,
Universidade Anhembi Morumbi, e a partir deles tratar a
secretaria; e a Extensão com espaço de convivência, salão
memória institucional de sua História, com foco na análise
caramelo, museu, café e grêmio.
deste edifício pioneiro concebido para representar o
Este
espaço
universitário,
provavelmente,
foi
potencial construtivo da instituição, o Prédio de Vidro, do
utilizado por Petracco como referência para conceber o
arquiteto Francisco Petracco.
Prédio de Vidro. Algumas relações podem ser feitas a partir
Em arquitetura, o espaço universitário considerado
da análise do edifício.
ideal se traduz na construção da Faculdade de Arquitetura e
As duas obras contam sua história a partir da
Urbanismo da Universidade de São Paulo, (FAU-USP),
estrutura, enquanto o Prédio de Vidro trabalha a tecnologia
projetada por Vilanova Artigas. O edifício é um jogo de
do aço, a FAU-USP retrata a linguagem brutalista do concreto
volumes fechados e abertos proporcionando um percurso
aparente característico do movimento Escola Paulista de
corrente, uma fluidez com limites imperceptíveis entre o
Arquitetura. Os pilares de Artigas destacam-se através de seu
espaço público e o privado demonstrando completa
desenho, enquanto a estrutura de Petracco intensifica a força
liberdade a seu usuário. As vedações internas são quase
do projeto.
exoneradas onde os níveis dos andares conformam a
A caixilharia em vidro apresenta o entorno de forma
delimitação dos ambientes com o máximo de translucidez
atrativa e aberta sendo cuidadosamente tratado na
204
arquitetura de Artigas com o uso de empenas suspensas que
E é em um único espaço arquitetônico que os
garantem um maior controle da luminosidade; ação que não
projetos não coincidem. Enquanto a FAU-USP apresenta um
ocorre no Prédio de Vidro em detrimento a exclusão do brise
térreo interligado o espaço urbano ao espaço acadêmico,
soleil.
onde o usuário é convidado a adentrar o recinto; o Prédio de
Nos dois projetos é possível observar a presença do
Vidro abre seu espaço a cidade, mas interrompe a entrada ao
pátio central iluminado por uma cobertura translúcida.
espaço acadêmico a partir da segmentação entre acadêmico
Enquanto na FAU a cobertura é composta por vigas
e convivência. Esta segregação pode ser atribuída ao fato da
entrelaçadas vedadas por domus, o projeto de Petracco
proposta de auditório que não foi construída, onde o térreo
apresenta uma malha estrutural em aço e vidro.
teria um outro uso, além da área de convívio entre os alunos.
A circulação vertical das construções descreve o
Mas o que se pode concluir, é que nos dois projetos o
passeio interno e as sensações de mudança do espaço, de
partido adotado para o espaço universitário decorre dos
forma que no projeto de Artigas este percurso é feito pelo
ideais políticos e acadêmicos que os arquitetos guardam da
pedestre através das rampas, ao passo que na UAM esta
Academia. Ambos tiveram sua vida profissional ligada a área
transição acontece mecanicamente por meio dos elevadores
acadêmica, foram professores e buscaram estruturar o
panorâmicos.
Ensino de Arquitetura e Urbanismo nas universidades em
Até mesmo nas questões de conforto ambiental os
que atuaram. Desta forma, o projeto não é apenas a
problemas são similares, tanto no projeto de Artigas como no
representação do seu design, mas um conjunto de aspirações
projeto de Petracco, a acústica e o conforto térmico são
decorrente da produção de cada arquiteto, podendo ser
decorrentes do uso e disposição do material. Contudo, a
considerados a síntese da relação arquitetônica à proposta
FAU-USP, atualmente passa por um processo de restauro da
de ensino.
edificação onde alguns problemas estão sendo reavaliados.
E retomando a questão principal desta pesquisa, só
foi possível chegar a esta conclusão a partir do conhecimento
205
da História do projeto, seus elementos arquitetônicos, sua
pode-se concluir que muito ainda precisa ser feito para
construção e a forma como vem sendo utilizado; bem como
documentar o percurso desta instituição.
entender a trajetória do arquiteto, a postura da Universidade
Algumas dificuldades foram enfrentadas neste
Anhembi Morumbi e como a evolução de seu patrimônio
estudo a fim de colher material para análise, tais como
arquitetônico proporcionou a oportunidade de construção do
documentos, datas e projetos das construções. Parte do
Prédio de Vidro.
material produzido pelas construções da universidade
encontra-se perdido no arquivo morto ou foram excluídos
PROPOSTA PARA FUTUROS TRABALHOS
destes arquivos, solicitado a catalogação e arquivamento
adequado em local próprio para consulta, como a própria
A trajetória da Universidade Anhembi Morumbi
biblioteca da universidade.
apresenta uma relação rica com a arquitetura, onde é
Muito do material aqui apresentado é decorrente de
possível identificar a preocupação da instituição com
depoimentos de pessoas que trabalham ou trabalharam com
questões não só acadêmicas, mas sociais e urbanas. Talvez
a Instituição, sendo que algumas ainda ficaram de
esta preocupação seja decorrente de ter a frente da reitoria
encaminhar seus depoimentos. A documentação fotográfica
um arquiteto urbanista, que mesmo empresário do ensino,
dos primeiros anos da universidade e da obra foi adquirida
sempre demonstrou aos que o conhecem, a preocupação
junto ao acervo da universidade nos departamentos de
com a História, haja visto seus discursos em cerimônias
marketing, obras e reitoria; e da construtora do Prédio de
institucionais e na publicação de seu livro narrando a
Vidro. Poucos documentos foram conseguidos a partir do
fundação do primeiro curso de graduação em Turismo.
departamento de projetos e obras e biblioteca.
Apesar do interesse da Instituição e da boa vontade
Foram entrevistados o arquiteto, reitor, funcionários
dos que participaram para a elaboração deste trabalho,
e ex-funcionários, alunos e ex-alunos que sempre tinham
206
algo a acrescentar que não faz parte dos arquivos da
Instituição.
Desta forma, e diante da riqueza de material que se
pode produzir, narrando a trajetória da instituição, o
desenvolvimento
do
patrimônio
arquitetônico
da
universidade e da relação urbana com a ocupação de espaços
da cidade pelo Ensino Superior, a pesquisadora sugere que se
inicie um processo de memória da Universidade Anhembi
Morumbi, com intuito de resguardar suas conquistas
arquitetônicas e educacionais, evidenciando o seu processo
de gestão institucional, que vivenciou um período familiar e
agora
apresenta
uma
administração
multinacional,
apontando outras Histórias tão promissoras e que carecem
ser contadas.
207
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estrutura e ritmo
– Tese
Universidade de São Paulo, 2004
de Doutorado –
211
ANEXOS
Ana Lydia Faria
Deise Marques Araújo
ANEXO 1 - RELAÇÃO DE ENTREVISTADOS
(EM ORDEM ALFABÉTICA)
Gabriel Mário Rodrigues
Francisco Petracco
Reitor da Universidade Anhembi
Morumbi
Arquiteto autor do projeto
Delduque Oliveira Martins
Eduardo Sobrosa
Francisco Petracco
Jair Barreto
Glauco Humberto Fioritti
José Leôncio
Leonardo Lenharo
Luis Araujo
Luiz Fernando Crepaldi
Lucilene Santos
Rosângela Albuquerque
Wilson Mello
Alunos
Professores
Funcionários
Assistente/ estagiária no projeto da
Unidade 6
Arquiteta, autora dos projetos
Unidade 5 e 7 Do Campus Vila
Olímpia; Edifício Jardim no Campus
Morumbi e Adequação dos imóveis
dos Campi Centro e Morumbi para
uso acadêmico
Diretor administrativo da
Universidade Anhembi Morumbi,
durante a obra do Prédio de Vidro
Engenheiro responsável pela
Construção do Prédio de Vidro
Arquiteto autor do projeto
Coordenador de Manutenção –
Conservação predial
Gerente de Projetos e Obras
Coordenador de Manutenção –
Conservação do patrimônio
Assistente/ estagiário no projeto da
Unidade 6
Assistente/ estagiário no projeto da
Unidade 6
Assistente/ estagiário no projeto da
Unidade 6
Funcionária do Marketing – área de
reconhecimento
Coordenadora do Departamento
Pedagógico
Engenheiro responsável pela
Construção do Prédio de Vidro
Alunos usuários do espaço
Professores usuários do espaço
Funcionários usuários do espaço –
segurança, limpeza, administrativo
212
ANEXO 3 - LEI Nº 8.211, DE 06 DE MARÇO DE 1975
ANEXO 3 - LEI Nº 8.211, DE 06 DE MARÇO DE 1975
Legislação - LEI Nº 8.211, DE 06 DE MARÇO DE 1975
Estabelece condições de localização, aproveitamento, ocupação e
recuos para edificações destinadas a estabelecimentos de ensino
pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo e aos
estabelecimentos de educação infantil. (Alterada)
Complementada pelas LM 8.769/78 e 9.094/80
Mantidas as disposições pela LM 13.885/04
Ver DM 45.726/05 - Retificado DOM 14/03/85 - já anotado
MIGUEL COLASUONNO, Prefeito do Município de São Paulo,
usando das atribuições que lhe são conferidas por lei. Faço saber
que a Câmara Municipal, em sessão de 28 de fevereiro de 1.975,
decretou e eu promulgo a seguinte lei:
Art. 1º - Os estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema
educacional do Estado de São Paulo e os estabelecimentos de
educação infantil são enquadrados nas categorias de uso E1, E2 e
E3, definidas pela Lei nº 7.805 de 1 de novembro de 1972, devendo
obedecer a todas as exigências fixadas para essas categorias de
uso, bem como as exigências da Lei nº 8.001 de 24 de dezembro de
1973, excetuando-se o estabelecido por esta lei.
Art. 2º - Os estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema
educacional do Estado de São Paulo e os estabelecimentos de
educação infantil poderão instalar-se nas zonas de uso constantes
do Quadro anexo, de acordo com todas as exigências nele fixadas
quanto à área mínima de terreno, coeficiente de aproveitamento
máximo, taxa de ocupação máxima, recuos mínimos obrigatórios,
área destinada a estacionamento, embarque, desembarque e
manobras de veículos e demais exigências desta lei.
Art. 3º - Os estabelecimentos de ensino pertencentes ao sistema
educacional do Estado de São Paulo e os estabelecimentos de
educação infantil regularmente instalados até a data da publicação
desta Lei, em qualquer zona de uso, exceptuando-se as zonas Z-1 e
os corredores de uso especiais Z8-CR1 quando a área construída já
tenha ultrapassado as exigências estabelecidas no Quadro anexo,
poderão ser objeto de ampliação, desde que atendendo às
seguintes condições:
I - seja motivada por necessidades técnicas devidamente
comprovadas e justificadas pelo órgão competente para a
fiscalização dos estabelecimentos de ensino;
II - receba parecer favorável da Comissão de Zoneamento,
que poderá, em caráter excepcional, adotar critério
diverso do estabelecido nas colunas B, C, D e E do Quadro
anexo;
III - a área a ser edificada não ultrapasse a 20% da
construção existente;
IV - as novas partes edificadas que se beneficiarem das
disposições deste artigo deverão atender às exigências das
colunas H e I do Quadro anexo.
Art. 4º - Quando no imóvel de localização do projeto do
estabelecimento de ensino pertencente ao sistema educacional do
Estado de São Paulo ou estabelecimentos de educação infantil
houver áreas arborizadas de valor paisagístico ambiental, a critério
da Prefeitura e mediante acordo formal com esta, em que os
proprietários e seus sucessores se responsabilizem pela sua total
preservação e manutenção, a área edificada resultante da
aplicação dos coeficientes fixados no Quadro anexo poderá ser
acrescida de área igual à área arborizada a ser preservada.
Parágrafo único - O acréscimo de áreas a que se refere o "caput"
deste artigo destinar-se-á exclusivamente a instalações escolares.
Art. 5º - Os estabelecimentos de educação infantil, bem como os
pertencentes ao sistema educacional do Estado de São Paulo do
primeiro grau, poderão se instalar em imóveis localizados em zonas
de uso Z-1, desde que:
213
I - numa faixa de 250 metros de largura, envolvendo o
imóvel, não exista área pertencente a qualquer outra zona
de uso onde são permitidos os usos objeto desta lei;
II - numa faixa de 500 metros de largura, envolvendo o
imóvel, não exista área pertencente a outro
estabelecimento escolar de mesmo grau de atendimento;
às disposições do item IV do artigo 5º e admitindo-se
exclusivamente as reformas essenciais à segurança e
higiene das edificações, instalações e equipamentos.
Parágrafo único - No caso de reforma com aumento de
área construída, será considerado como um projeto novo,
devendo atender integralmente ao disposto nesta lei.
III - o interessado obtenha a anuência expressa,
devidamente firmada e registrada em Registro de Títulos e
Documentos, de todos os proprietários limítrofes ao
imóvel em que se pretenda a instalação do
estabelecimento, bem como de, pelo menos, dois-terços
dos proprietários dos imóveis que tenham mais de 50% de
sua área contida numa faixa de 100 metros de largura
envolvendo o imóvel em que se pretenda a instalação do
estabelecimento escolar;
IV - não será permitida a derrubada ou a remoção de
nenhuma árvore sem prévia autorização da Administração
Municipal.
Art. 7º - Aos estabelecimentos de ensino ou de educação
infantil instalados em zonas de uso Z-1 ou corredor de uso
especial Z8-CR1 em situação irregular na data da
publicação desta lei, que não puderem atender o que ora
é estatuído, fica estabelecido que após o encerramento do
atual ano-letivo será aplicado o disposto no Capítulo VI do
Decreto 11.106 de 28 de junho de 1974.
§ 1º - A largura das faixas a que se refere este artigo
poderá ser alterada, a critério da Comissão de
Zoneamento,
quando
atingirem
obstáculos
de
transposição impossível ou difícil.
§ 2º - Para efeito do disposto no item II deste artigo, será
considerada a ordem cronológica de entrada do pedido de
licença ou de funcionamento ou de aprovação de projeto
para cada Administração Regional, separadamente.
Art. 6º - Os estabelecimentos de educação infantil e os
pertencentes ao sistema educacional do Estado de São
Paulo do primeiro grau, regularmente instalados
anteriormente à vigência da Lei nº 7.805 de 1 de
novembro de 1972, ou da Lei nº 8.001 de 24 de dezembro
de 1973, em zonas que passaram à categoria de uso Z-1 ou
corredor de uso especial Z8-CR1, deverão atender apenas
Art. 8º - Para atender às exigências de vagas para
estacionamento de veículos previstas no Quadro anexo,
poderá ser utilizado um outro imóvel localizado a uma
distância máxima de 100 metros, mediante a vinculação
desse imóvel com o estabelecimento de ensino.
Parágrafo único - As disposições deste artigo não se
aplicam às zonas de uso Z-1.
Art. 9º - Não se aplica o disposto no artigo 24 da Lei nº
7.805, de 1 de novembro de 1972, aos estabelecimentos
de ensino que se beneficiarem com o estatuído nesta lei.
Art. 10 - As edificações que, ao utilizarem os benefícios
desta lei, ultrapassarem aos valores máximos permitidos
para a zona de uso em que se localizam, não poderão ter
outra destinação que não as objeto desta lei.
Art. 11 - A aplicação dos benefícios desta lei às zonas de
uso especial Z-8 fica a critério da Comissão de
Zoneamento da Coordenadoria-Geral de Planejamento –
COGEP. (Ver Res. SEMPLA/CZ 82/82)
214
Art. 12 - Os novos estabelecimentos de ensino objeto
desta lei, que se instalarem em imóveis lindeiros a vias que
integrem o sistema de vias expressas ou o sistema de vias
arteriais do Município, não poderão se beneficiar desta lei.
Art. 13 - Publicado pelo Presidente da Câmara e pelo
Prefeito, faz parte integrante desta lei o Quadro anexo.
Art. 14 - Esta lei entrará em vigor na data de sua
publicação, revogadas as disposições em contrário.
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, aos 6 de
março de 1975, 422º da fundação de São Paulo
O PREFEITO, MIGUEL COLASUONNO
O Secretário de Negócios Internos e Jurídicos,
THEÓPHILO ARTHUR DE SIQUEIRA CALVACANTI FILHO O
Secretário das Finanças,
KLAUS DIETMAR ALVAREZ. Respondendo pelo Expediente
O Secretário de Obras,
IVAN LUBACHESCKI O Secretário Municipal da Educação,
ROBERTO FERREIRA DO AMARAL O Secretário dos
Negócios Extraordinários,
LUIZ MENDONÇA DE FREITAS Publicada na Chefia do
Gabinete do Prefeito, em 6 de março de 1975.
O Chefe do Gabinete, ERWIN FRIEDRICH FUHRMANN
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ANEXO 4 - PLANO DE MELHORIAS
Controlador com 08 planos compatíveis com equipamento
existente no corredor Santo Amaro.
Local: Av. Hélio Pellegrino X Praça Edgard Hermelino Leite (R.
Baluarte).
1) Controladores compatíveis com a rede proposta para a Vila
Olímpia.
Especificações Técnicas:
- 08 fases veiculares;
- 02 fases para pedestres;
- trabalhar em rede;
- mínimo de 08 planos;
- acessibilidade à qualquer outro controlador similar ( para
programação e leitura)
Locais:
- Av. Hélio Pellegrino X R. Nova Cidade
- Av. Hélio Pellegrino X R. Atílio Inocentti (acesso da R. Fiandeiras)
- R. Ribeirão Claro X R. Quatá
- R. Ribeirão Claro X R. Casa do Ator
- R. Ribeirão Claro X R. Gomes de Carvalho
- R. Ribeirão Claro X R. Cardoso de Melo
- R. Ribeirão Claro X Hélio Pellegrino
2) Deverão ainda ser implantados os seguintes equipamentos:
- Colunas semafóricas:
a) braços projetados: 10
b) colunas simples: 22
- Grupos focais:
a) para veículos: 21
b) para pedestre: 32
- Laços detetores (seções): 10
- Botoeiras para pedestres: 16
- Cabos elétricos (4 x 11/12”): 1.500 metros para ligações entre
controladores e grupos focais.
3) Readequação da configuração geométrica do cruzamento da Av.
Hélio Pellegrino com a Pça. Edgard Hermelino Leite (R. Baluarte), a
ser semaforizado, conforme Croqui nº 1 juntado às Fls. 99 à 101 do
processo nº 1999-0243.453-3.
4) Deverá ser implantada e/ou revitalizada a sinalização horizontal
e vertical dos cruzamentos indicados nos itens 01 e 02.
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ANEXO 5 – ESTUDO DE VAGAS PARA ESTACIONAMENTO
São Paulo, 12 de Julho de 2000.
À CET
Rua Jaques Felix, 66 – 6º andar
São Paulo - SP
Att.: Luis Fernando
Corresp. N° 240/2000
Prezados Senhores,
Conforme solicitação de V.S.ª encaminhamos documentação
conforme processo nº 1999-0.243.453-3 de acordo com os
documentos relacionados abaixo que seguem em anexo:
nº278;
com a ROD estacionamentos para 160 vagas
de estacionamento;
conforme tabela a seguir:
Sem mais para o momento,
Atenciosamente,
Sobrosa Melo e Silva
Construtora e Engenharia Ltda.
Tr. Ubirassanga,35 - São Paulo - SP
Fone 5561 7505 Fax 5561 7504
www.sobrosa.eng.br
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ANEXO 6 – DISTRIBUIÇÃO DE SALAS EM USO ACADÊMICO NO
PERÍODO DE 2001 A 2011
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