a atuação da equipe de enfermagem na parada cardiorrespiratória

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A ATUAÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NA PARADA
CARDIORRESPIRATÓRIA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: UMA
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Maria Lais Silveira Mascarenhas*
Renata Luzia de Lima Costa*
RESUMO: A Parada cardiorrespiratória (PCR) pode ser definida como a cessação abrupta da
função mecânica cardíaca, ocorrendo, consequentemente, a parada dos outros órgãos vitais
devido à falta de oxigenação, e, por conseguinte, da respiração. A unidade de terapia intensiva
(UTI) abrange pacientes que são potencialmente graves ou com instabilidade hemodinâmica
acentuada. Devido a isso, a PCR é uma intercorrência de alto grau de complexidade e, que
ocorre com frequência na UTI. O objetivo desse levantamento bibliográfico é descrever
analiticamente a PCR na UTI: identificando o papel da enfermagem, a RCP na UTI, os
possíveis erros iatrogênicos e a importância do treinamento da equipe. Esta pesquisa
bibliográfica abordou estudos publicados nos últimos sete anos, por intermédio de buscas
sistemáticas utilizando banco de dados eletrônicos (LILACS e SciELO). Alguns resultados
apontam para a necessidade de uma abordagem rápida e precisa para reversão da PCR na
UTI. Por isso há o suporte avançado de vida, essencial para o pronto atendimento da
intercorrência. Por isso, deve-se compreender o papel da enfermagem na assistência ao
paciente critico, já que, esse é quem visualiza as possíveis intercorrências primeiramente.
Com isso, deve-se atentar para os possíveis erros iatrogênicos que eventualmente possam
acontecer. Devido a isso, evidencia-se a importância da capacitação periódica dos
profissionais atuantes nesse setor. Recomenda-se a prevenção de eventuais fatos iatrogênicos
que podem acarretar na PCR, a implementação de medidas preventivas sistematicamente, de
maneira a identificar e intervir em momentos vulneráveis no cuidado ao paciente critico,
sejam através de recursos humanos, materiais, e equipamentos.
Palavras-Chave: RCP. Parada Cardiorrespiratória. Ocorrências iatrogênicas. DEA
______________________________________
*Bacharel em Enfermagem. E-mail: [email protected]; [email protected]
Artigo apresentado a Atualiza Cursos, como requisito parcial para obtenção do título de
especialista em Enfermagem em UTI, sob a orientação do professor (a)Max José Pimenta Lima.
Salvador, 2014.
2
1 INTRODUÇÃO
A Parada cardiorrespiratória (PCR) pode ser definida como a cessação abrupta
da função mecânica cardíaca, ocorrendo, consequentemente, a parada dos outros órgãos
vitais devido à falta de oxigenação, e, por conseguinte, da respiração. Dessa forma,
danos celulares irreversíveis poderão ocorrer em pouco tempo, seguidos de danos
cerebrais graves, que não poderão ser reparados após cinco minutos à ocorrência da
PCR, constituindo-se de uma grave ameaça à vida do paciente, principalmente daqueles
em que se encontram em estado critico (MOURA et al, 2012; SARDO, DAL SASSO,
2008; REIS, SILVA, 2012; PEREIRA, ESPÍNDULA, 2013).
A PCR pode se originar de várias doenças ou ocorrências clinicas, podendo estar
relacionada a episódios de obstrução das artérias e arritmias cardíacas ou ao agravo de
diversas enfermidades (MOURA et al., 2012).
A unidade de terapia intensiva (UTI) abrange pacientes que são potencialmente
graves ou com instabilidade hemodinâmica acentuada. Devido a isso, a PCR é uma
intercorrência de alto grau de complexidade e, que ocorre com freqüência na UTI
(SILVA, PADILHA, 2001; ZANINI, NASCIMENTO, BARRA, 2006).
Um estudo realizado na unidade de cuidados intensivos do Hospital de Clínicas
de Porto Alegre mostrou que a recorrência de parada cardiorrespiratória ocorreu em 27
(19,9%) dos pacientes e foi associada a um pior prognóstico (OVALLE et al.,2005).
A PCR não representa um indicador de má qualidade da assistência, mas sim, a
gravidade na qual o paciente se encontra. A partir do momento que ocorre, a chance de
sobrevivência depende da agilidade do atendimento e a qualidade das manobras, que
influenciam na sobrevida e no prognóstico neurológico do paciente (MOURA et AL,
2012; COSTA, MAYADAHIRA, 2008; GONZALEZ et al., 2006). Devido a isso, a
atuação da enfermagem é fundamental para o atendimento da PCR, seja no
reconhecimento do desenvolvimento da PCR, através da avaliação primária sem a
necessidade da utilização de equipamentos, na tomada de decisões, agindo de forma
mais rápida (ZANINI, NASCIMENTO, BARRA, 2006; SILVA, PADILHA, 2000).
Dados estatísticos mostram que a Parada cardiorrespiratória é a principal causa
de morte nos Estados Unidos, Europa e Canadá e a sua chance de sobrevivência, após o
evento, varia de 2% a 49%, dependendo do ritmo cardíaco original e do início precoce
de reanimação (SARDO, DAL SASSO, 2008; GUIMARÃES, 2009). Devido a isso, a
3
necessidade de haver o conhecimento teórico e prático e um atendimento eficaz iniciado
o mais rápido possível, está entre os determinantes para o sucesso da Ressuscitação
Cardiopulmonar (RCP) (LIMA et al., 2009). Por isso, a corrente de sobrevivência,
criada pela American Heart Association (AHA) e as atualizações das diretrizes
realizadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR), promovem
um fórum de discussão e coordenação mundial de todos os aspectos da RCP,
publicando recomendações que visem fornecer orientações consistentes sobre
ressuscitação, promovendo a disseminação de informações para treinamento e educação
em RCP, entre outros (AHA, 2010; TIMERMAN et al., 2010).
Além disso, a reversão da PCR só será possível com um atendimento adequado,
sem falhas e ocorrências iatrogênicas no decorrer do atendimento ao paciente e/ou que
possam comprometer a recuperação do paciente. Por isso, o investimento na educação e
na capacitação adequada para os profissionais que estão diretamente ligados a
assistência, principalmente nos casos que envolvem a PCR e materiais e equipamentos
(SILVA, PADILHA, 2001; FOLLADOR, CASTILHO,2007).
O objetivo desse levantamento bibliográfico é descrever analiticamente a parada
cardiorrespiratória na Unidade de Terapia Intensiva: identificando o papel da
enfermagem, a ressuscitação cardiopulmonar na Unidade de Terapia Intensiva, os
possíveis erros iatrogênicos e a importância do treinamento da equipe.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, na qual colabora para a obtenção de
informações atuais sobre o conteúdo abordado, para o conhecimento de estudos já
existentes e aspectos discutidos por outros autores e com isso, é possível comparar os
achados relacionados ao tema (SILVA, MENEZES, 2005).
A coleta de dados foi realizada através da busca de artigos de revistas indexadas
e dissertações nas bases de dados LILACS e SciELO, por meio da Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS). Para a seleção de artigos foram utilizados o formulário básico e as
palavras chave: RCP; Parada Cardiorrespiratória; ocorrências iatrogênicas; DEA.
Inicialmente foram selecionados os trabalhos que apresentassem textos na íntegra em
português ou inglês, publicados de 2000 a 2014, com títulos ou resumos que indicavam
uma aproximação com o tema deste estudo e que foram considerados pertinentes, sendo
encontradas 41 (quarenta e uma) publicações. Destas, foram selecionados 20 (vinte).
Foram excluídos os artigos que não atendiam aos objetivos propostos pelo estudo. Além
disso, a inclusão foi limitada aos publicados a partir do ano de 2000 levando-se em
4
consideração os artigos que utilizavam os dois últimos protocolos da AHA. Além disso,
utilizou-se o Protocolo da AHA publicado em 2010.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 O PAPEL DA ENFERMAGEM NA UTI
A UTI é considerada o local ideal para o tratamento de paciente em estado grave
e que possa progredir para uma parada cardiorrespiratória, pois apresenta condições de
estrutura, presença de materiais e equipamentos necessários, além de profissionais
capacitados para uma assistência especializada (SILVA, PADILHA, 2001).
Um estudo realizado em Santa Catarina, no ano de 2006, avaliando o
conhecimento da equipe de enfermagem sobre a PCR e RCP, revelou que apenas 15,4%
doa enfermeiros e técnicos de enfermagem acertaram em relação a identificação da
PCR. Em relação aos ritmos eletrocardiográficos que definem a parada cardíaca, apenas
três enfermeiros (11,6%), com mais de 2 anos atuando em UTI, responderam de modo
correto, enquanto 69,5% dos participantes responderam conhecer somente a assistolia
(ZANINI, NASCIMENTO, BARRA, 2006). Contraditoriamente, foi visto em um
estudo realizado na unidade de cuidados intensivos do Hospital de Clínicas de Porto
Alegre que os mecanismos predominantes responsáveis pela parada cardiorrespiratória
foram fibrilação ventricular e taquicardia ventricular sem pulso, observada em 25
pacientes, totalizando 18,3% (13,1% e 5,1%, respectivamente). A assistolia foi
observada em 21 (14,4%), parada respiratória sozinho em 11,8%, e atividade elétrica
sem pulso em 11,1% dos pacientes (OVALLE et al.,2005).
Visto isso, o enfermeiro exerce um papel importante referente a prestação de
cuidado, devendo apresentar diversas habilidades, tanto praticas como teóricas, para
melhor exercer sua atuação em varias situações, ofertando ao paciente o melhor
atendimento possível ( REIS, SILVA, 2012; PEREIRA, ESPÍNDULA, 2013).
O sucesso no atendimento da PCR depende da atuação da equipe de
enfermagem, que, com sua tomada de decisão e capacidade de coordenação, pode
antecipar condutas e medidas, prevenir ou diminuir os danos aos pacientes, agindo o
mais breve possível (REIS, SILVA, 2012; SILVA, PADILHA, 2000).
Os enfermeiros possuem o potencial de serem as principais testemunhas de
eventos ocorridos no hospital, além de, através da escuta sensível, detectar sinais e
sintomas de eventos que poderão ocorrer e comprometer a saúde do individuo. São eles
5
quem mais frequentemente acionam a equipe de atendimento. Dessa forma, ele quem
avalia primeiramente o paciente, iniciando as manobras e chamando a equipe. Por isso,
ele deve estar apto para reconhecer se o paciente esta em PCR ou preste a desenvolver
uma, pois este episódio representa a mais grave emergência clinica existente (SARDO,
DAL SASSO, 2008; REIS, SILVA, 2012; SILVA, PADILHA, 2001). Todavia, a
tomada de decisão perante uma PCR, gera dificuldades desde o diagnóstico e prescrição
da assistência de enfermagem, ate a execução das tarefas referentes ao cuidado (REIS,
SILVA, 2012; SILVA, PADILHA, 2000; LIMA et al.,2009).
O atendimento eficaz a PCR exige, além de uma execução rápida e harmônica, a
ação em conjunto, como o intuito de se atuar evitando a desorganização, contribuindo
de forma eficiente ao atendimento (SILVA, PADILHA,2001; LIMA et al.,2009).
O papel do enfermeiro inclui a RCP contínua, monitorização do ritmo cardíaco e
outros sinais vitais, administração de fármacos de acordo com a orientação médica,
registro dos acontecimentos, entre outros. Todas as funções do enfermeiro devem ser
exercidas de forma organizada e interligada, e concomitantemente relacionadas ao bemestar do paciente, que devem receber atenção através das condutas físicas e emocionais,
seguindo no período posterior do procedimento, tanto com o paciente como com a
família (REIS, SILVA, 2012; ZANINI, NASCIMENTO, BARRA, 2006).
2.2 A RESSUSCITAÇÃO CARDIORRESPIRATÓRIA NA UTI
A Parada cardiorrespiratória (PCR) é uma anormalidade grave, que resulta da
cessação de todos os sinais elétricos de controle no coração (GUYTON, HALL, 2002).
Os sinais clássicos que acompanham a PCR são: a perda da consciência devido à
diminuição da circulação cerebral; os pulsos carotídeos tornam-se ausentes, assim como
os
movimentos
respiratórios.
O
diagnóstico
clínico
imediato
da
Parada
cardiorrespiratória é feito através da avaliação destes sinais clássicos, já o diagnóstico
mediato é somente possível em um ambiente que permita a monitorização cardíaca,
através do eletrocardiograma (ECG), para a identificação de arritmias fatais com
fibrilação ventricular, taquicardia ventricular e assistolia (UENISHI, 2005).
Estudos indicam que 30% das tentativas de RCP são bem sucedidas. Todavia, dos
indivíduos que sobrevivem ao procedimento, apenas 10% não apresentam sequelas
neurológicas ou apresentam graus leves e moderados de incapacidade funcional, já que,
na ausência de manobras de reanimação por volta de 5 minutos, para um adulto em
normotemia, ocorrem alterações irreversíveis dos neurônios do córtex cerebral. Por isso,
6
a avaliação do paciente não deve demorar mais que 10 segundos (PEREIRA,
ESPÍNDULA, 2013; SILVA, PADILHA, 2001; ZANINI, NASCIMENTO, BARRA,
2006).
Foi observado que, a maior proporção das pessoas apresentam a fibrilação
Ventricular (FV) e a Taquicardia Ventricular (TV) sem pulso foram os ritmos cardíacos
detectados. Porém, devido à demora do socorro, muitos casos de FV inicial podem
degenerar para a assistolia. Nota-se então que é de extrema importância a agilidade no
atendimento à vítima de PCR, podendo dobrar ou triplicar a sobrevida do indivíduo já
que a taxa de sobrevivência por FV diminui de 7 a 10% por minuto de demora se a RCP
não forem iniciadas (MAYADAHIRA, 2008; GONZALEZ et al., 2006; GONZALEZ et
al., 2009).
As manobras de reanimação isoladamente não alteram a sobrevida dos pacientes.
Porém, a pratica precoce das manobras básicas seguidas da implantação também
precoce e eficiente do suporte avançado, aumentam as chances de recuperação imediata
e de sobrevida (SILVA, PADILHA, 2001).
Um estudo realizado em cinco diferentes hospitais da região de Campinas e São
Paulo mostraram que a chegada do profissional ate o leito do paciente e a aplicação do
primeiro choque foi relativamente curto, ressaltando a importância da disponibilidade
do equipamento de desfibrilação próximo ao local de PCR (GONZALEZ et al., 2009).
Por isso, deve-se reconhecer a PCR e reunir a equipe, iniciando imediatamente
as manobras de RCP, ofertando oxigênio para o paciente e utilizando o desfibrilador
para reconhecimento do ritmo cardíaco. Se for um ritmo desfibrilável (fibrilação
ventricular e taquicardia ventricular sem pulso), realizar o choque e prosseguir com a
massagem cardíaca, observando se a retorno da vítima. Caso seja um ritmo não
desfibrilável (assistolia e atividade elétrica sem pulso), prosseguir com a massagem
cardíaca. Em ambos os casos, a partir do momento da detecção da parada cardíaca,
pode-se associar com as técnicas de RCP, a terapia medicamentosa, como a epinefrina,
amiodarona e vasopressina. Todavia, o acesso vascular, a administração de fármacos e a
colocação de via aérea avançada, embora ainda recomendados, não devem causar
interrupções significativas nas compressões torácicas, nem retardar os choques (AHA,
2010; GONZALEZ et al., 2009).
Por isso, no protocolo de 2010, houve a alteração da sequência de atendimento
de A-B-C para C-A-B, recomendando o início das compressões torácicas antes das
ventilações. Essa mudança visa um melhor resultado, já que as compressões torácicas
7
fornecem fluxo sanguíneo e dados registrados demonstram que atrasos ou interrupções
nas compressões torácicas reduzem a sobrevivência. Assim, tais atrasos ou interrupções
devem ser minimizados ao longo de toda a ressuscitação (AHA, 2010).
Além disso, a frequência de compressões por minuto, que antes eram de
“aproximadamente de 100”, hoje se alterou para “no mínimo 100” e essas compressões
devem ser localizadas no esterno do adulto, e alcançarem uma profundidade de, no
mínimo, duas polegadas ou cinco centímetros (AHA, 2010).
2.3 EVENTOS IATROGENICOS NA PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA
A UTI é uma unidade voltada ao atendimento de pacientes graves e de alto risco,
nos quais, encontram-se muitas vezes, instáveis hemodinamicamente, oscilando entre
limites estreitos de normalidade/anormalidade e onde pequenas mudanças orgânicas
podem levar a deteriorização grave na função corporal (MOURA et al, 2012; SARDO,
DAL SASSO, 2008; PEREIRA, ESPÍNDULA, 2013). Nela, qualquer evento
iatrogênico passa a ser não só indesejável, como bastante desfavorável à saúde do
paciente (SILVA, PADILHA, 2001; PADILHA, 2001).
A incidência de eventos iatrogênicos na UTI, embora investigada por alguns
pesquisadores, devido as diferentes metodologias usadas, há a dificuldade de analises
comparativas, obtendo resultados variáveis e passiveis de controvérsias (PADILHA,
2001).
O fato iatrogênico trata-se de uma situação indesejável, com caráter prejudicial
ao paciente, decorrente ou não de falha do profissional e que afeta ou possivelmente
pode interferir na segurança do paciente. É proposto atualmente, três áreas para
avaliação dos serviços de saúde, destacando-se os recursos utilizados (materiais,
equipamentos, espaço físico, entre outros), as atividades relativas a utilização desses
recursos e o resultado, avaliando as conseqüência da atividade exercida no processo
(REIS, SILVA, 2012; SILVA, PADILHA,2001; PADILHA, 2001).
Na literatura, é tido que o fato humano é o principal causador das ocorrências
iatrogênicas ou incidentes críticos. Todavia, na realidade brasileira, a questão da
estrutura, apresenta problemas consideráveis que devem ser levados em consideração,
tais como: a falta de recursos para o atendimento à saúde, as condições precárias do
espaço físico, equipamentos obsoletos, e afins (PADILHA, 2001).
Em um estudo realizado sobre ocorrências iatrogênicas durante o atendimento a
PCR em uma UTI, encontrou nos relatos da equipe de enfermagem, 176 fatores
8
iatrogênicos relacionados ao atendimento dessa intercorrência. Destes, 58,6%
envolviam falha na realização do procedimento técnico e 31,2% diziam respeito aos
recursos materiais e equipamentos. Concomitantemente achados de outros estudos
corroboram com esses resultados, já que as ocorrências iatrogênicas ocorreram em
68,8% dos casos devido a fatores humanos e 31,2% referentes a equipamentos (SILVA,
PADILHA, 2001).
Ao se observar esses dados referentes aos recursos materiais e equipamentos,
considerando a UTI como um sistema abrangente e complexo, possuindo infra estrutura
própria com recursos materiais e equipamentos adequados ao atendimento rápido e
eficiente de pacientes em estado grave, espera-se estrutura adequado para o
desenvolvimento de uma assistência segura ao doente, não sendo justificável a
existência de problemas relacionados aos equipamentos durante o atendimento à parada
cardiorrespiratória (SILVA, PADILHA, 2001; PADILHA, 2001).
Para evitar falhas, é de fundamental importância a reposição e manutenção de
matérias e equipamentos que devem ser checados no início de cada plantão e após o
atendimento, todavia, contatou-se que um terço dos serviços do estado de São Paulo,
não tinham o carrinho de emergência completo (SILVA, PADILHA, 2001).
Dentre as principais causas para a ocorrência desses eventos iatrogênicos,
destacam-se a inexperiência profissional, a falta de atenção e desconhecimento técnico cientifico da equipe multidisciplinar, a quantidade insuficiente de profissionais e
problemas de infraestrutura, incluindo-se materiais, utilizados na assistência ao paciente
critico (SILVA, PADILHA, 2001; SILVA, PADILHA, 2000).
2.4 A IMPORTÂNCIA DO TREINAMENTO NA ATUAÇÃO FRENTE A PARADA
CARDIORRESPIRATÓRIA
Devido ao fator humano ser o mais relevante para o aparecimento de ocorrências
iatrogênicas, ressaltasse a necessidade de uma capacitação adequada para os
profissionais que estão envolvidos com a assistência, principalmente ao ser referir ao
atendimento à PCR. Essa capacitação deve começar já na formação acadêmica,
realizando-se treinamentos e reciclagem de forma continua, atualização de
conhecimentos e de técnicas de acordo com a preconizada pelo AHA, bem como a
simulação de atendimentos em grupo e utilização de protocolos com informações a
serem seguidas. Por isso, diversas escolas de enfermagem englobam no seu ensino
9
aprendizagem voltada ao SBV e SAV. Todavia, a maior parte dos enfermeiros não se
sentem com capacidades efetivas para atuar em situações de emergência, principalmente
PCR
(SARDO,
DAL SASSO,
2008;
SILVA,
PADILHA,
2001;
ZANINI,
NASCIMENTO, BARRA, 2006).
Além disso, cabe ao enfermeiro e a equipe prestar o atendimento adequado aos
pacientes, ofertando ventilação e circulação artificiais até a chegada do médico. Dessa
forma, esses profissionais devem apresentar habilidades que os capacitem a prestar
adequadamente a assistência necessária (ZANINI, NASCIMENTO, BARRA, 2006).
Em um estudo realizado em Recife, em um hospital privado, foi realizada uma
avaliação do saber teórico e pratico da equipe de enfermagem sobre RCP após um
treinamento do SBV e SAV, onde os enfermeiros obtiveram 85% de acertos
(PEREIRA, ESPÍNDULA, 2013).
Identificar as dificuldades da equipe de saúde durante o atendimento à PCR é de
extrema importância na assistência de uma paciente grave, de forma que seja possível
aumento de chance de sobrevivência e qualidade de vida após a PCR. Devido a isso, as
pesquisas devem ser voltadas a situações do cotidiano, promovendo a inter-relação entre
o cuidar, o ensinamento e outras pesquisas na área de enfermagem. Essas pesquisas são
requisitos importantes para o planejamento de um treinamento em serviço. Alem disso,
observa-se que o treinamento tem proporcionado a troca de experiências entre chefias e
enfermeiros assistenciais, promovendo a troca de experiências e conhecimento
(MOURA et al, 2012; ZANINI, NASCIMENTO, BARRA, 2006; FOLLADOR,
CASTILHO, 2007).
Em um estudo realizado em um Hospital de Urgências, em Pernambuco, ao
serem questionados sobre a detecção da PCR, através da identificação dos sinais
clínicos, 10% dos enfermeiros e 84% dos técnicos de enfermagem responderam de
forma
parcialmente
correta,
sendo
a
inconsciência
não
sendo
identificada
frequentemente. Isso também foi observado na UTI de um Hospital Geral do estado de
Santa Catarina, no qual, 61,5% da equipe de enfermagem não citou inconsciência e não
sabiam a importância de se avaliar tal sinal. Apenas os enfermeiros com mais de dois
anos de atuação em UTI responderam de forma correta (MOURA et al, 2012; ZANINI,
NASCIMENTO, BARRA, 2006; LIMA et al., 2009).
Observou-se também, na UTI de um Hospital Geral do estado de Santa Catarina
,que 23,1% dos profissionais não souberam identificar clinicamente a ausência de pulso
carotídeo. Já, ao ser avaliado a conduta de enfermeiros em outros estudos, em um
10
hospital universitário, 60% solicitaram ajuda, 29% abriram vias aéreas e 47% iniciaram
ventilação (ZANINI, NASCIMENTO, BARRA, 2006; LIMA et al., 2009).
Os programas de treinamento representam um investimento em pessoal, por
parte das organizações hospitalares, necessitando de planejamento, execução e
avaliação, consumindo muitos recursos para a sua avaliação. Todavia é possível
observar uma melhora de acertos após o treinamento, como no Hospital de Urgências,
em Pernambuco, que passou de 4,1 pontos para 7,26 pontos. Em outros estudos, obtevese também essa melhora, passando de 63% de acertos para 84%. Demonstrando-se
assim que o treinamento periódico e a reciclagem são essenciais para uma atuação
eficaz da equipe (SILVA, PADILHA, 2001; ZANINI, NASCIMENTO, BARRA, 2006;
LIMA et al., 2009; FOLLADOR, CASTILHO, 2007).
3 CONCLUSÃO
Através deste estudo pode-se compreender que o atendimento na Parada
Cardiorrespiratória (PCR) demanda de agilidade, eficiência, domínio cientifico e
aptidão técnica. Ainda, faz-se necessária uma infraestrutura conforme ao que se é
preconizado pelo Ministério da Saúde, e ainda, a equipe multidisciplinar deve seguir
uma rotina de reciclagens e treinamentos organizados pela equipe da educação
continuada da instituição hospitalar, pois, como demonstrado no presente estudo, os
profissionais que apresentaram as melhores condições de realizar o atendimento em
uma PCR foram aqueles que foram atuantes na área de saúde com treinamento prévio
em suporte básico de vida.
Os eventos iatrogênicos que podem estar correlacionados ao atendimento em
uma PCR, na Unidade de Terapia Intensiva, são aqueles que podem ser decorrentes da
falta de experiência profissional da equipe, insuficiência de pessoal ou ainda déficit de
materiais e equipamentos. Reforça-se assim, a necessidade da criação de protocolos
institucionais para que os profissionais possam ser guiados em seus atendimentos, além
de programas regulares de educação continuada em PCR para a equipe multidisciplinar,
pois, a falta de conhecimento teórico-prático, pode propiciar em surgimento de
equívocos na prestação do atendimento e, como resultado, em uma fatalidade de todo
atendimento.
Para prevenir possíveis ocorrências iatrogênicas que possam ocasionar em uma
PCR a implementação de medidas preventivas dentro de um contexto sistêmico, de
11
maneira a identificar e intervir em momentos vulneráveis na prestação do cuidado ao
paciente crítico, sejam recursos humanos, materiais e equipamentos, administrativos e
técnicos, são imprescindíveis.
12
THE ROLE OF NURSING STAFF IN CARDIOPULMONARY
RESUSCITATION IN THE INTENSIVE CARE UNIT: A LITERATURE
REVIEW
ABSTRACT: Cardiac arrest (PCR) can be defined as the abrupt cessation of cardiac
mechanical function, hence occurring parade of other vital organs due to lack of
oxygen, and therefore the breath. The intensive care unit (ICU) includes patients who
are potentially serious or severe hemodynamic instability. Because of this, the PCR is a
complication of high complexity and which occurs frequently in the ICU. The aim of
this literature survey is analytically describe the PCR ICU: identifying the role of
nursing, CPR in the ICU, the possible iatrogenic errors and the importance of staff
training. This literature has addressed studies published in the last seven years, through
systematic searches using electronic databases (LILACS and SciELO). Some results
point to the need for rapid and accurate approach for successful CPR in the ICU. So
there is advanced life support, essential for emergency treatment of complications.
Therefore, one must understand the role of nursing care to critically ill patients, since
that's who visualizes the possible complications first. With this, one should be alert for
possible iatrogenic errors which might happen. Because of this, highlights the
importance of periodic training of professionals working in this sector. The prevention
of possible iatrogenic events that may cause the PCR, the implementation of preventive
measures systematically in order to identify and intervene in vulnerable moments in the
care of critically ill patients, it is recommended to be through human resources,
materials, and equipment.
Keywords: CPR. Cardiopulmonary Resuscitation. Iatrogenic occurrences. DEA
13
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