Avaliação do conhecimento sobre o diagnóstico e condutas em parada cardiorrespiratória entre os estudantes do curso de Medicina do sexto ao décimo segundo semestre da Faculdade do Sul de Santa Catarina. Fernanda Carolina Exterhötter Branco INTRODUÇÃO “A ressuscitação cardiopulmonar (RCP) é o conjunto de medidas que têm como objetivo evitar ou reverter a morte prematura de pacientes com funções respiratória e circulatória ausentes ou gravemente comprometidas”1. As novas diretrizes de reanimação cardiopulmonar cerebral da Sociedade Americana de Cardiologia (2005-2006), possuem importantes modificações objetivando simplificar os procedimentos para a realização da RCP para uma melhor atuação na prática de reanimação e o aumento da sobrevida de paciente em parada cardíaca. A relação compressão-ventilação recomendada durante a reanimação do paciente é de 30:2 para socorristas que atuam sozinhos, como também para mais de um socorrista, prestando atendimento às vítimas de todas as idades (exceto em recém nascidos), até que uma via aérea avançada seja obtida. Após a obtenção de uma via aérea segura, as compressões se tornam ininterruptas. A ênfase atual é fornecer ao paciente reanimação básica eficaz 6. Para que se tenha uma redução da mortalidade associada à parada cardiorrespiratória (PCR) em paciente de qualquer faixa etária é essencial o conhecimento e atualização quanto às recomendações das novas diretrizes da RCP, sendo de conhecimento obrigatório por todos os profissionais da área da saúde, independente de sua especialidade 2. As medidas adotadas em situações de PCR devem ser comprovadamente eficazes, assegurando vias aéreas pérvias com adequada ventilação e aplicação de compressões torácicas fortes, rápidas e com o mínimo de intervalo possível, sendo que tais medidas devem ser iniciadas no menor tempo possível6. A avaliação do paciente não deve levar mais de dez segundos3, visto que o fator tempo é de suma importância, já ausência de manobras de reanimação podem levar a alterações irreversíveis dos neurônios do córtex cerebral, devido a falta de adequada oxigenação cerebral 4. Os sinais evidentes em um paciente em PCR são 5: ausência de pulso em grande vaso, inconsciência, cianose e ausência de movimentos respiratórios. Analisando-se tais fatos, o projeto propõe a análise dos estudantes do curso de Medicina da UNISUL, em relação ao conhecimento teórico da PC e RCP entre os mesmos estudantes, visto que muitos desconhecem as modificações das novas diretrizes. OBJETIVO O objetivo do estudo é analisar o conhecimento dos estudantes de Medicina da UNISUL acerca da conduta adequada na parada cardiorrespiratória para a ressuscitação cardiorrespiratória efetiva e correlacionar o nível dos conhecimentos teóricos avaliados com o tempo decorrido desde o aprendizado desses conteúdos. METODOLOGIA Após aprovação pelo Comitê de ética em Pesquisa da Universidade do Sul de Santa Catarina e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, foi realizado um estudo exploratório com delineamento transversal baseado na coleta de dados, cujos resultados possuíram tratamento estatístico descritivo. Após exposição dos objetivos do trabalho e leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os estudantes do sexto ao décimo segundo semestre de Medicina da Faculdade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) realizaram o preenchimento de um questionário auto- aplicável, o qual foi construído de acordo com a nova diretriz da Sociedade Americana de Cardiologia (2005-2006). O questionário possui questões referentes a um indivíduo adulto, não grávida e em parada cardiorrespiratória. A população foi constituída por 177 candidatos. Optou-se pela abordagem de todos os sujeitos do universo, foram excluídos aqueles que se negarem a responder o questionário ou não tiveram condições para a entrevista e alunos que não cursaram a cadeira de Suporte Avançado da Vida, oferecida no quinto semestre do curso de Medicina da UNISUL. Foi realizada análise estatística no programa SPSS 16.0. As médias foram comparadas utilizando-se teste tStudent e ANOVA com Post-Hoc de Tukey-HSD para variação das notas entre as turmas. A coleta de dados foi realizada de março a maio de 2009. RESULTADOS O gráfico 1 demonstra a relação do conhecimento teórico sobre o diagnóstico e condutas da PCR pelos estudantes de Medicina do sexto ao décimo segundo semestre. GRÁFICO 1- Porcentagem de acertos por questão. Focalizando a primeira questão, nota-se uma assertiva de aproximadamente 60%, já que a verificação da consciência é a primeira conduta em parada cardiorrespiratória do suporte básico da vida. Foi visto que 62,7% dos estudantes acertaram ao afirmar que verificariam o pulso em uma artéria central. A seqüência de massagens e ventilações de 30:2 foi respondida por 92,7% dos entrevistados, mantendo a mesma relação quando é executada por dois socorristas, resposta de 89,2%. Após a intubação, a ventilação fornecida é de 8 a 10 por minuto, demonstrando assertiva de 64,4%. A droga utilizada via tubo traqueal é a vasopressina, com uma taxa de 82,5% de acerto. Na questão número 07 observa-se um maior índice de desconhecimento sobre os efeitos colaterais da droga adenosina, sendo que 10,2% não saberiam responder a questão. Uma porcentagem de 59,9% dos estudantes estão certos de que a fibrilação ventricular possui grande chance de sucesso na reanimação, e 76,30% possuem o conhecimento de que não deve ser feita desfibrilação em pacientes que se encontram em assistolia. Apenas 39,5% dos acadêmicos chamariam ajuda após o diagnóstico de uma parada cardiorrespiratória, e 56,5% procurariam a causa da PCR quando esta ocorresse por atividade elétrica sem pulso. Um significativo erro foi encontrado na última questão do questionário, sendo que apenas 31,6% afirmaram que a desfibrilação está inclusa no suporte básico da vida. 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 6 fase 7 fase 8 fase 9 fase 10 fase 11 fase 12 fase GRÁFICO 2 - Média das notas por fase Foi realizada uma média de notas, com pontuação de zero a dez, obtidas pelos acertos das questões do questionário aplicado. Ao compararmos o desempenho das turmas notamos que há uma diferença estatística significativa se compararmos o primeiro grupo (turmas da sexta, sétima e oitava fase) com as turmas do internato médico (nona, décima, décima primeira e décima segunda fase). Contudo, quando se realiza a análise entre as turmas do internato médico não é visto uma diferença significativa entre as médias de notas obtidas. CONCLUSÃO Com este trabalho pôde ser avaliado a capacidade dos estudantes do curso de Medicina de intervir de forma qualificada em casos de emergência onde a PCR seja a condição clínica principal. O reconhecimento e o manejo adequado em um paciente com PCR é fundamental para que se possa ter um rápido atendimento e a otimização dos pacientes em estado crítico. Há de se notar, com o decorrer do curso de Medicina, a evolução da aquisição e aprimoramento do conhecimento teórico, sendo fundamental para a atuação de forma segura e correta em casos emergenciais de parada cardíaca. Foi visto que, após o aprendizado ocorrido no quinto semestre, gradativamente os alunos esqueceram parte do que aprenderam por perda de memória. Contudo, com o início do internato médico no nono semestre, onde a prática clínica em unidades de saúde sobressai-se a teoria, produziram-se reforços (busters) que tendem a organizar o conhecimento de forma mais sistemática e permanente dentro de um contexto mais prático e operacional. Dessa forma, notou-se um ótimo desempenho nas questões propostas. De forma geral, os estudantes do curso de Medicina estão aptos, ao final do curso, em socorrer uma vítima de PCR de maneira adequada e atuar com medidas seguras e eficazes em ambiente intra e extra hospitalar. REFERÊNCIAS 01. Marcondes E, Costa FAV, Araújo JLR, Okay Y. Pediatria Básica. 9ª ed. São Paulo; 2003. 02. Feitosa-Filho GS, Feitosa GF, Guimarães HP et al – Atualização em reanimação cardiopulmonar: o que mudou com as novas diretrizes! RBTI, 2006;18:177-185. 03. SBV para provedores de saúde. Tradução: Andréa JA. American Heart Association: Fundação Interamericana do Coração. Rio de Janeiro, 2002. 04. Zanini J, Nascimento ERP, Barra DCC – Parada e reanimação cardiorrespiratória: conhecimentos da equipe de enfermagem em unidade de terapia intensiva. RBTI, 2006;18:143-147. 05. Ferez D – Reanimação Cardiorrespiratória e Cerebral, em: Yamashita AM, Takaoka F, Auler Júnior JOC et al – Anestesiologia. São Paulo, 5ª Ed, Atheneu, 2001;1095-1128. 06. Currents in emergency cardiovascular care. Highlights of the 2005 american Heart Association Guilelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Current in Emergency Cardiovascular Care 2005-2006; 16: 1-26. 07. Bergeron JD, Bizjak G, Krause GW, Baudour CL. Primeiros Socorros. 2a ed. São Paulo; 2007. 08. Maia IG. Uso de adenosina trifosfato nas taquicardias paroxísticas supraventriculares. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 1996 fev 66(2):87-8. QUESTIONÁRIO DA PESQUISA Idade: _______ anos Sexo: Masculino Feminino Semestre Letivo: ______semestre Este trabalho refere-se ao paciente adulto, não grávida e em parada cardiorrespiratória – PCR. RCP: reanimação cardiopulmonar. 1. Qual a primeira conduta no suporte básico da vida em PCR? Avaliar pulsos periféricos; Chamar emergência; Abrir vias aéreas; Verificar consciência; Não sei responder. 2. Quais são os sinais para o diagnóstico de PCR? Ausência de pulso periférico, inconsciência, cianose e ausência de movimentos respiratórios; Ausência de pulso periférico, inconsciência, eritema cutâneo e ausência de movimentos respiratórios; Ausência de pulso em grande vaso, inconsciência, cianose e ausência de movimentos respiratórios; Ausência de pulso em grande vaso, inconsciência, cianose e presença de fracos movimentos respiratórios; Não sei responder. 3. Em uma RCP, com um socorrista profissional, quantas compressões e ventilações, respectivamente, devem ser executadas: 15:2; 30:2; 15:1; 30:5; Não sei responder. 4. Em uma RCP, com dois socorristas profissionais, quantas compressões e ventilações, respectivamente, devem ser executadas: 15:2; 30:2; 15:1; 30:5; Não sei responder. 5. Após a intubação, as ventilações passam a ser realizadas em qual frequência por minuto? 8 a 10 incursões por minuto; 18 a 24 incursões por minuto; 2 a 5 incursões por minuto; Ventilações ininterruptas; Não sei responder. 6. Qual o fármaco que pode ser administrado pelo tubo traqueal? Sulfato de magnésio; Vasopressina; Procainamida; Bretílio; Não sei responder. 7. Qual é um importante efeito colateral da droga adenosina? Dor torácica; Hipotensão; Sonolência; Agitação; Não sei responder. 8. Considerando que o atendimento à parada cardíaca ocorre prontamente e é realizado de forma correta, qual a parada tem maiores chances de sucesso de reanimação? Atividade elétrica sem pulso; Assistolia; Fibrilaçao Atrial; Fibrilação Ventricular; Não sei responder. 9. No hospital ou em serviço de emergência, a primeira conduta após o diagnóstico de PCR é: Usar adrenalina venosa pelo tubo traqueal; Acesso venoso; Intubação traqueal; Chamar ajuda; Não sei responder. 10. Paciente em PCR por assistolia não responde a: Massagem cardíaca externa; Adrenalina; Desfibrilação ventricular; Atropina; Não sei responder. 11. Paciente em PCR por atividade elétrica sem pulso apresenta os melhores resultados às manobras de reanimação quando: Usa-se vasopressina; Realiza-se cardioversão elétrica; Usa-se bicarbonato de sódio; Corrigem as causas de PCR; Não sei responder. 12. Marque a alternativa errada em relação à PCR. Nem o ritmo e nem o pulso devem ser checados depois do choque, mas apenas após 2 minutos de RCP; A desfibrilação não faz parte do suporte básico da vida; A assistolia é o ritmo de PCR mais frequente em Unidades de Terapia Intensiva; A hipovolemia é a principal causa de AESP; Não sei responder.