Febre Amarela Situação Epidemiológica Atual Roberto A. Medronho Breve Histórico • Doença originária da África, dissemina-se para América, através do comércio de escravos no século XVII • Primeiro relato de epidemia → manuscrito maia de 1648 em Yucatán, México • Na Europa → primeira epidemia em 1730, na Península Ibérica → 2.200 mortes • Séc. XVIII e XIX, nos EUA → repetidas e devastadoras epidemias → navios procedentes das índias Ocidentais e do Caribe Breve Histórico • No Brasil → primeiros relatos no ano de 1685 em Pernambuco • Em 1686, Salvador também foi a ngida → 900 mortes em seis anos • No Rio de Janeiro em 1849 → primeiro relato na capital do Império → sucessivas epidemias no verão → “Ano de manga, ano de febre amarela” • Campanha de Oswaldo Cruz (1903 e 1907) → peste, febre amarela e varíola • “Revolta da Vacina” → 1904 • Última ocorrência de febre amarela urbana no Brasil → 1942 no Acre Período de transmissibilidade • Compreende dois ciclos: intrínseco (homem) e extrínseco (vetor) • A viremia humana dura, no máximo, 7 dias, e vai desde 24 a 48 horas, antes do aparecimento dos sintomas, a 3 a 5 dias, após o início da doença • No mosquito, após um repasto de sangue infectado, o vírus vai se localizar nas glândulas salivares da fêmea do mosquito, onde se multiplica depois de 8 a 12 dias de incubação. A fêmea transmite o vírus até o final de sua vida (de 6 a 8 semanas) • Período de incubação é de 3 a 6 dias após a picada • Vírus RNA • Gênero Flavivirus, Família Flaviviridae • Transmitido por: • Haemagogus / Sabethes → ciclo silvestre • Aedes → ciclo silvestre • Arbovírus: arthropod borne virus Ciclos de transmissão Haemagogus ou Sabethes Aedes aegypti Ciclo silvestre Ciclo urbano Aedes aegypti Municípios infestados por Aedes aegypti 1996 2009 1.753 municípios 4.006 municípios 2014 4.523 municípios Fonte: SVS População sob risco estimada em 1990 (A) e em 2085 (B) Hales L et al., Potential effect of population and climate changes on global distribution of dengue fever: an empirical model. Lancet; 360: 830–34, 2002. Controle do vetor em Singapura Ooi EE, Goh KT, Gubler DJ. 2006. Dengue prevention and 35 years of vector control in Singapore. Emerging infectious diseases 12: 887–93. Manifestações Clínicas • Desde infecções subclínicas e/ou leves até formas graves, fatais • Quadro típico tem evolução bifásica: período de infecção e de intoxicação • Início abrupto de febre alta e pulso lento (sinal de Faget), calafrios, cefaleia, mialgias, prostração, náuseas, vômitos (dura cerca de 3 dias) • Após, ocorre remissão da febre e melhora dos sintomas (dura algumas horas até 2 dias) • Evolui para cura ou forma grave Manifestações Clínicas • Forma grave (período de intoxicação): aumento da febre, diarreia e reaparecimento dos vômitos (borra de café) • Insuficiência hepática e renal, icterícia, manifestações hemorrágicas (hematêmese, melena, epistaxe, hematúria, etc), oligúria, albuminúria, prostração intensa • Comprometimento do sensório, obnubilação mental, torpor, coma Períodos da doença Viremia – (pico 2o. ou 3o. dia) Febre, calafrios Cefaléia, mialgia Dor lombar Hepatomegalia Dor abdominal Infecção 3 a 4 dias Tempo de duração da doença – 15 a 20 dias Períodos da doença Período afebril Remissão 48 horas Tempo de duração da doença – 15 a 20 dias Períodos da doença Surgem os anticorpos Desaparece a viremia Volta a febre Icterícia se instala Insuficiência renal aguda Manifestações hemorrágicas Coma, choque, óbito Intoxicação 7 a 10 dias Tempo de duração da doença – 15 a 20 dias Espectro clínico Vasconcelos, Pedro Fernando da Costa. (2003). Febre amarela. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 36(2), 275-293. https://dx.doi.org/10.1590/S0037-86822003000200012 Fluxograma de arbovirose Infec N Sint Sint Serv Saúde Diag Notif N Serv Saúde N Diag N Notif Série histórica de casos de FA silvestre e taxa de letalidade, 1982--2006, Brasil 1982 Casos Taxa de letalidade (%) Anos Material cedido pela SVS/MS Sinais e sintomas dos casos confirmados, 2008* * Dados até 11/07/2008 Material cedido pela SVS/MS Jornal “Correio Braziliense”: 17/12/07 a 15/2/2008 • 19 manchetes de capa (28/12 - 24/1) • 15 notícias em dias seguidos • Algumas colocaram sob suspeita o pronunciamento Ministerial e documentos oficiais • A mensagem assusta a população • Corrida aos postos de vacinação • Uso inadvertido de vacina mesmo em área sem risco Material cedido pela SVS/MS Componentes da Vigilância da Febre Amarela Vigilância de casos humanos Vigilância de coberturas vacinais Vigilância de epizootia de primatas não humanos Vigilância entomológica Informação, Educação e Comunicação Material cedido pela SVS/MS Febre Amarela • Reunião com comitê de especialistas 13 de Fevereiro de 2017 - Casos de Febre Amarela e Epizootias no Brasil: 2016/2017 - Vigilância Epidemiológica: - A definição de caso suspeito está adequada? O único caso confirmado no Rio não preenchia os critérios. - Que outras mudanças no processo de vigilância devem ser efetivadas em curto prazo? - Vacinação no estado do Rio de Janeiro: bloqueio e viajantes - Esta é uma estratégia adequada? - A área de bloqueio deve ser ampliada? - Em municípios maiores (>50.000 hab.), a área de bloqueio deve “poupar” a região urbana? - A decisão de vacinar somente de 9m a 60 anos, excluindo gestantes, nutrizes, HIV e outras causas de imunossupressão está adequada? - Vigilância de Epizootias - 1 macaco morto ou doente = epizootia. - Recomendações para manuseio do animal morto ou doente, especificando os EPI recomendados. - Que outras recomendações para a vigilância de epizootias - Avaliação de risco: Febre Amarela de transmissão silvestre e urbana - Risco de introdução no estado do Rio de Janeiro da Febre Amarela - Transmissão Silvestre x Urbana Situação da Febre Amarela no Brasil No período de 1980 a 2004, foram confirmados 662 casos de febre amarela silvestre, com ocorrência de 339 óbitos, representando uma taxa de letalidade de 51% no período. 1993 – 83 casos 1999 – 76 Casos 2008 – 46 casos 2009 – 47 casos 2016 – 7 casos Casos notificados de 1/12/2016 a 26/01/2017 Casos notificados de 1/12/2016 a 02/02/2017 Casos notificados de 1/12/2016 a 08/02/2017 Casos notificados de 1/12/2016 a 10/02/2017 Até 27 de janeiro de 2017 foram notificadas ao Ministério da Saúde 276 epizootias em Primatas Não Humanos (PNH), envolvendo a morte de 796 animais, das quais 92 foram confirmadas para febre amarela Até 02 de fevereiro de 2017 foram notificadas ao Ministério da Saúde 412 epizootias em Primatas Não Humanos (PNH), envolvendo a morte de 1.202 animais, das quais 259 foram confirmadas para febre amarela Até 10 de fevereiro de 2017 foram notificadas 638 epizootias em Primatas Não Humanos (PNH), envolvendo a morte de 1.538 animais, das quais 341 foram confirmadas para febre amarela Vigilância Epidemiológica Os casos devem ser notificados à Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro em, no máximo, 24 horas, através do e-mail [email protected] ou do plantão CIEVS - (21) 98596-6553. Formulário eletrônico Definição de Caso Suspeito Nota Técnica Febre Amarela 001/2017 - Recomendações para intensificação da Vigilância da Febre Amarela no Estado do Rio de Janeiro Ampliado para todos os municípios que fazem fronteira com MG Vacinação contra Febre Amarela 1) Público alvo Pessoas de 9 meses a 60 anos, residentes nos municípios e localidades definidas como prioritárias. 1) Contraindicações para vacinação (específica para esta vacinação de bloqueio) I. Pessoas com alergia a algum componente da vacina e alergia a ovos e derivados; II. Doença febril aguda, com comprometimento do estado geral de saúde. III. Doenças que levam a alterações no sistema de defesa nascidas com a pessoa ou adquiridas, incluindo as terapias, como quimioterapia e doses elevadas de corticosteroides; IV. Indivíduos com Lúpus Eritematoso Sistêmico ou com outras doenças de etiologia potencialmente autoimune V. Pacientes que tenham desencadeado doença neurológica de natureza desmielinizante (SGB, ADEM e esclerose múltipla) no período de seis semanas após a aplicação de dose anterior da VFA. VI. Pacientes transplantados de células tronco hematopoiéticas (medula óssea) VII. Histórico de doença do timo, incluindo a miastenia grave, timoma (câncer no timo) ou remoção do timo; VIII.Indivíduos portadores do HIV. IX. Crianças menores de 6 meses de idade. Nesta campanha não serão vacinadas crianças menores de 9 meses. X. Gestantes XI. Nutrizes Doses de vacina contra FA distribuídas, por município do ERJ, 2006 - 2016 400000 Nº doses 94 Nº municípios 350000 92 90 250000 88 200000 86 150000 84 100000 82 50000 0 80 2006 2007 Fonte: SES-RJ 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Nº Municípios Nº Doses 300000 Ampliação da Área de Bloqueio Vacinal Vigilância de Epizootias - Vigilância passiva de epizootias (observação e notificação de mortos ou doentes) – 1 caso = epizootia - Estruturação de equipes para auxiliar as unidades de conservação ambiental na busca por animais mortos ou doentes. - Notificação em até 24h - Definição de locais de referência para armazenamento do animal (ou amostra) até o encaminhamento ao laboratório (LACEN ou IJV). “The future of humanity and microbes likely will unfold as episodes of a suspense thriller that could be titled 1 Our Wits Versus Their Genes” 1Lederberg, J. 2000. Infectious History. Science 288:287–93. Muito obrigado! Sede da Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil Tráfego aéreo diário de passageiros no mundo Milhares Centenas Dezenas Hufnagel L, Brockmann D, Geisel T. Forecast and control of epidemics in a globalized world. Proc Natl Acad Sci USA 2004; 101: 15124–29.