Alim. Nutr., Araraquara v. 22, n. 1, p. 55-61, jan./mar. 2011 ISSN 0103-4235 ISSN 2179-4448 on line ANÁLISE DE SÓDIO EM PREPARAÇÕES HABITUALMENTE CONSUMIDAS EM RESTAURANTES SELF SERVICE Mônica Glória Neumann SPINELLI * Luciane Mie KAWASHIMA* Elizabeth Mieko EGASHIRA* RESUMO: A demanda de refeições fora dos domicílios tem sido atendida, em grande parte, por restaurantes do tipo self service. Estes, apesar de atenderem bem, não apresentam preocupações quanto às questões nutricionais, principalmente em relação ao sódio, proporcionado por inúmeros condimentos e pelo sal, que tornam a refeição mais saborosa. Este estudo objetivou analisar os valores de sódio nas preparações de arroz, feijão e carne oferecidas em 15 restaurantes comerciais tipo self service no município de Mogi das Cruzes – SP. Para a determinação de sódio foi utilizado o método de fotometria de chama através da emissão atômica. A amplitude de variação de sódio presente em 100g de arroz branco foi de 75mg a 487mg, com média de 121,6(106,7) mg; no feijão carioca a variação foi de 96mg a 543mg, com média de 346,6(124,5)mg, ao passo que, na carne, foi de 258mg a 1114mg, apresentando média de 552,6(238,3)mg. A média da quantidade de sódio presente, utilizando-se o porcionamento do Guia Alimentar, excedeu em 25% a quantidade máxima de sódio recomendada para uma única refeição apenas com os três alimentos estudados. Nos locais avaliados, os cardápios mostraram concentrações elevadas de sódio na maior parte dos alimentos, com grandes variações entre os restaurantes, evidenciando a necessidade de criação de receituário padrão para a área de restaurantes comerciais. PALAVRAS CHAVE: Sódio; restaurantes comerciais; self service; análises. INTRODUÇÃO As práticas alimentares são socialmente construídas tornando o ato de comer em uma ação praticada pelo homem cotidianamente, um exercício que implica em riscos e confiança, com diferentes significados para o indivíduo e para a sociedade. 17, 22 A crescente urbanização e industrialização, com a consequente absorção da mulher no mercado de trabalho, provocaram alterações no modo de vida e, principalmente, nos hábitos alimentares da sociedade. Essas mudanças fizeram com que a oferta de alimentos semiprontos para o con- sumo e a expansão de serviços que comercializam refeições prontas se tornassem opções cada vez mais adotadas pela praticidade e pelo custo relativamente baixo. 14,18 No Brasil, a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 15 de 2008/2009 revelou que as famílias brasileiras estão gastando bem mais com a alimentação fora de casa do que gastavam em 2002/2003. O percentual dessas despesas cresceu de 24,1% para 31,1% nesse período e o maior percentual de gastos com alimentação fora do domicílio ocorreu na região sudeste (37,2%), representando quase um quarto dos gastos das famílias. A ABERC3 (Associação das Empresas de Refeições Coletivas) estimou, para o ano de 2010, 19 milhões de refeições feitas fora do domicílio. Para atender a essa demanda, que exige uma forma de alimentação mais rápida e econômica, criaram-se há alguns anos restaurantes comerciais do tipo self service, com uma refeição geralmente variada e a um custo acessível. Atualmente, existem dois tipos de restaurantes self service ou autosserviço: aquele em que o preço é fixo e aquele denominado “por quilo” ou “por peso”, no qual o que se consome é pago por peso. Em ambos, a alimentação fica disposta em balcões quentes e frios e o cliente escolhe o que vai consumir. 16,19 Embora esses restaurantes sejam responsáveis pela alimentação de um contingente expressivo de pessoas, poucos são os estudos realizados no intuito de se conhecerem as preferências de escolha, o porcionamento dos diferentes alimentos e a adequação nutricional dos cardápios. Abreu & Torres1 observaram que os pratos mais consumidos em restaurantes self service por peso foram: arroz, nas mais variadas formas de preparação, feijão e carnes em geral. Para Proença, 22 os restaurantes de autosserviço aparecem como uma oposição à tendência de desestruturação de refeições, observada em todo mundo, e combinam os princípios de grandes cadeias alimentares de refeições rápidas com a forma de apresentação tradicional. Embora nesta modalidade de serviço o prato a ser consumido tenha a aparência da refeição familiar, no processo de escolha e montagem o indivíduo é confrontado com uma variedade de opções muito mais ampla do que na doméstica. 16 * Curso de Nutrição – Universidade de Mogi das Cruzes – Campus I – 08780-911 – Mogi das Cruzes – SP – Brasil. E-mail: [email protected]. 55 SPINELLI, M. G. N.; KAWASHIMA, L. M.; EGASHIRA, E. M. Análise de sódio em preparações habitualmente consumidas em restaurantes self service. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 1, p. 55-61, jan./mar. 2011. Nos restaurantes do tipo self service, que não têm a exigência legal de contar com um responsável técnico nutricionista, as refeições são elaboradas de forma a agradar ao paladar e contentar o cliente sem a preocupação de possibilitar uma seleção de alimentos equilibrada e saudável, uma vez que se trata de um investimento empresarial destinado a produzir retorno financeiro. Nestes, a tarefa de elaborar receitas e cardápios normalmente é delegada ao cozinheiro, 19 que, para obter um maior incremento no sabor dos alimentos, utiliza sal de mesa, diversos tipos de temperos - como shoyu (molho de soja), molho inglês, temperos prontos para saladas e caldos de carne, legumes e galinha - além de produtos amaciantes de carnes, todos com alto teor de sódio. 22 Em países industrializados, cerca de 75% do sódio consumido origina-se de alimentos processados e de alimentos consumidos fora do domicílio. Nos Estados Unidos, várias preparações servidas em restaurantes contêm mais de 2,3g de sódio, o que equivale ao limite superior tolerável da ingestão diária adotada pelo país. 29 Embora exista o consenso de que o consumo excessivo de alimentos com alto teor de sódio possa acarretar doenças renais e cardíacas, além de elevar a pressão arterial - quadros que melhoram com a diminuição do sódio 29 - grande parcela da população brasileira consome sal em excesso. 26 Estima-se que o consumo médio diário da população brasileira seja de 9,6g de sal por pessoa, ou seja, o dobro do recomendado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (5g por dia ou 2g de sódio). 7,29 A utilização de métodos de avaliação do consumo alimentar está sujeita a uma série de erros, tais como a falha nos relatos (ou registros) e tabelas de composição de alimentos incompletas ou inexatas. Com relação à avaliação do consumo de sódio, as fontes de erro se ampliam pela dificuldade de se calcular a quantidade de sal adicionada ao preparo de alimentos e o sal adicionado ao alimento pronto (sal de mesa). Inclui-se, também, a variação na proporção de sal retido após o preparo dos alimentos, a quantidade de sal não consumida (sobras e restos), a variação do conteúdo de sal nos alimentos processados e a concentração de sódio no abastecimento da água local. 13,29 Considerando o exposto e a lacuna de estudos nessa área, este trabalho teve o objetivo de analisar o conteúdo de sódio em preparações habitualmente consumidas em restaurantes comerciais tipo self service. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal em que, no período de setembro de 2005 a maio de 2006, foi analisado o conteúdo de sódio em amostras de arroz polido branco cozido, feijão da variedade carioca cozido e prato de carne bovina (bife), servidos em quinze restaurantes comerciais do tipo self service, estabelecidos na região central da cidade de Mogi das Cruzes, SP. 56 Os restaurantes foram escolhidos por conveniência, a partir da aceitação dos responsáveis pelo estabelecimento em participarem da pesquisa e, consequentemente, permitirem a coleta dos alimentos. Os alimentos foram definidos por fazerem parte do cardápio de todos os restaurantes participantes do estudo e por serem integrantes da dieta padrão brasileira. 15,25 As amostras foram coletadas apenas uma vez em cada restaurante, sendo armazenadas em sacos plásticos apropriados e mantidas a -18oC até o momento da determinação de sódio. Optou-se pela determinação da quantidade do nutriente em 100g de alimento pronto, uma vez que não foi identificado o padrão médio de consumo pela impossibilidade de pesagem dos alimentos servidos. Desta forma, foram utilizadas, para discussão dos resultados, as porções referenciadas pelo Guia Alimentar para a População Brasileira7 de 125g para arroz branco cozido, 86g para feijão cozido e 90g para carne (considerado um bife médio). Como os restaurantes self service funcionam predominantemente no almoço, estimou-se para os valores de sódio a referência do Programa de Alimentação do Trabalhador, 8 que corresponde de 30 a 40% das necessidades diárias recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, 29 ou seja, de 720 a 960mg/refeição. Para a determinação de sódio, foi utilizado o método de fotometria de chama através da emissão atômica AOAC. 4 A análise quantitativa das amostras mineralizadas foi feita seguindo a sistemática clássica. Questões Éticas Para atender aos princípios éticos, os responsáveis pelos estabelecimentos comerciais, ao serem convidados a participar da pesquisa, foram esclarecidos quanto aos objetivos do trabalho e receberam a garantia do anonimato do estabelecimento e do retorno dos resultados encontrados. RESULTADOS As concentrações de sódio encontradas nos restaurantes estudados, em 100g de preparações de arroz, feijão e carne bovina, encontram-se, respectivamente, nas Figuras 1,2 e 3. Observa-se, na Figura 1, uma variação muito grande em relação ao conteúdo de sódio presente em 100g de arroz. A média foi de 321,6 (106,7)mg e a quantidade máxima encontrada no restaurante “L” foi superior em cerca de 6,5 vezes em relação ao menor valor (restaurante “C”). O valor médio de sódio presente no feijão foi de 346,6 (124,5)mg. Observa-se na Figura 2, assim como no arroz, uma grande variabilidade. No restaurante “G” o conteúdo de sódio foi cerca de 5,5 vezes maior do que no restaurante “F” (menor valor). A quantidade de sódio presente na carne (100g) é superior à das preparações de arroz e feijão. A média de sódio na carne bovina foi de 552,6(238,3)mg. Analisando o SPINELLI, M. G. N.; KAWASHIMA, L. M.; EGASHIRA, E. M. Análise de sódio em preparações habitualmente consumidas em restaurantes self service. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 1, p. 55-61, jan./mar. 2011. FIGURA 1 – Concentração de sódio (mg) em 100g de arroz branco polido cozido, Mogi das Cruzes, 2006. FIGURA 2 – Concentração de sódio (mg) em 100g de feijão carioca cozido, Mogi das Cruzes, 2006. FIGURA 3 – Concentração de sódio (mg) em 100g de carne bovina (bife), Mogi das Cruzes, 2006. 57 SPINELLI, M. G. N.; KAWASHIMA, L. M.; EGASHIRA, E. M. Análise de sódio em preparações habitualmente consumidas em restaurantes self service. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 1, p. 55-61, jan./mar. 2011. conteúdo de sódio nas três preparações separadamente, observa-se que o restaurante “L” apresentou valores máximos encontrados no arroz e na carne, ao passo que, no feijão, o conteúdo de sódio ficou próximo da média. Considerando as porções de arroz (125g), feijão (86g) e carne (90g), recomendadas para um adulto, somente em três restaurantes (20%) a quantidade de sódio foi inferior a 960mg (recomendação máxima para uma refeição). DISCUSSÃO Este estudo selecionou três preparações (arroz, feijão e carne bovina) por serem as habitualmente consumidas pela população brasileira. Segundo estudo de Barbosa, 5 realizado em 10 cidades brasileiras com mais de 1 milhão de habitantes, 94% dos participantes declararam consumir arroz e feijão acompanhados de algum tipo de carne. O consumo de arroz e feijão não sofreu alterações quando analisado segundo classes de renda (90%), apenas o feijão sofreu pequena redução na classe de renda superior (85,7%) e a carne foi citada por cerca de 70% dos entrevistados, não apresentando grandes variações entre os segmentos de renda pesquisados. Observa-se (Figura 1) uma discrepância entre as quantidades de sódio nas porções de 100g de arroz; porém, na média, encontrou-se resultado semelhante ao de Botelho et al., 6 que foi de 361,9mg de sódio (variando de 3,7 a 574,1mg em 100g de alimento pronto). Um dos principais motivos provavelmente seja a falta de padronização das quantidades de sal utilizadas e o pouco controle exercido sobre o acréscimo de sal por ser um item de baixo custo. Levanta-se a hipótese, também, da utilização de caldos concentrados e de temperos prontos para o preparo desse alimento. Segundo Proença et al., 22 o sódio é um nutriente essencial, porém não se costuma trabalhar com parâmetros de avaliação de sua quantidade na comida, tornando-se definido a critério do cozinheiro, de acordo com o próprio paladar. Possivelmente, o arroz com 75mg de sódio na porção de 100g (650% menos do que a amostra com maior teor de sódio) apresentasse uma quantidade de sal suficiente para o seu público, uma vez que o restaurante comercial procura adequar as receitas ao paladar dos seus clientes, pois depende da sua fidelização para a garantia do sucesso do negócio. Situação semelhante ocorreu com o feijão (Figura 2), possivelmente porque é prática comum dos cozinheiros de restaurantes temperarem o feijão com bacon e temperos prontos, produtos com alto teor de sódio, além de não utilizarem quantidade padronizada de sal, como observado rotineiramente pelos autores deste estudo. Botelho et. al. 6 relatam uma média de 338,2mg de Na em 100g de feijão, resultado muito próximo ao encontrado no presente estudo. A quantidade de sódio observada no arroz e feijão é sempre decorrente do modo de preparo, uma vez que esses alimentos in natura possuem quantidades mínimas desse nutriente em sua composição. Salas & Spinelli, 23 em estudo realizado em uma Unidade de Alimentação e Nutrição no município de Suzano, SP, também reportaram uma variação nas quantidades de sódio em porção de 100g de alimento cozido de 253 a 739mg no arroz e de 279 a 681mg no feijão. Assim como nos restaurantes, as tabelas de composição de alimentos apresentam informações muito variadas quanto aos valores de sódio no alimento preparado. Enquanto a Tabela TACO20 refere 1mg de sódio para arroz e 2mg para feijão/100g de alimento cozido, pois desconsidera o sal de adição, a Tabela de Composição de Alimen- FIGURA 4 – Valores de sódio (mg) na somatória das porções de 125g de arroz branco cozido, 86g de feijão carioca cozido e 90g de carne, comparados à recomendação máxima do nutriente para uma refeição (960mg) de acordo com o PAT, Mogi das Cruzes, 2006. 58 SPINELLI, M. G. N.; KAWASHIMA, L. M.; EGASHIRA, E. M. Análise de sódio em preparações habitualmente consumidas em restaurantes self service. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 1, p. 55-61, jan./mar. 2011. tos: suporte para uma decisão nutricional21 cita 276mg e 191mg, respectivamente, devido à forma de preparo, que não é informada. Nos restaurantes, essas variações ocorrem, em parte, por falta da padronização de receituários e até mesmo pela utilização de receituários inadequados para a orientação dos cozinheiros. Observou-se que algumas publicações técnicas da área quando descrevem suas receitas padronizadas limitam-se a utilizar a abreviatura q.s.(quantidade suficiente) para o sal, 11,19 ou, quando referem a quantidade desse ingrediente, citam valores muito acima das recomendações, 30 evidenciando um desconhecimento dos riscos atribuídos ao excesso de sódio. Como pode ser verificado na Figura 4, se considerados os três alimentos utilizados no porcionamento citado pelo Guia Alimentar, 7 12 dos 15 restaurantes avaliados ultrapassam a recomendação do PAT8 para sódio, em uma única refeição (720 a 960mg), e 27% desses estabelecimentos ultrapassam 60% das necessidades diárias. Segundo Proença et al., 22 o acompanhamento e a orientação da equipe de cozinha na produção de alimentos são fundamentais para uma refeição saudável, haja vista que a escolha saudável por si só não garante a qualidade da refeição se não houver cuidado durante o preparo. Se consideradas as médias de porcionamento para restaurantes self service (preço fixo) descritas por Abreu et al., 2 150g de arroz branco cozido, 110g de feijão (50% caldo) e 200g de carne sem osso, a contribuição de sódio destes alimentos seria de 82% das necessidades diárias. Analisando-se o Restaurante C, pode-se constatar que, apesar de apresentar a menor quantia de sódio no arroz (75mg), quando somada aos valores das outras preparações, apresentou uma quantidade total similar aos demais restaurantes, sugerindo que a menor quantidade possa ter ocorrido ao acaso e não por uma política de restrição de uso de sal. O Restaurante L foi o que apresentou maior quantidade de sódio no prato cárneo servido (1114mg). Neste, o consumo de um pedaço médio (90g) já forneceria 1003mg do nutriente, ou seja, 42% das necessidades diárias e praticamente 105% da recomendação máxima para o almoço com uma única preparação. Assim como nos outros alimentos pesquisados, a variação das quantidades de sódio pode ser decorrente da adição não padronizada do sal, da utilização de amaciante para a carne e de condimentos industrializados, que aumentam sobremaneira a dosagem de sódio. Como pode ser observado na Figura 4, uma única refeição realizada no mesmo Restaurante L forneceria 1876mg de sódio somente com as porções de arroz, feijão e carne, quantia esta que representa quase 80% da recomendação diária para pessoas normais, o que, ao longo do tempo, poderia acarretar uma série de consequências negativas aos frequentadores. Este restaurante se destacou em relação à quantidade de sódio nas preparações analisadas; no entanto, observou-se que os demais restaurantes, apesar de apresentarem valores mais baixos, também forneceram concentrações de sódio relevantes. Níveis altos de sódio em uma única refeição também foram observados por Salas et al., 24 que relataram teores de sódio entre 6280 e 7950mg, em análise das refeições consumidas por trabalhadores de uma empresa do município de Suzano, e por Fausto et al.,12 que apontaram teores de 6190 à 8940mg. A hipertensão arterial pode ser observada em comunidades com alta ingestão de sal, independente da associação com outros fatores de risco como alcoolismo e obesidade, o que evidencia a necessidade da recomendação de redução das quantidades de sal para a população, 9,10,29 já que a redução do consumo de sal/sódio é reconhecida e recomendada mundialmente pelas organizações de saúde como uma estratégia efetiva na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis. 28 Um estudo abrangente de meta -análise desenvolvido para o Fórum e Reunião Técnica da OMS, 29 realizada em 2006, concluiu que existe uma relação custo-benefício muito favorável em uma estratégia nacional de redução do sódio. Os restaurantes “por peso”, apesar de serem categorizados dentre os comerciais, apresentam características próprias que os diferenciam dos demais. O perfil do usuário desses restaurantes, segundo o SEBRAE do Espírito Santo, 27 é o de trabalhadores de empresas públicas e privadas (pessoas de classe média e baixa), estudantes, executivos e famílias, que trabalham, residem ou estudam nas proximidades. Para Magnée, 19 o cliente do restaurante self service é constituído principalmente por pessoas que residem, trabalham ou estudam nas imediações, formando um público cativo. Essa condição torna o cliente mais sujeito às influências da alimentação sobre o seu estado nutricional, uma vez que a frequência é contínua, o que permite inferir que os restaurantes estudados possam representar risco de saúde para os usuários. Apesar da impossibilidade de analisar todos os alimentos que constituíram a refeição e de medir as quantidades consumidas, levanta-se a hipótese de que o acesso a uma alimentação saudável do ponto de vista desse nutriente seja restrito nos restaurantes estudados, pois uma refeição completa é constituída de outras preparações como guarnição, salada, sobremesa, suco e/ou refrigerante que podem conter, além do sal, outros ingredientes com elevadas quantidades de sódio. Assim, sugere-se que estudos mais completos sejam realizados a fim de preencher essa lacuna no conhecimento. CONCLUSÕES As evidências, que relacionam o consumo excessivo de sódio com o maior risco de desenvolver enfermidades crônicas, são suficientemente sólidas para justificar a redução do teor de sal nas preparações dos restaurantes estudados, uma vez que a média de sódio presente nas três preparações (arroz, feijão e carne) ultrapassam em 25% o limite máximo recomendado de ingestão para uma única refeição. 59 SPINELLI, M. G. N.; KAWASHIMA, L. M.; EGASHIRA, E. M. Análise de sódio em preparações habitualmente consumidas em restaurantes self service. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 1, p. 55-61, jan./mar. 2011. Houve grande variação das quantidades de sódio nos alimentos estudados, evidenciando a necessidade de criação de receituário técnico padrão para a área de produção de refeições comerciais, que, juntamente com a capacitação e a supervisão dos funcionários, garantem a qualidade dos processos, propiciando uma alimentação mais saudável para o consumidor. Para o setor de restaurantes comerciais as estratégias para a redução do consumo de sal devem incluir a revisão/ reformulação de receitas com a diminuição gradativa do teor de sal nas preparações, a eliminação do sal de mesa e a realização de campanhas de informação e conscientização do consumidor com relação ao uso excessivo de sal. Recomendam-se estudos similares com maior número de estabelecimentos, considerando suas especificidades, e a inclusão de outras preparações para analisar o conteúdo de sódio nas preparações oferecidas em restaurantes comerciais. Como já relatado, existem poucas publicações nessa área, que carece de informações necessárias para subsidiar políticas públicas visando à redução do consumo de sal pela população. SPINELLI, M. G. N.; KAWASHIMA, L. M.; EGASHIRA, E. M. Sodium analysis in foods normally consumed on self service restaurants. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 1, p. 55-61, jan./mar. 2011. ABSTRACT: Self service restaurants represent a good alternative for meals outside home. Despite the concern of quality, nutritional adequacy isn’t the aim of these restaurants, especially with sodium, provided by a lot of spices and salt which increases the taste in food. Therefore, this study aimed to analyze the contents of sodium and its contribution in prepared rice, beans and meat, consumed in 15 commercial self service restaurants in the city of Mogi das Cruzes - SP. For sodium determination it was used the method of flame photometry by atomic emission. The amount of sodium per 100g of prepared food ranged in rice from 75mg to 487mg ( mean 321.6mg, sd 106.7mg), in baked beans from 96mg to 543mg (mean 346.6mg, sd 124.5mg), in meats from 258mg to 1114mg (mean 552.6mg, sd 238.3mg). In this research, the menus showed high concentration of sodium in all foods. There was great variation in the amounts of sodium in the studied foods, suggesting the need to establish standards for the area of commercial restaurants. Regarding recommendations, the average amount of sodium, using the portioning Food Guide exceeds 25% the amount of sodium recommended for a single meal, only with the three foods studied. KEYWORDS: analysis. Sodium; restaurants; self service; REFERÊNCIAS 1. ABREU, E. S.; TORRES, E. Restaurante por quilo : vale quanto pesa? Uma avaliação do padrão alimentar em restaurantes em São Paulo, SP. Nutrire (SBAN), São Paulo, v. 25, p. 19-34, 2003. 60 2. ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; PINTO, A. M. S. Gestão de unidades de alimentação e nutrição: um modo de fazer. 3. ed. São Paulo: Metha, 2009. 342 p. 3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE REFEIÇÕES COLETIVAS. Mercado real. Disponível em: http://www.aberc.com.br. Acesso em: 28 mar. 2010. 4. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY. Official methods of analysis. 14th ed. 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