SIMULADOR PARA TREINAMENTO DA HEMOSTASIA CIRÚRGICA SIMULATOR USED TO TEACHING SURGICAL HEMOSTASIS João Moreira da Costa Neto1, Rui Carlos Alves de Lima2; Emanoel Ferreira Martins Filho3; Deusdete Conceição Gomes Junior3; Vinicius Jesus Moraes4; Rodrigo Lima Carneiro4; Diana Mello Teixeira5; Joelma de Jesus Silva5 RESUMO O presente trabalho teve como objetivo apresentar um simulador aplicado ao ensino da Técnica Cirúrgica Veterinária – Hemostasia cirúrgica, bem como avaliar sua eficácia tendo-se como público alvo acadêmicos da disciplina supracitada. Concluiu-se que o simulador como método alternativo, apresentou excelente grau de aceitação. Mimetizou o frêmito de um vaso sanguíneo de um animal vivo, promovendo assim o adequado suporte para o treinamento de técnicas hemostáticas, colaborando com o desenvolvimento de habilidades cirúrgicas ao tempo que auxiliou na sedimentação do conhecimento. Palavras chave: métodos alternativos, cirurgia, ensino, Medicina Veterinária. ABSTRACT This study aimed to present a simulator applied to the teaching of Veterinary Surgical Technique Surgical Hemostasis and evaluate their effectiveness as academic discipline target above. It was concluded that the simulator as an alternative method, presented an excellent degree of acceptance. Mimicked the sound of a blood vessel of a living animal, thus promoting the proper support for the training of hemostatic techniques, collaborating with the development of surgical skills that helped fixation of knowledge. Key words: alternatives, surgery, education, veterinary medicine. A hemostasia cirúrgica é considerada uma das etapas mais cruciais da cirurgia, uma vez que visa prevenir a perda sanguínea e suas consequências. Sua prática, além de conhecimento, requer considerável competência psicomotora. O treinamento de técnicas hemostáticas em equipamentos que mimetizem hemorragia possibilita que os alunos desenvolvam suas habilidades sem o estresse relacionado à presença de sangue, proporcionando assim a autoconfiança necessária para que a hemostasia definitiva seja feita com segurança em um procedimento cirúrgico real (SMEAK, 2011). Neste sentido, Olsen e colaboradores (1996) compararam a eficácia no aprendizado através de dois métodos de ensino, onde um método utilizava o animal vivo e o outro utilizava um simulador. Concluíram que o método alternativo proporciona aos estudantes a autoconfiança necessária para que a hemostasia definitiva seja realizada com segurança em um procedimento cirúrgico real. O Pulsantile Organ Perfusion (P.O.P), modelo de ensino de vídeo cirurgia, permite simular técnicas cirúrgicas em orgãos, mediante a perfusão de um líquido semelhante a sangue, mantidos num sistema fechado com pressão controlada eletronicamente, mimetizando a circulação sanguínea semelhante a um orgão fisiologicamente ativo. Este artefato, além de permitir a execução de vários tipos de cirurgias, possibilita a execução de procedimentos de hemostasia (GREIF e TRÉZ, 2000). Inspirado no sistema P.O.P., foi idealizado um simulador para desenvolvimento das habilidades em técnicas de hemostasia cirúrgica. Para a construção deste simulador utilizou-se os seguintes materiais: i. 01 recipiente plástico (5 litros); ii. 01 válvula de pé de ¼ de pol.; iii.1,5 mt de tubo de náilon ¼ de pol.; iv. 02 mt de mangueira de látex de 5 mm; v. 01 bomba peristáltica P-60, mod. ADB-307 de dois roletes, com 1 Médico Veterinário – Professor Departamento Patologia e Clínicas – EMVZ – UFBA. Av. Adhemar de Barros, 500 - Ondina - Salvador/Bahia, CEP: 40170-110. Email: [email protected] 2 Médico Veterinário 3 Médico Veterinário – Programa de Pós-Graduação Cirurgia Veterinária – FCAV –UNESP. 4 Médico (a) Veterinário (a) – Programa de Pós-Graduação Ciência Animal nos Trópicos – EMVZ –UFBA. 5 Bolsista de Iniciação Científica – EMVZ – UFBA Apoio: Procad NF08/CAPES regulagem de vazão de 0 a 7,4l/h; vi. 01 válvula de três vias; vii. 01 válvula de alívio de pressão, fabricada em inos, acionada por mola; viii. 30 cm de tubo de aço inox de 1/8 de polegada; ix. 01 manômetro com escala graduada em mmHg; x. 04 conexões tipo “T” de 3/16 de polegada, de náilon; xi. 01 caixa plástica de 34 cm x 22 cm x 14 cm; xii. 03 espumas de 34 cm X 22 cm, de 15 mm de espessura, densidade 33; xiii. 01 pacote de bexigas de látex tipo canudo de 8 mm; xiv. 3,5 litros de água e xvi. 20 ml de anilina vermelha. O recipiente plástico (1) foi utilizado como tanque de armazenamento da solução mimetizadora do sangue, composta pela mistura da água com a anilina vermelha. A válvula de pé foi conectada a 60 cm de tubo de náilon de 1/4 (4) e este conectado à sucção da bomba peristáltica (3). À descarga da bomba peristáltica também foi conectado 60 cm de do tubo de náilon (5) e na outra extremidade do tubo, uma conexão “T” de náilon (6) para a divisão do fluxo. Em uma das variantes do fluxo foi instalada a válvula de três vias (7) para possibilitar a instalação do sistema de controle de pressão composto pelo manômetro (8) e pela válvula de alívio de pressão (9). Na outra variante, uma mangueira de látex interliga outra conexão tipo “T” (6.1) que divide o fluxo, levando-o para os mimetizadores de tecido animal, construídos a partir da sobreposição de 3 placas de espuma em caixa plástica. Em cada um dos mimetizadores está instalada uma nova conexão tipo “T” (6.2 e 6.3) que novamente dividem o fluxo direcionando-o para as bexigas tipo canudo (12) que são inseridas entre as placas de expuma e mimetizam os vasos sanguíneos. Entre as mangueiras de látex e as bexigas foram instalados 5 cm de tubo de náilon (11) para melhorar a fixação das bexigas sem a necessidade de braçadeiras para fixa-las (Fig. 1). Figura 1 – Esquema do simulador para treinamento de hemostasia cirúrgica O equipamento funciona a partir do acionamento da bomba peristáltica que suga o líquido contido no recipiente de armazenamento e a partir daí estabelece um fluxo para o preenchimento do sistema de descarga. A pressão é mantida através do acionamento da válvula de alívio e indicada através do manômetro. Uma vez aberto o sistema, com o extravasamento do líquido, se estabelece um fluxo pulsátil, promovido pela bomba peristáltica que mimetiza o frêmito de um vaso sanguíneo de um animal vivo. Sua avaliação foi feita junto à disciplina de Técnica Cirúrgica Veterinária envolvendo um total de 60 acadêmicos. Após a finalização do conteúdo teórico sobre o tema “Hemostasia cirúrgica” ministrou-se aula prática com 04 horas de duração para 02 turmas de 30 acadêmicos, empregando-se o equipamento. Quatro alunos, em 2 duplas, representando as funções de cirurgião e auxiliar, devidamente acompanhados pelo professor, iniciaram o treinamento. O mesmo teve início pela técnica de ligadura sobre pinças em superfície, quando foi utilizada a extremidade da bexiga de látex exposta sobre a espuma para mimetizar o vaso sangrante. Finalizada a primeira etapa, deu-se início as manobras para obliteração de vasos sanguíneos em profundidade. Uma incisão na espuma foi feita transversalmente ao sentido da bexiga de látex, expondo o corpo da mesma, “o vaso sanguíneo” foi visualizado e duplamente pinçado pela colocação de duas pinças hemostáticas, seu corpo foi seccionado entre as pinças e em seguida procedeu-se a confecção de ligadura em profundidade. Os 2 procedimentos foram realizados tanto pelo auxiliar como pelo cirurgião, que alternaram suas funções. Concluído o treino, as bexigas de látex foram trocadas e novas turmas de alunos realizaram o treino. Após a conclusão do treinamento, os alunos foram solicitados a preencher um questionário com relação as suas experiências no tocante a temática “métodos alternativos” e sua satisfação com relação ao uso do equipamento em teste. As variáveis qualitativas coletadas foram encaminhadas para o tratamento estatístico descritivo onde foram analisados os índices de aceitação e rejeição do método proposto. Corroborando com estudos de Olsen e colaboradores (1996), os quais também avaliaram o efeito pedagógico de um modelo experimental de hemostasia comparativamente a vivissecção, foi observado que durante o uso do simulador, a reação comportamental gerada pelo extravasamento do "sangue artificial” pode ser considerada similar ao observado durante uma hemorragia em uma situação real. Em virtude do artefato não risco de vida para o paciente, as técnicas hemostáticas realizadas no simulador podem ser devidamente exercitadas pelo acadêmico até que o mesmo tenha a autoconfiança e o conhecimento necessários para executar com segurança as mesmas manobras em um procedimento cirúrgico real. O acadêmico no período de treinamento puderam desenvolver tanto manobras de responsabilidade do cirurgião, como aquelas inerentes ao auxiliar. A manipulação correta de instrumentos cirúrgicos, a confecção de diversos tipos de ligaduras e nós cirúrgicos e principalmente, o sincronismo de ações entre membros da equipe cirúrgica podem ser empreendidos repetidas vezes, até a total destreza das técnicas exercitadas. Caso ocorresse erro na elaboração da ligadura, a evidencia do extravasamento de sangue artificial permitiria que o executor repetisse a manobra até o perfeito domínio da técnica. No âmbito educacional, a metodologia empregada para o desenvolvimento da aula prática mostrou-se satisfatório, pois permitiu que os 60 acadêmicos executassem repetidamente o treinamento sem prejudicar a dinâmica da aula. A aplicação desta metodologia permitiu transmitir em adequado período de tempo, informações necessárias para satisfatória formação profissional, maximizando, assim o aprendizado, situação esta observada nos estudos de Buyukmihci (2007). Quando analisado no aspecto funcional verificou-se que 96,67% dos alunos concordaram que o simulador é adequado ao proposito educacional e, além disso, que permitiu a simulação da situação problema com realismo. Concluiu-se que o simulador como método alternativo, obeteve excelente grau de aceitação. Mimetizou o frêmito de um vaso sanguíneo de um animal vivo, promovendo assim o adequado suporte para o treinamento de técnicas hemostáticas, colaborando com o desenvolvimento de habilidades cirúrgicas ao tempo que auxilia na sedimentação do conhecimento. REFERÊNCIAS BUYUKMIHCI, N.C. Non-violence in surgical training. Revista de Eletrônica de Veterinária, v.8, n.12, 2007. GREIF, S. & TRÉZ, T. A verdadeira face da experimentaçao animal: sua saúde em perigo. SOCIEDADE EDUCACIONAL FALA BICHO,2000 OLSEN, D.; BAUER, M.S.; SEIM, H.B.; SALMAN, M.D. Evaluation of a hemostasis model for teaching basic surgical skills. Veterinary Surgery, 1996. 25(1), p.49-58. SMEAK D. D. Ethical surgical training for students of veterinary medicine In .JUKES, N.; CHIUIA, M. From Guinea Pig to Computer Mouse: Alternative Methods for Progressive, Humane Education, 2nd Ed. Leicester, UK: InterNICHE, 2003. Disponível em: http: <//www.1rnet.org/literatura/smeak.htm>. Acessado em 09 mai. 2011. 3