do PDF - Sociedade Brasileira de Reumatologia

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ABR / MAI / JUN 2011 • No 2 • ANO XXXV
Remodelando o futuro
Artrite Psoriásica
Recomendado pelo grupo GRAPPA*
para todos os quadros e
comorbidades de AP 9
*GRAPPA: Group for Research and Assessment of Psoriasis and Psoriatic Arthritis
Artrite Reumatoide
REMICADE interrompe a progressão da doença1-4
- resposta rápida5-7
- reduz a progressão radiográfica1,2
- possibilita remissão sem uso de medicação3,4,8
Espondilite Anquilosante
REMICADE promove:
- redução nas crises de uveíte anterior em
comparação ao etanercepte10
- redução significativa nas crises de doença inflamatória
intestinal em comparação aos outros agentes anti-TNF11
- melhora significativa e sustentada por até 5 anos na
atividade da doença axial, mobilidade e função12
Referências bibliográficas: 1. St Clair EW, van der Heijde DM, Smolen JS, Maini RN, Bathon JM, Emery P, et al.; Active-Controlled Study of Patients Receiving Infliximab for the Treatment of Rheumatoid
Arthritis of Early Onset Study Group. Combination of infliximab and methotrexate therapy for early rheumatoid arthritis: a randomized, controlled trial. Arthritis Rheum. 2004;50(11):3432-43. 2. Smolen JS,
Van Der Heijde DM, St Clair EW, Emery P, Bathon JM, Keystone E, et al.; Active-Controlled Study of Patients Receiving Infliximab for the Treatment of Rheumatoid Arthritis of Early Onset (ASPIRE) Study Group.
Predictors of joint damage in patients with early rheumatoid arthritis treated with high-dose methotrexate with or without concomitant infliximab: results from the ASPIRE trial. Arthritis Rheum. 2006;54(3):70210. 3. Van der Kooij, et al. Remission induction in early rheumatoid arthritis with initial infliximab and methotrexate therapy: 4-year follow-up data of the disease course after infliximab discontinuation in the best trial. Ann
Rheum Dis 2007;66(Suppl II):192. 4. Van Der Kooij S, et al. Drug-free remission, functioning and radiographic damage after 4 years of response-driven treatment in patients with recent onset rheumatoid arthritis. Ann
Rheum Dis. 2009; 68:914-921. 5. Maini R, St Clair EW, Breedveld F, Furst D, Kalden J, Weisman M, et al. Infliximab (chimeric anti-tumour necrosis factor alpha monoclonal antibody) versus placebo in rheumatoid arthritis
patients receiving concomitant methotrexate: a randomised phase III trial. ATTRACT Study Group. Lancet. 1999 Dec 4;354(9194):1932-9. 6. St Clair EW, Wagner CL, Fasanmade AA, Wang B, Schaible T, Kavanaugh A,
Keystone EC. The relationship of serum infliximab concentrations to clinical improvement in rheumatoid arthritis: results from ATTRACT, a multicenter, randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Arthritis Rheum. 2002
Jun;46(6):1451-9. 7. Maini RN, Breedveld FC, Kalden JR, Smolen JS, Furst D, Weisman MH, et al.; Anti-Tumor Necrosis Factor Trial in Rheumatoid Arthritis with Concomitant Therapy Study Group. Sustained improvement
over two years in physical function, structural damage, and signs and symptoms among patients with rheumatoid arthritis treated with infliximab and methotrexate. Arthritis Rheum. 2004;50(4):1051-65. 8. Van Der Kooij
SM, et al. Remission induction in early rheumatoid arthritis (RA) with initial infliximab (IFX) and methotrexate (MTX) therapy: The disease course after IFX discontinuation in the best trial. Arthritis Rheum. 2006; 54(9,Suppl):
S302-3. 9. Ritchlin CT, Kavanaugh A, Gladman DD, Mease PJ, Helliwell P, Boehncke WH, de Vlam K, Fiorentino D, Fitzgerald O, Gottlieb AB, McHugh N, Nash PT, Qureshi A, Soriano ER, Taylor WJ. Treatment recommendations
for psoriatic arthritis. Ann Rheum Dis. 2009; 68: 387-1394. 10. Braun J, Baraliakos X, Listing J, Sieper J. Decrease incidence of anterior uveitis in patients with ankylosing spondylitis treated with the anti-tumor necrosis
factor agents infliximab and etanercept. Arthritis Rheum. 2005;52:2447-51. 11. Kontoyiannis D, Pasparakis M, Pizarro TT, Cominelli F, Kollias G. Impaired on/off regulation of TNF biosynthesis in mice lacking TNF AU-rich
elements: implications for joint and gut-associated immunipathologies. Immunity. 1999;10:387-98. 12. Braun J, et al. Persistent clinical efficacy and safety of anti-tumour necrosis factor alpha therapy with infliximab in
patients with ankylosing spondylitis over 5 years: evidence for different types of response. Ann Rheum Dis. 2008;67(3):340-5.
REMICADE® (infliximabe 100 mg). INDICAÇÕES: Artrite Reumatoide: redução de sinais e sintomas; prevenção de lesão articular estrutural e melhora do desempenho físico em pacientes com doença ativa já tratados com
metotrexato e em pacientes com doença ativa moderada a grave ainda não tratados com metotrexato (tratamento de 1ª linha). Espondilite Anquilosante: redução dos sinais e sintomas; melhora da função física em pacientes
com doença ativa. Doença de Crohn em pacientes adultos e pediátricos (6 a 17 anos de idade): redução de sinais e sintomas; indução e manutenção da remissão clínica; indução da cicatrização da mucosa e melhora da
qualidade de vida de pacientes com Doença de Crohn ativa moderada a grave, com resposta inadequada às terapias convencionais. REMICADE® permite a redução ou suspensão do uso de corticosteroides pelos pacientes.
Doença de Crohn fistulizante: redução no número de fístulas enterocutâneas com drenagem e fístula retovaginal; manutenção da cicatrização da fístula; redução dos sinais e sintomas; melhora a qualidade de vida em
pacientes com Doença de Crohn fistulizante. Artrite Psoriásica: redução dos sinais e sintomas dos pacientes com artrite psoriásica ativa e progressiva que tiveram resposta inadequada às drogas modificadoras da doença
(DMARDs); melhora da função física; redução da psoríase medida por PASI e inibição da progressão da lesão estrutural da artrite ativa. Psoríase: redução dos sinais e sintomas da psoríase e melhora da qualidade de vida
em pacientes com psoríase de moderada a grave, em que a fototerapia ou tratamento sistêmico convencional for inadequado ou impróprio. Colite ou Retocolite ulcerativa: redução dos sinais e sintomas; indução e
manutenção da remissão clínica; indução da cicatrização da mucosa; redução ou descontinuação do uso de corticosteroides; redução da hospitalização e melhora na qualidade de vida de pacientes com colite ou retocolite
ulcerativa ativa moderada a grave, com resposta inadequada aos tratamentos convencionais. CONTRAINDICAÇÕES: Pacientes com hipersensibilidade conhecida a qualquer componente do produto ou a proteínas murinas;
infecções graves, como tuberculose, sepse, abcessos e infecções oportunistas; insuficiência cardíaca moderada ou grave. PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS: REMICADE® pode estar associado a efeitos agudos de infusão
e reação de hipersensibilidade tardia. Os pacientes recebendo REMICADE® devem ser observados durante, pelo menos, 1 a 2 horas após a infusão. Se ocorrerem reações agudas, a infusão deverá ser interrompida
imediatamente. Alguns desses efeitos podem ser descritos como anafilaxia. Medicamentos, equipamentos para suporte respiratório e outros materiais apropriados para o tratamento destes efeitos devem estar disponíveis
para uso imediato. Em alguns pacientes podem se desenvolver anticorpos contra o infliximabe (associado com um aumento na frequência de reações à infusão) e provocar reações alérgicas graves. Em pacientes com
Doença de Crohn, uma associação entre o desenvolvimento de anticorpos contra infliximabe e redução da duração da resposta também foi observada. Pacientes que não estão recebendo imunossupressores durante o
tratamento com REMICADE® têm maior risco potencial para desenvolvimento desses anticorpos e aumento na frequência de reações infusionais. Se ocorrerem reações graves deve ser introduzido tratamento sintomático
e não deverão ser administradas infusões de REMICADE® posteriormente. Um número significativo de pacientes (25% em um único ensaio clínico) tratados inicialmente com REMICADE® que abandonaram o tratamento
por um período de 2 a 4 anos apresentaram reação de hipersensibilidade tardia ao serem retratados. Os sinais e sintomas incluíram mialgia e/ou artralgia com febre e/ou erupção cutânea, no período de 12 dias após o
novo tratamento. Alguns pacientes também apresentaram prurido, edema facial, edema de mãos ou lábios, disfagia, urticária, dor de garganta e/ou cefaleia. Os pacientes devem procurar atendimento médico imediato se
apresentarem qualquer evento adverso tardio após as infusões com REMICADE®. Pacientes com infecção crônica ou com histórico de infecção recorrente não devem iniciar tratamento com REMICADE® até que os sinais
de infecção sejam totalmente excluídos e deverá ser interrompido se o paciente desenvolver infecção grave ou sepse. Como a eliminação de REMICADE® pode levar até 6 meses, é importante o acompanhamento cuidadoso
do paciente nesse período. Infecções oportunistas, incluindo tuberculose e outras como sepse, têm sido relatadas em pacientes tratados com infliximabe. Os agentes que inibem o TNFa têm sido associados a casos raros
de neurite ótica, convulsões e início ou exacerbação dos sintomas clínicos e/ou evidência radiográfica de doenças desmielinizantes, incluindo esclerose múltipla. Pacientes que serão submetidos a cirurgia durante o
tratamento com REMICADE® devem ser cuidadosamente monitorados quanto à ocorrência de infecções. REMICADE® deve ser usado com precaução em pacientes com insuficiência cardíaca leve. Se o paciente desenvolver
sintomas sugestivos de síndrome tipo lúpus e for positivo para anticorpos anti-DNA dupla-hélice, o tratamento com REMICADE® deverá ser descontinuado. Pacientes com Doença de Crohn ou artrite reumatoide,
particularmente com a doença altamente ativa e/ou exposição à terapia imunossupressora crônica, podem ter maior risco de desenvolvimento de linfoma do que a população geral. O papel potencial da terapia de bloqueador
com TNF no desenvolvimento de malignidades não é conhecido. Gravidez e lactação: Não se sabe se REMICADE® pode provocar comprometimento fetal quando administrado a gestantes ou se afeta a capacidade
reprodutiva, nem se é excretado no leite materno. Recomenda-se que as medidas contraceptivas sejam mantidas durante pelo menos 6 meses após sua última infusão e em nutrizes a interrupção do tratamento com
REMICADE® por seis meses deve ser avaliada e decidida pelo médico. Pacientes idosos: Não foram observadas diferenças importantes na farmacocinética de REMICADE® em pacientes idosos (65 a 80 anos) com artrite
reumatoide. A farmacocinética em pacientes idosos com Doença de Crohn não foi estudada. Não foram realizados estudos em pacientes com doença hepática ou renal. Pacientes pediátricos: Não houve diferenças
relevantes na farmacocinética de dose única entre os pacientes pediátricos e adultos com Doença de Crohn. REMICADE® não foi estudado em crianças com Doença de Crohn com menos de 6 anos de idade. A segurança
e eficácia de REMICADE® em pacientes com artrite reumatoide juvenil não foram estabelecidas. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: Em pacientes com Doença de Crohn e artrite reumatoide foi demonstrado que a
formação de anticorpos contra o infliximabe é reduzida quando administrado concomitantemente ao metotrexato ou outros imunomoduladores. REAÇÕES ADVERSAS: As reações adversas mais comumente relatadas
referem-se à infusão. As causas mais comuns para a interrupção do tratamento foram: dispneia, urticária e cefaleia. Outras reações adversas, sendo a maioria de intensidade leve a moderada, foram: rubor, cefaleia, vertigem/
tontura, náuseas, diarreia, dor abdominal, dispepsia, função hepática alterada, infecções de vias aéreas superiores e inferiores, dispneia, sinusite, infecção viral, febre, erupção cutânea, prurido, urticária, aumento da sudorese,
pele seca, dor torácica, transaminases hepáticas elevadas e reações do tipo doença do soro. Os eventos adversos sérios mais comuns nos relatos pós-comercialização foram as infecções. Em geral, os eventos adversos
ocorridos em pacientes pediátricos que receberam REMICADE® foram similares em frequência e tipo àqueles observados em adultos com doença de Crohn. POSOLOGIA: REMICADE® destina-se ao uso intravenoso em
adultos (idade ≥ 18 anos) para todas as indicações presentes na bula e em crianças e adolescentes (com idade entre 6 e 17 anos) somente para a Doença de Crohn. O tratamento com REMICADE® deve ser administrado
sob supervisão de equipe especializada no diagnóstico e tratamento de artrite reumatoide, espondilite anquilosante, doenças inflamatórias intestinais, artrite psoriática e psoríase. Artrite reumatoide: Infusão intravenosa de 3
mg/kg durante um período de 2 horas, nas semanas 0, 2 e 6 e, a partir de então, a cada 8 semanas. A dose pode ser ajustada, a critério médico, para até 10 mg/kg ou 3mg/kg a cada 4 semanas, se necessário.
Recomenda-se a administração de REMICADE® em combinação com o metotrexato. Doença de Crohn moderada a grave adulto e pediátrico, Doença de Crohn fistulizante, Espondilite anquilosante, Artrite Psoriásica e
Psoríase: Infusão intravenosa de 5 mg/kg, por um período mínimo de 2 horas, nas semanas 0, 2 e 6, e, a partir de então, em intervalos de até 8 semanas. Doença de Crohn moderada a grave: Nos pacientes com resposta
incompleta durante o tratamento de manutenção, deve-se considerar, a critério médico, o ajuste da dose para até 10 mg/kg, se necessário. Existem dados limitados em relação a intervalos de dose superiores a 16 semanas.
Doença de Crohn fistulizante: Se o paciente não responder após as três primeiras doses não se deve instituir tratamento adicional com infliximabe. A experiência com readministração em caso de reaparecimento de sinais
e sintomas da doença é limitada e não há dados comparativos a respeito do risco/benefício das estratégias alternativas para o tratamento continuado. Na artrite reumatoide, Doença de Crohn e colite ou retocolite ulcerativa,
a dose pode ser aumentada, a critério médico, para até 10 mg/kg, se necessário. Para readministração consulte a bula completa do produto. MS 1.6614.0004. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. A
PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. Recorra à bula do produto para maiores informações. Distribuição exclusiva à classe médica. (MB-rem15)
Dentre as informações citadas em bula, ressaltamos que este medicamento é contraindicado para pacientes com histórico de infecção grave, incluindo tuberculose, assim como a interação medicamentosa com a
combinação de infliximabe e anacinra.
Nota: antes de prescrever, recomendamos a leitura da Circular aos Médicos (bula) completa, para informações detalhadas sobre o produto.
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IMPRESSO EM JANEIRO/2011
1/19/11 6:21 PM
Editorial
“A dor passa. Mas a beleza permanece.”
Pierre-Auguste Renoir (1841-1919)
M
edicina, derivada do latim ars medicina, significa a arte da cura. No entanto,
o conceito de arte ligado a essa área do conhecimento vai muito além da capacidade de cura de uma doença. Nem sempre somos capazes de curar, especialmente em Reumatologia, mas sempre podemos melhorar, ajudar, dar uma palavra de consolo, ouvir, estimular, orientar e aliviar a dor. É nessas atitudes positivas na saúde e na vida
de outro ser humano que reside a beleza da arte médica: o conhecimento técnico aliado à
prática humanizada no trato com o paciente. Não basta conhecer a doença – é fundamental conhecer o doente. Aquele que concilia as duas funções adequadamente é o verdadeiro
artista. E é com esse pensamento que entregamos a segunda edição do Boletim da SBR
deste ano, trazendo essas importantes reflexões em duas matérias de destaque: a arte do
pintor Renoir, que, afetado drasticamente em suas capacidades físicas pela artrite
reumatoide, foi um exemplo de superação das adversidades da vida; e a beleza da relação
médico-paciente refletida na obra de grandes artistas, retratada na seção Ética.
Boa leitura a todos!...
Edgard Reis, Diogo Domiciano e Francinne Ribeiro
Marcelo Pinheiro e Kaline Medeiros
SOCIEDADE
BRASILEIRA DE
REUMATOLOGIA
Presidente
Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro – RJ
Tesoureiro
Reno Martins Coelho – RJ
Secretária-geral
Blanca Elena Rios Gomes Bica – RJ
Vice-tesoureiro
Manoel Barros Bértolo – SP
Primeira-secretária
Claúdia Goldenstein Schainberg – SP
Diretor científico
Luis Eduardo Coelho Andrade – SP
Segundo-secretário
Francisco José Fernandes Vieira – CE
Presidente eleito
Walber Pinto Vieira – CE
Boletim da Sociedade Brasileira de Reumatologia
Av. Brig. Luís Antônio, 2.466, conjuntos 93 e 94
01402-000 – São Paulo – SP
Tel.: (11) 3289-7165 / 3266-3986
www.reumatologia.com.br
Coordenação editorial
Marcelo de Medeiros Pinheiro
Kaline Medeiros Costa Pereira
Conselho editorial
Diogo Souza Domiciano
Edgard Torres dos Reis Neto
Francinne Machado Ribeiro
@ [email protected]
Jornalista responsável
Solange Arruda (Mtb 45.848)
Layout
Sergio Brito
Impressão
Sistema Gráfico SJS
Tiragem: 2.000 exemplares
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
Representantes junto à Panlar
Fernando Neubarth – RS
Maria Amazile Ferreira Toscano – SC
Representantes junto ao Ministério da Saúde
Ana Patrícia de Paula – DF
Mário Soares Ferreira – DF
Representantes junto à AMB
Eduardo de Souza Meirelles – SP
Gustavo de Paiva Costa – DF
ÍNDICE
Diretoria Executiva da SBR – Biênio 2010-2012
Índice
4
5
6
10
12
14
17
18
21
23
Primeira fila
Ética
Pesquisa
Matéria de capa
Baluartes da Reumatologia
O melhor do Brasil
Reconhecimento
Notas
Meu consultório
Além da Reumatologia
3
O que nossos colegas andam estudando
Primeira fila
Pesquisa clínica
Níveis séricos de 25-hidroxivitamina D3
e sua associação com parâmetros clínicos e
laboratoriais em pacientes com LES*
Thiago Sotero Fragoso1
Andréa Tavares Dantas1
Cláudia Diniz Lopes Marques2
José Humberto de Lima Neto3
Veridiana Sales Barbosa de Souza3
Aline Jurema Gesteira Costa4
Ângela Luzia Branco Pinto Duarte5
Introdução
O papel imunorregulatório da vitamina D tem se destacado nos últimos anos, tornando-a alvo de um número
crescente de estudos em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES).
Objetivos
Determinar os níveis séricos de 25-hidroxivitamina D3 (25(OH)D) em pacientes com LES atendidos no Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE) e verificar a associação da insuficiência/deficiência de 25(OH)D com parâmetros clínicos e laboratoriais.
Métodos
Trata-se de um estudo de corte transversal, prospectivo, desenvolvido no período de abril de 2009 a março de
2010, no Ambulatório de Lúpus Eritematoso Sistêmico do Serviço de Reumatologia do HC-UFPE. A amostra
foi obtida por conveniência, com a inclusão de 78 pacientes com diagnóstico de LES e de 64 voluntários –
grupo controle –, pareados por sexo e idade.
Resultados
A pesquisa observou insuficiência/deficiência de 25(OH)D em 45/78 (57,7%) pacientes com LES e em 25/
64 (39%) pessoas do grupo de comparação. Os níveis séricos médios de 25(OH)D foram 29,3 ng/mL (de 6,1
a 55,2 ng/mL), nos indivíduos com lúpus, e 33,12 ng/mL (de 15,9 a 63,8 ng/mL), nos controles, tendo sido
essa diferença significante (p=0,041). Já entre as médias de idade dos dois grupos não ocorreu diferença
significativa. Da mesma forma, não se encontrou associação significante entre insuficiência/deficiência de
25(OH)D e fatores como tempo de diagnóstico, atividade de doença (Sledai>6), fadiga, uso de glicocorticoides
e antimaláricos e presença de anti-DNA.
Conclusões
O estudo constatou uma alta prevalência de insuficiência/deficiência de 25(OH)D nos pacientes com LES
(57,7%), que não apenas apresentaram níveis séricos mais baixos da vitamina, como também significativamente menores do que no grupo controle. Por outro lado, não foi verificada associação da insuficiência/
deficiência de 25(OH)D com as variáveis clínicas e laboratoriais estudadas. Os autores enfatizam a importância da determinação dos níveis séricos de 25(OH)D em todos os pacientes com LES, independentemente do
tempo de diagnóstico da doença.
(*) Estudo feito com o financiamento e apoio da Fundação de Amparo à Ciência e à Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe).
1
2
3
4
5
4
Alunos de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFPE.
Reumatologista, doutora em Saúde Pública e tutora da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS/IMIP).
Biomédicos e alunos de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da UFPE.
Aluna da Graduação em Medicina da FPS/IMIP.
Professora titular e chefe do Serviço de Reumatologia do HC-UFPE.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
Ética
Arte e emoção na relação médico-paciente
Na história da humanidade, diversos artistas traduziram
a gratidão a seus médicos nas obras que produziram,
demonstrando que a empatia faz parte do tratamento.
José Marques Filho
A
relação médico-paciente é uma das mais complexas
dentro do espectro das relações humanas. Estudá-la requer um olhar, em largura e profundidade, suficiente para termos uma exata noção de suas diversas vertentes. Não existe
ato médico digno desse nome sem uma adequada relação médico-paciente.
A philia (amizade) é um dos conceitos éticos mais importantes na obra do mestre de Cós. Dizia que a tecnophilia (amor
à técnica) só tinha valor se houvesse antropophilia (amor ao
homem).
Pode-se traduzir o conceito de philia como um sentimento
empático, do médico, de colocar-se no lugar do doente, entendendo perfeitamente suas angústias, preocupações e medos, além de agir como um companheiro e conselheiro,
lastreado em seus conhecimentos técnicos e sempre com foco
no melhor interesse do paciente.
A ética, a medicina e as artes têm, em comum, suas origens
no mundo grego do século IV a.C., mantendo um profundo
relacionamento entre si, e mesmo atualmente, em plena era da
informática e da tecnociência, desempenham papel fundamental na eterna busca da eudaimonia de Aristóteles, ou seja, da
felicidade plena.
Na Reumatologia, a forma como o médico se relaciona com
o paciente adquire grande importância, a ponto de não ser
possível prestar uma boa assistência sem um relacionamento
adequado. O uso terapêutico dessa relação provavelmente diferencia os grandes clínicos de nossa especialidade.
Essa díade, rica em conteúdo e significado para os dois atores, aparece em praticamente todos os ramos das manifestações artísticas, mas, de modo especial, em pintores com doenças que influenciaram profundamente suas vidas e, sobretudo, suas obras.
Por ser a medicina ciência e arte, a sensibilidade de quem a
pratica pode encontrar, no artista – pessoa reconhecidamente
sensível –, características semelhantes, facilitando e potencializando a empatia, indispensável na relação terapêutica.
Médicos sobre tela
Não faltam exemplos de retratos de médicos pintados por
artistas como uma manifestação de gratidão e de reconhecimento à atenção e ao carinho da ação médica.
Vicent van Gogh deixou obras-primas para a humanidade
relacionadas aos seus tratamentos, entre elas o Retrato do Dr.
Gachet (1890) e o Retrato do Dr. Félix Rey (1889). O primeiro o tratou por cerca de três meses antes de o pintor cometer
suicídio, enquanto o segundo suturou sua orelha cortada, dois
anos antes de sua morte.
Em Gachet, em especial, Vicent encontrou não apenas um
amigo, mas um verdadeiro irmão, o que ocorreu, em parte,
por ser o médico um amante das artes, pintor amador e colecionador de telas impressionistas. Juntamente com o irmão
do pintor, Theo, Gachet permaneceu ao lado do agonizante
Van Gogh por dois dias.
Outro artista que homenageou seu médico foi Goya, pintando em óleo sobre tela Eugenio Arrieta. A obra, que mostra
o pintor aos 74 anos, é intitulada Autorretrato com o Dr. Arrieta
(1820) e evidencia a forte relação entre ambos. No autorretrato,
vê-se claramente o carinho com que Arrieta ampara o corpo
do amigo e paciente, enquanto lhe administra um medicamento por via oral.
O pintor expressionista Henri Marie Raymond de ToulouseLautrec também fez uma homenagem a seu médico, Henri
Bourges, cujo retrato se encontra no Museu de Arte de Carnegie (Pittsburgh). O artista era portador de picnodisostose, uma
afecção congênita de caráter autossômico recessivo. Além disso,
Bourges o tratou das fraturas decorrentes de sua doença e de seu
alcoolismo crônico, com vários episódios de delirium tremens.
A mitológica pintora mexicana Frida Kahlo teve, como influência marcante em sua obra, o precário estado de saúde
que carregava, incluindo uma poliomielite, aos 6 anos, e um
sério acidente automobilístico, aos 18, no qual sofreu diversas
fraturas. Foi exatamente à época de seu tratamento que Frida
começou a pintar, representando frequentemente a dor física
com a qual conviveu pelo resto de sua vida, como se pode
notar no quadro A coluna quebrada (1944).
A artista sempre foi extremamente grata a seu médico. Consta
do diário que escrevia: “Fiz sete operações da coluna. O Dr.
Farill salvou-me e restituiu-me a alegria de viver. Já comecei a
pintar um quadro para lhe dar de presente, o que faço como
prova de meu carinho por ele”. A obra recebeu o nome de
Autorretrato do Dr. Farill (1951).
A relação médico-paciente apoia-se em diversos pilares, sendo a confiança um fator fundamental para o sucesso do cuidado dispensado pelo profissional a um ser humano fragilizado
e carente. Outros fatores desse relacionamento, como a mútua admiração, podem agregar um forte componente emocional, tornando a relação ainda mais complexa, mas, seguramente, mais afetiva e acolhedora.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
5
Pesquisa
Em debate, a
aprovação da
pesquisa de novos
fármacos no Brasil
O artigo
O processo de aprovação da pesquisa de novos medicamentos
no Brasil tem suscitado críticas de cientistas e pesquisadores,
cuja manifestação refere-se sobretudo aos prazos,
considerados longos demais, para que os projetos sejam
analisados. Tais projetos são remetidos a dois órgãos
reguladores, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(Conep) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
que podem demorar três meses para dar um primeiro parecer
e outros 90 dias para uma segunda resposta, no caso de o
protocolo retornar para esclarecimentos. Uma das razões
alegadas por esses órgãos para o tempo gasto na análise é o
termo de consentimento que precisa ser assinado pelos
voluntários das pesquisas, um documento extenso e
originalmente escrito em inglês. Por fim, há questionamentos
quanto à necessidade de análise dupla, da Anvisa e da Conep,
embora ambas tenham enfoques diferentes. Um dos
pesquisadores que formalmente criticam esse processo é o
pesquisador em Reumatologia e Imunologia do Hospital
Israelita Albert Einstein, Morton Scheinberg, que elencou seus
senões em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, em
fevereiro passado, reproduzido ao lado. Esse texto trouxe
consigo a oportunidade de aprofundar a discussão,
notadamente em relação aos três aspectos aqui citados –
prazos, termo de consentimento e análise dupla –, e, para
tanto, o Boletim SBR ouviu, além do próprio Scheinberg, o
reumatologista Daniel Feldman, pesquisador da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), a coordenadora de pesquisa e
ensaios clínicos e medicamentos novos da Anvisa, Patrícia
Ferrari Andreotti, e a coordenadora da Conep, Gyselle Saddi
Tannous. Tire também suas conclusões.
Oportunidade na
pesquisa clínica
Por Morton Scheinberg
Um dos problemas que a área de pesquisa clínica com pacientes atravessa no Brasil é a morosidade na aprovação de protocolos pelos órgãos
reguladores. Isso é verdade especialmente no caso
da Conep e da Anvisa. No nosso país, a aprovação regulatória das pesquisas demora, em média,
o dobro – se não o triplo – de tempo para aprovação dos Estados Unidos, do Canadá e dos países
da União Europeia.
As implicações desse atraso vão desde impedir
o acesso a novos medicamentos para pacientes
até evitar que médicos tenham acesso a inovações
terapêuticas. Essa morosidade resulta em uma participação cada vez menor no mercado anual global, de US$ 50 bilhões.
Apesar de sermos um país com centros de
excelência, ficamos à mercê de órgãos reguladores que padecem de problemas de organização. Projetos são extraviados, pareceres são solicitados a técnicos alheios à prática médica,
etc. A própria Conep não respeita as regras impostas por ela mesma.
Quando o projeto de pesquisa inclui cooperação internacional, o desafio é ainda maior. Nesses casos, é preciso a aprovação da Anvisa, que
duplica a análise da Conep e que também não respeita os próprios prazos.
Com reportagem de Maria Teresa Marques
6
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
“
A Conep é uma comissão
encarregada de analisar os aspectos
éticos de uma pesquisa, ou seja,
como será o tratamento dado ao
voluntário em relação à dignidade
humana, aos seus direitos como
pessoa e aos cuidados fornecidos para
que ele seja devidamente esclarecido
sobre o processo ao qual vai se
submeter, enquanto a Anvisa é a
agência reguladora dos aspectos
sanitários de uma pesquisa”
Gyselle Saddi Tannous,
coordenadora da Conep
A discussão
Segundo a atual direção da Conep, o atraso
não ocorre pelos motivos anteriormente mencionados, mas pelo cuidado e pelo respeito aos voluntários, que não compreendem os termos técnicos de consentimento.
Os centros de pesquisa possuem médicos e
coordenadores capazes de explicar com detalhes
os consentimentos usados. A Conep alega também a falta de garantias de acesso ao tratamento
após o estudo e antes de sua disponibilidade
comercial. Essa decisão não cabe a um órgão regulador, mas aos médicos que cuidam do paciente, que devem avaliar se querem ou não continuar com a medicação.
Os argumentos da agência ocultam o cerne do
problema: existem falhas estruturais no processo
de aprovação dos projetos pelo órgão brasileiro
responsável pela boa condução e pelo desenvolvimento da pesquisa clínica.
O ministro Alexandre Padilha tem em suas mãos
uma oportunidade de mudar esse cenário, em que
os pesquisadores brasileiros sempre ficam para
trás. A maioria dos projetos ocorre simultaneamente em vários países e quem começa por último, como frequentemente acontece no Brasil, fica
nessa mesma posição na lista de inclusão de pacientes. Todos perdem: pacientes e pesquisadores.
É necessário fazer reformas rápidas na Conep,
tais como modernização tecnológica, descentralização dos mecanismos de avaliação, respeito
aos prazos e eliminação da análise dupla (Anvisa
e Conep). Só dessa maneira o Brasil vai avançar e
se colocar no lugar em que deveria estar no cenário da pesquisa clínica internacional.
Análise dupla
A coordenadora da Conep, Gyselle
Saddi Tannous, explica que Anvisa e
Conep são órgãos que exercem funções
bastante diferenciadas. “A Conep é uma
comissão do Conselho Nacional de Saúde (CNS) encarregada de analisar os
aspectos éticos de uma pesquisa, ou seja,
como será o tratamento dado ao voluntário em relação à dignidade humana, aos
seus direitos como pessoa e aos cuidados fornecidos para que ele seja devidamente esclarecido sobre o processo de
pesquisa ao qual vai se submeter”, enumera. Enfim, o enfoque da Conep é o de
checar as condições éticas em que se dará
a relação do pesquisador com o participante da pesquisa.
A Anvisa, prossegue ela, é uma agência reguladora dos aspectos sanitários de
uma pesquisa, responsável por verificar
se o processo está sendo conduzido de
forma a garantir a confiabilidade de seus
resultados e se os cuidados sanitários
tomados realmente impedem desvios no
protocolo. Tudo para assegurar que, ao
registrar o medicamento, os resultados
que basearam a análise sejam absolutamente confiáveis.
No entender do reumatologista Daniel
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
Feldman, da Unifesp, há razões justificáveis para essa análise dupla feita nos
projetos que envolvem cooperação do
exterior. “A Conep volta-se ao enfoque
ético e a Anvisa, ao técnico e sanitário”,
resume ele, que já esteve dos dois lados
do balcão, por ter sido, durante algum
tempo, consultor desses órgãos. O pesquisador Morton Scheinberg, que também é coordenador de pesquisas clínicas e diretor científico do Hospital
Roberto Abreu Sodré (AACD), ainda discorda dessa necessidade: “Não entendo,
já que a documentação enviada pela instituição de pesquisa é praticamente a mesma para a Anvisa e a Conep”, acentua.
7
Pesquisa
A discussão
Prazos
“
A demanda é realmente
grande e a equipe, pequena:
apenas dez funcionários para
analisar cerca de 300
protocolos por ano. E os
profissionais ainda precisam,
por vezes, deslocar-se até os
centros de pesquisa para
avaliar se o conceito de boas
práticas clínicas está presente
nos estudos realizados”
Patrícia Ferrari Andreotti,
coordenadora da Anvisa
“
“Na verdade, a estrutura
que cerca o processo de
aprovação não cresceu
como a demanda e o
resultado é a demora”
Daniel Feldman,
pesquisador da Unifesp
8
Segundo Gyselle, da Conep, o primeiro parecer é fornecido, em média, em 63
dias por essa comissão e tem um prazo,
dentro do comitê local, de 30 dias para a
análise. Ela esclarece, entretanto, que se
fala em “prazo médio” porque nem sempre os protocolos são aprovados do modo
como foram fornecidos pela instituição
de pesquisa. “Caso o projeto não seja
apresentado corretamente e receba um
parecer de pendências, esse prazo continuará sendo contado até que o pesquisador entregue toda a documentação necessária e resolva os problemas éticos
apontados pelo parecer inicial”, destaca.
Assim sendo, um protocolo devidamente construído e proposto em relação às
resoluções do CNS teria uma tramitação
de, no máximo, 90 dias. “No entanto,
como grande parte dos protocolos internacionais é formatada por indústrias que
não respondem às normas éticas brasileiras, eles necessitam ser adequados quando entram no Brasil”, assinala.
Scheinberg, porém, considera tal prazo extenso demais para um primeiro parecer sobre o material recebido da instituição de pesquisa. Para ele, há dificuldade de alguns conselheiros da Conep
para avaliar certos processos: “Às vezes,
trata-se de relatórios de cuja especificidade o conselheiro indicado não tem
conhecimento técnico suficiente”, diz.
Mas, como a equipe de conselheiros é
pequena, ele acha que isso vai continuar
acontecendo. Outro problema, para o
pesquisador, é de ordem operacional.
O conselheiro da Conep recebe o projeto pelos Correios e as reuniões do órgão
são mensais. “Dependendo do número
de protocolos, perde-se a reunião daquele mês e a análise fica para o mês seguinte”, lamenta.
A Anvisa também conta com um prazo máximo de 90 dias para emitir o pri-
meiro parecer. Contudo, se houver necessidade de dados adicionais, a agência tem outros 90 dias para fazer a exigência e o centro de pesquisa, 30 dias
para responder. Em média, são quatro
meses para finalizar a fase relativa ao
protocolo clínico. De acordo com a coordenadora de pesquisa e ensaios clínicos
e medicamentos novos da Anvisa, Patrícia Ferrari Andreotti, a média na Europa
e nos EUA é maior: de um ano a um ano
e meio. “No Japão, chega a demorar três
anos.” Ela lembra, contudo, que existe
possibilidade de solicitar prioridade “se
o medicamento novo for a única alternativa para combater uma dada doença”, frisa. Nesse caso, a agência dispõe
de 75 dias para a avaliação.
Apesar das justificativas, tanto Conep
quanto Anvisa buscam meios de abreviar
os prazos. Gyselle informa que o CNS
vem há tempos debatendo formas de
aperfeiçoamento desse sistema, que hoje
congrega 612 comitês de ética em pesquisa. ”Uma delas é a criação de comissões de ética em pesquisa de caráter nacional, localizadas regionalmente, que
funcionariam como instâncias de análise inicial e final, sem a possibilidade de
revisão”, anuncia. Outra providência visa
a dar maior rapidez à comunicação entre todos os entes envolvidos na pesquisa, o que será feito por meio de um sistema, ainda em fase de implantação, denominado Plataforma Brasil. “O sistema
auxiliará tramitações eletrônicas, diminuindo em muito os prazos de idas e
vindas de pareceres, documentos e propostas de pesquisa”, prevê Gyselle.
Scheinberg aplaude as medidas.
Patrícia sustenta que a Anvisa “trabalha o tempo todo” para diminuir prazos:
“A partir de 2008, conseguimos reduzir
de 120 dias para 90 dias”. A coordenadora, entretanto, salienta que a deman-
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
Termo de consentimento
da é realmente grande e a equipe, pequena: apenas dez funcionários para
analisar cerca de 300 protocolos por ano.
E os profissionais ainda precisam, por
vezes, deslocar-se até os centros de pesquisa para avaliar se o conceito de boas
práticas clínicas está presente nos estudos realizados.
“Na verdade, a estrutura que cerca o
processo de aprovação não cresceu como
a demanda e o resultado é a demora”,
sintetiza Feldman, da Unifesp. Ademais,
contribui para a lentidão do processo, no
entender dele, a necessidade de enviar
todos os documentos em papel aos órgãos competentes. “O fato é que, com
esses prazos dilatados, quando os projetos internacionais chegam ao Brasil, a
fase que corresponde aos testes em voluntários já foi feita e finalizada fora e
nosso país acaba não participando dessa
etapa com brasileiros”, sublinha.
A Conep e a Anvisa apontam, como
um dos grandes fatores de causa de morosidade no processo de aprovação de
novos medicamentos, o documento de
cerca de 30 páginas que é assinado pelo
voluntário envolvido nas pesquisas. Patrícia, da Anvisa, conta que a agência às
vezes verifica, em inspeções in loco, que
os pacientes assinam o documento, mas
não têm real entendimento do que leram, embora o pesquisador seja responsável por lhes dar explicações sobre benefícios e riscos do protocolo. Scheinberg discorda: “Os pesquisadores têm
todo o interesse em explicar detalhadamente os estudos que serão feitos aos
voluntários.”
Para Gyselle, da Conep, o problema
está no próprio texto. “São conteúdos
que em nada podem contribuir para o
correto esclarecimento da nossa população”, salienta. “Na verdade, trata-se
Remuneração de voluntários
saudáveis: pode?
De acordo com os pesquisadores, não é fácil achar pessoas
saudáveis, no Brasil, para participar de experimentos com uma
nova medicação. Para os especialistas, contribuiria para aumentar esse número a remuneração de tais indivíduos, o que, contudo, não acontece no País. Ocorre que os voluntários não podem
ser remunerados no Brasil e na América Latina, conforme explica a coordenadora da Anvisa, Patrícia Andreotti: “A participação
em pesquisas precisa ser feita com muito cuidado porque há o
risco de isso virar uma profissão”, justifica. Embora seja proibido
ao voluntário saudável tomar parte de mais de um estudo pelo
período de um ano, justamente em nome da segurança de sua
saúde, a agência já constatou que existem pessoas que tomam
parte de várias pesquisas por mês. Patrícia esclarece que o Brasil
permite apenas oferecer transporte e alimentação ao voluntário,
assim como remunerar os dias de trabalho perdidos.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
de traduções ao pé da letra de documentos formulados em outros países, os
quais, portanto, geram pendências que
atrasam os protocolos de pesquisa na
sua análise, pois têm de ser corrigidos”,
prossegue.
Feldman, da Unifesp, não concorda
que a tradução seja malfeita porque entende que as multinacionais dispensam
cuidados a esse aspecto. “O que acontece, e é algo que já verificamos ao longo
de nossa experiência, é que o voluntário
não lê documentos com mais de duas
páginas”, ressalta ele, esclarecendo que
a instituição de pesquisa faz tudo que
pode para explicar à pessoa os riscos e
benefícios de envolver-se nos estudos.
Diante disso, o pesquisador sugere
que, além do termo longo, que é de padrão internacional, os órgãos reguladores permitam incluir um texto reduzido
e redigido originalmente em português.
Ele cita, como exemplo, um estudo realizado pela Unifesp que continha um
pedido de aprovação de um produto fabricado no Brasil e que foi acompanhado de um termo de consentimento com
apenas duas páginas, escrito em português e aprovado tanto pela Conep quanto pela Anvisa. “Em projetos vindos de
multinacionais, o termo de 30 páginas é
obrigatório, mas poderia também ser
anexado esse documento brasileiro, menor, e ambos seriam assinados pelo voluntário”, vislumbra.
9
Capa
Renoir: talento à prova da
Apesar de ter tido uma
das formas mais graves
dessa afecção, o mestre
do impressionismo nunca
deixou que a dor,
o desespero e a limitação
impostos pela doença
respingassem em suas
obras. Em vez disso, não
cansou de festejar a vida
em suas telas, tendo, para
tanto, se adaptado às
deformidades físicas com
muita criatividade.
Dra. Licia Maria Henrique da Mota
Dr. Fernando Neubarth
Dr. Leonardo Rios Diniz
Dr. Jozélio Freire de Carvalho
Dr. Leopoldo Luiz dos Santos Neto
10
N
ão fosse a artrite reumatoide a
doença mais emblemática da
Reumatologia, ou não acometesse o
expressivo número de 50 milhões de
pessoas em todo o mundo, ainda assim seria interessante estudá-la. Entender melhor essa afecção multifacetada nos permite, de alguma forma,
compreender melhor a vida e a obra
de um dos mais célebres pintores de
todos os tempos e um dos mais importantes nomes do movimento
impressionista: Pierre-Auguste Renoir
(1841-1919).
Durante sua vida, Renoir enfrentou
uma série de dificuldades, a começar
pela pobreza, que o obrigou a abandonar os estudos aos 13 anos e trabalhar em uma fábrica de porcelana,
onde teria desenvolvido o gosto pela
pintura. O trabalho árduo lhe trouxe
os meios para realizar seu grande sonho e, aos 21 anos, conseguiu ingressar na École des Beaux-Arts de
Paris e, mais tarde, no ateliê de
Charles Glevre, onde pintou seus
primeiros quadros.
Outro grande desafio para Renoir
foi a falta de reconhecimento de seu
talento no começo da carreira. Atribui-se a Manet a frase: “Esse rapaz,
Auguste Renoir, não tem o menor talento. Diga a ele para desistir de pintar.” Talvez por isso Renoir tenha
destruído Esmeralda (1864), um de
seus primeiros quadros. Felizmente,
no entanto, o conselho de Manet foi
esquecido e Renoir continuou a produzir.
Primeiros sintomas
Vencidos a pobreza e o descrédito,
Renoir era, em 1892, casado e pai de
dois filhos, além de um pintor bemsucedido, célebre pelo quadro Le
Moulin de la Galette (1876), quando
surgiram os primeiros sintomas de
uma forma grave, deformante e incapacitante de artrite reumatoide, que o
acompanhou até o último de seus dias.
Embora não haja registros médicos,
é possível, graças a fotografias, cartas
pessoais e notas biográficas de pessoas
próximas a Renoir, ter uma noção
muito clara do curso de sua doença.
A artrite reumatoide do pintor se iniciou por volta dos 50 anos, tornouse agressiva a partir de 1903, quando ele tinha cerca de 60 anos, e levou-o à quase completa incapacidade após os 70 anos.
Além das graves manifestações articulares, com sinovite poliarticular persistente, expressiva deformidade em
mãos e pés e acometimento de coxofemorais, a afecção evoluiu com grave acometimento extra-articular e manifestações sistêmicas, como nódulos
reumatoides, derrame pleural, paralisia facial e caquexia reumatoide.
Em uma época em que muito pouco se sabia sobre a doença, e menos
ainda sobre seu tratamento, os três
médicos de Renoir, Dr. Baudot, Dr.
Journeac e Dr. Gachet – este último
eternizado em uma pintura por outro
de seus ilustres pacientes, Van Gogh
–, prescreviam purgantes e antipirina,
que traziam pouco ou nenhum alívio
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
artrite reumatoide
e causavam intoleráveis efeitos adversos. O pintor preferiu tentar minorar
o sofrimento com banhos termais e
atividades físicas, incluindo longas
caminhadas, enquanto a doença lhe
possibilitou o uso das pernas.
Sem tristeza nas obras
A dor intensa e a limitação tornaram-se constantes na vida de Renoir,
que relatou suas agruras em inúmeras cartas a amigos e familiares. Apesar disso, a tristeza e o desespero
nunca transpareceram em sua obra,
que se manteve focada em temas
como a felicidade e a beleza, sobretudo de crianças e de mulheres, até
o fim de sua vida.
Embora as deformidades que a artrite reumatoide impingiu a Renoir tenham sido incapacitantes, ele nunca
deixou de pintar nem apresentou queda na qualidade de suas telas em fun-
ção da doença. A transição entre os
estilos que adotou – períodos impressionista, seco e iridescente – não parece ter nenhuma relação com as fases de (re)agudização e o estabelecimento das deformidades articulares
ocasionadas pela afecção.
O mestre foi capaz de superar todas
as limitações e se valeu de alguns artifícios, como amarrar os pincéis aos
pulsos e usar bandagens, para reduzir
a maceração dos dedos, tendo usado
ainda cadeira de rodas, liteiras e até
mesmo um dispositivo, desenhado por
ele e executado pelos filhos, que movimentava as telas vertical e horizontalmente. Dessa forma, quando sua
amplitude de movimento para pin-
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
tar não ia além de uns poucos 20 a
30 cm, em decorrência da anquilose
dos ombros e punhos e da ruptura
de vários tendões extensores dos
dedos, Renoir conseguiu produzir
um de seus últimos e mais belos quad ros, L es Grandes Baigneuses
(1818-1819), de inacreditáveis dimensões (160 x 110 cm).
Pierre-Auguste Renoir foi, sem dúvida, um dos maiores gênios da pintura em toda a história da humanidade. Mas, muito mais do que isso, um
exemplo da capacidade humana de
luta contra a adversidade e, principalmente, um ícone do amor à vida e à
beleza em seu sentido mais amplo e
profundo.
“A dor passa. Mas a beleza permanece.”
Pierre-Auguste Renoir (1841-1919)
11
Baluartes da Reumatologia
Adil Muhib Samara: médico em tempo
Em meio século de vida acadêmica e profissional, ele ajudou a formar
150 especialistas, participou de 30 bancas e chegou às 400 publicações, além
de uma centena de artigos não científicos. De representações em sociedades
médicas e participações em encontros científicos, conta mais de 300.
O último destaque foi sua recente eleição como indicado da Sociedade
Brasileira de Reumatologia (SBR) ao Master ACR. Tudo sem jamais se desviar
do foco da profissão: “O mais excitante ainda é curar, mesmo que poucas
vezes, melhorar quase sempre e consolar sempre”, sustenta.
Por que escolheu ser reumatologista?
Foi por acaso. Havia um leque de opções, pois vinha de um serviço de Anestesia, no Hospital do IAPTEC, e de um
outro, de Obstetrícia, na Maternidade
Fernando Magalhães. Em paralelo, exercia o cargo de interno, por concurso, na
4ª Cadeira de Clínica Médica do Hospital-Escola São Francisco de Assis. Meu
interesse pela Reumatologia começou
quando assisti a uma aula do professor
Israel Bonomo, sobre cortisona, e tinha
então, sob meus cuidados, duas pacientes internadas com artrite reumatoide
para as quais ninguém ousava dar opinião diagnóstica ou terapêutica. Lá foi o
professor Bonomo vê-las, a meu convite, e aí eu percebi alguém com perspicácia clínica e com terapêutica inquestionavelmente melhor que a dos demais.
Após uma conversa sedutora sobre a especialidade, ele perguntou se eu gostaria de ser reumatologista. Disse que sim,
pois me parecia um futuro promissor,
fazer algo que ninguém parecia saber.
A que linhas de pesquisa se dedicou?
Durante 12 anos, não tive a sorte de concentrar meus esforços numa única área,
pois, num raio de 100 km, fui o único
reumatologista, o primeiro de Campinas,
e só me restava entender, se não de tudo,
de quase tudo em Reumatologia. Não
foram poucas as vezes em que telefonei
12
ao doutor Bonomo para pedir auxílio.
Contudo, na universidade, a observação
de um primeiro caso de condrocalcinose
articular difusa, com a existência de cristais de pirofosfato de cálcio no líquido
sinovial, despertou-me a atenção para
esse tipo de enfermidade, outrora denominada pseudogota. Posteriormente,
outras doenças por depósitos de cristais
vieram juntar-se àquela e constituíram
minha principal linha de pesquisa.
Viu muitos pacientes?
Ver doente foi só o que fiz na vida, e isso
pode ter me dado certa notoriedade em
pesquisa clínica, pois estudar muito, ter
ideias e ser criativo é condicio sine qua
para estar numa universidade. Trabalhando num hospital universitário, e,
portanto, de atendimento terciário, obviamente que a maioria dos casos era
complicada. É excitante fazer diagnósticos difíceis, mas mais excitante ainda é
curar, mesmo que poucas vezes, melhorar quase sempre e consolar sempre. É
por aí que se mede o grau de competência de cada médico, não necessariamente acadêmico.
Quais foram suas
conquistas na vida societária?
Participei não de muitas entidades, mas
de algumas, e fui alçado a presidente na
SBR, na Panlar e na Academia Brasileira
de Reumatologia. Antes disso, nelas exerci diversos cargos e, sem demagogia,
muito mais recebi do que dei. Fui fundador e membro honorário de algumas
sociedades regionais no Brasil e, na América Latina, fundei o Comitê e o Congresso do Cone Sul, juntamente com
Argentina, Uruguai e Chile. As conquistas foram muito gratificantes e, das oportunidades experimentadas, restaram as
saudades de tudo que me aconteceu de
maravilhoso neste meio século de vida
societária, do convívio com aqueles que
já partiram, e me foram tão caros, entre
eles alguns prêmios Nobel de Medicina.
Que convites o deixaram mais
feliz ao longo de sua carreira?
Mais do que publicações científicas, o
que nos envaidece são os convites para
abrir encontros nacionais de Reumatologia, que foram muitos, e alguns internacionais, como o Congresso da Liga
Sul-Asiática de Reumatologia, no Japão,
em 1988, e a 4th Interscience World
Conference on Inflammation, em Genebra, em 1991. Presidi ainda a Conferência Magna Gold Medal Memorial Joseph
Bunin, proferida por Morriz Ziff, no ACR
1982, em Washington. Ter sido mencionado no capítulo de doenças por depósitos de cristais da Enciclopedie Française
de Rhumatologie e Maladie Osteoarticulaire também foi muito gratificante.
Ficou surpreso em ter sido eleito o
candidato da SBR ao Master ACR?
Fiquei muito feliz por merecer a confiança dos meus pares para representá-los
como candidato ao título de Master ACR.
Se merecer essa outorga, tenho a mais
absoluta consciência de que será a SBR
a vencedora. Bendita a hora em que a
entidade houve por bem fazer essa eleição ética, democrática e profissional.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
integral
Do que se orgulha mais
em sua carreira?
Orgulho-me de tudo que fiz. Primeiramente, como pessoa, porque, não sendo
um bom indivíduo, jamais alguém será
um bom médico; em segundo lugar, orgulho-me de minha obediência rigorosa
ao juramento hipocrático. Tão importante quanto isso foram as amizades que
cultivei em todos estes anos, pois não
saberia viver sem elas.
O que ainda é um desafio
na Reumatologia?
Quase tudo. Não existem enfermidades
mais obscuras que as doenças reumáticas. Sua etiopatogenia, por que, em
quem e quando se instalam, que papel
tem sua expressão gênica, agora em estudos intensificados, e o porquê da resposta terapêutica heterogênea, variando
de um a outro individuo sob o uso do
mesmo medicamento, são questões que
não estão eficazmente bem respondidas.
O que deixou de ser um desafio?
Quase tudo, embora paradoxal e contrapondo-se à resposta anterior. Há 50 anos,
quando me formei, era uma petulância ser
reumatologista. Quase nada existia de medicamento antirreumático, senão o salicilato de sódio e, na artrite reumatoide, o
ouro coloidal. A febre reumática se tornou um desafio a menos, sobretudo pela
sua complicação cardiovascular, a estenose mitral. Ainda me lembro da 9ª Enfermaria da Santa Casa do Rio de Janeiro, onde metade dos leitos tinha doentes
com estenose mitral e a outra metade, com
esquistossomose na fase hepatoesplênica.
Éramos 23 reumatologistas em todo o País
e, hoje, somos mais de 2 mil. Conforme
os estudos mais recentes, a artrite reumatoide parece agora, graças aos agentes biológicos, ter melhor prognóstico.
dústria de tecidos. Não me restaria alternativa que não a de administrar o que
meu pai me deixara. E talvez bastasse
apenas isso para eu ser um milionário,
parafraseando Hilton Seda. A vontade de
ser médico era um sonho de meu pai, que
não pôde concluir seus estudos na plenitude de sua adolescência, atingido pelos
efeitos econômicos devastadores da Primeira Grande Guerra no Oriente Médio.
O que costuma dizer para
quem está começando?
Costumo dizer que sou um R51 e, por
isso, vivo perguntando aos mais moços,
sem o menor constrangimento, o que eu
não sei. Bom senso, mais do que saber,
lealdade e consciência, primeiramente
consigo mesmo, e também com o doente e com a sociedade, e ética para com a
sua classe, para dela merecer o respeito
e a admiração necessários ao exercício
da medicina, são importantes para quem
está começando. Por último, esperar e
não ser arrogante com o saber constituem as duas maiores virtudes que um
médico deve ter. E lembrar sempre que
a doença é perfeita, os imperfeitos somos nós, os médicos.
O que faria se não fosse médico?
Venho de uma família de imigrantes libaneses, notáveis no comércio e na in-
Como divide seu tempo atualmente?
Na verdade, fora a medicina, não sei
muito o que fazer nem tenho para onde
ir, daí por que ainda leio sobre as descobertas recentes da minha especialidade, já não com a mesma frequência de
outrora, porque hoje a internet nos ajuda bastante. Ainda tenho participado da
Unicamp como professor visitante e do
consultório. O mais importante de tudo
é meu convívio com Laila, minha esposa, que me deu três filhos, Daniela, Adil
e Renata – que nos deixou há muitos
anos –, os dois netos, Amanda e Gustavo, e a nora, Elaine. Sinto que, por
haver me dedicado tanto à medicina,
o tempo que me resta será pouco para
resgatar tudo que perdi por não ter
convivido mais com todos eles. À la
recherche du temps perdu, de Marcel
Proust (1908), é por onde tenho de
recomeçar.
Curriculum vitae
Adil Muhib Samara se formou na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade
do Brasil, no Rio de Janeiro. Depois de dois anos no serviço do professor Bonomo,
rumou para Campinas (SP) e ali se instalou como médico, quando, em 1965, foi
convidado para ingressar na Faculdade de Ciências Medicas da Unicamp. Começou
como professor-assistente de Propedêutica Clínica e, após oito anos, fundou a Disciplina de Reumatologia e a residência na especialidade. Nessa faculdade, não houve
um só cargo que não tenha exercido, até mesmo o de diretor pro tempore. Como
docente, regeu a Disciplina de Medicina Integral III e o Departamento de Clínica
Médica. Colaborou também com a fundação da Reumatologia na PUC-Campinas e
na Universidade de São Francisco, em Bragança Paulista (SP).
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
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Notícias das regionais
O melhor do Brasil
Minas Gerais
Reumatologistas do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba
promovem encontro de atualização
A
cidade mineira de Araxá, com
seus doces, termas e hotéis grandiosos, foi o palco do II Encontro de
Residentes e Ex-Residentes de Reumatologia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e da Reunião de
Reumatologistas do Triângulo Mineiro e
Alto Paranaíba, evento que ocorreu em
8 e 9 de abril de 2011, no Hotel Nacional INN Previdência. Organizada por
Marlene Freire e Reginaldo Botelho, a
iniciativa foi aberta na noite do dia 8 pelo
professor titular de Reumatologia da
UFTM, Hamid Alexandre Cecin, que
ministrou uma aula sobre o exame clínico com apresentação do sinal de Cecin e
o diferencial das doenças de coluna vertebral. O Serviço de Reumatologia de
Uberaba aproveitou a oportunidade para
prestar uma homenagem ao professor,
no encerramento do encontro, com a entrega de uma placa. O segundo dia do
evento foi totalmente dedicado à atualização dos participantes, das 8 às 18 ho-
ras, com mesas-redondas, discussões de
casos clínicos e apresentações de Roberto
Ranza (Uberlândia), de Boris Cruz e
Eduardo José (Belo Horizonte) e do presidente da Sociedade Mineira de
Reumatologia (SMR), Rafael Fraga, que
ali também representava a cidade de Juiz
de Fora. “Além de ter falado sobre a realização de infusões extra-hospitalares,
apresentei os planos que a SMR tem
para aquela região e para todo o Estado
de Minas Gerais”, conta. No intervalo
dessa programação, o grupo visitou o
Grande Hotel de Araxá, tendo tido,
como guia, o colega Carlos Eugênio, e
escolheu a logomarca do Grupo de Estudos de Reumatologia do Triângulo
Mineiro, que realizará reuniões nos
moldes da Esquina do Reumatismo, de
Belo Horizonte, com a presença dos
reumatologistas da região e com o indispensável apoio da SMR.
Santa Catarina
XVIII Jornada Cone Sul inova até no formato dos pôsteres
A
lém de terem caprichado na programação científica, os
organizadores da XVIII Jornada Cone Sul de Reumatologia, que está marcada para o período de 13 a 15 de outubro, em Florianópolis, lançaram mão de duas grandes novidades nessa edição do evento. A primeira é de ordem operacional
e certamente vai fazer escola, em nome da sustentabilidade.
“ Vamos dispensar os pôsteres em papel”, assinala o
reumatologista Fabrício de Souza Neves, da Comissão Científica da jornada. Em lugar disso, os trabalhos inscritos serão
apresentados em formato digital. Para tanto, os autores deverão enviar apenas um arquivo de PowerPoint convertido em
pdf com, no máximo, seis slides. “Durante a jornada, os pôsteres
poderão ser visualizados em terminais de computador e em telas espalhadas pela área do evento”, explica Neves. A propósito,
a data-limite para a submissão de trabalhos é 15 de julho de
2011. Outra inovação digna de nota foi a criação de um con14
curso de casos clínicos, do qual poderão participar, no ato da
inscrição, todos os trabalhos que tratarem da descrição de uma
nova patologia, do relato de uma enfermidade pouco frequente,
da observação de sintomas raros ou atípicos em quadros patológicos conhecidos, incluindo manifestações reumáticas raras
de doenças sistêmicas, do uso de novas técnicas de investigação
e do emprego de novas condutas terapêuticas em doença de
difícil controle. Dentre os inscritos, 12 relatos de casos serão
selecionados para apresentação oral no dia 13 de outubro, durante o pré-congresso, e uma comissão julgadora escolherá o
vencedor. O melhor trabalho vai receber um laptop, além do
certificado de premiação. O regulamento do concurso está disponível no site da jornada, assim como a programação científica
completa do evento: www.jornadaconesul2011.com.br. Conheça os detalhes e aproveite para garantir desde já seu lugar na
iniciativa. As inscrições terminam em 5 de outubro.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
Notícias das regionais
O melhor do Brasil
Mato Grosso do Sul
Sorems prepara a XVIII Jornada Centro-Oeste de Reumatologia
A
Sociedade de Reumatologia do
Mato Grosso do Sul (Sorems)
convida os reumatologistas brasileiros
para participar da XXI Jornada Brasileira e XVIII Jornada Centro-Oeste de
Reumatologia, evento que será realizado em Campo Grande, no período de
31 de agosto a 3 de setembro de 2011,
e terá a relação entre infecção e autoimunidade como tema. “A ideia é demonstrar como algumas infecções podem mimetizar doenças reumatológicas
a partir dos fenômenos autoimunes que
desenvolvem”, explica o presidente da
Sorems, Marcelo Rezende. Para tanto,
a comissão organizadora preparou um
evento repleto de conteúdo, que começará com três cursos pré-jornada e se
estenderá por mais três dias de mesasredondas, conferências, miniconferências e simpósios, conduzidos por
grandes nomes da Reumatologia nacional. Como de praxe, haverá também
duas conferências internacionais, que
ficarão a cargo de Cees Kallenberg, da
Holanda. Mas nem tudo vai ser ciência
na jornada. “Da mesma forma, estamos
providenciando uma programação social intensa e divertida para que todos
aproveitem ao máximo sua estada em
Campo Grande”, avisa Rezende. Como
o evento termina num sábado anterior
ao feriado prolongado de 7 de setembro, os interessados poderão esticar sua
estada na região com uma visita ao Pantanal ou a Bonito. Melhor, impossível.
Confira o resumo da programação e fique atento às notícias da jornada em:
www.reumatologiams.com.br.
XXI Jornada Brasileira e XVIII Jornada Centro-Oeste de Reumatologia
Cursos pré-jornada:
• Atualização em dor
• Atualização em laboratório
• Aplicação clínica da ciência básica
Conferências internacionais:
• Vasculites associadas ao ANCA
• Endotélio, aterosclerose e doenças
inflamatórias sistêmicas
Mesas-redondas:
• Vacinação
• Endemias
• Doenças emergentes
• Autoanticorpos nas doenças infecciosas
• Paciente reumático e infecção
• Vasculites
• Manejo das manifestações lúpicas
• Espondiloartrites
•
•
•
•
•
•
Reumatologia Pediátrica
Panlar – A história da Reumatologia
Osteoporose e osteoartrite
Artrite reumatoide de início recente
Esclerodermia – Up to date
Biológicos e tratamento “off-label”
Simpósios:
• Lombalgias
Miniconferências:
• Estudos epidemiológicos da SBR
• Imagem em doenças reumatológicas
• Plantas medicinais e tratamentos alternativos
Conferências:
• O uso de células-tronco em Reumatologia
• Imunobiológicos e biossimilares
• Vitamina D – Afinal, qual é a verdade?
• O que esperar de exercícios físicos?
Rio Grande do Sul
Regional gaúcha alerta para a necessidade de investigação
da tuberculose em paciente que iniciar imunossupressão
D
epois de abrir as atividades científicas do ano com uma
palestra de Henrique Luiz Staub, em março, sobre as
novidades e controvérsias em autoimunidade apresentadas no
Cora 2011, em Florença, a Sociedade de Reumatologia do
Rio Grande do Sul (SRRS) se reuniu em 30 de abril para discutir o panorama atual da tuberculose (TB) e sua importância
para o reumatologista. Segundo a presidente da entidade, Inês
Guimarães da Silva, na oportunidade a pneumologista Marisa
Pereira, responsável pela área de tuberculose da Santa Casa
de Porto Alegre e pela Secretaria de Saúde do Estado, exibiu
dados recentes e chocantes sobre a doença no Rio Grande do
Sul e no Brasil. “Nosso diretor científico encaminhou previamente perguntas a essa especialista, com as principais dúvidas sobre tuberculose na prática reumatológica, tendo gerado, assim, uma discussão extremamente interessante e infor-
Nova diretoria da SRRS para o biênio 2010-2012: da esq. para a dir.,
Mauro Keiserman, Maria Lúcia Lemos Lopes, Aline Defaveri do Prado, Jorge
Renato Dib, Fernando Neubarth, Inês Guimarães da Silveira e Roberto Calil.
mativa”, conta Inês. Fica aí, portanto, o alerta da regional
gaúcha sobre a necessidade de investigação minuciosa
de TB latente e TB doença em todo paciente que iniciar qualquer forma de imunossupressão.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
15
O melhor do Brasil
Sergipe
Grandes nomes da Reumatologia local e nacional, além de um
conteúdo atual, fazem o sucesso da XXI Jornada Norte-Nordeste
T
erminou em 14 de maio a XXI Jornada Norte-Nordeste de Reumatologia, que ocorreu em Aracaju, no Hotel Parque dos Coqueiros, e levou à capital sergipana cerca de 400 profissionais de saúde e estudantes de vários
pontos do País. Os participantes conferiram, com satisfação, as atividades científicas dos três dias de evento, incluindo
a pré-jornada, as conferências, os
minicursos, as apresentações de casos,
as mesas-redondas e os simpósios, todos girando em torno do tema central
da iniciativa – A Clínica e os Avanços
Terapêuticos. “É muito boa essa sensação do dever cumprido”, resumiu a presidente da Sociedade Sergipana de
Reumatologia (SSR), Mônica Valéria S.
S. Vechi, feliz também com a superação
no número de inscritos que era aguardado. “A programação da jornada, além
de rica, estava em total equilíbrio com
os fatos atuais de consultórios e com os
avanços que praticamos diariamente na
nossa profissão por meio dos diagnósticos e tratamentos que sugerimos”, ava-
liou o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), Geraldo da
Rocha Castelar Pinheiro. Para ter uma
ideia da dimensão que assumiu no Estado, o evento reuniu, em sua abertura,
no dia 12 de maio, além do presidente
da SBR e da diretoria da SSR, diversas
autoridades locais e nacionais ligadas à
saúde e à Reumatologia, entre as quais
o secretário-adjunto de Estado da Saúde, Jorge Viana – que representou o governador Marcelo Deda –, o presidente
do Conselho Regional de Medicina,
Roberto César, o presidente da Sociedade Médica de Sergipe, Petrônio Gomes, o presidente do Sindicato dos Médicos de Sergipe, José Menezes, e o presidente da Academia Brasileira de Reumatologia, Wiliam Habib Chahade.
Também sergipano, Chahade, aliás, foi
homenageado pelo presidente da jornada, José Caetano Macieira, e por suas
conterrâneas, a presidente da SSR, Mônica Vecchi, e a diretora científica da regional, Regina Adalva de Lucena Couto
Océa, por sua importante contribuição
Coral Canarinhos de Aracaju, que se apresentou
na solenidade de abertura da jornada.
na formação dos reumatologistas que
atuam no Estado, bem como na criação
da regional local. Uma oportuna lembrança em um grande evento.
Pacientes também ganham evento
Paralelamente à jornada em Aracaju, a SBR patrocinou o Curso de Educação em Saúde para Portadores
de Artrite, que foi ministrado na cidade pelo GruparjPetrópolis, de 10 a 12 de maio, com a participação de
diversas entidades de apoio a pacientes reumáticos.
Segundo o Gruparse, o curso foi um sucesso, não só
pelo conteúdo, praticidade e pedagogia, mas sobretudo por seu clima de fraternidade e amizade.
Rio de Janeiro
Vem aí o ReumaRio 2011
Programe-se para participar de um dos mais
importantes eventos de atualização promovidos pela
SRRJ. Neste ano, o ReumaRio será realizado nos dias
5 e 6 de agosto, no Hotel Windsor de Copacabana
(antigo Meridien), e vai abordar aspectos da síndrome
do anticorpo antifosfolípide pouco explorados em
congressos e também a Reumatopediatria, mas com
enfoque para reumatologistas que usualmente
atendem adultos. De acordo com a presidente da SRRJ,
Francinne Machado Ribeiro, já estão confirmados
convidados internacionais como Ricard Cervera, Doruk
Erkan, Seth Ginsberg e Ruben Burgos-Vargas. Vá se
atualizar e enriquecer o ReumaRio com sua experiência!
16
SRRJ reúne clínicos e pediatras
em Vassouras em sua jornada anual
Dada a proximidade com algumas faculdades de medicina, a Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro (SRRJ) escolheu a cidade
sul-fluminense de Vassouras como sede de sua I Jornada Anual de
Reumatologia, que ocorreu em 30 de abril e teve mais de 120 participantes, sobretudo estudantes, clínicos e pediatras. Voltada para
não especialistas, a iniciativa apresentou aspectos clínicos e
laboratoriais das doenças reumáticas, com destaque para a artrite
reumatoide inicial, a fibromialgia e a osteoporose, entre outros temas de interesse geral. As aulas foram dadas por um time de primeira, composto dos colegas Carlos Augusto de Andrade, Katia
Lino, Blanca Bica, Roger A. Levy, Leonardo Romeiro, Marcelo de
Souza Pacheco, José Augusto Cardoso de Sá Jr., Evandro Klumb,
Wanda Heloisa Ferreira, Camila Leijoto e Mauro Goldfarb.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
Reconhecimento
Sinal de Cecin ganha projeção internacional
Artigo de Hamid Alexandre Cecin
publicado na RBR ocupa o topo da lista dos dez
trabalhos mais buscados na BioMedLib.
O
trabalho Cecin’s Sign (“X” Sign): improving the
diagnosis of radicular compression by herniated lumbar
disks, de autoria do professor titular da Universidade Federal
do Triângulo Mineiro, Hamid Alexandre Cecin, chegou ao
primeiro lugar no Top 10 Articles Published in the Same
Domain Since Your Publication, da BioMedLib
(www.BioMedLib.com), no início de março. A notícia significa que, até aquele período, o artigo havia sido um dos mais
procurados nesse banco de dados desde sua publicação na
Revista Brasileira de Reumatologia, em fevereiro de 2010.
“O trabalho honra a toda a Reumatologia, uma vez que, num
tempo de tecnologias caras e nem sempre acessíveis, mostra
a validade da observação clínica benfeita, ao descrever um
novo sinal semiológico, bem alicerçado em princípios físicos
sólidos e irrefutáveis”, opina o ex-presidente da Sociedade
Brasileira de Reumatologia (SBR), Fernando Neubarth, um
grande incentivador de Cecin. A chegada ao topo dos “top”
também demonstra o reconhecimento internacional ao achado e, para completar, vem dando ensejo a convites para Cecin
apresentar suas descobertas em terras distantes. O último foi
para o EPS Yangzhou Orthopedics Forum 2011, que ocorreu em abril, na China. Na entrevista a seguir, o professor
fala um pouco de seus achados, que nos deixam orgulhosos
como médicos e brasileiros.
Como e quando surgiu a ideia dessa manobra?
Certa vez, em 1993, durante o exame de um paciente com
hérnia de disco aguda, ao lhe pedir que fizesse a flexão da
coluna, ele, por acaso, teve uma crise de tosse com acentuada piora da dor no trajeto do nervo ciático. Na época, sabia
que os momentos de força (torque) aumentavam com a referida flexão e que a tosse elevava a pressão na cauda equina, o
que justificava a exacerbação da dor em choque elétrico,
dermatomérica, que caracteriza a hérnia de disco. Veio o “estalo de Vieira”. A conjugação do torque com a manobra de
Valsalva, e o princípio de Pascal dela decorrente, deu início a
toda a história, que, num estudo prospectivo, randomizado e
controlado, confirmou a descoberta dessa manobra semiótica,
com a utilização da ressonância magnética como prova
confirmatória.
Hamid Alexandre Cecin,
professor titular da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Qual a vantagem do sinal de Cecin sobre o de Laségue?
Como está no artigo original, o sinal de Cecin é muito mais
sensível e específico, além de ter valor preditivo negativo maior
do que o de Laségue, ou seja, quando negativo, afasta a possibilidade de o paciente ter hérnia discal aguda.
Como apresentou sua descoberta
à comunidade médica?
Apresentei, em 1996, um relato preliminar desse sinal, que
rotulei como “sinal X” porque, em matemática, o xis significa
incógnita. Alguns colegas me incentivaram que pesquisasse
mais a fundo e daí surgiu a atual denominação, que devo a
Fernando Neubarth – primeiro, pelo seu elevado senso de
justiça, e segundo, pela sua perspicácia na valorização da medicina hipocrática, baseada na utilização dos olhos, dos ouvidos e das mãos dos médicos.
Por que acha que o trabalho publicado na RBR
está chamando a atenção?
O artigo que lidera os Top 10 da BioMedLib deve ter chamado a atenção dos estrangeiros pelos resultados obtidos com
a alta performance de dois princípios irrefutáveis da
fisiopatologia do sinal de Cecin – o torque e o princípio de
Pascal –, assim como pela facilidade de sua execução e pelo
seu alto desempenho diagnóstico, quando comparado com o
tradicional e centenário sinal de Laségue.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
17
Notas
Lilian Costallat e Ivone Meinão recebem homenagem da APM
na 11ª cerimônia em alusão ao Dia Internacional da Mulher
Osmar Bustos
E
ntre as 26 homenageadas pela Associação Paulista de Medicina
(APM) em sua 11ª cerimônia em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, que ocorreu no dia 18 de março,
em São Paulo, figuravam duas representantes da Reumatologia. Uma delas era
Lilian Tereza Lavras Costallat, professora da Unicamp desde 1998, com uma
passagem pela diretoria da Faculdade de
Ciências Médicas da universidade, de
2002 a 2006, e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) desde
1991, com 133 trabalhos publicados. “A
homenagem foi muito significativa e importante para mim”, disse ela na oportunidade. “A cerimônia destacou a importância não só da profissão em nossas vidas, mas também a de nossas famílias”. A outra reumatologista a receber a reverência foi a preceptora da Liga
de Reumatologia da Unifesp, Ivone
Minhoto Meinão. A médica, que presidiu o Departamento de Reumatologia da
As reumatologistas homenageadas pela APM:
Lilian Costallat (à esq.) e Ivone Meinão.
APM entre 2004 e 2007, teve uma atuação importante na saúde pública, já que
desenvolveu programas de atenção básica à saúde em diabete mellitus e hipertensão arterial entre 1979 e 1989.
“Fiquei muito lisonjeada, contente, porque ser reconhecida no trabalho é algo
que alavanca você para continuar a trabalhar com qualidade e empenho”, afirmou. Com o tema “Sons, cores, formas,
movimento – Mulher... Arte”, o evento
contou com apresentações da bailarina Lúcia
Weber e do ilusionista
Issao Imamura, e não
economizou na emoção.
“A mulher lutou muito
para conquistar seu lugar
na medicina e a APM, ao
longo de seus 80 anos,
procurou sempre manter
a igualdade e o respeito
entre homens e mulheres
em seu quadro de diretores, colaboradores e/ou
parceiros”, destacou o presidente da entidade, Jorge Carlos Machado Curi. Depois de relembrar a trajetória de importantes mulheres, como a guerrilheira
Anita Garibaldi e a primeira médica formada no Brasil, Rita Lobato Velho
Lopes, a diretora de Ações Comunitárias da APM, Yvonne Capuano, resumiu
o espírito do evento: “Nossas homenageadas de hoje são continuadoras da
obra dessas pioneiras.”
UFES amplia serviços de assistência e
abre novos canais para a formação de profissionais
B
oas notícias para os capixabas. O Serviço de Reumatologia
da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) está
repleto de novidades, segundo a chefe do núcleo e coordenadora da residência médica local, Valéria Valim, que agora também é a nova professora de Reumatologia da UFES. “Desde a
aposentadoria do Dr. Edilson Suzano, não tinha havido mais
docentes na área”, conta ela, hoje à frente de um serviço bem
estruturado e respeitado no hospital universitário. Na área de
assistência, o espaço inaugurou recentemente o Laboratório
de Condicionamento e Reabilitação (Lacore), que dá suporte
ao atendimento dos pacientes reumáticos e oferece treinamento
para profissionais da área de reabilitação. Além disso, como
resultado da união de esforços entre a residência e o serviço,
foram ainda estruturados programas de educação do indivíduo com artrite reumatoide, fibromialgia e síndrome de
18
Sjögren, assim como do paciente em uso de biológicos. Já na
área de formação, segundo Valéria, a UFES está abrindo uma
pós-graduação em Reumatologia para as áreas de fisioterapia, terapia ocupacional, educação física e enfermagem, visando à capacitação de equipes multiprofissionais para o atendimento do paciente reumático. Por sua vez, o Programa de
Residência em Reumatologia, criado em 2006, passou a ministrar treinamento em radiologia, patologia e procedimentos
guiados por ultrassom, além de ter aberto novos ambulatórios
de Sjögren, lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide,
os quais se somam aos já existentes ambulatórios de
colagenoses, artrites, fibromialgia e dor crônica, biológicos,
Reumatopediatria, osteoporose, reabilitação, procedimentos
e pulsoterapia, assim como ao laboratório. Enfim, um núcleo
completo, do jeito que a população local merece.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
Notas
Fórum debate soluções para o atendimento
de pacientes com artrite reumatoide
C
olocar as doenças reumáticas na
pauta das discussões em Brasília
é, no mínimo, uma medida salutar para
sensibilizar a sociedade para a necessidade de mudanças nessa seara. Foi o que
ocorreu no último dia 6 de abril, quando
especialistas, deputados, membros do
Ministério da Saúde (MS) e grupos de
apoio a pacientes reumáticos participaram do Fórum Artrites – Um Debate Necessário. A iniciativa resultou da parceria entre o deputado Geraldo Thadeu
(PPS-MG), a Associação Brasiliense de
Pacientes Reumáticos (Abrapar) e a Associação Nacional de Grupos de Pacientes Reumáticos (Anapar). “Fomos acolhidos em uma outra data pelo deputado, que, sensibilizado com nossa causa,
sugeriu que fizéssemos esse fórum de
debates e gentilmente disponibilizou o
espaço físico da Câmara dos Deputados”, conta a presidente da Anapar e da
Abrapar, Abigail Gomes Silva. “Sabemos
quanto podemos avançar em relação ao
tratamento e à qualidade de vida dos pacientes reumáticos”, justifica Thadeu,
que é presidente da Frente Parlamentar
das Hepatites e Transplantes e membro
da Frente Parlamentar da Saúde da Câmara dos Deputados.
Sem aventuras terapêuticas
Na oportunidade, o reumatologista Luís
Piva Junior, do Hospital de Base do Distrito Federal, deixou clara a dificuldade
dos médicos diante das poucas opções terapêuticas e ecoou os interesses dos pacientes, que desejam ver a incorporação
das novas medicações no protocolo clínico da artrite reumatoide. “Junto com a inclusão de um ou outro medicamento, queremos que haja a formação de câmaras
técnicas locais, com a participação do
gestor do SUS na liberação dessas medicações, porque essas câmaras analisariam
caso por caso, tirariam as aventuras terapêuticas e fariam a revisão dos protocolos
com periodicidade máxima bianual”, sustentou. Já a coordenadora-geral de média
e alta complexidade do Departamento de
Atenção Especializada da Secretaria de
Atenção à Saúde (DAE-SAS-MS), Maria
Inez Gadelha, explicou tecnicamente a
protocolização e garantiu que o status
atual do protocolo da artrite reumatoide
não está estagnado. “Nunca esteve parado, a não ser nesses três meses, embora o
grupo elaborador esteja produzindo o parecer técnico-científico, inclusive porque
a Comissão de Incorporação de Tecnologias do Ministério da Saúde decidiu que
Brasil e Argentina se unem
em curso de ultrassonografia
A rivalidade que reina nos campos de futebol dos dois países parece não ter espaço em outras áreas do conhecimento – pelo menos na medicina. Prova disso é que Brasil e
Argentina uniram forças para organizar, com o apoio da
Liga Pan-Americana contra o Reumatismo, um curso latinoamericano de ultrassonografia, que ocorreu nos dias 15 e
16 de abril, em Buenos Aires. O evento, cujo responsável
do lado brasileiro foi o coordenador da Comissão de Imagem da Sociedade Brasileira de Reumatologia, José Alexandre Mendonça, de Campinas, teve aulas ministradas por
especialistas do Brasil, da Argentina e do México e contou
com a participação de 30 conterrâneos.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
não iria examinar medicamento a medicamento, mas tudo que está proposto para
a doença”, assinalou. Por sua vez, o diretor
do Departamento de Assistência Farmacêutica (DAF-MS), José Miguel do Nascimento Junior, acentuou que a orientação da presidente Dilma Roussef é aprofundar o SUS
na perspectiva de acesso a medicações com
qualidade. “Essa é uma diretriz forte, importante, que tem mobilizado a nós e também ao próprio governo na discussão do financiamento da saúde”, declarou. “Dá para
fazer mais com o que temos, mas precisamos de mais para fazer o que não temos”.
O assunto ainda vai demandar muitas discussões, mas fica nítida uma maior disposição de todos em tentar resolver o problema. Os pacientes contam com isso:
“Nossa expectativa é a de que esses medicamentos sejam incorporados o mais
rápido possível ao protocolo para dar cabo
das ações judiciais, que oneram os cofres
públicos e causam desgaste ao paciente
pela busca de um remédio não incorporado”, resume Abigail, sublinhando que a
dor não espera. Como disse o banner do
evento: “Saúde não é tudo, mas, sem ela,
o resto é nada”. Leia a íntegra das discussões do evento em:
www.reumatologia.com.br.
Programe-se
XIII Congresso Internacional de Reumatologia do Cone Sul
Data: de 24 a 27 de agosto de 2011
Local: Radisson Hotel, em Montevidéu, Uruguai.
Informações: www.reumauconosur2011.com.uy
Panlar 2012 – XVII Congresso da
Liga Pan-Americana contra o Reumatismo
Data: de 18 a 21 de abril de 2012
Local: Punta Cana, República Dominicana
Informações: www.panlar2012.org
Gladel América Latina – Lúpus 2013
10º Congresso Internacional sobre LES
Data: de 18 a 21 de abril de 2013
Local: Buenos Aires, Argentina
Informações: www.gladel.org
19
Notas
Encontro da FMUSP tem atualização,
homenagens e até lançamento de livro
A
Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) realizou,
de 1º a 3 abril, seu IX Encontro de Ex-Residentes, Estagiários e Pós-Graduandos no The Royal Palm Plaza, em Campinas (SP). Além de ter tido uma programação científica com
aulas voltadas principalmente para atualização em tratamento
da artrite reumatoide, imagem em doenças reumáticas, síndrome de Baggio-Yoshinari (Lyme-símile) e espondiloartrites,
o evento foi a oportunidade escolhida para a equipe do serviço prestar sua homenagem a três assistentes-doutores da
Projeto aprovado na
Câmara dos Deputados
isenta de IR portadores de
quatro doenças reumáticas
A
Atualize seus dados
cadastrais no site da SBR
Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara
dos Deputados aprovou a inclusão de 25 doenças graves
e incapacitantes na lista de enfermidades que dão aos portadores direito de aposentadoria, pensão ou proventos de reforma
militar sem incidência de Imposto de Renda. Entre elas estão
quatro doenças reumáticas autoimunes: lúpus, esclerodermia
linear, esclerodermia segmentar e esclerodermia sistêmica progressiva. Segundo o projeto aprovado, a isenção valerá para
todos os rendimentos, e não apenas para os recebidos em razão
da inatividade. O projeto tramita agora em caráter conclusivo,
mas ainda será analisado pelas Comissões de Finanças e Tributação e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
20
Reumatologia da FMUSP: Laís Lage e Natalino Yoshinari,
que estão se aposentando, e Jozélio Freire Carvalho, que está
de partida para a Bahia, sua terra natal. Durante o encontro,
houve ainda o lançamento de livro Exercício Físico nas Doenças Reumáticas, distribuído gratuitamente aos presentes.
A publicação resulta de um projeto do Setor de Medicina
Esportiva e do Laboratório de Avaliação e Condicionamento
em Reumatologia (Lacre) do Hospital das Clínicas da
FMUSP, tendo sido coordenada por Fernanda Rodrigues
Lima e Ana Lúcia de Sá Pinto.
O site da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR)
é bastante visitado por leigos. Para ter uma ideia,
70% dos acessos provêm de pacientes e se distribuem
basicamente entre as informações sobre doenças
reumáticas e a seção Procure um Reumatologista,
que visa justamente a facilitar a aproximação entre o
especialista e o interessado. Dessa maneira, é
importante que, de tempos em tempos, todos os
associados da SBR acessem o site, com sua senha
pessoal, e verifiquem nessa seção se seu cadastro está
realmente atualizado. Caso haja alterações, basta
enviá-las para os endereços [email protected]
ou [email protected]. Quem não tiver
a senha pessoal também pode solicitá-la por e-mail.
Mantenha-se acessível!
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
Meu consultório
Sem medo de inovar
Espelhando-se no modelo francês,
Rita Furtado faz procedimentos
com o auxílio do ultrassom no
consultório, além de investir na
educação dos pacientes.
A
Reumatologia é mesmo uma especialidade sem procedimentos?
A reumatologista potiguar Rita Furtado,
radicada em São Paulo desde que se formou em medicina, em 1994, e dona de
um consultório muito bem estruturado,
entende que não. Após sua residência em
Clínica Médica e Reumatologia na Unifesp, seguida por uma especialização em
Fisiatria, Rita foi para a França, para um
doutorado-sanduíche, e mergulhou num
curso de Reumatologia Intervencionista.
Queria vivenciar um pouco do modelo
francês, já que o brasileiro se espelha
mais no americano. “O reumatologista
francês é o grande clínico do aparelho
locomotor e realiza procedimentos maiores, diferentemente do americano, que é
mais imunologista”, justifica.
Assim, a médica, que já clinicava desde o fim da residência, terminou seu
aprendizado, incluindo o doutorado, e
voltou para o Brasil com a ideia de praticar o modelo francês – o que não significou abrir mão do interesse pelos intrincados mecanismos do sistema imune. Ao
retornar da França, em 2003, começou a
pôr seu plano em prática. Já estava vinculada academicamente ao reumatologista
Jamil Natour, que tinha experiência em
procedimentos, e com ele otimizou a Reumatologia Intervencionista da Unifesp,
com dois ambulatórios, onde atua até hoje
no ensino, na pesquisa e no atendimento
a pacientes. Em paralelo, passou a atender no consultório do colega.
No ano seguinte, lançou-se à empreitada de ter um consultório próprio, que
atualmente divide com o marido, urologista, e com outros sete diferentes especialistas no bairro de Moema, em São
Paulo. Ali Rita faz a
Reumatologia Intervencionista em que se
especializou na França, mas também a
Reumatologia Clínica
clássica que aprendeu
durante toda sua formação acadêmica e
prática. E foi investindo aos poucos para introduzir no local um
modelo próprio de ser reumatologista.
Sem laudo
Logo de cara se interessou em adquirir um ultrassom, que usa como extensão do exame físico para guiar as punções que não podem ser feitas às cegas e
como extensão de seu exame clínico articular, sobretudo nas articulações de
acesso mais difícil, como quadril, ombro
e mediopé. “Mas não emito laudo, pois
não sou radiologista”, esclarece. Tanto é
que, garante, mantém uma interface
muito positiva com esses especialistas e
não raro encaminha seus pacientes para
exames laudados. “Grosso modo, enquanto estamos mais preocupados com
a sinóvia, o radiologista pensa mais nos
tendões e nas lesões musculares”, compara. Quando somados, esses dois ângulos se complementam.
Para quem acha a ultrassonografia útil
no consultório, mas teme o desconforto
dos radiologistas, Rita lembra que o método já nasceu sem reserva de mercado.
“Ele foi trazido pelo ginecologista e tem
sido muito usado por várias outras especialidades médicas”, observa. “Só acho
que temos de evitar laudar exames”, reitera. Em termos de investimento, a médica acredita que não há necessidade de
investir num aparelho de última geração, pois isso faz mais sentido num serviço de Radiologia. “O mais importante
é a portabilidade do equipamento para
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 2 • abr/mai/jun/2011
que ele possa ser transportado facilmente, seja de
uma sala de procedimento para outra, seja até para
o hospital, quando necessário”, diz.
Nos detalhes
Se o ultrassom é um
grande aliado de Rita, convém avisar que não se trata do único. A médica também comprou um podoscópio para auxiliar a avaliação do pé dos pacientes reumáticos e está se preparando para adquirir outros aparelhos para ajudá-la na
prática clínica. Além disso, imprimiu sua
marca, como reumatologista e fisiatra,
em cada detalhe do consultório. Isso
pode ser observado, por exemplo, nas
barras instaladas nos banheiros e no piso
antiderrapante, que visam à segurança
das pessoas com dificuldade de locomoção, e nas macas especiais que desenhou
para as salas de procedimento, com diversas gavetas abastecidas de todos os
apetrechos de que precisa em cada momento, sobretudo quando não tem auxiliar por perto.
A reumatologista ainda investe bastante na educação e na promoção da saúde
de seus pacientes. Criou uma linha de
folhetos sobre as diferentes doenças reumáticas e outros impressos para orientar a postura dos indivíduos com dor crônica no cotidiano, inclusive para a adaptação da vida sexual. “O fato é que, como
uma hora de consulta é um tempo relativamente curto para a educação aos pacientes, esses materiais os auxiliam em
seu autocuidado”, explica. A próxima
empreitada vai ser o aperfeiçoamento do
site do consultório, que tem importância nessa parte educacional, é verdade,
mas funciona antes como um cartão de
visitas. Mas o marketing é outra discussão, que fica para uma próxima vez.
21
Além da Reumatologia
Articulações na cabeça, rock na veia
Reumatologista
do HSPE-SP
mantém vida
paralela de
roqueiro,
chegando a se
encarregar da
parte social
de eventos
científicos com
sua banda, a
Number 9.
Dr. Bob Dylan
N
o hospital e no consultório, ele
aconselha os pacientes a chacoalhar o esqueleto para reduzir as dores das
mais diversas doenças reumáticas. Nos
palcos, ele faz o público chacoalhar com
seu som. Essa é a rotina do reumatologista Silvio Figueiro Antonio, de São
Paulo, que ganhou a primeira guitarra
aos 9 anos de idade e desde a adolescência associa solos e acordes com sua
vocação para a medicina.
De lá para cá, teve algumas pausas na
vida musical, mas, a partir do ano de
2000, ele e o primo, Carlos Said Antonio, que o acompanha na estrada do rock
desde a infância, resolveram retomar o
projeto banda para afastar o estresse do
dia a dia. “Voltamos a ensaiar ocasionalmente e agendar shows para reunir
os amigos, nos divertir e ver o pessoal
dançar e ser feliz”, resume ele o lema da
Number 9, o nome de sua banda, inspirado nos Beatles.
Cultuador e estudioso do quarteto inglês, Silvio descobriu que o nove é
cabalístico para John, Paul, Ringo e
George. “O número ronda o grupo e a
carreira-solo de seus membros, estando presente em várias canções”, conta.
Uma delas, que fez a cabeça do reumatologista em particular, é Revolution
Nine, música pouco executada de John
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Lennon, que também batizou uma antiga boate em Londres.
Dr. Bob Dylan
Com essa estreita correlação, qualquer
leigo pode diagnosticar que, no repertório da Number 9, não faltem hits dos ingleses – e também dos Rolling Stones,
of course. Mas o quinteto liderado por
Silvio não se restringe ao rock dos anos
60 e arrasa também em sucessos internacionais dos anos 70 e 80, tocando sons
de The Police, Duran Duran, U2, Tears
for Fears, Men at Work e Elton John,
entre muitos outros.
A Number 9 não estabeleceu uma rotina metódica de ensaios e se reúne, segundo Silvio, sempre dentro das possibilidades de seus integrantes, uma vez
que quase todos mantêm atividades profissionais paralelas. O baixista
Carlos é auditor
da Receita Federal; o cantor Renato Davi, empresário, e o baterista
Daniel Vanetti, advogado. E Silvio
faz consultório e
ainda atua no Serviço de Reuma-
tologia do Hospital Servidor Público
Estadual de São Paulo (HSPE-SP). A
exceção fica por conta do tecladista
Robert Arias, que, por ter formação musical, só se dedica a essa, digamos, especialidade.
Diante disso, sempre que marca algum
show, a banda faz um tour de force para
ensaiar e deixar o som tinindo. A frequência das apresentações varia, mas não
raro inclui eventos científicos de laboratórios e de serviços médicos. O último,
não por acaso, foi a Reciclagem da
Reumatologia do HSPE-SP, organizada pelo diretor do serviço, Wiliam
Chahade, de 14 a 17 de abril, no Hotel
Jequitimar, no Guarujá (SP). Na oportunidade, 300 pessoas cantaram e dançaram com a Number 9 durante a programação social do evento.
Assim é que, na prática, Silvio concilia a música e a medicina, e isso desde os
tempos da faculdade, quando um veterano passou a chamá-lo de Bob Dylan,
depois de vê-lo tocar –apelido, que, aos
poucos, foi sendo reduzido para Bob,
como até hoje alguns contemporâneos o
conhecem. “Fazíamos vários serões dos
Beatles, de classic rock e de country, ao
violão, com outros colegas de diversas
turmas, e participávamos do ShowMed
e de alguns festivais estudantis que eram
moda na época”, conta. “Era uma curtição agregar amigos com boas canções”.
Dr. Bob faz jus à alcunha.
Contatos para shows: [email protected]
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