ESTUDO DESCRITIVO DAS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS, LABORATORIAIS E ANATOMOPATOLÓGICAS DE INDIVÍDUOS PORTADORES DE DOENÇAS ADENO-HIPOFISÁRIAS Gisele dos Santos Silva (Bolsista Fundação Araucária/Inclusão Social), Natasha Guimarães Ludwig, Tânia Longo Mazzuco ([email protected]) Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Clínica Médica/CCS Área e sub-área do conhecimento: Clínica Médica/ Ambulatório de Endocrinologia Palavras-chave: adenoma, glândula hipofisária, hormônios. Resumo A glândula hipofisária secreta cinco tipos de hormônios cruciais para a regulação do metabolismo, do crescimento, da reprodução e do comportamento. Alterações morfológicas na hipófise (adenomas) podem acarretar aumento ou diminuição da secreção desses hormônios. Este trabalho teve por objetivo levantar a casuística de pacientes portadores de doenças adeno-hipofisárias atendidos no ambulatório de neuroendocrinologia do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Londrina (HC/UEL), além de descrever suas alterações laboratoriais e anatomopatológicas. Foram revisados no total 30 prontuários de pacientes com doenças adeno-hipofisárias, sendo 19 mulheres e 11 homens. Desses, 2 tinham como diagnóstico hipopituitarismo, 7 pan-hipopituitarismo, 10 excesso de produção hormonal e 11 alterações combinadas. A característica anatomopatológica prevalente foi o macroadenoma funcionante de hipófise (65%). A deficiência de GH foi um achado frequente e a literatura descreve sua associação com a presença de massas hipofisárias, mesmo na ausência de pan-hipopituitarismo. A descrição da casuística local auxiliou na compreensão do papel das alterações morfológicas sobre a função hipofisária e na elaboração de um banco de dados de doenças pouco frequentes facilitando o planejamento de outros projetos que visam estudar alterações moleculares de genes mutados. Introdução e objetivo A hipófise é subdividida em: neuro-hipófise e adeno-hipófise, sendo crucial para a regulação hormonal do metabolismo, do crescimento, da reprodução e do comportamento (GUYTON, 2011). Através da conexão vascular da adeno-hipófise com o hipotálamo, o hipotálamo integra sinais estimulatórios e inibitórios centrais e periféricos para os cinco tipos fenotipicamente distintos de células da hipófise que secretam os seguintes hormônios: somatotropina (GH), prolactina (PRL), hormônio folículo estimulante (FSH), hormônio luteinizante (LH), tireotropina (TSH) e corticotropina (ACTH) (GUYTON, 2011). Uma das principais causas de alterações na produção e liberação desses hormônios são os tumores de hipófise. Eles normalmente são benignos e podem acarretar aumento (hipersecreção) ou diminuição (hipo ou panhipopituitarismo) da produção dos hormônios adeno-hipofisários. Ambas condições podem ocorrer simultaneamente (alterações combinadas) (BRANT,2008). A morfologia dos adenomas hipofisários é verificada através de exames de imagem e confirmada cirúrgica e anatomopatologicamente. Morfologicamente, os tumores hipofisários são classificados como microadenomas (diâmetro igual ou inferior a 10mm) e macroadenomas (diâmetro superior a 10mm) (BRONSTEIN, 2015). O objetivo do trabalho foi levantar a casuística de pacientes com doenças adeno-hipofisárias atendidos no ambulatório de neuroendocrinologia do Hospital das Clínicas de Londrina (HC/UEL) e descrever suas alterações laboratoriais e anatomopatológicas. Procedimentos metodológicos Foi feito um levantamento de dados clínicos e anatomo-patológicos de 30 pacientes com doenças adeno-hipofisárias atendidos HC/UEL. Para realizar as análises descritivas, as alterações hormonais foram classificadas quanto aos diagnósticos funcionais em quatro grupos: hipopituitarismo, panhipopituitarismo, secreção hormonal aumentada (caracterizando tumor “funcionante”), ausência de excesso de secreção hormonal em exame de sangue periférico (“não funcionante”) e alterações combinadas. As alterações morfológicas foram divididas em: microadenoma, macroadenoma e outros. O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da UEL (CEP-UEL) conforme Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina (CEP/UEL) n° 184/2013. Resultados e Discussão Foram revisados no total 30 prontuários de pacientes com doenças hipofisárias, sendo 19 (63%) mulheres e 11 (37%) homens. 7% foram diagnosticados com hipopituitarismo, 23% com pan-hipopituitarismo, 33% com excesso de produção hormonal e 37% com alterações combinadas (Tabela 1). A deficiência do hormônio do crescimento (DGH) é a deficiência adenohipofisária mais frequente, nos portadores de doenças hipotálamo-hipofisárias, pois as células somatotróficas apresentam uma distribuição peculiar na porção anterior da hipófise, sendo então o GH o primeiro tipo de hormônio afetado quando se desenvolve uma massa tumoral nesta glândula. A prevalência de DGH, nestes pacientes, aumenta de acordo com o número de deficiências hormonais associadas. Está presente em 45% dos pacientes com única deficiência hormonal e em 100% dos pacientes com dois ou mais setores comprometidos (GHRS, 1998). Em nosso estudo a ausência da produção de GH esteve presente em quase todos os casos (77%) de deficiências múltiplas, mas em apenas um caso de hipopituitarismo (associado à hipersecreção de PRL). Além disso, os hormônios mais comumente encontrados em níveis abaixo dos normais foram: FSH e LH (15 pacientes). A hipersecreção mais comum foi a de GH (9 pacientes) seguida por PRL (8 pacientes) e ACTH (4 pacientes) (Tabela 1). Esses achados estão próximos do descrito em estudos prévios, que relatam o adenoma produtor de PRL como sendo o mais frequente, seguido dos produtores de GH e ACTH (TELLA, 2000). O tamanho da amostra desse estudo justifica as diferenças encontradas na prevalência das alterações hormonais quando comparadas com estudos maiores. Tabela 1 - Distribuição da casuística por idade e gênero de acordo com os dados laboratoriais. Gênero Total Idade (anos) (F:M) Média (mín-máx) Mediana Hipopituitarismo Deficiência de FSH/LH 42,5 42,5 1:0 1 Deficiência de TSH 44,6 44,6 1:0 1 Deficiência de GH e FSH/LH 56,5 56,5 1:0 1 Deficiência de GH, ACTH e FSH/LH 45,7 45,7 0:1 1 Deficiência de GH, ACTH e TSH Deficiência de GH, ACTH, FSH/LH e TSH Deficiência de GH, ACTH, FSH/LH, TSH e PRL 50,3 50,3 0:1 1 47,9 (34-68,6) 41,3 0:3 3 68 68 1:0 1 58,8 (42,8-81,6) 55,4 4:0 4 30 30 1:0 1 40,6 40,6 0:1 1 41,3 (35-46,9) 41,7 4:0 4 deficiência de GH 56,4 56,4 0:1 1 deficiência de GH e FSH/LH deficiência dos GH, ACTH, FSH/LH e TSH 38,5 38,5 0:1 1 50,4 50,4 1:0 1 deficiência de FSH/LH Excesso de GH e 33 33 0:1 1 deficiência de ACTH Pan-hipopituitarismo Secreção hormonal aumentada GH ACTH FSH/LH PRL Alterações combinadas Excesso PRL e Excesso de PRL e GH e 45,75 (31,8-59,7) 45,75 1:1 2 deficiência de ACTH e FSH/LH 39,9 39,9 1:0 1 deficiência de ACTH, FSH/LH e TSH 36,2 36,2 1:0 1 deficiência de FSH/LH 23,7 23,7 1:0 1 deficiência de FSH/LH e TSH 39,5 39,5 1:0 1 36 36 0:1 1 30,8 42,3 1,7:1 30 Excesso de ACTH e deficiência de GH, FSH/LH e TSH Total Fonte: o autor (2015) Aproximadamente 75% dos adenomas hipofisários são hormonalmente ativos (BRANT, 2008). Na amostra estudada, encontrou-se uma prevalência de macroadenomas funcionantes (65%) em relação aos macroadenomas não funcionantes (19%) e microadenomas funcionantes (16%), tanto no sexo feminino como no masculino. Diagnósticos como sela túrcica vazia e parcialmente vazia, hipofisite e incidentaloma foram classificados como “outros” (Tabela 2). Nessa amostra, não foram encontrados pacientes com microadenomas funcionantes. Tabela 2 – Distribuição da casuística por idade e gênero de acordo com os dados anatomopatológicos. Idade (anos) Gênero (F:M) Total Média (mín-máx) Mediana Microadenoma funcionante 40,05 (30-46,9) 41,65 4:0 4 Macroadenoma funcionante 44,5 (23,7-81,6) 39,9 1,8:1 17 Macroadenoma não funcionante 51,34 (41,3-68,6) 45,7 1:0,9 5 48,7 (34-68) 46,4 1:1 4 30,8 42,3 1,7:1 30 Outros Total Fonte: o autor (2015) Conclusão A deficiência do hormônio de crescimento foi um achado comum, seja na forma isolada ou em associação a outras deficiências de hormônios hipofisários. A descrição da casuística local auxiliou na compreensão do papel das alterações morfológicas sobre a função hipofisária e na elaboração de um banco de dados destas doenças pouco frequentes facilitando o planejamento de outros projetos que visam estudar alterações moleculares de genes mutados. Referências bibliográficas BRANT, W.E.; HELMS, C.A. Fundamentos de Radiologia: Diagnóstico por Imagem. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008, p. 101-127 BRONSTEIN, M.D.; MELMED, S. Tumorigênese hipofisária. Arq Bras Endocrinol Metab. 2005, vol.49, n.5, p. 615-625. Growth Hormone Research Society. Consensus guidelines for the diagnosis and treatment of adults with growth hormone deficiency: summary statement of the Growth Hormone Research Society Workshop on Adult Growth Hormone Deficiency. J Clin Endocrinol Metab 1998, vol.83, p. 379-381. GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 12ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, p.941-943. TELLA JR, O.I.; HERCULANO, M.A.; DELCELO, R. Adenomas hipofisários: relação entre invasividade e índice proliferativo tumoral. Arq. Neuro-Psiquiatr. 2000, vol.58, n.4, p. 1055-1063.