CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE

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SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES
Educação, Saúde, Movimentos Sociais, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
20 a 31 de Julho de 2009
Salvador - BA
CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE: UM OLHAR SOBRE AS PERCEPÇÕES
DE ADOLESCENTES DA PERIFERIA DE FORTALEZA-CE1.
Liliane Batista Araújo∗
Marília Lisboa de Oliveira∗
Aline Maria de Castro Almeida∗
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este relato de experiência expõe as percepções de 14 (quatorze) adolescentes sobre
saúde sexual relacionadas às temáticas: gênero, corpo e sexualidade, partindo de uma oficina
desenvolvida em um Espaço Cultural localizado na periferia de Fortaleza-CE. A atividade foi
proposta na disciplina de Educação Sanitária do Curso de Graduação em Economia Doméstica da
Universidade Federal do Ceará - UFC. Essa disciplina apresenta como um dos objetivos a
promoção de vivências através de trabalhos de grupo, possibilitando uma inter-relação reflexiva e
crítica entre o pensar, sentir e agir para o desenvolvimento de atividades de educação em saúde.
A escolha do tema partiu de uma solicitação feita pela coordenadora da instituição, uma
vez que os adolescentes já haviam demonstrado interesse em discutir a temática da sexualidade.
Entretanto, anterior a oficina foi aplicado um questionário com 15 (quinze) perguntas objetivas, a
fim de traçar um breve perfil socioeconômico dos participantes, assim como os seus conhecimentos
prévios sobre saúde sexual.
A oficina, de 4 (quatro) horas, contou com a participação de 14 (quartoze) adolescentes
com idade entre 12 e 16 anos, e baseou-se nas ideias de Paulo Freire. O mesmo entende o educador
e o educando como sujeitos produtores, reprodutores e transformadores da sociedade, sendo peças
fundamentais na construção do conhecimento e no processo de aprendizagem (FREIRE, 1977).
1
Artigo apresentado como trabalho final da disciplina de Educação Sanitária do curso de Economia Doméstica, da
Universidade Federal do Ceará no ano de 2008.
∗
Estudantes do Curso de Graduação em Economia Doméstica pela Universidade Federal do Ceará.
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SAÚDE SEXUAL: UMA RELAÇÃO ENTRE CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE
Pensar saúde sexual sob ótica das relações de gênero nos leva a um leque de questões
que estão interligadas e são difíceis de serem compreendidas separadamente. Quando se relacionam
esses temas, inicialmente é pensado no corpo, não como simplesmente um conjunto de sistemas que
funcionam coordenadamente a fim de proporcionar movimentos e sentidos, mas no seu conjunto. O
corpo é uma construção histórica e social, a ele são atribuídos significados (GOELLNER, 2003).
O corpo pode fornecer várias leituras, tendo em vista que se pode considerar um corpo
ou vários corpos. Existem diversas formas de ver o corpo, desde ele como materialidade biológica,
ou como lugar de práxis social, subjetividade, construção cultural, ou ainda como lugar de inclusão
de outros corpos. (JAGGAR; BORDO, 1997 apud ROTANIA, 2000).
Rotania (2000) considera que o corpo e o seu conceito estão ligados as questões da
natureza e da cultura, e que designam vários e diversificados posicionamentos de teóricos,
filosóficos e antropológicos. Alguns atos que começam hoje a ser habitual em nossos corpos estão,
na verdade, de acordo com a nova ordem econômica, social, política e cultural. Trata-se o corpo
como uma unidade real, absoluta e de horizontes determinados.
O corpo não é apenas um texto da cultura. É também, como sustentam antropólogo Pierre
Bourdieu e o filósofo Michel Foucault, entre outros, um lugar prático direto de controle
social. De forma banal, através das maneiras à mesa e dos hábitos de higiene, de rotinas,
normas e práticas aparentemente triviais, convertidas em atividades automáticas e
habituais, [...] Nossos princípios políticos conscientes, nossos engajamentos sociais,
nossos esforços de mudanças podem ser solapados e traídos pela vida de nossos corpos –
não o corpo instintivo e desejante concebido por Platão, Santo Agostinho e Freud, mas o
corpo dócil e regulado a serviço das normas da vida e habituado às mesmas (BORDO,
1997, p. 19).
É atribuído ao corpo do homem e da mulher papéis historicamente construídos. Para
Arrazola (1997) a sexualidade de homens e de mulheres está relacionada à sua afetividade e às
diferentes expressões desta, seja entre homens, entre mulheres ou entre ambos. Nessa sexualidade,
demonstram-se, também, as relações de gênero que são vivenciadas de modos distintos por homens
e mulheres. Sobre o corpo da mulher existe um domínio, não só enquanto corpo formador de
energia humana transformadora e criadora, mas também enquanto corpo reprodutor de outros seres
humanos. Neste último, o homem pode reconhecer ou não a paternidade, sendo esta uma das formas
de poder e de dominação masculina no relacionamento sexual de homens e mulheres, especialmente
quando estas ainda são moças, virgens.
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A sexualidade é um dos modos de existir o corpo e da escolha de gênero,
consequentemente umas das manifestações da identidade. [...] os jogos e brincadeiras, os
quais expressam não só a sociabilidade das relações entre meninos e meninas, mas também
a manifestação de sua sexualidade, principalmente quando deles participam meninos e
meninas. O incentivo que pode dar à paquera a ao namoro, ao risco da perda da virgindade,
à exposição de seus corpos e ao contato com corpos dos meninos com as meninas, faz dos
jogos e brincadeiras, objeto de proibição. Que facilmente se traduzem em rejeição à menina
pelos meninos e em resistência e contestação por parte das meninas a essas restrições ou
proibições (MITCHELL, 1986 apud ARRAZOLA 1997, p. 377).
As distinções de gênero podem ser observadas antes mesmo do nascimento, através dos
símbolos quando, por exemplo, os pais ao saber do sexo do bebê, escolhem a cor azul para o
menino e a cor rosa para a menina, como afirma Amaral (2005). Meninas e meninos adquirem
características e atribuições aos apreciados papéis femininos e masculinos. São levadas (os) a se
identificarem com padrões do que é feminino e masculino para em seguida, melhor realizarem esses
papéis. Os modelos atribuídos às mulheres não só diferem daqueles destinados aos homens, como
também são desvalorizados. Devido a isso, as mulheres vivem em condições de inferioridade e
subordinação em relação aos homens (FARIA; NOBRE, 1997).
Os adolescentes expressam as representações do ser masculino e do ser feminino tanto na
perspectiva da dualidade do sexo biológico como as relações de diferenças e igualdades
entre homem-mulher nos seus universos de convivência ou nas relações de trabalho, de
poder no cotidiano familiar, de referências e identificações nos grupos de amizade ou na
projeção de atitudes. [...] Todas as nossas ações estão demarcadas pela distinção de gênero,
demarcação esta atribuída por significados estruturados em relação a nossa realidade
cultural. Portanto, pode-se atribuir gênero a coisas, objetos, formas e atitudes, por exemplo
(AMARAL, 2001, p. 22).
É importante destacar que Gênero não é “sinônimo” de sexualidade, mas as construções
relativas às práticas sexuais estão inscritas nas relações de gênero, revelando símbolos que
socialmente vão “conferindo forma” às diferenças que ilustram o feminino e o masculino em
culturas diversas. Por sua vez, estas diferenças vão demarcar lugares, influenciar atitudes e práticas
determinadas, no exercício do prazer sexual definido como feminino e masculino, a partir de corpos
que “funcionam” de forma diferente, na sua interface com o campo biológico (APARECIDA,
2004).
A adolescência destaca-se por ser uma fase de transição entre a infância e a juventude
em que ocorrem mudanças físicas, psicológicas, sociais e culturais, assim, é considerada uma etapa
de grande importância do desenvolvimento, contendo características singulares. Observa-se que as
mudanças nos corpos pertencentes desta fase são comuns a todos os indivíduos, variando enquanto
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as psicológicas e de relações, esta dependerá da cultura em que ele estará inserido (ZAGURY,
1999).
Assim, na adolescência, como afirma Osório (1992) apud Cano (2000) a sexualidade é
um elemento estruturador da identidade dos jovens; esta por sua vez é inserida na mesma época em
que a personalidade está na fase final de construção. A partir disso, percebe-se a necessidade de
identificar os mitos, tabus e as manifestações dessa sexualidade aflorada que é própria da idade,
podendo assim manter o diálogo franco e tranqüilo com os adolescentes.
TRILHANDO CAMINHOS METODOLÓGICOS PARA PROMOVER UM DEBATE
O estudo realizou-se no período de agosto a novembro de 2008 e envolveu a
participação de estudantes da disciplina de Educação Sanitária da UFC. A primeira etapa se deu
com a visita a instituição escolhida, onde foi realizada uma entrevista com a coordenadora, na qual
solicitou o tema “Saúde sexual” a ser trabalhado com as (os) adolescentes na oficina.
Na segunda etapa, realizou-se o levantamento bibliográfico no acervo do Núcleo de
Estudos e Pesquisa sobre Gênero, Idade e Família - NEGIF, núcleo de referência do Curso de
Economia Doméstica da UFC. A terceira etapa correspondeu à elaboração de um questionário
contendo 15 (quinze) perguntas objetivas, para traçar um perfil socioeconômico dos adolescentes,
como também os seus conhecimentos prévios no que diz respeito às temáticas que seriam abordadas
na oficina. A mesma foi planejada, utilizando-se de dinâmicas de grupo, na qual foram selecionadas
de acordo com assuntos relacionados à saúde sexual.
Um trabalho estruturado com grupos, independente do número de encontros, sendo
focalizado em torno de uma questão central que o grupo se propõe a elaborar, em um
contexto social. A elaboração que se busca na oficina não se restringe a uma reflexão
racional, mas envolve os sujeitos de maneira integral, formas de pensar, agir, sentir [...]
(AFONSO, 2005 apud CARVALHO et al., 2000. p. 9).
A quarta etapa se deu na elaboração e aplicação da oficina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As (os) adolescentes participantes possuíam uma faixa etária de 12 a 16 anos de idade,
sendo 11 (onze) do sexo feminino e 3 (três) do sexo masculino, com escolaridade em torno da sexta
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série (7º ano, atual) do ensino fundamental ao segundo ano do ensino médio. Através da analise dos
questionários, a maioria das (os) jovens revelou morar com pai e mãe, caracterizando um modelo de
família nuclear. E apenas dois adolescentes revelaram quanto à iniciação sexual.
O modelo nuclear de família “[...] tem sua origem no casamento, é formado por marido,
esposa e filhos (as) do casamento e eventualmente outros parentes que se ajuntaram ao núcleo”
(STRAUSS, 1980 apud BRUSCHINI, 1990, p. 36).
A oficina foi iniciada com a “Dinâmica da Boneca”, que teve a finalidade de promover
uma interação com as (os) participantes, para isso utilizou-se uma boneca que recebeu o nome de
“Jô”. As (os) adolescentes foram orientadas (os) a dizer seu nome e em seguida, executar uma ação
com a boneca. Ao final, cada uma (um) repetiu a ação feita na boneca com a (o) participante ao
lado.
Durante a dinâmica de apresentação pôde-se perceber que as (os) adolescentes
mostraram-se tímidas (os) e apreensivas (os) em dizerem o seu próprio nome e realizarem uma ação
com a boneca. Ao serem informadas (os) que deveriam repetir a mesma ação dirigida à boneca com
a (o) colega ao lado, foi observado o receio momentâneo em ter que tocar no corpo do outro. Assim,
conforme Mitchell (1986) apud Arrazola (1997) os jogos e as brincadeiras são considerados como
meios de socialização entre meninas e meninos, como também podem manifestar a suas
sexualidades, quando existe a interação de ambos os sexos. O estímulo pode-se ir de uma paquera
ao risco da perda da virgindade e a exibição do corpo e o contato com corpos do sexo oposto,
cometem aos jogos e brincadeiras objeto de proibição. Naturalmente explicam a rejeição à menina
pelos meninos e em aversão e contestação por parte das meninas a esses impedimentos.
Para inserir o debate a respeito do uso do corpo, realizou-se a dinâmica “Conhecendo o
Corpo”. O desenho de um corpo humano foi exposto as (aos) adolescentes e as discussões giraram
em torno dos questionamentos das facilitadoras: “De que é feito esse corpo?”, “Para que ele
serve?”, “O que ele faz?”, “A quem o corpo pertence?”, “Como nós utilizamos nosso corpo?”, “Nós
cuidamos do nosso corpo?”, “Como cuidamos do corpo?”. A partir dessas questões destacam-se
algumas falas das (os) adolescentes:
“Pai e mãe cuidam do corpo quando somos crianças”
“O pai e a mãe são donos do corpo”
“Tem que pedir aos pais para fazer coisas no corpo como piercing e tatuagem”
“Existem pais liberais demais e quando eles percebem o “pior” já tem acontecido”
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“Só os pais podem ser donos dos corpos”
Observa-se a partir dessas falas que a família exerce grande influência nas tomadas de
decisões dos jovens. “As competências familiares são conhecimentos, práticas e habilidades das
famílias que facilitam e promovem a sobrevivência, o desenvolvimento, a proteção e a participação
das crianças” (UNICEF, 2003 apud CEARÁ, 2005, p. 22).
Amaral (2001) complementa que a dinâmica das relações familiares estabelece algumas
regras para a convivência familiar, dentre estas alguns princípios são voltados para permissões e
proibições. Meninos e meninas consideram que estas regras fazem parte da educação que devem
receber dos pais, e mesmo havendo momentos de permissividade associados às limitações, os
mesmos sentem-se protegidos e cuidados ao mesmo tempo em que têm a sensação de serem
controlados e dominados por seus pais.
Com relação à fala “Na cabeça de pai e mãe, o filho nunca cresce” pode-se justificá-la
através de Ariès (1977) apud Bruschini (1990) quando o mesmo trata a infância como categoria
social, afirmando que a família “moderna” trouxe consigo um novo conjunto de atitudes com
relação às crianças, apresentando formas de intimidade entre pais e filhos, em especial a
supervalorização do amor materno, e a preocupação com as qualidades emocionais das relações
familiares.
Após terem discutido sobre o corpo, as (os) jovens foram instigadas (os) a debater sobre
as diferenças existentes no corpo masculino e feminino. Na dinâmica “Diferenças Corporais”, as
(os) adolescentes foram divididos em dois grupos. Cada grupo recebeu duas folhas de papel
madeira e a orientação de desenhar o corpo de um homem e de uma mulher, enfatizando suas
diferenças.
Inicialmente, os grupos discutiram como seria o corpo de um homem e o corpo de uma
mulher, e somente depois os desenharam. O primeiro grupo desenhou os dois corpos com roupas
íntimas (FIGURA 1) e o segundo grupo desenhou o corpo da mulher vestida com saia e colete e o
corpo do homem vestido com bermuda e camiseta (FIGURA 2).
Os dois grupos ao descreverem as diferenças entre homem e mulher, ressaltaram,
principalmente, àquelas socialmente construídas para cada sexo. Através dos desenhos, verificou-se
que as mulheres possuíam cintura fina, pernas grossas, olhos azuis, boca e unhas pintadas.
Ressaltando que as mesmas tinham o papel de seduzir e conquistar o homem, conforme falas do
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grupo. Para o desenho dos homens, observou-se, que eles não precisavam ser necessariamente
esbeltos e/ou vaidosos.
Figura 1 – Desenho do Grupo 1 sobre as diferenças corporais do
homem e da mulher
Figura 2 – Desenho do Grupo 2 sobre as diferenças
corporais do homem e da mulher
Com relação aos aspectos físicos, ou seja, as diferenças biológicas entre mulher e
homem, não foi observado nas falas das (os) adolescentes, inicialmente, nada a respeito. No
entanto, quando indagadas (os) pelas facilitadoras sobre estes aspectos, as (os) mesmas (os)
aparentaram certa timidez ao falarem os nomes dos órgãos genitais.
Fagundes (2006, p. 90) explica que é
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nesta fase da vida, de mudanças físicas, psicológicas, sociais e culturais tão intensas, o
adolescente se sente confuso, cheio de dúvidas e ansiedades, principalmente em relação à
postura corporal, comportamentos e atitudes; confuso, enfim, quanto à forma de ver e de
entender o mundo. [...] As meninas procuram realçar as novas “curvas” do corpo, usam
batom para delinear os lábios e, com isso, chamar mais a atenção, exercitando sua
capacidade de atrair, produzindo efeito principalmente nos rapazes. [...] Já os rapazes
procuram ter um corpo de atleta, um bom desempenho sexual, virilidade, potência, saber
lidar com o desejo e com a excitação (acompanhada muitas vezes de ereção inesperada),
com a “transa” e em como conquistar muitas garotas sem se prender a sentimentos e
emoções (FAGUNDES, 2006, p. 90).
Percebeu-se, ainda, que as (os) adolescentes consideram os modelos ditos pela
sociedade, como verdadeiros e que deveriam ser seguidos. Contudo, quando questionadas (os) pela
mediadora sobre esse molde como “verdadeiro”, as (os) mesmas (os) foram levadas (os) a refletir
sobre essas contradições existentes, entre os padrões impostos pela sociedade e a realidade e cada
uma (um).
Para Amaral (2005) o processo de construção de identidades, masculina ou feminina do
adolescente, é influenciado a partir de experiências daquilo que lhes é ensinado em suas relações
familiares e grupais. Faria e Nobre (1997, p. 10) complementam que “educados assim, meninas e
meninos adquirem características e atribuições correspondentes aos considerados papéis femininos
e masculinos [...]”.
A oficina foi encerrada com a temática “Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)” e
os métodos contraceptivos. Nesse momento, para a dinâmica “Sexo Seguro”, dividiu-se, a partir de
sorteio, as (os) adolescentes em três grupos. Cada grupo recebeu uma tarjeta contendo o nome de
um método contraceptivo para que pudessem produzir uma bula, semelhantes às encontradas em
remédios.
Nesta etapa, constatou-se grandes dúvidas das (os) participantes sobre a saúde sexual,
apontando a carência de informação sobre os métodos contraceptivos e as DST. O que pode indicar
a falta do diálogo dessas (es) jovens com os pais, isso justifica o fato de apenas dois, das (os)
quartoze adolescente, afirmarem tratar desses assuntos com seus respectivos pais.
Na apresentação dos métodos contraceptivos as facilitadoras perceberam o interesse por
parte das (os) adolescentes, em conhecer a forma correta de usar o preservativo masculino. Diante
disso, escolheu-se uma adolescente para pôr a camisinha em uma banana; na medida em que a
mesma colocava o preservativo, a facilitadora lhe orientava, ressaltando a importância do uso
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correto tanto pelas meninas quanto pelos meninos, no que se refere à responsabilidade na prevenção
de uma gravidez indesejada e/ou DST.
Segundo Zagury (1999) a educação sexual dos filhos sempre foi uma das grandes
preocupações dos pais. Isso pode demonstrar que os mesmos não conversam com os filhos sobre
sexualidade, e os que falam utilizam-se de metáforas, ou só conseguem abordar alguns aspectos por
sentirem-se intimidados, ou despreparados para a conversa franca.
Suplicy (1991) apud Cano et al. (2000) fala que “para lidar com a sexualidade dos
filhos, os pais necessitam se defrontar com a própria sexualidade e esta situação pode gerar, muitas
vezes, angústia. A sexualidade dos filhos traz à tona, para muitos pais, aspectos reprimidos da
própria sexualidade”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ser humano é um todo formado pelo biológico, psicológico e social, conceitos muitas
vezes não lembrados. Mesmo na era de avanços tecnológicos e o acesso a inúmeros veículos de
comunicação, pode-se observar, a partir das falas de algumas (ns) das (os) adolescentes, a ausência
da participação da escola e da família no processo de educação sexual.
Pode-se notar que somado as questões da iniciação sexual está à opressão sobre os
corpos das (os) adolescentes, muitas vezes exercida pelos próprios pais, como algumas (ns) jovens
relataram. Percebeu-se também, através das respostas das (os) jovens que existem modelos de
corpos a serem seguidos rigorosamente e são impostos pela sociedade, sob pena de exclusão para
aqueles que não estão dentro desses parâmetros pré-estabelecidos.
A saúde sexual deve ser pensada de forma contextualizada para que possa acontecer uma
desconstrução continuada das questões de gênero, dos modelos opressores de corpos, como também
a hierarquia entre eles. Acreditando na parceria com as políticas públicas, e estas por sua vez, sejam
criadas não somente para o atendimento das necessidades, mas que tenham uma visão mais ampla,
proporcionando o conhecimento e a formação da consciência crítica entre os indivíduos da
sociedade, assim, como uma sociedade mais justa e igualitária.
REFERÊNCIAS
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