EDITORIAL 7 Desenvolvimento da Sexualidade na Adolescência Sexo. Sexo e Amor. “Amor é isso. Sexo é aquilo. Amor é um, sexo é dois, sexo antes e amor depois e coisa e tal”. Palavras, poesia e música composta por Rita Lee que com certeza todos conhecem. Sexualidade é sempre o desafio e todos querem saber mais, sentir mais, descobrir sempre novidades, sentimentos e parcerias. Estamos mesmo à procura... de quê mesmo? Segredos, mistérios, felicidade, prazer, satisfação, vínculos, vivências, erotismo, descobertas e tudo isso não são produtos que se encontram em supermercados ou não são como se apresentam nas novelas de televisão ou em relacionamentos nas redes sociais. Sexualidade é um processo evolutivo que acontece durante toda a vida, pelo qual nascemos e nos reproduzimos e está a cada momento associada a intimidade corporal e ao desenvolvimento biológico, psicológico e social de cada pessoa, contribuindo de maneira essencial e complexa para a formação da personalidade e realização pessoal. Na adolescência, a sexualidade está de pernas pro ar ou virou cambalhotas se considerarmos a evolução dos costumes, da ética e da moral, além das opções que se apresentam através da mídia, das artes e das culturas em muitas regiões de nosso planeta cada vez mais globalizado. Desde que nascemos, questões de sexo fazem parte da identidade de mulheres ou homens, que atualmente são questionados por estilos de vida e opções de gênero que vão desde a androginia, a trans, bi, cis ou pansexualidade, movimentos LGBT, e outras formas de expressão da liberdade e rebeldia contra muitos dos estereótipos tradicionais da dominação e controle do poder de uns sobre outros e sobre a sua própria sexualidade. E tudo envolto em conflitos de gerações ou silêncios que se intercalam entre as consultas ou palestras nas escolas, e nas dúvidas sobre alguns dos comportamentos de risco que acontecem, desde a gestação e contracepção até as doenças sexualmente transmissíveis, abuso e exploração sexual ou comportamentos de risco e transtornos mentais. Os conceitos de Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva foram adotados pela primeira vez num compromisso assumido pelos governos, inclusive o Brasil, após a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, organizada pelas Nações Unidas, em 1994. Onde se definiu que saúde sexual e reprodutiva é: Estado de bem-estar físico, corporal, mental e social completo e não somente a mera ausência de doenças e enfermidades, em todos assuntos relacionados ao sistema reprodutivo e suas funções e processos, também durante o período da adolescência e juventude. No documento final deste encontro foram ressaltadas as necessidades dos adolescentes e jovens durante os programas educativos nas escolas, com foco na sexualidade positiva e responsável. Enfatizava também a importância do acesso gratuito aos sistemas de saúde e de atenção primária. Os pontos principais da resolução incluíam os direitos à Educação Sexual Integrada (Comprehensive Sexuality Education) para adolescentes e jovens em assuntos associados à sexualidade e com respeito à confidencialidade e sem discriminação de gênero, etnia ou religião e para promoção dos direitos sexuais livres da violência, coerção e discriminação. Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 2, p. 7-8, setembro 2016 8 EDITORIAL Definiu-se educação sexual integrada como: É parte da promoção do bem-estar dos adolescentes e jovens, realçando a sexualidade e o comportamento sexual responsável, a igualdade e a equidade de gênero, assim como a proteção da gravidez não-desejada, doenças sexualmente transmissíveis-HIV-HPV-Hepatites B-C e outras, abuso sexual, incesto e violência. A partir de então, programas educativos começaram a ser disseminados em escolas e se tornaram mais accessíveis nos serviços de saúde adequados para o atendimento de adolescentes. Na era digital, necessitam incluir e assegurar os direitos sexuais, sem distorções de gênero e não somente para minorias ou grupos mais vulneráveis, mas de forma abrangente e adequada a todos adolescentes e jovens brasileiros. Quem ama, cuida e educa. Quem sabe, informa mais sobre estes cuidados de saúde e promove mais oportunidades de disseminação dos programas sociais e sexuais saudáveis. Temos assim o privilégio de compartilhar com os autores dos estudos e pesquisas apresentados nesta edição de nossa Revista e para todos os profissionais que atendem adolescentes e jovens em nosso país, um pouco mais de sexualidade, amor e respeito aos direitos de Vida e Saúde. Nações Unidas, International Conference on Population and Development, Cairo 5-13 , 1994. Programme of Action. New York: United Nations, Dept for Economic and Social Information and Policy Analysis 1995. Nações Unidas, Comission on Population and Development Resolution2012/1 Adolescents and Youth, reporto the 45th Session, UM Doc E/2012/25, E/CN.9/2012/8, New York, 2012. Nações Unidas, Operational Guidance for Comprehensive Sexuality Education. New York, United Nations Population Fund, 2014. Evelyn Eisenstein Editora Científica Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 2, p. 7-8, setembro 2016 Adolescência & Saúde