Especial patrocinado por Combate ao Contrabando produzido por CONTRABANDO CUSTA R$ 115 BI AO PAÍS Carga tributária elevada e leniência no controle de fronteiras contribuem para o aumento da venda de produtos ilegais L evantamento realizado pelo Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP) mostra que os produtos que entram no Brasil por meio de contrabando e outras formas ilícitas provocaram um prejuízo, em 2015, da ordem de R$ 115 bilhões às três esferas do governo — que não arrecadaram os impostos que deveriam incidir sobre a venda desses artigos — e às empresas prejudicadas com essa comercialização ilegal. Edson Luiz Vismona, presidente do FNCP, apresentou os dados em sua exposição no evento Fóruns Estadão Economia e Negócios — Combate ao Contrabando, realizado na sexta-feira, 1º de julho, e detalha nesta entrevista os efeitos nefastos que os produtos contrabandeados trazem à economia e aos consumidores. Quais os principais produtos vendidos de forma ilegal no Brasil? São vários, como filmes, discos de música, livros, tênis, óculos, roupas, bebidas, remédios. Mas o líder, disparado, é o cigarro, que representa perto de 67% de tudo que entra no País por contrabando, vindo principalmente do Paraguai, grande produtor de cigarro e onde o imposto do produto é de 9%, enquanto em São Paulo, chega a 83%. É vendido em dinheiro vivo, por isso tem alta liquidez, é fácil de transportar e proporciona excelente lucratividade aos criminosos. Que medidas podem ser tomadas para mudar esse cenário? Repressão. Não há outra medida. Apesar de ilegal, o contrabando é uma atividade que segue a lógica de mercado e se desenvolve com a altíssima margem de lucro que aufere, sem que os criminosos tenham muita dificuldade para atuar. Felizmente, as autoridades brasileiras estão começando a definir uma estratégia articulada de controle nas fronteiras. Pela primeira vez, ouço um R$ 115 bilhões 1.900 quilômetros de rodovias ou foto: alan teixeira Como o FNCP chegou a esse valor de R$ 115 bilhões? O FNCP reúne 28 membros, entre empresas e associações, que se aglutinaram com a finalidade de combater práticas de mercado ilegais. A partir de 2012, solicitamos aos associados que quantificassem suas perdas, por meio do cruzamento de informações sobre suas vendas e pesquisas de mercado. As indústrias que produzem ou importam legalmente pilhas, por exemplo, são obrigadas pela regulamentação ambiental a recolher esses produtos depois de descartados pelos clientes. Durante essa logística reversa, detectou-se uma considerável quantidade de pilhas e marcas não comercializadas pelas companhias formalmente instaladas no País. No setor de cigarros, há pesquisas até de bitucas nas ruas. Cada setor foi buscando um meio de medir como a ilegalidade o afeta e chegou-se aos R$ 115 bilhões em 2015. Desse montante, cerca de R$ 80 bilhões referem-se às perdas das empresas. A diferença, R$ 35 bilhões, é a sonegação de impostos. cientização, é difícil convencer o consumidor a não optar por um produto muito mais barato, que não se sujeita à alta carga tributária incidente sobre os produtos feitos no Brasil ou importados legalmente. Esse é outro problema em que o governo precisa atuar, pois ele também deixa de arrecadar, tanto dos produtos contrabandeados quanto de empresas que não aguentam a concorrência desleal e fecham suas portas. Vismona: “Brasil joga o mercado legal na mão do contrabandista” ministro das Relações Exteriores falar de controle de fronteiras. Nenhum outro colocou esse ponto na agenda. Apesar de nossas frequentes queixas, o Itamaraty não dava a devida atenção ao problema, alegando que havia assuntos mais complexos a tratar com o Paraguai. Há infraestrutura adequada para reprimir a entrada de produtos contrabandeados no Brasil? No governo da presidente Dilma Rousseff, anunciou-se que o País disporia de equipamentos de alta tecnologia para vigiar as fronteiras, como dois drones: um estava em teste e outro não funcionava. Os policiais federais não recebem as diárias para pagar sua alimentação. O Tribunal de Contas da União (TCU) fez um diagnóstico sobre a atuação do Brasil no controle de fronteiras e o resultado foi desanimador. Se não se oferecerem os meios, não se chegará aos fins. Muitas vezes, sou chamado para fazer palestras na própria polícia, a fim de mostrar à cúpula dos agentes a importância de seu trabalho. Nos Estados Unidos, as autoridades têm postura diferente diante da venda de produtos ilegais. Elas dizem aos representantes das empresas: “Como podemos ajudá-los?”. No Brasil, desconfiam: “Vocês querem que defendamos a sua marca?”. As empresas têm de justificar por que reivindicam a legalidade. Nossa esperança é de que o atual governo, de fato, elabore uma ação coordenada dos Ministérios das Relações Exteriores, da Justiça, Fazenda, Defesa e Casa Civil para enfrentar o problema e conseguir recursos financeiros e tecnológicos que ajudem a combater esse tipo de criminalidade. As ações dependem exclusivamente do governo federal? Não, os estados e municípios têm de entrar nessa estrutura coordenada também. A cidade de São Paulo é o grande centro consumidor do Brasil e também um dos maiores polos de distribuição de produtos ilegais do País. Lamentavelmente, a cidade está abandonada nessa área. De 2010 a 2012, houve uma ação integrada da prefeitura com as Polícias Federal, Civil e Militar e foram fechados os grandes shoppings de produtos ilegais da Rua 25 de Março, que ficaram sem poder operar pelo menos por três meses. Atualmente, voltouse à estaca zero e a venda de produtos ilegais cresceu novamente. Como convencer o consumidor a não comprar artigos contrabandeados ou piratas, já que a diferença de preço em relação aos produtos legais é significativa? O brasileiro ainda age como se comprar É o total de perdas das empresas e de arrecadação de impostos (federais, estaduais e municipais) no Brasil causado pelo contrabando em 2015. Com esses recursos, seria possível construir: 1,2 milhão de casas populares ou Quais riscos à saúde? Há alguns anos, a Universidade Estadual de Ponta Grossa decidiu analisar a composição dos cigarros contrabandeados. Verificou-se alta concentração de elementos químicos proibidos e até esterco. Os maços desses cigarros não se submetem às regras do Ministério da Saúde brasileiro. Sua composição não é informada. O mesmo vale para brinquedos, remédios e outros produtos que chegam aqui ilegalmente. Mesmo com as campanhas de cons- Os dez artigos mais contrabandeados pela fronteira com o Paraguai: 67,44 Eletrônicos 15,42 Informática 5,04 Vestuários 3,03 Perfumes 2,45 Relógios 2,03 Brinquedos 1,89 Óculos 1,50 Contrabandeados Medicamentos 0,85 0,35 7.900 hospitais ou 64.000 creches 2010 91,4 bilhões 22,3 bilhões Bebidas 2015 65,8 bilhões 28,9 bilhões Participação de mercado dos cigarros contrabandeados para o Brasil: -8% ao ano +9% ao ano Variação Mas como sair dessa equação em que o governo não pode abrir mão da arrecadação e, ao mesmo tempo, a carga tributária encarece os produtos a ponto de favorecer o mercado de produtos ilegais? Estamos vivendo uma situação que os economistas conhecem como a Curva de Laffer. Ela mostra que há um ponto em que a arrecadação atinge seu limite e, a partir daí, começa a cair, já que fica mais atrativo sonegar ou parar de produzir. O que ocorre com a indústria de cigarros hoje é uma demonstração desse processo. O cigarro é altamente tributado no mundo inteiro e vai continuar sendo assim. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que se taxe o produto para inibir o consumo. Mas os cigarros contrabandeados não só não recolhem impostos como se beneficiam da alta carga sobre os cigarros vendidos legalmente. Em São Paulo, a carga tributária do cigarro é de 83%. A venda dos produtos legalizados vem caindo 8% ao ano. A dos contrabandeados, cresce 9% ao ano. O consumo não diminuiu com o aumento de impostos, apenas migrou para a ilegalidade. Quem lidera o mercado no Estado de São Paulo, com uma fatia de 25%, é uma marca contrabandeada do Paraguai, chamada Eight, cujo maço custa R$ 2,50, ante R$ 6,00 de uma marca legal. O Brasil está jogando o mercado legal na mão do contrabandista. Evasão fiscal do contrabando de cigarros: % PRODUTO Cigarros Mercado de cigarros no Brasil (em unidades): Produtos legais produtos contrabandeados ou piratas fosse um deslize tolerável. Isso remonta à época em que o mercado brasileiro era fechado às importações e pedíamos a amigos que viajavam ao exterior que nos trouxessem produtos de outros países que não conseguíamos comprar aqui, como bebidas e artigos eletrônicos. Hoje, muitos desses produtos estão disponíveis no Brasil, seja com fabricação local, seja por meio de importações legais. O FNCP já fez vários guias de esclarecimento ao consumidor, nos quais mostra que comprar um produto ilegal traz uma vantagem ilusória por causa do preço, porque os produtos não são fiscalizados, provocam prejuízos a quem atua na legalidade — e, por conseguinte, a seus funcionários, sujeitos a perder seu emprego — e trazem riscos à saúde. Mas o governo não parece disposto a mexer na carga tributária, pois precisa reequilibrar as contas públicas, em consequência do déficit (despesas maiores que receitas) de R$ 170,5 bilhões deste ano e de R$ 100 bilhões previsto para o próximo. Em 2004, 74% do mercado de computadores portáteis no Brasil era ilegal. Havia interesse de grandes grupos internacionais de instalar-se no País, mas era preciso regularizar o mercado. Criamos o Instituto Brasil Legal, do qual sou presidente, e fizemos um movimento no governo federal para obter incentivos fiscais (desoneração de PIS e Cofins) e para que se reforçasse o trabalho nas fronteiras a fim de coibir a entrada ilegal de peças de computadores. A taxa de câmbio também era favorável à época. As grandes fabricantes mundiais começaram a montar seus produtos no Brasil e o mercado ilegal de computadores portáteis caiu significativamente. Hoje deve estar em torno de 15%. Infelizmente, essas desonerações estão sendo retiradas e o preço vai aumentar de novo. R$ 1,5 bilhão 2011 R$ 4,5 bilhões 2014 R$ 4,9 bilhões 2015 19% 30% 2010 2015 Fontes: Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP) e Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf) Nas páginas seguintes, confira as ações da Polícia Federal e da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo para coibir o contrabando, o peso da economia subterrânea no PIB e a nova política de fronteiras anunciada pelo governo federal. Este material é produzido pelo Núcleo de Projetos Especiais de Publicidade do Estadão, sob patrocínio do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP). Especial Combate ao Contrabando foto: alan teixeira Costa: “tarefa hercúlea” para manter presos criminosos e agentes corruptos DELEGADO DA PF DIZ SER IMPOSSÍVEL HAVER CONTRABANDO SEM CORRUPÇÃO Crime organizado dispõe de estrutura que alicia agentes públicos e conta com sofisticado aparato jurídico e de lavagem de dinheiro R odrigo de Campos Costa, titular da Delegacia Regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado (DRCOR) da Polícia Federal em São Paulo, considera impossível que um caminhão com carga de cigarros contrabandeados saia do Paraguai, corte o Paraná inteiro pela Rodovia BR 277 e chegue a São Paulo pela Rodovia Castelo Branco sem o envolvimento de organismos policiais e de fiscalização. “Em diversas operações de que participei ou coordenei, encontramos com os criminosos presos anotações como posto X, R$ 5 mil; posto Y, R$ 10 mil; delegacia tal, em São Paulo, R$ 50 mil”, afirmou Costa em sua participação no painel Impostos e Criminalidade, no evento Fóruns Estadão Economia e Negócios — Combate ao Contrabando, realizado na sexta-feira, 1º de julho. Segundo o delegado, as organizações criminosas por trás do contrabando contam com estruturas de aparato público que corrompem agentes policiais e de fiscalização, além de dispor de braços jurídicos e mecanismos de lavagem de dinheiro, no Brasil e no Paraguai, extremamente sofisticados. Edson Luiz Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), que também participou do painel, endossa as palavras do delegado da PF: “O camelô é a ponta de uma estrutura de contrabando criminosa que usa sofisticados meios de inteligência para ganhar dinheiro”. Para Costa, as pessoas envolvidas nessas práticas de corrupção têm de ser punidas e ter seu patrimônio bloqueado, mas mantê- las presas é uma “tarefa hercúlea”. “A Operação Lava-Jato vem mudando a concepção de quando é necessária a prisão e de como a população encara a corrupção”, afirmou. “Temos de ir ao cerne da questão e desmantelar os grupos criminosos.” Em sua avaliação, a principal causa do contrabando de cigarro é a alta carga tributária brasileira. Ele exemplifica: um maço de cigarros comprado no camelô no Paraguai custa de R$ 2,50 a R$ 3,00. No Brasil, de R$ 6,00 a R$ 10,00. Se a compra do cigarro no Paraguai for no atacado, o preço do maço cai para algo como R$ 1,50. “A concorrência é absolutamente desleal”, afirma Costa. Everardo Maciel, ex-secretário da Receita Federal, que também participou do painel Impostos e Criminalidade, afirmou que o aumento desproporcional da carga tributária decorre de certa ingenuidade de governantes de que, assim, aumentarão a arrecadação, e de autoridades sanitárias, de que, com impostos altíssimos, será possível reduzir o consumo de produtos como o cigarro. Tributos desproporcionais, pelo contrário, em sua opinião, fazem valer o risco de não recolher impostos, por diversos meios, inclusive o contrabando. Segundo Maciel, o contrabando é um fenômeno oportunista. Todas as vezes em que forem estabelecidas as condições para que ele ocorra, ele ocorrerá. E essas condições devem ser investigadas e tratadas para Economia subterrânea equivale a 16,2% do PIB A economia subterrânea movimentou R$ 957 bilhões em 2015, o correspondente a 16,2% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo levantamento conjunto do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) e do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). As duas entidades definem economia subterrânea como a produção de bens e serviços não relatada ao governo deliberadamente para sonegar impostos, evadir contribuições para a seguridade social, driblar o cumprimento de leis e regulamentações trabalhistas e evitar custos decorrentes da observância às normas aplicáveis a cada atividade. Desde a criação do levantamento, há 13 anos, é a primeira vez que se comprova uma reversão de tendência. O Índice de Economia Subterrânea (IES) apresentava queda gradual ano a ano, passando de 21% do PIB em 2003 para 16,1% em 2014. No ano passado, apresentou crescimento de 0,1 ponto porcentual em relação à medição anterior. O presidente executivo do ETCO, Evandro Guimarães, ressalta a importância da continuidade de políticas públicas para conter a informalidade, como a desoneração tributária, a ampliação do uso da nota fiscal eletrônica, a desburocratização de processos tributários e medidas dirigidas a pequenos empresários: “A informalidade traz prejuízos diretos à sociedade, cria ambiente de transgressão, estimula o comportamento econômico oportunista, com queda na qualidade do investimento e redução do potencial de crescimento da economia brasileira”. evitá-lo. A elevada carga fiscal é uma dessas condições, mas o ex-secretário da Receita apontou outras, como os entrepostos francos paraguaios nos portos de Santos e Paranaguá. Em Santos, esse entreposto foi instituído à época do Estado Novo de Getúlio Vargas, como uma espécie de compensação pelas perdas infligidas pelo Brasil ao país vizinho na Guerra do Paraguai. E mais tarde, no final dos anos 1950, no governo de Juscelino Kubitschek, por pressão política do Paraná, estendeu-se essa vantagem aduaneira ao Porto de Paranaguá. Nesses entrepostos francos paraguaios, o Brasil não pode ter nenhum tipo de ingerência nem fiscalização. “É preciso fazer uma revisão completa do status dos entrepostos francos paraguaios”, disse Maciel. Ricardo Lerner, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), apresentou no painel “Os Impactos do Contrabando e da Pirataria para a Sociedade” a prévia de um estudo da entidade que diagnosticou formas de mercado ilícito em nove setores da indústria paulista: alimentos, automotivo, brinquedos, eletrônicos, higiene e perfumaria, medicamentos, químicos, tabaco e vestuário. No ano passado, conforme o levantamento da Fiesp, os mercados ilícitos (nos quais se inclui o contrabando) provocaram perdas de R$ 13,26 bilhões aos setores diagnosticados. Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), afirmou que todos os pontos debatidos no fórum são importantes, mas estão há muito em discussão sem que se consigam resultados expressivos de melhora. Ainda hoje, disse ele, 65% dos estabelecimentos do setor representados pela Abrasel não têm inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). “Já falei com uma porção de ministros e todos se disseram preocupados com essa informalidade, mas quando vão se mostrar, de fato, ocupados em mudar esse quadro com ações concretas?”, indagou. “O mesmo vale para o contrabando.” Propostas para combater o contrabando • Aumento do efetivo nos • Destruição imediata • Reforço na fiscalização • Revisão dos tributos 16.800 quilômetros de fronteiras brasileiras. das estradas consideradas as principais rotas do contrabando, como a BR 277 e a BR 163. • Adoção de operações permanentes de combate ao comércio de produtos ilegais nos estados. dos produtos ilícitos apreendidos. para melhorar a competitividade dos produtos nacionais perante os contrabandeados. • Acordos de cooperação com os países fronteiriços. • Coordenação nas atividades dos órgãos de repressão, inclusive com participação das Forças Armadas. • Punição mais severa a quem comete esse tipo de crime. • Captura imediata de bens e valores dos operadores. Fontes: Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) Este material é produzido pelo Núcleo de Projetos Especiais de Publicidade do Estadão, sob patrocínio do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP). patrocinado por produzido por GRUPOS CRIMINOSOS FALSIFICAM ATÉ CIGARRO DO CONTRABANDO Marcas paraguaias que entram ilegalmente no País também passaram a ser produzidas em fábricas clandestinas em São Paulo O Mágino Alves: “Contrabando é atribuição da PF, mas estados têm de colaborar” foto: alan teixeira secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho, descreveu em sua apresentação na abertura do evento Fóruns Estadão Economia e Negócios — Combate ao Contrabando, na sexta-feira, 1º de julho, uma situação que demonstra até onde pode ir a ousadia de grupos criminosos. Mágino Alves disse que, além de o contrabando de cigarros ser uma das ações delituosas mais em voga atualmente, marcas paraguaias que entram de forma ilegal no Brasil e lideram as vendas por aqui passaram a ser falsificadas em fábricas clandestinas em São Paulo. “Chegamos ao cúmulo da falsificação do produto contrabandeado”, afirmou o secretário de Segurança Pública. Na quinta-feira, 30 de junho, o Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) fechou uma dessas fábricas em Cotia, na divisa com Ibiúna, e prendeu 15 homens (13 paraguaios e dois brasileiros). Foram apreendidos 2 milhões de cigarros de uma marca paraguaia contrabandeada que estavam sendo falsificados. Segundo Mágino Alves, o contrabando de cigarros é um negócio extremamente lucrativo aos criminosos e vem merecendo a atenção tanto das autoridades policiais quanto fazendárias do governo estadual. Há cerca de 20 dias, outra fábrica clandestina de cigarros paraguaios foi fechada pela Polícia Civil na Grande São Paulo. E, há dois meses, foi feita uma apreensão gigantesca de carteiras de cigarro, parte contrabandeada, parte fruto dessa falsificação. Em maio, a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo também realizou uma grande operação em 33 municípios visando 60 empresas que, igualmente, se dedicavam à produção de cigarros contrabandeados ou à falsificação das marcas que chegam ao País de forma ilícita. Para fugir da fiscalização, os criminosos trazem o produto semiacabado e o arrematam nessas fábricas clandestinas. O secretário de Segurança Pública lembrou que o contrabando não é uma ação nova no Estado de São Paulo. Como promotor de Justiça criminal há 35 anos, ele se recorda de que desde a década de 1980 os órgãos de segurança pública vêm se dedicando à tarefa de coibir esse tipo de crime que afeta tanto a economia quanto a saúde dos cidadãos. Durante todo o ano de 2015, o número de apreensões de contrabando de cigarro no Estado de São Paulo foi de 589, afirmou Mágino Alves. Até o primeiro semestre de 2016, já chegou a 689 operações. Mágino Alves credita o crescimento nas apreensões ao maior entrosamento entre os organismos de segurança federais e estaduais. Embora o combate ao contrabando seja atribuição da Polícia Federal, o secretário explica que é um dever dos estados contribuir para a repressão dessa infração penal, pois, em suas palavras, ela corrói a economia, gera corrupção, ofende a saúde pública e alimenta o crime organizado: “O Brasil é testemunha da competência da Polícia Federal, que vem executando um trabalho excepcional e mudou a cara do País. Mas falta-lhe efetivo. E os estados têm de colaborar”. Este material é produzido pelo Núcleo de Projetos Especiais de Publicidade do Estadão, sob patrocínio do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP). O ETCO ACREDITA QUE O CONTRABANDO NO BRASIL TEM JEITO. NÃO JEITINHO. Há mais de 10 anos, o ETCO combate a concorrência desleal e trabalha pela melhoria do ambiente de negócios no Brasil. Onde há contrabando não há futuro, por isso o ETCO identifica, discute, propõe e dá suporte a projetos que ajudam no desenvolvimento ético empresarial. Para saber mais, acesse www.etco.org.br. patrocinado por Especial Combate ao Contrabando produzido por Governo anuncia medidas para combater o contrabando foto: alan teixeira Itamaraty organiza reunião com países do Cone Sul para cooperação em ações de repressão a organizações criminosas Serra: “Política de fronteiras será do governo, não de ministérios isoladamente” O ministro das Relações Exteriores, José Serra, afirmou que a prevenção e o combate ao contrabando estão entre as prioridades do atual governo. Até o final deste mês, o Itamaraty organizará em Brasília uma reunião com os chanceleres de países do Cone Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai), cujo objetivo é adotar medidas práticas contra ações criminosas dessa natureza. Segundo Serra, os países vizinhos demonstraram muito interesse na iniciativa do governo brasileiro, que terá como eixo uma presença mais eficaz, coordenada e permanente dos órgãos de Estado nas regiões fronteiriças. Também serão convidados a participar dessa reunião ministros de áreas correlatas em atividades de repressão a atos ilícitos, a fim de que se estabeleçam formas de atuação conjuntas entre essas nações para o uso de equipa- mentos e de inteligência para desbaratar organizações criminosas. Em um segundo momento, pretende-se ampliar esse tipo de cooperação com a inclusão dos demais países da América do Sul. Serra anunciou a organização da reunião com os países do Cone Sul durante o evento Fóruns Estadão Economia e Negócios — Combate ao Contrabando, realizado na sexta-feira passada, 1º de julho. O ministro também detalhou outras providências em curso no Itamaraty que se coadunam com uma lista de sugestões que lhe foi entregue após sua apresentação pelo Movimento em Defesa do Mercado Legal Brasileiro, formado por mais de 70 entidades, entre as quais o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) e o Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP) — ambas apoiadoras do evento. Entre essas providências, Serra destacou o envolvimento de entes gover- namentais de forma mais bem estruturada e permanente contra essas ações criminosas. Isso inclui um conjunto de ministérios como o do Justiça (ao qual se subordinam as Polícias Federal e Rodoviária), da Fazenda (em que se situa a Receita Federal), do Gabinete de Segurança Institucional (em que funciona a Abin, um órgão de inteligência), da Defesa e o próprio Itamaraty. “O Brasil tem 16,8 mil quilômetros de fronteiras, o equivalente a cinco vezes a área limite entre os Estados Unidos e o México, guardada por 20 mil homens”, enumerou Serra. “O Brasil faz fronteira com dez países, mas a quantidade de agentes da Receita e da Polícia Federal nessa área é diminuta.” O ministro das Relações Exteriores informou que foi criado o Comitê Executivo de Coordenação de Controle das Fronteiras, supraministerial, para dar início às providências. A Receita Federal estima que, apenas com o contrabando que vem do Paraguai, perdem-se anualmente R$ 20 bilhões em receita tributária. Várias mercadorias ilegais que vêm do Sudeste Asiático entram no Brasil via Chile. A Polícia Federal detém conhecimento minucioso sobre o tráfico de drogas. “Precisamos transformar esse conhecimento em ação coordenada e permanente”, disse Serra. Além das ações coordenadas entre os ministérios, Serra explicou que está sendo estudada uma política de recursos humanos que estimule os agentes da Receita e da Polícia Federal a fixarem-se por mais tempo em regiões distantes ou de complicada atuação, assim como já ocorre com os diplomatas. E também que os valores adicionais nos vencimentos desses agentes (que já foram aprovados) sejam, de fato, pagos — o que ainda não ocorre. O ministro deu alguns exemplos dos danos ocasionados pelo contrabando. No triênio 2012-2015, a Polícia Rodoviária Federal apreendeu 1 milhão de unidades de medicamentos, 6 milhões de pacotes de cigarro e 300 mil garrafas de bebidas alcoólicas. O total de mercadorias contrabandeadas e pirateadas apreendidas pela Receita Federal em 2015 somou R$ 1,8 bilhão. “Trata-se apenas de uma amostragem do que acontece no País”, afirmou. O caso extremo é o de cigarros. Estimase que o mercado ilegal fique entre 30% e 40% do consumo no Brasil. O cigarro corresponde a dois terços de tudo que é apreendido nas fronteiras e, ainda assim, calcula-se que esse volume de apreensões represente somente 10% de tudo que entra de forma ilegal no Brasil. No caso de perfumes, softwares e aparelhos de videogames, metade do mercado é composta por produtos ilegais. Ações do governo para conter o crime nas fronteiras Reforçar a coordenação interna e permanente entre os órgãos envolvidos nos problemas de fronteiras: Itamaraty, Ministério da Justiça, Ministério da Fazenda e Ministério da Defesa. Conhecer suas carências e seus problemas e tomar medidas para solucioná-los. A política de fronteiras será de governo, não de ministérios isoladamente. Mobilizar recursos para reforçar a presença do Estado brasileiro nas fronteiras, com mais policiais, mais postos de controle e modernos equipamentos. O custo para isso será compensado pelos benefícios a ser gerados com o aumento da arrecadação e a redução da criminalidade. Fortalecer a coordenação com os países vizinhos, com vista a estabelecer uma governança regional no combate ao contrabando, ao tráfico e a outros ilícitos. A reunião ministerial do Cone Sul lançará as bases para organizar essa cooperação. No plano externo, não será necessário negociar nenhum acordo específico, pois já existem instrumentos para tanto, como o Convênio Multilateral sobre Cooperação e Assistência Mútua entre as Direções Nacionais de Aduanas da América Latina, assim como outros acordos fechados no âmbito do Mercosul e com a Bolívia e o Chile. Basta pô-los em prática. Buscar integração fronteiriça que valorize as populações locais e as tornem menos vulneráveis ao controle das organizações criminosas. Quanto maiores as fontes de renda legal, menores as chances de o crime organizado prosperar. Este material é produzido pelo Núcleo de Projetos Especiais de Publicidade do Estadão, sob patrocínio do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP).