O que pretendo ressaltar neste trabalho é a proposta de análise da História a partir de Hegel. A forma como ele a pensa e a associa a Filosofia, aquilo que percebe como razão, caracterizando o processo lógico, a qual a submete, não se tratando contudo de um método científico, porém de um raciocínio filosófico. Hegel promove a aproximação da filosofia com a História não no intuito de abordála através de conceitos ou concepções pré estabelecidas, mas na medida em que questiona a compreensão inerte que se tem da História em sua contemporânedade “...trata-a (a Filosofia com relação a História) como um material, não a deixa como a é, mas organiza-a segundo o pensamento, constrói a priori uma História1.” Mas de que forma para Hegel esta construção deve ser pensada ? Através do movimento do Raciocínio dialético que desenvolve-se da seguinte forma: 1- TESE: Afirmação geral sobre o ser. 2- ANTÍTESE: Constitui a negação da tese. A antítese é a primeira negação que também pode ser negada. 3- SÍNTESE: Constitui a negação da negação; nela se encontram a tese e antítese repensadas, no caso reformuladas. Logicamente que o esboço exposto acima é por demais simplista, mas nos permite conferir o caráter dinâmico Histórico sugerido pelo autor da obra em análise. Percebe-se que aplicando este raciocínio aos indivíduos e produção humana, obtêm-se uma História, de certa forma, concebida em etapas, caracterizada pela superação da anterior. As instituições humanas, bem como o homem, constituem produtos históricos do seu tempo. O texto que analisamos permite nos dizer que para o autor o motor da História é a razão humana, que determina o caminho do homem em direção a liberdade. A liberdade como a razão são historicamente postos, ou seja, liberdade é a capacidade que o homem tem de decidir. O texto inteiro é permeado por esta dualidade que aqui podemos ver presente. Indivíduo e Mundo, Universo. Não trata-se para o autor de dados de diferentes análises, mas a complementação de uma mesma forma ou entendimento. Como admite a particularidade do indivíduo, bem como das sociedades, mas um caráter comum a todos: a busca da realização destas sociedades. Identifica a particularidade sob a forma daquilo que classifica como “paixão” que não permite a inércia dos indivíduos, na sociedade em que estão inseridos. “Tudo o que pode ingressar no ânimo do homem e despertar o seu interesse, todo o sentimento do bem, do belo e do grande se vê solicitado: por toda a parte se concebem e perseguem fins que reconhecemos, cuja realização desejamos; por ele esperamos e tememos.2” Trabalhar na produção histórica é difícil e complexo e, se de acordo com a dialética hegeliana, acrescenta-se maiores dificuldades. O raciocínio parte das determinações do ser. Como o ser se constitui e como se transforma, a partir das determinações que apresenta em sua constituição particular. O raciocínio vai recriar sua trajetória (caminho). A união da reflexão sobre o ser com a dialética do ser origina o conceito. “O verdadeiro não reside na superfície do sensível; em tudo o que singularmente deve ser científico a razão não pode dormir, e há que se empregar a reflexão.3” Esta dinâmica ou movimento da História servia como uma profunda crítica a escola clássica alemã que com a descrição dos fatos e sua ordenação cronológica faziam da História o domínio do imutável. Um fato ligado a outro fato determinado em uma espécie de linearidade temporal, aparentemente tornava a História eterna, perfeita e incapaz de ser tocada. “...não devemos deixar-nos seduzir pelos historiadores de ofício; com efeito, pelo menos entre os historiadores alemães, inclusive os que possuem grande autoridade e se ufanam do chamado estudo das fontes, há os que fazem aquilo que censuram aos filósofos, a saber, fazem na História ficções apriorísticas 4.” A violência e as profundas modificações ocasionadas pela Revolução Francesa demonstram que a História real não era tão imutável quanto pretendiam os historiadores clássicos. A queda do absolutismo teve seus desdobramentos teóricos e Hegel percebeu as profundas mudanças que estavam ocorrendo no mundo. Se de um lado a produção com a Revolução Industrial criou uma produção e um tipo de sociedade atípicas a sua 1 Hegel, Georg Wilhelm Friedrich. A Razão na História. Introdução a Filosofia da História Universal. Lisboa, Portugal, Edições 70, 1995. 2 Idem 1. 3 ibdem 4 ibdem contemporânedade, a Revolução Francesa apontou para as transformações sociais e políticas. Hegel na Ciência da Lógica propôs um raciocínio filosófico novo, a dialética. A dialética utilizada na Filosofia do Direito na explicação do Estado e da Sociedade, demonstrou o movimento da História na transformação das instituições e da cultura humana. Nas determinações da Dialética a sociedade civil burguesa e o Estado constitucional ganham a perspectiva do tempo. A reflexão hegeliana acabava por identificar-se com a do novo modo de produção. Concebeu a História na dinâmica de suas sociedades, reconhecendo as particularidades de cada uma, tornando-as parte de todo um complexo. Foi percursor e polêmico. Em seu rastro, muitos outros historiadores que mesmo na intenção de criticá-los, reconheciam a sua inovação. Foi único, e pensou a História como nenhum outro até aquele momento. “...na História universal, o mais nobre e o mais belo é sacrificado no seu altar. A razão não pode quedar-se no facto de indivíduos singulares terem sido lesados, os fins particulares perdem-se no universal. A razão vê no nascer e no perecer a obra que brotou do trabalho universal do gênero humano, uma obra que existe efectivamente no mundo a que pertencemos.”