considerações anestésicas em cadela prenhe

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CONSIDERAÇÕES ANESTÉSICAS EM CADELA PRENHE SUBMETIDA À
HERNIORRAFIA DIAFRAGMÁTICA(1)
Bibiana Welter Pereira(2), Thaline Segatto(3), Ana Paula Ibarra(3), Diego Vilibaldo
Beckmann(4), Marília Teresa de Oliveira(5), Rochelle Gorczak(6)
(1)Monitoria
voluntária em Anestesiologia Veterinária, Hospital Universitário Veterinário da Universidade Federal do
Pampa (HUVet-UNIPAMPA), campus Uruguaiana/RS.
(2)Discente
do curso de Medicina Veterinária; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS.,
[email protected].
(3)Programa de Residência Multiprofissional em Medicina Veterinária; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS.
(4)Docente do curso de Medicina Veterinária; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS.
(5)Co-orientadora; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS
(6)Orientadora; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS.
Palavras-Chave: diafragma, ruptura, tórax.
INTRODUÇÃO
A interrupção da continuidade da musculatura diafragmática, possibilitando órgãos abdominais migrarem para a cavidade torácica é denominada hérnia diafragmática (FOSSUM, 2008). Muitas vezes a ruptura
é gerada por um aumento da pressão intra-abdominal, frequentemente ocasionada por trauma, porém também podem ser de origem congênita (SHARMA, 1989). O diagnóstico definitivo é realizado empregando
exames radiográficos e ultrassonográficos (NORSWORTHY, 2004), e o tratamento de eleição é a correção
cirúrgica, muitas vezes sendo classificado como procedimento de emergência ou urgência (FOSSUM,
2008). Ratliff-Bueso e Ayes-Valladares (2000) afirmam que diversas complicações estão ligadas a hérnias
diafragmáticas, dentre elas o elevado índice de mortalidade pós-operatória.
Branson (2013) cita procedimentos de emergência como justificativa para submeter uma fêmea
prenhe à anestesia. O período gestacional tem modificações orgânicas, o que influencia no protocolo
anestésico a ser determinado, tendo em vista pouca depressão fetal sem expor a mãe à riscos
desnecessários, o conforto do animal, na conveniência do cirurgião e na familiaridade com as técnicas
anestésicas (RAFFE; CARPENTER, 2013)
Assim sendo, objetiva-se, com este trabalho, relatar o protocolo e procedimento anestésico
empregado em uma cadela no final da gestação submetida à herniorrafia diafragmática de emergência.
METODOLOGIA
Foi atendido no HUVet-UNIPAMPA um canino, fêmea, três anos de idade, prenhe (gestação de
aproximadamente 52 dias), sem raça definida, pesando 4,65kg, com histórico de trauma automobilístico há
um ano e dispneia há um dia, e diagnóstico radiográfico prévio de hérnia diafragmática com presença do
útero gravídico na cavidade torácica. Dessa forma, a paciente foi encaminhada imediatamente para
procedimento de herniorrafia diafragmática. Ao exame físico apresentou taquipneia (80 mpm), dispneia,
taquicardia (160 bpm), pulso fraco, temperatura retal de 37,7°C, além de mucosas hipocoradas, classificado
em ASA IV/E, segundo a Sociedade Americana de Anestesiologia. No hemograma foi constada discreta
leucocitose, anemia normocítica, normocrômica e trombocitose.
O protocolo anestésico empregado constituiu de medicação pré-anestesica (MPA) com administração
de metadona (0,4mg/kg) pela via intramuscular (IM) e posterior oxigenioterapia via máscara facial por cinco
minutos previamente à indução, realizada com associação de propofol (2mg/kg) e cetamina (0,5mg/kg), via
intravenosa (IV). Assim, efetuou-se a intubação e conexão do paciente ao sistema duplo T de baraka, para
manutenção anestésica com isofluorano com vaporizador calibrado, que permermaneceu entre 0,2 e
1,5V%, diluído em oxigênio a 100%. Ademais, foi uitilizado como antibioticoterapia profilática cefalotina
(30mg/kg) IV e como analgésico adjuvante, dipirona (25mg/kg) IV. Para analgesia transoperatória foi
utilizado cetamina (1mg/kg) e fentanil (3mcg/kg), ambos administrados IV, diluídos em solução fisiológica.
No transoperatorio a respiração foi controlada manualmente e os parâmetros avaliados incluiram o ECG,
FC, f, SpO2, ETCO2, PAM e temperatura esofágica que não apresentaram grande variação, exceto FC
(entre 80 e 130bpm). O procedimento anestésico teve duração de 160 minutos. Foi efetuada
ovariohisterectomia após reposicionamento das vísceras, seguido de herniorrafia diafragmática e
laparorrafia, para então restabelecimento da pressão negativa. Os neonatos foram reanimados, porém sem
sucesso. No pós-operatório imediato o animal recebeu tramadol (4mg/kg) IM, ficando em observação
constante e oxigenoterapia durante 12 horas, nesse período foi observado o surgimento de pneumotórax e
posterior óbito do paciente.
Anais do 8º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Alguns animais com hérnia diafragmática traumática não apresentam sinais clínicos imediatamente, e
sim meses ou anos depois. Órgãos abdominais podem se encontrar na cavidade torácica, associado ao
acúmulo do fluido pleural, que comprometem os órgãos e função pulmonar, fazendo o paciente apresentar
dispneia (WADELL; KING, 2013), assim como no caso descrito, em que o paciente apresentou dificuldade
respiratória um ano após o trauma, possivelmente atrelado ao fato de apresentar a prenhez.
A maioria dos fármacos utilizados para anestesia de gestantes atravessam a barreira placentária,
produzindo os mesmos efeitos no feto, porém em grau reduzido, dessa forma, a utilização de sedativos e
tranquilizantes em animais prenhes deve ser avaliada, verificando a sua real necessidade (OLIVA;
FANTONI, 2010). No relato descrito, apesar da não utilização de tranquilizantes na MPA, os animais
apresentaram depressão cardiorespiratória, possivelmente associada aos anestésicos e pela imaturidade
fetal, culminando em óbito dos neonatos. Os opioides também atravessam essa barreira, podendo causar
depressão respiratória e neurocomportamental no neonato, porém são indispensáveis quando submetemos
o paciente a um procedimento doloroso, para o controle da dor, além de diminuir o requerimento anestésico
no transoperatório (LAMONT; MATHEWS, 2014). Nesse caso, foi utilizado metadona na MPA e fentanil
durante o procedimento.
A oxigenioterapia é indicada por Carroll e Martin (2014) antes da indução anestésica, como realizado
no relato. O propofol, anestésico geral, descrito como agente indutor para intubação, pode ocasionar
depressão respiratória e apneia (BRANSON, 2013). A cetamina, anestésico dissociativo, quando
administrada previamente aos estímulos nociceptivos, atua antagonizando os receptores N-Metil-DAspartato, agindo como analgésico (OLIVEIRA, 2004). Nesse paciente, a indução anestésica foi realizada
com a associação desses fármacos visando a analgesia e diminuição de dose e efeitos colaterais do
propofol. Dentre os halogenados, optou-se pelo isofluorano nesse caso, por ser o mais utilizado em
pacientes de risco e ser preferível para fêmeas prenhes como agente de manutenção, mantendo em plano
anestésico estável e o mais superficial possível, com rigoroso controle da pressão arterial (OLIVA;
FANTONI, 2010), como avaliado no paciente em questão. Além disso, em procedimentos com ruptura
diafragmática o suporte e controle ventilatório se faz necessário (MASSONE; NUNES, 2011).
CONCLUSÃO
Dessa forma, conclui-se que o protocolo anestésico utilizado contemplou as particularidades do
caso, porém o possível comprometimento circulatório uterino associado ao uso de fármacos depressores
cardiorrespiratórios, culminaram com a impossibilidade de reanimação dos filhotes, e o óbito da paciente
pode estar associado às complicações decorrentes da correção de hérnia diafragmática crônica.
REFERÊNCIAS
BRANSON, K. R. Anestesia injetável e técnicas alternativas. In: TRANQUILLI, W. J. et al. W. J. Lumb & Jones’
Anestesiologia e Analgesia Veterinária. 4.ed. São Paulo: Roca, 2013. p.305-334.
CARROLL, G. L.; MARTIN, D. D. Paciente Críticos e Traumatismo. In: TRANQUILLI, W. J. et al. W. J. Lumb & Jones’
Anestesiologia e Analgesia Veterinária. 4.ed. São Paulo: Roca, 2013. p.1070-1089.
FOSSUM, T. W. Cirurgias do Sistema respiratório inferior: cavidade pleural e diafragma. Cirurgia de pequenos
animais. 3.ed. São Paulo: Roca, 2008, p.795-798.
LAMONT, L. A.; MATHEWS, K. A. Opioides, anti-inflamatórios não esteroidais e analgésigos adjuvantes. In: MASSONE,
F.; NUNES, N. Aparelhos, Circuitos Anestésicos e Monitoramentos. In: MASSONE, F. Anestesiologia Veterinaria:
Farmacologia e Técnicas Texto e Atlas. 6. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. p.49-54.
NORSWORTHY, G. D. O paciente felino: tópicos essenciais de diagnóstico e tratamento. 2.ed. São Paulo: Manole,
2004.
OLIVA, V. N. L. S.; FANTONI D. T. anestesia inalatória. In: FANTONI, D. T.; CORTOPASSI, S. R. G. Anestesia em cães
e gatos. 2.ed. São Paulo: Roca, 2010. p.246-258.
OLIVEIRA, C. M. B. et al. Cetamina e Analgesia Preemptiva. Revista Brasileira de Anestesiologia, 54, 739-752,
2004.RAFFE, M. R.; CRPENTER, R. E. Anestesia de fêmeas submetidas à cesariana. In: TRANQUILLI, W. J. et al., W.
J. Lumb & Jones’ Anestesiologia e Analgesia Veterinária. 4.ed. São Paulo: Roca, 2013. p.1054-1069.
RATLIFF-BUESO, R.; AYES-VALLADARES F. Hernia Diafragmática Traumática Crónica y sus Complicaciones. Presentación de 6 Casos. Rev. Med. Post. Unah, p. 50-55, 2000.
SHARMA, O. P. Traumatic diaphrragmatic rupture: not na uncommon entity – Personal experience with collective reviwe
of the 1980’s. The Journal Of Trauma, 29, 678-682, 1989.
TRANQUILLI, W. J. et al. W. J. Lumb & Jones’ Anestesiologia e Analgesia Veterinária. 4.ed. São Paulo: Roca, 2013.
p.270-304.
WADELL, L. S.; KING, L. G. Abordagem geral da dispneia. In: KING, L. G.; BOAG, A. Emergência e Medicina Intensiva
em Cães e Gatos. 2.ed. São Paulo: MedVet, 2013. p.110-146.
Anais do 8º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa
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