REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DE ENSINAR E DE APRENDER(1) Marli Spat Taha(2), Jean Rodrigo Thomaz (3), Cátia Silene Carrazoni Lopes Viçosa (4), Fabiane Ferreira da Silva(5) Este trabalho recebeu apoio material e financeiro da Capes – Brasil Professora da Educação Básica, supervisora do PIBID – subprojeto Ciências da Natureza Unipampa- Campus Uruguaiana; Uruguaiana, RS; [email protected]; (3)Acadêmico de Ciências da Natureza – Licenciatura, Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS; [email protected]; (4) Co-orientadora; Mestranda Educação em Ciências: Química da Vida e saúde. UFSM/RS; [email protected] (5) Orientadora; Docente Universidade Federal do Pampa – Campus Uruguaiana/RS. [email protected] (1) (2) Palavras-Chave: reflexões, ensino-aprendizagem, estratégias de ensino. INTRODUÇÃO A prática dentro da sala de aula acontece de acordo com as expectativas que o professor tem em ensinar, entretanto, “o ato de educar é recíproco entre as pessoas que se educam, mediadas pelo mundo (...)” (FREITAS, 2015, p. 16). Na expectativa de educar-se ao educar faz-se necessário estar em constante reflexão a respeito das próprias práticas dentro da sala de aula. Freire (1997) aborda a questão estética na formação do educador ao afirmar que ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura da boniteza e da alegria. Assim, buscam-se estratégias de ensino no sentido de contribuir na construção da aprendizagem, desencadeando possibilidades que estimulem o educando no decorrer do processo de formação. Martins (2011, p. 8) afirma que “o uso do termo ‘estratégias de ensino’ refere-se aos meios utilizados pelos docentes na articulação do processo de ensino, de acordo com cada actividade e os resultados esperados”. Gadotti (2003) considera que o papel do professor, nesta busca de estratégias, é de ser um aprendiz permanente, um construtor de sentidos, um cooperador, e, sobretudo, um organizador da aprendizagem. Desse modo, ao constatar a ausência de conhecimento em conteúdos conceituais já abordados anteriormente e, tendo ciência que esta abordagem se utilizou de diferentes estratégias de ensino, percebese a necessidade de refletir e dialogar com os estudantes a respeito das suas expectativas, angústias e/ou conflitos que estão interferindo neste processo de ensino-aprendizagem. Esta necessidade de refletir justifica este trabalho que tem o objetivo de pensar e repensar as abordagens e as estratégias de ensino dentro da sala de aula. METODOLOGIA Este trabalho apresenta e discute as abordagens e estratégias de ensino utilizadas em uma turma do sétimo ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Francisco Pereira da Silva, Uruguaiana/RS. As abordagens e estratégias consistiam em pausas nas aulas conceituais de Ciência visando uma reflexão sobre o tema estudado. Entre os conteúdos curriculares de Ciências, previstos para essa etapa, encontra-se o estudo dos Vírus e, entre os vírus estudados figura o vírus que provoca a dengue. Sendo a dengue uma doença que vem acometendo grande parte da população brasileira e ficando constatado pela Secretaria de Saúde de Uruguaiana que o mosquito transmissor desse vírus, o Aedes aegypti, é presença real na cidade, buscaram-se várias estratégias de ensino que fossem eficazes para que os alunos da turma construíssem conhecimento, tanto a respeito do vírus, quanto a respeito do mosquito. Dentre as ações desenvolvidas citam-se leituras, confecção de panfletos e visita na comunidade onde a escola está situada, a fim de distribuir os panfletos e alertar a população a respeito da dengue. Além de dramatização na escola para as turmas das séries iniciais. Como avaliação final a respeito das viroses em geral, os alunos deveriam preencher uma tabela, onde apareciam os sintomas de algumas viroses, forma de contágio, agente transmissor, profilaxia, entre outras questões. Esperava-se que a respeito da dengue não houvesse dúvidas, tendo em vista a amplitude com que a temática foi trabalhada e discutida. Entretanto, dos 24 alunos da sala oito responderam que o contágio da dengue acontece através da saliva. Isso significa que mais de 30% da turma não construiu conhecimento a respeito dessa doença em especial. Assim, está apresentado aqui o motivo pelo qual esta reflexão foi construída. Constatada a falta de entendimento e, estando a professora convicta de que suas estratégias de ensino deveriam ser eficazes no processo de ensino-aprendizagem, que no entanto não foram, a mesma buscou (re)pensar sua própria prática. Neste movimento reuniu-se com a turma, possibilitando que expressassem Anais do 8º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa suas dificuldades em aprender, suas aflições e angústias em relação às aulas de Ciências e das outras áreas de conhecimento, a fim de melhorar o aproveitamento dos alunos. Como metodologia dialógica, os alunos foram convidados a responder algumas questões problematizadoras, como: o que espero de meus professores?; o que considero ruim nas aulas?; o que penso sobre minha turma?; qual meu compromisso com os estudos e a escola?; considera necessário haver mudanças na sala de aula? Quais?; como posso contribuir para que as mudanças aconteçam? Apesar da turma ser caracterizada por problemas de relacionamento e desrespeito, salienta-se que neste momento houve participação expressiva em que todos quiseram fazer parte da atividade. RESULTADOS E DISCUSSÃO O resultado das questões mostrou que mais de 70% da turma considera que os professores não conseguirão uma mudança significativa na turma, pois 100% deles acham a turma desrespeitosa e sem limites. Estão desacreditados e sem perspectiva de melhora, conforme fala uma aluna: “não espero nada, eles fazem o que podem.”. Mais de 80% da turma afirmou que é difícil aprender com tantas interrupções para chamar atenção de colegas indisciplinados. Para Ramos (2011) a agressividade pode não ser negativa desde que canalizada, sublimada em ações educativas que permitam a iniciativa, como ação orientada à criação e reelaboração do mundo interno. Neste sentido, diante desse resultado a professora buscou junto à turma uma solução para o problema, não só nas aulas de Ciências, mas em todas as outras disciplinas, fomento a reflexão sobre a prática docente. Assim, concordar-se com o entendimento de Goulart (2010) ao assegurar que o formador não encerra seu trabalho ileso de suas próprias ações, sua prática é tomada de vivências, de experiências, de saberes que o constitui cultural e socialmente. Foram dias de conversa e reflexão, por fim acordaram que cada aluno ficaria de “auxiliar-responsável” por um colega e, desse modo fazendo com que esse colega provocasse menos conflitos na aula e realizasse todas as tarefas propostas. Esse auxílio mútuo pode acontecer dentro da sala, da escola, ou até mesmo via redes sociais, fica a critério de cada dupla, dependendo da situação e necessidade. Após a dificuldade em encontrar os pares, devido a intenção de unirem-se por afinidades e não por necessidades, os pares estão formados e as aulas estão fluindo com mais harmonia. CONCLUSÕES Temos um quadro geral de indisciplina nas escolas, por inúmeros motivos, o espaço de aprender está cada vez menos atrativo para os alunos, em especial alunos com problemas sociais e de desestrutura familiar como é o caso da escola em questão. No entanto, não é possível que a escola fique alheia a essas situações e que os conteúdos continuem sendo passados para cumprir um currículo ou uma meta. É preciso pensar e repensar na prática que existe no processo de ensino-aprendizagem de maneira que contemple o alunos, somente assim aprenderemos coletivamente e construiremos juntos o conhecimento. REFERÊNCIAS FREITAS, Diana Paula Salomão de. A prática de pensar a prática de formação acadêmico-profissional de professoras(es) de Ciências da Natureza: estética do formar-se ao formar. Tese (doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde, Rio Grande/RS, 2015. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 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In: Aprender e ensinar : diferentes olhares e práticas [recurso eletrônico] / organizadoras Maria Beatriz Jacques Ramos, Elaine Turk Faria. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: PUCRS, 2011. 299 p. Disponível em: <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/Ebooks/Pdf/978-85397-0076-9.pdf>. Acesso em: 20 de set. 2016. Anais do 8º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa