A importância da fisioterapia no processo de protetização Bruna Silva de Lima1 [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia2 Pós-graduação em ortopedia e traumatologia com ênfase em terapias manuais – Faculdade Ávila Resumo A presente artigo científico com o tema A importância da fisioterapia no processo de protetização tem como objetivo geral apresentar o papel da fisioterapia na reabilitação protética. Com objetivos específicos temos a proposta de destacar as possíveis causas de amputação em membros inferiores e seus níveis, identificar as principais dificuldades encontradas no processo de protetização e explicitar as estratégias de tratamento utilizadas no processo de reabilitação protética de membros inferiores a nível transtibial unilateral. É de grande questionamento a problemática referente a saber se todos os indivíduos amputados são passíveis a serem protetizados. Para tal pesquisa utilizaremos a revisão bibliográfica com arsenal encontrado em bibliotecas públicas e acervo pessoal, além de artigos advindos de fontes da internet como a Pubmed, Medline, Lilacs. Podemos concluir que independente da causa da amputação, os fisioterapeutas têm um papel importante no programa de reabilitação, pois o início precoce do tratamento apropriado influencia o resultado final da reabilitação. Palavras-chave: Fisioterapia; Protetização; Reabilitação. INTRODUÇÃO Neste trabalho procuramos relatar a importância da fisioterapia no processo de protetização. A amputação não deve ser vista como o fim da funcionalidade de um indivíduo, e sim como uma nova fase de vida que tem como objetivo primordial manter e/ou devolver a dignidade e estado funcional do paciente (OLIVEIRA, 2009). Para Carvalho apud Agne (2004) as patologias vasculares sào responsáveis pela maior incidência de amputaçòes de membros inferiores. As amputaçòes de membros inferiores causadas por doenças vasculares periféricas atingem principalmente idosos. De acordo com O’Sullivan (2010) entre outras causas para amputação inclui o fator traumático, geralmente através de acidentes automobilisticos ou armas de fogo. Geralmente são apontados adultos jovens, sobretudo do sexo masculino. Em amputações ocorridas por trauma, sua maior incidência aponta adultos com menos de 50 anos de idade (AGNE, 2004). Para O’Sullivan (2010) ainda no período pós-cirúrgico é aconselhável que seja feita a determinação e adequação da pessoa que pretende fazer uso de prótese. No entanto, nem todas essas pessoas independente do desejo pessoal serão candidatos a protetização por não estarem cientes das demandas fisiológicas da deambulação com prótese, principalmente nos níveis transfemorais. Debastiani apud Carvalho (2003) afirma que com as guerras, inúmeros acidentes automobilísticos e a progressão de indivíduos acometidos por doenças sistêmicas crônicas dentre tantos outros fatores, a população de amputados aumentou consideravelmente, resultando em um uma reformulação acerca dos conceitos que a amputação recebia. Independente da causa da amputação, os fisioterapeutas têm um papel importante no programa de reabilitação. O início precoce do tratamento apropriado influencia o resultado final da reabilitação (O’SULLIVAN, 2010:1124). O processo de aceitação da prótese também é uma das fases importantes para a protetização, pois através dela o paciente poderá ter muitas de suas atividades de vida 1 Pós-graduando em traumato-ortopedia com ênfase em terapias manuais Mestrando em Bioética e Direito em Saúde, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Graduada em Fisioterapia. 2 2 diária retomada. O paciente aguarda este momento ansiosamente porém geralmente não estando preparados psicologicamente para uma possível frustração por falta de adaptação inicial (DEBASTIANI, 2005). O programa de exercícios deve manter um sequência para ganhos no controle motor, coordenação, função e força. A mobilidade precoce deve sempre que possível ser enfatizada, pois é importante para a recuperação fisiológica total. Para tanto são inseridos no programa de exercícios atividades de progressão do leito para o colchonete usando exercícios que priorizam a mobilidade funcional coordenada. Além de retorno o quanto antes de suas atividades independentes. Os movimentos de transição de decúbito dorsal para sentado, sentado para posição em pé são preliminares à deambulação. A atenção deve ser mantida para tais exrcícios com o membro residual evitando-se todo e qualquer trauma. Exercícios de fortalecimento muscular para membros inferiores são importantes na preparação para andar com muletas, podendo-se fazer uso de faixas elásticas e pesos. Exercícios de depressão do ombro e extensão de cotovelo são particularmente necessários para aprimorar e melhorar suas habilidades no que diz respeito a erguer o corpo para a deambulação (O’SULLIVAN, 2010). Temos como objetivo geral apresentar o papel da fisioterapia na reabilitação protética. Com objetivos específicos temos a proposta de destacar as possíveis causas de amputação em membros inferiores e seus níveis, identificar as principais dificuldades encontradas no processo de protetização e explicitar as estratégias de tratamento utilizadas no processo de reabilitação protética de membros inferiores a nível transtibial unilateral. Como problema da pesquisa nos indagamos a respeito da possbilidade de qualquer paciente que passou pelo processo de amputação de membros inferiores possa tornar-se um candidato ao uso de prétese. Como justificativa chegamos a conclusão que de acordo com O’Sullivan (2010) uma meta primordial do período pós-cirúrgico é determinar a adequação da pessoa para a protetização. Nem todas as pessoas com amputações são candidatos para o uso de uma prótese, independentemente do desejo pessoal. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA a) Fator etiológico para amputações Tão antiga quanto a própria humanidade, amputação significa a retira geralmente cirúrgica, total ou parcial de um membro (AGNE, 2004). “A amputação é a retirada, total ou parcial de um membro, no qual os cotos malacabados acarretam em complicações, como a má adaptação a prótese ortopédica, pois é ele responsável pelo controle da prótese durante o ortostatismo e a demabulação” (VILAGRA, 2011). Encontrada no Instituto Smithsonian um crânio de aproximadamente 45 mil anos, com dentes desgastados e alinhados, é a evidência mais antiga de amputação, que devido às características relatadas indica a presença de amputação de membros inferiores (DEBASTIANI, 2005). Pesquisas relatam que há 2.300 a. C. arqueólogos russos descobriram o esqueleto de uma mulher com um pé de cabra adaptado ao coto na forma de prótese, desta forma nos informando sobre a antiguidade da protetização na humanidade em épocas remotas (VILAGRA, 2011). “Principalmente após 60 anos, as pessoas tendem a apresentar algum grau de dependência inicialmente para atividades instrumentais de vida diária, sendo que esse quadro de dependência se agrava após esse idoso passar por uma amputação” (CARVALHO, 2005). 3 A amputação não deve ser vista como o fim da funcionalidade de um indivíduo, e sim como uma nova fase de vida que tem como objetivo primordial manter e/ou devolver a dignidade e estado funcional do paciente (OLIVEIRA, 2009). De acordo com estimativas, pelo aumento da expectativa de vida, espera-se que entre os idosos haja um aumento da ocorrência de amputações de membro inferior. À medida que a expectativa de vida da população aumenta, a incidência de doença vascular periférica e diabetes mellitus mostra-se proporcional a esse aumento. Amaior parte das amputações ao nível da coxa são realizadas por complicações vasculares e infecciosas do diabetes mellitus (AGNE, 2004). Ainda assim, os pacientes com diabetes mellitus vivem mais devido a novos tratamentos descobertos por médicos para seu controle. Porém, estão mais expostos à sequelas que a mesma produz, tais como, perda da sensibilidade periférica, o que aumenta o risco para eventuais amputações (ALMEIDA, 1997). A principal causa de amputação do membro inferior atualmente continua sendo a doença vascular periférica (DVP), em particular quando associada a tabagismo e diabetes. Grandes melhoras no diagnóstico não invasivo, revascularização e técnicas de cicatrização de feridas têm reduzido a incidência geral das amputações por doença vascular (O’SULLIVAN, 2010:1124) De acordo com Maffei apud Agne (2004), os fatores de risco, como atribuição idade avançada, tabagismo, diabetes, hipertensão, lipoproteinemia, são influências para o aparecimento de doenças vasculares, por exemplo, aumentando desta maneira a incidência de aterosclerose e acelerando o progresso da mesma à amputação do membro. “A insuficiência vascular periférica é responsável por 80% de todas as amputações de membros inferiores em indivíduos adultos” (CARVALHO, 2005). Para Carvalho apud Agne (2004): As patologias vasculares sào responsáveis pela maior incidência de amputaçòes de membros inferiores. As amputaçòes de membros inferiores causadas por doenças vasculares periféricas atingem principalmente pacientes com uma faixa etária mais avançada, os quais estão mais suscetíveis a doenças degenerativas como a arteriosclerose. De acordo com O’Sullivan (2010) entre outras causas para amputação inclui o fator traumático, geralmente através de acidentes automobilisticos ou armas de fogo. Geralmente são apontados adultos jovens, sobretudo do sexo masculino. Em amputações ocorridas por trauma, sua maior incidência aponta adultos com menos de 50 anos de idade (AGNE, 2004). “A amputação deve ser diferenciada de desarticulação, pois a amputação consiste na remoção da parte de um ou mais osso, diferente de desarticulação que remove uma parte por meio de uma articulação” (CRENSHAW, 1996). b) Níveis de amputação O nível de amputação requerido na atual pesquisa é o transtibial, que pode ser definido como a desarticulação tibiotársica e a desarticulação do joelho, dividida em níveis: terço proximal, medial e distal. No processo de reabilitação em pacientes amputados geralmente é confundido como somente protetização, uma vez que é importante relatar que nem todos os pacientes terão a chance de passar por esse processo (VILAGRA, 2011). Nível Syme Transtibial longa (abaixo do joelho) Descrição Ocorre a desarticulação do tornozelo. Podendo ser incluso a remoção de maléolos e retalhos distais da tíbia/fíbula Ocorre desarticulação de mais de 50% do comprimento da tíbia 4 Transtibial (abaixo do joelho) Ocorre desarticulação entre 20 e 50% do comprimento da tíbia Transtibial curta (abaixo do joelho) Ocorre a desarticulação em menos de 20% do comprimento da tíbia Desarticulação do joelho Ocorre a amputação através da articulação do joelho mantendo o fêmur intacto Transfemoral longa (acima do joelho) Ocorre a desarticulação de mais de 60% do comprimento do fêmur Transfemoral (acima do joelho) Ocorre a desarticulação entre 35 e 60% do comprimento do fêmur Transfemoral curta (acima do joelho) Ocorre a desarticulação de menos de 35% do comprimento do fêmur Desarticulação do quadril Ocorre a amputação através da articulação do quadril mantendo a pelve intacta Hemipelvectomia Ocorre a ressecção da metade inferior da pelve Heemicorporectomia Ocorre a amputação dos dois membros inferiores e da pelve abaixo do nível L4-L5 Fonte: (O’SULLIVAN, 2010) Tabela 1 – Níveis de amputação Fonte: (LUCCIA, 2003) Imagem 1 – Amputação por técnica de Burgess e Romano Algumas considerações devem ser levadas em conta a respeito do nível de amputação, tais com: As condições clinicas do paciente; A capacidade de reabilitação com o uso de próteses; A capacidade circulatória do tecido no nível proposto; A presença de infecção (OLIVEIRA, 2009). Fonte: (LUCCIA, 2003) Imagem 2 - Amputação transtibial 5 c) Barreiras para o uso de próteses Para O’Sullivan (2010) ainda no período pós-cirúrgico é aconselhável que seja feita a determinação e adequação da pessoa que pretende fazer uso de prótese. No entanto, nem todas essas pessoas independente do desejo pessoal serão candidatos a protetização por não estarem cientes das demandas fisiológicas da deambulação com prótese, principalmente nos níveis transfemorais. Diferentes materias são utilizados hoje em dia para a constituição de próteses, onde a procura é extensa nos materias mais leves e resistentes para facilitar sua utilização e proporcionar maior adaptação ao paciente (VILAGRA, 2011). “Todo paciente que inicia tratamento fisioterapêutico visando a preparar o coto para a protetização deve ser avaliado individualmente, pois as características do coto influenciarão na duração e eficácia do tratamento” (CARVALHO, 2005). As próteses podem ser divididas em dois tipos: as convencionais e modulares. As próteses convencionais são caracterizadas por terem uma estrutura rígida, confeccionadas em resina, madeira ou plástico. Apresentam a vantagem de serem mais resistentes e não precisarem de muita manutenção, entretanto desfavorecem o lado estético. As próteses modulares apresentam características opostas às anteriormente citadas, onde sua estrutura interna é tubular com componentes mecânicos de aço, titânio, fibra de carbono ou alumínio. São consideras superiores pelo ponto de vista estético e funcional, pois são facilitadoras do alinhamento biomecânico pelos próprios recursos que a dispõem (VILAGRA, 2011). Fonte: (OLIVEIRA, 2009) Imagem 2 – Prótese convencional ou exoesquelética O processo de aceitação da prótese também é uma das fases importantes para a protetização, pois através dela o paciente poderá ter muitas de suas atividades de vida diária retomada. O paciente aguarda este momento ansiosamente porém geralmente não estando preparados psicologicamente para uma possível frustração por falta de adaptação inicial (DEBASTIANI, 2005). As amputações de segmentos menores ou maiores dos membros inferiores representam perda corporal. O médico que estiver envolvido com o cuidado destes pacientes deve ter o máximo de informações nesta área para o atendimento ideal a fim de 6 propiciar o mais rápido possível a reabilitação do paciente (LUCCIA, 2003). Fonte: (OLIVEIRA, 2009) Imagem 3 – Prótese modular ou endoesquelética “Na prótese ortopédica transtibial, tendo um bom nível de amputação, permite-se uma variedade de uso de materiais, diferentes componentes e para complementar o aparato, verificam-se os encaixes, acessórios de suspensão e pés” (VILAGRA, 2011). “Pessoas que não deambulavam antes da cirurgia por outras razões que não os problemas que levaram à amputação provavelmente não andarão com a amputação” (O’SULLIVAN, 2010:1145). O paciente que passa a ter frustrações na adaptação inicial do uso da prótese, cria uma insatisfação acerca do tratamento, onde a prótese se torna uma carga a mais, as primeiras tentativas de deambular com ela são pouco efetivas, qualquer que seja o defeito também no desenho da mesma ou na execução de suas partes, pode causar um funcionamento defeituoso implicando negativamente na progressão do tratamento. O paciente pode criar um ar de insegurança, instabilidade e fracasso se o ato de andar causar desequilíbrios e quedas (DEBASTIANI, 2005). Muitos pacientes podem se tornar usuários relativamente funcionais de prótese, com ou sem apoio externo. As demandas fisiológicas de caminhar com uma prótese transfemoral são consideravelmente maiores do que andar com uma prótese transtibial, e nem todas as pessoas têm o equilíbrio, a força e as reservas de energia necessários. Contraturas graves em flexão de quadril, obesidade, fraqueza ou paralisia da musculatura do quadril e pouco equilíbrio e coordenação podem impedir o sucesso na deambulação (O’SULLIVAN, 2010:1145). Uma das dificuldades que pode gerar insegurança ao paciente é a má fixação da prótese junto ao coto, o que decorrerá o impedimento de realizar suas atividades de vida diária, pode-se dizer que acessório de suspensão é todo artifício que se usa com a finalidade de firmar a prótese ao corpo evitando instabilidades, sendo as correias, cinto supracondiliano e joelheiras esses acessórios (VILAGRA, 2011). d) Reabilitação protética 7 “Independente da causa da amputação, os fisioterapeutas têm um papel importante no programa de reabilitação. O início precoce do tratamento apropriado influencia o resultado final da reabilitação” (O’SULLIVAN, 2010:1124). O enfaixamento do coto é uma técnica indispensável na reabilitação do paciente amputado. Os enfaixamentos com ataduras elásticas são úteis tanto na redução do edema como principalmente para moldar o coto para uma posterior protetização, tornando-o afunilado e apto a receber encaixe protético (ARAÚJO, 2008). Para candidatos à reabiltação protética, o tratamento somente chegará ao fim no momento em o indivíduo estiver fazendo uso da prótese, com segurança, controle, estabilidade e indepedência em suas atividades de vida diária, reacreativas e profissionais. O caminho para chegar a esse nível é transcorrido através de obter um bom equilíbrio muscular, potencializar os grupos musculares debilitados, recuperar a função muscular prévia, impedir e eliminar contraturas, impedir deformidades secundárias, diminuir e eliminar estados dolorosos, modelar e maturar o coto, colocar uma prótese em perfeitas condições de ajuste e alinhamento, realizar treinamento adequado de marcha e corrigir possíveis defeitos de marcha encontrados (DEBASTIANI, 2005). Para o paciente amputado quanto antes for iniciado o processo de reabilitação, maior será ser potencial de sucesso, bem diferente do paciente que demora a procurar tratamento estando exposta a complicações como contraturas articulares, debilidade geral e um estado psicológico depressivo. O pragrama pós-operatório se fundamentaliza em duas etapas: ( 1 ) fase pós-cirúrgica onde é avaliado o potencial do paciente para o uso de uma prótese ou não, durante o período da cirurgia e o preparo da prótese definitiva e ( 2 ) fase protética onde é iniciado com a entrega do membro de reposição permanente ou seja, a prótese definitiva. O esperado deste atendimento é capacitar o paciente a seu nível funcional antes da cirurgia. Para o paciente isso significa ter sua independência no lar, comunidade em que vive, retorno a um emprego mantendo sua vida recreativa ativa ou até mesmo ser capaz de viver em um ambiente protegido de um centro de reabilitação ou asilo (O’SULLIVAN, 2010). “O posicionamento no leito após a cirurgia é importante para evitar contraturas musculares. Após vinte e quatro horas de cirurgia, já deve ser iniciado o trabalho de movimentação do coto e outras partes do corpo para melhorar a circulação” (CARVALHO, 2005). As metas primárias do período pós-cirúrgico são que o paciente atinja o nível mais alto de função independente e comece a desenvolver as habilidades físicas e os ajustes emocionais necessários para a reabilitação protética final. Outra meta é determinar a viabilidade do ajuste da prótese. Exemplos de metas gerais para o período pós-cirúrgico incluem: o paciente será independente na mobilidade no leito em transferências básicas dentro de 1 semana; o paciente será independente na mobilidade com cadeira de rodas e nos cuidados pessoais dentro de 1 semana; o paciente demonstrará posicionamento, enfaixamento e cuidados apropriados com o membro residual dentro de 1 sema; o paciente demonstrará mudança no nível de dependência com mínima assistência de uma pessoa na deambulação, usando muletas ou um andador, dentro de 1 semana (O’SULLIVAN, 2010:1127). Durante os exercícios, deve haver um cuidado especial como local da sutura. A cicatrização deve ser lisa e livre, mas isso depende muito do procedimento cirúrgico. (DEBASTIANI, 2005). O sucesso do programa de reabilitação é determinado em alguma extensão pelos estados psicológico e fisiológico da pessoa e pelas características físicas do membro residual. Quanto mais longo o membro residual, melhor o 8 potencial de sucesso na deambulação com prótese, independentemente do nível de amputação. Um membro bem cicatrizado e bem modelado, com uma cicatriz não aderida, é mais fácil de ser protetizado do que uma mal modelado ou com tecido redundante distal ou lateral (O’SULLIVAN, 2010: 1127). “Inicialmente as próteses eram artesanais, confeccionadas em couro, madeira e aço, entre ooutros materiais. No século passado, no pós-guerra, surgiram empresas especializadas na produção de componentes pré-fabricados” (OLIVEIRA, 2009). O programa de exercícios terapêuticos deve ser elaborado de indivíduo para indivíduo sendo diferente entre si de acordo com características e necessidades específicas que cada paciente venha apresentar, incluso atividades de fortalecimento, coordenação e equilíbrio. Se faz necessário a realização de um programa de exercícios domiciliares e atenção para a forma que será proposto os exercícios no período pós-operatório. Os músculos que devemos dar uma atenção especial no tratamento são os extensores e os abdutores do quadril e os flexores e extensores do joelho, pois são atuantes primordiais na deambulação com a prótese. A intensidade deve ser ajustada de acordo com as possibilidades do paciente, aumentando-se igualmente a resistência ao longo do período pós-cirúrgico (O’SULLIVAN, 2010). Para Carvalho apud Debastiani (2005): É primordial dar importância no estágio pós-operatório a prevenção de contraturas articulares e musculares, coordenação e fortalecimento muscular do membro amputado, fortalecimento e mobilização da perna não amputada, fortalecimento e mobilização do tronco, controlar edemas, estimular a deambulação o quanto antes. O programa de exercícios deve manter um sequência para ganhos no controle motor, coordenação, função e força. A mobilidade precoce deve sempre que possível ser enfatizada, pois é importante para a recuperação fisiológica total. Para tanto são inseridos no programa de exercícios atividades de progressão do leito para o colchonete usando exercícios que priorizam a mobilidade funcional coordenada. Além de retorno o quanto antes de suas atividades independentes. Os movimentos de transição de decúbito dorsal para sentado, sentado para posição em pé são preliminares à deambulação. A atenção deve ser mantida para tais exrcícios com o membro residual evitando-se todo e qualquer trauma. Exercícios de fortalecimento muscular para membros inferiores são importantes na preparação para andar com muletas, podendo-se fazer uso de faixas elásticas e pesos. Exercícios de depressão do ombro e extensão de cotovelo são particularmente necessários para aprimorar e melhorar suas habilidades no que diz respeito a erguer o corpo para a deambulação (O’SULLIVAN, 2010). Para Carvalho apud Debastiani (2005): “Durante os exercícios não é importante prender-se ao número de repetições ou ao tempo de treinamento mas sim saber dosá-los de forma individual, sempre buscando seu melhor desempenho”. Para a conquista da idependência na vida diária andar é um excelente e necessário exercício. A partir de então começamos com o treino de marcha para o paciente com amputação unilateral, usando o padrão de marcha em três pontos com muletas. Nesse tipo de marcha, apenas três pontos fazem contato com o solo e pode ser visualizado na figura 002 e explicado na tabela 002. Pag.(593). Caminhar com muletas é um ótimo preparatório para a deambulação com prótese, pois desenvolve maior grau de desenvolvimento geral facilitando o processo de protetização. A mobilidade gradativa também deve ser encorajada mesmo em ambiente protegido, como por exemplo na residência do paciente, com objetivo de obter um treino cardiovascular e o desenvolvimento de resistência à fadiga (O’SULLIVAN, 2010). 9 Sempre objetiva-se com o tratamento final da reabilitação, a realização de uma marcha natural o mais possível e independente, mesmo levando em consideração desvios ou defeitos que alguns pacientes apresentam (OLIVEIRA, 2009). Passos 1 2 3 4 5 Descrição Posição inicial. Nesse exemplo, o membro inferior esquerdo é o que não apoia peso. Onde o membro inferior direito é mantido na mesma direção das muletas O peso é transferido para o membro inferior direito não envolvido e as muletas são avançadas O peso é transferido dos membros superiores para as muletas, e o membro não envolvido avança até além das muletas. Se isso for difícil, o membro não afetado pode inicialmente ser levado até as muletas e mais tarde progredir para além delas As duas muletas são avançadas O ciclo se repete Fonte: (O’SULLIVAN, 2010) Tabela 2 - Deambulação com muletas “Deve-se lembrar que muitas vezes o paciente amputado tem graves problemas de locomoção, ficando em situação de dependência. Aí entra em cena o cuidador. Normalmente são pessoas da família” (OLIVEIRA, 2009). Fonte: (SOUZA, 2011) Imagem 5 – Paciente protetizado 10 METODOLOGIA Estudo fundamentado em uma pesquisa bibliográfica e documental, compreendendo o levantamento de bibliografia e coleta de dados a partir de consulta de fontes secundárias em revistas científicas indexadas bem como em sites especializados e através de acervo em universidades particulares de ensino e pública. Procuramos selecionar bibliografias que estivessem de acordo com o tema proposto com a finalidade de exemplificar e explicitar a atuação do fisioterapeuta no processo de protetização, decorrentes do ano de 1997 a 2012. RESULTADOS E DISCUSSÃO O paciente que passa pelo processo de amputação deve receber um atendimento de maneira global, visando primordialmente o retorno de sua funcionalidade, bem como sua socialização (ARAÚJO, 2008). “A maioria dos participantes é considerada, segundo a classificação do nível de atividade física obtido pelo IPAQ, como “muito ativa”, respeitando a classificação obtida pelos critérios da Organização Mundial de Saúde” (RIZZO, 2006). Para contribuir na reabilitação de amputados a fisioterapia dispõe de uma gama variada de técnicas, dentre as quais podemos citar os recursos terapêuticos manuais, cinesioterapia, massoterapia, enfaixamento do coto, eletrotermofototerapia e a hidroterapia (ARAÚJO, 2008). Relacionando a qualidade de vida do paciente que passou por uma amputação e sua nova realidade quando protetizado, foi possível observar que renega sua imagem corporal, é capaz de se locomover bem. Entretanto, possui pouca energia para realizar suas atividades de vida diária devido ao seu enorme gasto energético em sua nova condição. Geralmente, são insatisfeitos com o sistema de transporte público que a eles são ofertados (OLIVEIRA, 2009). “A inclusão social consiste no processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir em seu contexto as pessoas com necessidades especiais” (RUPPEL, 2012). “As amputações de membros inferiores causadas por doenças vasculares periféricas atingem principalmente pacientes com uma faixa etária mais avançada, os quais estão mais suscetíveis a doenças degenerativas como a arteriosclerose” (AGNE, 2004). Alguns autores relatam que o paciente que passou por uma amputação convive com a ambiguidade do medo, dor e angústia gerada por esta nova realidade e a necessidade de ter que se adptar a este novo padrão de vida (OLIVEIRA, 2009). Pesquisas têm demononstrado que mais do que nunca, passou a ser um determinante na vida dos indivíduos, até mesmo para os pacientes que passaram por uma amputação. Onde a inatividade física correlaciona-se com a debilidade e redução da qualidade de vida (RIZZO, 2006). “A sua capacidade para trabalho é prejudicada, pois teme expor sua nova situação, fechando-se em seu mundo particular” (OLIVEIRA, 2009). “Os temas considerados negativos em relação à qualidade de vida referem-se a falta de dinheiro suficiente para satisfazer as necessidades, e à apresentação de poucas oportunidades de lazer” (RIZZO, 2006). CONCLUSÃO Baseado nos resultados de estudos anteriores em indivíduos que passaram por amputações, apresentam boa qualidade de vida, satisfeitos com o apoio recebido por sua rede social, relações interpessoais, consegue concentrar-se bem e dormir, porém é assediado frequentemente por sentimentos negativos com mau-humor, desespero, ansiedade e depressão. 11 Nota-se que ainda há pontos negativos ao que concerne a satisfação com a saúde, o nível de capacidade em realizar atividades cotidianas de sua vida diária, para trabalhos e determinados impedimentos pela dor física que lhes acompanha. O papel da inclusão social ainda em certos aspectos encontra-se deficiente, gerando determinado grau de insatisfação pessoal para o indivíduo que se vê nessa nova realidade. Faz-se necessário haver maior inclusão social para os indivíduos que passaram pelo processo de amputação, uma vez que a inclusão tem princípios na aceitação de diferenças individuais, na cooperação da sociedade nesse novo processo de aprendizagem. A inclusão social consiste no simples processo que a sociedade se adapta para incluir pessoas com necessidades especiais no seu cotidiano. O que é notório na percepção do paciente em relação a si próprio, é a percepção que a vida tem sentido, consegue fazer planos para o futuro, o que há décadas atrás seria praticamente impossível tal discernimento, onde quem passava por esse procedimento era visto como inválido, sem oportunidades futuras de crescimento e isolado de todos, principalmente da sociedade que o via como “aberração” em determinados relatos históricos encontrados sobre o assunto. Entretanto, a maioria dos pacientes envolvidos nas pesquisas elucidadas nos artigos pesquisados, apresentam satisfatória relação social, sexual e apoio de amigos. É importante e necessário pesquisas futuras com população abrangente para resultados mais específicos e generosos acerca da eficácia da intervenção fisioterapeutica no processo de protetização. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGNE, Jones Eduardo. Identificação das causas de amputações de membros no Hospital Universitário de Santa Maria. Saúde, Vol. 30 (1-2): 84-89, 2004. Disponível em: <http://cascavel.cpd.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/revistas/ojs2.2.2/index.php/revistasaude/article/viewFile/6398/3876> Acesso em 18 de fevereiro de 2013. ALMEIDA, H. Diabetes mellitus: uma abordagem simplificada para profissionais da saúde. São Paulo: Atheneu, 1997. ARAÚJO, Roberta Araújo. Principais recursos fisioterapêuticos utilizados em amputados transfemorais durante a fase de pré protetização. Paraíba, 2008. 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