MATRIZ ANALÍTICA PARA MONTAGEM DO PROJETO DE PESQUISA Nome do(a) aluno(a): Jan Santana Curso: Pós-graduação em Estudos Linguísticos e Literários Polo: Feira de Santana-BA Matriz Analítica do Projeto de Pesquisa apresentada à Universidade Candido Mendes (UCAM) como requisito parcial obrigatório para a avaliação na disciplina Metodologia do Trabalho Científico. TEMA A variação dos verbos haver e ter. DELIMITAÇÃO DO TEMA A variação de haver e ter em contextos existenciais. PROBLEMA Na modalidade oral da língua falada, o verbo ter vem ocupando o posto de verbo existencial. Neste sentido, a substituição do verbo haver por ter em contextos existenciais é uma das mudanças em progresso no Português Brasileiro (PB). Assim, a partir de registros fônicos, será que o uso variável destes verbos apresenta sinal de mudança no português falado em Feria de Santana? Sendo que o uso também está relacionado ao nível de escolaridade do falante? JUSTIFICATIVA Pretende-se investigar a realização desses verbos a partir de registros orais no dialeto do município de Feira de Santana, por entender que este tema precisa de mais análises quanto ao uso vernacular. Utilizando amostras do português feirense, o estudo servirá para que a comunidade acadêmica (re)conheça o comportamento linguístico, no sentido de combater o preconceito com relação ao modo de falar das pessoas. Este preconceito, gerado pela falta de conhecimento linguístico, muitas vezes contribui para marginalizar os usuários de tal variedade e provocando neles sentimentos de inadequação ao meio. Assim, esta pesquisa visa derrubar tais barreiras e, também, contribuir para um melhor entendimento do referido fenômeno linguístico no português brasileiro, sobretudo no dialeto feirense, trazendo maiores esclarecimentos a respeito do sistema pronominal e sobre a relação entre língua e sociedade, peça essencial neste estudo. Além disso, esta pesquisa tem uma fundamental importância, por ter como foco a cidade de Feira de Santana, um “celeiro” de variados contatos linguísticos devido ao fato de ser o maior entroncamento rodoviário Norte-Nordeste. OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Contribuir para o mapeamento linguístico do município de Feira de Santana-BA OBJETIVOS ESPECÍFICOS Descrever e analisar o uso variável dos verbos ter e haver em contextos existenciais na fala feirense; Verificar quais são os fatores linguísticos e sociais que condicionam tal variação. METODOLOGIA Com base na metodologia da Teoria da Variação e Mudança, também conhecida como Sociolinguística Quantitativa, buscar-se-á discutir de que forma o sistema linguístico é influenciado pelas relações com a sociedade, considerando que a mudança linguística deve ser compreendida no interior de uma dada comunidade de fala e que ela é resultado possível de um processo de variação. Serão utilizados, para análise, dois corpora com dados coletados em Feira de Santana, uma das mais importantes cidades do Estado da Bahia, situada entre a zona da mata e o sertão, no agreste baiano. Esta cidade, conhecida como “Princesa do Sertão”, foi emancipada em 18 de setembro de 1833, possui uma área de 111 km² e uma população urbana que conta com 431.458 habitantes (Censo IBGE, 2000). Os corpora serão constituídos de 24 amostras de fala resultante de entrevistas já realizadas com informantes de dois níveis de escolaridade e divididos da seguinte forma: Corpus linguístico I – falantes que têm o ensino fundamental I incompleto e Corpus Linguístico II – falantes que têm o nível superior completo. Estas amostras foram organizadas por bolsistas e voluntários pertencentes ao Projeto A Língua Portuguesa no Semiárido Baiano. Para tais entrevistas, foi utilizado um roteiro de perguntas e a todo o momento tentou-se minimizar o “paradoxo do observador” (cf. TARALLO, 1997), por isso, nas conversas foram provocadas narrativas sobre experiências pessoais no trabalho, na família, entre amigos e na universidade com o objetivo de deixar o informante à vontade, podendo, assim, fazer emergir o vernáculo (no sentido laboviano) que é o material fundamental para a pesquisa sociolinguística. Após a observação dos contextos de ocorrência da variação ter/haver, como também de análises das variáveis linguísticas trabalhadas em outras pesquisas, serão selecionadas as variáveis utilizadas na pesquisa. No que tange às variáveis extranlinguísticas (sociais), os aspectos a serem levados em consideração listam-se em Gênero (Masculino e Feminino); Faixa Etária (faixa I: de 15 a 29 anos, faixa II: de 30 a 45 anos, faixa III: 46 a 60 anos), Nível de Escolaridade (Ensino Fundamental I incompleto e Ensino Superior completo). Depois da codificação, todos os dados serão submetidos ao Programa GoldVarb 2001, versão em Windows do VARBRUL, um software que quantifica a influência relativa de cada fator em relação a variável dependente e seleciona os grupos de fatores mais significativos (cf. RAND & SANKOFF, 1990). É necessário frisar que o fator naturalidade será previamente controlado, sendo que todos os informantes selecionados para a pesquisa serão, preferivelmente, feirenses (ou não-feirenses chegados na cidade até os cinco anos de idade). PRINCIPAIS REFERÊNCIAS CALLOU, Dinah; AVELAR, Juanito. Estruturas com ter e haver em anúncios do século XIX. In: ALKMIM, T. Para a história do português brasileiro. V. III. São Paulo: Humanitas, 2002a. CALLOU, Dinah; AVELAR, Juanito. Sobre ter e haver em construções existenciais: variação e mudança no português do Brasil. Gragoatá, Niterói, v. 9, p. 85-100, 2002b. LABOV, William. Sociolinguistic patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Vitórias de ter sobre haver nos meados do século XVI: usos e teoria em João de Barros. In: MATTOS E SILVA, R. V. & MACHADO FILHO, A. V. (Orgs.). O português quinhentista: estudos lingüísticos. Salvador: EDUFBA/UEFS, 2002a, p. 121-142. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. A variação ser/estar e haver/ter as Cartas de D. João III entre 1540 e 1553: comparação com os usos coetâneos de João de Barros. In: MATTOS E SILVA, R. V. & MACHADO FILHO, A. V. (Orgs.). O português quinhentista: estudos lingüísticos. Salvador: EDUFBA/UEFS, 2002b, p. 143-160. TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ática, 1997.