XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL, ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE. PLANEJAMENTO DE TRANSPORTE DE CAMPINAS-SP: Uma análise do Sistema Intercamp Débora Feliciana dos Reis 1 Marcos Antonio Garcia Ferreira 2 Resumo O transporte é atualmente o responsável pela maioria dos deslocamentos necessários dentro do ambiente urbano, seja para o alcance do trabalho, escola e mesmo lazer, e muitas vezes essas viagens se dão por meio do transporte coletivo. Para tanto, é necessário que haja nos municípios uma politica de transporte que produza uma verdadeira mobilidade e acessibilidade a todos os cidadãos. A política de transporte público coletivo vigente no município de Campinas trouxe mudanças significativas, as quais têm transformado as condições de mobilidade e acessibilidade da população, com o intuito de trazer inúmeros benefícios sociais e econômicos. A complementação da politica se dá com a legislação e ações implantadas que buscam transformar e facilitar as condições de acesso e circulação de todos, resultando na transformação do sistema de transporte e espaço físico do município. Palavras-chave: transporte, planejamento, acessibilidade, mobilidade. Abstract Transport is currently responsible for the majority of necessary displacements within the urban environment, either to the scope of work, school and even leisure, and often these trips take place by means of public transport. Therefore, there must be a policy in the municipalities of transport which produces true mobility and accessibility for all citizens. The politics of public transportation in the city of Campinas force brought significant changes to the county, which have transformed the conditions of mobility and accessibility of the population, and aims to bring people numerous social and economic benefits. Completion of the policy is with legislation and implemented actions that seek to transform and facilitate the conditions for access and movement of all the city, resulting in the transformation of the transport system and the physical space of the city. 1 Mestre em Engenharia Urbana pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Bacharel em Geografia pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP). E-mail:[email protected] 2 Doutor em Engenharia de Transporte e professor na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). E-mail:[email protected] Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Keywords: transport planning, accessibility, mobility. Introdução Ofertar boas condições de acessibilidade e mobilidade é atualmente um dos maiores desafios dos governos municipais, a necessidade de uma infraestrutura de transporte que ofereça serviços de qualidade a todos os cidadãos, independente das condições físicas e sensoriais dos usuários. Segundo o Ministério das Cidades a mobilidade urbana sustentável pode ser definida como o resultado de um conjunto de políticas de transporte e circulação que visa proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, através da priorização dos modos não motorizados e coletivos de transportes, de forma efetiva, que não gere segregação espacial, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável. A política de transporte público coletivo possibilita maior mobilidade à população e traz inúmeros benefícios sociais e econômicos. O transporte é o responsável pela maioria dos deslocamentos necessários para o trabalho, à escola e ao lazer, o que ocorre na maioria das vezes com o uso do transporte coletivo. Para completar uma viagem utilizando o transporte público coletivo é necessário que haja uma estrutura composta por veículos, pontos de embarque/desembarque, vias, itinerários, calçadas, travessias, rampas, faixa de pedestres, terminais urbanos, estações de transferências entre outros. Os quais devem estar adequados e aptos a oferecer acessibilidade e mobilidade a todos, independente das condições físicas dos usuários. Cabe destacar que em alguns municípios há adaptação de “espaços isolados” geralmente na área central das cidades, resultando numa “acessibilidade parcial ou local”, o que não resolve o problema, pois a dificuldade de acesso aos demais pontos da cidade continua existindo. E mesmo, os veículos adaptados muitas vezes não circulam pelos bairros onde residem os maiores interessados (pessoas com mobilidade reduzida), devido à falta de planejamento de transportes. A mobilidade urbana como a condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano; e Acessibilidade como a facilidade disponibilizada às pessoas que possibilite a todos autonomia nos deslocamentos desejados, respeitando-se a legislação em vigor. (Lei 12.587/12 - Artigo 4º). O presente artigo tem como intuito analisar o planejamento de transporte vigente no município de Campinas desde 2005 – o Sistema Intercamp, o qual tem transformado as condições de mobilidade e acessibilidade da população. E ainda, aferir a legislação e ações Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC que vem sendo implantadas no que tange a alcançar facilidades nas condições de mobilidade e acessibilidade na cidade. Mobilidade e Acessibilidade – Marco Conceitual O dicionário Aurélio define acessibilidade como qualidade do que é acessível; do que tem acesso, facilidade, possibilidade na aquisição, na aproximação. E, mobilidade definida como a facilidade para se mover, para ser movido. As leis e normas vigentes no país interpretam acessibilidade e mobilidade como sinônimos, estas interpretam a acessibilidade não somente como a facilidade de acesso, mas também como a possibilidade do ir e vir pela cidade. Para (Vasconcellos, 2001) “a mobilidade é tida como a possibilidade de chegar aos destinos, e a facilidade para alcançar esses se dá por meio da acessibilidade. Dessa forma, a mobilidade é uma combinação do tipo de transporte utilizado com o sistema de circulação disponível e, o destino desejado”. (Vasconcellos, 2001). Segundo Gomide (2006), “a mobilidade compreende a facilidade de deslocamento das pessoas e bens na cidade, tendo em vista a complexidade das atividades econômicas e sociais nela envolvidas”. Conceito que pode ser complementado por Cardoso (2008), “a mobilidade está relacionada com os deslocamentos diários (viagens) de determinada população no espaço urbano – ainda que não apenas sua efetiva ocorrência, mas também a possibilidade ou facilidade de ocorrência dessas viagens”. Para Carvalho (2005) “acessibilidade e mobilidade consistem num binômio vital em transportes, cujo objetivo é garantir a circulação de pessoas e bens da sociedade”. Melo (2005) interpreta a acessibilidade como a oportunidade de se atingir bens de consumo, serviços e atividades. Para o autor, os deslocamentos realizados por pedestres, as melhorias de acessibilidade e mobilidade dependem basicamente da instalação e conservação de calçadas e tratamento de interseções com o tráfego e outros modos. Para Cardoso (2008), “a acessibilidade pode ser dividida em dois grupos: a acessibilidade ao sistema de transporte (mede a facilidade de o usuário acessar o sistema de transporte coletivo em sua região de moradia, trabalho, etc.), e a acessibilidade a destinos (mede após o acesso ao sistema de transporte, a facilidade de se chegar ao destino desejado)”. Os autores diferenciam mobilidade e acessibilidade, são mais criteriosos e envolvem diferentes elementos quando definem os conceitos. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC O sistema de transporte e a infraestrutura disponível no espaço urbano deve possibilitar a qualquer cidadão usufruir o direito de ir e vir, possibilitando um deslocamento seguro e confortável pelas ruas da cidade, principalmente as pessoas com deficiência. Isso exige boas condições de mobilidade e acessibilidade, os maiores beneficiados no alcance destas são todos os cidadãos, e principalmente as pessoas com alguma restrição de locomoção, pessoas com deficiência física ou visual, usuários de cadeira de rodas, idosos, grávidas entre outros. O Município de Campinas Campinas ocupa uma área de 797,6 Km² localizada no centro-leste do estado de São Paulo, os desdobramentos históricos e a localização tornaram-no um dos mais importantes municípios em transporte de cargas do país. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE - Campinas possui 1.080.113 habitantes (Censo 2010). Possui uma das maiores rendas per capita do Brasil, possui indústrias de tecnologia, centros de pesquisa, universidades, um forte setor terciário, e uma infraestrutura de transporte rodoviário, ferroviário e aeroportuário bem desenvolvidos. O município é reconhecido nacional e internacionalmente por seus centros de pesquisas e universidades, é ainda, considerada um polo de desenvolvimento científico e tecnológico. Sistema Intercamp - Proposta e Realidade O planejamento de transporte é de responsabilidade do governo local, o qual deve gerir e implantar o sistema, bem como, toda a infraestrutura exigida para ofertar a todos os cidadãos oportunidades de deslocamento. Campinas colocou em andamento o novo sistema de transporte denominado Sistema InterCamp em 2005, este foi o início da reestruturação do serviço de transporte coletivo na cidade e desde então vem sendo implantadas mudanças significativas no sistema de transporte. O sistema reorganizou e incluiu um novo conceito para a rede de linhas, hierarquização dos serviços e estabeleceu um modelo de conexão e articulação entre elas. A Secretaria de Transportes – Setransp - após realizar estudos sobre as características dos deslocamentos da população por meio de diferentes pesquisas: Pesquisa Origem/Destino (2004), Pesquisa Sobe-Desce com Senha, Pesquisa O/D (origem/destino Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC de ponto) e Pesquisas no Sistema Seletivo, propôs uma reorganização dos serviços de transporte coletivo e um novo plano de circulação para Campinas. Os estudos e pesquisas realizados tiveram o intuito de avaliar o serviço de transporte coletivo municipal, e os resultados propiciaram a secretaria propor a reestruturação do novo serviço de transporte coletivo no município. Os dados e informações sobre o sistema vigente foram obtidos por meio de consultas ao site da Empresa de Desenvolvimento de Campinas - Emdec e no Plano Diretor de Campinas Revisado de 2006 - segundo o plano diretor o sistema tem como finalidade ofertar mais conforto e segurança aos usuários, prioridade no atendimento, redução dos intervalos de viagens, tempo de espera e de deslocamento. O Sistema InterCamp utiliza a identificação por cores, tanto das áreas de operação quanto do destino das linhas, os veículos de cada área operacional são identificados por uma cor diferente, fator que facilita o entendimento dos deslocamentos e itinerários por parte dos usuários. Foram criadas linhas básicas e estruturais para atender aos principais fluxos, há integração entre linhas com pontos de intersecção, com a finalidade de permitir diversas combinações de viagens, ou seja, eliminação das sobreposições de linhas concorrentes entre os serviços de transportes. O município foi dividido em quatro áreas (Mapa1): Área 1 - Azul Claro: Ouro Verde, Vila União e Corredor Amoreiras; Área 2 - Vermelha: Campo Grande, Padre Anchieta e Corredor John Boyd Dunlop; Área 3 - Verde: Barão Geraldo, Sousas, Amarais, Rodovia Campinas-Mogi Mirim e Corredor Abolição; Área 4 - Azul Escuro: Nova Europa, Santos Dumont e Aeroporto de Viracopos. Mapa 1: Áreas de Atuação e Terminais do Sistema de Transporte. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Para o funcionamento mais eficaz do Sistema InterCamp foi implantada toda uma infraestrutura das quais fazem parte: as estações de transferência para integração das diversas linhas; adequações das vias com prioridade à circulação de ônibus; implantação de corredores exclusivos; estabelecimento de faixas exclusivas e preferenciais; modernização da sinalização semafórica; melhorias da sinalização e do pavimento; comunicação visual organizada; segurança nos pontos de travessia, no embarque e desembarque, e pontos de parada. A integração das linhas é possibilitada pelas estações de transferência, planejadas para esta função, e os terminais urbanos, os quais foram reformados para abranger o novo sistema, tanto as estações quanto os terminais devem atender ao padrão universal de acessibilidade recomendados no Desenho Universal. O Sistema InterCamp é operado por ônibus das empresas concessionárias do transporte coletivo e micro-ônibus do serviço alternativo, há 1.247 veículos em circulação destes 562 adaptados, ou seja, 56% da frota total. Em média é registrada na catraca 620 mil passageiros por dia, volume que representa aproximadamente 240 mil usuários/dia. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC O sistema prioriza o uso das vias para o transporte público coletivo por meio dos corredores exclusivos, a exclusividade da operação é garantida por fiscalização eletrônica, foram implantados 09 (nove) corredores em todo o município: Corredor Ouro Verde; Corredor Campo Grande; Corredor Nova Aparecida; Corredor Amarais; Corredor Barão Geraldo; Corredor Anhumas; Corredor Sousas; Corredor Sudeste; Corredor Viracopos, como suporte para estes corredores foram implantadas as estações de transferência como parte integrante destes. Segundo levantamentos da Secretaria de Transportes desde que o sistema foi implanto houve melhorias na acessibilidade/mobilidade; no tempo de espera e de deslocamento; inclusão social (menor tarifa); maior segurança e conforto; respeito ao meio ambiente (combustíveis menos poluentes); e o novo padrão visual da frota tem favorecido o entendimento e o funcionamento do sistema pelo usuário. Consta no plano diretor que as principais vantagens do sistema vigente são a utilização racional da rede de transporte, por meio da escolha do melhor caminho, possibilitando maiores opções de destino, a base tarifária passa ser o tempo, para no mínimo 95% dos deslocamentos, e o seccionamento da viagem sem nova tarifa. Segundo o Plano Diretor a política de transporte do município tem como objetivo melhorar a qualidade do transporte de massa, diminuindo o tempo de viagem e reduzindo os custos operacionais, baixar os custos tarifários e diminuir a necessidade de deslocamentos. Acessibilidade e Mobilidade no Sistema Intercamp A política de transporte do município traz como prioridade o desenvolvimento de ações que garantam o acesso das pessoas com mobilidade reduzida ao sistema de transportes, equipamentos urbanos e à circulação em áreas públicas. Segundo o Programa Brasileiro de Acessibilidade Urbana a pessoa com mobilidade reduzida é incapaz de movimentar-se ou o faz de maneira limitada temporariamente ou não, incluindo pessoas com deficiência física, idosos, obesos, gestantes entres outros. (Caderno 4, 2006). Para que todos os cidadãos possam usufruir do sistema de transporte e equipamentos urbanos as ações municipais que visem acessibilidade e mobilidade devem ser pautadas nas normas e princípios estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT - NBR 14022/06 e NBR 9050/04, Desenho Universal e as exigências do Programa Brasileiro de Acessibilidade do Governo Federal. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC O Sistema InterCamp coloca que os veículos de transporte público coletivo devem seguir os padrões de acessibilidade que constam na NBR 14022/06, e ainda, os veículos podem ser dotados de piso baixo em toda sua extensão, na parte dianteira ou central (entreeixos), visando à facilidade de acesso de todos os usuários e das pessoas com mobilidade reduzida. O sistema antecipa que nos corredores com fluxo elevado é altamente recomendável a utilização de veículos de piso baixo para facilitar o embarque e desembarque, o objetivo é que o município possa ter toda a frota adaptada até final de 2014. A prioridade segundo o plano diretor é seguir os conceitos de acessibilidade universal - Desenho Universal - em todo o município, focando especialmente os corredores prioritários para uso do transporte coletivo suas adjacências e a área central, priorizando a adequação das travessias de pedestres, a implantação de mobiliário adequado às pessoas com restrição de mobilidade, implantação de uma rede de transporte acessível; implantação de uma rede de transporte noturna, que atenderá aos principais pontos de interesse (Hospitais, Prontos Socorros, Cemitérios, etc.). As modificações e adequações nos terminais urbanos do município devem seguir os preceitos estabelecidos pela NBR9050/04, segundo consta no plano diretor da cidade e estes devem ser dotados de todos os elementos facilitadores de mobilidade: elevadores de embarque/desembarque; assentos para obesos; telefones para surdo, telefones para pessoas em cadeira de rodas ou baixa estatura; sinais sonoros e inscrições em braile para deficientes visuais; piso podotátil; painel de mensagens variáveis; sanitários apropriados; e pessoal dedicado e treinado para atendimento a estes usuários. Porém, estas adequações apenas se concretizaram em alguns terminais da cidade, estando os demais em situação mais precária. O município tem a política de garantir ao pedestre ampla acessibilidade à área central, a requalificação e readequação das calçadas e o tratamento especial aos pedestres e usuários do sistema são prioridades. No entanto, as modificações e adequações vêm ocorrendo na extensão central e adjacências e nas áreas conexas as estações de transferência, porém as demais áreas da cidade ainda carecem de travessias e calçadas em boas condições, ou seja, de rotas realmente acessíveis. A NBR9050/04 define rota acessível a que possibilita um trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecta os ambientes externos e internos de espaços e Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC edificações, e que pode ser utilizada de forma autônoma e segura por todas as pessoas, inclusive aquelas com deficiência. A rota acessível externa inclui estacionamentos, calçadas rebaixadas, faixas de travessia de pedestres, rampas, etc. E deve estar apta e possibilitar o deslocamento de qualquer pessoa independente de suas características físicas e sensoriais. Na área central do município são propostas diferentes ações: a priorização dos deslocamentos do transporte coletivo público de passageiros; a utilização de faixas exclusivas ou preferenciais; reconfiguração da rede de transporte; tratamento de calçadas nos pontos e estações de transferência; eliminar as interferências; maior segurança nas travessias de pedestres; aplicação dos conceitos de acessibilidade; dimensionamento adequado de abrigos; reformulação da sinalização viária; reestruturação das vagas do estacionamento rotativo e pontos de táxi. Todavia a situação encontrada pelos pedestres em diversas áreas do município, inclusive na área central, são calçadas destruídas, estreitas, obstruídas por mobiliário urbano e entulho, necessidade de longos percursos para alcance do transporte coletivo, ausência de rampas, faixas de pedestres e sinalização adequada, ou seja, as áreas de circulação e travessias em condições precárias de uso. Alguns pontos da área central passaram por reformas e adaptações, porém estas são insuficientes para ofertar condições adequadas no ir e vir de pedestres e pessoas com deficiência, um erro encontrado repetidas vezes são as rampas construídas fora do padrão exigido, as quais impossibilitam o uso por pessoas com cadeira de rodas. As ações citadas no plano têm como objetivo eliminar ou minimizar interferências dos mobiliários urbanos, e ainda, adequar os níveis das calçadas e travessias para que o usuário tenha maior conforto ao acessar os veículos de transporte coletivo, proporcionando melhores condições de mobilidade, acessibilidade, conforto e segurança. Porém, as condições ofertadas pelo sistema atual, ainda não consente 100% de acessibilidade e mobilidade. O governo municipal visa proporcionar à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, a utilização de maneira autônoma e segura do ambiente, dos equipamentos urbanos e sistemas de transporte. Está previsto no plano diretor a implantação de calçadas, rampas e travessias para acessibilidade de pessoas com restrição de mobilidade, segundo os parâmetros estabelecidos pela NBR 9050/04 e consta que devem ser evitados desníveis de Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC qualquer natureza, principalmente nas rotas acessíveis. No entanto, ainda não encontramos nas ruas da cidade condições ideias nas áreas de circulação de pedestres, as calçadas e travessias, nem mesmo possibilitam a caracterização destas como rotas acessíveis. Acessibilidade e Mobilidade em Campinas A legislação municipal vigente tem modificado e transformado a estrutura física da cidade, no que tange a arquitetura e sistema de transporte, e propiciado a criação de estruturas políticas de apoio às pessoas com deficiência. Dentre estas destacamos a Comissão de Políticas para Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (Comissão Parlamentar da Câmara), criada em 2012 pela Câmara de Vereadores, em resposta as exigências do Conselho Municipal da Pessoa Portadora de Deficiência vigente desde 1999; em 2013 foi criada a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, a qual anteriormente era uma pasta subordinada a Secretaria de Assistência Social. As principais ações de modificações da estrutura urbana e da infraestrutura do sistema de transporte relacionadas às pessoas com deficiência são destacadas na Tabela 1. As condições de acessibilidade e mobilidade em Campinas vêm sendo reestruturadas de forma gradativa em resposta às leis de âmbito municipal, estadual e federal. O município tem aprovado diversas leis, decretos e resoluções desde o início da década de 1990 visando melhorias na área de transporte. Tabela 1: Adaptações da Estrutura Urbana. Estrutura Quantidade Localização Público Alvo Ano Esteira para Cadeirantes 01 Paço Municipal 2010 Estações de Transferência 25 Rampas de Acesso 3.014 Pessoas com dificuldade de locomoção 2010 Frota Adaptada 562 ônibus Centro Expandido; e Polos geradores de tráfego; Corredores de ônibus; Estações de transferências; Centro Expandido; e Polos geradores de tráfego; - Pessoas com deficiência física População Pessoas com 2010 Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina 2010 XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC (56%) Transporte porta a porta EMTU* 65 - Rodoviária e Terminal Multimodal 01 Área Central PAI-Serviço EMDEC** 25 vans; 2 ônibus; - deficiência física; idosos; grávidas; etc. Estudantes com deficiência física População geral Pessoas com deficiência física População geral 2010 2008 2005 Corredores de 09 Eixos radias e 2005 prioridade ao corredor central transporte público Fonte: Plano Diretor (2006) - Revisão do Plano Diretor 1996. *Convênio entre a Empresa Metropolitana de Transporte Urbano e a Secretaria Estadual de Educação. ** Transporte especial de pessoas com deficiência física severa executado pela Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas - EMDEC. Para melhor compreensão das ações empreendidas pelo poder público local nos últimos anos, elencamos algumas das principais leis que beneficiam as pessoas com deficiência visando maior mobilidade e acessibilidade delas no sistema de transporte. Decreto 9.981/89 regulamenta a isenção do pagamento do transporte coletivo urbano concedido ao idoso, ao portador de deficiências e ao aposentado por invalidez; Lei 8.897/96 autoriza o poder executivo a construir banheiros públicos para portadores de deficiência - paraplégicos - nos terminais de ônibus; Lei 8.847/96 obriga a Emdec/Setransp a credenciar os usuários de transportes coletivos que apresentem comprometimentos físicos e se sintam constrangidos ao passarem nas catracas dos coletivos urbanos; Lei 9.803/98 define que os pontos de parada de ônibus para os portadores de deficiência física pode se dar a qualquer momento, desde que sempre junto ao meiofio; Lei 10.316/99 define a criação do Conselho Municipal de Atenção à Pessoa com Deficiência ou com Necessidades Especiais. O conselho é o responsável por promover a integração entre as entidades sociais e os órgãos públicos, buscando mecanismos que garantam o atendimento das pessoas com deficiência e com necessidades especiais. Lei 11.040/01 dispõe sobre a implantação de dispositivo especial (elevadores) para embarque e desembarque de deficientes físicos em ônibus; Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Lei 11.175/02 dispõe a proteção especial aos idosos, portadores de deficiências e gestantes, no acesso adequado aos serviços públicos; Decreto 14.921/04 serviço de atendimento especial exclusivo ao atendimento de usuários cadastrados, portadores de deficiência física severa, para viagens agendadas por motivo de saúde ou reabilitação; Decreto 15.570/06 dispõe sobre o Programa de Acessibilidade Inclusiva – PAI. Resolução 251/09 institui a reserva de 2% (dois por cento) das vagas em estacionamento de uso público para serem utilizadas exclusivamente por veículos com pessoas portadoras de deficiência ou com dificuldade de locomoção; Decreto 17.108/10 criou a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Pessoa com Deficiência. As ações e mudanças na legislação visando melhorias nas condições de mobilidade e acessibilidade no município vem acontecendo desde o início da década de 1990, o que tem transformado a estrutura física e o sistema de transporte da cidade, mas muito ainda precisa ser feito. A empresa responsável pela execução das atividades técnicas da Secretaria Municipal de Transportes (Setransp) é a EMDEC, que desenvolve atividades nas áreas de planejamento da circulação, gerenciamento do transporte coletivo, é a responsável pelo PAI-Serviço e outras modalidades de interesse público, responde pela gestão de trânsito; gestão de transportes públicos; administração do sistema de multas de trânsito; execução, direta ou indireta; gestão do contrato de concessão da rodoviária; gerenciamento do PAIServiço; gerenciamento e execução dos serviços de monitoramento das câmeras instaladas nas vias públicas a partir da Central Integrada de Monitoramento de Campinas (CIMCamp). Um dos programas voltados à questão da acessibilidade e mobilidade de pessoas com deficiência desenvolvido pela EMDEC é o Programa de Acessibilidade Inclusiva – PAI que visa desenvolver e articular ações que ampliem e qualifiquem a mobilidade, a circulação e a segurança de pessoas com deficiência, idosos, gestantes, pessoas acompanhadas por criança de colo e pessoas com restrição de mobilidade temporária ou permanente. O programa é o responsável pela execução do PAI-Serviço rede de transporte complementar ao serviço convencional, caracterizado pelo transporte gratuito de pessoas com mobilidade reduzida (usuários de cadeira de rodas), porta-a-porta e porta-estação de transferência, atualmente conta com uma frota de 25 vans e dois ônibus adaptados. O PAIUniversidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Serviço atende atualmente 1.628 usuários cadastrados, realiza mais de 75 mil viagens por ano. Contudo, o PAI-Serviço não tem suprido a demanda existente no município, muitas pessoas com mobilidade reduzida não conseguem agendar o serviço de transporte, a fila de espera e reclamações sobre a falta de vagas e horário para agendamento é constante. População com Deficiência Motora e Visual Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no Censo 2010 o município de Campinas possui 1.080.113 habitantes, destes 63.688 (5,9%) possuem deficiência motora, e 181.874 (16,8%) tem deficiência visual. O IBGE define como pessoa com deficiência motora as que apresentam problemas de locomoção, o órgão não utiliza a denominação pessoa com deficiência física. A maioria das pessoas com deficiência motora e visual vivem na área urbana do município, são 62.983 com deficiência motora e 179.772 com deficiência visual, estes representam 22,7% da população que necessita de condições especiais para circulação na cidade e uso do sistema de transporte. Um percentual significativo, que merece especial atenção do poder público local e justifica todo o investimento com o intuito de dinamizar e facilitar o acesso destas pessoas com deficiência aos serviços da cidade. O município possui quase 100% de sua população com deficiência motora e visual residindo na área urbana, logo deve investir na adequação de sua infraestrutura e sistemas de transporte, bem como, na modificação da arquitetura para possibilitar a esta parcela da população o uso do espaço urbano. Considerações Finais As adaptações e modificações na estrutura urbana, bem como, na infraestrutura e no sistema de transporte contribui para que todos tenham acesso à cidade e todos os serviços disponíveis, principalmente as pessoas com deficiência. Apesar de toda a legislação federal, estadual e municipal, as condições de acessibilidade e mobilidade no sistema de transporte nos municípios, ainda não alcançam a todos de forma equilibrada. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Em Campinas a maioria das adequações na infraestrutura urbana pode ser encontrada nas áreas centrais e próximo às estações de transferência, o que não proporciona às condições efetivas de acessibilidade e mobilidade em todo o município. O cenário apresentado em Campinas apesar de todas as mudanças e adequações na arquitetura e sistema de transporte, e a instituição de legislação pertinente à questão da acessibilidade e mobilidade ainda não alcançou 100% do município, o processo de adequação vem acontecendo de forma gradual tendo sido iniciado as adaptações na área central. O município avançou em condições de mobilidade, no entanto, em acessibilidade ainda tem muito a resolver. Nas visitas a campo percebemos as modificações na área central da cidade, as quais têm contribuído com a mobilidade dos cidadãos, porém a acessibilidade ainda não foi alcançada fato facilmente identificado pela observação de calçadas, travessias, sinalização e faixa de pedestres. É necessário que as adequações e modificações atendam as condições de acessibilidade e mobilidade exigidas para a inclusão e uso de todos, tanto na estrutura física quanto no sistema de transporte, mais do que na legislação é preciso haver uma efetiva transformação do espaço urbano. As mudanças ocorridas no sistema e infraestrutura do transporte em Campinas demonstra o esforço do governo local em modificar as condições de mobilidade e acessibilidade na cidade, porém estas ainda não alcançaram as pessoas com deficiência de forma plena e satisfatória. A pesquisa demonstrou que apesar dos esforços de mudanças das condições ofertadas, as adequações ainda não atendem a 100% do município, até mesmo os ônibus adaptados, muitas vezes não chegam aos locais de residência da população que mais necessita. As pessoas com deficiência ainda são impedidas de ir e vir livremente, e têm seus direitos mais básicos negados pela impossibilidade de locomoção, tornando-se dependentes de favores, boa vontade e solidariedade de terceiros, estas pessoas acabam por se sentirem desvalorizadas e excluídas da sociedade. É necessário que as leis, decretos e normas resultem em ações concretas e efetivas, possibilitando ofertar boas condições de mobilidade e acessibilidade para todos e em todo o território municipal. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC BIBLIOGRAFIA CITADA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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