EFEITO DA ASPIRINA SOBRE A INVASÃO DE CÉLULAS DENDRÍTICAS HUMANAS POR Trypanosoma cruzi Helena Tiemi Suzukawa (UEL), Sandra Cristina Heim Lonien, Phileno Pinge Filho. E-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina, Centro de Ciências Biológicas, Departamento de Ciências Patológicas. Grande área Ciências Biológicas, Área Imunologia, Subárea Imunologia Celular Palavras-chave: Célula dendrítica, Ciclooxigenase-1, Trypanosoma cruzi. Resumo A infecção humana e experimental por Trypanosoma cruzi provoca uma intensa resposta imunológica iniciada na fase aguda que é responsável pela resistência do hospedeiro ao parasito. Embora seja reconhecido o papel relevante da resposta celular, ainda não se encontram completamente esclarecidos quais os mecanismos envolvidos e qual a exata participação dos fagócitos mononucleares, tais como as células dendríticas (DCs), no controle da infecção por T. cruzi. A atividade funcional de fagócitos durante a infecção chagásica tem sido correlacionada com elevação de produção de diversos mediadores como óxido nítrico (NO), prostaglandinas (PG) e leucotrienos (LT). Antiinflamatórios não esteroidais (AINES) como a aspirina inibem a ciclooxigenase-1 (COX-1) resultando na inibição da produção de PG. O objetivo deste trabalho foi investigar o efeito da inibição da COX-1 sobre a capacidade de invasão de DCs por T. cruzi e a produção de NO (agente tripanocida) por essas células. As DCs foram obtidas por meio da derivação de monócitos humanos de sangue periférico de doadores saudáveis. As DCs foram previamente tratadas com aspirina (ASA, inibidor preferencial de COX-1), nas concentrações de 0,312 mM a 1,25 mM, por uma hora antes da infecção por formas tripomastigotas de cultura de T. cruzi (5:1, cepa Y). Após 12 horas, determinou-se o índice de infecção. A produção de NO nos sobrenadantes das culturas foi quantificada pelo método de Griess. A aspirina não demonstrou efeito sobre a infecção ou sobre a produção de NO em nenhuma das três concentrações utilizadas do fármaco. Introdução e objetivo As células dendríticas (DCs) são células apresentadoras de antígenos (APC) que atuam como ponte entre a imunidade inata e a adaptativa, 1 apresentando antígenos aos linfócitos T e B. Em céulas fagocíticas, como macrófagos e DCs, sabe-se que cascatas de reação induzidas por NO ocorrem após a fagocitose de antígenos (NATHAN, 1992) e que durante a resposta inflamatória, podem ser produzidos eicosanoides, podendo tornar-se moléculas bioativas oxigenadas sendo o ácido araquidônico substrato para duas vias enzimáticas, a via das cicloxigenases (COX) e a via das lipoxigenases (LO). Dois tipos de ciclooxigenases estão melhor caracterizadas, a COX-1, constitutivamente expressa em quase todos os tecidos; e a COX-2 induzida localmente por citocinas produzidas por leucócitos em resposta a danos ou invasão microbiana. A liberação de eicosanoides durante a infecção por T. cruzi regula a resposta do hospedeiro e controla a progressão da doença, entretanto, o papel desses lipídeos bioativos na doença de Chagas aguda e crônica ainda não está bem esclarecido (ASHTON et al., 2007), sendo assim, objetivando contribuir para uma melhor compreensão dos mecanismos envolvidos na ativação e invasão de células dendríticas pelo protozoário Trypanosoma cruzi, foram investigados os efeitos do tratamento de DCs com aspirina (ASA), sobre a entrada do T. cruzi (Cepa Y) e a avaliação do efeito da inibição de COX-1 sobre a produção de óxido nítrico por DCs infectadas pelo parasito. Procedimentos metodológicos Os protocolos experimentais que foram adotados foram aprovados pela Comissão de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Processo 54912012). As DCs foram derivadas de monócitos do sangue periférico de doadores humanos saudáveis. Células polimorfonucleadas (PBMC) foram separadas por gradiente de densidade utilizando meio separador de linfócitos e colocadas para aderir em garrafas de plástico por 2 horas. As células aderentes foram cultivadas por 6 a 7 dias em meio RPMI suplementado na presença de interleucina-4 e fator (IL-4; 100 ng/mL) e fator estimulador de colônia de granulócito/monócito (GM-CSF; 50 ng/mL). Após esse período foi realizada a fenotipagem das células. Para os ensaios de infecção e dosagem de óxido nítrico (NO), as células foram tratadas com aspirina (ASA) nas concentrações 0,312mM a 1,25mM por 1 hora e infectadas com formas tripomastigotas de cultura de T. cruzi (cepa Y) na proporção de 5:1. O sobrenadante foi utilizado para dosagem de NO, pelo método colorimétrico de Griess e para o ensaio de invasão as células foram fixadas com metanol e coradas com Giemsa, contando-se 200 células por tratamento, em microscópio óptico. Resultados e discussão Para verificar a eficiência do método de derivação utilizado, foram realizadas fenotipagens, onde se obteve 89,2% de DCs (Figura 1). 2 Embora, Hackstein e col. (2001) ao investigarem a função endocítica da DCs imaturas derivadas de medula óssea murina, tratadas com ASA e incubadas com albumina ou dextran, encontraram um aumento na macropinocitose e endocitose mediada por receptores, os dados obtidos demonstram que o tratamento com aspirina (ASA) nas concentrações ministradas, não apresentaram diferença significativa quando comparados com o grupo controle nos ensaios de infecção (Figura 2). Sabe-se que o NO está relacionado com a defesa contra a infecção por Trypanosoma cruzi; devido a isso, investigamos a produção desta molécula pelas DCs tratadas e infectadas. Tem sido demonstrado em células fagocíticas que o tratamento com ASA inibe a infecção por T. cruzi e está associada com um aumento da produção do IL-1β e NO (MALVEZI et al., 2014). Nossos dados mostram que o tratamento de DCs com ASA não interferiu na capacidade de invasão do T. cruzi e nem na produção de óxido nítrico por estas células. F i g u r a Figura 1: Fenotipagem de células dendríticas derivadas de monócitos do sangue periférico de humanos (MdDCs). 89,2% das células resultantes da derivação são DCs (CD11c + CD14-). M M m 2 0 A S A S A ,3 ,6 0 1 A S A 1 2 ,2 5 5 T C 0 A 50 M 100 m 150 m Ín d ic e d e in t e r n a liz a ç ã o ( % ) M dDC 200 T ra ta m e n to s Figura 2: Efeito do tratamento in vitro com ASA sobre o índice de internalização de células dendríticas infectadas por T. cruzi (Cepa Y). Não houve diferença estatística considerando-se p 0,05. 5 Figura 3: Efeito do tratamento in vitro com ASA sobre a produção de nitrito por células dendríticas. Não houve diferença estatística considerando-se p0,05. Conclusão A partir dos nossos resultados, concluímos que o bloqueio de COX-1 pelo uso de aspirina nas concentrações utilizadas, não teve efeito sobre a capacidade de invasão do T. cruzi ou sobre a produção de NO por células 3 dendríticas, sugerindo que a COX-1 não apresenta papel de relevância para estas células frente à infecção por Trypanosoma cruzi. Agradecimentos À Fundação Araucária, CAPES e Universidade Estadual de Londrina pela concessão de duas bolsas de estudos IC e uma de Doutorado. Ao Instituto Carlos Chagas pela doação de alguns reagentes imprescindíveis para a realização dos experimentos. Referências ASHTON, A. W.; MUKHERJEE, S.; NAGAJYOTHI, F. N.; HUANG, H.; BRAUNSTEIN, V. L.; DESRUISSEAUX, M. S.; FACTOR, S. M.; LOPEZ, L.; BERMAN, J. W.; WITTNER, M.; SCHERER, P. E.; CAPRA, V.; COFFMAN, T. M.; SERHAN, C. N.; GOTLINGER, K.; WU, K. K.; WEISS, L. M.; TANOWITZ, H. B.. Thromboxane A2 is a key regulator of pathogenesis during Trypanosoma cruzi infection. J Exp Med 16, 204 (4): 929-40, 2007. HACKSTEIN, H.; MORELLI, A. E.; LARREGINA, A. T.; , GANSTER, R.; PAPWORTH, G. D.; LOGAR, A. J.; WATKINS, S. C.; FALO, L. D.; THOMSON, A. W. Aspirin inhibits in vitro maturation and in vivo immunostimulatory function of murine myeloid dendritic cells. J Immunol. 2001 Jun 15;166 (12):7053-62. MALVEZI A. D.; DA SILVA R. V.; PANIS C.; YAMAUCHI L. M.; LOVOMARTINS M. I.; ZANLUQUI N. G.; TATAKIHARA V. L.; RIZZO L. V.; VERRI W. A. JR.; MARTINS-PINGE M. C.; YAMADA-OGATTA S. F.; PINGE-FILHO P. Aspirin modulates innate inflammatory response and inhibits the entry of Trypanosoma cruzi in mouse peritoneal macrophages. Mediators Inflamm. 2014;2014:580919. doi: 10.1155/2014/580919. Epub 2014 Jun 19. NARABA, H.; MURAKAMI, M.; MATSUMOTO, H.; SHIMBARA, S.; UENO, A.; KUDO, I.; OH-ISHI, S. Segregated coupling of phospholipases A2, Cyclooxygenases, and terminal prostanoid synthases in different phases of prostanoid biosynthesis in rat peritoneal macrophages. J Immunol, 15: 29742982, 1998. NATHAN, C. Nitric oxide as a secretory product of mammalian cells. FASEB J. 6: 3051-3064, 1992. 4