VULNERABILIDADE AMBIENTAL DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE SABIAGUABA, FORTALEZA-CE. Andrea Bezerra Crispim – Mestranda em Geografia (UECE) E-mail: [email protected] Jader de Oliveira Santos – Doutorando em Geografia (USP) E-mail: [email protected] Antônio Jeovah de Andrade Meireles – Dr. Geografia Física (UFC) E-mail: [email protected] RESUMO A Planície costeira de Sabiaguaba esta localizada na porção leste do litoral de Fortaleza. Por tratar-se de um setor que ainda não se encontra totalmente adensado, ainda resguarda características ambientais e um conjunto morfológico em elevado estado de conservação. A presente pesquisa teve como objetivo realizar um breve diagnóstico da área, focando suas potencialidades e limitações no que se refere ao seu uso e ocupação. Tendo como base a metodologia geossistêmica, foi possível realizar uma análise sobre a relação entre os processos morfogenéticos e os pedogenéticos e assim gerando critérios para definição de áreas adequadas para seu uso e ocupação e focando a vulnerabilidade ambiental da área. O Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba (PNMDS) é constituída por um complexo mosaico de sistemas ambientais composto por Campo de Dunas, Faixa Praial, Rochas de Praia (beachrocks), Lagoas Costeiras e Interdunares e Terraço Marinho. A área de amortecimento engloba sistemas ambientais representados pelo manguezal dos rios Pacoti e Cocó, laguna da Precabura e tabuleiro litorâneo que bordeja as porções noroeste e sudeste do parque. A APA da Sabiaguaba está disposta à retaguarda do PNMDS, caracterizaram-se as unidades definidas como faixa de praia, manguezal, dunas costeiras, tabuleiro litorâneo e zona urbanizada. As conseqüências observadas a partir das diversas formas de uso e ocupação identificadas forneceram elementos importantes para a gestão deste trecho da zona costeira da cidade de Fortaleza. Por esses sistemas ambientais serem recentes e regidos pela ação das ondas, ventos e hidrodinâmica estuarina, definiu-se que são extremamente frágeis, impondo assim, restrições no que se refere ao seu uso e ocupação. Com base nessas limitações qualquer intervenção ou alteração oriunda das atividades socioeconômicas deve ser cuidadosamente analisada a fim de verificar sua compatibilidade com a capacidade de suporte do ambiente e comunidades vinculadas. PALAVRAS – CHAVE: Litoral; Vulnerabilidade Ambiental; Unidades de Conservação. Introdução A zona costeira é um sistema ambiental de extrema fragilidade e dinâmica. Por ser composta por um complexo conjunto de formas originadas pela integração dos fluxos de matéria e energia através das conexões continenteoceano-atmosfera, necessita de uma maior definição de seus componentes morfológicos e processos dinâmicos envolvidos na evolução litorânea, para o planejamento e gestão de seu uso e ocupação. O litoral do estado do Ceará possui 573 km de extensão, com direções principais ESE-NNW de Tibau (divisa CE-RN) até a foz do Rio Acaraú, e E-W daí até a foz do rio Timonha (divisa CE-PI). É retificado, sem reentrâncias ou enseadas acentuadas, a não ser a dos estuários. As pontas rochosas e os campos de dunas orientam a fisionomia da linha de costa e contribuem para a dinâmica de aporte de sedimentos eólicos para a linha de praia. O município de Fortaleza é limitado ao norte pelo Oceano Atlântico e o município de Caucaia; ao sul pelos municípios de Maracanaú, Pacatuba, Itaitinga e Eusébio, à leste pelos municípios de Eusébio, Aquiraz e Oceano Atlântico e à oeste pelos municípios de Caucaia e Maracanaú. Entre a latitude 3º43’35’’ e longitude 30º32’35’’, com uma área de 313,14 km2. A área abrangida pelo Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba (mapa 1) é de 462,0 ha, englobando o campo de dunas móveis, semifixas e fixas e as lagoas costeiras e interdunares. A sudeste limita-se com a Área de Proteção Ambiental (mapa 1) (APA) do estuário do rio Pacoti e a noroeste com a APA do rio Cocó; a este e nordeste com o Oceano Atlântico e a oeste com o tabuleiro litorâneo nas proximidades da lagoa da Precabura. Seus limites levaram em conta a efetiva proteção de unidades de preservação permanente e a necessidade de um plano de manejo a ser elaborado com a instalação do Parque Nacional Municipal das Dunas de Sabiaguaba (PNMDS). Mapa 1: Mapa de localização das Unidades de Conservação de Sabiaguaba. Para a área de proteção ambiental (APA da Sabiaguaba), definiu-se uma área de 1.014, 58 ha. Limitada à nordeste e sudeste pelo Parque das Dunas, à norte pelo manguezal e desembocadura do rio Cocó; à sudoeste e noroeste pelo bairro Sabiaguaba e a sul pelo manguezal do rio Pacoti e praia da Cofeco. Abrange unidades de paisagem representada pelo manguezal, lagoa da Sapiranga e parte de seus afluentes, faixa de praia e tabuleiro litorâneo. A presente pesquisa teve como objetivo realizar um breve diagnóstico das Unidades de Conservação da Sabiaguaba, Município de Fortaleza/CE, focando suas potencialidades e limitações no que se refere ao seu uso e ocupação. Metodologia Fundamentação teórica O estudo descritivo qualitativo foi realizado no sentido de identificar e descrever os aspectos geoambientais e ecodinâmicos das unidades de paisagem que compõem o PNMS. Deteve-se também na definição das formas de uso e ocupação em unidades de preservação permanente e na caracterização dos impactos ambientais. Para se discutir temas relacionados ao uso e ocupação da zona costeira foram utilizadas uma abordagem teórico-metodológica que discutisse a relação homem-natureza de forma dialética, focando a vulnerabilidade do ambiente físico da área, os processos dinâmicos envolvidos na evolução morfológica e sua limitação de uso. A aplicação da teoria geral dos sistemas aos estudos geográficos serviu para melhor focalizar as pesquisas e para delinear com maior exatidão o setor de estudo desta ciência, além de propiciar oportunidades para reconsiderações críticas de muito dos seus conceitos como assinala Christofoletti,1979: 1). “Os sistemas passam a ser estudados sobremaneira em virtude das inter – relações entre suas unidades e o seu grau de organização. Não se trata de realizar um estudo setorizado e sim, partindo de um grau de organização que permita assumir a função de um todo que é maior que a soma de suas partes”. Com a definição dos agentes morfodinâmicos e como atuam, de forma integrada, para a composição da paisagem costeira inserida nas áreas destinadas ás Unidades de Conservação, foi possível caracterizar as vulnerabilidades ambientais. A vulnerabilidade ambiental pode ser entendida como um grau de exposição de determinado ambiente estar sujeito a diferentes fatores que podem acarretar efeitos adversos, tais como impactos e riscos, derivados ou não de atividades econômicas. (SANTOS e SOUZA, 2005). Aplicando a metodologia desenvolvida por Tricart (1977), foi possível realizar uma análise sobre a relação entre os processos morfogenéticos e os pedogenéticos e assim gerando critérios para definição de áreas adequadas para seu uso e ocupação e focando a vulnerabilidade ambiental da área. Os critérios definidos foram relacionados com os processos geoambientais e ecodinâmicos relacionados com a evolução dos demais sistemas da zona costeira de Fortaleza. Procedimentos técnico-operacionais Foram utilizados durante o decorrer do trabalho, levantamentos de dados relativos ao uso e ocupação da área, dados geocartográficos a partir da base cartográfica cedida pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, fotografias aéreas de 2001 – Laboratório de Geoprocessamento da Prefeitura Municipal de Fortaleza e aerofotográfico de 1998 e 2003 para identificar as alterações e evolução da ocupação do espaço. Durante estas atividades foram realizados perfis transversais e longitudinais ao longo de toda área destina ao PNMS. Foram georreferenciados e plotados em cartografia temática. Conclusões A planície costeira da Sabiaguaba é constituída pela acumulação de sedimentos predominantemente arenosos de origem marinha e continental, que foram mobilizados e depositados através da ação flúvio-marinha, eólica, ondas e correntes marinhas. Sua gênese está associada principalmente às flutuações eustáticas no decorrer do quaternário (MEIRELES, 1991). Com a definição dos agentes morfodinâmicos e como atua, de forma integrada, para a composição da paisagem costeira inserida nas áreas destinadas ás Unidades de Conservação, foi possível caracterizar sua vulnerabilidade ambiental. Os critérios definidos foram relacionados com os processos geoambientais e ecodinâmicos relacionados com a evolução dos demais sistemas da zona costeira de Fortaleza. Com a integração dos fluxos de matéria e energia nas áreas delimitadas para as UC’s, cada componente ambiental foi definido de modo a relacionar suas funções ecodinâmicas e geoambientais para a continuidade dos serviços ambientais. Desta forma, e através da composição dos mapas temáticos (geológico, geomorfológico e cobertura vegetal) foi possível caracterizar os parâmetros básicos das unidades de paisagem vinculados à dinâmica de uma planície costeira nas proximidades de uma metrópole: Resultados e Discussões Diante da abordagem e análise feita acima dos sistemas ambientais das Unidades de Conservação da Sabiaguaba, ficaram definidos alguns pontos relevantes em relação a capacidade de suporte desses sistemas ambientais: I. Protegem as praias de Sabiaguaba, Caça e Pesca e do Futuro, dos efeitos de marés altas e das ressacas com o suporte sedimentar sobre a faixa de praia e berma e com a presença dos afloramentos de rochas de praia na zona de estirâncio; II. Atuam como suporte de sedimentos para o bypass (fornecimento contínua de um volume adequado de sedimentos para os estuários e a faixa de praia) de areia para a deriva litorânea e, a médio e longo prazo, para minimizar efeitos erosivos nas praias à leste do município (praias do Caça e Pesca e do Futuro). III. Representam disponibilidade de sedimentos para a hidrodinâmica estuarina e evolução morfológica das margens e bancos de areia no estuário do rio Cocó; IV. Resguardam uma elevada biodiversidade associada à interrelação com as demais unidades geoambientais, constituindo assim, um setor da planície costeira com ecossistemas de dunas móveis, fixas e semifixas, lagoas interdunares e costeiras, terraço marinho e tabuleiro litorâneo; V. O campo de dunas, o terraço marinho e o tabuleiro litorâneo, por estarem associado às lagoas (da Sapiranga e Precabura e as lagoas costeiras sobre o terraço e o tabuleiro) e o manguezal, atuam como suporte sedimentar, de nutrientes e de água doce para as reações ecodinâmicas do manguezal e da fauna associada.; VI. As unidades de paisagem exercem uma fundamental importância no estabelecimento do mais importante reservatório de água doce (qualidade e quantidade de água armazenada) da planície costeira do município; VII. Além de uma reserva estratégica de água doce, a pressão hidrostática do aqüífero exerce uma função protetora contra a salinização da água, impedindo a penetração da água salgada associada à faixa de praia e aos estuários dos rios Pacoti e Cocó; VIII. A reserva de água doce é vital para a biodiversidade, dando suporte a uma cobertura vegetal arbórea e ecossistemas vinculados aos lagos sazonais e pequenos riachos. IX. O conjunto geoambiental e ecodinâmico sustenta uma paisagem costeira exuberante, completamente integrada e controlando, em grande parte, a dinâmica evolutiva dos demais sistemas (praia, estuários, lagoas costeiras e tabuleiro litorâneo). Referências Bibliográficas CHRISTOFOLETTI, Antônio. Análise de Sistemas em Geografia. São Paulo: USP. 106P, 1979. MEIRELES, A. J. A.; SILVA, V. da E. Geomorfologia e Dinâmica Ambiental da Planície Litorânea entre as Desembocaduras dos Rios Pacoti e Ceará. Revista Geonotas, Fortaleza, Vol. 5, p. 5-27, 2001. Meireles, A.J.A. -1991- Mapeamento geológico/geomorfológico da planície costeira de Icapuí, extremo leste do Estado do Ceará. Diss. Mestrado, Centro de Tecnologia, Departamento de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Recife, 1991, 178p. il. Meireles, A.J.A. & Maia, L.P. –1998- Indicadores morfológicos de los cambios del nivel del mar en la llanura costera de Ceará – nordeste de Brasil. In: A. G. Ortiz y F. S. Franch (Editores): Investigaciones Recientes en Geomorfología Española. Barcelona, 1998, pp.325-332, Geoforma Ediciones, Logroño. SANTOS, Jader de Oliveira. & SOUZA M. José Nogueira de. Compartimentação Geoambiental e Riscos à Ocupação na Bacia Hidrográfica do Rio Cocó. In Anais XI Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada. [CD-ROM]. São Paulo, 2005. TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: FIBGE/SUPREN, 1977.