Avaliação da Insuficiência Pancreática Exócrina

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Fundação Oswaldo Cruz
Instituto Fernandes Figueira
Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher
Avaliação da Insuficiência Pancreática Exócrina pela
medida da Elastase1 Fecal em pacientes com Fibrose
Cística acompanhados em um Centro de Referência.
Amelia Raquel Neves de Noronha
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2010
Fundação Oswaldo Cruz
Instituto Fernandes Figueira
Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher
Avaliação da Insuficiência Pancreática Exócrina pela
medida da Elastase1 Fecal em pacientes com Fibrose
Cística acompanhados em um Centro de Referência.
Amelia Raquel Neves de Noronha
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2010
Fundação Oswaldo Cruz
Instituto Fernandes Figueira
Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher
Avaliação da Insuficiência Pancreática Exócrina pela medida da
Elastase1 Fecal em pacientes com Fibrose Cística acompanhados
em um Centro de Referência.
Amelia Raquel Neves de Noronha
Dissertação de Mestrado
apresentada à Pós-Graduação
em Saúde da Criança e da
Mulher,
como
parte
dos
requisitos para obtenção do
título de Mestre em Saúde
Materno Infantil
Orientadora: Profª. Drª. Célia Regina Moutinho
de Miranda Chaves
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2010
iv
DEDICATÓRIA
À minha querida filha, Júlia, meu grande amor, este sim o meu maior e melhor
projeto;
Ao meu marido Luís, pelo seu coração bondoso;
Aos meus pais, Leonel e Salvina, pela sólida formação, dedicação e amor, que
me proporcionaram chegar até aqui;
À minha irmã Claudia, pela sua amizade e carinho;
A minha sobrinha e afilhada Joana, a pequena que mudou uma história;
Aos meus sobrinhos e afilhados, Victor, João Pedro e Rafael, pelos momentos
de diversão, alegrias e carinho durante toda uma vida;
E a Deus, amigo de todas as horas, com certeza, sozinha eu não faria isso.
v
AGRADECIMENTOS
À Drª. Célia Regina Moutinho de Miranda, orientadora querida e acima de tudo
mestre,
pela
paciência,
pela
generosidade
em
compartilhar
seus
conhecimentos. A ela, toda a minha admiração e gratidão;
Especial agradecimento à Drª. Laurinda Yoko S. Higa, que admiro, pela
oportunidade que me deu em participar deste projeto, pela atenção e
recomendações na minha qualificação;
Ao Dr. Antônio Celso Calçado, que foi embora para sempre, mas deixou um
pouco de si nessa dissertação, o meu muito obrigado;
À Drª. Maria Vírginia Peixoto Dutra, um agradecimento muito especial pelas
idéias, disponibilidade, por sua atenção e sugestões efetivas na realização
deste trabalho;
À equipe do Laboratório de Imunopatologia Humana do IFF, em especial à Drª.
Maria Ignez Capella Gaspar Elsas, Dr. Pedro Paulo Elsas, Dr. Zilton
Vasconcelos e Dr. Ricardo Luz, que muito me ajudaram a construir esta
dissertação, pela simpatia, conhecimento e presteza no auxílio da técnica, pela
ajuda na interpretação dos resultados obtidos, minha profunda gratidão;
Ao Dr. Pedro Cabello, coordenador do projeto Pensa Rio
À Drª Maria Elisabeth Lopes Moreira, pelo apoio financeiro;
Aos professores da Pós-Graduação, pelos saberes que me foram transmitidos;
Ao Prof. Dr. Saint Clair Gomes, pela disponibilidade na discussão e ajuda na
aplicação das técnicas de estatística, apesar das férias;
Aos meus amigos, Cynthia e Marcelo, que de muitas formas, contribuíram com
sua amizade, carinho e atenção, para a realização deste trabalho;
vi
Aos colegas do Ambulatório de Nutrição, Maria Luiza, Teresa, Roseli, Célio,
Myrian, Ana Lúcia, Carlos, Eduardo, Danilo, pelo incentivo, apoio e afeto;
Aos colegas do curso de Mestrado Profissional, pela diversão, aprendizado,
convivência e pela amizade;
Aos funcionários da secretaria de Pós-Graduação, pela disponibilidade e
presteza;
Ao Departamento de Patologia Clínica, em especial, Dr. Jânio Alves Cordeiro,
que disponibilizou um ambiente para armazenamento e processo do material;
A todos os meus queridos amigos de longa data, da vida inteira, pelo apoio;
A todos os pacientes com Fibrose Cística, gostaria de expressar minha
profunda gratidão.
vii
RESUMO
Objetivo:avaliar a presença de Insuficiência Pancreática pelo método de
dosagem de Elastase1 fecal nos pacientes com Fibrose Cística acompanhados
no IFF e associar este teste com a dosagem de gordura fecal. Metodologia:
Trata-se de um estudo transversal. A concentração de Elastase1 fecal foi
realizada por ensaio imunoenzimático (Schebo-Tech,Wettenberg, Alemanha) e
a dosagem de gordura fecal
pelo método Van der Kamer. Considerou-se
insuficientes pancreáticos pacientes com EF1<200µgE1/g e suficientes
pancreáticos aqueles com valores >200µgE1/g. As análises estatísticas foram
feitas no programa Epi Info 2000 (CDC). O ponto de corte para o valor de
significância dos testes estatísticos foi o p-valor ≤ 0,05. A Sensibilidade,
especificidade e valor preditivo positivo e negativo foram avaliados comparando
a Elastase1 fecal com a gordura Fecal. Resultados:Um total de 72 pacientes
participaram do estudo (com idade de 4 meses a 20,5 anos): 60 com
diagnóstico confirmado e 12 em investigação diagnóstica de Fibrose Cística. A
prevalência de Insuficiência Pancreática no grupo todo e nos pacientes com
diagnostico confirmado foi de 62,5 e 73,3 respectivamente. A associação da
classificação da função pancreática pela dosagem da Elastase1 Fecal com a
dosagem da gordura fecal foi estatisticamente significante (p=0,0002). O RR foi
de 2,15 vezes do paciente com Insuficiência Pancreática apresentar gordura
fecal positiva. A sensibilidade, especificidade e valores preditivos positivo e
negativo foram de 88%, 58,3%, 85,7%, 63,6% respectivamente.
Conclusão: A determinação da Elastase1Fecal, como um novo método de
avaliação da função pancreática mostrou-se uma ferramenta útil para o
screening em pacientes com FC.
viii
ABSTRAC
The aim of this study was to evaluate the presence of pancreatic insufficiency
using fecal elastase1(FE1) in patients with CF followed at the IFF and associate
this with the 3-day fecal fat balance study. It’s a cross-seccional study. FE1
concentration was determined with enzyme immunoassay (schebo-Tech,
Wettenberg, Germany) and fecal fat study by Van der Kamer method. Was
considered pancreatic insufficient patients with Elastase1fecal <200μgE1/g and
pancreatic sufficient those with values> 200μgE1 /g. Statistical analysis was
done using Epi Info 2000 (CDC). The significance value of statistical tests was
p-value ≤ 0.05, the sensitivity, specificity and positive predictive value and
negative were evaluated by comparing the Elastase1 with fecal fat balance.
Results: A total of 72 patients were studied (age 4 months-20.5 years): 60 with
known CF and 12 in investigation of Cystic Fibrosis. The prevalence of
pancreatic insufficiency in the whole group and in patients with confirmed
diagnosis was 62.5 and 73.3 respectively.
The association of the classification of pancreatic function by measuring the
Elastase1 Fecal with the determination of fecal fat study was statistically
significant (p = 0.0002). The RR was 2.15 times of patients with pancreatic
insufficiency have positive fecal fat. The sensitivity, specificity and positive
predictive value and negative were 88%, 58.3%, 85.7%, 63.6% respectively.
Conclusion: The determination of Elastase1Fecal, as a new method of
evaluation of pancreatic function showed to be a useful tool for screening in
patients with CF.
ix
ABREVIATURAS
FC
Fibrose Cística
EF1
Elastase1 Fecal
IFF
Instituto Fernandes Figueira
IP
Insuficiência Pancreática
SP
Suficiência Pancreática
DIOS
Síndrome de obstrução intestinal distal
HCO3
Bicarbonato
CCK
Colecistoquinina
CFTR
cystic fibrosis transmembrane conductance regulator
CO2
Dióxido de carbono
Na+
Sódio
K+
Potássio
Cl-
Cloro
H2O
Água
H2CO3
Ácido Carbônico
AMPc
Adenosina-mono-fosfato-cíclica
FDA
Food and Drug Administration
VIP
Peptídeo vasoativo intestinal
GP2
Glycosylphosphadyl inositol-anchored protein
x
LISTA DE TABELAS
Tabela1: Estimuladores e inibidores da secreção pancreática..................pág.26
Tabela2:
Principais
causas
de insuficiência pancreática exócrina em
crianças......................................................................................................pág. 36
Tabela3: Suplementação de vitaminas de acordo com o Consenso de Nutrição
de pacientes pediátricos com FC................................................................pág.49
Tabela4: Características gerais das crianças e adolescentes que participaram
de estudo de dosagem de EF1 com diagnóstico e suspeita de FC
acompanhados no IFF em 2009.................................................................pág.56
Tabela5: Valores de EF1 encontrados nos pacientes com diagnóstico e
suspeita de FC acompanhados no IFF em 2009........................................pág.57
Tabela 6. A classificação da função pancreática pela dosagem da EF1 nos 2
grupos de pacientes com diagnóstico e suspeita de FC acompanhados no IFF
em 2009......................................................................................................pág.58
Tabela 7. A distribuição da concentração da EF1 nos 2 grupos de pacientes
com diagnóstico e suspeita de FC acompanhados no IFF em 2009..........pág.58
Tabela 8. A associação da concentração da EF1 com o uso de enzimas
em pacientes com diagnóstico e suspeita de FC acompanhados no IFF em
2009............................................................................................................pág.59
Tabela 9. A associação da classificação da função pancreática pela dosagem
da EF1 com a sintomatologia de ma absorção em pacientes com diagnóstico e
suspeita de FC acompanhados no IFF em 2009........................................pág.60
Tabela10. Distribuição da gordura fecal em associação com a sintomatologia
em pacientes com diagnostico e suspeita de FC acompanhados no IFF em
2009............................................................................................................pág.61
xi
Tabela 11. A associação da classificação da função pancreática pela dosagem
da EF1 com o valor da gordura fecal em pacientes com diagnóstico e suspeita
de FC acompanhados no IFF em 2009......................................................pág.62
Tabela 12. Distribuição da gordura fecal em pacientes com diagnóstico e
suspeita de FC acompanhados no IFF em 2009........................................pág.62
Tabela 13: Teste de sensibilidade..............................................................pág.63
xii
LISTA DE FIGURAS
Figura1: Cascata de ativação das enzimas pancreáticas..........................pág.28
Figura2: Algoritmo para avaliação da função exócrina do pâncreas.........pág.43
Figura3: Curva Padrão de dosagem de EF1.............................................pág.53
xiii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................pág.15
CAPÍTULO I – REFERENCIAL TEÓRICO.................................................pág.21
1.1 Fibrose Cística...................................................................pág.21
1.2 Embriogênese....................................................................pág.23
1.3 Anatomia do pâncreas.......................................................pág 24
1.4 Função Digestiva...............................................................pág.26
1.5 Pâncreas e Fibrose Cística................................................pág.29
1.6 Causas de Insuficiência Pancreática.................................pág.34
1.7 Métodos Diagnósticos da Insuficiência Pancreática........pág.36
1.8 Manifestações clínicas da Insuficiência Pancreática.......pág.44
1.9 Tratamento de reposição...................................................pág.46
1.9.1 Enzimas.................................................................pág.46
1.9.2 Suplementação de vitaminas lipossolúveis..........pág.49
CAPÍTULO II – OBJETIVOS......................................................................pág.50
2.1 Objetivo Geral....................................................................pág.50
2.2 Objetivos Específicos.........................................................pág.50
CAPÍTULO III – METODOLOGIA..............................................................pág.51
3.1Tipo de estudo....................................................................pág.51
3.2 População de estudo.........................................................pág.51
3.3 Critérios de seleção...........................................................pág.51
3.4 Coleta de dados.................................................................pág.51
3.5 Dosagem de gordura fecal.................................................pág.52
3.6 Dosagem da Elastase1 Fecal............................................pág.52
3.7 Análise Estatística..............................................................pág.54
xiv
CAPÍTULO IV- RESULTADOS..................................................................pág.55
CAPÍTULO V- DISCUSSÃO.......................................................................pág.64
CAPÍTULO VI- CONCLUSÕES..................................................................pág.71
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................pág.72
APÊNDICES...............................................................................................pág.79
Apêndice1: Planilha de coleta de dados..................................pág.79
Apêndice2: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido......pág.80
Apêndice3: Procedimento Operacional Padrão.......................pág.82
ANEXOS.....................................................................................................pág.90
Anexo1:Consenso para o diagnóstico de Fibrose Cística......pág.90
Anexo2: Aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa............pág.91
15
INTRODUÇÃO
As
doenças
pancreáticas
crônicas
reduzem
inevitavelmente
a
capacidade funcional do pâncreas exócrino. As mais comumente encontradas,
são: a fibrose cística na infância e as pancreatites crônicas no adulto
(Goldberg, 2000).
A Fibrose cística (FC) é uma doença crônica, progressiva e letal de
herança autossômica recessiva, que atinge as glândulas exócrinas de múltiplos
órgãos sistêmicos (Adde et al., 2007).
Esta doença é decorrente de uma mutação do gene codificador da
proteína
reguladora
Transmembrane
da
condutância
Conductance
transmembrana
Regulator)-CFTR
(Castro
(Cystic
et
al.,
Fibrosis
2003),
descoberto em 1985 e localizado no braço longo do cromossomo 7 7q31region- (Reis et al., 1998).
A falta ou função deficiente da proteína CFTR resulta em produção de
muco com viscosidade aumentada e bloqueio dos ductos das glândulas
exócrinas principalmente a nível pulmonar e pancreático, com eventual
disfunção do órgão (Daftary et al., 2006).
A FC é considerada a segunda doença genética mais comum na Europa
(Botton et al., 2003) Apesar de ser mais comum na raça branca, principalmente
na população caucasóide, a miscigenação racial fez com que ela se tornasse
presente entre outras populações não caucasóides.
Mais de 1500 mutações nesse gene já foram identificadas, o que torna o
diagnóstico molecular bastante difícil. Porém, a mutação DF508 apresenta alta
freqüência entre os eurodescendentes (66%) (Friedrich, 2007). No Brasil a
16
estimativa de sua incidência é de um para cada 6902 nascidos vivos (Cabello
et al., 1999).
A fibrose cística é a maior causa de insuficiência pancreática (IP) em
crianças, acometendo cerca de 85 a 90% dos pacientes (Gaskin et al., 1982).
A alteração pancreática pode progredir com a idade e muitos pacientes
inicialmente suficientes podem desenvolver insuficiência pancreática (Taylor et
al., 2002).
O início dos sintomas, o grau de envolvimento e a taxa de progressão da
doença em órgãos afetados podem variar consideravelmente de paciente para
paciente. A sintomatologia clínica é influenciada por vários fatores: genéticos e
ambientais e estratégias de manejo. Em uma tentativa de fazer previsões de
gravidade da doença com base nas mutações do gene, tem sido possível
analisar os genótipos dos pacientes e seus fenótipos correspondentes. A
importância dos fatores genéticos sobre o grau de doença pancreática e sua
taxa de progressão já é reconhecida (Durie , 2000).
A maioria dos pacientes DF508 homozigotos apresenta IP, enquanto os
heterozigotos com mutação parcial podem apresentar função pancreática
residual e são classificados como suficientes pancreáticos (SP) (Castro et al.,
2003).
O pâncreas exócrino é responsável pela produção de enzimas para
digestão dos alimentos na luz intestinal e do fluido rico em bicarbonato que
manterá um ambiente alcalino, possibilitando a atividade enzimática máxima
para a hidrólise dos substratos (Taylor et al., 2002).
A redução da concentração luminal das lípases e proteases resulta na
digestão inadequada de gorduras e proteínas, com conseqüente má absorção
17
e importante perda fecal destes nutrientes, causando diarréia crônica e
distensão abdominal. Assim, os principais sinais clínicos da insuficiência
pancreática são a esteatorréia e a desnutrição. Porém a esteatorréia ocorre
somente após perda de grande parte (cerca de 95%) da função pancreática
(Gaskin et al., 1988). Em crianças a IP, tem um impacto significativo no
crescimento e nutrição (Bronstein et al., 1992) Além disso a correlação
negativa entre o grau de desnutrição com a função pulmonar, o estado clínico e
a sobrevida são reconhecidos de longa data (Kraemer et al., 1978).
Desta forma é importante determinar rápida e precisamente a função
pancreática de pacientes com FC para tratar a má digestão e otimizar o estado
nutricional e por outro lado, evitar que pacientes utilizem enzimas pancreáticas
sem apresentar IP
conforme
relatos de estudos citados por Borowitz e
colaboradores (2004)
A desnutrição é considerada um dos principais fatores de mau
prognóstico (Dodge, 1992). Sendo assim a prevenção da desnutrição está
associada a um melhor prognóstico e é considerada um dos principais
objetivos no tratamento da FC (Gaskin, 1988).
O teste do suor é essencial para o diagnóstico da FC (Durie, 2000).
Porém existem pacientes com FC chamada não-clássica ou atípica, que têm
um fenótipo de FC em pelo menos um órgão e uma concentração normal (<30
mmol / l) ou Borderline (30-60 mmol / l) de cloro no suor (De Boeck et al.,
2005). Nesses casos, pacientes com diarréia crônica, esteatorréia, dor
abdominal, failure to thrive (falência de desenvolvimento) e perda de peso
devem realizar testes de avaliação da função pancreática exócrina. Esta pode
18
ser avaliada por métodos diretos ou indiretos. Na prática clínica pediátrica, os
testes indiretos são usados rotineiramente (Walkowiak et al., 2005).
O teste secretina-colecistoquinina é um teste de estimulação direta do
pâncreas, apesar de ser considerado padrão ouro para estimar a função
pancreática é invasivo, desconfortável, caro e consome tempo, além disso não
possui padronização para crianças (Walkowiak et al., 2005).
O balanço da gordura fecal de 72hs (conhecido como método de Van
de Kamer), é um teste indireto da função pancreática, considerado padrão ouro
para avaliação de esteatorréia. Porém apresenta várias desvantagens desde a
dificuldade para obtenção do material, o armazenamento e a necessidade de
ingestão adequada de gordura, durante os dois dias que antecedem o exame e
os três dias de coleta das fezes (Bahu et al., 2003). Assim uma coleta
inadequada das fezes e/ou um erro na ingestão preconizada de gordura pode
resultar em um resultado equivocado. Outra desvantagem deste teste é não
discriminar a causa da esteatorréia (Leus et al., 2000).
O desenvolvimento de novos testes indiretos tem melhorado abordagem
diagnóstica. Recentemente a Food and Drugs Administration(FDA) aprovou o
uso do ensaio imunoenzimatico monoclonal humano ( ELISA-Enzyme Linked
Immuno Sorbent Assay) para a dosagem da elastase pancreática 1 nas fezes
(Walkowiak, 2000). Este exame é referido como um excelente método para
diagnóstico de insuficiência pancreática, com especificidade variando de 93 a
100% e sensibilidade de 98 a 100% (Borowitz et al., 2004).
A elastase pancreática 1 é uma enzima específica do pâncreas, não
degradada na luz intestinal, com excelente estabilidade na passagem pela luz
intestinal e não influenciada pelo tratamento de reposição enzimática (Dominici
19
et al., 2002). Este teste possui vantagens de ser não invasivo, quantitativo,
reproduzível, fácil de realizar com pequena quantidade de fezes e é útil para
crianças e adultos. Além disso, serve tanto para o diagnóstico como para o
acompanhamento da função pancreática (Littlewood et al., 2006). Entretanto
uma pesquisa com dados do PubMed, Medline, Cochrane, de 1997-2009,
utilizando como palavras chaves: insuficiência pancreática exócrina, elastase1
fecal; elastase1 pancreática; fibrose cística, revelou 44 artigos, sobre o tema,
nenhum de âmbito nacional, Apenas um projeto em desenvolvimento no Rio
Grande do Sul versa sobre o assunto.
Justifica-se avaliar a função pancreática exócrina em todo paciente sem
ou com diagnóstico firmado de FC, pois esta é importante para o prognóstico,
abordagem terapêutica e clínica. Por isso, a dosagem elastase pancreática1
fecal pode ser um instrumento padrão de atendimento a pacientes com FC
(Borowitz et al., 2004).
Diante do exposto este estudo se propôs a determinar a concentração
da Elastase pancreática 1 nas fezes de crianças e adolescentes com FC, para
avaliar as propriedades de teste (sensibilidade, especificidade, valor preditivo
positivo e negativo) no diagnostico correto da insuficiência pancreática ao
comparar com a dosagem de gordura fecal. Além de servir como alternativa
para esclarecer o diagnóstico de casos duvidosos de FC. Uma vez que 85 a
90% dos pacientes com FC tem IP e esta doença é a principal causa de IP na
infância.
O presente estudo encontra-se vinculado ao projeto de pesquisa
Desenvolvimento e Avaliação de Tecnologias de Diagnóstico Clínico e
Molecular da Fibrose Cística – (2007 a 2009), Projeto Pensa Rio, pela
20
plataforma FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro), e receberá apoio financeiro do DECIT/ FINEP/ Ministério da Saúde.
As informações sobre o Kit indicado para o exame foram obtidas por meio
do contato com o Doutor Antônio Fernando Ribeiro, que realiza o teste na
Unicamp.
21
CAPÍTULO I - REFERENCIAL TEÓRICO
1.1: Fibrose Cística:
A primeira descrição anatomo-patológica da FC foi feita no ano de 1905
em um recém-nascido com quadro de íleo meconial, falecido no quinto dia de
vida (Landsteiner apud Reis,1998).
Em 1936, Fanconi descreveu alterações pancreáticas em uma criança
com sintomas pulmonares e intestinais, em cuja necropsia foram encontradas
bronquiectasias e fibrose cística do pâncreas. Nos dois anos seguintes (1938),
Dorothy Andersen publicou um estudo clínico e patológico no American Journal
of Disease of Children reconhecendo a FC pela primeira vez como uma
situação diferente, única, quando estudos de autópsia crianças desnutridas
demonstravam uma doença de entupimento dos ductos glandulares por muco,
e fibrose cística do pâncreas, diferente da doença celíaca (Apud Gaskin 2004).
Em 1946, Farber e Glanzmann criaram o termo Mucoviscidose ao
descreverem que outras secreções do organismo também estavam afetadas.
No ano de 1953, Di Sant`Agnese descobriu que esses pacientes tinham
um alto conteúdo de eletrólitos no suor ao detectar uma desidratação
importante durante um verão muito quente (Apud Gaskin 2004).
Esta doença foi caracterizada por má absorção de gordura e proteína,
esteatorréia, crescimento deficiente e infecção pulmonar. A lesão pancreática e
a conseqüente falta de secreção das enzimas pancreáticas representariam a
causa da falha nutricional, que foi assumida como o fator que conduzia a
vulnerabilidade à infecção pulmonar, muitas vezes o evento terminal (Davis,
2006).
22
No Brasil, a primeira publicação sobre FC foi feita em 1949 por Gesteira,
que revisou os conhecimentos e ressaltou a importância da sua existência em
nosso meio (Apud Reis et al., 1998).
Nas décadas que se seguiram, foram feitas várias publicações, porém
só nos anos 80, novos e importantes conhecimentos contribuíram para a
compreensão da FC. Dentre eles a descoberta do gene responsável, no braço
longo do cromossoma 7, em 1985.
A FC é causada por mutações no gene que codifica uma proteína
reguladora de condutância transmembrana (Cysic Fibrosis Transmembrane
Conductance Regulator /CFTR) que é um complexo macromolecular formado
de várias proteínas. A CFTR funciona como um canal de cloro, regulado pelo
AMPc (Atlas et al., 2006).
O diagnóstico pode ser feito em várias oportunidades:
•
antenatal, quando já houver casos na família (por biópsia de
vilosidade coriônica, seguida de análise genética);
•
no primeiro ano de vida, por manifestações precoces, como íleo
meconial;
•
pela realização da triagem neonatal ou,
•
finalmente, quando há manifestações clínicas da doença
(Santos et al., 2005).
Indivíduos com suspeita de FC são identificados de algumas maneiras,
incluindo triagem antenatal e neonatal, a partir daí, o diagnóstico pode ser feito
por diferentes abordagens, dependendo da idade, genótipo e fenótipo. Esse
diagnóstico é feito atualmente de acordo com os critérios propostos no
Guidelines for Diagnosis of Cystic Fibrosis in Newborns throught Older Adults:
23
consenso de 2008 da Cystic Fibrosis Foundation modificado de Rosenstein e
Cutting publicado em 1998, usando critérios clínicos (anexo:1) e laboratoriais
Teste do Suor, análise genética, função pancreática exócrina, diferença de
potencial nasal) ( Farrel et al., 2008).
A doença pulmonar é a maior causa da morbidade e mortalidade da FC.
O acometimento das vias respiratórias é progressivo e com intensidade
variável, ocorre em cerca de 95% dos pacientes e a sua intensidade determina
o prognóstico final. No curso da doença crônica são comuns
os períodos
de exacerbações, com sinusites, bronquites, pneumonias e bronquiectasias
( Davis, 2006).
O defeito genético da fibrose cística compromete o trato gastrointestinal
de várias formas. A insuficiência pancreática acomete cerca de 85-90% dos
pacientes, resultando na digestão e absorção inadequadas de macro e
micronutrientes, comprometendo o estado nutricional e desencadeando
sintomas como dor abdominal, diarréia, distensão abdominal, desnutrição,
entre outros (Leus et al.,2000).
A doença pulmonar e gastrointestinal são as apresentações clínicas
mais freqüentes da FC, porém outras alterações clínicas significativas são
descritas como o diabetes e infertilidade no sexo masculino (Ratjen et al.,
2003).
1.2: Embriogênese Pancreática :
O pâncreas desenvolve-se a partir dos brotamentos pancreáticos dorsal e
ventral de células endodérmicas que se originam da parte caudal do intestino
24
anterior que, por sua vez, está se desenvolvendo na parte proximal do
duodeno.
O parênquima pancreático é derivado do endoderma, que forma uma rede
de túbulos. No período fetal, os ácinos começam a se desenvolver a partir de
agregados celulares em torno da parte final destes túbulos ou ductos primitivos.
A partir da 9ª semana de gestação, grupos de células endócrinas podem
ser identificadas e pela 12ª semana de gestação, células exócrinas contendo
grânulos secretórios estão evidentes (Moore et al., 1984).
1.3: Anatomia do Pâncreas:
O pâncreas é uma glândula com estrutura lobulada de aproximadamente
2 cm de espessura e 5 cm da borda superior para a inferior (Taylor et al., 2002)
e está localizado no retroperitôneo.
O pâncreas maduro, do ponto de vista morfológico e funcional,
apresenta duas distintas populações de células necessárias para manter o
equilíbrio nutricional: as células endócrinas responsáveis pela produção de
hormônios e as células exócrinas que produzem as enzimas digestivas (Lowe
et al., 2004). Cerca de 2% do pâncreas é tecido endócrino, constando de 4
principais tipos de células, são elas: produtoras de insulina (células βeta),
glucagon (células alfa), somatostatina (células delta) e polipeptídeo
pancreático (células PP) organizadas em ilhotas dispersas por todo o pâncreas
exócrino (Dominici et al., 2002).
A unidade funcional do pâncreas exócrino é o ácino e o correspondente
ducto de drenagem. Os ácinos estão rodeados por tecido conjuntivo
suportando uma rede de capilares e terminações nervosas (Godinho, 2000).
25
O pâncreas exócrino constitui o maior volume da glândula e é responsável
pela produção e secreção de enzimas digestivas e de fluido rico em
bicarbonato. Essas enzimas são suficientes para digestão de nutrientes
alimentares incluindo carboidratos complexos, proteínas e gorduras. Alem
disso assegura um pH ideal (ótimo) para a atividade das enzimas (Lowe et al.,
2004).
No polo apical quer das células acinares quer das ductulares as células
encontram-se
intimamente
aderentes
pelas
chamadas
tight
junctions,
constituindo uma barreira à difusão de moléculas de grande calibre. O contato
célula-célula é determinado pelas adherens-junctions nas paredes basolaterais
e a comunicação intercelular pelas gap-junctions. No polo baso-lateral das
células acinares encontram-se os receptores neuro-humorais da secreção que
se dividem em dois grupos diferentes em função do modo de estimulação. A
secretina e o peptídeo vasoativo intestinal (VIP) atuam através da mediação do
AMPc intracelular; a colecistoquinina (CCK), acetilcolina, bombesina e a
substância P atuam através dos fosfoinositois e do cálcio livre intracelular
(Godinho, 2000).
A secreção ductal é controlada pelo hormônio secretina; entretanto a
eventual concentração de HCO3 no fluido depende tanto da concentração
como da troca de Cloro/HCO3 ao longo da arvore ductal (Taylor et al., 2002).
Por outro lado a secreção enzimática é regulada pela colecistoquininapancreozimina, que é um potente estimulador com pouca ação sobre as células
ductais, porém potencializa o efeito da secretina (Taylor et al., 2002).
Os precursores das enzimas são armazenados dentro de grânulos, os
zimogênios localizados nas porções apicais das células acinares para serem
26
descarregados a partir dessas células por exocitose, após esse estímulo
hormonal (Chang, 1996).
A regulação da secreção pancreática é mediada por uma complexa
interação de vários estimuladores e inibidores gastrointestinais, via hormonal e
neuronal (Tabela 1) (Turkish et al., 2006).
Tabela 1:
Estimuladores e inibidores da secreção pancreática:
ESTIMULADORES
INIBIDORES
Colecistoquinina
Somatostatina
Secretina
Polipeptideo pancreático
Peptídeo intestinal Vasoativo
Peptídeo YY
Peptídeo liberador de gastrina
Neuropeptideo Y
Insulina
Calcitonina
Gastrina
Glucagon
Óxido Nítrico
Serotonina
Serotonin
Encefalina
Substância P
Leptina
Fosfolipase pancreática A2
1.4 :Função Digestiva:
A principal função do pâncreas é produzir enzimas digestivas que são
liberadas no intestino delgado para a hidrólise dos nutrientes complexos. Muito
do nosso entendimento de enzimas digestivas vem de estudos em animais
(Lowe, 2005 & Whitcomb, 2007).
27
Essas enzimas são proteolíticas, lipolíticas e amilolíticas responsáveis,
respectivamente pelo desdobramento em moléculas menores das proteínas,
gorduras e hidratos de carbono contidos na alimentação, para que possam ser
absorvidas pelo epitélio intestinal (Moot e Guarita, 2003).
A
síntese
das
enzimas
ocorre
nos
ribossomas
do
retículo
endoplásmico e são transportadas nas chamadas vesículas de transporte para
o Aparelho de Golgi onde são separadas em diferentes grupos, segundo a sua
função: as enzimas digestivas são armazenadas em grânulos de zimogênios e
as hidrolases lisosómicas em lisosomas (Godinho , 2000).
Os grânulos de zimogênios com essas enzimas inativas se
concentram na porção apical das células acinares e são liberados no ducto
pancreático num fluido alcalino (rico em bicarbonato), ocorrendo a ativação das
enzimas na luz intestinal. A concentração de bicarbonato depende da troca
entre o HCO3- e Cl- determinada pela proteína CFTR (Lowe, 2004).
As proteínas normalmente perfazem cerca de 10% da ingestão
calórica em dietas ocidentais. São de grande importância para um bom
crescimento, desenvolvimento e funções corporais. A variedade e a
complexidade das proteínas dietéticas e o sua função crítica reflete-se na
quantidade de proteases na secreção pancreática (Whitcomb et al., 2007).
Cerca de 80% das enzimas secretadas pelo pâncreas são proteases,
que digerem proteínas em oligopeptídeos, peptídeos e aminoácidos, sendo os
principais grupos: tripsinas, quimiotripsinas, elastases, carboxipeptidases A e B
(Whitcomb et al.,2007).
A elastase é a terceira maior categoria de serina endopeptidase em suco
pancreático. A proelastase pancreática é estruturalmente semelhante ao
28
tripsinogênio e outras proteases. Ela digere peptídeos em alanina, glicina, e
serina. A designação de uma enzima como uma elastase depende da sua
capacidade de digerir elastina, uma proteína extracelular altamente insolúvel
que dá a muitos tecidos propriedades elásticas. (Whitcomb et al., 2007).
A atividade destas enzimas surge quando, uma enzima produzida pelas
células do duodeno, a enteropeptidase, desencadeia uma cascata de reações
para a conversão do tripsinogênio em tripsina, que por sua vez ativa uma série
de outras proenzimas como mostra a Figura 1(Lowe, 2004).
Fig1: Cascata de ativação das enzimas pancreáticas, adaptação e livre
tradução de Lowe (2004).
Vários mecanismos protetores defendem o pâncreas da ação das
enzimas proteolíticas que produz:
•
as enzimas são armazenadas e secretadas na forma inativa;
29
•
isoladas em compartimentos impermeáveis a proteínas e
separados das restantes estruturas celulares;
•
um pH inadequado à maior parte das enzimas;
•
são permanentemente acompanhadas por uma protease que
degrada a tripsina ativada e a própria tripsina pode destruir
outras moléculas de tripsina (Godinho,2000).
Os lipídios são digeridos pelas lípases, fosfolipases, carboxilesterlipase
e colipase (Chang 1996 e Whitcomb 2007).
Os carboidratos, na forma de amido, são hidrolisados pelas amilases
em dextrinas (oligossacarídeos, maltose e maltotriose) e, após, submetidos a
ação das enzimas da borda em escova dos enterócitos, serão absorvidos na
forma de glicose (Chang 1996 e Whitcomb 2007).
1.5: Pâncreas e Fibrose Cística:
A FC é de longe a causa mais comum de IP exócrina na infância. No
pâncreas a proteína CFTR (cystic fibrosis transmembrane conductance
regulator) é encontrada na porção apical na membrana da célula centroacinar e
no epitélio ductal intralobular, o qual é responsável pela secreção do fluido com
alta concentração de bicarbonato de sódio. Normalmente o cloro excretado na
luz é trocado por bicarbonato seguido de água e sódio (Atlas et al., 2006).
Qualquer processo que leve a obstrução crônica de pequenos ductos pode
causar disfunção exócrina (Stormon et al., 2002).
Existem três possíveis mecanismos pelos quais a FC pode levar à
disfunção pancreática. São eles:
•
obstrução dos ductos pancreáticos por tampões,
30
•
inibição da endocitose nas células acinares,
•
desequilíbrio na membrana (lipídeos) das células.
Qualquer uma destas anormalidades isoladamente ou em combinação
poderia explicar o desenvolvimento de insuficiência pancreática exócrina
(Freedman et al., 2000).
Na FC a troca limitada ou ausente de cloro e bicarbonato torna as
secreções com baixa concentração de bicarbonato. Isto resulta em prejuízo na
secreção intraluminal com baixo pH e pouco volume comparada com o normal.
Essas secreções espessas bloqueiam os ductos, causando dilatação com
obstrução ao fluxo do suco digestivo das enzimas. Isto, por sua vez, causa
degeneração das células acinares e posterior fibrose pancreática, prejudicando
a digestão das gorduras, proteínas e amido. A lesão no pâncreas pode
progredir com a idade e muitos pacientes inicialmente SP se tornam IP (Taylor
et al., 2002).
A formação de tampões intraductal parece ser um processo multifatorial.
Este processo pode envolver alterações quantitativas ou qualitativas em
proteínas ou de mucinas. O meio que contém essas moléculas, as alterações
no pH e da concentração de íons, podem influenciar a solubilidade, levando a
precipitação dentro o sistema de dutos. O muco também pode desempenhar
um papel na gênese desses tampões, porque a hipersecreção intraductal de
muco é uma característica proeminente da CF. Acredita-se que a MUCLIN
(glicoproteína sulfatada) e a MUC - 6 possam estar envolvidas na patogênese
de mudanças dentro do pâncreas da CF (Freedman et al., 2000).
Supunha-se que o principal papel da secreção de bicarbonato ductal era
neutralizar o ácido no duodeno. As evidências indicam, no entanto, que o
31
bicarbonato desempenha um papel fundamental dentro do lúmen ductal para
regular dois processos:
1- solubilização de proteínas secretadas para o ducto pancreático;
2- reciclagem na membrana plasmática apical da célula acinar;
Proteínas sintetizadas no retículo endoplasmático das células acinares
são transportados para o complexo de Golgi, onde ocorre a separação de
acordo com o seu grupo. Este processo requer acidificação, resultando em
agregação e condensação de proteínas destinadas aos grânulos de
zimogênios. Na exocitose, o conteúdo do zimogênio no lúmen acinar exige
resolubilização, que presumivelmente é mediada pela alcalinização do meio
regulada pela CFTR. O fato deste processo, ser completamente reversível em
pH 7,5, indica que a acidificação não desnatura a proteína, mas sim próenzimas pancreáticas agregadas em um pH específico, de forma dependente.
Resultados semelhantes foram obtidos por Freedman em 1993, para a
agregação da GP2 (glycosylphosphatidyl inositol-anchored protein) que está
presente em abundância na membrana do grânulo zimogênio. Valores de pH
inferiores a 7,0 resultaram na formação de complexos GP2.
Conclui-se que a alcalinização do ducto pancreático pela secreção de
bicarbonato, pode ser o mecanismo pelo qual, as proteínas secretoras são
dissolvidas. Esse mecanismo poderia explicar a localização do gene CFTR.
Estudos relatados por Freedman(1998) em ácinos de ratos, em meio
tamponado a pH 6,0, simulando as condições encontradas na FC, levou a
precipitação de proteína no lúmen acinar. O aumento do pH do meio para 8,0,
resulta em dissolução destes precipitados. Esses resultados sugerem que a
alcalinização do lúmen acinar é necessária para a resolubilização das proteínas
32
secretadas. O bloqueio da secreção de bicarbonato ductal que ocorre na FC
seria esperado resultar em ductos cheios de proteínas precipitadas.
Após exocitose, a membrana do grânulo de zimogênio é inserida na
membrana plasmática apical, postula-se que esta permaneça como um
pequeno canal lipídico. Esta membrana é então seletivamente recuperada para
a célula através de um processo conhecido como endocitose para reutilização
na via secretora regulada (Freedman et al., 2000).
Para elucidar esses mecanismos envolvidos, um modelo utilizando ácinos
de rato foi desenvolvido. Na primeira etapa, os ácinos são estimulados com
colecistocinina para maximizar exocitose. Esta situação provoca a dilatação do
lúmen acinar como resultado dessa intensa exocitose e com isso ocorre
inserção da membrana do grânulo zimogênio a uma taxa superior a
recuperação da membrana dentro da célula, resultando em um aumento global
da área de superfície da membrana. Na segunda etapa, o hormônio é
removido, os ácinos, são então incubados e avaliados em diferentes valores de
pH. Em condições de pH alcalino (pH 8,3), a endocitose foi ativada, resultando
em contração do lúmen acinar. Sob condições de pH ácido (pH 6,0),
semelhante ao pH do pâncreas na FC, resultou em persistente dilatação do
lúmen acinar, e a segmentação mínima de GP2 (glycosylphosphatidyl inositolanchored protein) da superfície da célula apical. Esta situação sugere que a
dilatação do lúmen acinar, semelhante a observada em patientes com FC e em
camundongos CFTR-1, não necessariamente é devido exclusivamente à
obstrução por tampões mas pode resultar de um bloqueio na endocitose na
membrana plasmática apical (Freedman et al., 2000).
33
A deficiência de ácidos graxos essenciais é bem descrita em pacientes
com
FC,
mesmo
na
ausência
de
deficiências
nutricionais.
Ácido
docosahexaenóico é reconhecidamente importante na regulação da fluidez e
do trânsito da membrana celular, bem como para a regulação na incorporação
do ácido araquidônico. Mutações na CFTR podem produzir bloqueio na
biossíntese de ácido docosahexaenóico, que leva a um aumento secundário de
n-6 (ácido araquidônico) e N-9 (ácido eicosatrienóico). A diminuição do ácido
docosahexaenóico em conjunto com a elevação do ácido araquidônico, podem
potencialmente explicar a hipersecreção de mucina, alterações na endocitose e
a inflamação observados na FC. Os estudos estão em andamento para
determinar o mecanismo pelo que as mutações no CFTR levam a essa
anormalidade lipídica da membrana. Anormalidades na concentração de ácido
araquidônico e do ácido docosahexaenóico podem explicar as alterações no
função da membrana celular, tais como o trânsito, endocitose, a regulação de
bombas ou canais e modulação da inflamação. Ainda estão em curso estudos
para determinar a relação entre estes processos e a disfunção pancreática
(Freedman et al., 2000)
A lesão no pâncreas que se inicia intra-útero, foi confirmada em estudo
anátomo-patológico pelo acúmulo de material protéico dentro de pequenos
ductos pancreáticos (Stormon et al., 2002).
Cerca de 40% dos pacientes nascem com a função pancreática
preservada, entretanto, mais da metade destes pacientes desenvolvem lesão
pancreática importante nos primeiros meses de vida e cerca de 85 a 90%
apresentarão IP no final do primeiro ano de vida (Littlewood et al., 2006).
34
Inicialmente, a porção endócrina da glândula é relativamente
preservada, mas com o avanço da idade, a perda de ilhotas pancreáticas vai
ocorrer em pacientes com IP. Sintomas clínicos de diabetes mellitus ou
evidência bioquímica de intolerância à glicose podem estar presentes em um
terço dos adolescentes ou adultos com FC (Durie, 2000).
1.6 Causas de Insuficiência Pancreática:
O pâncreas exócrino é funcionalmente imaturo ao nascimento. A função
da protease provavelmente é adequada, porém nos primeiros três a seis meses
de vida pós-natal, lactentes saudáveis podem ter uma esteatorréia fisiológica
devido à deficiência de secreção de acido biliar e lípase que corresponde a 510% dos valores nos adultos (Stormon et al., 2002).
A isoamilase pancreática se encontra em valores desprezíveis ao
nascimento e somente atinge seus valores normais em torno de dois a três
anos de idade (Stormon et al., 2002).
Nos primeiros meses de vida pode ser observada uma má absorção
fisiológica de gordura (Leus et al., 2000). Em neonatos a média do coeficiente
de absorção de gordura (CAG) é de aproximadamente 85% que aumenta com
a idade. O percentual do CAG mede a eficácia da absorção de gordura por
meio da equação:
Gordura ingerida(g) – gordura perdida nas fezes(g)
x100
Gordura ingerida
De acordo com o CAG, o paciente é considerado como suficiente
pancreático se, com até seis meses de vida apresentar perda menor de 15%,
35
de seis a 12 meses com perda menor de 10% e naqueles maiores de 1 ano a
perda for até 7% de gordura ingerida (Bronstein et al., 1992).
O pâncreas exócrino tem uma grande capacidade de reserva funcional.
Este achado foi primeiramente demonstrado em adultos nos estudos clássicos
de DiMagno et al (1973), que mostraram que a má digestão pancreática não
ocorreu até que a secreção de enzimas pancreáticas diminui-se para menos de
10% dos valores controle. Usando ensaios de enzima mais sensíveis, foi
demonstrado que aproximadamente 98% a 99% da capacidade de secreção da
enzima deve ser perdida antes da clínica de má absorção se tornar evidente
(Durie, 2000).
O termo IP é usado para definir os pacientes que tenham perda da
função exócrina, a ponto de ser incapaz de digerir e assimilar nutrientes
normalmente. Por conclusão, os sintomas da IP vão se desenvolver, quando
mais de 98% da reserva pancreática estiver perdida.
O termo SP, descreve pacientes com evidência de disfunção
pancreática, mas em quem a reserva pancreática continua acima do limiar para
o desenvolvimento de má-digestão (Durie, 2000).
A disfunção pancreática exócrina ocorre em um número de doenças que
incluem: anomalias congênitas, alterações herdadas e pancreatites, agudas ou
crônicas. As principais causas de insuficiência pancreática exócrina em
crianças estão listadas na tabela 2 (Walkowiak et al., 2005):
36
Tabela2: Principais causas de insuficiência pancreática exócrina em crianças
Anormalidades anatômicas
Agenesia do pâncreas
Hipoplasia do pâncreas
Doenças com herança genética
Fibrose cística
Síndrome de Swachman-Diamond
Síndrome de Johanson-Blizzard
Síndrome de Pearson
Pancreatites hereditárias
Deficiências enzimáticas isoladas
( lipase e colipase)
Pancreatites
Idiopática
Traumática
Viral
Induzida por drogas
Nutricional
Auto-imune
Insuficiência Secundária a outras
Ressecção Pancreática
Doença celíaca e outras causas de
atrofia vilositária
Desnutrição
Colangite Esclerosante primária
Síndrome de Allagile
Diabetes
Deficiência de Enteroquinase
doenças
Doenças Neoplasícas
1.7: Métodos diagnósticos da Insuficiência Pancreática:
Os critérios adotados para um teste ser considerado ideal na avaliação
da função pancreática são: ser de baixo custo, fácil realização, não invasivo,
específicos para doença pancreática e capaz de excluir pacientes com outras
37
alterações digestivas devido à doença da mucosa do intestino delgado e
defeitos do transporte de gorduras ou colestase.
Além disso, deve definir o exato grau da função pancreática em
indivíduos com SP e nos quais a perda da função exócrina é presente, mas a
absorção do nutriente não é afetada. O teste também deve ser, reproduzível
entre os laboratórios, capaz de monitorizar a função exócrina longitudinalmente
e não sofrer interferência da suplementação com as enzimas pancreáticas.
(Huynh et al., 2000).
Os testes utilizados para avaliação da função pancreática podem ser
divididos nas seguintes categorias (Lankisch, 1982):
1. Testes diretos
São aqueles em que a secreção de HCO3 e enzimas pancreáticas são
medidas no suco pancreático ou duodenal após estimulação hormonal do
pâncreas.
Um exemplo deste tipo é o teste da secretina-colecistoquinina,
considerado padrão ouro para confirmação da IP, porque tem alta sensibilidade
e especificidade. Porém raramente é utilizado na prática clínica, principalmente
na pediátrica por ser de execução mais laboriosa e exigir a passagem de uma
sonda naso-enteral no paciente e administração de medicação endovenosa,
além de não estar bem padronizado em crianças (Walkowiak et al., 2005).
2. Testes indiretos:
São simples, não invasivos, mais rápidos e menos dispendiosos do que
testes diretos, daí a grande vantagem da sua utilização na clínica pediátrica.
Dentre eles podemos citar:
38
•
Dosagem de enzimas pancreáticas no sangue (amilase, lipase,
elastase-1 , isoamilase , tripsinogênio ) ou nas fezes ( quimiotripsina, elastase1, lipase ).
• Avaliação da absorção de marcadores que se conjugam após sua
hidrolise por ação de enzimas pancreáticas e posteriormente são detectados
na urina ou no soro (teste do Pancreolauril e teste de Bentiromida (BT-PABA)).
• Análise nas fezes de componentes alimentares não digeridos e não
absorvidos (excreção fecal de gordura de 72hs, expresso como coeficiente de
absorção de gordura) ou análise de produtos de oxidação das gorduras por
testes respiratórios.
A coleta de fezes durante 72 h para dosagem de gordura (titulação de
Van de Kamer), continua a ser o padrão-ouro para a quantificação de
esteatorréia. No entanto, ela possui muitos inconvenientes, incluindo a sua
inespecificidade para doenças pancreáticas (Borowitz et al., 2004). Por isso
pode ser positiva em outras doenças como: supercrescimento bacteriano,
doenças hepatobiliares, síndrome do intestino curto e, doenças da mucosa do
intestino delgado, como a doença celíaca e doença de Crohn (Lieb et al.,
2008).
Mesmo sendo o teste mais comumente utilizado, a dosagem de gordura
fecal, é imprecisa principalmente quando realizada à nível ambulatorial, devido
a diversas razões:
•
o período de coleta das fezes é de três dias, podendo em alguns casos
chegar a cinco dias,
•
há necessidade de uma dieta especial durante a coleta do material. Uma
dieta
supervisionada
prescrita
com
no
mínimo
3g/Kg/dia
(50g
39
geralmente para criança) de gordura, atingindo um máximo de 100g
ingerida por dia para cada paciente adulto (Weintraub et al., 2009).
Essas recomendações diminuem a aderência ao teste pela dificuldade
que, as crianças e os familiares têm em juntar todas as fezes e de informar
sobre a quantidade de gordura ingerida. Além de ser de difícil coleta em
crianças pequenas que fazem uso de fraldas (Leus et al., 2000).
Essas dificuldades com certeza vão interferir no resultado do exame
(Huynh et al., 2000).
Cabe ressaltar que naqueles pacientes que ingerem grande quantidade
de triglicerídeos de cadeia media o método utilizado para avaliar a gordura
fecal deve ser o de Jeejeebhoy (Apud Beharry et al 2002).
Esses testes podem ser usados com dois propósitos:
1- detecção da insuficiência pancreática exócrina, avaliação da lesão do
órgão;
2- follow-up da digestão das gorduras durante a terapia de reposição
enzimática em pacientes com FC.
A freqüência da IP varia e pode declinar com a idade. Portanto é
necessário realizar testes regularmente para adaptar a quantidade de enzimas
sistematicamente (Walkowiak et al., 2005).
Outros métodos mais simples, apesar de pouco precisos, podem ser
utilizados para triagem ou acompanhamento clínico, como a pesquisa da
gordura fecal pelo Sudam III e o esteatócrito.
O Sudam III tem a vantagem de ser muito simples de ser realizado, a
técnica consiste em visualizar gotículas de gordura no microscópio óptico,
porém não tem uma positividade estatística significativa para o diagnóstico de
40
esteatorréia (Bahú et al., 2003). Além disso, geralmente detecta somente a
esteatorréia de 25g/dia ou mais (Lieb et al., 2008). Um resultado maior que seis
gotículas de gordura por campo de alta potência é indicativo de esteatorréia.
O esteatócrito utiliza apenas uma amostra de fezes é realizado num
tubo
de
hematócrito
e,
segue
o
seguinte
princípio,
as
fezes
são
homogeneizadas e centrifugadas a 15.000 rpm por 15 minutos , a porção
lipídica se separa, observando-se a formação de três camadas: uma fase
sólida inferior (S), uma fase líquida intermediária (L) e uma fase superior (G)
que constitui a gordura presente nas fezes. São medidas as alturas das fases
G e S e calculado o esteatócrito pela fórmula G/(G+S) x 100. Sua sensibilidade
pode melhorar com a adição do ácido perclórico. Ele pode ser útil no
acompanhamento da resposta a suplementação com as enzimas pancreáticas
(Couper et al., 2004).
A quimotripsina fecal é outro exame que pode ser utilizado para
avaliação da função pancreática. A tripsina é a principal protease secretada
pelo pâncreas, no entanto, sofre degradação no intestino delgado distal.
Portanto, não é um bom marcador fecal para a avaliação da produção de
enzimas. Este teste é alterado pela suplementação de enzima pancreática
exógena (Lieb et al., 2008).
Por outro lado, a interferência de enzimas exógenas cria a
possibilidade de verificar a adesão ao tratamento de suplementação enzimática
recomendado.
Assim, a suplementação de enzimas pancreáticas deve ser
parada pelo menos durante três dias antes do teste (Walkowiak et al., 2005).
Como em todos os exames de dosagem de protease nas fezes, a
diarréia aquosa, aguda ou decorrente a síndrome do intestino curto, podem dar
41
resultados falso-positivos (baixa quimotripsina fecal), diluindo a amostra (Lieb
et al., 2008).
Outro teste indireto é dosagem da elastase pancreática que foi descrita
pela primeira vez em 1950 por Balo e Banga (Daftary et al., 2006). Ela é uma
protease humana específica, sintetizada pelas células acinares do pâncreas
junto com outras enzimas digestivas, e é composta de 240 aminoácidos com
peso molecular de 26 KDa.
A designação de uma enzima como uma elastase depende da sua
capacidade de digerir a elastina, uma proteína extracelular altamente insolúvel
dando a muitos tecidos suas propriedades elásticas (Whitcomb et al., 2007).
Devido a essa sua especificidade única, está envolvida na patogênese do
enfisema, arteriosclerose e envelhecimento (Dominici et al., 2002).
A medida da Elastase1 Fecal é considerada de fácil realização e
sensível para classificar os pacientes com FC com IP ou com SP (Borowitz et
al., 2004). Pode ser usada para rastreamento da função pancreática nos
pacientes com FC a partir duas semanas de vida porque desta idade a elastase
fecal alcança níveis do adulto (Nissler et al., 2001).
A sua concentração é determinada pela reação de anticorpos
monoclonais específicos contra a elastase pancreática humana. O princípio da
análise é baseado no método ELISA onde a placa é revestida com anticorpo
monoclonal o qual apenas reconhece especificamente a Elastase 1
Pancreática Humana (E1). Sua concentração é determinada fotometricamente
(Leus et al., 2000)
A Elastase 1 pancreática é determinada dentro de uma faixa de valor
que vai de 15 a 500 μg E1/g de fezes. Os resultados com concentrações de <
42
100 μg /g, 100-200 μg /g, e de > 200 μg /g são considerados como insuficiência
pancreática grave, leve e função pancreática normal, respectivamente. Para a
sua execução é necessário apenas uma única amostra de fezes com cerca de
0,1g. Essas amostras se mantém estáveis e podem ser estocadas em
laboratório por mais de três dias a 4° – 8°C ou por um ano a -20°C (Leus et
al., 2000).
A Elastase 1 pancreática
é uma enzima proteolítica produzida
exclusivamente pelo pâncreas. Quando passa pelo intestino se mantém estável
com elevada concentração nas fezes se compararmos com a concentração do
suco duodenal (Borowitz, 2006).
A sua determinação está relacionada com pancreatite crônica, FC,
câncer de pâncreas, Diabetes Mellitus tipo I (insulinodependente), Síndrome de
S. Diamond e outras patologias relacionadas à Insuficiência Pancreática
(Garcia et al., 2002).
Este ensaio imunoenzimático tem duas importantes vantagens: a
elastase-1 é altamente estável ao longo do trato digestório resistindo a
considerável degradação proteolítica deste meio e a reação imunoenzimática
determina especificamente a elastase-1 humana, assim promovendo uma
avaliação da função pancreática, sem necessidade da suspensão da reposição
enzimática (Katschinski et al., 1997).
Uma importante limitação do teste é a incapacidade de distinguir a IP
exócrina primária da secundária à lesão da vilosidade intestinal (Walkowiak,
2001).
O resultado deve ser avaliado criteriosamente nos casos de fezes
diarréicas (intestino curto) na qual é influenciada pela diluição, e na presença
43
de inflamação intestinal ou enteropatia (doença celíaca) (Daftary et al. ,2006).
Em adultos baixas concentrações de EF1 podem ser observadas associadas a
outras condições como: pós-gastrectomias, cirrose hepática e doença de Crohn
(Beharry et al., 2002).
Apesar da sensibilidade do teste nos casos de IP severa ser de 100%, pode
ser encontrada dificuldade na interpretação dos resultados com concentrações
na faixa de IP leve (100 a 200µg/g). Por isso recomenda-se a repetição do
teste (Walkowiak et al., 2005). Segundo Walkowiak (2005), deve ser seguido o
algoritmo descrito abaixo para avaliação da função exócrina.
Suspeita de insuficiência pancreática exócrina
(realizar teste de elastase1 fecal)
Concentração de EF1 anormal?*
Não
Sim
Reanalisar a suspeita.
Urgência no diagnóstico?
Não
Observar EF1
Anualmente
ou quando
necessário
Sim
Referência
ao centro
especializado
IP altamente provável
(EF1< 100µg/g)
Suplementação Enzimática?
Dosagem de gordura fecal
*Em casos de valores borderline sugerido repetir dosagem em três amostras
diferentes.
Figura2:Adaptação e livre tradução de Walkowiak (2005)
o
44
1.8 Manifestações Clínicas da Insuficiência Pancreática:
O defeito genético da fibrose cística compromete o trato gastrintestinal
de várias maneiras. A IP compromete cerca de 85% dos pacientes com FC,
65% ao nascimento e 20% tornam-se rapidamente insuficientes durante os
primeiros meses ou anos de vida (Couper et al., 2002).
O diagnostico de IP é suspeitado com base na clinica. Os sintomas
incluem: íleo meconial neonatal, esteatorréia (Meyts et al., 2002). Sendo a
esteatorréia o critério clínico mais freqüentemente utilizado.
A má absorção de gordura resulta em distensão abdominal, com saída
de fezes pálidas, volumosas, gordurosas de difícil limpeza, ganho ponderal
insuficiente ou failure to thrive (falência de desenvolvimento) em crianças
pequenas (Taylor et al., 2002).
Com base na mutação do gene que codifica a proteína CFTR, o
fenótipo da doença varia em gravidade. A mutação mais comum é a supressão
de fenilalanina na posição 508 (ΔF508) (Lee et al., 2008).
Com a secreção pobre em fluidos e HCO3-, as pró-enzimas retidas
nos ductos pancreáticos são prematuramente ativadas, levando a destruição
tecidual e fibrose. A má-absorção resultante contribui para o fracasso em
satisfazer a elevada demanda energética causada pelo estado hipermetabólico
associado às infecções brônquicas (Ratjen e Doring, 2003).
A IP exócrina resulta em má digestão de gordura e proteína com
aumento
das
perdas
fecais.
Desnutrição
com
hipoalbuminemia,
edema e anemia, é uma complicação grave que ocorre com mais freqüência
entre 3 e 4 meses de idade (Durie, 2000).
45
A má absorção de vitaminas lipossolúveis também faz parte do quadro
clínico da IP exócrina. São quatro as vitaminas lipossolúveis: A, D, E e K, que
são absorvidas no trato gastrointestinal juntamente com as gorduras da dieta.
O organismo não é capaz de sintetizá-las ou sintetiza em quantidades
insuficientes (Roncada, 1998).
A vitamina A desempenha papel essencial na visão, desenvolvimento
e manutenção do tecido epitelial, processo imunológico e reprodução normal,
sendo necessária para o crescimento e desenvolvimento do esqueleto, partes
moles e células epiteliais formadoras do esmalte dentário (Mejia e Arroyave,
1991).
Autores como Wood et al (2001) e Homnick et al(1993) sugerem que a
deficiência de vitamina A é comumente encontrada em pacientes com FC e
pode ter causas multifatoriais. Durante a fase de intercorrência infecciosa, a
concentração de vitamina A plasmática está reduzida, sendo assim além da má
absorção, conta-se com o consumo elevado durante o estresse inflamatório
das exacerbações.
A deficiência de vitamina D em crianças se manifesta como raquitismo,
doença
associada
com
malformação
de
ossos
devido
à
deficiente
mineralização da matriz orgânica. Entre as manifestações gerais da deficiência
desta vitamina, ainda, podem-se citar irritabilidade, sudorese, palidez e retardo
de crescimento (Hollick, 1989). A sua deficiência é rara na FC. No entanto, a
deficiência subclínica pode contribuir para a doença óssea, que é relativamente
comum.
A vitamina D é responsável pela homeostase do cálcio, aumentando a
absorção intestinal de cálcio e estimulando a mineralização óssea. Baixas
46
concentrações aumentam a produção de hormônio da paratireóide, que
estimula a reabsorção óssea, que por conseguinte, contribui para a
osteoporose (Wolfe et al., 2006). A pouca aderência ao tratamento e a ingestão
inadequada podem explicar a diminuição da massa óssea, mesmo naqueles
suplementados com vitamina D e cálcio (Botton et al., 2003). A carência de
vitamina D também é muito freqüente nas inflamações respiratórias crônicas
principalmente quando associada a condições de baixa exposição solar e
desnutrição (Borowitz et al., 2002).
Uma das principais funções da vitamina E é a proteção que confere às
membranas celulares contra a destruição oxidativa. Por isto, desempenha
importante função na imunocompetência e reparação de membranas. A sua
deficiência leva à anemia hemolítica, degeneração neuromuscular, assim como
déficit cognitivo e alteração na retina (Borowitz et al., 2002).
A vitamina K é essencial para a síntese de protrombina, que é
elemento fundamental na formação do coágulo sanguíneo. Também age como
cofator na carboxilação, estando envolvida na formação da osteocalcina que
age no metabolismo ósseo (Wolfe et al., 2006). A deficiência subclínica pode
influenciar no quadro de osteopenia e osteoporose dos pacientes com FC.
1.9: Tratamento de reposição:
1.9.1 Enzimas:
O tratamento com reposição enzimática é a única terapia disponível e
deve ser iniciado logo que a IP seja diagnosticada. As enzimas mais utilizadas
são cápsulas de microesferas de origem suína. Embora essas microesferas de
liberação entérica facilitem a liberação de enzimas no intestino delgado, ainda
há problemas com a miscibilidade das microesferas com o alimento e
47
dissolução subótima das esferas no meio relativamente ácido (Couper et al.,
2002). Estas enzimas dissolvem-se bem num pH de 5,5 a 6,0. As enzimas são
administradas em todas as refeições incluindo fórmulas hidrolisadas, leite
materno e nas frutas com alto teor de gordura, como abacate e açaí (Borowitz
et al., 2002).
Preconiza-se uma dose inicial de 500 a 1.500 UI de lípase/kg/ refeição
Se a dose chega a exceder 2500 UI/Kg/por refeição, justifica-se realizar uma
investigação de outras condições gastrointestinais que podem estar associadas
à FC, tais como intolerância à lactose, parasitose (especialmente giardíase),
supercrescimento bacteriano, doença celíaca, doença de Crohn, colestase e
doença biliar (Borowitz et al., 1995).
No caso de lactentes ou crianças que não consigam ingerir a cápsula
inteira, recomenda-se abri-las e oferta-las à criança com leite materno, fórmula
infantil ou preferencialmente, suco ou papa de fruta ácida. Sempre oferecê-las
na colher e numa única dose, não misturando no total da comida (Borowitz et
al., 1995).
Os grânulos não devem ser amassados, o que resultaria na perda da
sua proteção entérica e diminuição da sua atividade. A ativação das enzimas
na mucosa oral (grânulos previamente amassados ou mastigados) pode
desencadear lesões locais, com desenvolvimento de ulcerações.
A monitorização da terapia de reposição enzimática deverá ser feita
regularmente em consultas periódicas (mensais no primeiro ano de vida e
após, a cada 3-6 meses), observando-se o controle dos sintomas, o
crescimento e ganho ponderal, e a perda de gordura fecal (Kerem et al., 2005).
48
Enzimas pancreáticas são rapidamente degradadas pelo suco gástrico e
funcionam melhor em meio alcalino. A lípase e colipase necessitam de ácido
biliar para a digestão de gordura e formação de micelas. Uma diminuição do
bicarbonato em combinação com a alta acidez gástrica comum no paciente
com FC pode levar o duodeno e jejuno proximal a permanecerem ácidos,
impedindo a dissolução da cápsula e ação da enzima, esses fatores podem
limitar a eficácia da suplementação das enzimas pancreáticas (Couper et al.,
2002). Isso pode ser tratado com a administração de inibidores da secreção
gastrica, como inibidores da bomba de prótons e antagonistas H2, que
reduzem a acidez gástrica e aumentam o pH do duodeno (Borowitz et al.,
2002).
Vários tipos de enzimas são disponíveis comercialmente, com
apresentações em pó, comprimidos e cápsulas com microesferas, nas
seguintes doses: 4500 UI, 10000 UI, 12000 UI, 18000 UI e em altas doses
20000 e 25000 UI de lípase, sendo o tipo prescrito dependente de alguns
fatores como disponibilidade local e idade do paciente.
A eficácia da terapia de reposição com as enzimas depende de muitos
fatores, como o tipo de enzima, dose, esvaziamento gástrico, conteúdo de
gordura da dieta, modo e tempo de administração e armazenamento da enzima
(Litlewood et al., 2006).
Os efeitos colaterais da terapia enzimática são raros, sendo o mais
temido a colonopatia fibrosante, que está associado com doses maiores que
6000 UI lípase /Kg por refeição por mais de 6 meses, e deve ser considerada
em pacientes que apresentem evidência clínica de obstrução, dor abdominal
49
com diarréia persistente, por vezes com sangue e pouco ganho de peso
(Borowitz et al., 1995).
1.9.2: Vitaminas Lipossolúveis:
O Consenso Americano sobre Nutrição do paciente com fibrose cística
recomenda a monitoração anual das vitaminas A e E. A suplementação de
vitaminas segue as seguintes recomendações do Consenso de Nutrição de
pacientes pediátricos com FC conforme descrito na Tabela3 (Borowitz et al.,
2002).
A suplementação de zinco deve ser efetuada nos pacientes com níveis
subótimos de vitamina A ou com cegueira noturna, que não respondem à
suplementação de vitamina A, sendo recomendada também para crianças com
falência de crescimento, durante um período de seis meses.
Tabela 3 Suplementação de vitamina de acordo com o Consenso de Nutrição
de pacientes pediátricos com FC
IDADE
0a 12 meses
1 a 3anos
4 a 8anos
> 8 anos
VIT A(UI)
1.500
5.000
5.000 a 10.000
10.000
VIT D(UI)
VIT E(UI)
VIT K(mg)
400
400 a 800
400 a 800
400 a 800
40 a 50
80 a 150
100 a 200
200 a 400
0,3 a 0,5
0,3 a 0,5
0,3 a 0,5
0,3 a 0,5
50
CAPÍTULO II - OBJETIVOS
2.1- OBJETIVO GERAL:
Avaliar a presença de Insuficiência Pancreática pelo método de dosagem de
Elastase1 fecal nos pacientes com Fibrose Cística acompanhados no IFF.
2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
•
Apresentar a prevalência de IP diagnosticada pela Elastase1 fecal.
•
Associar o diagnóstico de IP pela Elastase1 fecal com o exame de
Dosagem de Gordura Fecal.
•
Auxiliar no diagnóstico de FC
51
CAPÍTULO III – MÉTODO:
3.1-Tipo de estudo:
Trata-se de um estudo do tipo transversal descritivo.
Essa pesquisa foi realizada no Instituto Fernandes Figueira (IFF) da Fundação
Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Ministério da Saúde, Centro de Referência para o
tratamento de crianças e adolescentes com Fibrose Cística.
3.2- População de estudo:
O estudo foi realizado em pacientes de ambos os sexos, com idades de
1m a 21 anos, com diagnóstico de FC de acordo com consenso da Cystic
Fibrosis Foundation (2008) e naqueles em investigação diagnóstica
acompanhados nos ambulatórios de Pneumologia, Fisioterapia e Nutrição do
IFF.
3.3- Critérios de seleção:
3.3.1- de inclusão:
Possuir diagnóstico ou suspeita (em investigação) de Fibrose Cística,
estar na faixa de idade de 1m a 21 anos e
ter realizado a dosagem de
elastase fecal .
3.3.2- de exclusão:
Pacientes com fezes aquosas permanentemente (ostomizados, com
exceção dos gastrostomizados), diarréia aguda e outras patologias associadas
como doença celíaca, HIV e doença inflamatória intestinal.
3.4- Coleta de dados:
A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora no período de junho a
dezembro 2009. A pesquisadora utilizou dados retrospectivos, e solicitou a
colaboração dos profissionais especializados de cada Setor de Atendimento
52
com o objetivo de complementar dados insuficientes, e interagir com as
equipes multiprofissionais que tem contato direto com todos os pacientes.
Alguns dados foram obtidos do Prontuário Médico da rotina de atendimentos
dos Ambulatórios de Nutrição e Pneumologia para as seguintes variáveis:
•
Identificação do paciente: número do prontuário; idade; sexo;
•
Teste do Suor,
•
Sintomas relacionados à IP.
Essas informações foram anotadas em uma planilha.
3.5- Dosagem de gordura fecal:
A dosagem de gordura fecal foi pedida para todos os pacientes do
estudo pela equipe médica do ambulatório de Nutrição. Sendo agendada,
recebida pelo Laboratório de Patologia clínica e encaminhadas ao laboratório
DLE. O método de escolha utilizado foi o de Van de Kamer. Os pacientes que
utilizavam enzimas de reposição foram orientados a suspendê-las durante a
coleta de fezes de 72hs e submetidos a uma dieta de 3g /kg/dia, máximo de
100g/dia durante a coleta.
3.6- Dosagem da Elastase1 Fecal:
A Elastase 1 fecal foi determinada imunologicamente com um ensaio
imunoenzimático (Schebo-Tech, Wettenberg, Alemanha). A medida foi
realizada de acordo com as orientações do fabricante. A construção da curva
padrão foi adequada com um R²=0,97, o que indica precisão da curva
(figura:3). Para cada um dos pacientes a EF1 foi determinada em duplicata. Os
resultados foram expressos em µg de elastase-1 por grama de fezes. A
densidade ótica (DO) utilizada foi de 415-490 nm. Valores abaixo de 200µg/g
53
de fezes foram considerados anormais. O controle de qualidade do exame foi
realizado com 10 crianças saudáveis, dentro da mesma faixa etária.
Curva Padrão de E1
y = 0,0038x + 0,3153
2
R = 0,974
DO 415-490 nm
2,5
2
1,5
1
0,5
0
0
100
200
300
400
500
600
E1 pg/mL
curva padrao
Regressao
Figura 3: Curva padrão construída a partir da solução padrão fornecida pelo Kit
Schebo-Tech Elastase Pancreática 1 em fezes.
A dosagem foi solicitada em todos os pacientes com diagnóstico e
suspeita de FC acompanhados nos ambulatórios de Pneumologia e Nutrição
do IFF. A solicitação foi feita pela equipe médica do ambulatório de Nutrição.
As amostras foram recebidas no próprio ambulatório e encaminhadas ao
laboratório de Patologia clínica onde foram armazenadas em freezer a
temperatura de -20°C e posteriormente processadas pela pesquisadora (E1
Quick Prep). O princípio da análise é baseado no método ELISA.
Foram fornecidos 03(três) frascos coletores, secos para coleta de
material (fezes), etiquetados com o nome e número de prontuário da criança. O
responsável foi orientado em relação a coleta do material. Na devolução, o
nome, número de prontuário e data de entrega foram anotados em livro
54
pautado, em seguida levados pela pesquisadora ao Laboratório de Patologia
clínica. O material foi acondicionado em uma caixa plástica identificada com o
nome da pesquisadora, departamento que ela pertence e nome do projeto. O
procedimento para o correto processamento do material foi feito inicialmente
com o descongelamento do material à temperatura ambiente, por cerca de 45
minutos. Após esse procedimento foi realizada a extração com dispositivo E1
QUICK-PREP (indicado para utilização em conjunto com o Kit SCHEBO
ELASTASE PANCREÁTICA 1 EM FEZES).
O Procedimento Operacional Padrão (POP) para a realização do exame
foi elaborado pela pesquisadora (Apêndice1).
3.7- Análise Estatística:
3.7.1-As análises estatísticas foram feitas utilizando o teste Quiquadrado (variáveis categóricas). Utilizou-se o teste “t”-student para as
variáveis com distribuição normal, e testes não-paramétricos para variáveis que
não apresentaram distribuição normal.
O ponto de corte para o valor de
significância dos testes estatísticos foi o p-valor ≤ 0,05. Sensibilidade,
especificidade e valor preditivo positivo e negativo foram avaliados comparando
a concentração de E1 fecal no grupo com FC com a gordura fecal de 72 hs
(considerada como padrão ouro).
3.7.2-O Banco de Dados foi construído no programa Microsoft Excel e as
análises estatísticas foram realizadas no programa Epi Info 2000 (CDC).
55
CAPÍTULO IV - RESULTADOS:
Dos 120 pacientes acompanhados no IFF, 72 forneceram amostra para
a realização de dosagem da elastase 1 fecal. Sendo que 12 são pacientes em
investigação diagnóstica e 60 possuem critérios para diagnostico de FC, de
acordo com o consenso da Cystic Fibrosis Foundation (2008).
Na amostra dos 72 pacientes estudados, 34 (47,2%) eram do sexo
feminino e 38 (52,8%) do masculino. A idade variou de quatro meses a 20,5
anos com mediana de nove e média de 8,7(± 4,8) anos.
Os 72 pacientes foram divididos em dois grupos: grupo A (60
pacientes), com diagnostico confirmado de FC( 29 do sexo feminino, 31do sexo
masculino). O diagnóstico foi baseado nos sinais e sintomas clínicos e no Teste
do Suor. O grupo B de 12 pacientes(5 do sexo feminino e 7 do sexo masculino)
que corresponde aquelas crianças em investigação diagnóstica das formas
atípicas, com teste do suor negativo ou duvidoso.
As 10 crianças saudáveis que realizaram a dosagem da Elastase 1 fecal
para controle de qualidade do exame tinham de 7,9 (±3,5)anos de idade,
mediana de 8,35 anos com variação de 1,4 anos a 14,5 anos. Todas
apresentaram SP com concentração de EF1 acima do valor referido como
normal (>200µg/g) com média de 450,7µg/g (DP±45,7).
controle
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Elastase1
447,8
452,8
475,6
447,4
476,4
326,6
464,8
452,4
484
479,4
Os sintomas de má absorção devido à IP com evidente esteatorréia (fezes
volumosas, malformadas, oleosas e fétidas) foram referidos por 58 pacientes
(80,6%). A suplementação enzimática foi realizada por 60 pacientes (83,3%)
56
sendo que a freqüência do uso de enzima foi de 90% (54 pacientes) no grupo A
e 50% (6 pacientes) no grupo B (Tabela4).
Tabela 4. Características gerais das crianças e adolescentes que participaram
do estudo de dosagem de EF1 com diagnóstico e suspeita de FC
acompanhados no IFF em 2009.
Grupo A
Grupo B
Total
Pacientes n(%)
60(83,3)
12(16,7)
72
Sexo Feminino
29
5
34
Sexo Masculino
31
7
38
Idade em anos
Média(DP)
IP n(%)
8,7(±4,9)
8,2(±4,7)
8,7(±4,8)
44(73,3)
1(8,3)
45
SP n(%)
16(26,7)
11(91,7)
27
Presença de
sintomas n(%)
50(83,3)
8(66,7)
58
Reposição
Enzimas n(%)
54(90)
6(50)
60
51(85)
8(13,3)
0
3(25)
51
11
34(87,1)
5(12,9)
39
Teste do Suor
>60mEq/L
40-60mEq/L
n(%)
GF positiva
n(%)
IP= Insuficiência Pancreática
SP=Suficiência Pancreática
GF=Gordura Fecal
A dosagem da Elastase 1 fecal apresentou valores abaixo de 200 µg / g
de fezes em 45 dos 72 pacientes estudados (62,5%). Sendo 44(73,3%) do
grupo A e 1(8,3%) do grupo B.
57
A classificação da função pancreática de acordo com os valores
encontrados da dosagem de EF1 fecal foi: 61,11% dos pacientes com IP
severa, 1,39% com IP moderada e 37,50% com SP (Tabela5).
Tabela 5. Valores de EF1 encontrados nos pacientes com diagnóstico e
suspeita de FC acompanhados no IFF em 2009
EF1µg/g
n
%
<15(indetectável)
42
58,33
15-100
2
2,78
100-≤200
1
1,39
>200-500
15
20,84
>500
12
16,66
EF1= Elastase1 fecal
A prevalência de IP em relação ao gênero observada em 51,1% no sexo
feminino
e
em
48,9%
no
masculino
não
demonstrou
diferença
estatisticamente significante (p=0,2).
Ao agruparmos os pacientes pela concentração de elastase 1 fecal em
SP e IP a diferença de proporção entre o grupo de pacientes com diagnóstico
(A) e suspeitos de FC (B) foi altamente significativa (p<0,001) e está descrita
na Tabela 6.
58
Tabela 6. A classificação da função pancreática pela dosagem da EF1 nos 2
grupos de pacientes com diagnóstico e suspeita de FC acompanhados no IFF
em 2009
EF1µg/g
Grupos
Grupo A
n(%)
Grupo B
n(%)
≤200µg/g(IP)
44(73,3)
1(8,3)
45
>200µg/g(SP)
16(26,7)
11(91,7)
37
60
12
72
total
TOTAL
EF1= Elastase1 fecal IP= Insuficiência Pancreática SP=Suficiência Pancreática
No grupo A nove pacientes apresentaram concentração de Elastase1
fecal acima de 500 µg/g. Somente três apresentam concentrações entre 15µg/g
e 200µg/g, o restante da amostra do grupo, 41 pacientes (68,3%),
apresentaram concentrações indetectáveis (<15µg/g) (Tabela 7).
Tabela 7. A distribuição da concentração da EF1 nos 2 grupos de pacientes
com diagnóstico e suspeita de FC acompanhados no IFF em 2009
EF1µg/g
Grupos
Grupo A
n(%)
Grupo B
n(%)
41(68,3 )
1(8,3 )
42
15-≤200 µg/g
3(5,0 )
0
3
200-≤500µg/g
7(11,7 )
8(66,7 )
15
9(15 )
3(25 )
12
60
12
72
<15 µg/g
>500 µg/g
total
EF1= Elastase1 fecal
TOTAL
59
A associação do uso da reposição da enzima pancreática, com a função
pancreática determinada pela dosagem da elastase1 fecal, demonstra que das
60 crianças que usavam enzimas 16 (26,7%) não apresentaram IP. Dentre os
12 pacientes sem reposição enzimática um apresentou IP. O teste da diferença
das proporções foi significativo
(p=0,001) de acordo com o teste do
Quiquadrado (Tabela8)
Tabela 8. A associação da concentração da EF1 com o uso de enzimas em
pacientes com diagnóstico e suspeita de FC acompanhados no IFF em 2009
EF1µg/g
Enzimas
Sim n(%)
Não n(%)
≤200 µg/g
44(73,3)
1(8,3)
45
>200 µg/g
16(26,7)
11(91,7)
37
60
12
72
total
TOTAL
EF1= Elastase1 fecal
Em relação a sintomatologia, dos 58 pacientes que apresentavam
evidencia clinica de esteatorréia, sugestiva de IP, a concentração de EF1
obteve resultados baixos em 41 (70,7%), demonstrando importante associação
entre os dois (valor de p=0,003). No grupo A sintomatologia esteve presente
em 50 (83,3%) pacientes, dos quais 41 (93,2%) foram classificados em IP pela
dosagem de EF1 e desses, 38 (92,7%) apresentavam níveis indetectáveis de
Elastase1 nas fezes (p=0,0011)(Tabela9).
60
Tabela 9. A associação da classificação da função pancreática pela dosagem
da EF1 com a sintomatologia de ma absorção em pacientes com diagnóstico e
suspeita de FC acompanhados no IFF em 2009
EF1µg/g
Sintomas
Presentes(n)
Ausentes(n)
TOTAL
IP
41
4
45
SP
17
10
27
total
58
14
72
IP= Insuficiência Pancreática SP=Suficiência Pancreática EF1= Elastase1 fecal
No grupo A, a dosagem de gordura fecal pelo método Van der Kamer, não
foi realizada por 14 pacientes por dificuldade de agendamento e coleta, duas
crianças realizaram o exame pelo método Sudam III, e no grupo B dois
pacientes não realizaram o exame.
Com relação a sintomatologia, dos 46 pacientes que apresentavam queixa
de má absorção a dosagem de gordura fecal foi positiva em 35(76%). A
associação entre essas duas variáveis demonstrou haver significância
estatística (p=0,019) (Tabela10).
61
Tabela10. Distribuição da gordura fecal em associação com a sintomatologia
em pacientes com diagnostico e suspeita de FC acompanhados no IFF em
2009
Sintomas
Gordura Fecal
Positiva
n(%)
Negativa
n(%)
Presentes
35(76)
11(24)
46
Ausentes
4(40)
6(60)
10
39
17
56
total
TOTAL
p =0,034(Teste Exato de Fisher)
A associação da classificação da função pancreática pela dosagem da
elastase 1 fecal com
pacientes com
a dosagem da gordura fecal mostrou que dos 39
esteatorréia
31 (79,5%) apresentaram IP e oito (20,5%)
pacientes com esteatorréia apresentaram SP pela dosagem da elastase1 fecal
(Tabela11). A associação foi significativa (p=0,0002).
62
Tabela 11. A associação da classificação da função pancreática pela dosagem
da EF1 com o valor da gordura fecal em pacientes com diagnóstico e suspeita
de FC acompanhados no IFF em 2009
Elastase1fecal
Gordura Fecal
Positiva
n(%)
Negativa
n(%)
IP
31(79,5)
5(29,4)
36
SP
8(20,5)
12(70,6)
20
39
17
56
total
IP= Insuficiência Pancreática
TOTAL
SP=Suficiência Pancreática P<0,00000
No grupo A 34 pacientes (73,9%) e no grupo B 5 pacientes (50%)
possuíam gordura fecal positiva (Tabela12). O resultado não foi significativo
(p=0,08).
Tabela 12. Distribuição da gordura fecal em pacientes com diagnóstico e
suspeita de FC acompanhados no IFF em 2009
Grupo
de
Gordura Fecal
pacientes
Positiva
n(%)
Negativa
n(%)
Grupo A
34(73,9)
12(26,1)
46
Grupo B
5(50)
5(50)
10
39
17
56
total
p=0,08
TOTAL
63
O resultado da sensibilidade foi calculado utilizando como “padrão ouro”
o teste de dosagem de gordura fecal de 72hs, e realizado somente nos
pacientes do grupo A, com o diagnóstico confirmado de FC (Tabela 13).
Tabela 13: teste de sensibilidade
TESTE
Gordura Fecal(“padrão ouro”)
EF1µg/g
Positiva(n)
Negativa(n)
TOTAL
Positivo(<200)
30
5
35
Negativo(>200
4
7
11
total
34
12
46
Sensibilidade, especificidade e valores preditivos positivo e negativo dos
valores de dosagem da gordura fecal de 72hs foi de 88%, 58,3%, 85,7%,
63,6% respectivamente.
64
CAPÍTULO V- DISCUSSÃO:
A função pancreática possui uma grande influencia sobre o prognóstico da
FC. A presença de IP requer um tratamento vitalício com reposição de enzimas
pancreáticas exógenas. Por isso, a avaliação da função pancreática exócrina
no paciente com FC é obrigatória no momento do diagnóstico e ao longo do
acompanhamento dos pacientes SP.
Segundo Beharry et al. (2002) um teste “ideal” de avaliação da função
pancreática não deve ser invasivo, ser quantitativo, reprodutível e de fácil
realização. Um teste deste tipo é um desafio principalmente para a população
pediátrica.
Neste estudo realizou-se a dosagem de Elastase1 pancreática nas fezes
de 72 pacientes acompanhados no ambulatório de Pneumologia, Nutrição e
Fisioterapia Respiratória.
Como cerca de 85 a 90% dos pacientes com FC tem IP e sendo esta
doença a principal causa de IP na infância, um teste que avalie a função
pancreática serve como alternativa para esclarecer o diagnóstico de casos
duvidosos de FC.
Uma vez que, apesar do Teste de suor ser uma ferramenta muito boa
para diagnóstico de fibrose cística na maioria dos pacientes, um pequeno
grupo que apresenta teste do suor normal ou com resultados limítrofes, porém
com sinais e sintomas fortemente sugestivos podem exigir outros testes que
auxiliem no diagnóstico.
Por isso estudamos 12 pacientes em investigação diagnostica para FC.
Entretanto só obtivemos o teste da elastase 1 fecal positivo em um paciente
deste grupo. Isso pode ter ocorrido porque nem sempre o failure to thrive tem
65
origem na IP ou porque esses pacientes apresentem um genótipo que não
curse com IP ou desenvolvam mais tardiamente ou não apresentem FC.
No estudo de Walkowiak (2003) foi observado o desenvolvimento
progressivo do IP em cinco crianças com o aumento da idade (follow-up de 2
anos). Nesses pacientes, repetidas medições da concentração de EF1 levantou
a suspeita inicial de possível esteatorréia. Este autor concordou que a EF1 é
uma ferramenta útil para avaliação longitudinal de pacientes com SP e no
momento do diagnóstico da FC. Segundo ele o desenvolvimento tardio de IP
nos pacientes SP, pode ser mais comum do que geralmente se supõe. A
diminuição da concentração de EF1 precede o aparecimento de esteatorréia.
No nosso estudo, 45 crianças apresentaram baixas concentrações de
Elastase 1 fecal (<200µg/g) que correspondeu a 62,5% da amostra total.
Entretanto se considerarmos só o grupo (A) com diagnóstico firmado de FC
esta prevalência vai para 73,3%. Mesmo assim, este resultado difere do
encontrado na literatura, em que aproximadamente 85% dos pacientes com FC
apresentam IP (Stormon & Durie, 2002).
Possíveis causas para essa divergência pode ser pelo pequeno número
de pacientes estudados e porque segundo Zielenski (2006) a intensidade das
manifestações pancreáticas é determinada pela mutação genética de base
(relação genótipo – fenótipo pancreático). Sendo assim, a maioria dos
pacientes DF508 homozigotos apresenta IP, enquanto os heterozigotos com
mutação parcial ou leve podem apresentar função pancreática residual e são
classificados como SP. Entretanto como não foi realizada a analise genética da
população estudada não se pode atribuir este resultado ao tipo genético.
66
Apesar da incerteza quanto ao valor normal da elastase-1 fecal, se
acima de 100 ou 200µg/g de fezes, o ponto de corte utilizado para definição de
IP foi de 200µg de elastase1 por grama de fezes, de acordo com as
orientações do Kit utilizado (Schebo-Tech, Wettenberg, Alemanha). Além disso
Weintraub et al (2009), realizaram um estudo comparando os dois valores e
não encontrou diferença estatisticamente significante entre eles
Observou-se que 61,11% dos pacientes apresentou IP severa, ou seja,
com EF1 <100µg/g de fezes e 1,39% insuficiência pancreática moderada (EF1
entre 100 e 200 µg/g de fezes). Dados obtidos em um grande estudo
transversal (1215 pacientes) nos Estados Unidos realizado em 33 centros de
FC por Borowitz (2004), também encontrou maior prevalência (87%) de
pacientes com EF1 <100µg/g e apenas 1,5% dos casos com EF1 entre 100 e
200 µg/g de fezes. Isto mostra que a maioria dos pacientes com FC
apresentam IP grave.
A reposição enzimática foi realizada por 60 dos pacientes estudados,
sendo que 16 (26,7%) destes foram classificados em SP pela dosagem de EF1
e 1 (8,3%) paciente que não usava enzima apresentou IP com concentração de
EF1 indetectável. Estes resultados também foram demonstrados no estudo
descrito por Borowitz (2004), em que 24 (2,2%) de 1074 pacientes com EF1
inferior a 200µg/g de fezes não tinham sido medicados com enzimas
pancreáticas e 81 (57,8%) de 141 pacientes com EF1 maior de 200 µg/g
receberam enzimas. Borowitz (2004), também constatou que, apenas 15% de
um grande grupo de pacientes com FC na população dos Estados Unidos
realizaram qualquer teste da função pancreática (5,5% gordura fecal; 0,3%
teste de estimulação do pâncreas; 0,4% tripsinogênio imunoreativo (IRT); 8,7%
67
outros testes não especificados). Estes resultados demonstram que na maioria
dos casos, a reposição de enzima é prescrita com base na impressão clínica
tanto de má absorção como failure to thrive. Nos casos diagnóstico
subestimado, há piora do prognóstico da doença por deteriorar o estado
nutricional, mineralização óssea e consequentemente a função pulmonar. Nos
casos em uso indevido da reposição enzimática onera os cofres públicos. Estes
dados também mostram a falta padronização de um teste para o diagnostico
laboratorial preciso da IP. A terapia de reposição enzimática, embora sem
dúvida essencial para aqueles que são classificados em IP, tem efeito
psicossocial, principalmente em adolescentes. No nosso estudo, somente três
adolescentes não faziam uso de enzimas, todos três classificados como SP
pela concentração de EF1.
Outro fator de erro na avaliação clinica dos sintomas da IP, se deve ao
fato de que a consulta pediátrica apresenta características próprias, a história é
obtida através das informações do cuidador, os sintomas geralmente são
subjetivos e por se tratar de uma doença com manifestações multissistêmicas
pode haver superposição de sinais e sintomas.
Por outro lado, quando associou-se apenas os sintomas de má absorção
devido a IP com a concentração de EF1, observou-se que dos 58 pacientes
com queixas de IP, 41 (70,7%) foram classificados como insuficientes
pancreáticos. Isto mostra a importância do diagnóstico clínico, de avaliações
repetidas da função pancreática exócrina, para tratar a má digestão e otimizar
o estado nutricional. A associação se mostrou significativa. No estudo de Meyts
et al (2002) a categorização baseada nos sintomas de má absorção em
68
conjunto com o teste de excreção de gordura nas fezes implicou que o grupo
com IP clinica clássica, compreende os pacientes com IP severa.
Com relação à gordura fecal não ter sido realizada por 14 pacientes já
era esperado devido a dificuldade para a coleta do material, durante 72 horas,
armazenamento e a necessidade de ingestão adequada de gordura, durante os
dois dias que antecedem o exame e os três dias de coleta das fezes. Estas
recomendações diminuem a aderência ao teste pela dificuldade que, as
crianças e os familiares têm em juntar todas as fezes.
Quando comparada a dosagem de Elastase1 nas fezes dos pacientes
que realizaram a coleta de gordura fecal, esta foi positiva em 31 (86,1%) dos
36 pacientes considerados insuficientes pancreáticos. A associação entre a
função pancreático e a esteatorréia é grande. O fato de oito pacientes (20,5%)
considerados suficientes pancreáticos pela concentração da EF1 apresentarem
gordura fecal positiva, pode ser devido ao fato que, a esteatorréia,
especialmente em pacientes com FC, ser influenciada por outros fatores, como
distúrbios
da
motilidade
gastrointestinal,
diminuição
da
secreção
de
bicarbonato com acidez duodenal posterior, inativação de enzimas do pâncreas
por baixo pH e perda de sais biliares, supercrescimento bacteriano, além da
própria insuficiência pancreática. Beharry et al (2002), examinou dois grupos de
pacientes: um deles com esteatorréia documentada de etiologia variada, e
encontrou uma sensibilidade para o teste de 98% e uma especificidade de
80%.
Um fato que não se pode desconsiderar é que o exame de gordura
fecal não se baseou no coeficiente de absorção de gordura e sim no resultado
do exame de Van der Kamer desta forma podemos ter exames duvidosos uma
69
vez que o valor normal de excreção de gordura fecal varia dependendo da
idade do paciente.
Neste estudo encontrou-se a sensibilidade da E1F de 88%,a
especificidade de 58,3%, e os valores preditivos positivo e negativo de 85,7% e
63,6% respectivamente. A sensibilidade foi semelhante a encontrada por
Terbrack et al (1995) em pacientes com FC (89,5%). Mas diferente do
encontrado por Amir et al 2009 que encontraram usando um ponto de corte de
200µg/g, a sensibilidade foi 40%, a especificidade 81%, valor preditivo positivo
de 40%, e valor preditivo negativo de 81%. Entretanto usando um corte de
100µg/g, estes mesmos autores encontraram a sensibilidade da EF1 foi de
94%, a especificidade foi de 20%, valor preditivo positivo 50%, e valor preditivo
negativo 79%. Em nosso estudo não houve diferença estatisticamente
significante nos dois pontos de corte que justificasse que o menor o ponto de
corte produzisse maior sensibilidade.
O resultado do presente estudo demonstrou que a E1F é um teste muito
sensível, com capacidade de detectar a doença quando ela está presente, com
bom valor preditivo positivo, mas com especificidade limitada. Ele serve para
screening, muda a decisão clinica e possui efeito no desfecho (tratamento da
IP com melhor prognóstico da FC) e desta forma melhora a sobrevida dos que
fizerem o exame. Todavia tem que se ficar atento, pois o teste, tem suas
limitações:não reflete a resposta ao tratamento enzimático; na presença de
diarréia , pode dar falso positivo; não distingue entre IP primária ou secundária;
resultados boderline devem ser interpretados com cautela.
Outro fato é que os resultados deste estudo foram comparados com a
gordura fecal que não é o padrão ouro (teste de estimulação direta do pâncreas
70
pela secretina) para diagnostico de IP em pacientes com FC. Por isso foi
semelhante na sensibilidade, mas diferente na especificidade do estudo de
Walkowiak (1999), em pacientes de FC, comparando com o “padrão ouro”
utilizando-se um ponto de corte de 200 µg/g revelou uma sensibilidade de
89,3% e uma especificidade de 96,4%.
Uma variedade de estudos analisaram a sensibilidade e especificidade
da EF1, segundo uma revisão realizada por Lankisch (2004). Mas a
comparação dos resultados é difícil e devem ser interpretados com cuidado,
avaliando se a população estudada incluiu somente indivíduos com fibrose
cística ou incluídos indivíduos com outras doenças.
A limitação deste estudo foi o pequeno número de pacientes e a falta de
estudos semelhantes na literatura (44 artigos com utilização das palavras
chaves: insuficiência pancreática exócrina; elastase1fecal; fibrose cística) que
comparem os resultados da dosagem da elastase1 fecal em pacientes com
fibrose cística com a estimativa da gordura fecal, que não é o padrão ouro, mas
o teste que realizamos no serviço para avaliação da função pancreática. Por
isso, esses resultados precisam ser confirmados em um estudo com um
número maior de pacientes com fibrose cística.
71
CAPÍTULO VI- CONCLUSÕES
A prevalência de IP em pacientes com FC foi alta (73,3%), porém menor
que a encontrada na literatura. No grupo em investigação diagnostica, não
auxiliou no diagnóstico de FC, porque provavelmente como é um grupo que não
preenche os critérios, ou eles são formas atípicas da doença, ou apresentam
mutações leves (devido à heterogeneidade da nossa população) associadas com
a função pancreática normal, ou não apresentam FC.
A dosagem da elastase1 fecal, como um novo método atualmente
disponível mostrou-se uma ferramenta útil para o screening da função
pancreática
de
pacientes
com
FC
devido
a
sua
boa
sensibilidade,
reprodutibilidade, facilidade de coleta da amostra e simplicidade de execução da
dosagem numa pequena quantidade de fezes. Desta forma a medida da elastase
1 fecal cumpre os requisitos de um marcador quase ideal para avaliação da
função pancreática exócrina, principalmente nos casos de IP severa, porém
ainda pouco utilizado em nosso meio.
A prevalência de pacientes com esteatorréia e concentração de EF1
diminuída foi de aproximadamente 80%. A dosagem da gordura fecal não
apresentou boa aderência, cerca de 23% dos pacientes não realizaram a coleta,
sendo um exame de difícil
execução, devido ao preparo, técnica,
inconvenientes de coleta e armazenamento de fezes. Além disso, seu resultado
pode ser incorreto porque nos pacientes com FC outros fatores que não o
comprometimento pancreático podem levar a esteatorréia, Entretanto durante o
seguimento dos pacientes com FC e IP, há necessidade de uma cuidadosa
monitorização da assimilação de gorduras e a resposta ao tratamento enzimático
e neste caso a dosagem da gordura fecal é a indicada.
72
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APÊNDICES
Apêndice1: Planilha para coleta de dados
Nome:
Prontuário:
D.N:
Idade:
Raça:
Sexo:
Peso:
Cl:
Idade Diag:
Teste do Suor:
sintomas relacionados a IP.
Gordura Fecal:
1ª GF:
Enzima: □ Sim □Não
Data:
Última GF:
Enzima: □ Sim □ Não
Data:
Elastase 1 Fecal:
Valor:
Data:
Valor:
Data:
Na:
81
Apêndice 2: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Você está sendo convidado para participar da pesquisa Avaliação da
Insuficiência Pancreática Exócrina pela medida da Elastase1 Fecal em
pacientes com Fibrose Cística acompanhados em um Centro de
Referência.
O objetivo deste estudo é avaliar a presença da insuficiência pancreática
exócrina pelo exame de medida da Elastase1 fecal.
Sua participação nesta pesquisa consistirá em: coletar uma amostra de fezes
para dosagem de Elastase 1 fecal e amostra de 03 dias para dosagem de
gordura fecal de 72 horas com a suspensão da reposição enzimática durante
esta coleta com dieta adequada prescrita pela nutricionista.
As informações obtidas através dessa pesquisa poderão ser publicadas em
meios de divulgação científica, porém sem a identificação dos participantes
reveladas, sendo informações confidenciais com o sigilo assegurado.
Não haverá pagamento pela colaboração ao projeto.
O Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) encontra-se ciente e a disposição para
eventuais esclarecimentos no telefone:2554-1730 e fax:2552-8491.
______________________________________
Nome e assinatura do pesquisador
82
Pelo presente instrumento, declaro que fui suficientemente esclarecido (a) pelo
(a) médico (a) (____________________) sobre os procedimentos (suspensão
da reposição enzimática por três dias para realização da coleta de gordura
fecal de 72 hs e coleta de uma amostra de fezes para dosagem de Elastase 1
fecal), a que vou me submeter, ou a que vai ser submetido (______________),
do qual sou responsável legal.
Declaro também que fui informado (a) de todos os cuidados e orientações
(suspensão das enzimas e administração de gordura na dieta durante a coleta,
armazenamento das amostras) que devo seguir a fim de alcançar o melhor
resultado. Estou ciente que a realização do exame proposto não causará
nenhum agravo a saúde de (______________). Pelo presente também
manifesto expressamente minha concordância e meu consentimento para
realização do procedimento acima descrito.
Local e data
____________________________________________
Nome e assinatura do paciente (ou representante legal)
____________________
Documento de Identidade
______________________________
Testemunha
______________________________
Testemunha
83
Apêndice3:Procedimento Operacional Padrão
PROCEDIMENTO
OPERACIONAL PADRÃO
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POP – 01
Projeto: Avaliação da Insuficiência Pancreática Exócrina pela medida da
Elastase1 Fecal em pacientes com Fibrose Cística acompanhados em
um Centro de Referência.
Índice de
Revisões
Revisã Itens
o
Revisados
Elaborado
Nome
Data
Amélia
17/09/0
Raquel
9
Neves de
Noronha
Aprovado
Vist
o
Nome
Data
Visto
Célia
Regina
Chaves
1 - OBJETIVO:
Captar pacientes com Fibrose Cística atendidos no Ambulatório de Nutrição,
Pneumologia e Fisioterapia do Instituto Fernandes Figueira(IFF).
2- DEFINIÇÕES:
Fibrose cística (FC) é uma doença genética, de caráter autossômico recessivo,
causada por mutações em um gene, responsável pela codificação de uma proteína
denominada:cystic fibrosis transmembrane condutance regulator (CFTR).
3- DESCRIÇÃO:
3.1- ROTINA DE TRABALHO:
3.1.1- Captação dos pacientes elegíveis:
a- Todos pacientes com diagnóstico de Fibrose Cística acompanhados no IFF
agendados pelo ambulatório de Pneumologia de acordo com a sua colonização
bacteriana são encaminhados para o Ambulatório de Nutrição (2ª e 5ª feiras pela
manhã e 4ª feira à tarde) para consulta, avaliação nutricional e orientação
alimentar.
b- Serão incluídos todos os pacientes que possuem diagnóstico de Fibrose Cística, e
estejam na faixa de idade de 1m a 18 anos e excluídos os Pacientes com fezes
aquosas permanentemente (ostomizados), com quadro de diarréia aguda e outras
patologias associadas como doença celíaca, HIV e doença inflamatória intestinal
84
c- Todas consultas são realizadas por duas médicas Pediatras uma Nutróloga e em
Gastroenterologista. Os pacientes são atendidos após a consulta médica, por uma
nutricionista da equipe.
d- Na consulta é preenchido uma folha de dados, com nome, número de prontuário,
data de nascimento, sintomas relacionados a insuficiência pancreática exócrina e
resultados de exames de gordura fecal realizados . (apêndice1)
e- Após a consulta os responsáveis e o paciente no caso de adolescentes são
esclarecidos sobre o projeto e convidados a participar dele. Aqueles que
aceitarem, assinam o termo de consentimento livre e esclarecido
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PROCEDIMENTO
OPERACIONAL PADRÃO
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POP – 02
Projeto: Avaliação da Insuficiência Pancreática Exócrina pela medida da
Elastase1 Fecal em pacientes com Fibrose Cística acompanhados em
um Centro de Referência.
Índice de Revisões
Revisã Itens Revisados
o
Elaborado
Nome
Data
Visto
Aprovado
Nome Data
Visto
1 - OBJETIVO:
Orientar a coleta do material para determinar a concentração de Elastase1 nas fezes
de crianças e adolescentes com FC.
2- DEFINIÇÕES:
Elastase1 pancreática é uma enzima proteolítica produzida exclusivamente pelas
células acinares do pâncreas. A medida da Elastase1 Fecal é considerada de fácil
realização e de alta sensibilidade para classificar os pacientes portadores de FC com
Insuficiência ou Suficiência Pancreática, com a vantagem de ser um teste não
invasivo, importante para o prognóstico, abordagem terapêutica e clínica.
3- DESCRIÇÃO:
3.1- ROTINA DE TRABALHO:
São fornecidos 03(três)frascos coletores, secos para coleta de material (fezes),
etiquetados com o nome e número de prontuário da criança. O responsável é
orientado a coletar uma amostra de fezes da seguinte forma:
1- O paciente deve evacuar em recipiente limpo e seco
2-Uma amostra pequena dessas fezes formadas recém emitidas é coletada
3- Uma pequena quantidade(cerca de 100mg) deve ser distribuída em cada
um dos três frascos.
4-As fezes não podem ser misturadas com urina ou água
5- Conservar os frascos com as fezes refrigerados até a entrega
6-Essas amostras podem ser estocadas por um ano a -20°
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PROCEDIMENTO
OPERACIONAL PADRÃO
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POP – 03
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Elastase1 Fecal em pacientes com Fibrose Cística acompanhados em
um Centro de Referência.
Índice de Revisões
Revisã Itens Revisados
o
Elaborado
Nome
Data
Visto
Aprovado
Nome Data
Visto
1 - OBJETIVO:
Receber o material e envia-lo para congelamento.
2- DEFINIÇÕES:
Os três frascos coletores com a amostra simples de fezes, devidamente identificados
com nome e número do prontuário.
3- DESCRIÇÃO:
3.1- ROTINA DE TRABALHO:
a- Os responsáveis pelos pacientes entregam o material para a pesquisadora
responsável pelo projeto, ou para o secretário do ambulatório de Nutrição.
b- A pessoa que recebe o material (fezes em frasco coletor com tampa) deve checar
se este está devidamente identificado com nome e número de prontuário, e anotar em
livro pautado, que se encontra no ambulatório de Nutrição: a data do recebimento e
numerá-lo pela ordem de entrega.
c- Os frascos são acondicionados imediatamente em caixa de isopor e em seguida
levados pela pesquisadora ao Laboratório de Patologia clínica para estocagem e
congelamento a -20°C.
d- No freezer, os frascos são acondicionados em uma caixa plástica identificada com o
nome da pesquisadora, departamento que ela pertence e nome do projeto.
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PROCEDIMENTO
OPERACIONAL PADRÃO
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POP – 4
Revisão no: 02
Projeto: Avaliação da Insuficiência Pancreática Exócrina pela medida
da Elastase1 Fecal em pacientes com Fibrose Cística acompanhados
em um Centro de Referência.
Índice de Revisões
Revisã Itens Revisados
o
Elaborado
Nome
Data
Visto
Aprovado
Nome Data
Visto
1 – OBJETIVO:
Descongelar o material congelado a -20°C.
2- DEFINIÇÕES:
O processo de descongelamento é aquele que devolve as fezes ao seu estado
normal(anterior)
3- DESCRIÇÃO:
3.1- ROTINA DE TRABALHO:
3.1.1- Descongelar as fezes à temperatura ambiente
a- O ambiente específico utilizado para o descongelamento e processamento
de
material humano deve obrigatoriamente possuir janelas e ser arejado.
c- As fezes são colocadas sobre uma bancada do laboratório e deixadas a
temperatura ambiente por um período de aproximadamente 45 minutos.
d- As fezes se encontram adequadas para processamento quando estiverem
totalmente descongeladas.
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PROCEDIMENTO
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da Elastase1 Fecal em pacientes com Fibrose Cística acompanhados
em um Centro de Referência.
Índice de Revisões
Revisã Itens Revisados
o
Elaborado
Nome
Data
Visto
Aprovado
Nome Data
Visto
1 – OBJETIVO:
Identificação do dispositivo E1 QUICK-PREP(indicado para utilização em conjunto
com o KIT SCHEBO ELASTASE PANCREÁTICA 1 EM FEZES)
2- DEFINIÇÕES:
Definir as etapas de identificação de cada dispositivo
3- DESCRIÇÃO:
3.1- ROTINA DE TRABALHO:
a- Os dispositivos devem ser
identificados com o mesmo número dos frascos
entregues por cada paciente.
b- Os dispositivos são distribuídos na bancada por ordem numeral crescente.
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PROCEDIMENTO
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Revisão no: 02
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Índice de Revisões
Elaborado
Aprovado
Revisã Itens Revisados
o
Nome
Data
Visto
Nome Data
Visto
1 – OBJETIVO: Processamento das fezes
2- DEFINIÇÕES:
Definir as etapas do procedimento para o correto processamento do material
3- DESCRIÇÃO:
3.1- ROTINA DE TRABALHO:
3.1.1- Passo a passo do E1 QUICK-PREP
a- Gire somente a tampa dosadora amarela em sentido anti-horário.
b- Remova a tampa amarela puxando para cima.
c- Insira a ponta da tampa amarela na amostra a uma profundidade de 1 cm (todos
os entalhes devem ser preenchidos com as fezes)
d- Remova da amostra.
e- Insira a tampa dentro do tubo até o fim do cone azul e feche o tubo girando a
tampa até travar.
f-
Agite o tubo.
g- Extraia por 10 minutos.
h- Misture novamente.
i-
Gire o cone azul em sentido anti-horário, então puxe-o para cima até ouvir o
estalido de abertura.
j-
Remova o cone azul com a tampa acoplada do tubo
k- Após decantação das partículas, dilua a amostra extraída em 1:70 (10 µL de
amostra extraída + 700 µl de tampão de lavagem).
l-
Essas amostras podem ser armazenadas no laboratório por até 1 ano a -20°C.
90
PROCEDIMENTO
OPERACIONAL PADRÃO
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Revisão no: 02
Projeto: Avaliação da Insuficiência Pancreática Exócrina pela medida
da Elastase1 Fecal em pacientes com Fibrose Cística acompanhados
em um Centro de Referência
Índice de Revisões
Elaborado
Aprovado
Revisã Itens Revisados
o
Nome
Data
Visto
Nome Data
Visto
1 – OBJETIVO: Preparo da leitura pelo Método ELISA
2- DEFINIÇÕES:
O kit (SCHEBO ELASTASE PANCREÁTICA1) é indicado para determinação
quantitativa dos níveis de elastase pancreática 1 em fezes.
3- DESCRIÇÃO:
3.1- ROTINA DE TRABALHO:
3.1.1Procedimentos para leitura de ELISA:
1- Pipete 50 μL de cada amostra diluída dentro do poço correspondente em duplicata,
e controle.
2- Incube por 30 minutos em temperatura ambiente.
3- Lavagem: Deve ser realizado 3 ciclos de 250 μL/poço).
4- Adicione 50 μL/poço de conjugado.
5- Incube por 15 minutos no escuro, em temperatura ambiente.
5- Lavagem
6- Adicione 100 μLde solução de substrato em cada poço.
7- Incube por 15 minutos no escuro a temperatura ambiente.
8- Adicionar 100 μL de solução de parada e agite suavemente para misturar os
reagentes.
9- Leia a densidade óptica a 405 nm ou em leitora de placas entre 5 e até 30 minutos
após a adição da solução de parada.
91
ANEXOS
Anexo1:Consenso para o diagnóstico de Fibrose Cística :
Características compatíveis com diagnóstico de FC:
1.
Doença pulmonar ou sinusal crônica, manifestada por:
a. colonização/infecção persistente por germes típicos da FC, incluindo
Staphylococcus aureus, Haemophilus influenza não classificado,
Pseudomonas aeruginosa mucóide e não mucóide , Stenotrophomonas
maltophilia Burkhoderia cepacia.
b. tosse crônica e produtiva.
c.anormalidades persistentes na radiografia de tórax (ex.
bronquiectasias, atelectasias, infiltrados e hiperinsuflação).
d. obstrução de vias aéreas, manifestada por chiado
e. pólipos nasais; radiografia ou tomografia computadorizada de seios
paranasais.
f. baqueteamento digital.
2.
Anormalidades nutricionais e gastrointestinais, incluindo:
a. Intestinal: íleo meconial, síndrome de obstrução intestinal distal,
prolapso retal.
b. Pancreática: insuficiência pancreática, pancreatite aguda recorrente,
pancreatite crônica, pâncreas com imagem anormal.
c. Hepática: icterícia neonatal prolongada, doença hepática crônica com
evidencias clinicas ou histológicas de cirrose biliar focal ou cirrose
multilobular.
d. Nutricional: failure to thrive (desnutrição protéico-calórica),
hipoproteinemia e edema, complicações secundárias a deficiência de
vitaminas lipossolúveis.
3.
Síndromes de perda de sal: depleção aguda de sal, alcalose metabólica
crônica.
4.
Anormalidades genitais no sexo masculino, resultando em azoospermia
obstrutiva.
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Anexo2: Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS
Instituto Fernandes Figueira
FIOCRUZ
Título do Projeto de Pesquisa:
Avaliação da insuficiência pancreática exócrina pela medida da elastase1 fecal
em pacientes com fibrose cística acompanhados em um centro de referência.
CAEE: 0049.0.008.000-09
Folha de Rosto: 269332
Registro no CEPIFF: 0049/09
Aprovado em: 15/07/2009
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