Tolerância e satisfação alimentar de pacientes submetidos à

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Artigo Original
Campanella LCA et al.
Tolerância e satisfação alimentar de pacientes
submetidos à cirurgia bariátrica tipo mini-gastric
bypass em diferentes períodos de pós-operatório
Tolerance and food satisfaction of patients undergoing bariatric surgery mini-gastric bypass type in
different postoperative periods
Luciane Coutinho de Azevedo Campanella1
Rinaldo Pinto2
Juliana Vargas Ardenghi3
Meri Lisabeth Prust4
Daniella Schmit4
Unitermos:
Obesidade Mórbida. Gastroplastia. Alimentação.
Satisfação do Paciente. Procedimentos Cirúrgicos
Operatórios.
Keywords:
Morbid Obesity. Gastroplasty. Feeding. Patient
Satisfaction. Surgical Procedures, Operatives.
Endereço para correspondência:
Luciane Coutinho de Azevedo Campanella
Rua Amazonas, 2960 – apto 908B – Garcia –
Blumenau, SC, Brasil – CEP: 89022-000
E-mail: [email protected]
Submissão:
3 de fevereiro de 2015
Aceito para publicação:
24 de outubro de 2015
RESUMO
Introdução: Intolerância alimentar de pacientes submetidos à gastroplastia pode ocasionar
estados de carência nutricional e piora na qualidade de vida desses pacientes. Objetivos: Avaliar
o grau de tolerância e satisfação alimentar dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica pela
técnica de mini-gastric bypass e sua relação com os diferentes períodos de pós-operatório e as
características sociais, demográficas e clínicas. Método: Trata-se de uma pesquisa observacional,
descritiva e analítica, retrospectiva e transversal, tendo o local de intervenção uma clínica médica
particular que atende a pacientes submetidos à gastroplastia. Foi aplicado um questionário de
tolerância e satisfação alimentar, a fim de avaliar alimentos mais aceitos e frequência de vômitos
e regurgitação. Adotou-se como significantes diferenças com P<0,05. Resultados: Dos pacientes,
66 participaram da pesquisa, tendo prevalência o gênero feminino (84,8% n=56) e idade média
de 36,8±10,2 anos. A média de escore do teste de tolerância alimentar foi de 22,6±3,6 pontos.
Os pacientes que praticavam atividade física apresentaram maior média de escores do grau
de tolerância alimentar (23,9±2,8 pontos), assim como os que recebiam acompanhamento
nutricional pós-gastroplastia (24,1±3,0 pontos) e os que realizavam diariamente o desjejum
(22,8±3,4 pontos). Os alimentos referidos como os que causavam maior dificuldade de ingestão
foram: carne vermelha, carne branca, pão e macarrão, sendo estes relacionados com a menor
média de escores do questionário. Conclusões: A maioria dos avaliados apresentava boa ou
excelente satisfação alimentar e moderada pontuação relacionada ao teste de tolerância. Na
presença de intolerâncias alimentares, vômitos ou regurgitações, a pontuação para tolerância
alimentar foi mais baixa.
ABSTRACT
Introduction: Food intolerance in patients undergoing gastroplasty can cause nutritional deficiency
states and worsen the quality of life of these patients. Objectives: To assess the degree of tolerance
and food satisfaction of patients undergoing bariatric surgery by the technique of mini-gastric
bypass and its relation to the different periods of post-operative and the social, demographic and
clinical characteristics. Methods: This is an observational, descriptive and analytical, retrospective
and cross, taking the place of intervention a private medical clinic that serves patients undergoing bariatric surgery. A questionnaire of tolerance and food satisfaction was applied in order
to assess the most accepted food and frequency of vomiting and regurgitation. It was adopted as
significant at P<0.05. Results: Of patients who underwent surgery, 66 participated in the survey,
with prevalence in females (84.8% n=56), mean age 36.8±10.2 years. The mean score of the
food tolerance of 22.6±3.6 points test. Patients who engaged in physical activity had a higher
average scores on the degree of food intolerance (23.9±2.8 points), as well as those receiving
nutritional counseling post-gastroplasty (24.1±3.0 points) and who performed daily breakfast
(22.8±3.4 points). Foods such as that caused most difficulty in swallowing were: red meat, white
meat, bread and pasta, which are related with the lowest mean scores on the questionnaire.
Conclusions: Most of the subjects had good or excellent food and moderate satisfaction scores
related to tolerance test. In the presence of food intolerance, vomiting or regurgitation, the score
for feeding tolerance was lower.
1.
Nutricionista. Doutora e mestre em Neurociência pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista em Terapia Nutricional Enteral
e Parenteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE). Professora do curso de Nutrição da Universidade Regional de
Blumenau (FURB) e Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Blumenau, SC, Brasil.
2. Médico. Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRSG), residência médica em Cirurgia Geral no Hospital
de Clínicas de Porto Alegre e em Oncologia na Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Mestre em Ciências Médicas pela
UFRGS. Professor da FURB e médico-cirurgião do Hospital Santa Catarina, Blumenau, SC, Brasil.
3. Farmacêutica bioquímica e nutricionista. Mestre em Ciências Farmacêuticas pela UNIVALI e graduada em nutrição pela FURB. Nutricionista da
VIDAR – Clínica de Cirurgia do Aparelho Digestivo, Blumenau, SC, Brasil.
4. Acadêmica do curso de Nutrição da FURB, Blumenau, SC, Brasil.
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Tolerância e satisfação alimentar de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica tipo mini-gastric bypass
INTRODUÇÃO
(PO), por meio do questionário de Avaliação da Tolerância
Alimentar após Cirurgia Bariátrica (ATACB)9.
O descontentamento e a falha no tratamento não medicamentoso para obesidade mórbida vêm motivando o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas voltadas à diminuição da
gordura corporal em obesos mórbidos. Desde então, diversos
procedimentos cirúrgicos têm sido utilizados, porém, não se
conhece até o momento qual o ideal para todos pacientes1.
Para análise estatística, os pacientes foram estratificados,
conforme: (a) tempo de PO, em quatro grupos de estudo:
grupo de até três meses de cirurgia; grupo acima de três
meses até seis meses de cirurgia; grupo acima de seis meses
até nove meses de cirurgia; e grupo acima de nove meses
até um ano de cirurgia; (b) presença ou ausência de prática
de atividade física; (c) presença ou ausência de acompanhamento nutricional no PO; (d) frequência de vômitos ou
regurgitação; (e) presença ou ausência de intolerâncias a
certos alimentos; (f) realização do café da manhã. A análise
dos dados foi realizada com auxílio do software Statistica
1998. Adotou-se para identificar diferenças entre duas ou
entre mais de duas categorias da mesma variável os testes
T-Student e ANOVA, respectivamente. As correlações entre
variáveis numéricas foram testadas pelo teste de Pearson.
Foram consideradas significativas diferenças e associações
com nível de P<0,05.
Atualmente, há várias técnicas de cirurgia bariátrica,
desde restritivas, que limitam a capacidade gástrica; disabsortivas, que derivam parte do intestino delgado, dificultando
digestão e absorção dos alimentos, e mistas, que incluem
ambos os componentes2,3. O mini-gastric bypass, descrito
por Robert Rutledge em 1997, consiste numa técnica mista4,
mas pouco invasiva, pois o tempo de cirurgia e a alteração
no transito intestinal são menores quando comparados à
técnica de bypass gástrico em Y-de-Roux5.
Diversos autores defendem a importância de se estudar
mais profundamente a tolerância alimentar em pacientes
submetidos à cirurgia bariátrica, bem como os mecanismos
envolvidos nessas intolerâncias, que podem ocasionar
estados de carência nutricional, ou comprometer a perda
de peso saudável, interferindo no estado nutricional e na
qualidade de vida e saúde desses pacientes6-8.
RESULTADOS
Foram avaliados 66 pacientes, com média de idade
de 36,8±10,2 anos, sendo a maior parte do sexo feminino (84,8%; n=56), casada (81,9%; n=54), com ensino
médio completo (46,9%; n=31) e não praticante habitual
de exercício físico (69,6%; n=46). Aproximadamente 70%
dos participantes referiram não realizar acompanhamento
nutricional periódico no PO.
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo avaliar o grau de tolerância e satisfação alimentar dos
pacientes submetidos à cirurgia bariátrica tipo mini-gastric
bypass e sua relação com os diferentes períodos de pósoperatório e as características sociais, demográficas e
clínicas.
Quanto ao questionário de Tolerância Alimentar,
encontrou-se uma média de pontuação em escores igual
a 22,6±3,6 pontos. Não foi verificada diferença entre as
médias dos grupos de pacientes distribuídos conforme o
tempo de pós-cirurgia. Porém, constatou-se que os que praticavam exercício físico apresentaram média de pontos relacionados ao grau de tolerância alimentar maior (23,9±2,8
pontos) do que os que negaram tal prática (22,0±3,7 pontos)
(t=-2,00; P=0,04). Da mesma forma, os que receberam
acompanhamento nutricional pós-gastroplastia obtiveram
maior pontuação (24,1±3,0 pontos) que os que não foram
acompanhados habitualmente (21,9±3,6 pontos) (t=-2,41;
p=0,01).
MÉTODO
Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa descritiva,
analítica e transversal, tendo como local de intervenção uma
clínica médica/cirúrgica privada na cidade de Blumenau/
SC, que atende a pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.
Fizeram parte da população pesquisada todos os pacientes
com idade superior a 20 anos submetidos à técnica cirúrgica
mini-gastric bypass, no período de março de 2012 a março
de 2013, que aceitaram participar da pesquisa mediante
assinatura do termo de consentimento livre esclarecido.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Regional de Blumenau, com o número de protocolo
179/2011.
Conforme demonstrado na Tabela 1, observou-se que
a maioria referiu (a) satisfação alimentar excelente (sem
diferença estatística entre as categorias com relação à idade
e ao tempo de PO); (b) o almoço como principal refeição
do dia; (c) realizar lanches intermediários entre as grandes
refeições; (d) comer todos os alimentos presentes na dieta; e
(e) raramente apresentar episódios de vômito ou regurgitação
pós-prandial no PO. Na análise de variância, verificouse que as médias dos escores de tolerância alimentar do
grupo de pacientes que referiram apresentar vômitos ou
Dos pacientes selecionados, foram coletados dados
demográficos e sociais (idade, sexo, prática de exercício físico
habitual e acompanhamento nutricional), clínicos (tempo
de cirurgia, presença de complicações de pós-operatório e
presença de complicações gastrointestinais após a cirurgia),
para caracterização da amostra e análise, e os relacionados
ao grau de tolerância e satisfação da dieta no pós-operatório
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Campanella LCA et al.
Tabela 1 – Características relacionadas ao Teste de Tolerância Alimentar.
Variável
Resultado principal
% (n)
Resultados secundários
% (n)
45,4 (30) excelente
36,4 (24) boa; 18,2 (12) aceitável
71,2 (47) almoço
9,1 (6) jantar; 9,1 (6) café da manhã
Lanche entre grandes refeições
92,4 (61) sim
7,6 (5) não
Consegue comer qualquer alimento
62,1 (41) sim
37,9 (25) não
Presença de vômito ou regurgitação
46,9 (31) raramente
40,9 (27) nunca; 12,1 (8) frequentemente ou
todos os dias.
Grau de satisfação
Principal refeição do dia
Tabela 2 – Média ± desvio padrão dos escores atribuídos ao Teste de Tolerância Alimentar conforme dificuldades para ingerir determinados tipos de
alimentos.
Ausente
Alimento
Presente
P
% (n)
Escore
MD±DP
% (n)
Escore
MD±DP
Carne vermelha
48,4 (32)
24,8±1,9
51,5 (34)
20,5±3,5
0,001
Carne branca
68,1 (45)
24,2±2,2
31,8 (21)
19,0±3,3
0,03
Salada
90,9 (60)
22,9±3,4
9,0 (6)
19,6±4,2
0,04
Vegetais
89,3 (59)
23,2±3,0
10,6 (7)
16,8±3,8
0,00003
Pão
75,7 (50)
23,4±3,5
24,2 (16)
20,0±2,1
0,03
Arroz
72,7 (48)
23,9±2,7
27,2 (18)
19,2±3,4
0,16
Macarrão
75,7 (50)
23,6±3,0
24,2 (16)
19,5±3,3
0,57
Peixe
90,9 (60)
23,0±3,1
9,0 (6)
18,8±5,8
0,009
Legenda: MD ± DP = média e desvio padrão.
ou ausência de dificuldades para ingerir certos alimentos.
Constatou-se que os alimentos que mais proporcionaram
dificuldades de ingestão foram: carne vermelha e branca,
arroz, macarrão e pão branco. Pacientes com presença de
intolerância alimentar a esses alimentos apresentaram menor
média de escores relacionados ao questionário de tolerância
e satisfação alimentar.
regurgitação frequentemente ou todos os dias foi menor
(16,5±2,9 pontos) que a dos grupos que referiram tais
sintomas raramente (22,2±2,6 pontos) e nunca (24,9±2,2
pontos) (F(2:66)=36,06; P=0,00000).
Por outro lado, o grupo de pacientes que ingeria café da
manhã (95,4%; n=63) apresentou maior média de escores
de tolerância alimentar (22,8±3,4 pontos) do que os que
não realizavam (18,6±5,5 pontos) (t=-2,00; P=0,04).
Ressalta-se que todos os que não apresentavam hábito de
ingerir o café da manhã não receberam acompanhamento
nutricional no pós-operatório. Observou-se, também, que os
que citaram conseguir comer todos os alimentos disponíveis
apresentaram maior média dos escores (24,0±2,8 pontos)
do que aqueles que referiram intolerâncias alimentares
(20,2±3,4 pontos) (t=-4,81; P=0,000009).
DISCUSSÃO
Neste trabalho, encontrou-se uma tolerância e satisfação
alimentar diminuída nos pacientes submetidos à cirurgia
bariátrica tipo mini-gastric bypass no decorrer de um ano
após a gastroplastia. A pontuação média dos escores dos
pacientes aqui avaliados (22,6±3,6 pontos) foi mais baixa
que as encontradas em pacientes controles (não obesos)
(25,2 pontos, sendo que 86,6% das respostas tiveram
Na Tabela 2, apresentam-se as médias de escores do
questionário de tolerância alimentar conforme presença
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Tolerância e satisfação alimentar de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica tipo mini-gastric bypass
escore maior ou igual a 24 pontos) e em pacientes obesos
não operados (24,2 pontos, em que 63,6% dos pacientes
com obesidade mórbida tiveram um escore maior ou igual
a 24 pontos)9.
12 meses), também não encontraram diferenças entre as
médias de escores dos grupos com até um ano de PO. No
entanto, os mesmos autores identificaram maior pontuação
em escores no grupo de pacientes que já havia realizado a
cirurgia há mais de um ano.
Schweiger et al.10, ao avaliarem o grau de tolerância e
satisfação alimentar após várias técnicas de gastroplastia,
encontraram resultados de escores de 20,27±3,57 pontos
no grupo de pacientes submetido à técnica bypass gástrico
em Y-de-Roux, 14,47±5,92 pontos pela banda gástrica ajustável, 22,27±4,66 pontos por meio da sleeve gastrectomia
e 20,91±3,26 pontos, através da derivação biliopancreática, no período de 6 a 12 meses de PO. Em outro estudo,
Overs et al.11 verificaram que obesos mórbidos submetidos
à banda gástrica ajustável, bypass gástrico em Y-de-Roux
e sleeve gastrectomia apresentaram médias de escores do
questionário de tolerância alimentar de 15,5±7, 22±5 e
24±5 pontos, respectivamente. Da mesma forma, Suter
et al.9 demonstraram que a tolerância alimentar é melhor
naqueles submetidos à cirurgia tipo bypass gástrico em Y-deRoux do que nos pacientes que foram operados pela técnica
de banda gástrica vertical que apresentaram maior restrição
alimentar e disfagia.
Overs et al.11 relatam que a questão sobre a satisfação
alimentar é a mais subjetiva do Teste de Tolerância Alimentar,
que respostas excelente e boa referidas pelos pacientes
podem estar relacionadas a perda de peso ou ao aspecto
de conseguirem ingerir todos os tipos de alimentos que
“desejam”. Ao se considerar que, nesta pesquisa, foram
avaliados pacientes com tempo de cirurgia de um mês a um
ano, acredita-se a mais frequente referência de satisfação
alimentar excelente ou boa possa ter sido motivada pela
perda de peso (característica possivelmente mais relevante
para os entrevistados).
Destaca-se, também, que a maioria dos pacientes analisados referiu excelente satisfação alimentar, com associação
estatística entre o hábito de ingerir diariamente o café da
manhã, bem como o de consumir todos os alimentos disponíveis na dieta. Além disso, encontraram-se maiores pontuações de escores do Teste de Tolerância Alimentar nos grupos
que ingeriam café da manhã e que não referiam presença
de intolerâncias alimentares. Estudos citados na literatura
científica relacionam positivamente o consumo frequente de
café da manhã com a redução no risco de desenvolver sobrepeso e obesidade14,15. O consumo frequente e adequado
do café da manhã pode melhorar a saciedade do paciente
e, de tal modo, reduzir a quantidade calórica total ingerida
durante o dia15.
Ao se considerar que o questionário de avaliação da
tolerância alimentar adotado nesses trabalhos foi similar
à presente pesquisa, acredita-se que a técnica cirúrgica
utilizada na gastroplastia dos pacientes aqui avaliados
(mini-gastric bypass) proporcionou, no PO, grau de tolerância alimentar semelhante à técnica de bypass gástrico
em Y-de-Roux.
Destaca-se que, nesta pesquisa, pacientes que realizavam acompanhamento nutricional, bem como aqueles
praticantes de exercício físico, obtiveram maior média em
relação ao questionário de tolerância alimentar. Acredita-se
que o acompanhamento periódico no PO favorece a maior
adesão ao tratamento na sua íntegra, desde o seguimento
de recomendações específicas recebidas logo depois da
cirurgia, como aquelas referentes a mudanças no estilo de
vida que garantem melhor tolerância ao procedimento cirúrgico no pós-operatório. O acompanhamento nutricional é
essencial para os pacientes pós-cirurgia bariátrica, uma vez
que somente a cirurgia não fará o paciente se manter magro
e saudável12. Cruz & Morimoto13 destacam a importância
do aconselhamento nutricional contínuo no PO, uma vez
que o paciente deverá se adaptar a várias modificações de
hábitos alimentares.
Neste trabalho, os alimentos mais citados que causaram
dificuldades de ingestão foram: as carnes vermelha e branca,
o arroz, o macarrão e o pão branco. O grupo de pacientes
que relatou dificuldade na ingestão desses alimentos foi
o que apresentou menor média de escores relacionados
à pontuação do questionário de tolerância alimentar.
Resultados semelhantes foram encontrados nos estudos de
Schweiger et al.10, em que se observou uma menor média
da pontuação em escores no grupo de pacientes submetidos
à técnica bypass gástrico em Y-de-Roux, que referiu dificuldade no consumo de carne vermelha, carne branca, arroz
e peixe. Os autores também reforçaram que a referência de
satisfação alimentar como excelente ou boa é influenciada
pela facilidade de ingestão desses alimentos.
Outro ponto de destaque, foi que o grupo de pacientes
que referiu vômito ou regurgitação, com frequência ou
diariamente, depois da cirurgia apresentou menor média
dos escores do questionário de tolerância alimentar e
satisfação alimentar diminuída de maneira mais frequente.
Transtornos gastrointestinais já foram demonstrados como os
sintomas mais frequentemente associados com a presença
Outro encontro que merece evidência foi a falta de diferença estatística nas médias de escores do teste de Tolerância
Alimentar entre os grupos de pacientes distribuídos conforme
o tempo de pós-operatório. Schweiger et al.10, ao avaliarem
pacientes separados em três grupos de PO, conforme o tempo
de cirurgia (de 3 a 6 meses, de 6 a 12 meses e acima de
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de intolerância alimentar nos primeiros seis meses e 18 a
35 meses de PO de bypass gástrico em Y-de-Roux16,17. De
Zwaan et al.17 citaram que 30,5% dos pacientes apresentaram
dificuldade na mastigação dos alimentos e regurgitação e
mais de 60% apresentaram episódios de vômitos. Os autores
sugerem, também, que essas complicações podem ocorrer
quando se ingere alimentos muito fibrosos, como carne
vermelha, e quando não se corta os alimentos em pedaços
pequenos antes de ingeri-los.
Acredita-se que tais problemas podem ser evitados a partir
da intervenção de uma equipe interdisciplinar que objetive
orientar o paciente quanto à prática de técnicas que o auxiliem na mastigação e deglutição, na escolha alimentar, no
tempo de alimentação, no uso de suplementação nutricional
específica para cada fase de PO, a fim de favorecer o ato
da alimentação, reduzir a presença de complicações que
comprometam este, minimizar o aparecimento de inadequações nutricionais e aumentar a tolerância e a satisfação
com a cirurgia e com a alimentação indicada e adequada a
condição clínica e nutricional de cada fase do tratamento18.
CONCLUSÕES
Conclui-se que tolerância alimentar referida pelos participantes não foi diferente conforme o tempo de realização
de cirurgia, porém, os que praticavam exercício físico ou os
que mantiveram acompanhamento nutricional no PO obtiveram maior pontuação de escores. Além disso, nos grupos
com presença de intolerâncias alimentares (principalmente
ao pão, às carnes vermelha e branca, ao macarrão e ao
arroz), bem como com presença de vômitos ou regurgitações, a pontuação em escores para tolerância alimentar foi
mais baixa.
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Local de realização do trabalho: Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), Blumenau, SC, Brasil.
Dados parciais deste trabalho foram apresentados no V Congresso Brasileiro de Nutrição Integrada (CBNI) e GANEPÃO, realizado em São Paulo (SP) em 2013.
Financiamento: Programa de Incentivo à Pesquisa (PIPe/Artigo 170) pagos pelo Governo do Estado de Santa Catarina.
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