Resumos - Lógica - Prof. Ricardo P. Tassinari - Departamento de Filosofia - Unesp/Marília – 2012 A COMPLETUDE DE S Vamos, nesta lição, mostrar que o sistema de dedução natural S definido anteriormente é completo (cf. a lição As Noções de Correção e Completude de um Sistema Formal). Antes, precisamos mostrar a seguinte proposição que nos ajudará a mostrar a completude e a completude inferencial. Proposição (Dedução da linha da tabela-verdade). Dada uma linha da tabela-verdade de uma fórmula Z, com letras sentenciais X1, X2, …, Xn temos que: X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* em que Xi* = Xi se Xi é V e Xi* = ~Xi se Xi é F Z* = Z se Z é V Z* = ~Z se Z é F Exemplo. Temos as seguintes deduções, para cada linha da tabela-verdade abaixo: X1 X2 Z A B ~A → B X1*, X2* ˫ Z* V V V A, B ˫ ~A → B V F V A, ~B ˫ ~A → B F V V ~A, B ˫ ~A → B F F F ~A, ~B ˫ ~(~A → B) Vamos mostrar a X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* acima, por indução no número de conectivos de Z, isto é, vamos mostrar que: (I) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* vale, se Z não tem conectivos (Z tem zero conectivos); e que, (II) se X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* vale para fórmulas com menos que n conectivos, então X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* vale para uma fórmula Z com n conectivos. Com isso mostramos que X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* vale para todas as fórmulas. (I) Z tem zero conectivos. Se Z não tem conectivos, então Z é a letra sentencial X. Como X ˫ X e ~X ˫ ~X e Z é X, temos que X ˫ Z e ~X ˫ ~Z; logo: X* ˫ Z* (II) Z com n conectivos. Suponhamos que Z tem n conectivos e que a Proposição acima vale para fórmulas com menos que n conectivos (hipótese de indução). O último conectivo na construção de Z é ~ ou →, ou seja, temos dois casos possíveis: (1) Z é da forma ~Y (que indicaremos por Z = ~Y); ou (2) Z é da forma Y → W (que indicaremos por Z = Y → W). Para cada um desses casos, temos dois subcasos: (a) Z é V; ou Resumos - Lógica - Prof. Ricardo P. Tassinari - Departamento de Filosofia - Unesp/Marília – 2012 (b) Z é F. Analisando os quatros subcasos possíveis, temos o seguinte. (1.a) Z = ~Y e Z é V. X1*, X2*, …, Xn* ˫ Y* (por hipótese de indução, pois Y tem menos que n conectivos) X1*, X2*, …, Xn* ˫ ~Y (Y* = ~Y, pois Y é F, já que Z é V e Z = ~Y) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z (Z = ~Y) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* (Z* = Z, pois Z é V) (1.b) Z = ~Y e Z é F. X1*, X2*, …, Xn* ˫ Y* (por hipótese de indução, pois Y tem menos que n conectivos) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Y (Y* = Y, pois Y é V, já que Z é F e Z = ~Y) X1*, X2*, …, Xn* ˫ ~~Y (Pela regra DN aplicada a Y) X1*, X2*, …, Xn* ˫ ~Z (Z = ~Y) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* (Z* = ~Z, pois Z é F) (2.a) Z = Y → W e Z é V. Se Z é V e Z = Y → W, então (i) Y é F ou (ii) W é V. (i) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Y* (por hipótese de indução, pois Y tem menos que n conectivos) X1*, X2*, …, Xn* ˫ ~Y (Y* = ~Y, pois Y é F, neste caso(i)) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Y → W (Pela regra DS aplicada a ~Y) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z (Z = Y → W) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* (Z* = Z, pois Z é V) (ii) X1*, X2*, …, Xn* ˫ W*(por hipótese de indução, pois W tem menos que n conectivos) X1*, X2*, …, Xn* ˫ W (W* = W, pois W é V, neste caso(ii)) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Y → W (Pela regra P aplicada a W) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z (Z = Y → W) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* (Z* = Z, pois Z é V) (2.b) Z = Y → W e Z é F. Neste caso, como Z é F e Z = Y → W, Y é V e W é F. X1*, X2*, …, Xn* ˫ W*(por hipótese de indução, pois W tem menos que n conectivos) X1*, X2*, …, Xn* ˫ ~W (W* = ~W, pois W é F) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Y* (por hipótese de indução, pois Y tem menos que n conectivos) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Y (Y* = Y, pois Y é V) X1*, X2*, …, Xn* ˫ ~(Y → W) (Pela regra NC aplicada a Y e ~W acima) X1*, X2*, …, Xn* ˫ ~Z (Z = Y → W) X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* (Z* = ~Z, pois Z é F) Ou seja, em todos os casos possíveis, temos que, se X 1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* vale para fórmulas Z com menos que n conectivos, então X 1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* vale para uma fórmula Z com n conectivos. Com isso, e com o resultado anterior de que X 1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* vale Resumos - Lógica - Prof. Ricardo P. Tassinari - Departamento de Filosofia - Unesp/Marília – 2012 quando Z tem zero conectivos, mostramos que X 1*, X2*, …, Xn* ˫ Z* vale para todas as fórmulas. Podemos agora mostrar o resultado central desta lição. Completude. Se a fórmula Z é uma tautologia, então Z é teorema de S, ou seja, se a fórmula Z é uma tautologia, então existe uma demonstração de Z em S. Com efeito, seja Z uma tautologia e X1, X2, …, Xn as letras sentenciais de Z. Neste caso: X1*, X2*, …, Xn* ˫ Z (Z* = Z, pois Z é sempre V). Quando Xn é V, temos X1*, X2*, …, Xn ˫ Z e pela Demonstração Condicional (veja a lição O Sistema S e a Regra de Demonstração Condicional) temos X1*, X2*, …, Xn-1* ˫ Xn → Z. E quando Xn é F, temos X1*, X2*, …, ~Xn ˫ Z e pela Demonstração Condicional (idem acima) temos X1*, X2*, …, Xn-1 ˫ ~Xn → Z. Assim, a partir das premissas X 1*, X2*, …, Xn-1* temos uma dedução de X n → Z e uma dedução de ~Xn → Z e (juntado as duas deduções, que são uma sequência de fórmulas, em uma única uma sequência de fórmulas), temos uma dedução de X n → Z e ~ Xn → Z , e, pela regra Segue do Terceiro Excluído (veja a lição Alguns Esquemas de Dedução do Sistema S), temos que existe uma dedução de Z a partir das premissas X1*, X2*, …, Xn-1*, ou seja, X1*, X2*, …, Xn-1* ˫ Z Se repetirmos o procedimento n-1 vezes para cada uma das premissas chegamos à: ˫ Z. Ou seja, Z é teorema de S. Temos então, que se Z é uma tautologia, então Z é teorema de S, ou seja, se Z é uma tautologia, então existe uma demonstração de Z em S. Uma das formas que se abrevia a Completude na literatura especializada é: ⊧Z ⇒ ˫Z E com a Correção mostrada na lição A Correção de S, temos: ˫Z ⇔ ⊧Z Chegamos então a um importante resultado de que, na nossa conceitografia (o sistema S), toda fórmula que demonstramos é sempre verdadeira (tautologia), mais ainda, demonstramos toda fórmula que é sempre verdadeira (tautologia).