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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
QUALIDADE DO PREENCHIMENTO DAS FICHAS DE
INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA LEISHMANIOSE
VISCERAL EM PETROLINA/PE
PETROLINA
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
DANIELA COSTA DE OLIVEIRA
APARECIDA JOSELETE JERICÓ PEREIRA
GLÓRIA MARIA PINTO COELHO
MARIA ELDA CAMPOS
QUALIDADE DO PREENCHIMENTO DAS FICHAS DE
INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA LEISHMANIOSE
VISCERAL EM PETROLINA/PE
PETROLINA
2009
2
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................
05
2. OBJETIVOS .......................................................................................................
06
3 . MARCO TEÓRICO...........................................................................................
07
3.1 Leishmanioses Viscerais – Aspectos Gerais......................................................
06
3.2 Patogenia e formas de transmissão....................................................................
09
3.3 Ciclo biológico no hospedeiro vertebrado ........................................................
10
3.4 Manifestações clínicas, diagnóstico laboratorial e tratamento ..........................
10
4. MATERIAIS E MÉTODOS ...............................................................................
12
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................
13
6. CONCLUSÃO ....................................................................................................
14
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................
15
3
RESUMO
A investigação epidemiológica permite a realização do diagnóstico da ocorrência de um
evento na população, além de indicar os riscos aos quais eventualmente o indivíduo está
sujeito. O preenchimento devido das fichas de investigação é indispensável para que os
dados traduzam a realidade da endemia local e facilitem o planejamento das ações em
saúde, propondo medidas de intervenção e uma vigilância epidemiológica minuciosa. O
presente estudo teve como propósito avaliar o preenchimento das fichas de investigação de
leishmaniose visceral utilizadas pelo Sistema de Informação de Agravos e Notificação
(Sinan). Assim, seu objetivo principal foi analisar a completitude dos campos das fichas de
investigação dos casos de leishmaniose visceral notificados pelo município de Petrolina
durante o ano de 2006. Foram utilizadas informações do Ministério da Saúde, por meio do
banco de dados do Sistema de Informação de Agravos e Notificação (Sinan-Base
Nacional), veiculado no website “DATASUS”. O estudo mostrou que 22,63% dos casos
notificados não tiveram seus campos completamente preenchidos, em especial os
referentes ao município de residência e local provável da fonte de infecção, ambos com
78,95% dos campos não-preenchidos (ignorados/vazios). Estas lacunas prejudicam a
indicação de continuidade da transmissão, probabilidade de surgimento de novos casos e a
quantidade de casos provenientes do município para o acompanhamento das metas e para
implementação de medidas. Quanto a variável data de encerramento, 42,11% dos casos
não foram encerrados oportunamente, estabelecendo um hiato quanto à evolução clínica
destes pacientes. Semelhantemente, 42,11% das fichas não continham a informação
relacionada à Evolução do caso, a qual visa o acompanhamento do paciente durante o
tratamento a fim de reduzir recidivas e outras complicações da doença e/ou reações de
toxicidade ao medicamento. Quanto à classificação final do caso, 36,8% das fichas não
informam se o caso foi confirmado ou descartado. Como os pacientes podem apresentar
recidivas, é necessário que seja registrado se o caso é ou não novo; entretanto, observou-se
que 5,26% das fichas não continham esta informação. Torna-se imperativo que os
responsáveis pela coleta de dados em todos os níveis do sistema estejam sensibilizados
para realização de uma investigação epidemiológica fidedigna e consequentemente
eficiente e eficaz.
Vigilância epidemiológica ; Leishmaniose Visceral; Informática em Saúde Pública
4
1. INTRODUÇÃO
Nas duas últimas décadas, a leishmaniose visceral humana (LV) conhecida
popularmente por calazar reapareceu no mundo de forma preocupante. Além disso, a
expansão da epidemia acometendo grupos de indivíduos jovens tem ocasionado número
elevado de óbitos.3
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera as leishmanioses como uma
das principais zoonoses mundiais, com ocorrência de casos em 88 países de quatro
continentes.2,3
De acordo com o Ministério da Saúde, na América Latina a doença já foi descrita
em 12 países sendo que o Brasil possui 90% dos casos. E cerca de 70% dos casos
notificados de leishmaniose visceral estão concentrados na região nordeste.18
Entre os anos de 1984 a 2002 foram notificados mais de 48 mil casos de LV, sendo
que aproximadamente 66% destes ocorreram nos estados da Bahia, Ceará, Maranhão e
Piauí.3 Em 2005 foram notificados 87 casos em Pernambuco, tendo um percentual de cura
clínica, de 78%. O município de Petrolina apresentou o maior registro de casos (12),
seguido pelo município de Ouricuri, com 9 casos confirmados.2,3
No Brasil, a LV acomete pessoas de todas as idades, mas na maior parte das áreas
endêmicas 80% dos casos registrados ocorrem em crianças com menos de 10 anos. Porém,
a letalidade da leishmaniose visceral pode alcançar 10% quando se institui tratamento e
acompanhamento adequados.3
Preconizado pelo Ministério da Saúde, a vigilância epidemiológica tem por objetivo
reduzir as taxas de letalidade e grau de morbidade das doenças como a leishmaniose
visceral através do diagnóstico e tratamento precoce dos casos a fim de diminuir os riscos
de transmissão mediante controle da população de reservatórios e do agente transmissor.
O Sistema de Informação de Agravos de Notificaçãodo (Sinan) é alimentado,
principalmente, pela notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam
da lista nacional de doenças de notificação compulsória. Para cada agravo existe uma Ficha
Individual de Notificação (FIN), que é preenchida pelas unidades assistenciais para cada
paciente quando este é suspeito de algum agravo de notificação compulsória. A ficha deve
ser encaminhada para vigilância epidemiológica. Sua utilização efetiva permite a
realização do diagnóstico dinâmico da ocorrência de um evento na população, podendo
fornecer subsídios para explicações causais dos agravos de notificação compulsória, além
5
de vir a indicar riscos aos quais as pessoas estão sujeitas, contribuindo assim, para a
identificação da realidade epidemiológica de determinada área geográfica.3 Quando este
instrumento não é levado em consideração, seja por preenchimento incorreto das fichas de
notificação ou ausência de preenchimento destas, torna-se inviável a real fidelidade dos
agravos no que diz respeito à quantidade e qualidade das informações registradas.
Diante dos diversos problemas que a Leishmaniose visceral tem proporcionado à
população, é de extrema importância a avaliação das informações contidas nas fichas de
notificação, visto que, informações precisas, completas e oportunas de natureza
epidemiológica representam insumos essenciais para o planejamento, monitoramento,
execução e avaliação das ações de saúde, contribuindo assim, para a identificação da
realidade epidemiológica do município, e promoção de políticas públicas levando em
consideração que o Município de Petrolina se destaca entre os municípios com maior
número de notificações no Estado de Pernambuco.
2. OBJETIVOS
Objetivo Geral: Verificar o percentual de completitude das fichas de notificação de
Leishmaniose visceral humana no município de Petrolina durante o ano de 2006.
Objetivos específicos: analisar o campos não-preenchidos referentes a(o):

Caso novo

Município de residência

Evolução do caso

Encerramento oportuno

Local provável da fonte de infecção Município

Classificação final
6
3. MARCO TEÓRICO
3.1 Leishmanioses Viscerais – Aspectos Gerais
Na América do Sul, o primeiro caso foi relatado por Migone, em 1913 no Paraguai,
em material de necropsia de paciente que havia contraído a doença no Estado do Mato
Grosso, Brasil. A partir de 1953 e até 1965, a doença foi estudada em algumas regiões do
país, principalmente no nordeste. Em 1953 estudos de pesquisadores em Sobral, no Ceará
deram inicio as primeiras campanhas governamentais para o reconhecimento das áreas
endêmicas e controle da leishmaniose no Brasil.10
A primeira observação dos parasitos que causavam o calazar ocorreu na Índia por
Cunningham (1885) em indivíduos acometidos pela doença.10 Em 1903, o agente
etiológico foi descrito quase simultaneamente por Willian Leishman e Charles Donovan.
Leishman observou pequenos crepúsculos ovais, com 2-3mm de diâmetro em fragmentos
de baço de um soldado inglês que havia morrido de febre Dum-Dum. Na mesma época,
Donovan demonstrou parasitos em aspirados esplênicos de uma criança hindu que
apresentava febre.10
De acordo com Coelho, as leishmanioses apresentam formas clínicas distintas,
dependendo da espécie de Leishmania envolvida na resposta imune do hospedeiro, sendo
representadas sob quatro formas: a leishmaniose visceral, a leishmaniose cutânea, a
leishmaniose mucocutânea e a leishmaniose cutânea difusa.4
Os vetores da leishmaniose são dípteros da família Psychodida, hematófagos
pertencentes aos gêneros Phlebotomus (Velho Mundo) e Lutzomyia (Novo Mundo), com
vasta distribuição nos climas quentes e temperados.14
No Novo Mundo, são reconhecidas oito espécies de Leishmanias responsáveis pela
doença no homem, pertencentes ao subgênero Vianna e Leishmania, onde os agentes
etiológicos correspondentes são: Leishmania braziliensis, Leishmania guyanensis,
Leishmania panamensis, Leishmania lainsoni, Leishmania mexicana, Leishmania
amazonensis, Leishmania venezuelensis e Leishmania.14 Quanto à origem da Leishmaniose
visceral no novo mundo existem contradições, não se sabe se ela foi introduzida
recentemente, na época da colonização européia e causada pela espécie L. infantum, ou há
vários milhões de anos, juntamente com a introdução dos canídeos, devendo a espécie ser
classificada como L. chagasi.8
7
Com a expansão da sua área de abrangência e aumento significativo no número de
casos, a LV passou a ser considerada pela Organização Mundial de Saúde uma das
prioridades dentre as doenças tropicais.8
A riqueza e diversidade de espécies pertencentes a diferentes grupos apresentam
padrões distintos de distribuição. Algumas espécies são restritas ao ambiente silvestre e
outras registradas em áreas profundamente alteradas pela ação do homem. O
desenvolvimento do processo de modificação ambiental decorrente da ação antrópica
alterou os habitats dos flebotomíneos, resultando no provável aumento do risco para a
leishmaniose tegumentar, devido à adaptação de algumas espécies ao ambiente
modificado.17
As Leishmanioses estão amplamente difundidas no mundo, ocorrendo em 88 países
tropicais e subtropicais, e conforme a sua forma de acometimento no homem, divide-se em
dois grandes grupos: as leishmanioses dermotrópicas/mucotrópicas (tegumentares) e as
leishmanioses viscerotrópicas. O primeiro denomina-se assim porque afeta principalmente
a estrutura da pele e, excepcionalmente, das mucosas das vias aéreas superiores, sendo
reconhecidas clinicamente três apresentações: a leishmaniose cutânea (LC), a leishmaniose
mucocutanea (LM), e a leishmaniose cutânea difusa (LCD), conhecidas por diversas
denominações. No entanto, as formas viscerotrópicas afetam órgãos internos como baço,
fígado, linfonodos e medula óssea, denominado de calazar, 'febre de dum-dum' ou 'barrigad'água'.1
Os agentes etiológicos da leishmaniose visceral são protozoários tripanosomatídeos
do gênero Leishmania, parasita intracelular obrigatório das células do sistema fagocitico
mononuclear, com uma forma flagelada ou promastígota, encontrada no tubo digestivo do
inseto vetor e outra flagelada ou mastígota nos tecidos dos invertebrados. No Novo
Mundo, a Leishmania chagasi é a espécie comumente isolada em pacientes com
leishmaniose visceral.3
A Leishmaniose visceral é uma zoonose de canídeos silvestres, domésticos e
marsupiais, transmitida ao homem por intermédio do flebotomíneo Lutzomyia
longipalpis.4
8
3.2 Patogenia e formas de transmissão
A L. chagasi é um parasito de células do sistema mononuclear fagocitário (SMF),
principalmente do baço, fígado, linfonodo e medula óssea. Porém, durante a infecção
outros tecidos e órgãos podem ser afetados. A pele é a porta de entrada para a infecção.10
A principal forma de trasmissão do parasita para o homem e outros hospedeiros
mamíferos é através da picada de fêmeas dípteros da família Psychodidae, sub-família
Phebotominae, conhecidos genericamente por flebotomíneos. A Lutzomya longipalpis é a
principal espécie transmissora da L. chagasi no Brasil.8
A inoculação das formas infectantes é acompanhada da saliva do vetor, que é rica
em substâncias de atividade inflamatória a qual é influenciada pelo aumento de células
fagocitárias nesse local. A reação inflamatória é caracterizada pela formação de nódulos
nas infecções pela L. donovani, porém, no caso da L. chagassi geralmente o local de
inoculação passa desapercebido. Esse processo pode evoluir para a cura ou ocorrer
migração dos parasitos para os linfonodos e logo em seguida para as vísceras.10
Outras formas de transmissão menos freqüentes incluem acidente de laboratório
com objetos contaminados e compartilhamento de seringas entre usuários de drogas, sendo
esta encontrada como principal forma de transmissão nos casos de LV em pacientes
infectados pelo vírus da imunodeficiência humana.7
Poucos casos de calazar congênito foram documentados no mundo, acredita-se que
a transmissão possa ocorrer através de células do Sistema Fagocítico Mononuclear
infectadas por amastígotas, que atravessariam a fina membrana que separa a circulação
materno-fetal ou durante o contato do sangue materno durante o parto.10 Na área urbana o
cão (Canis familiaris) é a principal fonte de infecção. No ambiente silvestre, os
reservatórios são as raposas (Ducicyon vetulus e Cerdocyon thous) e os marsupiais
(Didelphis albiventris).3
Porém, estudos mostram que o controle vetorial é mais efetivo no combate à doença
visto que, a presença do cão no domicílio e peridomicílio parece não ser um fator de risco
para infecção tão significante como a presença do vetor.11
Um aspecto relevante é a associação de casos ao uso de drogas injetáveis, devido ao
hábito de alguns grupos em compartilhar agulhas e seringas descartáveis, esse tipo de
transmissão tem mudado o perfil epidemiológico clássico, visto que, a transmissão da LV
passa a ocorrer na ausência do inseto vetor e do reservatório canino.10
9
No Brasil, o controle do vetor L. longipalpis é uma das principais estratégias
empregadas para limitar a propagação da leishmaniose visceral americana. Entretanto,
poucas são as pesquisas sobre a infecção natural de flebotomíneos por espécies de
Leishmania.17
3.3 Ciclo biológico no hospedeiro vertebrado
No hospedeiro vertebrado, as formas amastígotas de L. chagasi são encontradas
parasitando células do SMF, em especial os macrófagos. No homem localizam-se em
órgãos linfóides, como medula-óssea, baço, fígado e linfonodos. A infecção de Lutzomya
longipalpis por L. chagasi, ocorre quando as fêmeas, hematófagas, se alimentam em
hospedeiro infectado, e ingerem com o sangue macrófagos e monócitos parasitados.10
A hipertrofia e hiperplasia do sistema macrofágico das vísceras é a razão da
esplenomegalia, hepatomegalia e alterações na medula óssea. Nelas as células reticulares e
macrófagos aumentam consideravelmente e seu citoplasma torna-se abundante. As
leishmânias abandonam as células destruídas e pouco a pouco todos os macrófagos vão
ficando parasitados, como conseqüência há aumento de volume tanto no baço como no
fígado. O aumento de volume no baço chega a comprimir folículos linfóides ou
corpúsculos de Malpighi, comprimindo a circulação dos capilares provocando zonas de
enfarte.15
3.4 Manifestações clínicas, diagnóstico laboratorial e tratamento
A LV é caracterizada pela incapacidade do macrófago em destruir as formas
amastigotas.12
A maioria dos casos é de infecção assintomática ou que desenvolvem sintomas
moderados ou transitórios como diarréia, tosse seca, adinamia, febrícula, sudorese e
discreta hepatoesplenomegalia, que podem evoluir ou não para a forma clássica da doença.
O quadro clássico consiste de febre, hepatoesplenomegalia, com esplenomegalia volumosa,
perda de peso, tosse, diarréia, dor e distensão abdominal. Icterícia e envolvimento renal
têm sido descritos. Na fase mais tardia da doença, os pacientes podem desenvolver edema
e ascite.13
10
Pode ser observada anemia, evoluindo com anorexia, astenia, edema e
manifestações hemorrágicas. Raramente apresenta-se como uma síndrome ictérica de
difícil prognóstico, a evolução é lenta, levando os pacientes à caquexia e complicações
severas.16
Além dos sintomas citados anteriormente, o calazar pode ainda causar
complicações de natureza infecciosa bacteriana, dentre elas se destacam: otite media
aguda, piodermites, infecções dos tratos urinário e respiratório. Caso essas infecções não
sejam tratadas com antimicrobianos, o paciente poderá desenvolver um quadro séptico com
evolução fatal.3
O período de incubação é bastante variável tanto para o homem como para o cão.
No homem varia de 10 dias a 24 meses, com média de 2 a 6 meses. No cão apresenta-se
como bastante variável, de 3 meses a vários anos com média de 3 a 7 meses.3
O diagnóstico da leishmaniose visceral é uma questão prioritária. Um dos prováveis
determinantes da crescente taxa de letalidade da doença no Brasil é o atraso no diagnóstico
e, consequentemente na instituição do tratamento.6
O diagnóstico e tratamento devem ser realizados precocemente e sempre que
possível a confirmação parasitológica da doença deve preceder o tratamento. Em situações
onde o diagnóstico sorológico e/ou parasitológico não estiver disponível ou na demora da
liberação dos mesmos, o inicio do tratamento não deve ser postergado, sendo que o
diagnóstico clinico deve ser suspeitado quando o paciente apresentar febre e
esplenomegalia associado ou não a hepatomegalia.3
Diversos testes sorológicos foram desenvolvidos para o seu diagnóstico (fixação do
complemento, imunofluorescência indireta, teste de aglutinação direta, ELISA e DotELISA), assim como técnicas de biologia molecular (reação em cadeia da polimerase),
porém existem problemas quanto à sensibilidade, especificidade, disponibilidade e custo
desses testes na prática clínica.4,8 A suspeita diagnóstica da LV deve ser baseada em dados
epidemiológicos e nos achados clínicos e laboratoriais, mas o diagnóstico de certeza só
pode ser firmado através do encontro do parasita em tecido infectado4
A demonstração do parasito pode ser feita em material de biópsia ou punção
aspirativa do baço, fígado, medula óssea ou linfonodos. O material obtido é utilizado para
confecção de esfregaço ou impressão em lâminas, histologia, isolamento em meios de
cultura ou inoculação em animais de laboratório.8
11
Os compostos antimoniais, sob a forma de sais trivalentes, foram utilizados pela
primeira vez no tratamento da leishmaniose tegumentar em 1913 por Gaspar Vianna. Na
leishmaniose visceral a droga foi utilizada dois anos após, na Itália.3
A droga de eleição para o seu tratamento é o antimoniato pentavalente N-metil
Glucamina (Glucantime®), utilizado no Brasil desde a década de 1950, e que permanece
como tratamento inicial de escolha, sendo descritos 10% de casos resistentes. Nestes casos,
a Anfotericina B pode ser empregada, e, mais recentemente, a Anfotericina B incorporada
a partículas lipídicas artificiais (lipossomos) vem sendo utilizada, com vantagens, na
redução de seus efeitos sistêmicos e no tempo de internação.4 O antimoniato de
metilglucamina é especialmente eficaz no tratamento de leishmaniose cutânea,
mucocutânea e visceral. O medicamento provoca regressão rápida das manifestações
clínicas e hematológicas da doença, bem como provoca a esterilização do parasita.14 As
vacinas são uma das ferramentas utilizadas e almejadas no combate às várias doenças
causadas por patógenos infecciosos, inclusive contra leishmanioses, que determine
resposta imune protetora eficaz e duradoura. Atualmente, não existe uma vacina eficaz
contra leishmaniose visceral humana. Os resultados até o momento obtidos com a
vacinação utilizando parasito bruto não demonstram eficácia esperada.9
4. MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo documental baseado em dados secundários provenientes do
banco de informações do Sinan - Base Nacional. Foi extraída a tabela referente ao
percentual de completitude de campos essenciais, onde foram então selecionadas as
variáveis de importância para a análise de dados que apresentavam um percentual de
campos vazios e/ou com preenchimento ignorado. As variáveis estudadas foram: caso
novo, município de residência, evolução do caso, encerramento oportuno, local
provável da fonte de infecção e classificação final do caso.
12
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
À vigilância epidemiológica da LV é um dos componentes do Programa de
Controle da Leishmaniose Visceral (PCLV), cujos objetivos são reduzir as taxas de
letalidade e grau de morbidade através do diagnóstico e tratamento precoce dos casos, bem
como diminuir os riscos de transmissão mediante controle da população de reservatórios e
do agente transmissor.
A ficha de investigação epidemiológica é um instrumento de informação que
subsidia o desencadeamento de ações. A qualidade da informação, por sua vez, depende da
adequada coleta de dados, que são produzidos no local onde ocorre o evento. Nesse nível,
os dados devem ser primariamente tratados e estruturados, para se constituírem em
poderosa informação (dado analisado).
Em relação ao percentual de completitude dos campos essenciais das fichas de
investigação de casos de LV durante o período de 2006 (Tabela 1), observa-se que 22,63%
das fichas não estavam totalmente preenchidas. Após analisar o percentual da completitude
das fichas de investigação, foram estudadas as variáveis que obtiveram seus campos nãopreenchidos (Figura 5).
Tabela 1- Análise de Completitude dos Casos Notificados por PETROLINA - Lv
2006
PETROLINA
Total de Notificação
Preenchido
77.37%
Não Preencido
22.63%
19
Fonte: MS/ Sinan-Base Nacional
A análise dos dados da investigação deve permitir a avaliação da magnitude e
transcendência da LV no município de Petrolina, a distribuição segundo pessoa, tempo e
espaço.
Em relação ao percentual de campos vazios/ignorados nas fichas de notificação do
SINAN (Anexo II), chamou atenção as variáveis município de residência e local provável
da fonte de infecção, ambas com 78,95% dos campos não preenchidos (Figura 5), sendo
assim, não se permite estabelecer a área e extensão da ocorrência do caso, prejudicando a
indicação da possibilidade de continuidade da transmissão, probabilidade de surgimento de
novos casos, população sob risco e qual a extensão que as medidas de controle devem
assumir, visto que estes dados são de fundamental importância para a promoção de
políticas públicas voltadas para a realidade local.
13
O encerramento dos casos humanos no SINAN devem ser fechados no período
máximo de 180 dias, no entanto, 42,11% dos casos investigados não foram encerrados
oportunamente, ficando um hiato quanto à evolução clínica dos mesmos (Figura 5). Quanto
à evolução, 42,11% das fichas não tem essa informação. A norma técnica orienta o
acompanhamento do paciente, durante todo o tratamento, visando reduzir a letalidade,
recidiva, gravidade e outras complicações da doença e/ou toxicidade do medicamento.
Caso necessário, realizar a busca de faltosos, se o paciente não comparecer as consultas
agendadas (Figura 5).
No presente estudo, 36,8% (trinta e seis vírgula oito por cento) das fichas de
investigação avaliadas possuem o campo classificação final sem informação, portanto não
podemos definir se os casos foram realmente confirmados (critério clínico – laboratorial ou
critério clínico – epidemiológico) ou descartados (exames sorológicos e/ou parasitológicos
negativos, sem resposta favorável ao teste terapêutico ou outro diagnóstico) (Figura 5).
Como os pacientes podem apresentar recidivas, se faz necessário o registro se é um
novo caso ou não, e 5,26% das fichas, não foram contempladas com o preenchimento
desse campo (Figura 5).
Campos não preenchidos
78,95%
Caso novo
78,95%
Data de encerramento
Municipio de residencia
42,11%
42,11%
36,84%
Evolução do caso
Local provavel da fonte
de infeccção
5,26%
Classificação final
Fonte: MS/ Sinan-Base Nacional.
Figura 5 – Campos essenciais não-preenchidos na ficha de notificação
6. CONCLUSÃO
Com base nos resultados apresentados, o município de Petrolina é destaque entre as
cidades de Pernambuco com número maior de casos notificados de Leishmaniose visceral.
14
No ano de 2006 apresentaram 19 casos de calazar segundo dados obtidos no Sinan BaseNacional.
Porém a base de dados Sinan - Municipal apresenta 21 casos notificados durante
esse período, o que demonstra a inconsistência das informações, fato que pode-se atribuir
ao processo de exportação das informações entre o nível municipal para o estadual, e deste
último, para o nível nacional. Optou-se a trabalhar com a base nacional por esta ser
considerada como a informação para fins de estudos e avaliações.
Ao analisar a completitude destes, observou-se que 22,63 % (vinte e dois vírgula
sessenta e três por cento) dos casos notificados não tiveram os campos que compõem suas
fichas completamente preenchidas. Chamando atenção ainda, ao campo referente ao
município de residência e local provável da fonte de infecção, visto que estes são
determinantes quando se pretende estabelecer a área e extensão da ocorrência do caso,
prejudicando a indicação da possibilidade de continuidade da transmissão, probabilidade
de surgimento de novos casos, a quantidade de casos provenientes do município em estudo
para acompanhamento das metas traçadas e para implementação de ajustes necessários.
A força e o valor da informação depende da qualidade e fidedignidade com que a
mesmo é tratado. Para isso, faz-se necessário que os técnicos responsáveis pela coleta
estejam preparados para diagnosticar corretamente o caso, como também para realizar uma
boa investigação epidemiológica, com anotações claras e confiáveis.
7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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leishmanioses cutânea e mucosa com base em fontes históricas pré e pós-colombianas. Hist.
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Vigilância Epidemiológica. Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral.
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