MOTIVADORES E CRITÉRIOS DE ESCOLHAS NO PROCESSO DE ACREDITAÇÃO DE HOSPITAIS BRASILEIROS Claudia Araujo; Kleber Figueiredo Centro de Estudos em Serviços de Saúde - COPPEAD/UFRJ As organizações de saúde têm enfrentado uma série de pressões para reduzir custos e proporcionar serviços de qualidade. Assim, a Acreditação Hospitalar, que se caracteriza pela avaliação externa da qualidade dos serviços de saúde a partir de padrões pré-estabelecidos, tem sido abraçada por diversos gestores como uma iniciativa de qualidade que pode auxiliar o hospital a superar estes desafios. No entanto, o levantamento bibliográfico e as entrevistas realizadas com gestores da área revelam que não há muita clareza quanto ao “melhor” sistema de acreditação para que se alcancem os objetivos pretendidos. Os diversos programas de acreditação, com suas diversas ênfases e propostas, parecem se confundir na mente dos gestores, dificultando a escolha do mais acertado e, consequentemente, frustrando os gestores quanto aos resultados alcançados. O principal objetivo deste trabalho é identificar os motivadores que levam os hospitais a buscarem a acreditação e investigar os critérios de escolha utilizados para se optar por um determinado programa de acreditação. A partir da revisão bibliográfica sobre o assunto, pode-se afirmar que há quatro grandes motivadores para se buscar a acreditação: busca da melhoria dos processos; reconhecimento e imagem do hospital; avaliação objetiva da qualidade; e pressões competitivas enfrentadas pelos hospitais (SCHYVE, 2000; SCHAW, 2004; SEABRA, 2007). Melhoria de processos: Pomey et al. (2004) apontam que a acreditação tende a afetar positivamente os processos dos hospitais ao gerar uma padronização que propicia uma maior agilidade da instituição. Além disso, a acreditação aumentaria a segurança do paciente através do controle de processos críticos como prontuário do paciente, protocolos de conduta clínica, monitoramento de efeitos adversos (SCHIESARI, 2003 apud SEABRA, 2007). Reconhecimento e imagem do hospital: Por se tratar de um reconhecimento da qualidade da organização de saúde, a acreditação pode ser usada como uma ferramenta de marketing, transmitindo uma imagem de credibilidade ao mercado e, assim, auxiliando a instituição a obter ganhos em contratos de negócios (SHAW, 2004; SEABRA, 2007). Avaliação objetiva da qualidade: A acreditação representa uma forma de tangibilizar um conceito muitas vezes abstrato para as organizações: o conceito de qualidade. Em outras palavras, a acreditação propicia uma avaliação objetiva da qualidade e, o que é importante, realizada externamente à organização, aumentando sua credibilidade (LIMA e ERDMAN, 2006; SEKIMOTO et al., 2008). Pressões competitivas: Além das motivações internas que podem levar um hospital a almejar acreditação, pressões externas, exercidas pelo mercado, governo, planos de saúde, pacientes e familiares e profissionais da área, podem ser um forte estímulo à acreditação (SEABRA, 2007; PACCIONI, SICOTTE e CHAMPAGNE, 2008). A pesquisa foi estruturada em três momentos: levantamento bibliográfico sobre o assunto; entrevistas em profundidade com gestores hospitalares; e aplicação de um survey junto a 154 hospitais que atuam no Brasil. Os hospitais foram selecionados através da consulta a diversos sites e a revistas especializadas. Etapa qualitativa da pesquisa: Nesta fase, foram realizadas entrevistas em profundidade com os gestores de qualidade de 12 (doze) hospitais e com o Superintendente Médico de uma entidade acreditadora. As entrevistas foram realizadas nos meses de outubro a dezembro de 2008, tendo cada uma duração de cerca de uma hora e todas foram gravadas e posteriormente transcritas. Etapa quantitativa da pesquisa: Com base nas informações coletadas através da etapa qualitativa da pesquisa e da revisão da literatura, foi possível desenvolver o questionário (survey), o qual sofreu ajustes e pré-testes antes de a versão final ser aplicada em grande escala. A consistência interna da escala foi verificada através do Alpha de Cronbach, cujo valor foi de 0,773. O questionário foi enviado por e-mail, em março de 2009, para os gestores da qualidade de 154 hospitais que atuam no Brasil. Do universo de 154 hospitais, 101 (65,58%) aderiram à pesquisa. A análise quantitativa dos dados foi realizada através da aplicação de Análise Fatorial, visando a identificar os fatores motivadores para a busca da acreditação e, como alternativa ao Teste-t para duas médias independentes, foi aplicado o teste não paramétrico de Mann-Whitney para verificar se há diferenças estatisticamente significativas entre hospitais privados e públicos e entre hospitais localizados nas regiões Norte/Nordeste/Centro-Oeste e regiões Sul/Sudeste quanto às questões investigadas no artigo. Os resultados sugerem que o principal motivador para os hospitais pesquisados é a “melhoria dos processos”, apontada por 71% dos respondentes. O principal motivo para escolher a ONA, segundo os respondentes, foi por “ter foco na segurança do paciente” (30%); em seguida, constam o “foco na melhoria dos processos” e no “gerenciamento da rotina do hospital”, empatados com 18%. Da mesma forma, os participantes da pesquisa que optaram pela JCI e pela Canadense o fizeram, principalmente, por acreditar que esta acreditação tem “foco na segurança do paciente”. Observa-se, portanto, que as três acreditações estão sendo vistas da mesma forma pelos gestores da qualidade dos hospitais pesquisados. Em outras palavras, esta pesquisa deixou claro que os gestores da qualidade não vêem distinções claras entre as três acreditações investigadas. A Análise Fatorial possibilitou a extração de seis fatores motivadores da busca da acreditação que, em conjunto, explicavam 75% da variância total das variáveis utilizadas: melhoria dos processos; padronização dos processos; avaliação objetiva da qualidade; pressão de funcionários e acionistas; aumentar a satisfação dos pacientes. Estes resultados estão alinhados com as pesquisas já realizadas sobre o assunto no Brasil e no exterior, observando-se que: a “padronização dos processos” formou uma dimensão separada da “melhoria dos processos”; da mesma forma que em estudos anteriores, a “avaliação objetiva da qualidade” formou uma das dimensões motivadoras da busca da acreditação; e que “aumentar a satisfação dos pacientes” e “pressão de funcionários e acionistas” são dimensões estreitamente relacionadas com a dimensão “pressões competitivas” extraída da literatura. Diferenças significativas de médias entre os hospitais, por região: A “racionalização na utilização dos recursos” obteve uma média significativamente maior na região Norte, Nordeste e Centro-Oeste (N/Ne/CO) do que na região Sul/Sudeste (S/Se), com nível de significância de 1%. Estes resultados são compatíveis com a realidade brasileira, em que a racionalização na utilização dos recursos é uma preocupação constante das instituições hospitalares, principalmente daquelas situadas em regiões mais carentes de recursos. A segunda maior diferença verificada, com nível de significância de 5%, foi quanto ao item “atrair os melhores profissionais do mercado”, em que a média da região N/Ne/CO foi superior à das regiões S/Se. Mais uma vez, os resultados se mostram consistentes, já que se constitui um desafio para as instituições localizadas nas regiões N/Ne/CO atrair profissionais qualificados para seus quadros. Diferenças significativas de médias entre hospitais públicos e privados: A maior diferença se verificou no item “demonstrar padrões de excelência para o Governo”, com nível de significância de 1%, em que a média dos hospitais públicos foi superior à dos hospitais privados. Esta diferença faz sentido, já que aos hospitais públicos cabe a tarefa de demonstrar, para o governo, que estão prestando um bom serviço à sociedade. Por outro lado, a preocupação em “tornar o atendimento ao paciente mais humanizado” mostrou-se maior, com nível de significância de 5%, entre os hospitais privados do que entre os hospitais públicos.