Cartilha ambiental Mata Atlântica Mata Atlântica Ecossistema brasileiro: 2 Mata Atlântica Introdução da Bahia. Além disso, abriga ma- expressão ATLÂNTICA indicam a nanciais hídricos que abastecem sua vizinhança com o Oceano cerca de 70% da população bra- Atlântico. É claro que todas estas sileira. denominações estão corretas, O Bioma Mata Atlântica todavia, nesta cartilha, será ocupa inteiramente três utilizada a denominaestados - Espírito ção Mata Atlântica. Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina - e 98% do Paraná, BIOMA AMAZÔNIA além de porBIOMA ções de ouCAATINGA tras 11 unidades da federação (IBGE, 2007). BIOMA CERRADO Entre as formações ou BIOMA ecossistemas existentes no PANTANAL bioma Mata Atlântica, será abordada nesta cartilha a Floresta Ombrófila Densa, também denominada por BIOMA MATA pesquisadores como Floresta ATLÂNTICA Higrófila, Floresta Atlântica, Floresta Pluvial Atlântica, Mata BIOMA Pluvial Tropical, Floresta PAMPA Latifoliada Tropical Úmida de MAPA DOS BIOMAS Encosta e Mata Atlântica. As BRASILEIROS / IBGE denominações que empregam a Mata Atlântica Segundo Art. 3º do decreto nº 750 de 10/02/1993, considera-se Mata Atlântica as formações florestais e ecossistemas associados inseridos no domínio Mata Atlântica, com as respectivas delimitações estabelecidas pelo Mapa de Vegetação do Brasil, IBGE 1988: Floresta Ombrófila Densa Atlântica, Floresta Ombrófila Mista, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Estacional Decidual, manguezais, restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Bioma é conceituado como um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação, com condições geoclimáticas* similares e rica diversidade biológica. O Bioma Mata Atlântica ocupa uma área 1.110.182 Km² correspondendo a 13,04% do território brasileiro, o que equivale aproximadamente duas vezes o Estado 3 Mata Atlântica Definição e localização geográfica 4 A Mata Atlântica localiza-se na região costeira do Brasil e ocorre desde o Rio Grande do Sul até o estado de Piauí, em toda sua extensão, apresenta características físicas peculiares que permitem a existência de rica biodiversidade de vegetais e animais. Em um mesmo ambiente, podem conviver desde árvores de grande porte, com troncos duros e pesados até cipós, liquens, musgos e plantas rasteiras. A mata atlântica é considerada muito densa e dispõe de diferentes estratos. O estrato superior é determinado pela altura das copas das árvores mais altas, passando por estratos médios e inferiores, intercalados por plantas de tamanhos distintos. O fato da mata atlântica possuir alta densidade de plantas e se localizar em áreas de alta pluviosidade faz com que seu interior seja sombreado e úmido. A Mata Atlântica também é o habitat* de grande variedade de espécies de animais. A sua diversidade ambiental e a distribuição no território brasileiro contribuem para o seu alto grau de endemismo*. Caracterização do Ambiente A mata atlântica é influenciada por características físicas diferentes, dentre elas destacamse: pluviosidade*, ventos úmidos, clima, solo e topografia. Outra característica a salientar é a presença da cadeia de montanhas que segue a costa brasileira do nordeste do Rio Grande do Sul até o sul do Estado da Bahia. A mata atlântica se desenvolve em regiões com alta pluviosidade de no mínimo, 2000 mm de chuvas anuais, bem distribuídas ao longo do ano. Este fato permite o crescimento intenso de árvores perenes* com folhas largas. Durante o ano, entretanto, existe uma época mais seca na Mata Atlântica, que vai do final do outono até o inverno. Os ventos úmidos que sopram do mar em direção ao interior do continente, ao encontrar o obstáculo formado pela cadeia de montanhas e ao alcançar alturas mais elevadas, resfriam-se, perdendo parte da umidade que possuem. O excesso desta umidade condensa e precipita na forma de nevoeiro ou chuva contribuindo assim para o alto índice pluviométrico. Em função da mata atlântica estar distribuída em diferentes re- Você sabia... que o Pau-brasil foi declarada a Árvore Nacional pela Lei Federal nº6607, de 07.12.78, instituindo o dia do Pau-Brasil em 03 de maio. Serrapilheira A temperatura também varia bastante, os estratos superiores se aquecem durante o dia e perdem calor rapidamente à noite. Já nas camadas inferiores, a temperatura varia muito pouco, pois as folhas funcionam como isolante térmico. Outro aspecto importante a ser considerado é a ventilação. Esta, nos estratos mais altos, possui valores consideravelmente maiores que nas camadas inferiores da mata, uma vez que estão mais expostas às condições externas. Neste sentido, o importante para cada espécie e cada indivíduo não é necessariamente o clima geral da região em que a mata está inserida, mas sim o clima ao qual estão sujeitos (microclima). O solo no qual a mata atlântica se desenvolve está relacionado com a região do país ao qual ela está inserida. De maneira geral, o solo não é muito fértil e a sua riqueza em nutrientes depende da presença da serrapilheira. Esta é uma camada que se forma sobre Ciclo planta-solo o solo constituída de folhas, galhos, frutos e restos de animais em diferentes graus de decomposição. Este processo é realizado por microorganimos de vários grupos, os quais decompõem a matéria orgânica que se incorpora ao solo. Os nutrientes liberados pela decomposição são reabsorvidos pelo grande número de raízes das árvores existentes, retornando ao solo, quando as plantas ou suas partes (ramos, folhas, flores, frutos e sementes) caem. Deste modo, forma-se um ciclo plantasolo, responsável pela manutenção da vegetação exuberante em solos nem sempre férteis. Mata Atlântica giões brasileiras, são variados também os tipos de climas ocorrentes, entre eles subtropical, tropical e equatorial. Mesmo que estes ecossistemas estejam submetidos a um clima geral, existem diversos microclimas que variam no seu interior. O microclima pode ser definido como um clima local restrito ou isolado de uma área. A copa das árvores, por ser o primeiro estrato, acumula a maior parte da radiação solar. À medida que se vai em direção ao chão, a energia solar diminui, o ambiente torna-se mais fresco e com menor luminosidade, formando assim diferentes microclimas nos demais estratos. 5 Portugueses chegam ao país do pau-brasil Mata Atlântica Histórico da Mata Atlântica 6 Quando os europeus aqui chegaram, a floresta já era habitada por grupos indígenas que utilizavam a terra, em harmonia com a vida vegetal e animal existente. Em contrapartida, a relação que os colonizadores tiveram com a floresta e seus recursos naturais foi desde o início predatória. Durante os séculos iniciais da colonização portuguesa, o paubrasil foi a espécie mais explorada. A nova colônia de Portugal, “Terra Brasilis”, como ficou conhecida, teve a origem de seu nome ligada diretamente à exploração do pau-brasil e, portanto, ao início da destruição da Mata Atlântica. A exploração da Mata Atlântica não se limitou ao pau-brasil, muitas espécies de árvores foram levadas para a Europa, madeiras de alto valor como tapinhoã, canela, canjerana e jacarandá foram utilizadas para a construção de navios, casas, equipamen- tos e outros usos. Nas terras férteis existente em algumas regiões do território brasileiro (nordeste, sudeste), onde predominava a Mata Atlântica, parte da floresta foi derrubada e, em seu lugar, surgiam imensas áreas de monoculturas como: cana-de-açúcar, café e cacau. Grande parte da madeira retirada da mata foi utilizada nos fornos a lenha, usados nos engenhos no processo de produção de açúcar, outras serviram para fabricar os Você sabia... que ao todo são 307 municípios do Estado da Bahia inseridos no Bioma Mata Atlântica? caixotes que levavam produtos extraídos aqui no Brasil para a Europa. Foi também uma época de muitas queimadas. Esta era uma atividade bastante comum, pois a mata era densa, de difícil acesso e a queimada facilitava a limpeza dos terrenos para que fossem utilizados pelo homem. Além da exploração dos recursos florestais, também houve um expressivo comércio exportador de penas, plumas, cascos de Você sabia... que algumas árvores de pau-brasil eram tão grossas que três homens não conseguiam abraçar seus troncos? Vegetação A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas em biodiversidade no planeta, ela detém o recorde de plantas por hectare (450 espécies no Sul da Bahia), cerca de 20 mil espécies vegetais, sendo 8 mil delas endêmicas*. Cada espécie possui estruturas e composições florísticas diferenciadas. Nesta cartilha, serão abordadas algumas espécies freqüentemente encontradas no nordeste brasileiro. Pau-brasil (Caesalpinia echinata) Os frutos desta espécie são pontiagudos, não podem ficar muito tempo expostos e assim que caem precisam se fixar no solo, do contrário perdem seu poder germinativo*, tem a função de proteger as sementes contra predadores como periquitos e maritacas. Nos meses de novembro a janeiro, encontram-se nas árvores frutos maduros. Sua florescência ocorre no final do mês de setembro e proMapa da exploração do Pau Brasil longa-se até meados do mês de outubro, desta forma coincide com o final da época seca. A variação de temperatura e dos índices pluviométricos são determinantes no seu processo germinativo*. Alcança alturas superiores a 20 metros. Uma das formas de reconhecer esta espécie é observando os espinhos que ela possui na casca de seu tronco. Mata Atlântica tartarugas, couros e peles de animais como onças, veados, lontras, cutias, pacas, cobras, jacarés, antas entre outros animais. Por conta dos vários séculos de exploração, grande parte do solo da Mata Atlântica empobreceu. Naquela época, não era percebida a importância dos benefícios ambientais que a vegetação florestal nativa possuía e somente a madeira era valorizada. Como pode se perceber a Mata Atlântica passou por várias fases de exploração, e ainda hoje, grandes áreas florestadas sofrem com o desmatamento, fragmentação, além de serem utilizadas para agricultura, áreas de pasto e assentamentos urbanos. A mata atlântica cobre atualmente menos de 8% da cobertura original que era encontrada na época do descobrimento (cerca de 1.360.000km2). A maioria das matas consideradas como primárias* atualmente encontram-se sob a proteção das unidades de conservação*. 7 Mata Atlântica 8 A árvore é encontrada desde o estado do Ceará até o Rio de Janeiro. Seu nome está relacionado à sua utilização, tingimento de tecidos, realizada por meio do cozimento de sua casca. Jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra) Suas flores são brancoamareladas, perfumadas e dispostas em cachos, florescendo nos meses de setembro a maio. Os frutos amadurecem de maio a janeiro. Sua madeira é pesada, possui tronco tortuoso com uma casca pardo-acinzentada e áspera. A copa é densa e larga, e a altura máxima é de aproximadamente 20 metros. Esta espécie, além de ser encontrada na Bahia também ocorre no sudeste brasileiro. O jacarandá-da-bahia não tolera frio, e suas sementes são dispersadas pelo vento. Brauna-preta (Melanoxylon brauna) A brauna-preta é apreciada por sua beleza, principalmente pelas flores amarelas que se for- mam a partir de cachos na extremidade de ramos. Sua altura varia entre 15 a 25 metros. Também é conhecida pelos nomes de Guaraúna e Muiraúna. É uma das mais duras madeiras-de-lei brasileiras, resistindo por dezenas de anos, mesmo enterrada, sem apodrecer. Possui tronco de coloração acastanhada, mas à medida que envelhece, vai escurecendo. Do seu tronco são extraídas substâncias utilizadas para curtir couros. Pode-se também extrair tinta preta, além de sua seiva ser aproveitada na medicina e na indústria. Ipê-rosa (Tabebuia impetiginosa) O tempo de floração do Ipê vai do mês de julho a outubro e de frutificação de agosto a novembro. As flores possuem forma de sino. Já a folha possui nervuras e seu gosto é amar- go. O fruto é escuro e contém sementes que são levadas pelo vento. O desenvolvimento do ipêrosa é lento a moderado. Essa árvore é utilizada para construção, carvão, arborização urbana, paisagismo e medicina. Ipê-rosa (Tabebuia impetiginosa) Piaçava (Attalea funifera Martius) disso, é utilizada em cobertura de casas, pois funciona como excelente isolante térmico. As folhas são usadas para fazer chapéus de palha e bolsas. A amêndoa é aproveitada pela população costeira da Bahia como alimento (canjica, por exemplo), também se presta à produção de óleo. Pode também ser uma ex- celente opção como carvão vegetal. O bagaço é destinado à indústria de papelão, e da casca do fruto (coco) faz-se “farinha de satim”, utilizada no preparo de cuscuz e mingaus. Sapucaia (Lecythis pisonis) Essa árvore possui de 15 a 25 m de altura, copa densa e ampla, tronco reto, casca espessa, dura e de coloração pardo-escura. Suas folhas são parcialmente renovadas na seca, sendo que quando novas, apresentam coloração rósea muito atraente. As flores são grandes e de coloração brancoarroxeadas. A floração ocorre nos meses de setembro e outubro e a frutificação de novembro a maio. O fruto pode chegar a 25 cm de diâmetro e conter até 20 sementes, em torno de 6 cm de comprimento. As sementes são castanhas comestíveis e de sabor agradável. Sua madeira pode ser usada em estruturas da construção civil. O fruto é utilizado para se fazer potes e vasos. Mata Atlântica Piaçava (Attalea funifera Martius) Essa palmeira se desenvolve bem em solos de baixa fertilidade, porém exigem clima quente e úmido. O nome piaçava ou piaçaba, como também é conhecido, é de origem tupi que significa “planta fibrosa” com a qual se faz utensílios caseiros. Essa palmeira nativa e endêmica do Sul da Bahia foi citada na carta de Pero Vaz de Caminha quando o Brasil foi descoberto, entretanto, não foi falado do seu uso. Durante o período colonial, os navegadores utilizavam suas fibras para fabricação de cordas utilizadas como amarra de navios, por oferecerem mais segurança às embarcações. Até hoje essa palmeira é conhecida pelas muitas formas de utilizá-la: Das fibras ainda fazem cordas para amarrar navios e também vassouras, escovas, cestos, alçapões de pesca, balaios, invólucros para garrafões e moringas. Além 9 Mata Atlântica 10 Palmito Juçara (Euterpes edulis) Essa espécie é uma das mais importantes da mata atlântica, seu valor não está em sua madeira mais sim em seu fruto, o palmito. Para o desenvolvimento do palmiteiro são necessárias algumas exigências básicas como: sombra e umidade presente no ar e no solo. Suas sementes são muito sensíveis à perda da umidade, e por isso essas exigências são fundamentais para a evolução e permanência desta espécie. Os palmiteiros produzem frutos durante 6 meses do ano e são muito procurados por animais que vivem na mata como macacos, veado-mateiro, pacas, cutias e até aves, como o sabiá. Cabe lembrar que todos estes são responsáveis pela dispersão das sementes dessa Palmito Juçara (Euterpes edulis) espécie, contribuindo assim no aumento da biodiversidade. O homem também pode contribuir nesse processo. Esta contribuição se dá pela reposição das várias espécies presentes na mata, e pode ser feita por meio do plantio de frutos, sementes, mudas de raízes nuas, mudas em embalagens plásticas, ou em tubetes*. Quando feita com frutos ou sementes, estes podem ser colocados na superfície ou enterrados no solo. Existe uma relação de interdependência entre o homem o palmiteiro e os animais. O homem com a venda do Palmito complementa sua renda familiar e os animais têm sua semente como alimento. Dessa forma é necessário manter o equilíbrio da quantidade de palmiteiros, do contrário, muitos animais não terão do que se alimentar e nem como dispersar suas sementes e o homem com a diminuição da quantidade de palmiteiros, poderá ficar sem o seu sustento. Assim, além de recompor as áreas de palmitais, também é necessário cumprir as leis de proteção existentes para a mata atlântica. Palmito Juçara (Euterpes edulis) Você sabia... que quanto mais distante a Mata Atlântica estiver do equador, mais ela se difere da vegetação amazônica devido à redução da temperatura. Bromélia terrícola (Aechmea spp.) Adaptação da vegetação amento da água, evitando o acúmulo e a permanência prolongada na planta, pois o excesso pode causar o apodrecimento de seus tecidos. Geralmente a energia solar é absorvida pelas árvores mais altas, por conta disso, as plantas que se encontram nos extratos inferiores normalmente possuem folhas grandes, para aumentar a superfície de captação de luz, possibilita assim, um maior aproveitamento. Existem certas plantas conhecidas como epífitas (epi= sobre; fito= planta) e lianas. Estas crescem sobre outras plantas, denominadas como hospedeira*, utilizando seus troncos e folhas como ponto de fixação. Não são prejudiciais e nem parasitas, pois não retiram nutrientes da planta a qual está fixada e ainda retribuem o abrigo atraindo animais polinizadores, como o beija-flor. As epífitas, bromélias, orquídeas, cactáceas, entre outras, não retiram seus nutrientes do solo, elas vivem perfeitamente adaptadas nos troncos das árvores. Suas adaptações estão relacionadas ao armazenamento de água em suas folhas ou, como no caso das bromélias, possui um reservatório de água no seu centro, que serve de moradia e local para alimentação e reprodução de muitos animais. Estes reservatórios podem ser utilizados também por algas, protozoários*, vermes e anfíbios como a perereca. Mata Atlântica Para viver em um ambiente que possui condições ambientais tão diversificadas, é necessário que algumas espécies desenvolvam estratégias e adaptações especiais para conseguir evoluir. Vale lembrar, que as estratégias desenvolvidas pelas plantas são diferentes, o que possibilita a existência de uma grande variedade de espécies em um mesmo local além de permitir sua sobrevivência em áreas não muito favoráveis. Sendo assim, as espécies, podem estar adaptadas a um mesmo ambiente, e possuírem formas distintas. Por exemplo, umas podem apresentar folhas grandes e outras, nas mesmas circunstâncias, apresentar folhas com cera. Isso explica a alta diversidade de formas encontradas em condições de ambiente similares dentro da mesma mata. As folhas em ambientes muito úmidos, ficam em posição inclinada, são cobertas por cera, geralmente são pontiagudas, longas e de superfície lisa. Estas adaptações facilitam o esco- 11 Folha umidecida pela Mata Atlântica Mata Atlântica Ipê-amarelo 12 São comuns ainda na mata atlântica as raízes tabulares* e escoras*, que são adaptações utilizadas para a captação de oxigênio do ar, pois a taxa de oxigênio do solo é pequena. Além disso, os solos que possuem muita umidade não proporcionam uma boa fixação para a planta, deste modo, as raízes tabulares contribuem no aumento da base de sustentação. O tronco de algumas espécies não se ramifica nos primeiros anos de vida, entretanto precisam expor sua copa a luz do sol, por isso, concentram sua energia no crescimento do tronco, economizando no desenvolvimento das ramificações. Neste sentido, as plantas com poucos ramos em uma mata densa, podem crescer mais em pequenos espaços, do que plantas com ramificações maiores. Existem plantas que suportam o fogo das queimadas, germinam e auxiliam na reconstituição da floresta. Outras espécies como os manacás-da-serra e quaresmeiras produzem um grande número de minúsculas sementes que são carregadas pelo vento e depositadas sobre áreas abertas da mata, contribuindo na reconstituição de áreas danificadas. Certas plantas não possuem flores muito atraentes, por isso apresentam modificações que funcionam como elementos de atração de polinizadores como besouros, abelhas, borboletas, aves e morcegos. Estas flores exalam cheiros atraentes que simulam a fêmea de algum animal, ou até desenvolvem e assumem colorações vivas com o mesmo propósito, atrair polinizadores. Algumas espécies produzem suas flores junto aos troncos, assim seus polinizadores podem encontrá-las com mais facilidade. No inverno, ipês e suinãs Beija-flor polinizando exibem suas flores coloridas no alto das copas ao mesmo tempo em que suas folhas caem, facilitando a visibilidade de seus polinizadores a longa distância. Há plantas que abrem no mesmo momento de atividade de seus polinizadores como, por exemplo, aquelas polinizadas por pequenos morcegos, que possuem hábitos noturnos. Existem ainda plantas que produzem frutos suculentos e coloridos, que alimentam muitos animais e distribuem suas sementes mais tarde por meio de suas fezes prontas para germinar. Outras produzem frutos que ao secar explodem lançando suas sementes a grandes distâncias. Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) Fauna Jaguatirica (Leopardus pardalis) color), jaguatirica (Leopardus pardalis), todos, necessitam de grandes áreas para viver. Além destes mamíferos, encontram-se também o cachorodo-mato (Cerdocyon thous) e outros caninos selvagens; alguns primatas*, como: macaco-prego (Cebus apella robustus), monocarvoeiro ou muriqui (Brachyteles aracnoides), e espécies de micoleões (gênero Leontopithecus) que dependem de grandes árvores para sua sobrevivência, pois no chão seriam presa fácil para outros animais. Além desses, encontram-se preguiça (Bradypus tridatylus); tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla); tatu-peludo (Euphractus villosus); capivara (Hydrochoerus hydrochoeris) - maior roedor do mundo, anta (Tapirus terrestris) - considerada o maior mamífero das Américas; gambás (gênero Didelphis), que possuem uma bolsa na qual ficam temporariamente seus filhotes. As aves são o grupo de vertebrados com maior número de espécies conhecidas do ecossistema mata atlântica. Dentre as principais espécies de aves podemos destacar: Macuco (Tinamus solitarius), Jacutinga (Penelope jacutinga); mutum-do-nordeste (Mitu mitu); papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensi); araponga (Procnias nudicollis); sabiápimenta (Carponis melanocephalus) e outras espécies de sabiás; Mata Atlântica Assim como os vegetais, a Mata Atlântica possui também uma grande variedade de animais. Atualmente são cerca de 2.168 espécies conhecidas de vertebrados, destes, 567 são endêmicos*; 261 espécies de mamíferos; 1020 de aves; 197 de répteis; 340 de anfíbios e 350 de peixes. É rica a quantidade de espécies de mamíferos encontrada na Mata Atlântica, principalmente de pequeno e médio porte. Das 261 espécies desse grupo, 55 são endêmicas, deste montante, grande parte é representado por morcegos e roedores. Podem ser encontradas espécies de felinos territorialistas* como: onça-pintada (Panthera onca), puma ou suçuarana (Puma con- 13 Mata Atlântica Jararaca (gênero Bothrops) 14 várias espécies de saíras (gênero Tangara); pixoxó (Sporophila frontalis); algumas espécies de gaviões; canário-da-terra (Sicalis flaveola) e outras espécies de canários. Estas e muitas outras aves desempenham importante papel no equilíbrio do ecossistema, entretanto, sofrem muito com a caça. Além disso, são procurados como alimento e principalmente como animais de estimação. Os répteis também são um grupo abundante neste ecossistema, dentre eles destacam-se: lagarto teiú (Tupinambis teguixin); cágado (Hydromedusa maximiliani); muitas espécies de cobras, como: sucuri (Eunectes murinus), jararacas (gênero Bothrops), corais-verdadeiras (gênero Micrurus), além das diversas espécies de falsas-corais e de cobras-cipós. As cobras possuem um papel importante no ecossistema, principalmente no controle da população de roedores, entretanto causam medo e repúdio em muitas pessoas. Cabe lembrar a que existem cobras peçonhentas, ou seja, venenosa e não peçonhentas. É importante ressaltar que na maioria dos casos de picadas de cobras, o animal apenas está se defendendo, se seu habitat não for invadido, o risco de acidentes diminuem consideravelmente. Apesar disso, é sempre preciso tomar cuidado com esses animais. A mata atlântica é muito rica em anfíbios, principalmente sapos, rãs e pererecas, cita-se como exemplo o sapo-cururu ou sapo comum (Bufo marinus). Geralmente habitam beiras de rios, lagos e lagoas, mas podem viver também na água acumulada dentro de bromélias, ocorrendo Sapo-cururu ou sapo comum (Bufo marinus) desta forma a interação entre plantas e animais. Esses animais possuem a pele úmida, e boa parte de sua respiração ocorre pela pele. É comum as pessoas não saberem diferenciar sapos, rãs e pererecas. Porém, cabe informar que as pererecas possuem ventosas nas pontas de seus dedos, e os sapos apresentam em sua pele glândulas de veneno, para inibir o ataque de possíveis predadores. Devido a essa característica do sapo, existem algumas lendas, uma afirma que Você sabia... que a cobra-cega ou Cecília não é um réptil e sim um anfíbio? tema. Se a mata atlântica for destruída, esses animais desaparecerão completamente, já que são encontrados somente neste ecossistema. Adaptação dos Animais Os animais podem apresentar adaptações interessantes para sobreviver em um determinado ecossistema. Estas podem ser estruturais, fisiológicas e até mesmo comportamentais. Na mata atlântica, podemos observar algumas dessas adaptações. É uma característica desse ecossistema a estratificação vegetal, com estratos bem definidos. Os animais muitas vezes possuem adaptações para a vida em um desses estratos. A maioria dos primatas de mata atlântica, por exemplo, vive no estrato mais alto, chamado de estrato arbóreo. Para isso, possuem o polegar opositor*, que dá firmeza para segurar nos galhos e se locomover no alto das árvores. Eles ainda podem possuir a cauda prensil*, que é utilizada para segurar em galhos e possibilitar a locomoção. A cauda prensil também é uma característica comum em gambás e cuícas, espécies que podem viver no chão e/ou nos galhos da floresta. Mata Atlântica esse animal esguicha seu veneno, e outra diz que o contato com sua urina pode causar irritação nos olhos e até cegar, entretanto, nenhuma dessas lendas condizem com a realidade. Encontra-se ainda a cobracega ou cecília (Amphisbaenia alba),um animal que vive enterrado no solo, de aparência estranha, mas totalmente inofensivo. O número de invertebrados também é muito grande. São inúmeras as espécies de mosquitos, moscas, abelhas nativas, formigas, borboletas, besouros, libélulas, aranhas, escorpiões, minhocas, lesmas e caramujos. Os estudos nesse grupo animal ainda são insatisfatórios, principalmente devido à falta de pesquisadores nessa área. É comum encontrar larvas de mosquitos e moscas vivendo na água acumulada em bromélias. O fato de existirem muitas espécies endêmicas da mata atlântica faz aumentar a importância da conservação desse ecossis- 15 Mata Atlântica Bicho preguiça 16 Os invertebrados também possuem adaptações para a vida nos diferentes estratos da mata atlântica. Algumas formigas apresentam adaptações em suas pernas e podem possuir asas, para alcançar estratos mais altos. Devido a essas adaptações, existem formigas que vivem no topo de grandes árvores, em estratos intermediários e no solo. Uma adaptação muito comum na mata atlântica é a camufla- gem*. Animais possuem seu padrão de coloração que podem o tornar quase imperceptível em seu ambiente. Isso ocorre em vários sapos, rãs e pererecas. Também é muito comum em répteis, como o padrão rajado das jararacas e a coloração de lagartos. Algumas aves apresentam cor parda, para dificultar sua captura por possíveis predadores. Mamíferos não fogem à regra. Muitos roedores possuem sua pelagem parda, o que faz com que se escondam muito bem em meio às folhas caídas no chão. Até mesmo o puma ou onça-parda se aproveita de sua coloração, ficando à espreita e muitas vezes atacando sua presa sem que ela o perceba no ambiente. Esse tipo de adaptação, relacionada à coloração, e também muito comum em invertebrados, como mariposas e borboletas. Outro exemplo interessante é o camaleão, que pode alterar sua coloração em certo grau, de acordo com o ambiente que se encontra. Algumas aranhas também se camuflam, as- sumindo a forma semelhante a uma flor. O bicho-pau se faz passar por um galho de uma planta. A mata atlântica apresenta densas florestas onde há pouca entrada de luz, por esse motivo a visão de alguns animais fica prejudicada. Portanto alguns mamíferos, como o cachorro-do-mato e a maioria dos felinos, apresentam seu olfato e sua audição mais aguçados. Devido à grande biodiversidade da mata atlântica, e conseqüentemente, à grande quantidade de predadores, os animais desenvolveram estratégias de sobrevivência. A cor viva e chamativa de alguns indivíduos pode estar avisando que eles possuem Cachorro-do-mato Tatu Você sabia... que o pau-cigarra (Senna multijuga) recebe este nome, pois é muito procurada por tatus, que fazem buracos na base do tronco, procurando ninfas de cigarra escondidas? Importância · Habitat de várias espécies animais; · Abastecimento de lençóis freáticos; · Melhor aproveitamento da água da chuva no solo; · Evita grandes variações de temperatura; · Mantém a umidade do ar; · Fonte de alimentos e outros recursos importantes (medicamentos, artesanato); · Habitat de animais controladores de pragas, polinizadores e dispersores de sementes. Mata Atlântica certa toxidade ou são venenosos. Cita-se como exemplo a cobra coral e algumas espécies de sapos com cores vivas. A competição nesse ecossistema é grande, tanto por alimento e território, quanto para a reprodução. Em aves, a coloração das penas, juntamente com o canto, é determinante na escolha de um macho pelas fêmeas. A mata atlântica possui muitos rios e lagos habitados pela lontra e ariranha. Esses animais possuem o corpo hidrodinâmico, que facilita a movimentação na água, para a busca de alimentos e a fuga de predadores. Tamanduás e tatus não apresentam dentes. Em compensação, possuem uma língua muito grande e fina, que parece uma cola. Eles conseguem colocar sua língua dentro dos inúmeros formigueiros e cupinzeiros presentes ao longo da floresta, e se alimentar das muitas espécies de formigas, cupins e outros insetos que vivem no solo. As adaptações surgem nas espécies ao longo de milhares de anos de evolução, e contribuem para que elas tenham maior capacidade de sobreviver e se reproduzir em seu habitat natural. 17 Problemas Mata Atlântica • Exploração indevida de espécies animais e vegetais; • Desmatamento e queimadas; • Poluição do solo e da água; • Erosão do solo, causadas pelo desmatamento; • Deposição de lixo. Uso sustentável Turismo ecológico; Esportes radicais; Educação ambiental; Uso racional de recursos alimentares; • Exploração racional de plantas medicinais; • Criação de unidades de conservação. • • • • Proteção legal - Lei Nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006, Dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, e dá outras providências. - Art.225,§4º, Constituição Federal: considera a Floresta Atlântica (Mata Atlântica) como patrimônio nacional. - Decreto 750/93, dispõe sobre o corte, a exploração e a supressão de vegetação primário ou nos estágios avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica, e da outras providências; 18 Pau-brasil cortado Referências Mata Atlântica A restauração da mata atlântica em áreas de sua primitiva ocorrência natural / Antônio Paulo Mendes Galvão e Antônio Carlos de Souza Medeiros (editores técnicos). Colombo; Embrapa Florestas, 2002. Ministério do Meio Ambiente - MMA, 2000. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Sulinos. Brasília. ODUM, E. P., 1988. Ecologia. Editora Guanabara Koogan S.A. Rio de Janeiro. REIS, N. R.; PERACCHI, A.L.; PEDRO, W. A.; LIMA, I. P., 2006. Mamíferos do Brasil. Londrina. FERNANDEZ, F., 2004. O Poema Imperfeito. Editora UFPR. 2ª edição. Curitiba. UZUNIAN, A.; BIRNER, E., 2001. Biologia. Editora Harbra. Vol. único São Paulo. IBAMA, Disponível em: http://www.ibama.gov.br/, acessado Julho de 2007. MMA, Disponível em: http://www.mma.gov.br, acessado em Julho de 2007. SOS MATA ATLANTICA, Disponível em: http://www.sosmatatlantica.org.br/, acessado em Julho de 2007. Disponível em: http://www.ib.usp.br/ecosteiros/textos_educ/mata/intro/introducao.htm, acessado em Julho de 2007. Disponível em: http://www.suapesquisa.com/mundoanimal/, acessado em Julho de 2007. Disponível em: http://www.aultimaarcadenoe.com.br/ladob.html, acessado em Julho de 2007. Disponível em: http://www.tomdamata.org.br/mata/animaismata.asp, acessado em Julho de 2007. Disponível em: http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/meioamb/ecossist/atlantic/index., acessado em Julho de 2007. Disponível em: http://www.sefloral.com.br/mamiferos03.htm, acessado em Julho de 2007. Disponível em: http://legislacao.planalto.gov.br/legislacao.nsf, acessado em Julho de 2007. http://globorural.globo.com Barachisio Lisbôa Casali. Disponível em http://www.ceplac.gov.br/radar/piacava.htm, acessado em julho de 2007. www.floraefauna.com, acessado em julho de 2007. www.ambientebrasil.com.br, acessado em julho de 2007. www.alpha46.com.br/Arvores/brauna_preta.htm, acessado em julho de 2007. http://www.arvores.brasil.nom.br/textos/local.htm, acessado em julho de 2007. http://www.ipef.br/identificacao/nativas http://www.tomdamata.org.br/ 19 Glossário Acúleo: pico que apresentam algumas plantas (roseira, etc.); Arenosos: coberto ou misturado com areia; saibroso. Argilosos: da natureza da argila; que tem muita argila. Camuflagem: capacidade de tornar-se imperceptível no meio onde se encontra. Dispersadas: destroçar; afugentar; espalhar; disseminar; derramar; Endêmico: é o nome que se dá ao fato de uma ou mais espécies existirem apenas em uma determinada área. Florescência: ato de florescer; inflorescência; expansão; Geoclimáticas: diz respeito ao clima associado com características físicas do ambiente (relevo, altitude, etc.) Habitat: conjunto de condições geofísicas de um lugar específico onde se desenrola a vida de uma espécie ou de uma comunidade animal ou vegetal. Infrutescência: forma de frutificação e disposição dos frutos; conjunto dos frutos resultantes de uma inflorescência. Lençol freático: água encontrada no subsolo, que abastece os curós de água, como rios e córregos. Líquens: Os líquens são seres vivos muito simples formados pela associação de fungo e alga. Pedúnculo: suporte da flor ou fruto; prolongamento. Perene: aquilo que é permanente, que dura muitos anos. Pluvial: Relativo à chuva. Prensil: que pode pressionar e segurar objetos, como as nossas mãos ou a cauda de um macaco. Primatas: ordem de mamíferos a que pertence o homem e todos os macacos. Caracterizados pela presença de mãos com cindo dedos, polegar opositor (em ângulo oposto aos outros dedos) e forte cuidado parental com os filhotes. Sustentável: diz-se do desenvolvimento industrial e econômico e uso dos recursos naturais sem impactos à natureza. Tanino: substância adstringente que se encontra na casca do carvalho, do eucalipto e noutros vegetais. Territorialistas: que ocupam um determinado território, geralmente demarcando com urina ou de outra forma, e protege o território, não permitindo que outro animal invada seu espaço. Unidades de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. EXPEDIENTE: Textos: Ana Paula Freitas Plácido, Marcos Pires de Moraes e Roberta Alencar • Fotos: (BIOLOGO) e Ricardo Abreu • Ilustrações: Chico Caprario • Diagramação: Evandro Duarte