Frame Relay Este tutorial apresenta os conceitos básicos do protocolo Frame Relay, suas características e aplicações. Huber Bernal Filho Engenheiro de Teleco (MAUÁ 79), tendo atuado nas áreas de Redes de Dados e Multisserviços, Sistemas Celulares e Sistemas de Supervisão e Controle. Ocupou posições de liderança na Pegasus Telecom (Gerente - Planejamento de Redes), na Compaq (Consultor - Sistemas Antifraude) e na Atech (Coordenador - Projeto Sivam). Atuou também na área de Sistemas de Supervisão e Controle como coordenador de projetos em empresas líderes desse mercado. Tem vasta experiência internacional, tendo trabalhado em projetos de Teleco nos EUA e de Sistemas de Supervisão e Controle na Suécia. Atualmente dedica-se à Teleco e à prestação de serviços de consultoria em telecomunicações. Email: [email protected] Categoria: Banda Larga Nível: Introdutório Enfoque: Técnico Duração: 20 minutos Publicado em: 21/07/2003 1 Frame Relay: O que é O Frame Relay é uma tecnologia de comunicação de dados de alta velocidade que é usada em muitas redes ao redor do mundo para interligar aplicações do tipo LAN, SNA, Internet e Voz. Basicamente pode-se dizer que a tecnologia Frame Relay fornece um meio para enviar informações através de uma rede de dados, dividindo essas informações em frames (quadros) ou packets (pacotes). Cada frame carrega um endereço que é usado pelos equipamentos da rede para determinar o seu destino. A tecnologia Frame Relay utiliza uma forma simplificada de chaveamento de pacotes, que é adequada para computadores, estações de trabalho e servidores de alta performance que operam com protocolos inteligentes, tais como SNA e TCP/IP. Isto permite que uma grande variedade de aplicações utilize essa tecnologia, aproveitando-se de sua confiabilidade e eficiência no uso de banda. Histórico No fim da década de 80 e início da década de 90, vários fatores combinados demandaram a transmissão de dados com velocidades mais altas: A migração das interfaces de texto para interfaces gráficas; O aumento do tráfego do tipo rajada (bursty) nas aplicações de dados; O aumento da capacidade de processamento dos equipamentos de usuário (PCs, estações de trabalho, terminais Unix, entre outros); A popularização das redes locais e das aplicações cliente / servidor; A disponibilidade de redes digitais de transmissão. Nessa época o Bell Labs (EUA) desenvolvia a tecnologia ISDN e o protocolo Frame Relay era parte desse conjunto. Entretanto, devido a suas características, o protocolo foi desmembrado e evoluiu como um serviço de rede independente, com padrões e recomendações elaborados por órgão internacionais de Telecomunicações. Rede Frame Relay Uma rede Frame Relay é composta por: Equipamentos de usuários (PCs, estações de trabalho, servidores, computadores de grande porte, etc.) e suas respectivas aplicações; Equipamentos de acesso com interface Frame Relay (bridges, roteadores de acesso, dispositivos de acesso Frame Relay - FRAD, etc.); Equipamentos de rede (switches, roteadores de rede, equipamentos de transmissão com canais E1 ou T1, etc.). A conversão dos dados para o protocolo Frame Relay é feita pelos equipamentos de acesso. Os frames gerados são enviados aos equipamentos de rede, cuja função é basicamente transportar esse frames até o seu destino, usando os procedimentos de chaveamento ou roteamento próprios do protocolo. A rede Frame Relay é sempre representada por uma nuvem, já que ela não é uma simples conexão física entre 2 pontos distintos. A conexão entre esses pontos é feita através de um circuito virtual (virtual circuit) configurado com uma determinada banda. A alocação de banda física na rede é feita pacote a pacote, 2 quando da transmissão dos dados. A figura a seguir apresenta uma rede Frame Relay. Vantagens e Restrições A tecnologia Frame Relay oferece vários benefícios, quando comparada com outras tecnologias: Custo de propriedade reduzido (equipamentos mais simples); Padrões estáveis e largamente utilizados, o que possibilita a implementação de plataformas abertas e plug-and-play; Overhead reduzido, combinado com alta confiabilidade; Redes escaláveis, flexíveis e com procedimentos de recuperação bem definidos; Interoperabilidade com outros protocolos e aplicações, tais como ATM e TCP/IP. Entretanto, para as vantagens do Frame Relay serem efetivas, 2 requisitos devem ser atendidos: Os equipamentos de usuário devem utilizar aplicações com protocolos inteligentes, que controle o fluxo das informações enviadas e recebidas; A rede de transporte deve ser virtualmente a prova de falhas. 3 Frame Relay: Características O protocolo Frame Relay é resultado da combinação das funcionalidades de multiplexação estatística e compartilhamento de portas do X.25, com as características de alta velocidade e baixo atraso (delay) dos circuitos TDM. O Frame Relay é um serviço de pacotes que organiza as informações em frames, ou seja, em pacotes de dados com endereço de destino definido, ao invés de coloca-los em slots fixos de tempo, como é o caso do TDM. Este procedimento permite ao protocolo implementar as características de multiplexação estatística e de compartilhamento de portas. Considerando o modelo OSI para protocolos, o Frame Relay elimina todo o processamento da camada de rede (layer 3) do X.25. Apenas algumas funcionalidades básicas da camada de enlace de dados (layer 2) são implementadas, tais como a verificação de frames válidos, porém sem a solicitação de retransmissão em caso de erro. Desta forma, as funcionalidades implementadas nos protocolos de aplicação, tais como verificação de seqüência de frames, o uso de frames de confirmações e supervisão, entre outras, não são duplicadas na rede Frame Relay. A figura a seguir mostra o uso do modelo em camadas para o Frame Relay e suas aplicações. A eliminação dessas funcionalidades simplifica o protocolo, permite altas taxas de processamento de frames e, conseqüentemente, um atraso (delay) menor que o do X.25, embora seja maior que o do TDM, que não tem nenhum processamento associado. Para permitir a eliminação de tais funcionalidades da rede Frame Relay, os equipamentos de usuários devem garantir a transmissão de informações fim-a-fim sem erros. Felizmente, a maioria desses equipamentos, principalmente aqueles destinados a aplicações do tipo LAN, já tem inteligência e capacidade de processamento para executar essa funcionalidade. 4 A tabela a seguir apresenta uma comparação entre os circuitos TDM, o protocolo X.25 e o Frame Relay. TDM X.25 Frame Relay Multiplexação em Tempo sim não não Multiplexação Estatística (Circuito Virtual) não sim sim Compartilha portas não sim sim Alta velocidade (por $) sim não sim muito baixo alto baixo Atraso (delay) Circuitos Virtuais (Virtual Circuits) A tecnologia Frame Relay é baseada no uso de Circuitos Virtuais (VC's). Um VC é um circuito de dados virtual bidirecional configurado entre 2 portas quaisquer da rede, que funciona como um circuito dedicado. Existem 2 tipos de VC's, conforme descrito a seguir: 1) Permanent Virtual Circuit (PVC) O PVC foi primeiro tipo de circuito virtual padronizado para o Frame Relay a ser implementado. Ele é configurado pelo operador na rede através do sistema de Gerência de Rede, como sendo uma conexão permanente entre 2 pontos. Seu encaminhamento através dos equipamentos da rede pode ser alterado ao longo do tempo devido à falhas ou reconfigurações de rotas, porém as portas de cada extremidade são mantidas fixas e de acordo com a configuração inicial. A configuração dos PVC's requer um planejamento criterioso para levar em consideração o padrão de tráfego da rede e o uso da banda disponível. Sua utilização é destinada a aplicações permanente e de longo prazo e são uma alternativa aos circuitos dedicados dos sistemas TDM com boa relação custo / benefício. 2) Switched Virtual Circuit (SVC) O SVC também foi padronizado para o Frame Relay desde o princípio, mas só foi implementado mais recentemente, quando surgiram novas demandas de mercado. Ele é disponibilizado na rede de forma automática, sem intervenção do operador, como um circuito virtual sob demanda, para atender, entre outras, as aplicações de Voz que estabelecem novas conexões a cada chamada. O estabelecimento de uma chamada usando o protocolo de sinalização do SVC (ITU-T Q.933) é comparável ao uso normal de telefone, onde a aplicação de usuário especifica um número de destinatário para completar a chamada, e o SVC é estabelecido entre as portas de origem e destino. O estabelecimento de SVC's na rede é mais complexo que os PVC's, embora seja transparente para o usuário final. A conexões devem ser estabelecidas de forma dinâmica na rede, atendendo as solicitações de destino e banda das diversas aplicações de usuários, e devem ser acompanhadas e cobradas de acordo com o serviço fornecido. Enquanto o PVC oferece o ganho relativo ao uso estatístico de banda do Frame Relay, o SVC propicia a 5 conectividade entre quaisquer pontos de origem e destino, o que resulta em flexibilidade e economia para o projeto da rede. Estrutura do Frame O protocolo do Frame Relay utiliza um frame com estrutura comum e bastante simplificada, conforme demonstram a figura e a descrição a seguir: Estrutura do frame FLAG CABEÇALHO INFORMAÇÃO DE USUÁRIO FCS FLAG Estrutura do cabeçalho Byte 1 DLCI 8 7 C/R EA 6 5 4 3 Flags Cabeçalho 2 1 Byte 2 FE BE DLCI DE EA CN CN 8 7 6 5 4 3 2 1 Indicam o início e o fim de cada frame. Carrega as informações de controle do protocolo. É composto por 2 bytes com as seguintes informações: DLCI (Data Link Connection Identifier), com 10 bits, representa o número (endereço) designado para o destinatário de um PVC dentro de um canal de usuário, e tem significado local apenas para a porta de origem (vide figura abaixo); C/R (Command / Response), com 1 bit, é usado pela aplicação usuária; FECN (Foward Explicit Congestion Notification), com 1 bit, é usado pela rede para informar um equipamento receptor de informações que procedimentos de prevenção de congestionamento devem ser iniciados; BECN (Backward Explicit Congestion Notification), com 1 bit, é usado pela rede para informar um equipamento transmissor de informações que procedimentos de prevenção de congestionamento devem ser iniciados; DE (Discard Eligibility Indicator), com 1 bit, indica se o frame pode ser preferencialmente descartado em caso de congestionamento na rede; EA (Extension Bit), com 2 bits, é usado para indicar que o cabeçalho tem mais de 2 bytes, em caso especiais; Informação de usuário Contém as informações da aplicação usuária a serem transportadas através da rede Frame Relay. FCS O FCS (Frame Check Sequence) representa o CRC padrão de 16 bits usado pelo protocolo Frame Relay para detectar erros existentes entre o Flag de início do frame e o próprio FCS, e pode ser usado apenas para frames com até 4096 bytes. A figura a seguir exemplifica DLCI's configurados a partir de uma mesma porta para vários destinatários em 6 locais distintos da rede. Além disso, os frames podem ter comprimento variável e, dependendo do tipo de informação da aplicação do usuário, seu tamanho pode variar de alguns poucos até milhares de caracteres. Esta funcionalidade, similar ao X.25, é essencial para a interoperabilidade com aplicações do tipo LAN e outros tipos de tráfego síncrono. Essa facilidade, porém, faz com que o atraso (delay) varie em função do tamanho do frame. Entretanto, a tecnologia Frame Relay tem sido adaptada para atender até mesmo as aplicações sensíveis a atraso (delay), como é o caso da Voz. Fluxo das informações O fluxo básico das informações em uma rede Frame Relay é descrito a seguir: As informações são enviadas através da rede Frame Relay usando o DLCI, que especifica o destinatário do frame; Se a rede tiver algum problema ao processar o frame devido à falhas ou ao congestionamento nas linhas de dados, os frames são simplesmente descartados; A rede Frame Relay não executa a correção de erros, pois ela considera que o protocolo da aplicação de usuário executa a recuperação de falhas através da solicitação de retransmissão dos frames perdidos; A recuperação de falhas executada pelo protocolo da aplicação, embora confiável, apresenta como resultado o aumento do atraso (delay), do processamento de frames e do uso de banda, o que torna imprescindível que a rede minimize o descarte de frames; A rede Frame Relay requer circuitos da rede de transmissão com baixas taxas de erros e falhas para apresentar boa eficiência; Em redes de transmissão de boa qualidade, o congestionamento é de longe a causa mais freqüente de descarte de frames, demandando da rede Frame Relay a habilidade de evitar e reagir rapidamente ao congestionamento como forma de determinar a sua eficiência. 7 Frame Relay: Sinalização Embora o protocolo Frame Relay tenha sido desenvolvido para ser o mais simples possível, e a sua premissa básica determinar que os eventuais problemas de erros da rede deveriam ser resolvidos pelos protocolos dos equipamentos de usuário, surgiram ao longo do tempo necessidades que levaram os órgão de padronização a definir mecanismos de sinalização para três tipos de situações: Aviso de congestionamento; Estado das conexões; Sinalização SVC. Entretanto, a implementação desses mecanismos é opcional e, embora a rede seja mais eficiente com a sua adoção, os equipamentos que não os implementam devem atender pelo menos as recomendações básicas do Frame Relay. Aviso de Congestionamento A capacidade de transporte da Rede Frame Relay é limitada pela sua banda disponível. Conforme o tráfego a ser transportado aumenta, a banda vai sendo alocada até o limiar onde não é possível receber o tráfego adicional. Quando atinge esse limiar, a rede é considerada congestionada, embora ainda possa transportar todo o tráfego entrante. Caso os equipamentos de usuário continuem a enviar tráfego adicional, a rede é levada ao estado de congestionamento severo, o que provoca a perda de pacotes por falta de banda. Nesse estado, os procedimentos de reenvio de pacotes perdidos dos equipamentos usuários concorrem com o tráfego existente e a rede entra em acentuado processo de degradação. Para evitar esse tipo de situação, foram definidos os seguintes mecanismos de aviso de congestionamento: 1) Aviso Explícito de Congestionamento Este mecanismo utiliza os bits FECN e BECN do cabeçalho do frame, descrito anteriormente, para avisar os equipamentos de usuários sobre o estado da rede. A figura abaixo ilustra um exemplo onde o equipamento B está atingindo o estado de congestionamento, como resultado de um pico temporário de tráfego entrante, oriundo de vários equipamentos, ou de um congestionamento no tronco que interliga B e C. 8 A identificação do congestionamento é feita pelo equipamento B, baseado no estado de seus buffers internos ou no tamanho de suas filas de frames a enviar. Nesse momento B ativa o bit FECN nos frames a serem enviados para avisar que a rede está congestionada. Desta forma todos os equipamentos de rede e de usuário envolvidos no caminho entre B e o destino dos DLCIs afetados tomam conhecimento desse fato. Dependendo da inteligência do protocolo da aplicação de usuário, procedimentos de recuperação de falha podem ser iniciados. Além de informar os equipamentos de destino, B ativa também o bit BECN. Novamente, todos os equipamentos de rede e de usuário envolvidos no caminho entre B e a origem dos DLCIs afetados tomam conhecimento do congestionamento. Dependendo da inteligência do protocolo da aplicação de usuário, procedimentos de diminuição de tráfego a ser enviado para a rede podem ser iniciados. O processo de ativação dos bits FECN e BECN pode ocorrer simultaneamente em vários DLCIs, como resultado da ocorrência de congestionamento, avisando vários equipamentos de origem e destino. 2) Aviso Implícito de Congestionamento Alguns protocolos dos equipamentos de aplicação, como o TCP/IP, possuem mecanismos para verificar o congestionamento da rede. Esses protocolos analisam, por exemplo, o atraso (delay) de resposta dos frames enviados ou a perda de frames, para detectar de forma implícita se a rede está congestionada. Esses protocolos limitam o envio de tráfego para a rede por meio de uma janela de tempo, que permite o envio de um determinado número de frames antes que uma resposta seja recebida. Quando detecta que um congestionamento está ocorrendo, o protocolo reduz a janela de tempo, o que reduz o envio de frames, diminuindo o carregamento da rede. Esse mesmo procedimento de ajuste da janela de tempo é normalmente usado pelos equipamentos de usuário como resultado da sinalização de congestionamento explícito dos bits FECN e BECN. Os avisos explícito e implícito de congestionamento são complementares, e devem ser usados de forma conjunta para avaliar o envio de tráfego para a rede, como forma de evitar eventuais congestionamentos. 3) Elegibilidade para Descarte Alguns equipamentos de usuário não têm inteligência ou capacidade de processamento para analisar os avisos de congestionamento, que de fato são a parte opcional do padrão Frame Relay. Entretanto, como parte do padrão básico do Frame Relay existe no cabeçalho do protocolo o bit DE que, se ativado, indica aos equipamentos da rede que o frame pode ser descartado em caso de congestionamento. Para definir o procedimento de ativação do bit DE, o padrão Frame Relay definiu o CIR (Committed Information Rate), que representa a capacidade média de informação de um circuito virtual. Para cada VC a ser ativado na rede, o usuário deve especificar o CIR de acordo 9 com a necessidade de sua aplicação. Normalmente o CIR é especificado como sendo uma porcentagem da capacidade máxima da porta física onde é conectado o equipamento de aplicação do usuário, ou seja, para uma porta de 64 kbits/s, por exemplo, pode-se adotar um CIR de 32 kbits/s (50%) a ser configurado para o VC. Desta forma, tanto os equipamentos de usuário como os equipamentos de rede passam a ativar o bit DE toda vez que um frame a ser enviado ultrapasse o CIR configurado para o respectivo VC. Isto implica que, em caso de congestionamento, os frames que possuem o bit DE ativado são preferencialmente descartados para tentar normalizar o carregamento da rede. Quando o descarte de frames com o bit DE ativado não é suficiente para acabar com o congestionamento da rede, qualquer tipo de frame é descartado, independente do estado do bit DE. Estado das Conexões Este tipo de sinalização define como os equipamentos de usuário e os equipamentos da rede Frame Relay podem comunicar o status das portas e dos vários VC's configurados para cada porta. São utilizados alguns frames especiais com DLCI's específicos que são trocados entre a rede e as aplicações de usuário. Esses frames monitoram o estado da conexão e fornecem as seguintes informações: Estado ativo ou não da interface ou porta; Os DLCI's válidos definidos para uma determinada porta ou interface; O estado de cada VC, como por exemplo se ele está congestionado ou não. Vale ressaltar que, como esta sinalização é opcional no atendimento ao padrão Frame Relay, nem todos os equipamentos, seja de rede ou de usuário, possuem este tipo de funcionalidade implementada. Sinalização SVC A sinalização SVC trata apenas do estabelecimento e controle de um determinado SVC, de forma automática na rede. Diferente dos 2 tipos de sinalização anteriores, onde o resultado da sinalização é informado aos operadores da rede Frame Relay, a sinalização SVC não informa qual o estado atual da rede. Ela é apenas um procedimento para estabelecer um SVC de acordo com a demanda de uma determinada aplicação de usuário. O padrão Frames Relay define as mensagens e os procedimentos necessários para ativar um SVC. Basicamente a rede avisa o destinatário que existe uma demanda para estabelecer uma conexão, e ele deve decidir de aceita ou não. Se for aceita, a rede configura o SVC na rede entre a origem da demanda e o destinatário. Assim que o SVC estiver ativo, os equipamentos de aplicação da origem e do destino podem iniciar a transferência de informações. Quando os equipamentos de aplicação não necessitarem mais da conexão, qualquer um ou ambos avisam a rede, que por sua vez desativa o SVC. Durante o período em que o SVC está ativo, informações de tempo de duração e banda, entre outras, são armazenadas para uso dos sistemas de cobrança. 10 Frame Relay: Padrões e Recomendações A tecnologia Frame Relay surgiu como um desmembramento do desenvolvimento do padrão ISDN. O protocolo foi desenvolvido para transportar sinalização de canal D do ISDN, e tinha características que poderiam ser utilizadas em outras aplicações. Uma delas era o fato de que o protocolo podia configurar circuitos virtuais na camada Enlace de Dados (layer 2), no nível de frame, ao invés da camada de Rede (layer 3) do X.25, o que o simplificava muito. Esse desmembramento fez com que rapidamente a tecnologia Frame Relay tivesse um conjunto de especificações prontas e aprovadas pelos dois órgãos internacionais envolvidos na sua padronização: o ANSI (EUA) e o ITU-T (Europa). O padrão básico inicial do Frame Relay foi aprovado inicialmente em 1990 pelo ANSI, e sua complementação foi aprovada em 1991. As recomendações do ITU-T para o Frame Relay estão alinhadas como os padrões ANSI. A tabela abaixo apresenta os principais padrões ANSI e recomendações ITU-T vigentes para o Frame Relay. Padrão ANSI Status Recomendação ITU Status Service Description T1.606 Aprovado I.233 Aprovado Core Aspects T1.618 Aprovado Q.922 Anexo A Aprovado Access Signaling T1.617 Aprovado Q.933 Aprovado Com o objetivo de prover interoperabilidade, os equipamentos da rede Frame Relay devem atender pelo menos o método básico de transporte de dados especificado no padrão ANSI, que determina o uso de DLCI's em cabeçalhos de 2 bytes no frame. Embora o uso de mecanismos de sinalização e controle seja opcional, eles são essenciais para garantir que a rede Frame Relay funcione com o desempenho adequado. Além dos órgãos de padronização, foi fundado o FR Fórum, que é uma organização sem fins lucrativos dedicada a promover o uso e a implementação do Frame Relay baseado nos padrões e recomendações vigentes. O Fórum desenvolve e aprova Acordos de Implementação (IA - Implementation Agreements) que garantam a interoperabilidade do Frame Relay. Desde os primeiros IA's, foram definidas funcionalidades adicionais, tais como procedimentos de multicast, encapsulamento multiprotocolo e sinalização SVC, para aumentar a capacidade das redes Frame Relay. 11 A tabela a seguir apresenta os principais IA's vigentes. IA Descrição FRF.1.1 User-to-Network (UNI) Implementation Agreement FRF.2.1 Frame Relay Network-to-Network (NNI) Implementation Agreement FRF.3.1 Multiprotocol Encapsulation Implementation Agreement (MEI) FRF.4 Switched Virtual Circuit Implementation Agreement FRF.5 Frame Relay/ATM PVC Network Interworking Implementation Agreement FRF.6 Frame Relay Service Customer Network Management Implementation Agreement (MIB) FRF.7 Frame Relay PVC Multicast Service and Protocol Description Implementation Agreement FRF.8 Frame Relay/ATM PVC Service Interworking Implementation Agreement FRF.9 Data Compression over Frame Relay Implementation Agreement FRF.10 Frame Relay Network-to-Network Interface SVC Implementation Agreement FRF.11 Voice over Frame Relay Implementation Agreement FRF.12 Frame Relay Fragmentation Implementation Agreement 12 Frame Relay: Aplicações As aplicações típicas da tecnologia Frame Relay são apresentadas a seguir. Interligação de Redes LAN A interligação das redes LAN de vários escritórios compondo uma rede WAN, é uma aplicação típica para o uso da tecnologia Frame Relay. O tráfego usual das redes de dados é normalmente de 2 tipos: interativo (comando - resposta), ou seja, solicitação de usuários e aplicações clientes e respostas de aplicações servidoras, e por rajadas (bursty), quando grandes quantidades de dados são transferidas de forma não contínua. O Frame Relay, através de roteadores ou equipamentos de acesso (FRAD) instalados nos escritórios, permite utilizar uma porta única em cada escritório para compor redes do tipo malha (meshed) onde a comunicação de um escritório com todos os outros é possível sem a complexidade do uso de múltiplas portas e múltiplos circuitos dedicados. Além disso, o uso dos circuitos virtuais do Frame Relay para compor a rede permite tempos de provisionamento muito menores e reconfiguração de rede ou aumento de banda com maior facilidade. Interligação SNA - LAN A tecnologia Frame Relay possui facilidades de encapsulamento de múltiplos protocolos. O protocolo da tecnologia SNA pode ser utilizado sobre o Frame Relay para interligar computadores de grande porte com escritórios, agências bancárias e outras aplicações onde o acesso a esses computadores de missão crítica se faz de forma remota. O tempo de latência (delay), as taxas de transferência de dados, a disponibilidade e o gerenciamento de rede oferecidos pelo Frame Relay, torna esse tipo de aplicação de missão crítica viável e com custos aceitáveis. Estas funcionalidades permitem aos roteadores e dispositivos de acesso Frame Relay (FRAD), que fornecem a conectividade de rede, suportarem o tráfego de sistemas SNA, sensíveis a atrasos (delays), e de redes LAN simultaneamente com o desempenho adequado. 13 Ainda nesse mesmo ambiente, os equipamentos Frame Relay possuem interfaces prontas para o protocolo SDLC, e para sistemas BSC. Voz sobre Frame Relay (VoFR) A tecnologia Frame Relay também possui facilidades para o transporte de Voz, fax e sinais de modens analógicos atendendo os requisitos de atraso (delay) específicos para esse tipo de aplicação. Para a maioria dos administradores de rede de Voz e dados, a possibilidade de transportar a Voz proveniente de PABX's, sinais de fax e de modens, e dados através da mesma porta Frame Relay e usando procedimentos comuns de gerenciamento e manutenção atende os requisitos de redução de custos e de complexidade das grandes redes corporativas. Deve-se entretanto levar em consideração a qualidade do serviço prestado pela rede multisserviços de terceiros para que o resultado nas aplicações de Voz, fax e modem possam ainda atender os requisitos aplicáveis aos serviços convencionais. 14 Interação Frame Relay - ATM Para buscar aumentar a interoperabilidade do Frame Relay com outros protocolos de dados, o FR Fórum e o ATM Fórum, os órgãos responsáveis pelo desenvolvimento de Acordos de Implementação (IA's), desenvolveram padrões para interligar equipamentos dessas tecnologias através de PVC's. Foram padronizadas duas formas de interoperabilidade. A primeira, chamada de Frame Relay/ATM Network Interworking for PVC's, padroniza uma funcionalidade responsável pelo encapsulamento dos PVC's para que os mesmos possam ser transportados indistintamente nas redes da 2 tecnologias. Seu uso típico ocorre quando a rede Frame Relay tem com núcleo uma rede ATM, para otimizar ainda mais o uso de banda e a segurança. A figura a seguir apresenta esta solução. A segunda forma de interoperabilidade, chamada de Frame Relay/ATM Service Interworking for PVC's, padroniza uma funcionalidade responsável pela conversão dos protocolos (FR <--> ATM), que pode ser incorporada tantos aos equipamentos de acesso como aos equipamentos da rede. Seu uso típico ocorre quando o usuário possui redes Frame Relay em alguns escritórios que devem se interligar com a rede ATM da matriz. A figura a seguir apresenta esta solução. Interação com outros protocolos Outras aplicações vem sendo desenvolvidas para o uso da tecnologia Frame Relay. Atualmente muitos acessos a internet ou a redes IP, e mesmos serviços VPN utilizam como meio de transporte das informações as redes Frame Relay, para otimizar o projeto da rede e simplificar os processos de ativação e reconfiguração. 15 Frame Relay: Considerações Finais A tecnologia Frame Relay é aplicável em inúmeros casos principalmente para compor as redes WAN (interoffices) dos usuários finais, através dos recursos das redes multisserviços implantadas pelos prestadores de serviços existentes no mercado. Entretanto, a migração de redes convencionais, baseadas em circuitos dedicados, para redes Frame Relay torna-se um desafio, visto que os requisitos de confiabilidade, desempenho e performance do usuário final devem ser atendidos na nova tecnologia, e os prestadores de serviço buscam maximizar os ganhos obtidos com a implantação dessas redes estatísticas. O usuário final deve fazer um planejamento detalhado para compor a nova rede WAN de forma a continuar atendendo os seus próprios requisitos, e fazer um plano de migração que indique passo a passo as atividades a serem executadas, os recursos necessários e os resultados esperados. A nova rede deve ser planejada levando em consideração: Os requisitos de sua rede atual relativos a banda máxima necessária, latência (delay máximo) aceitável e disponibilidade, e os requisitos adicionais para a nova rede; O impacto da nova tecnologia nos procedimentos de gerenciamento e manutenção da rede, definindo claramente os limites entre o usuário e o prestador de serviços e as ferramentas a serem utilizadas para configuração de serviços e detecção de falhas; O comprometimento do SLA atual com a implantação da nova tecnologia, em termos de latência, disponibilidade da rede, tempo de recuperação, entre outros requisitos; O planejamento da nova rede deve atender a necessidades atuais e futuras de banda para a implantação de novas aplicações, aumento de usuários, etc. O usuário deve ainda analisar o perfil de suas aplicações para verificar o quanto elas podem se beneficiar do uso da nova tecnologia. Alguns critérios são apresentados a seguir: Número de escritórios a serem interligado: quanto maior, maior a otimização pelo uso do Frame Relay; Velocidade: se a rede atual usa circuitos dedicados de baixa capacidade e está chegando ao limite da banda, a nova rede pode usufruir de velocidades mais altas com custos aceitáveis; Rede atual com equipamentos de vários fornecedores e vários protocolos: a nova rede é compatível com fornecedores e protocolos diversos nativamente; Se a rede atual foi implementada com muitos circuitos dedicados para interligar todos os escritórios, a nova rede pode usar uma única porta em cada escritório com múltiplos circuitos virtuais, reduzindo os seus custos; Tráfego do tipo interativo e rajada: se este é o perfil do tráfego atual, a nova rede tem plena capacidade para transporta-lo com eficiência; Grandes distâncias: se os escritórios têm distâncias geográficas muito grandes, as redes Frame Relay normalmente são cobradas por banda e portas e não por distância, o que pode reduzir o seu custo. Referências ANSI American National Standards Institute, órgão americano responsável pelo desenvolvimento de padronização para telecomunicações. 16 ITU The International Telecommunication Union, órgão europeu responsável pelo desenvolvimento de padronização para telecomunicações. FR Fórum Frame Relay Fórum, órgão responsável pelo treinamento, promoção e implementação do Frame Relay, de acordo com os padrões e recomendações internacionais. 17 Frame Relay: Teste seu Entendimento 1. Qual alternativa melhor representa as vantagens do Frame Relay: Custo de propriedade reduzido (equipamentos mais simples). Overhead reduzido, combinado com alta confiabilidade. Interoperabilidade com outros protocolos e aplicações, tais como ATM e TCP/IP. Todas as anteriores. 2. A função básica do DLCI é: Representar o número (endereço) designado para o destinatário de um PVC. Definir a banda da porta configurada para o PVC. Informar se existe algum congestionamento na Rede Frame Relay. Indicar, em caso de congestionamento na rede, que o respectivo frame deve ser descartado. 3. O projeto migração da rede para a tecnologia Frame Relay deve considerar: O comprometimento do SLA. O impacto nos procedimentos de gerenciamento e manutenção da rede. O atendimento aos requisitos da rede atual e aos requisitos da nova rede. Todas as anteriores. 18