Aula 10-03-2015 E-Concept I-Concept O objeto da pesquisa é o I-Concept: entidades que estão na mente. Uma sentença (estrutura sintática) exprime um conceito. Ao ouvir uma sentença, o ouvinte reage de diferentes formas: a) checar a consistência do que é afirmado; b)produzir inferências; c) dar uma resposta; d) traduzir a sentença para outra língua. Mas sempre o ouvinte trabalha a partir do conceito, e não da estrutura sintática. Da mesma forma que as sentenças não podem ser reduzidas a listas, os conceitos também não podem, já que as sentenças são infinitas. Sendo assim, deve haver um conjunto de primitivos conceituais, e um conjunto de princípios de organização da estrutura conceitual. Ou seja, deve haver uma “gramática dos conceitos sentenciais”. Além disso, há conceitos lexicais que correspondem a esquemas conceituais. Assim, há dois níveis na estrutura conceitual: primitivos e regras de composição (nível sentencial) e conceitos lexicais. Parte dos primitivos e parte dos princípios devem ser inatos, para possibilitar a aquisição. Isso se aplica também aos conceitos lexicais; muitos deles são composições de elementos mais básicos. Solteiro= não casado. Matar= x Causar y Morrer. Comprar: x passa a possuir um bem de y, entregando dinheiro a y. 4. Três modelos para a descrição do significado 1- Model-theoretic semantics (ou semântica referencialista, ou formalista) O significado é o meio para se chegar a um referente no mundo (Frege). Símbolos são associados com aspectos do mundo (Lewis). Objeto de pesquisa deste modelo é a Verdade: uma relação entre linguagem e realidade. A Linguagem é vista como um objeto abstrato, externo aos falantes (Tarski; Davidson). ELanguage. Na perspectiva conceitual ou cognitiva, a estrutura semântica é interna ao falante. Como o mundo é X como apreendemos o mundo. Os conceitos são objetos psicológicos (I-Semantics). Fodor é outro proponente da teoria conceitual (The Language of Thought, 1975): a teoria computacional da mente. No entanto, Jackendoff se opõe ao Realismo Intencional de Fodor, segundo o qual há proposições com referência no mundo. “capturamos o mundo do modo que fazemos, justamente porque o mundo é assim” Intencionalidade: “mental states are directed towards things different from themselves” http://plato.stanford.edu/entries/intentionality/ A semântica conceitual foca apenas na forma da estrutura semântica, ou seja, na computação das representações mentais, e não no conteúdo referencial. Propriedades da mente x propriedades da realidade. Diferenças da abordagem de Jackendoff em relação à semântica cognitiva (Langacker, Lakoff): a) Autonomia dos níveis sintático e semântico. Em tese, a semântica cognitiva não leva em conta a sintaxe). B) formalismo; c) base inata forte. Regras de inferência: mapeamento de estruturas semânticas, para estruturas semânticas. A estrutura da Semântica-I Classes de palavras conceituais ou categorias ontológicas. Coisa, Evento, Estado, Lugar, Trajetória, Propriedade (Característica) e Quantidade. Essas categorias têm as seguintes similaridades: a) Um constituinte sintático corresponde a um constituinte semântico. Por exemplo: João correu em direção à casa. (John ran toward the house.) SNs; John- Coisa; casa- coisa SP: em direção à casa- Trajetória. Sentença inteira: Evento A relação sintaxe-semântica é de muitos-para-muitos (many-to-many) Um SN pode exprimir uma Coisa (the dog), um Evento (the war), uma Trajetória (para casa), uma Propriedade (redness). Uma categoria conceitual pode ser interna a um item lexical. Compare: i. Saia já! ii. Get out of here now! b) Uma categoria conceptual pode estar ligada a um input não-linguístico. (pg 81) c) Muitas categorias permitem uma distinção type-token. d) Muitas categorias permitem quantificação. Todos os dinossauros tinham cérebro (Coisas) Tudo que você faz, eu faço melhor. (Ações) Qualquer lugar que você vá, eu posso ir também (Lugares). e) As categorias podem ser decompostas em um estrutura função-argumento (pg 82) f) A estrutura conceptual de um item lexical é uma entidade com zero ou mais lugares argumentais vazios. 8 exprime generalizações sobre as categorias conceituais. (p 83). Campos semânticos Espaço, posse, atribuição de propriedades, agendamento de atividades. Esquemas conceituais comuns a estes campos semânticos (p. 85). Regras de inferência: mapeamentos de estruturas conceituais, para estruturas conceituais. Ex em 13 (pg 86). (13) é uma inferência válida para todos os campos semânticos. Outro exemplo de inferência CAUSA ( x , Evento ) → Evento No entanto, há inferências específicas para determinados campos semânticos: Um objeto não pode estar em dois lugares distintos ao mesmo tempo. Assim, se (13), x não está mais em sua posição de origem. No entanto, essa inferência não se aplica ao campo semântico informação. 6.3 Aggregation and boundedness Bill dormiu (evento não delimitado) Bill comeu o cachorro quente (evento delimitado) João ficou desenhando círculos a tarde inteira (repetição de um evento delimitado) Plural de eventos: aspecto iterativo. A bola ficou quicando. A torneira estava pingando. Plural de Coisas: gato, gatos Delimitado/ não delimitado = contável/ não contável Homogeneidade dos eventos não delimitados = homogeneidade de termos não contáveis Coisas x substâncias, Eventos x Processos Esquema na pg 89. O esquema conceitual em (15) aplica-se a coisas, eventos e trajetórias. Exs. De Trajetória Ele foi para casa. (delimitado) Ele foi na direção da estrada. (não-delimitado) Ele foi pela rua. (não delimitado) Ele foi nas casas. (múltiplos eventos limitados). Pontos em eventos e coisas podem ser estendidos. Borda da pizza Fim da palestra “sistemas formais abstratos” por trás dos usos das palavras 7. Onde a teoria de traços falha Condições necessárias e suficientes Rosch (protótipos). Wittegenstein (semelhanças de família) Valores default. Ex. o conceito de jogo. Atividade física, competição entre participantes. Conferir pesca, paciência, xadrez. 7.1 Estrutura espacial dos objetos Cadeira- banco –sofá Aspectos geométricos representados no campo visual “imagem de um exemplar estereotípico” Padrões visuais de modos de movimento Exs. Tremular, balançar, quicar, rodopiar 7.2 Valores focais Há domínios (ou campos semânticos) com valores contínuos e não discretos. Nesse espaço cognitivo contínuo, uma palavra define um ponto focal. 7.3 Sistemas de regras de preferência p. 93 Ex. Verbo climb . Nenhuma das duas condições é necessária; ambas são suficientes. Também não é uma disjunção. C1 ou C2. Preferentemente, as duas. Fodor. Para Fodor, os sentidos lexicais não são decomponíveis. Dificuldade: como explicar inferências do tipo: João levou a filha a fazer essa besteira. → a filha fez besteira O sentido de “levar a” se decompõe na ação de causa e de ação resultante. Fodor se restringe a propor um postulado de sentido (regras semânticas ad hoc). Para o verbo “levar a”, teríamos um postulado de sentido como: “Se x levou y a fazer algo, então y fez algo”. Por outro lado, Jackendoff argumenta que a decomposição lexical permite a estipulação de regras gerais de inferência. Pg 97, exs. (18) e (19). Segundo a teoria cognitiva, a aprendizagem se consiste na combinação de primitivos já existentes. Com isso, tem-se um potencial de um número infinito de conceitos. Aula dia 24-03-205 Frame Semantics. Charles Fillmore Frame: “um sistema de conceitos relacionados de tal forma que, para entender qualquer um dos conceitos, é preciso entender a estrutura completa na qual o conceito se encaixa”. (p. 111). Frame seria equivalente a “script”, “cenário”, “modelo cognitivo”, “Folk theory”. Tradição da semântica descritiva, empírica. Frame semantics responde à seguinte questão: “Que categorias da experiência são codificadas pelos membros desta comunidade de fala, por meio das escolhas linguísticas que eles fazem, ao usar a linguagem?” p 111. Nessa perspectiva, palavras são categorizações da experiência, ancoradas em um background de conhecimento. Palavras (e textos) são uma caixa de ferramentas. Inserem-se num quadro de ação determinado. 2. Uma história particular do conceito de frame Definição inicial de frame: Sequências padronizadas de palavras, ou sequências de classes de palavras Co-ocorrências de palavras. Classes de distribuição. Tradição da tagmêmica (estruturalismo) Condições para substituição dentro do mesmo slot em um frame: X ama y X carrega y X vende y para z Preservação do significado; preservação da estrutura. Um exemplo desse tipo de pesquisa: “John is Mary´s husband – he doesn´t live with her” BUT, YET podem ocupar este slot (-), sem alterar nem o sentido, nem a estrutura. AND, OR podem também ser inseridos, mas alterando a significação. Essa metodologia permitia definir o tipo de estruturas nas quais uma palavra ocorre e qual a função que ela desempenha nessa estrutura. Classificação dos verbos da língua inglesa, definindo também as diferentes estruturas gramaticais (transformações), nas quais esses verbos podiam ocorrer. Exs do português. Comprar, vender, amar, sentir aceitam a forma passiva. Pesar, medir (no sentido de ter dada medida) não aceitam a forma passiva. Furar, rasgar, queimar aceitam a forma intransitiva. Descobrir, construir e amar não aceitam a forma intransitiva. Descobertas sobre os padrões dos verbos levariam à descoberta da gramática subjacente do inglês (no espírito da gramática gerativa). A ideia era que as propriedades distribucionais de itens lexicais derivavam de princípios gramaticais. História transformacional. Frames sintáticos. O menino1 vendeu o livro2. O livro2 foi vendido pelo menino1. João soube da história. João1 soube p1sair na hora certa. João descobriu a história. ?? João1 descobriu p1sair na hora certa. João vende fácil apartamento pequeno Apartamento pequeno vende fácil. João matou o bandido. ?? O bandido mata fácil. (não pode no sentido de que o bandido se deixa matar fácil). Próxima etapa no conceito de frame: Papel semântico (ou temático) dos argumentos. Valência dos verbos. Diferença entre tradição europeia e teoria gerativa: The subcategorization notion is similar to the notion of valency, although subcategorization originates with phrase structure grammars in the Chomskyan tradition,[4] whereas valency originates with Lucien Tesnièreof the dependency grammar tradition.[5] The primary difference between the two concepts concerns the status of the subject. As it was originally conceived of, subcategorization did not include the subject, that is, a verb subcategorized for its complement(s) (=object and oblique arguments) but not for its subject.[6] Many modern theories now include the subject in the subcategorization frame, however.[7] Valency, in contrast, included the subject from the start.[8] In this regard, subcategorization is moving in the direction of valency, since many phrase structure grammars now see verbs subcategorizing for their subject as well as for their object(s). (Wikipedia). A proposta dos “case frames”. Cenas verbais descritas com base na combinação de papeis temáticos. Case frame: [- A P I] agente, paciente, instrumento A menina (agente) atirou no bandido (paciente) com um revólver (instrumento) Maria (agente) serrou (Instrumento incorporado) a madeira (paciente) João (agente) entregou os livros (Paciente) para Maria (beneficiário) João (experienciador) sentiu uma pontada no estômago (Tema) A floresta (Paciente) queimou. O maluco (agente) queimou a floresta (paciente). João (Agente) vende fácil apartamento pequeno (Paciente) Apartamento pequeno (Paciente) vende fácil. [V A P I] [verbo Agente Paciente Instrumento] Furar Princípios gerais para o mapeamento entre papeis semânticos e funções sintáticas O menino furou o pneu com um prego. Um prego furou o pneu. O pneu furou. O carro furou o pneu. “Case frame” (esquema de caso) corresponde a uma pequena cena. Próximo passo: descrição mais detalhada do conteúdo das cenas. Ex. Verbos de julgamento Uma pessoa que julga (o juiz); a situação analisada pelo juiz (situação); ACUSAR: juiz afirma que o Réu é o responsável pela situação (pressuposição de que a situação é ruim); Frame: um domínio de vocabulário, num dado campo da experiência humana (estruturas sociais e experiências que organizam este domínio). Outro exemplo: o conceito de Papa está relacionado a um domínio estruturado: Celibato; líder da hierarquia religiosa; representante de Cristo; etc. Chefe de Estado: leva a outro domínio da experiência. Artefatos: livros, vaso sanitário, guardanapos, etc. Domínios calcados na função. Diferentes verbos podem “indexar” uma mesma cena de diferentes maneiras. Ex. Transação comercial. Comprador (interessado em trocar dinheiro por bens); Vendedor (interessado em trocar bens por dinheiro); Bens; Dinheiro. Comprar foca na ação do Comprador em relação aos Bens, deixando no background o Dinheiro e o Vendedor. Vender foca na ação do Vendedor em relação aos Bens, deixando no background o Dinheiro e o comprador Pagar foca na ação do comprador em relação aos Bens e ao Vendedor, deixando no background o Dinheiro. Paguei ao proprietário. Paguei 300 mil ao proprietário. Paguei 300 mil pelo apartamento. Paguei 300 mil ao proprietário pelo apartamento. Para saber o sentido dos verbos, é preciso conhecer o tipo de cena que proporcionou o background e a motivação para as categorias que esses verbos representam (p. 117). Conhecimento sobre os “frames interacionais”: esquemas sobre a situação comunicativa. Por exemplo: Ato de fala de prometer. Maria prometeu ajudar. O ato de fala implica: Maria tem condições de ajudar. Maria se compromete a ajudar. Maria fará isso no futuro. A ajuda é desejada pelo beneficiário da ajuda. Background prototype. Órfão evoca o seguinte protótipo de cena: pais e mães cuidam dos filhos; filhos sem pais têm uma situação não normal; órfãos permanecem assim até uma certa idade. Fim de semana evoca um certo esquema social de organização da semana. Vegetariano adquire seu sentido numa cultura em que uma pessoa que come só vegetais não é a situação normal. Vegetariano come SÓ vegetais. Envolve também a opção de fazer esse tipo de dieta. Uma pessoa muito pobre que não come carne porque não tem dinheiro para comprá-la não é um vegetariano. A trip from shore to shore: uma viagem através da água. A trip from coast to coast: uma viagem através da terra. A paisana (mufti): só faz sentido no contexto militar. Outro exemplo: terra à vista! Contextos mais amplos asseguram o frame: Herético em relação a uma religião estabelecida. Inconstitucional: relativo a uma sociedade com uma lei maior e escrita. Polissemia: dois frames Livro: objeto físico (mobília) Livro: informação Frames alternativos para uma mesma situação Econômico x gastador Pão duro, avaro x mão aberta, generoso Contraste entre frames: Ele não é pão-duro, ele é econômico. Ele não é rebelde, ele é questionador. Origem das palavras por empréstimo de frames Cavalheiro vem de cavaleiro Reframing a lexical set Bastardo mudou completamente seu sentido. Casamento x união estável Relexicalizando frames inalterados Suspect Aula dia 30-03 Significação e contexto Acarretamento a) Com base em esquemas conceituais. Causa João matou o bandido → o bandido morreu. O professor levou o aluno a fazer besteira → o aluno fez besteira Movimento O professor entregou o livro para o aluno. → o aluno recebeu o livro. O professor entregou o livro para o aluno → o professor não tem mais o livro. O bandido fugiu da prisão → o bandido não está mais na prisão. Experiência O aluno irritou o aluno → o aluno ficou irritado. Ele vive me chateando → houve mais de uma ocasião em que ele me chateou Eu persuadi o coordenador a deixar o cargo. → O coordenador deixou o cargo. Afetação completa João desenhou o círculo → o círculo foi completamente desenhado. Señor Jones taught Spanish to the students. [O Señor Jones ensinou espanhol para os alunos]. Señor Jones taught the students Spanish. [Señor Jones ensinou aos alunos espanhol]. → os alunos aprenderam espanhol. João pintou a porta → a porta ficou toda pintada João pintou na porta contestar la pregunta → conseguir responder à pergunta contestar a la pregunta Hiperonímia Eu tenho um carro → eu tenho um bem. Eu tenho um primo na cidade → eu tenho um parente na cidade. João vai de bicicleta para a UFSC → joão se desloca para a ufsc com veículo não motorizado. Aspecto verbal João estava estudando ontem → João estudou João estava concluindo a tarefa ontem Meu amigo tem ido aos Estados Unidos → Houve mais de uma ocasião em que meu vizinho foi aos Estados Unidos Meu amigo foi aos Estados Unidos. Ele estava morrendo lentamente. O menino vive me pedindo coisas → Houve mais de uma ocasião em que o menino me pediu coisas. O menino é pidão. → Houve mais de uma ocasião em que o menino pediu coisas. O menino me pediu uma coisa. O aluno vai sair → o aluno não saiu ainda b) Com base em conhecimento de mundo João mora em Florianópolis → João mora em Santa Catarina Ele está cursando semântica na UFSC em 2015-1 agora → ele está estudando acarretamento. Ele é amigo de Guga Kuerten → Ele é amigo de um campeão de Roland Garros. Ele já foi à lua → Ele já foi ao satélite da terra. c) Com base em frames O menino tem uma madrasta → O menino não tem mãe. João casou → João casou com apenas um cônjuge. João vendeu o livro → João tem direito a receber um valor financeiro. O juiz julgou o réu → O réu é acusado de alguma coisa. O papa é argentino → Há pelo menos um praticante do celibato na Argentina. Mas não há acarretamento em: Eu fiz um curso de informática/ eu tive um professor de informática Eu comi no restaurante/ eu escolhi no cardápio a refeição. Eu passei no concurso / havia outros concorrentes