A Imobilização Gessada Convencional/Clássica em Ortotraumatologia

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A Imobilização Gessada
Convencional/Clássica
em
Ortotraumatologia
Paulo Homem
A Imobilização Gessada
Convencional/Clássica
em
Ortotraumatologia
2013
FICHA TÉCNICA
TÍTULO
A Imobilização Gessada Convencional/Clássica em Ortotraumatologia
AUTOR
Paulo Homem
[email protected]
O autor agradece todos os contributos tendentes a melhorar este modesto trabalho,
assim como se propõe a responder, dentro da sua capacidade técnica, a qualquer esclarecimento
1ª EDIÇÃO (2009)
FORMASAU - Formação e Saúde, Lda
2ª EDIÇÃO (2013)
Paulo Homem
[email protected]
Fotografias
Imagens da própria prática clínica do autor
ISBN
978-989-8269-05-8
INDÍCE
PREFÁCIO.................................................................................................................................................................................................. 9
Evolução histórica............................................................................................................................................ 11
INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................. 13
Alguns Exemplos e Efeitos de Conformação................................................................................ 17
No Membro Superior.................................................................................................................................................. 17
No Membro Inferior..................................................................................................................................................... 17
Na Zona Ilíaca..................................................................................................................................................................... 18
Capítulo 1
Generalidades.................................................................................................................................................................. 19
Materiais mais utilizados na execução da imobili­zação gessada................... 19
Cremes de protecção/hidratação dérmicos......................................................................................... 20
Manga de malha tipo Jersei................................................................................................................................. 20
Algodão natural prensado..................................................................................................................................... 20
Algodão sintético prensado.................................................................................................................................. 21
Feltros auto aderentes................................................................................................................................................. 21
Material Gessado...................................................................................................................................................................... 21
Ligadura gessada.............................................................................................................................................................. 22
Material sintético na imobilização................................................................................................................. 22
Ligadura Gessada – sua hidratação. ......................................................................................................... 23
Ligadura Gessada – sua aplicação. ............................................................................................................. 24
Presa no Material Gessado................................................................................................................................... 25
Imobilização Gessada – Secagem.................................................................................................................. 25
Materiais termo-moldáveis....................................................................................................................................... 26
....................................................................................................... 27
Regularização das extremidades. .................................................................................................................. 27
6
Índice
Remoção da Imobilização. ...................................................................................................................................... 28
Tala Gessada na Imobilização........................................................................................................................... 30
a) Tala Gessada como reforço de uma imobilização...................................................... 31
b) Tala Gessada como imobilização provisória................................................................... 31
c) Tala Gessada como imobilização definitiva..................................................................... 31
O Paciente............................................................................................................................................................................................ 32
Capítulo 2
IMOBILIZAÇÕES GESSADAS DO MEMBRO SUPERIOR............................... 35
Algumas particularidades.......................................................................................................................................... 35
Articulação do Cotovelo e/ou do Punho.............................................................................................. 35
Flexura do Cotovelo...................................................................................................................................................... 35
Eventual medida profilática................................................................................................................................ 36
Mão.................................................................................................................................................................................................... 36
Três pontos de apoio estabilizadores......................................................................................................... 37
Imobilização Gessada do Úmero..................................................................................................................... 37
Tala Gessada em U (por fractura estável do terço médio do úmero)........ 37
Braqui-antebraquial (por fractura do terço médio inferior do úmero).... 39
Imobilização Gessada Braqui-palmar
(por fractura dos ossos do antebraço)...................................................................................................... 40
Principais imagens da realização da imobilização do antebraço.................... 41
Imobilização Gessada Braqui-palmar (por fractura de Colles)......................... 41
Imobilização Gessada Braqui-palmar, englobando a 1ª falange
do 1º dedo da mão (por fractura do escafóide cárpico) 2ª fase ........................ 42
Imobilização Gessada Toro-Braqui-palmar...................................................................................... 43
Imobilização com cruzado posterior das espáduas
(por fractura da clavícula).......................................................................................................................................... 44
Cuidados especiais................................................................................................................................................................ 45
Índice 7
Capítulo 3
IMOBILIZAÇÕES GESSADAS DO MEMBRO INFERIOR................................ 47
Algumas particularidades.......................................................................................................................................... 47
Três pontos de apoio estabilizadores......................................................................................................... 47
Realização de apoio isquiático na imobilização ísquio-podálica.................... 48
Protecção ao tendão de Aquiles......................................................................................................................... 48
Carga simulada do pé....................................................................................................................................................... 48
“Janela” na imobilização. ............................................................................................................................................. 49
Gipsotomia em imobilização gessada...................................................................................................... 50
Gipsotomia de adição................................................................................................................................................... 50
Gipsotomia de subtracção...................................................................................................................................... 51
Cuidados pós Gipsotomia...................................................................................................................................... 51
Imobilização gessada pelvi-cruro-podálica..................................................................................... 52
Imobilização gessada isquio-podálica
(por fractura distal do fémur ou proximal da tíbia). .......................................................... 53
Conjunto de Imagens elementares para execução
de imobilização do membro inferior.......................................................................................................... 54
Bota Gessada – Tipo Sarmiento.......................................................................................................................... 55
Bota gessada clássica.......................................................................................................................................................... 56
“Cilindro” gessado”............................................................................................................................................................. 56
Capítulo 4
Imobilização da Coluna Vertebral.......................................................................... 57
Imobilizações segmentares da coluna vertebral....................................................................... 61
Imobilização gessada da coluna lombar em “colete” gessado........................... 62
Capítulo 4
CUIDADOS EM FASE AGUDA DE TRAUMATISMO
COM IMOBILIZAÇÃO GESSADA.............................................................................................................. 63
Cuidados ao Traumatizado (das partes livres e disponíveis).............................. 64
A pele............................................................................................................................................................................................... 65
1. Aparelho respiratório........................................................................................................................................... 65
2. Aparelho génito-urinário................................................................................................................................ 66
3. Aparelho digestivo................................................................................................................................................... 66
4. Sistema cardiovascular...................................................................................................................................... 66
5. Sistema articular....................................................................................................................................................... 67
6. Sistema muscular..................................................................................................................................................... 67
Alimentação............................................................................................................................................................................ 68
Cuidados de ordem Psico-emocional e Sócio-económica.......................................... 69
Bibliografia............................................................................................................................................................................................. 70
PREFÁCIO
O Paulo Homem disse-me que o livro estava pronto e que eu tinha de
fazer o prefácio. Seja, para mim é uma honra.
Lendo e seguindo o que julgo de mais avançado se vai escrevendo e
produzindo sobre a enfermagem, o seu conhecimento, os padrões do seu
conhecimento, costumo ensinar aos meus alunos que nesta ciência emer­
gente, o padrão de conhecimento estético – a arte de enfermagem –, assume
importância de igual grandeza a qualquer outra forma de conhecimento
disciplinar especifico da enfermagem, como seja o empírico, o ético,
o tácito, o relacional, o pessoal, o cultural e o processual.
A presente obra “A Imobilização Gessada Convencional/Clássica
em Ortotraumatologia” é algo de muito interessante neste contexto.
O seu conteúdo essencialmente técnico, prático diriam uns, revela bem
como existe um conhecimento do saber-fazer, e bem-fazer, transmitido
e aperfeiçoado em contextos de execução real, sem deixar de se basear
em evidências científicas que a investigação das ciências da saúde vai
produzindo, comprovando e dando consistência.
Com o Paulo Homem é isto, pega-se numa ligadura gessada, humidificase, prepara-se, aplica-se, molda-se, ajusta-se em função de princípios
e da individualidade, aplicando saberes aprendidos e ditados pela
experiência de quem se dedicou a esta forma de intervenção, de cuidado,
de assistência, de ajuda em anos seguidos de relacionamento interpessoal
proporcionando e facilitando processos (de transição diríamos agora),
ajudando a que o que a natureza tenderia a corrigir, o fizesse de forma
mais atempada e mais acertada.
Conheci o Enfermeiro Paulo Homem em 1984, era eu aluno de enferma­
gem do 2º ano.
O Paulo Homem apresentou-nos os gessos funcionais, grande inovação
para a época, o que com o seu entusiasmo nos cativou. Durante anos
trabalhamos no mesmo grande Hospital, fui sabendo que estava nos
“gessos”, depois soube que se tinha reformado. Em Maio passado (2009)
procurou-nos, tinha um livro e quis saber se estávamos interessados em
edita-lo.
Aqui está, obra feita de valor didáctico inquestionável, manual facil­
mente consultável, profundamente ilustrado com fotos da própria prática
clínica do Paulo Homem, que nos ensina os pequenos grandes “truques”
da arte de imobilizar com gesso.
Com estes homens se fez a enfermagem, com este conhecimento se faz
a enfermagem.
Obrigado Paulo Homem.
Paulo Joaquim Pina Queirós
Evolução histórica
Desde os primórdios do homem na terra que ele pratica a imobilização
como forma de tratar algumas lesões, nomeadamente traumáticas. Para o
efeito, começou por recorrer à utilização de certo tipo de ervas, cascas e
ramos de árvores.
Os egípcios, 2500 anos antes de Cristo, utilizaram materiais lenhosos
em forma de talas. Os Árabes, no século IX, ter-se-ão servido de uma
mistura pastosa de gesso e clara de ovo, terra argilosa e algumas resinas
naturais. Mathijsen, na guerra da Crimeia (1854/55), utilizou, julga-se,
pela primeira vez a ligadura gessada (ligadura de pano impregnada de
uma mistura gessada pastosa), para exercer imobilização.
O homem de hoje continua a recorrer à
imobilização e, para dar satisfação às exigências
técnicas actuais, investigou, desenvolveu e tem
ao seu dispor não só ligaduras gessadas de alta
qualidade, com características bem diferen­
ciadas, como ligaduras de resinas sintéticas e
materiais termomoldáveis.
INTRODUÇÃO
Imobilização em ortotraumatologia é um acto
técnico executado de forma a controlar ou abolir os
movimentos de um membro ou de outra qualquer
região, com o propósito de tratar ou contribuir para
a cura de certas fracturas, luxações e entorses, não
deixando de ter em conta que também o poderá ser
por outros motivos, nomeadamente para:
• Prevenir o agravamento das lesões traumá­
ticas em fase aguda;
• Facilitar os procedimentos pré-hospitalares,
essencialmente os de levantamento trans­porte
da vítima;
• Facilitar a hemostase;
• Diminuir ou controlar a dor;
• Favorecer o processo de cura de certas zonas feridas ou doentes;
• Evitar os efeitos das contracturas musculares;
• Prevenir ou corrigir as posições viciosas.
Imobilizar é, portanto, um acto de grande importância
para o alívio e consequente tratamento das lesões que
apoquentam o paciente, cujo grau de eficácia sempre foi e
será de grande preocupação técnica.
Todavia, não poderá deixar de ser regida pelos princípios éticos
que à semelhança são observados em qualquer outro tratamento.
14
Introdução
Uma das principais preocupações a ter na execução
da Imobilização Gessada é a sua eficácia, e para a sua
contribuição foram tomados dois procedimentos funda­
mentais: um, o da utilização de materiais de baixo
volume, destinados à protecção/almofadamento da
região a submeter à imobilização, diminuindo assim o
espaço entre a zona e o material gessado, sem, contudo,
deixar de cumprir o seu objectivo.
O outro, de carácter técnico.
Enquanto nos preocupámos na maneira como contornar as formas
anatómicas com o material gessado, dito
“Moldagem” ou “Modelagem” por uns
e “Manipulação” por
outros, verificávamos que,
especial­mente nos membros
pela sua configuração longa,
arredondada, com maior ou menor grau de conicidade, e de
base maior proximal, certas imobilizações gessadas não
controlavam alguns movimentos de rotação dentro dos
parâmetros de que uma fractura necessita para a sua
estabilização e consequente tratamento.
Não obstante, Moldagem, Modelagem e Manipulação contribuírem
para obtenção de resultados relevantes, torna-se indispensável pôr em
prática outras manobras, gessadas, que possam resultar em melhoramento
substancial do grau de eficácia da IMOBILIZAÇÃO GESSADA
CONVENCIONAL/CLÁSSICA.
Abrimos aqui um parêntese, porque convém, primeiro, dispor
de alguns dados, para que melhor se entenda o que iremos expor
mais adiante.
Em 1980, por iniciativa do Director do Serviço de Ortopedia dos
Hospitais da Universidade de Coimbra, três médicos especialistas e um
enfermeiro de “gessos”, na circunstância eu próprio, deslocaram-se ao
Introdução 15
Hospital de LA FÉ – Valência – Espanha, para aumentar os conhecimentos
técnico-científicos específicos sobre o tratamento ”BIOLÓGICO DAS
FRACTURAS com GESSOS FUNCIONAIS CONFORMADOS”, propor­
cionados pelo Dr. F. FERNÁNDEZ-ESTEVE, um dos principais mentores
mundiais do método.
Este método tem especial indicação nalguns casos de fracturas dos
ossos longos, essencialmente das diáfises da tíbia e do úmero, após um
período de Imobilização Gessada Convencional/clássica.
O tutor gessado poderá ser executado
restritamente no respectivo segmento
traumatizado ou com prolongamento às
zonas sãs proximais e/ou distais, ligados
entre si por articulações mecânicas de eixo
policêntrico, cujo objectivo principal é o de
proporcionar mobilidade articular precoce,
com elevados níveis de estabilidade dos segmentos lesados e grandes
vantagens, especialmente para o paciente.
Esta técnica tem por especial particularidade de
execução a “CONFORMAÇÃO” – manobra técnica
levada a efeito sobre o gessado durante a sua tomada
de presa, submetendo os tecidos moles a uma forma
e tensão controladas, em áreas pré-definidas, com a
finalidade de obter compacidade uniforme na zona,
respeitando a sua integridade.
“CONFORMAÇÃO” não poderá ser confundida por aperto dos
tecidos, pois a área do gessado não diminuirá significativamente. Nem
tão-pouco por simples manobra de estética; mas sim uma forma de o
tornar solidário com a região, obtendo-se a limitação
ou mesmo neutralização dos movimentos em causa
(rotação do membro e a deslocação do gessado) por
regra, no sentido distal.
16
Introdução
Ao fim do primeiro ano, o método “ORTOPÉDICO-FUNCIONAL”
no tratamento de fracturas já era praticado no Serviço de forma sistemá­
tica. Tempo, e experiência adquirida que nos deram oportunidade para
avaliar das virtualidades da manobra de “CONFORMAÇÃO” na eficácia
da técnica.
MOLDAR, MODELAR, etc. como observámos, não são procedimentos
que, por si só, satisfaçam o grau de exigência de que uma imobilização
gessada necessita para garantir os seus objectivos, embora prestem
um valioso contributo, mas é a “CONFORMAÇÃO” a manobra que
melhor satisfaz os requisitos de eficiência/conforto na IMOBILIZAÇÃO
GESSADA CONVENCIONAL/CLÁSSICA, mesmo em fase aguda de
traumatismo.
Realizar “CONFORMAÇÃO” neste período,
todavia, há que ter em conta o estado edematoso
em que o membro se apresenta. Quando de grau
moderado, ela será levada a efeito em toda a sua
plenitude. Quando de grau elevado, será realizada
apenas de forma insinuada.
A conformação, realizada desde logo, contri­
buirá para aumentar o grau de eficiência e, simul­
taneamente, a preparação da zona para que esta imobilização seja
substituída por outra definitiva assim que estejam reunidas as essenciais
condições, isto é, quando verificada acentuada regressão do estado
edematoso e ausência de risco de desmontagem da redução óssea.
Se na maioria das zonas eleitas à
conformação, ela é executada manual­
mente, porém, na raiz da coxa, devido
ao forte desenvolvimento muscular e
a sua dimensão circular, a mesma terá
de ser realizada com o auxílio de um
conformador de forma quadrangular,
Introdução 17
flexível e regulável, que, previamente ajustado á dimensão circular da
zona, quando aplicado e accionado, transmitirá a sua forma quadrangular,
e só será retirado quando excluído o risco de deformação do gessado.
O conformador quadrangular da coxa, assim tecni­
ca­mente chamado, permite ainda, ao mesmo nível
e simultaneamente, realizar na parte posterior do
gessado apoio isquiático, tornando-se manobra de
grande importância para o efeito de descarga do
membro quando em regime de carga progressiva
assistida.
Alguns Exemplos e Efeitos de Conformação
No Membro Superior
Conformação sobre a membrana inter-óssea rádiocubital, observando-se o seu efeito pelo achatamento do
segmento antebraçal.
No Membro Inferior
Conformação do terço proximal da perna, especial­
mente sobre a raiz dos gémeos, observando-se a sua
forma triangular.
18
Introdução
Conformação sobre o terço proximal
da coxa, com o auxílio do respectivo con­
formador, verificando-se o seu efeito
quadrangular.
Na Zona Ilíaca
Não podemos deixar de referir a zona ilíaca como
de grande importância para a realização desta manobra
técnica nos gessados que a partir dali se desenvolvem:
por lesões do 1/3 proximal do fémur (pelvi-podálico);
para a maioria das imobilizações da coluna vertebral;
ou mesmo por lesões proximais do úmero (toraco-braquial).
Encerramos aqui o parêntese, onde ficou resumida a funda­
mentação da nossa orientação técnica futura.
Capítulo 1
generalidades
Materiais mais utilizados na execução da imobili­
zação gessada
Para a execução da imobilização
em orto-traumatologia, para além
do material gessado propriamente
dito, outros existem de desempenho
semelhante, nomeadamente acrílicos
Ainda outros de características essen­
cialmente protectoras/almofa­da­men­
to, que fazendo parte integrante da
mesma, contribuem tanto para a pre­
ser­vação da integridade dos tecidos subjacentes, como para a sua comodi­
dade.
Materiais de Protecção/Almofadamento
São materiais destinados a proteger a integridade da zona a submeter à
IMOBILIZAÇÃO sem, contudo, retirar a eficácia que da mesma se espera.
Vão longe os tempos em que, para o efeito, eram utilizadas espessas pastas
de algodão. Mas sabe-se que quanto maior for o espaço, entre as paredes
da imobilização e a região, ocupado por estes materiais, maiores serão
as dificuldades encontradas em controlar os já referidos e inquietantes
movimentos. Nesta conformidade, teremos de utilizar materiais prensados
a baixo volume e que não se decomponham ou se desloquem facilmente.
20
Capítulo 1
Deverão ser de estrutura compacta, mas com alguma elasticidade em
todos os sentidos, permitindo boa adaptação às zonas menos regulares.
Deverão ser de características analérgicas para uma boa tolerância;
hidrófugos, sempre que possível, e preferencialmente de origem vegetal;
sendo a manga de algodão em malha de jérsei um dos que melhor satisfaz
os requisitos.
Cremes de protecção/hidratação dérmicos
Não sendo, propriamente, produtos de protecção
estrutural, não deixa de ser importante a sua apli­cação.
São, na generalidade, compostos oleosos emul­
sionados em água, de pH neutro e de fácil aplicação. São
protectores e, essencialmente hidratantes, contri­buindo
para minimizar o des­conforto de uma zona impedida de
cuidados higiénicos.
Manga de malha tipo Jersei
Material, normalmente, proveniente do
algo­dão, de trama compacta mas extensível em
todos os sentidos, adaptando-se bem mesmo em
zonas irregulares. Forma uma superfície fina e
uniforme, por regra bem tolerada, tornando-se
no elemento mais utilizado para o efeito. Este material poderá ser aplicado
antes dos procedimentos de redução pelo método incruento de certas
fracturas (este procedimento tem muitos adeptos). Para melhoramento
da sua condição de tolerância e de comodidade apareceram algumas
variantes com percentagens de viscose e impregnadas de parafina.
Algodão natural prensado
Apresenta-se em forma de ligadura e é,
normalmente, utilizado em situações que exijam
uma generosa protecção – saliências ósseas
e zonas menos protegidas de tecido celular
subcutâneo – susceptíveis de sofrerem danos
Generalidades
21
causados pela imobilização. Este material poderá apresentar-se, também,
em forma de placas, e impregnado de viscose, proporcionando protecção
estável e de acção prolongada.
Algodão sintético prensado
Apresenta-se em forma de ligadura que, não
sendo hidrófugo, liberta facilmente água. A sua
aplicação é fácil devido á sua extensibilidade,
proporcionando uma camada de protecção fina
e uniforme. Não se decompõe, mesmo quando sujeito a pressões ou a
movimentações, apresentando, por isso, algumas vantagens em relação
com outros de origem vegetal, habitualmente aplicados.
Feltros auto aderentes
Também conhecidos por adesivados, apresentam-se em forma de rolos, com espessuras variáveis entre
2 e 5 mm. São de aplicação pontual, mas propor­
cionando uma protecção adicional em áreas sujeitas
a fortes pressões. São hipo-alérgicos, mantêm­
‑se permeáveis ao vapor de água e ao ar, devido á sua composição de
poliéster, fibra de polipropileno e certa percentagem de viscose.
Material Gessado
O material gessado destinado à imobilização em orto-traumatologia
poderá apresentar-se em forma de placas, talas, e ligaduras, sendo esta a
forma usual da sua aplicação.
Apesar do aparecimento de resinas sintéticas, também em forma de
ligaduras, e de materiais termo-moldáveis, é ainda a ligadura gessada que,
não só pelo seu preço, mas também pelo tipo de manobras que permite
executar, mais se utiliza, tornando-a imprescindível na imobilização de
certas fracturas em fase aguda de traumatismo. É com ela que fazemos as
nossas dissertações.
22
Capítulo 1
Ligadura gessada
A ligadura gessada tal como a conhecemos hoje é, normalmente,
constituída pelos seguintes elementos:
Pasta Gessada: composta por gesso propriamente
dito (sulfato de cálcio semi-hidratado …).
Gaze: como material de suporte da pasta gessada,
tendo no seu fabrico, preferencialmente, a
fibra de linho, em trama larga.
Tutor: elemento situado no interior da ligadura
destinado a manter a sua forma, a facilitar
a hidratação e a sua aplicação.
Invólucro: protecção externa de forma hermética,
destinada a manter as características
originais da ligadura gessada.
Hoje, com processos de fabrico altamente criteriosos, podemos
encontrar no mercado ligaduras gessadas que satisfazem várias exigências
técnicas, sendo muito relevante o tempo de chegada da tomada de presa*
– estado que poderá levar desde alguns segundos a minutos, permitindo
realizar tranquilamente algumas das manobras durante a execução da
imobilização.
Material sintético na imobilização
Como já observado, dada a sua importância,
não podíamos deixar de dar algumas referên­
cias deste tipo de material, também ele, nor­
malmente apresentado na forma de ligaduras,
cujas características inovadoras passamos a
refe­renciar:
• Boa resistência física e química;
• Baixo peso;
• Grau de opacidade aos RX consoante a
sua composição.
Generalidades
23
Embora todas de grande importância, é, no entanto, a sua transparência
aos RX de notável valor no visionamento de certas fracturas que, por
isso, não será necessário retirar imobilização para observar, ao por­
menor, a evolução das mesmas. Como nem todo o material, devido á sua
composição, apresenta o mesmo grau de transparência é este agrupado
de forma a satisfazer o objectivo.
• Poliuretano tendo suporte a malha de fibra de vidro: resultando em
materiais mais ou menos trespassáveis pelos RX;
• Poliéster em suporte de malha de fibra de algodão: resultando em material
total­mente trespassável pelos RX;
• Poliuretano em suporte de malha de prolipropileno: resultando em mate­
rial de comportamento semelhante ao anterior.
Observemos dois exemplos:
Ligadura Gessada – sua hidratação
Para que uma ligadura gessada possa ser devi­
damente aplicada, é indispensável que seja sujeita a
uma adequada hidratação e, para isso, por via de regra,
proceder-se-á da seguinte forma:
Primeiramente desenrolam-se cerca de 10 cm da
sua extremidade inicial, que será agarrada pela mão
esquerda (nos destros), enquanto o
rolo é seguro pela mão contrária.
A ligadura é mergulhada em água à temperatura
recomendada pelo fabricante, de preferência obliqua­
mente, até deixar de borbulhar, a fim de facilitar a
saída do ar existente no seu interior. Retirada da água,
e sem perder de vista a extremidade inicial, proceder­
‑se-á à sua espressão, retirando-lhe o excesso de
24
Capítulo 1
água, das extremidades para o centro, para que não seja expelida grande
quantidade de massa gessada.
A temperatura da água poderá influenciar o
comportamento da massa gessada, verificando-se que
quando acima da recomendada acelerará a tomada
de presa, enquanto o inverso a mesma será retardada.
Também o grau de hidratação poderá intervir
no tempo e na forma de tomada de presa, sabendose que quando excessivamente molhada o seu
endurecimento retardará, enquanto o inverso, por
escassez de água, poderá pôr em causa a indispensável
cristalização uniforme e completa da massa gessada.
Na realidade, a ligadura gessada deve ser submetida a um grau de
hidratação tal que só a experiência costuma dar.
Boa hidratação, boa qualidade dos materiais e uma escrupulosa
aplicação, respeitando a técnica, e estarão reunidas condições para
resultar numa imobilização gessada forte, leve, eficiente, de paredes finas
e regulares.
A fim de preservar as características originais do material gessado não se
deve retirar o seu invólucro com demasiada antecedência de utilização.
Ligadura Gessada – sua aplicação
A ligadura gessada é, de forma sistemática, aplicada
circularmente, da extremidade para o centro (nos
segmentos longos), de forma suave, mas ajustadamente,
cobrindo cada volta cerca de 2/3 da anterior.
Quando aplicadas em zonas acentuadamente cóni­
cas, as mesmas ten­dem
a afastarem-se obliqua­
mente, tornan­do-se neces­­
sá­rio corri­gir esse desvio
com a forma­ção de uma inversão sem,
contudo, fazer cordão.
25
Generalidades
As ligaduras gessadas devem ser
aplicadas
em
número
considerado
suficiente, e de forma uniforme, em toda a
região a imobilizar, exceptuando zonas de
maior esforço, em que o número poderá ser
aumentado, ou mesmo reforçada com talas
gessadas (zonas articulares, de carga, abertura de “janela” e noutras onde
se justifique.
Aplicado todo o material gessado, sem perda de
tempo, proceder-se-á à sua perfeita moldagem às formas
anatómicas da região, e durante a fase de tomada de presa
realizar-se-ão as manobras de Conformação preconizadas
e outras inerentes à técnica.
Presa no Material Gessado
O material gessado quando devidamente hidra­
tado desenvolve um processo reactivo caracte­rizado
pelo aumento da sua temperatura durante o qual
consome parte da água, sendo outra evaporada,
dando lugar ao aumento progressivo do grau de
empastamento do material até chegada a tomada de
presa; altura para realizar as manobras preconizadas
(conformação, os três pontos estabi­lizadores e outras
achadas por convenientes e contempladas na técnica.
Imobilização Gessada – Secagem
Após a execução de uma imobilização será neces­
sá­rio um período de tempo, variável entre as 24 e
48 horas, para que a sua secagem, normalmente,
se verifique.
São vários os factores que poderão intervir no
pro­cesso, tornando-o mais ou menos longo, nomea­
da­mente:
26
Capítulo 1
• Qualidade e características do material gessado;
• Grau de hidratação e a temperatura da água;
• Ambiente.
Sabendo-se que uma ligadura gessada excessivamente molhada, no
mínimo, retardará a sua secagem, assim como hidratar em água abaixo
da temperatura recomendada pelo fabricante.
Também são os materiais de protecção muito responsáveis pelo
comportamento do estado de secagem de uma imobilização gessada,
havendo os de características hidrófugas; os que libertam mais ou menos
quantidade de água contida; outros, ainda, que a retêm, prejudicando a
normal secagem.
No ambiente que deverá rodear uma imobilização em fase de secagem,
não terá a temperatura grande influência, embora deva ser agradável ao
paciente e a quantos o rodeiam. Mas é o arejamento, e controlando o grau
de humidade, que influenciará favoravelmente o processo.
É, ainda, durante o período de secagem, especialmente nas grandes
imobilizações, que estas ficam sujeitas a pontos de pressão, eventualmente
transformados em outros tantos locais de compressão/sofrimento, pelo
que deverão, imobilizado e imobilização, ser, no seu conjunto, apoiados
de forma equilibrada e uniforme pelos meios mais adequados: sacos de
areia, almofadas, etc.
Materiais termo-moldáveis
São materiais que têm por base um poliéster, de
superfícies antiaderentes durante a sua manipulação,
de elevada memória plástica, permitindo os recortes e
a moldagem.
Apresenta-se, normalmente, na forma de placas, perfuradas ou não.
Não é material utilizado na imobilização propriamente dita, mas um tutor
capaz de assegurar a estabilidade de certas fracturas em estado de atraso
de consolidação ou em certas lesões dos tecidos moles.
Proporciona um suporte amovível, leve, confortável, normalmente
trespassável pelo RX. Torna-se aplicável quando aquecido, cujas tempera­
turas serão diferentes consoante o meio:
Generalidades
27
• Em água a cerca de 85º;
• A 90º quando em vapor de água;
• Em placa radiante ou em ar aquecido até
adquirir a maleabilidade ideal.
Quando submetido a aquecimento de forma liquida, quando retirado
do meio, o material é colocado sobre uma superfície absorvente a fim de lhe
retirar a água, sendo aplicado e moldado sobre a região, que endurecerá
em alguns minutos. Após os ajustes e regularização das extremidades,
é fixado com fitas de velcro. A consulta das instruções do fabricante
é indispensável.
Limites da Imobilização Gessada
Segundo a lesão e a técnica em presença
(conven­cional/clássica conformada, ou funcional),
assim serão definidos os seus limites, estando esta­
belecido que para o tratamento convencional/
/clássico, por via de regra, a imobilização dos ossos
longos ocupará as articulações adjacentes.
Quando os limites exigidos não são respeitados;
por excesso será incómodo cortar os excedentes;
pelo contrário, quando não são atingidos, será
necessário proceder ao seu prolongamento, sendo
esta “emenda” um mau recurso, sabendo-se que
não irá produzir a mesma eficácia e como­didade como se correctamente
se tivesse executado inicialmente.
Regularização das extremidades
A regularização das extremidades é
uma acção de grande importância na
imobilização gessada, sendo do conheci­
28
Capítulo 1
mento as lesões provocadas nos tecidos moles por extremidades
irregulares e, assim, agressivas, tornando a imobilização incómoda,
e quantas vezes insuportável.
A fim de conseguir extremidades com bordos confortáveis são os mate­
riais de protecção/almofadamento (manga de jérsei, algodão prensado,
etc.) voltados sobre as extremidades gessadas e fixados, em forma de
Debrum – Bainha, com ligadura gessada.
Extremidades mal regularizadas
ou falta disso, essencialmente, pela a
agressividade que provocam, levam
o paciente, na tentativa de aliviar o
incómodo/sofrimento, a iniciar por ali
a destruição da imobilização.
Remoção da Imobilização
Executar bem uma imobilização é muito
importante. Porém, para retirá-la também não
deixa de ser necessário obedecer a princípios
e a recomendações que não poderão ser,
de forma alguma, menosprezados.
Primeiro, porque não deixou, ainda, de ser frequente o aparecimento
das, sempre desagradáveis, lesões produ­zidas pelos mecanismos de corte.
Umas vezes por deficiente protecção da zona, outras, ainda, pela pouca
experiência dos executantes.
A improvisação de materiais de corte ainda é um facto observado
em centros menos experientes e equipados, felizmente com tendência a
desaparecerem.
Muitos pacientes retêm na memória a agonia de lhe ter sido retirada
uma imobilização. A dor da fractura fora esquecida, mas permanece o
sentimento de sofrimento do cortar um “gesso”.
Mesmo alguns profissionais dos mais experientes, mas menos atentos,
descoram algumas vezes os receios do paciente e, sem qualquer explicação
Generalidades
29
(no mínimo, que a lâmina é apenas vibratória),
apressam-se a realizar o acto, aumentando,
assim, o nível de ansiedade.
A máquina (serra de gessos) será posta em
movimento antes de entrar em contacto com
a imobilização. A sua lâmina será dirigida
ao gessado na posição perpendicular. O corte será executado por golpes
sucessivos, em toda a profundidade e extensão, sendo de evitar o contacto
com os tecidos moles, exercendo, para isso, apenas a pressão necessária
para atravessar a parede gessada. Para os experientes é bem perceptível
quando a lâmina corta toda a parede gessada e fica sobre os materiais de
protecção.
A imobilização deve ser cortada em forma
de bivalve, evitando as saliências ósseas,
sempre que possível. Esta conduta permitirá
manter a estabilidade da zona até final do
acto, permitindo que uma das valvas, normalmente a posterior, seja
utilizada durante a realização de exames ou em períodos de reabilitação.
A componente económica também não deixa de estar presente.
Ainda como material de corte deverá ser utilizada
a tesoura, cuja lâmina inferior possua na sua
extremidade uma protecção (bico de pato), própria
da tesoura de LISTER, impeditiva de causar lesões
nos tecidos moles.
Como auxiliar no afastamento das ditas valvas é
utilizado um afastador apropriado (de extremidades
alargadas) dando, assim, acesso fácil ao material
de protecção, que será então cortado com a dita
tesoura.
Só assim as valvas se separarão sem esforço
e sem risco de destabilizar uma fractura
recente.
30
Capítulo 1
É importante que o material
para retirar uma imobilização
seja adequado e esteja em boas
condições de funcionamento.
A máquina de gessos, como é
sabido, apenas faz movimentos osci­la­tórios, devendo estar
equipa­da com lâmina de diâmetro entre os 0,50 mm e os 70
mm. Seria impor­tante que este aparelho fosse silencioso e equipado com
sistema de aspiração de poeiras.
Tala Gessada na Imobilização
É o elemento mais simples no seio da imobilização, no
entanto, eficaz quando organizada e aplicada segundo
os critérios técnicos estabelecidos e segundo os seus
objectivos.
Normalmente organizada por
camadas sobrepostas de material
gessado, retirado das próprias ligaduras.
A sua espessura é constituída pelo número
de lâminas julga­das convenientes, sendo o com­
pri­­mento e a largura de acordo com as dimen­sões da
região. É conveniente proceder, antecipadamente, à
medição da região.
Depois de, assim, organizada, é agarrada pelas
extremidades, tornando-a em forma de har­mó­­nio
(assim será mais fácil
manipulá-la), submetendo-se à hidratação.
Retirada da água, é colocada sobre uma
superfície lisa e antiaderente, com a finalidade
Generalidades
31
de lhe retirar o excesso de água e restituir-lhe as suas dimensões originais,
passando sobre ela as faces palmares.
Sem perda de tempo, e antes da chegada de tomada de presa, proceder-se-á à sua aplicação, segundo o objectivo:
a) como reforço numa imobilização;
b) como imobilização provisória;
c) como imobilização definitiva.
a) Tala Gessada como reforço de uma
imobilização
É a nível articular, na face plantar
(quando para colocação de rasto de
marcha) e noutras zonas de maior esforço
que a imobilização gessada necessita de ser reforçada.
A tala é aplicada, fazendo-a aderir perfeitamente à zona com algumas
voltas de ligadura gessada para melhor fixação e eficácia.
b) Tala Gessada como imobilização
provisória
É, normalmente, aplicada em fase aguda
de traumatismo, em situações de pós
cirurgias, noutras em que a região necessita
de repouso, ou mesmo como processo de
alternância à reabilitação.
A sua fixação à região é feita, por norma,
com ligadura de gaze, permitindo, se
necessário, reajustamentos periódicos.
c) Tala Gessada como imobilização
definitiva
Ver em: Capítulo 2 – Imobilizações.
32
Capítulo 1
O Paciente
Após noção de Imobilização em Ortotraumatologia; determinar os seus
principais objectivos; tomar conhecimento dos materiais mais utilizáveis
e respectivos comportamentos; observadas algumas manobras realizáveis
durante ou após a sua execução, falta-nos conhecer o estado do paciente.
Paciente que, normalmente, nos aparece perturbado física e
psicologica­mente; desconhecedor do meio que o passa a rodear; duvidoso
do grau e por quanto tempo a sua
incapacidade (cremos que apenas
se verifique tempo­rariamente).
São, por vezes, as responsa­
bilidades para com a família e/ou
para com aqueles que mantém
compromissos mais o preocupam e
fazem relegar para segundo plano
o seu sofrimento físico.
A intervenção da Segurança Social tem aqui lugar.
Um paciente tranquilo entende melhor e colaborará no seu trata­
mento.
A informação será a forma que mais e melhor o poderá tranquilizar.
A comunicação terá de ser praticada de forma prudente, mas continuada,
procurando receber informação das suas preocupações.
O paciente poderá apresentar-se de cor pálida, com suores frios; razões
para se proceder à avaliação das suas tensões arteriais. A dor deverá ser
controlada ou mesmo suprimida.
Também, regionalmente, devemos averiguar
da existência de lesões dérmicas, referenciando-as e protegendo-as. A zona será lavada, desin­
fectada, assim prevenindo o agravamento das
existentes e o aparecimento de outras.
Generalidades
Um gessado:
• CONFORMADO segundo as regras estabele­
cidas;
• LIMITES convencionados segundo a técnica;
• EXTREMIDADES regularizadas segundo as
normas;
• LEVEZA sem colocar em causa a sua eficácia;
• EXECUTADO por critério clínico;
• E com uma boa “porção” de arte será IMOBI­
LIZAÇÃO EM ORTO-TRAU­MATOLOGIA,
proporcionando EFICÁCIA e COMODIDADE,
transmi­tindo tranquilidade e confiança ao
pacien­te e a quantos o rodeiam.
Desta maneira, não. Assim…! é mais um artefacto que tantas
vezes se torna irritante e traumatizante, podendo tornar-se
fundamental para o insucesso do processo de tratamento
33
Capítulo 2
IMOBILIZAÇÕES GESSADAS
DO MEMBRO SUPERIOR
Algumas particularidades
Quando o membro fica submetido à
imobi­lização, por princípio, é colocado
em repouso ao peito. O ombro, muitas
vezes injustificadamente, também sofre as
consequências dela, podendo levar à rigidez
articular, etc. Como conduta preventiva
serão realizados, em alternância ao
repouso, todos os movimentos permitidos, preferencialmente pendulares,
aumentando-os, progressivamente, no tempo e na amplitude.
Articulação do Cotovelo e/ou do Punho
Na maioria das imobilizações do membro
superior são as suas articulações quase sempre
sujeitas à imobilização. Mais não se poderá
fazer mais do que libertá-las precocemente,
recorrendo á técnica “ORTOPÉDICA/FUN­
CIONAL” no tratamento de fracturas, se for
esta a opção clínica.
Flexura do Cotovelo
Não é desconhecido que, por emba­
raço vascular de retorno, eventual­
mente, por aplicação menos cuidada
do material gessado sobre a flexura do
cotovelo, um membro traumatizado
36
Capítulo 2
em fase aguda submetido a imobili­zação fechada apresente extremidades
fortemente tumefactas, com grandes tensões intramusculares, podendo
levar a desagradáveis consequências neurológicas locais.
Eventual medida profilática
Quando a aplicação das ligaduras gessadas atingem
¼ proximal do antebraço, encontrando-se o cotovelo
flectido a 90º, é interrompida a aplicação circular, para
levar a passar a ligadura por uma das faces laterais
do cotovelo à porção distal do braço, dando aí uma
circular, para voltar pelo lado contrário ao antebraço,
onde se fixa, também com uma
circular. Este procedimento deve
ser repetido por duas vezes,
construindo o que se poderá
chamar os “pilares” de uma ponte.
Agora é dar continuação à aplicação do material
gessado a partir de onde tinha sido interrompido,
cobrindo a flexura sobre os ditos “pilares”, para
terminar onde estava estabelecido.
Esta manobra servirá de exemplo para todas as
imobilizações que ocupem esta zona.
Mão
Todas as suas capacidades, desde a preensão
ao tacto, fazem da mão um órgão dos mais
complexos e importante para o Homem.
Mas é a alteração da sua funcionalidade que
também muito nos preocupa.
Um componente gessado que inclua a mão
ilesa, não deverá ultrapassar a linha inter-metacarpo-falângica, deixando
também o polegar livre de forma a facilitar a prática da oponibilidade,
essencial á continuidade da preensão.
Imobilizações Gessadas do Membro Superior
37
Também a porção metacarpiana deverá, durante a
execução do gessado, manter-se fisiologicamente espal­
mada. Facilitando os movimentos normais de todos
os dedos.
Três pontos de apoio estabilizadores
No membro superior, é nas fracturas da diáfise do úmero que, por
sistema, esta manobra se realiza.
Consiste em exercer sobre o
gessado, manualmente, três níveis
de forças.
Uma sobre a zona epifisária distal
interna; outra, em sentido oposto, na
porção diafisária mediana externa;
a terceira no sentido da primeira,
exercida pela oposição da parte
proximal do segmento lesado.
Procedimento levado a efeito com o objectivo de contrariar a tendência
ao varo.
Imobilização Gessada do Úmero
Tala Gessada em U (por fractura estável do terço médio do úmero)
É de considerar a aplicação de uma tala
gessada a título definitivo quando os seus
efeitos são leva­dos até alcançar o fim em
vista – a cura.
Esta imobilização poderá ser executada
por várias razões, mas neste caso, em
particular, como bom exemplo.
O paciente é colocado na posição de sentado, sempre que possível.
38
Capítulo 2
O membro, com flexão do cotovelo a 90º, é, preferencialmente, amparado
pelo próprio paciente, mão no punho, com o antebraço em pronação, para
facilitar a neutralização da tendência ao varo.
O tronco é inclinado para o lado da lesão, posicionando-se o membro
em condição pendular. Estes procedimentos muito contribuirão para um
elevado grau de relaxamento, facilitando as respectivas manobras de
redução e de imobilização.
A tala será aplicada a partir do grande troquíter, descendo a face
externa do braço, roda inferiormente o cotovelo e sobe pela face interna
até ao cavado axilar.
Pelas faces antero-posterior deverão ficar faixas longitudinais, com
cerca de dois centímetros de largura, isentas de material gessado, que irão
permitir reajustamentos periódicos, consoante a regressão do edema.
A tala fixa-se rápida e ajusta­
damente ao braço com ligadura
de gaze, conformando bem as zonas
supra-condilianas. Espalmam-se as
faces, interna e externa. Realiza-se a
manobra dos três pontos estabi­liza­
dores, prevenindo, assim, a tendên­
cia ao varo.
Liberta-se a flexura de modo a permitir mobi­lidade entre os 90º e 110º.
A extremidade proximal da imobilização é fixada sobre a zona da
espádua respectiva com ligadura elástica auto-adesiva, de caracte­rísticas
analérgicas.
Ensaiam-se os movimentos de
flexão e de extensão do cotovelo, assim
como pendulares do membro.
O membro é suspenso ao pescoço,
com material adequado, por períodos
de alternância ao programa de exercí­
cios.
Imobilizações Gessadas do Membro Superior
39
Braqui-antebraquial (por fractura do terço médio inferior do úmero)
É a posição de sentado, sempre que possível,
a que melhor proporciona boas condições de redu­
ção. Membro, com cotovelo a 90,º seguro, prefe­ren­
cialmente, mão no punho, pelo próprio paciente,
com antebraço em pronação e tronco inclinado
para o lado da lesão, encontrando-se assim o
membro suspenso pelo ombro. Esta postura contribui, decisivamente,
para um elevado grau de relaxamento que muito facilitará a redução.
Após colocação do material de protecção/almofadamento e processado
a redução, é imperioso que de imediato se estabilize a fractura, aplicando
ligaduras gessadas a partir do quinto proximal do antebraço até ao grande
troquíter, respeitando o cavado axilar.
Durante a fase de presa do material gessado,
proceder-se-á à neutralização da tendência ao
varo, com a realização da manobra dos três
pontos estabilizadores. (como atrás) Seguidamente
procede-se à conformação sobre das zonas supracondilianas do úmero assim como o restante componente, de maneira a
obter faces achatadas.
De seguida é engessado o resto do antebraço até
ao punho, que ficará livre, conformando-se: pela face
posterior, sobre a membrana inter-óssea rádio-cubital;
sendo anteriormente, apenas, de forma insinuada.
A conformação sobre este segmento tem o propósito
de impedir ou limitar a amplitude dos movimentos de
prono-supinação.
Na extremidade proximal é
a imobilização estabilizada, ligando-se ao ombro
com material adesivado.
Ensaiam-se os movimentos pendulares do
membro com alternância para os exercícios.
40
Capítulo 2
Imobilização Gessada Braqui-palmar
(por fractura dos ossos do antebraço)
Posição: Para tentar reduzir as fracturas dos ossos
do antebraço, deve o traumatizado ser colocado,
prefe­rencialmente, sentado, podendo, no entanto,
estar deitado em decúbito dorsal.
O membro é suspenso pelos 1o e 2os dedos, com
auxílio do “chinese ‘finger traps’” na posição de
supinação, e com o cotovelo flectido a 90º. A contratracção, de 3 a 5 quilos, é realizada a nível distal do
braço.
Estas acções facilitam um suave e progressivo relaxa­mento muscular,
permitindo, após cerca de 5 minutos, com manipulações suaves, uma
redução fácil e menos traumatizante.
A posição em supinação é importante para que se corrija o afastamento
interósseo e o paralelismo rádio-cubital.
Após a redução, o membro é submetido à
imobilização braqui-palmar, tendo em atenção que
o seu limite distal se situará a nível da linha
interóssea metacarpo-falângica, terminando no
terço médio do braço.
Exercer conformação sobre a membrana rádio-cubital, especialmente na sua face posterior; já
que pela face anterior será apenas sujeito a uma
discreta pressão, formando apenas o achatamento
do gessado; forma de colocar
e manter os respectivos ossos
paralelamente afastados. As zonas supra-condilianas
do braço serão, igualmente, conformadas.
É o antebraço o segmento do membro supe­rior que por
motivos de traumatismo ou por manobras de redução
mais ou menos vigorosas, frequentemente sofre de
elevadas tensões intramusculares, podendo instalar-se
Imobilizações Gessadas do Membro Superior
41
um quadro de sofrimento, muitas vezes,
de consequências irreversíveis.
A forma profilática aos eventuais cons­
tran­gimentos já foi descrita em algumas
particularidades (p. 37).
Principais imagens da realização da imobilização do antebraço
Imobilização Gessada Braqui-palmar (por fractura de Colles)
Para a execução desta imobilização o traumatizado
é colocado, preferencialmente, sentado. O membro em
supinação, cotovelo a 90º, fixado pelo polegar através do
“finger traps”.
42
Capítulo 2
A tracção é de cerca de 4 quilos, durante 10 minutos,
ao fim dos quais serão iniciadas as manobras de
desencravamento do respectivo fragmento.
Verificado, digitalmente, o desencravamento, é o
gessado executado, tendo como limites: região interóssea
metacarpo-falângica, e o terço médio do braço.
Durante a fase de presa é o punho colocado em flexão
e desvio cubital de cerca de 40º, manobra, esta, que
completará a redução e estabilizará o respectivo fragmento
ao nível original da superfície articular.
A conformação do gessado incidirá: pela face posterior,
sobre a linha interóssea rádio-cubital; pela face anterior,
apenas de forma insinuada; a nível do braço, sobre os
côndilos umerais.
Imobilização Gessada Braqui-palmar, englobando
a 1ª falange do 1º dedo da mão (por fractura do
escafóide cárpico)
Durante a fase aguda, a imobilização é executada
desde a inter-linha metacarpo-falângica, de forma a
permitir oponibilidade dos dedos, e antebraço em
prono-supinação neutra, terminando no terço inferior
do braço, exercendo conformação sobre as zonas supra-
Imobilizações Gessadas do Membro Superior
43
-condilianas do úmero. Insinuadamente as faces, anterior e posterior,
do antebraço.
2ª fase
Após cerca de três semanas, com
exame imagiológico, e critério clínico,
será libertado o cotovelo até à cura.
Imobilização Gessada Toro-Braqui-palmar
O paciente é, preferencialmente, colocado
na posição de sentado em banco redondo e
regulável em altura, com o tronco erecto, e com
o membro, salve-se outra indicação, colocado a
45º de abdução. Cotovelo flectido a 90º, sendo a
antepulsão de 30º.
A imobilização é iniciada sobre a zona
sacro-ilíaca, progredindo o envolvimento do
tronco. Sobre os bordos superiores dos ilíacos é
realizada conformação, fazendo passar uma ligadura de pano, com cerca de
metro e meio de comprimento, de trás para a frente, cujas extremidades se
cruzam sobre a região púbica.
Está assim assegurado o necessário apoio desta grande imobilização e,
para que os componentes toro-braqui-palmar tenham uma sólida união
entre si, é necessário reforçar a zona escápulo-umeral com algumas talas
gessadas de reforço, estrategicamente colocadas.
Já com o membro colocado em posição pré-definida, a primeira tala parte da zona ilíaca
anterior do lado lesado, que subirá ao cavado
axilar, seguindo pelas faces internas do braço e
do antebraço até terminar na linha interóssea
metacarpo falângica, criando na mão apenas
um apoio.
44
Capítulo 2
Outra, partindo da zona ilíaca posterior do lado são, subirá, obliqua­
mente, à zona escápula-umeral lesada, seguindo pela face externa do
braço, passando no antebraço pela face posterior até ao punho, deixando-o
livre.
Uma terceira, partindo da base da zona do hemitórax do lado são, subirá
pela parte antero-superior do gessado, passando pela zona escápulo-umeral, prolonga-se pela face posterior do braço, terminando no terço
proximal do antebraço.
Com o propósito de bem impregnar as talas no gessado serão passadas
algumas ligaduras de acabamento.
Marcar e retirar, depois da secagem, o retalho sobre a zona gástrica.
Imobilização com cruzado posterior das espáduas (por fractura
da clavícula)
Tratando-se de uma imobilização executada com material de suporte
baseado em ligadura de pano, é, contudo, eficaz para o tratamento da
maioria das fracturas do terço médio da clavícula.
A sua eficácia fundamenta-se na forma técnica de execução, cuja
acção primordial consiste em fazer aumentar a distância entre ombros,
neutralizando as contracturas muscula­­res, “obrigando” os fragmen­tos
ósseos a recolocarem-se com a forma e compri­mento originais.
Para a execução desta imobilização a posição do paciente será a de
sentado, tronco erecto e membros superiores colocados (apoiados) a cerca
de 45º de abdução e com a retropulsão possível dos ombros.
O executante colocar-se-á de frente
para a parte posterior do tronco, iniciando
a imobilização com duas voltas de fixação
no ombro contrário, de trás para a frente e
de baixo para cima, cruzando de seguida
a face posterior do tronco até à axila do
lado lesado, rodando o ombro de trás
Imobilizações Gessadas do Membro Superior
45
para a frente e de cima para baixo. A ligadura circula alternadamente os
ombros, sempre em tensão, cruzando, sucessivamente, entre as espáduas,
até se verificar que os ombros se afastaram e se fixam em retropulsão
forçada.
Cuidados especiais
Esta imobilização requer um almofadamento generoso a fim de evitar
hiper-pressão do plexo braquial. Os membros, com tendência a dimi­
nuírem o grau de abdução, aumentam a pressão axilar, podendo levar ao
aparecimento de transtornos neuro-vasculares periféricos na sua porção
distal.
As instruções tendentes à profilaxia das eventuais alterações consistem,
essencialmente, no alívio da respectiva pressão axilar, aconselhando o
paciente a colocar as suas mãos sobre os ilíacos, proporcionando alguma
abdução dos braços e, por isso, descompressão.
Capítulo 3
IMOBILIZAÇÕES GESSADAS
DO MEMBRO INFERIOR
Algumas particularidades
Os membros inferiores, de características robustas
de harmonia com as suas funções, quando submetidos
à Imobilização clássica prolongada também eles sofrem
de consideráveis perdas de massas musculares e da,
não menos arreliadora, rigidez articular.
Com o fim de prevenir parte destas complicações será
nosso dever ensinar e motivar o paciente à realização de
contracções isométricas muscula­res, mas seria
a opção, sempre que indicada clinicamente, a
aplicação da técnica de tratamento pelo método
ortopédico/funcional, que minimizaria parte
dessas contrariedades.
Três pontos de apoio estabilizadores
Tal como no membro superior, também no
membro inferior esta manobra técnica é praticada,
com a diferença de aqui se tratar de contrariar a
tendência ao valgo.
Uma das forças é exercida sobre a zona epifisária
distal externa; outra, em sentido oposto, na porção
diafisária mediana interna; a terceira, no sentido da
primeira, exercida pela oposição da parte proximal
48
Capítulo 3
externa do segmento lesado, podendo ter ajuda de uma terceira pessoa,
tal como na imagem.
Realização de apoio isquiático na imobilização ísquio-podálica
Manobra levada a efeito aquando da confor­
mação quadrangular da raiz da coxa, submetendo
o bordo proximal e posterior
do gessado ao contacto com a
tuberosidade isquiática, com a
finalidade de ali criar um apoio de descarga do membro
quando em regime de carga progressiva assistida.
O bordo gessado, na zona, deverá ser excepcionalmente
confortável, almofadando generosamente a zona.
Protecção ao tendão de Aquiles
É a forma de aplicação das ligaduras
gessadas sobre a zona, mais que ajustada­
mente, que o tendão poderá sofrer de certo
constrangimento. Para proteger a sua normal
forma anatómica será necessário modelá-lo
digitalmente em toda a sua extensão.
Carga simulada do pé
Também o gessado a nível da zona mediana dos
ossos do metatarso deve ser pressionado digitalmente,
de forma controlada; essencialmente sobre o 2º, 3º
e 4º meta, a fim de, assim, fazer espalmar a zona,
simulando carga fisiológica.
Imobilizações Gessadas do Membro Inferior 49
Manobra também importante para a reabilitação da marcha quando
retirada a imobilização, especialmente para o equilíbrio.
E assim que se apresenta a região quando em carga fisiológica
(espalmada).
“Janela” na imobilização
Sempre que na zona a submeter a imobilização exista
numa situação que exija vigilância e/ou tratamento,
é necessário criar condições de acesso.
A zona ferida ou doente deverá ser
referenciada antecipadamente com a
pre­cisão possível e transferida para local
simetricamente oposto. Caso não se verifique condições de
simetria serão retiradas medidas e outras referências que
venham a facilitar a sua exacta localização, após executada
a imobilização.
Após execução da imobilização, será a referência
transferida do local são para o gessado, utilizando a
mesma preocupação de exactidão.
Só após a secagem será recortado o retalho, em
toda a sua extensão e profundidade, utilizando com os
devidos cuidados a serra de gessos.
Retirado o retalho gessado, será também recortado
o material de protec­ção, preferencial­mente, em forma
de X, e o mesmo voltado sobre os bordos da abertura,
fixando-o com tiras gessadas generosamente hidratadas.
Quando nos tratamentos são utilizadas substâncias
líquidas, devem os mesmos bordos ser protegidos, de
forma que os líquidos não escorram para o interior ou
exterior das paredes gessadas, tornando-as humedecidas
e frágeis, surgindo com alguma frequência, nos tecidos
moles subjacentes, dermatoses ou dermatites.
50
Capítulo 3
Recolocar o retalho requer a condição de submeter o local à pressão
aproximada da exercida pela imobilização, para isso deve ser fixado
circularmente.
Não o recolocar nas condições acima referidas ou
simplesmente desprezá-lo, é permitir a exuberância
dos tecidos moles, contribuindo para o atraso da
cicatrização das feridas por deficiente irrigação
sanguínea ao local.
Não sendo procedimento exclusivo da perna, é nela que frequentemente
se verifica.
Gipsotomia em imobilização gessada
Acto técnico, consistindo em dar um corte
parcialmente transversal num gessado que
contenha uma fractura diafisária com algum
desvio de alinhamento e/ou pequenas dife­
renças do seu comprimento original.
Segundo as alterações a corrigir assim
será denominado o acto, sendo somente
executado após secagem do gessado.
Gipsotomia de adição
Acto de tentar corrigir fracturas com
angulação inaceitável e discreto encurtamento
por encravamento.
O corte, no gessa­
do, é de incidência
ao vértice do menor
ângu­lo, seguindo-se o afastamento dos bordos,
por pressão manual exercida nas extremidades
da imo­bi­lização, até atingir a amplitude previa­
Imobilizações Gessadas do Membro Inferior 51
mente calculada e considerada suficiente para neutralizar os respectivos
desvios.
A posição é mantida pela colocação de uma cunha em forma de ponte,
de maneira a não pressionar os tecidos moles.
A posição é fixada com ligadura gessada aplicada circularmente.
Os desvios, assim como os resultados dos actos,
são avaliados por exames imagiológicos em dois
planos perpendiculares, e do comprimento total do
segmento ósseo em causa.
Gipsotomia de subtracção
Assim designada por ser retirada ao gessado uma porção gessada em
forma de um gomo de laranja – apenas a “casca” –, na tentativa de corrigir
significativa angulação e/ou com ligeira diastáse dos topos ósseos.
Os cortes são executados com incidência ao vértice do maior ângulo,
cujo retalho é calculado de acordo com o grau dos desvios verifi­cados.
A acção desta gipsoctomia é oposta
à da anterior, e, por isso, os bordos são
aproximados e fixados, igualmente, com
ligadura gessada.
Sendo previsível o desenvolvimento
de grande pressão sobre a zona, é esta
manobra, por si e pelos eventuais trans­
tornos dermo-neuro-vasculares, de realização muito pontual, cujos
cuidados, em relação à anterior, têm de ser redobrados.
O controlo imagiológico é também realizado à semelhança da anterior.
Cuidados pós Gipsotomia
O traumatizado ficará em vigilância durante as primeiras horas para
detecção e avaliação de eventuais transtornos, sabendo-se que a deficiente
protecção/almofadamento da zona e/ou o exagero da manobra poderão
contribuir para o seu agravamento.
Por regra, este acto não hiper-corrige.
52
Capítulo 3
Imobilização gessada pelvi-cruro-podálica
Como o seu nome indica, a acção desta imobilização far-se-á sentir por
todo o membro até a nível da 3ª costela asternal.
A conformação ilíaca é a manobra mais eficaz para tornar a região
solidária com o membro.
A sua execução é em mesa
ortopédica, contemplando os
apoios das regiões: cefálica e
das espáduas, dos ramos isquiá­
ticos, e dos pés, com apoio para
os calcâneos.
Aplicado o material gessado,
de forma convencional, (das
extre­midades para o centro), salvo raras excepções; sabendo-se dos
excepcionais esforços exercidos a nível da articulação coxo-femural, é
necessário que se proceda ao reforço da zona com talas gessadas:
• Pela face anterior, desde 1/3 proximal da coxa ao ilíaco contrário,
curvando sobre o triângulo de Scarpa, seguindo sobre a sínfise púbica;
• Pela face lateral, do mesmo nível, parte uma outra que sobe ao ilíaco
do mesmo lado, seguindo para trás, passando sobre a região sagrada,
terminando de forma a encontrar-se com a extremidade inicial da
anterior;
• Ainda uma terceira, mas posteriormente, que sobe até à região supra-ilíaca respectiva.
Para que a articulação contrária possa exercer flexão de, pelo menos,
90º, o componente gessado pélvico terá de abordar a parte superior da
espinha ilíaca antero-inferior, do respectivo lado.
A fim de facilitar a dilatação gástrica e a respiração
infra-diafragmática serão colocadas duas ligaduras de
algodão de baixo volume, no sentido longitudinal, criando
um espaço de dilatação na região.
Imobilizações Gessadas do Membro Inferior 53
Esta imobilização, por critérios clínicos, também
poderá ser executada a partir das zonas supra-condi­
lianas do fémur respectivo (calção), onde será conven­
cionalmente conformado.
Ainda pelos mesmos motivos, ela poderá ser executa­
da a partir da zona supra-maleolar (deixando o pé livre).
Caso se opte pela forma inicial, o pé só será incluído
na imobilização (pelvi-cruro-podálica) quando liberto
do apoio podálico da mesa ortopédica.
Imobilização gessada isquio-podálica (por fractura distal do fémur
ou proximal da tíbia)
Esta imobilização, tanto por fractura do 1/3
distal do fémur, como por dos ossos da perna, é
conhecida por cruro-pediosa ou cruro-podálica.
Mas na verdade ela será denominada de isquio-podálica, essencialmente, pelo facto do bordo
posterior proximal da imobilização ser, pela influên­
cia da manobra de conformação quadrangular da
raiz da coxa, colocado sob a zona da tuberosidade
do ísquion.
Quando por fractura da tíbia o paciente é
colocado na posição de decúbito dorsal, com a perna pendente, sendo a
do executante sentado em banco baixo de forma a ficar de frente para o
segmento em causa.
Esta é a posição que melhor relaxamento muscular
proporciona, facilitando as manobras de redução e
de imobilização.
Atendendo ao nível da fractura, será prioritário que se
estabilize o foco, para depois completar a imobilização.
No pé, pela face plantar, desde as extremidades dos
dedos. Pela face dorsal deixando-os livres. Moldase bem o cavado plantar, pressiona-se, digitalmente,
54
Capítulo 3
sobre o 1/3 médio dos metatarsos com a finalidade de bem espalmar a
zona, criando, assim, carga simulada. A região maleolar bem modelada;
no tendão de Aquiles protegendo-o da sua proeminência, como já
indicado, dando continuidade à aplicação do material gessado até ao
nível da grande tuberosidade da tíbia.
Conformar sobre a membrana interóssea tíbio-peronial, para logo
colocar o membro em plena extensão, aplicando material até á raiz
da coxa.
Realizar conformação sobre a raiz dos gémeos, em simultâneo com a
do tendão rotuliano. Esta apenas de forma insinuada. Continuar com as
manobras de conformação sobre as zonas supra-condilianas, e proceder
ao achatamento das paredes laterais do gessado até à raiz da coxa, onde
se procederá à aplicação do conformador mecânico, exercendo conforma­
ção quadrangular da raiz da coxa, em simultâneo com a realização do
apoio isquiático.
Conjunto de Imagens elementares para execução de imobilização do
membro inferior
Imobilizações Gessadas do Membro Inferior Bota Gessada – Tipo Sarmiento
Esta imobilização é frequentemente executada
pelo facto de proporcionar maior estabilidade ao
segmento da perna.
Todos os procedimentos técnicos de execução são,
de todo, semelhantes aos praticados na imobilização
anterior até ao nível do pólo superior da rótula.
55
56
Capítulo 3
Para que o gessado permita que o joelho exerça 90º de flexão, dele é
retirado um retalho desde a extremidade proximal posterior até à inter-linha do cavado poplíteo.
Bota gessada clássica
Como da imobilização anterior, também esta está
sujeita aos mesmos preceitos técnicos, linha interóssea
tíbio-peronial, cujo limite se situa sobre a grande
tuberosidade da tíbia.
“Cilindro” gessado”
Algumas lesões a nível do joelho, essencialmente de
ordem ligamentar, não necessitando do componente
podálico nem de descarga isquiática, é o membro
submetido ao chamado (incorrectamente) de “cilindro”
gessado, cujas extremidades se situam sobre a zona
supra-maleolar e o 1/3 proximal da coxa.
Também esta imobilização, para que não se deslo­
que, necessita de eficaz conformação das zonas supra-condilianas do fémur, e sobre a raiz dos gémeos,
não esquecendo que o achatamento das faces late­
rais e posterior do gessado do
componente femoral também dão uma boa ajuda á
estabilidade.
Cilindro é aquela imobilização que se desloca,
essencial­mente, no sentido distal, provocando sobre
os maléolos grande pressão, causando desconforto e
por vezes feridas.
Capítulo 4
Imobilizações gessadas
da Coluna Vertebral
A coluna vertebral constitui uma parte
muito importante do esqueleto, actuando
como um “pilar” que suporta a parte
superior do corpo humano, resguardando
o prolongamento do sistema nervoso
central.
Também ela não “fugirá”, por lesões
traumá­ticas ou patológicas, à acção da
imobilização.
Devido à sua constituição, não será fácil
controlar os seus movimentos sem tornar
soli­dárias a cabeça e a cintura pélvica,
passando pelo segmento do tronco.
Hoje, tanto pelas avançadas técnicas
cirúr­gicas, como pelos implantes metálicos e, ainda, pela aplicação de
ortóteses acrílicas, leves e resistentes, executadas por medida ou pré-cons­
truídas, são estas grandes imobilizações menos frequentes, contudo, elas
continuarão a ser executadas.
Estas imobilizações são demoradas e complexas de executar, e porque
o paciente se encontra psíquica e fisicamente fragilizado, terá de previa­
mente ser observado e preparado de forma a proporcionar um acto
tranquilo e seguro.
Durante a execução a atenção será permanente, especialmente
de forma comunicativa.
58
Capítulo 4
A posição do paciente dependerá muito do seu estado e da indicação
clínica, podendo a imobilização ser executada:
a) De pé, auxiliado por barras horizontais e/ou verti­
cais, com ou sem sustentação da cabeça.
b) Sentado (em boa verdade semi-sentado) caso
presente, em banco giratório regulável em altura,
com auxílio de barras, com ou sem sustentação
da cabeça.
c) Deitado, em mesa própria (ortopé­
dica) normalmente ventral (aqui,
dar forma a leito gessado).
O material de protecção/almofadamento deverá
ser o adequado, tanto na espessura como na
qualidade: que não se desloque, nem se decomponha
pela pressão, nem pelos suores ou outras humidades.
Imobilizações Gessadas da Coluna Vertebral
59
Após execução, o paciente enfrenta algumas dificuldades para realizar
essenciais rituais higiénicos da sua vida privada e social.
O acompanhamento por pessoa íntima ou familiar terá de ser profi­
ciente.
A imobilização da coluna vertebral tem por
princípio a envolvência da cintura pélvica, tendo como
limites inferiores a inclusão da região sagrada, assim
como anteriormente, sobrepondo a sínfise púbica,
deixando as articulações coxo-femorais livres, de
forma a permi­tir, pelo menos, 90º de flexão. Progridase, com a aplicação do material gessado, envolvendo
o tronco: pela face posterior até à zona cervical;
anteriormente, sem limitar os movimentos dos membros superiores, até à
porção mediana do manúbrio.
Encontrando-se o material em fase de presa,
proceder-se-á à conformação sobre os ilíacos, sobre
os seus bordos superiores, com o auxílio de uma
ligadura de pano, de cerca de um metro e meio de
comprimento, colocada de trás para a frente, a partir
da sua parte média, cujas extremidades se cruzam
sobre a região púbica.
Agora que realizámos um apoio forte e
eficiente, é a cabeça colocada em posição que
permita olhar o horizonte, fixada por uma tala
gessada, desde a região lombar até acima da
linha superior do occipital, envolvendo também
a porção mediana e posterior do pescoço. Segue-se a colocação de uma outra tala, de cerca de
seis centímetros de largura, em que a sua porção
60
Capítulo 4
média é colocada sobre o frontal, seguindo as suas extremidades sobre as
zonas temporo-parie­tais que, cruzando sobre a nuca, se vão sobrepor nas
zonas das espáduas.
São as irregularidades do occipital, em especial a sua protuberância
externa e os tubérculos do frontal que, quando exemplarmente confor­
mados/cingidos pelo material gessado, asseguram a imobilidade da
coluna cervical. No occipital os movimentos de extensão. No frontal os de
flexão, que do seu conjunto resulta imobilização.
Também o material de protecção/almofadamento deverá
ser aplicado de forma a não “apagar” as ditas irregularidades,
mas sem deixar de cumprir a sua função – protecção.
Posto isto, procederemos ao reforço dos locais
mais vulneráveis ao esforço – colocando duas
talas: uma de cada lado, sobre as zonas espáduo/
/claviculares, que descem, antero-posteriormente,
até aos ilíacos. Junto ao pescoço é colocada em
forma de gola. Para reforçar a parte anterior
do gessado é colocada uma tala sobre a zona
superior do externo, em forma de ogiva, cujas
extremidades descem, formando os “pilares”, até
aos bordos ilíacos anteriores, garantindo, assim, a
integridade da imobilização quando retirado o retalho gástrico, sendo de
maior dimensão nas mulheres, pelos motivos óbvios.
Claro que para conseguir eficácia e comodidade, obrigará a uma
rigorosa técnica de execução, especialmente sobre a zonas do frontal e do
occipital.
Imobilizações Gessadas da Coluna Vertebral
61
Observação importante
Não deixar o maxilar inferior liberto,
como normalmente se observa, é soli­citar
as primeiras vértebras cervicais sempre
que o paciente pretende realizar acções de
sobrevivência – falar, comer/mastigar, beber,
etc.; provocando a maior das angústias que já
observámos nos pacientes portadores deste
tipo de imobilização.
Quando pretendemos que uma imobilização seja executada com
o objectivo de aliviar a dor e contribuir para a cura da lesão em causa,
e não mais um artefacto capaz de aumentar o sofrimento, também esta
particularidade foi ponderada.
Imobilizações segmentares da coluna vertebral
Descrita a imobilização gessada de toda a
coluna vertebral, será agora mais fácil traçar
as linhas para imobilizar os seus principais
segmentos: cervical, dorsal e lombar.
Utilizando o critério de imobilização, nem
a coluna cervical será imobilizada sem incluir
a cabeça e o segmento dorsal; nem a coluna
lombar o é sem submeter os componentes
dorsal e sacro-ilíaco.
62
Capítulo 4
Então o segmento dorsal? Será suficiente incluir
na imobilização as porções cervical e lombar? Não.
A inclusão dos ilíacos é imprescindível, essencialmente
como apoio. Quando devidamente conformados, ali
serão controlados os movimentos de rotação e de
deslocação distal.
Imobilização gessada da coluna lombar em “colete” gessado
Já sabemos que a imobilização da região sacro-ilíaca
é parte importante para controlar os movimentos de
rotação, sendo na parte superior do tronco onde se
completará o objectivo. Mais eficazmente quando com
a aplicação de alças gessadas.
Os requisitos de eficácia e
segurança garantem-se com os
três pontos de apoio destinados
a controlar os movimentos,
essencialmente, de flexão do tronco. Anteriormente,
sobre o manúbrio e a sínfise púbica. Pela parte
posterior, sobre a região dorso-lombar.
A abertura anterior é executada à semelhança da
imobilização de toda a coluna vertebral.
Quando necessário estabilizar a zona lombo-sagrada será a imobilização prolongada a uma das
coxas, reforçando a zona articular coxo-femoral
respectiva com três talas gessadas. Uma colocada
na face anterior, outra lateral externa, e a terceira
na face posterior. Todas partem do 1/3 médio da
coxa, prolongando-se até a zona supra-ilíaca. Como
normalmente, fixadas com ligadura gessada.
Capítulo 5
CUIDADOS EM FASE AGUDA DE TRAUMATISMO
COM IMOBILIZAÇÃO GESSADA
São os membros quando submetidos
a imobilização gessada fechada em fase
aguda de traumatismo sujeitos a eventuais
embaraços de ordem neuro-vascular, de
menor ou maior importância.
Por isso, é prioritária a organização de
um plano de cuidados especiais durante as
primeiras 24h/48h, tendentes a prevenir, estabilizar ou fazer regredir esses
eventuais distúrbios, não “permitindo”
que eles permaneçam ou se agravem e
se tornem noutras tantas complicações,
algumas vezes de consequências irrever­
síveis.
Quando numa situação julgada de menor importância, poderá o
paciente, decorridas algumas horas, passar ao regime domiciliário, sendo
alertado e instruído, assim como familiares próximos, de preferência
por escrito, de eventuais alterações e que
condutas a seguir.
Os pequenos edemas de estase não
são por regra preocupantes nem de difícil
resolução:
• membro elevado;
• contracções musculares isométricas;
• aplicações frias (gelo), são atitudes, normal­mente, suficientes para a
sua regressão.
64
Capítulo 5
Mas quando um membro apresenta extremidades fortemente edema­
ciadas; cor acentuadamente cianótica; diminuição notável da sensibilidade
e da motricidade; pulso pouco perceptível; alterações sensíveis da tempe­
ratura comparada (da região oposta), são
constrangimentos de tal ordem evidentes que há com a maior
urgência utilizar meios clínicos e mecânicos que promovam a
regressão da complicação.
Tratando-se de complicações de causa compressiva, um quadro
desta complexidade, e depois de terem sido levadas a efeito as acções já
referidas e não se observarem sinais evidentes de regressão da situação,
proceder-se-á à descompressão da zona, pela execução de um corte longi­
tu­dinal anterior, em toda a profundidade da parede gessada. Os bordos
são afastados com material adequado, dando acesso ao material de
protecção/almofadamento que, por vezes, é o suficiente para impedir a
acção de expansão e, por isso, há que cortá-lo também.
Em casos mais difíceis poderá o
gessado ser igualmente cortado, mas
em bivalve, pelas suas linhas media­
nas laterais sem, contudo, se per­der
significativa estabilidade.
Cuidados ao Traumatizado
(das partes livres e disponíveis)
Quando um traumatizado fica preso ao
leito por razões da sua lesão, a dinâmica dos
seus órgãos, aparelhos e sistemas, embora
não comprometidos directamente pelas
lesões traumáticas, ficam consideravelmente
diminuídos, e por esse facto poderão surgir
Cuidados em Fase Aguda de Traumatismo com Imobilização Gessada 65
alterações a vários níveis, de menor ou maior gravidade, não sendo
desconhecidas algumas de difícil resolução.
Com o propósito profiláctico deverá ser implementado um programa
de cuidados cuja organização deverá gravitar em torno do conceito de
imobilização.
A pele
Sabemos que a pele enquanto íntegra é uma
porta fechada às agressões dos agentes infeccio­
sos:
• lavagem;
• massagem;
• hidratação;
• protecção.
• mudança de posição
são acções profilácticas às dermatities, feridas de
pressão e à infecção.
1. Aparelho respiratório
A árvore respiratória, responsável por uma
boa respiração/oxigenação do sangue, ao sofrer
de acentuada diminuição da sua dinâmica ficará
sujeita a fenómenos de estáse, podendo progredir
até à pneumonia.
O alternado posicionamento do paciente, logo
que possível, equilibrada hidratação, adequados
exercícios respiratórios e cinesoterapia preventiva
são factores profilácticos relevantes.
66
2. Aparelho génito-urinário
A imobilização no leito coloca o aparelho génito-urinário do paciente em risco de severas complicações,
não deixando de serem frequentes os fenómenos de
retenção urinária e as cistites.
O ensino e o treino à micção no leito, a estimulação
urinária precoce, as contracções musculares abdominais,
hidratação cuidada, e rigorosos cuidados aos alga­
liados, são acções profilácticas a tais desagradáveis
complicações.
3. Aparelho digestivo
Também o aparelho digestivo sofrerá de alterações
de funcionamento:
• digestões difíceis;
• obstipação;
• flatulência.
A alimentação rica em fibras; hidratação adequada
assim como exercícios musculares abdominais,
poderão ser boas ajudas para um bom funcionamento
intestinal.
4. Sistema cardiovascular
O sistema cardiovascular perante a imobilização
também não ficará isento de eventuais alterações,
originando outras tantas complicações, pela
diminuição acentuada do seu tónus.
As trombo-embolias e as flebites são as compli­
cações mais frequentes.
O exercício possível no leito será uma acção
profiláctica.
Capítulo 5
Cuidados em Fase Aguda de Traumatismo com Imobilização Gessada 67
5. Sistema articular
As dores e a rigidez articulares
são flagelos que apoquentam o
paciente traumatizado com longo
período de imobilização no leito,
sendo quase sempre de difícil
reabilitação.
Os exercícios articulares terão de ser
implementados logo que possível.
6. Sistema muscular
As massas musculares, duma forma geral,
mesmo em zonas não implicadas, diminuem
consideravelmente num curto espaço de tempo,
especialmente nos membros.
A miastenia, a mialgia, e as aderências,
podem surgir também. Sendo necessário
intervir precocemente com programa
adequado.
68
Capítulo 5
Alimentação
Um fenómeno observado com alguma frequência
é a alteração acen­tuada do peso corporal.
Diminuição da actividade física, alterações do
regime alimentar e questões psicológicas, poderão
contribuir, decisivamente, tanto para o emagre­
cimento como para o aumento do peso. O controlo
da quantidade e da qualidade alimentar. O exercício
físico possível e algum desanuviamento da carga
psicológica, poderão contribuir para a estabilidade
do peso.
A certa altura é preocupante o traumatizado permanecer com
os lençóis “esticadinhos”
Cuidados em Fase Aguda de Traumatismo com Imobilização Gessada 69
Cuidados de ordem Psico-emocional e Sócio-económica
Um traumatizado esquelético
preso ao leito levanta um verda­
deiro desafio à equipa de saúde,
especialmente nos aspectos psicoló­
gico e emocional.
Deixar o lar – a família – o em­
pre­go, após um desastre; com os
diversos compromissos tomados
para resolver, logo cria um estado de desequilíbrio psicológico, que
poderá dar lugar a um processo ansioso, surgindo a agitação, o receio, e a
apreensão, podendo declinar para melancolia, isolamento, etc.
A intervenção social – o psicólogo – o agente da sua ideologia religiosa,
poderão tornar um traumatizado tranquilo, consciente, e colaborante no
seu processo de cura.
Mas é a comunicação o elo essencial para a tranquilidade
Bibliografia
Dr. F. Fernández-esteve - Tratamiento biológico de las fracturas. Los Yessos
Funcionales Conformados. Edição de autor, Valência, 1980.
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