INDÚSTRIA E DESENVOLVIMENTO: INSTRUMENTOS DE POLÍTICA INDUSTRIAL NO BRASIL RELATÓRIO DE MENSURAÇÃO DE EFETIVIDADE DOS INSTRUMENTOS DE APOIO AO INVESTIMENTO NO BRASIL 1 VOLUME 3 © 2013 – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que seja citada a fonte. ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial IPEAD – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais Supervisão ABDI Otávio Silva Camargo Equipe Técnica da ABDI Carlos Henrique de Mello Silva Ricardo Luiz Chagas Amorim Roberto Sampaio Pedreira Rogério Dias Araújo Talita Daher Coordenador Geral Jackson De Toni Gerente de Planejamento Gerência de Comunicação ABDI Oswaldo Buarim Junior Supervisão da Publicação Joana Wightman Coordenadora de Comunicação Projeto gráfico e revisão de texto G3 Comunicação Diagramação Marco Lúcius Freitas Juliano Cappadocio Batalha ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Setor Bancário Norte Quadra 1 – Bloco B – Ed. CNC 70041-902 – Brasília – DF Tel.: (61) 3962-8700 www.abdi.com.br IPEAD Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais Av. Antônio Carlos, 6627 – Prédio da Faculdade de Ciências Econômicas 31.270-901– Belo Horizonte – MG Tel.: (31) 3409-7110 www.ipead.face.ufmg.br República Federativa do Brasil Dilma Rousseff Presidenta Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Damata Pimentel Ministro Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Mauro Borges Lemos Presidente Maria Luisa Campos Machado Leal Otávio Silva Camargo Diretores Jackson De Toni Gerente de Planejamento Roberto Sampaio Pedreira Coordenador de Política industrial Talita Daher Especialista em Desenvolvimento Produtivo Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais Reynaldo Maia Muniz Diretor-Presidente Fabiana Santos (Pesquisadora do Cedeplar/UFMG) Frederico Gonzaga Jayme Jr. (Professor do Cedeplar/UFMG) Coordenação do Projeto INDÚSTRIA E DESENVOLVIMENTO: INSTRUMENTOS DE POLÍTICA INDUSTRIAL NO BRASIL Volume 3 - Relatório de Mensuração de Efetividade dos instrumentos de apoio ao investimento no Brasil 4 RESUMO EXECUTIVO Este relatório avalia um conjunto selecionado de instrumentos de apoio ao investimento, vigentes no Brasil no período recente. A análise aprofundase nos programas de apoio oferecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e em alguns regimes especiais de tributação do Ministério da Fazenda (MF) com maior vinculação à formação bruta de capital fixo, fundamentalmente porque são os programas mais importantes em termos de volume de recursos e abrangência de empresas contempladas e para os quais foi possível obter informações mais detalhadas. Vale frisar que no relatório anterior foi realizado exaustivo levantamento dos instrumentos de apoio aos investimentos. Fica evidente, a partir de 2004, o aumento expressivo da oferta de instrumentos, do número de acessos, assim como do respectivo valor desembolsado pelos programas de promoção de investimentos. Este movimento observado deve-se, em parte, ao fato de que os regimes especiais do Ministério da Fazenda foram iniciados em 2005. Por outro lado, o crescimento dos instrumentos, do acesso e do valor desembolsado também pode ser atribuído à implantação de três políticas relacionadas ao desenvolvimento industrial e à promoção de inovação entre 2003-2011. São elas: a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), implementada em 2004, o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI), adotado em 2007, e a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), implementada em 2008. Na análise realizada neste estudo também foram utilizadas informações disponibilizadas pelo BNDES e pelo Ministério da Fazenda , bem como uma base de dados construída pelo DISET-IPEA - Diretoria de Estudos Setoriais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - sobre as empresas beneficiadas pelos diversos programas/instrumentos de políticas de apoio. A partir desses dados foi possível identificar a evolução dos desembolsos e o número de acessos aos programas, além de determinar o perfil médio das empresas tomadoras de recursos ou beneficiadas pela renúncia fiscal. Feita essa sistematização, esse trabalho avançou no sentido de identificar e avaliar a abrangência dos instrumentos de apoio ao investimento e a possível presença de complementaridade e sobreposição dos instrumentos analisados. Com relação aos programas de apoio ao investimento, em termos qualitativos, concluiu-se, da perspectiva do desenho dos instrumentos de promoção de investimentos disponibilizados pelo BNDES, que parecem estar adequados aos objetivos da política industrial e de promoção de inovação vigentes. Os instrumentos atendem a um amplo escopo de itens financiáveis e a um amplo espectro de empresas, em termos setoriais e de porte, prazos de carência e amortizações, diferentes níveis de exigências e obrigações. Não obstante, certamente, uma pesquisa mais aprofundada com os usuários desses instrumentos poderia revelar aspectos e detalhes sobre seu funcionamento, mostrando eventuais deficiências e necessidades de aperfeiçoamentos operacionais e de concepção que escapam a um exame meramente de caráter lógico-conceitual, como o presente. Quanto aos programas ofertados pelo MF, estes estão baseados no benefício fiscal. A pergunta relevante é se eles deveriam existir. Dada a limitação de informações no que tange aos projetos e ao volume de renúncia fiscal, a condução de uma 5 análise baseada na relação custo-benefício dos projetos fica inviabilizada. A única informação que se dispõe é sobre as empresas beneficiadas. A partir desse tipo de dado e das próprias características das empresas é possível questionar se o tipo de empresa beneficiada necessitaria de subsídios para execução desses projetos, considerando-se, é claro, a necessidade de ampliação da taxa de retorno desses projetos de investimento dada a escassez em infraestrutura do País. Quanto ao RECAP (Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras), este programa deve sofrer a concorrência de outras formas de financiamento a bens de capital de empresas exportadoras. Portanto, sua própria existência torna-se questionável. A avaliação quantitativa dos programas de investimento, por questões de restrições de informações, ficou limitada aos programas do BNDES e sua atuação sobre a indústria. Isto equivale a aproximadamente 35% dos desembolsos do banco. Os resultados produzidos pelas estimações de modelos econométricos, de certa forma, corroboraram as impressões trazidas pela análise das diversas estatísticas apresentadas na análise qualitativa. Os programas tradicionais que se destinam ao financiamento de máquinas e equipamentos, por exemplo, complementarmente ao financiamento de investimentos em transportes, são aqueles que mais auxiliam a expansão dos investimentos. Essa conclusão, entretanto, somente pode ser aplicada 6 à indústria dada a restrição de informações sofrida na análise. Outras formas de análise quantitativa, baseadas em critérios custo-benefício, poderiam ser utilizadas para se complementar essa análise. O montante significativo de recursos aplicados em investimentos de infraestrutura deve produzir um conjunto de externalidades que, obviamente, é desconsiderado no tipo de análise conduzida aqui. Esse comentário também se aplica aos programas do Ministério da Fazenda. Nesse sentido, para a consecução de trabalhos futuros é necessário que se considere não apenas metodologias distintas, mas também a disponibilização de informações, por meio dos órgãos oficiais, que permitam uma análise tanto qualitativa, como quantitativa, de maior aprofundamento. Quando se observa, por meio de estatísticas, a aplicação de recursos dos programas específicos setoriais, ou de apoio às indústrias, não é possível constatar, a despeito da elevação substancial nos desembolsos posteriormente a 2003, uma alteração qualitativa nestes programas segundo sua distribuição setorial. Do mesmo modo, não se constata qualquer relação entre a alocação dos recursos desses programas e a promoção do aumento da produtividade dos setores industriais. Essa é uma observação que deve servir de alerta para a sua efetiva colaboração no alcance de metas do Programa Brasil Maior. LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 – Etapas do processo de concessão de crédito – Total do Sistema BNDES (R$ milhões).....31 Tabela 2.2 – Desembolsos BNDES Investimento por produto (R$ milhões).......................................35 Tabela 2.3 - Desembolsos Anuais na comercialização, no País, de Máquinas e Equipamentos Nacionais, através dos Produtos Finame, Finame Leasing e Finame Agrícola – Total (R$ milhões) e por equipamento (% do total).......................................................................................................................................42 Tabela 2.4 – Parcela atendida da demanda por apoio ao investimento (Desembolso/Consultas) – Brasil (2001 – 2010)....................................................................................................................................44 Tabela 2.5 - Desembolsos BDNES Investimento por setor de atividade.............................................47 Tabela 2.6 – Desembolsos BDNES Investimento por setor de atividade (continuação).......................52 Tabela 2.7 – Número de empresas habilitadas no REPORTO, por seção CNAE 2.0...........................52 Tabela 2.8 – Número de empresas habilitadas no RECAP, por seção CNAE 2.0................................52 Tabela 2.9 – Número de empresas/acessos ao RECAP, por divisão CNAE 2.0 das Indústrias de Transformação..................................................................................................................................53 Tabela 2.10 – Número de empresas e acessos ao REIDI, por seção CNAE 2.0.....................................54 Tabela 3.1 - Indicador: relação entre desembolsos BNDES e valor agregado.....................................58 Tabela 3.2 - Indicador: participação do BNDES na Formação Bruta de Capital Fixo – Brasil (2000 – 2010)...................................................................................................................................58 Tabela 3.3 – Indicador: participação dos recursos do BNDES nos investimentos dos setores industriais – Brasil (1998 – 2010)........................................................................................................................63 Tabela 3.4 - Coeficiente de correlação entre o nível de investimento e os recursos do BNDES Investimento - Brasil - setores industriais (1998-2009).............................................................................................64 Tabela 4.1 - Intersecção de empresas beneficiadas pelas modalidades do BNDES Investimento..........74 Tabela 4.2 - Intersecção entre as empresas beneficiadas pelo BNDES Investimento (2003-2007) e empresas habilitadas no MF Investimento (2005-2011)........................................................................76 7 Tabela 5.1 - Características observáveis das empresas tomadoras de recursos do BNDES para promoção ao investimento, por seção CNAE 2.0 - Brasil.......................................................................................79 Tabela 5.2 - Características observáveis das empresas tomadoras de recursos do BNDES Investimento - por divisão CNAE 2.0 das Indústrias de Transformação - Brasil...........................................................81 Tabela 5.3 – Operações do BNDES Investimento por porte de empresa.............................................84 Tabela 5.4 - Características observáveis das empresas habilitadas no REIDI, por divisão CNAE 2.0......86 Tabela 5.5 - Características observáveis das empresas habilitadas no RECAP, por divisão CNAE 2.0...88 Tabela 5.6 - Características observáveis das empresas habilitadas.....................................................90 no REPORTO, por divisão CNAE 2.0 Tabela 7.1 - Estatísticas descritivas das séries de Investimentos e Estoque de Capital..........................102 Tabela 7.2 - Número de empresas que acessaram o BNDES, classificadas por porte.........................103 Tabela 7.3 - Razão entre Investimento Bruto e Estoque de Capital, por modalidade de apoio, conforme empresas que acessaram ou não BNDES Investimento........................................................................105 Tabela 7.4 – Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento............................................................106 Tabela 7.5 – Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento............................................................107 com Modalidades de Financiamento Tabela 7.6 – Modelo Dinâmico de Investimento em Máquinas e Equipamentos...............................108 Tabela 7.7 – Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento em Terrenos e Edificações.....................109 Tabela 7.8 – Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento em Transportes....................................110 Tabela 7.9 - Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento para empresas de pequeno porte...........111 Tabela 7.10 - Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento para empresas de médio porte..............111 Tabela 7.11 - Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento para empresas de grande porte..............111 8 LISTA DE QUADROS Quadro 1.1 - Modalidades de financiamento do BNDES e principais características.............................16 Quadro 1.2 - Produtos BNDES, características de atuação e setores a que se destinam.......................17 Quadro 1.3 - Linhas de Financiamento BNDES Finem, segundo características de atuação e setores a que se destinam...............................................................................................................................19 Quadro 1.4 - Linhas de Financiamento BNDES Automático..............................................................21 Quadro 1.5 - Linhas de financiamento associadas ao produto BNDES FINAME e respectivas finalidades.........................................................................................................................................23 Quadro 1.6 - Linhas de financiamento associadas ao produto BNDES FINAME Agrícola e respectivas finalidades.........................................................................................................................................24 Quadro 1.7 - Programas do Governo Federal administrados pelo BNDES..........................................27 Quadro 1.8 - Regimes Especiais de Tributação - Características Gerais.............................................29 Quadro 5.1 - Classificação BNDES quanto ao porte da empresa......................................................82 LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 - Frentes de atuação do BNDES........................................................................................15 Figura 1.2 - Produtos BNDES e respectivos setores a que se dirigem...................................................18 Figura 1.3 - Linhas de financiamento associadas ao BNDES Finem....................................................21 Figura 1.4 - Linhas de financiamento associadas ao BNDES Automático.............................................22 Figura 1.5 - Linhas de financiamento associadas ao BNDES Finame e ao BNDES Finame Agrícola.....25 Figura 1.6 - Programas de financiamento BNDES............................................................................26 Figura 1.7 - Programas de financiamento BNDES.............................................................................28 9 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 2.1 - Etapas do processo de concessão de crédito – Total do Sistema BNDES (R$ bilhões).......32 Gráfico 2.2 - Taxas de juros TJLP e Selic - 1998 - 2010 - (% a.m.).......................................................32 Gráfico 2.3 - Taxas de crescimento anuais das consultas e desembolsos - BNDES (1999 - 2010).........33 Gráfico 2.4 – Desembolsos e consultas ao BNDES Investimento 1998 – 2010 (R$ bilhões).................34 Gráfico 2.5 – Desembolsos BNDES Investimento 1998 – 2010 (R$ bilhões).......................................35 Gráfico 2.6 – Desembolsos BNDES Investimento por tipo de operação.............................................36 Gráfico 2.7 - Composição dos desembolsos segundo frentes de atuação do BNDES.........................37 Gráfico 2.8 - Principais produtos BNDES Investimento – Operação Direta (R$ bilhões).....................39 Gráfico 2.9 - Principais produtos BNDES Investimento – Operação Indireta (R$ bilhões)...................40 Gráfico 2.10 – Composição dos desembolsos do BNDES Investimento por ramos de atividades.........43 Gráfico 2.11 - Número de empresas/acessos ao REPORTO...............................................................49 Gráfico 2.12 - Número de empresas/acessos ao RECAP....................................................................50 Gráfico 2.13 - Número de empresas e acessos ao REIDI....................................................................51 Gráfico 3.1 – Agropecuária: desembolsos do BDNES e Formação Bruta de Capital Fixo – Brasil (2000 – 2010) – R$ bilhões..............................................................................................................................59 Gráfico 3.2 – Construção: desembolsos do BDNES e Formação Bruta de Capital Fixo – Brasil (2000 – 2010) – R$ bilhões...........................................................................................................................60 Gráfico 3.3 – Indústria: desembolsos do BDNES e Formação Bruta de Capital Fixo – Brasil (2000 – 2010) – R$ bilhões..............................................................................................................................60 Gráfico 3.4 – Indústria: desembolsos do BNDES e nível de investimento (R$ bilhões).........................61 Gráfico 3.5 - Produtividade do trabalho e desembolsos: Indústrias Extrativa e de Transformação (1998 - 2009)............................................................................................................................................65 Gráfico 3.6 (a - b) – Dispersão dos setores industriais segundo taxa de crescimento dos recursos do BNDES e do indicador de produtividade do trabalho...........................................................................67 Gráfico 4.1 - Evolução da composição regional dos desembolsos do BNDES.....................................70 Gráfico 4.2 - Distribuição regional das empresas habilitadas junto aos Regimes Especiais do Ministério da Fazenda........................................................................................................................................71 Gráfico 4.3 - Evolução dos acesos ao BNDES, por modalidade de apoio..........................................74 Gráfico 5.1 – Composição do desembolso BNDES Investimento por porte de empresa - Brasil (2001 2010)...........................................................................................................................................83 Gráfico 7.1 - Razão Investimento/Estoque de Capital, segundo porte da empresa............................104 10 SUMÁRIO Introdução.....................................................................................................................................12 1. Identificação e análise dos instrumentos de apoio ao investimento................................................15 2. Levantamento de séries históricas de utilização dos instrumentos................................................30 3. Elaboração e análise dos indicadores dos instrumentos...............................................................57 4. Mapeamento da abrangência, complementaridade...................................................................69 e sobreposição dos instrumentos de apoio ao investimento 5. Perfil e Características dos beneficiários dos instrumentos...........................................................77 6. Elaboração de relatório parcial sobre o desenho........................................................................ 91 e público-alvo das políticas – avaliação qualitativa 7. Detalhamento da metodologia utilizada para a avaliação quantitativa.......................................95 8. Recomendações de melhorias dos instrumentos.........................................................................113 Conclusão....................................................................................................................................115 Referências bibliográficas............................................................................................................ 121 Anexo.........................................................................................................................................125 11 INTRODUÇÃO E ste documento tem como objetivo analisar qualitativa e quantitativamente os programas de incentivo e promoção ao investimento, cuja finalidade é possibilitar a avaliação e mensuração da efetividade dos instrumentos de apoio ao investimento no Brasil. São analisados exclusivamente os programas de investimento do BNDES (BNDES Investimento) e do Ministério da Fazenda (MF Investimento). A teoria econômica descreve o investimento como fator fundamental para um País: pode afetar fortemente as flutuações de curto prazo; e, no longo prazo é um dos principais componentes da determinação do produto, emprego e renda. Logo, impacta diretamente o crescimento econômico e o padrão de bem-estar de uma sociedade. Ao final da década de 1990, apesar da existência de instrumentos pontuais de apoio ao investimento, pode-se dizer que, de modo geral, temas relacionados à política industrial e de promoção de inovação não faziam parte da agenda dos governos do período. A partir de 2003, no 12 entanto, verificam-se diversas iniciativas no âmbito da promoção de investimentos, em especial, com a participação mais efetiva do BNDES. As principais iniciativas do governo federal no período foram: a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), implantada entre 2004 e 2008; o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI), adotado entre 2007 e 2010; e a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), implantada em 2008. Nessa mesma linha, em agosto de 2011, o governo federal lançou também o Plano Brasil Maior, que prevê, entre outras medidas, desonerações de R$ 25 bilhões em dois anos e desembolso de R$ 500 bilhões do BNDES até 2014 para estímulo ao investimento e à inovação, apoio ao comércio exterior e defesa da indústria e do mercado interno. Essas políticas conjugam atuações do tipo horizontal, de modo a promover a competitividade sistêmica, a atuações do tipo setorial. Em ambos os sentidos foram formulados diversos instrumentos de natureza fiscal e/ou financeira. Desse modo, verificou-se, a partir de 2004, o aumento expressivo da oferta de instrumentos, do número de acessos, assim como do respectivo valor desembolsado pelos programas de promoção de investimentos. Quanto aos instrumentos de natureza fiscal, o presente estudo avalia os regimes especiais de tributação do Ministério da Fazenda, iniciados a partir de 2005. Quanto aos instrumentos de natureza financeiro-creditícia, o estudo foca os produtos e linhas de financiamento do BNDES. A atuação do BNDES, em especial, vem sendo de crescente importância para a condução das políticas governamentais de apoio ao investimento. Logo, esse estudo busca avaliar dois pontos distintos: em primeiro lugar, verificar se as séries históricas de acessos e valores desembolsados refletem os objetivos definidos nas políticas governamentais vigentes; e, em segundo lugar, o objetivo específico do estudo, é avaliar de forma quantitativa o efeito da atuação do BNDES sobre o estímulo ao investimento, ou seja, investigar se os programas e fundos de apoio ao investimento têm efeito positivo sobre o nível de investimento, buscando quantificar esse efeito. O relatório é estruturado em oito seções, além desta introdução e das considerações finais. A primeira seção traz uma breve descrição dos instrumentos existentes. O programa BNDES Investimento foi analisado conforme a classificação de produtos e operações do próprio banco, bem como segundo uma classificação que usa como referência a finalidade dos programas ou linhas de financiamento e seu período de vigência, quando pertinente. As informações que seguem foram extraídas do BNDES (2011). O instrumento denominado MF Investimento é composto por mecanismos de incentivo fiscal, operados pela Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda. Compõem o MF Investimento os seguintes regimes especiais: REIDI (Regime Especial de Incentivo para o Desenvolvimento da Infraestrutura), REPORTO (Regime Tributário para Incentivo à Modernização e Ampliação da Estrutura Portuária) e RECAP. Uma característica da base de dados utilizada é o fato de a mesma não apresentar, para os referidos regimes especiais, o valor concedido da renúncia fiscal, nem informações mais específicas sobre os projetos financiados, estando disponível apenas o nome das empresas beneficiárias. As informações foram extraídas do Ministério da Fazenda (2011). Posteriormente, na segunda seção, são realizados o levantamento e a análise de séries históricas de utilização dos instrumentos de promoção aos investimentos. Para isso são utilizadas informações de acessos e valores desembolsados pelos programas BNDES Investimento e MF Investimento, em nível agregado e desagregado setorialmente. A terceira seção apresenta os indicadores construídos pelos autores e utilizados na análise de efetividade dos instrumentos. Na quarta seção realiza-se o mapeamento da abrangência e complementaridade dos instrumentos. Em seguida, é realizada a identificação e caracterização dos beneficiários pelos Instrumentos de Promoção de Investimentos a partir de informações da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais). Na sexta seção, faz-se uma análise qualitativa do desenho e do público-alvo das políticas avaliadas. Na sétima seção, é realizada a análise quantitativa da efetividade dos instrumentos de apoio. Faz-se a apresentação de um arcabouço teórico e da metodologia utilizada, seguida pela descrição dos resultados sobre a efetividade dos instrumentos e sugestões de melhorias. 13 Consideradas as vantagens e restrições dos modelos, bem como sua adequação aos dados e a complexidade dos métodos de estimação, opta-se por utilizar o modelo do acelerador do investimento como sugerido por FHP (1988), acrescentando uma variável dummy representativa da participação da firma nos programas de apoio ao investimento, oferecidos pelo BNDES. O objetivo é captar o efeito dos instrumentos de promoção sobre a taxa de investimento da indústria, a partir de dados coletados cuja unidade de análise é a firma. Por fim, são tecidas algumas considerações finais como intuito de sintetizar os resultados e as principais evidências encontradas na análise. 14 1. Identificação e análise dos instrumentos de poio ao investimento 1.1BNDES A presente seção tem por objetivo realizar uma breve referência aos principais produtos, e respectivas linhas de financiamento, programas e fundos operados pelo BNDES relacionados à promoção de investimentos. Pretende-se, para tanto, destacar as principais características gerais dos mesmos, numa perspectiva analítica agregada. De maneira esquemática e geral, a atuação do BNDES se dá em duas frentes básicas: apoio a projetos de investimento e aquisição de máquinas e equipamentos. Para tanto, conta com quatro produtos básicos, conforme apresentado na figura abaixo. Figura 1.1 - Frentes de atuação do BNDES Projetos de investimento BNDES FINEM BNDES Automático Máquinas e Equipamentos BNDES FINAME Pag. 14 Cartão Automático + Insumos e Serviços Fonte: BNDES. Elaboração própria. 15 Não obstante, a fim de complementar os principais mecanismos operacionais do BNDES, serão relacionados a seguir os produtos acima referidos, bem como outros e suas respectivas linhas de financiamento, programas e fundos que se constituem em instrumentos de promoção de investimento ofertados pelo Banco. O apoio financeiro do BNDES aos empreendimentos pode se dar por meio das seguintes modalidades: a - Financiamentos b - Recursos não reembolsáveis c - Subscrição de valores mobiliários. A critério do BNDES, em alguns casos específicos, o apoio financeiro pode se dar de forma conjugada, por meio de financiamento a uma parte do projeto e via subscrição de valores mobiliários em outra. No tocante ao financiamento, as modalidades se dividem em produtos de acordo com a finalidade do empreendimento. Por sua vez, os produtos definem as regras gerais de condições financeiras e procedimentos operacionais do financiamento. A cada produto se aplicam linhas de financiamento que se destinam a beneficiários, setores e empreendimentos específicos e, por isso, podem trazer regras particulares, mais adequadas aos objetivos da linha. Outros mecanismos de financiamento disponíveis são os Programas, de caráter transitório, e os Fundos. Ambos destinam-se a setores específicos da atividade econômica. O quadro abaixo apresenta as modalidades de financiamento do BNDES e suas respectivas características. Quadro 1.1 - Modalidades de financiamento do BNDES e principais características Modalidades de Financiamento Características Produto São mecanismos básicos de crédito a longo prazo do BNDES. Definem as regras gerais de condições financeiras e procedimentos operacionais do financiamento. Linhas de Financiamento Detalham os produtos. Destinam-se a beneficiários, setores e empreendimentos específicos e, por isso, podem trazer regras particulares, mais adequadas aos objetivos da linha. Programas Detalham os produtos. Destinam-se a beneficiários, setores e empreendimentos específicos e, por isso, podem trazer regras particulares, mais adequadas aos objetivos da linha. Fundos Fonte: BNDES. Destinam-se a setores específicos da atividade econômica. Com relação aos itens financiáveis, o BNDES apoia projetos de investimentos para implantação, expansão, modernização, ampliação e recuperação da capacidade produtiva de empresas, incluída a aquisição de máquinas e equipamentos novos, de 16 fabricação nacional, credenciados pelo BNDES, e o capital de giro associado. Cada mecanismo de financiamento determina quais são os empreendimentos passíveis de apoio pelo BNDES. 1.1.1 Produtos BNDES, respectivas linhas de financiamento e setores a que se destinam No âmbito da presente análise foram considerados quatro setores econômicos contemplados na atuação do BNDES, a saber: i) comércio, serviços e turismo, ii) indústria, iii) agropecuária e iv) infraestrutura1. No tocante aos produtos BNDES de apoio aos setores abarcados pela presente análise tem-se oito, a saber, BNDES Finem, BNDES Automático, BNDES Finame Leasing, Cartão BNDES, BNDES Limite de Crédito, BNDES Empréstimo-Ponte, BNDES Project Finance e BNDES Fianças e Avais. O quadro abaixo relaciona os produtos BNDES, características de atuação e setores a que se destinam. Quadro 1.2 - Produtos BNDES, características de atuação e setores a que se destinam Característica Setores Produtos BNDES Produtos BNDES comuns aos setores analisados Indústria Comércio, serviços e turismo Infraestrutura Agropecuária BNDES Finem BNDES Automático BNDES Finame Leasing Cartão BNDES BNDES Limite de Crédito BNDES Empréstimo-Ponte BNDES Project Finance BNDES Fianças e Avais Produtos BNDES específicos a determinados setores Comércio, serviços e turismo Infraestrutura BNDES Finame Agropecuária BNDES Finame Agrícola Fonte: BNDES. Elaboração própria. Conforme pode ser observado no quadro acima, dos oito produtos BNDES, seis são comuns aos quatro setores considerados e dois são dirigidos a três setores específicos (comércio, serviços e turismo; infraestrutura; agropecuária). A figura abaixo relaciona os produtos BNDES e respectivos setores a que se dirigem. Com relação ao escopo, os produtos BNDES relacionados na figura acima abarcam um amplo espectro de itens passíveis de financiamento. Contemplam, por exemplo, implantação, ampliação e modernização de ativos fixos, aquisição de máquinas e equipamentos novos, inclusive conjuntos e sistemas industriais, produzidos no País, importação de equipamentos sem similar nacional, estudos e projetos de engenharia, projeto de engenharia financeira (project finance), fianças e avais, crédito rotativo para aquisição de bens e serviços, implantação Os demais são cultura, meio ambiente e desenvolvimento social e urbano. Ao longo do texto alguns dos instrumentos associados a estes setores que representem investimento produtivo-industrial foram também contemplados. 1 17 Figura 1.2 - Produtos BNDES e respectivos setores a que se dirigem Fonte: BNDES. Infraestrutura Produtos BNDES BNDES Finame Comércio, Serviços e Turismo BNDES Project Finace BNDES Empréstimo-Ponte BNDES Fianças e Avais BNDES Limite de Crédito Cartão BNDES BNDES Finame Leasing BNDES Automático BNDES Finem Indústria Pag. 17 Agropecuária de projetos de qualidade e produtividade, pesquisa e desenvolvimento, capacitação técnica e gerencial, atualização tecnológica, tecnologia da informação, investimentos sociais, investimentos ambientais. São produtos que podem se dirigir a micro, pequenas, médias e grandes empresas, de acordo com a classificação do BNDES. No tocante à participação do BNDES no financiamento, de maneira geral, esta varia entre 60% e 100% do total, dependendo do produto/linha de financiamento e item a ser financiado. Para alguns dos produtos não há limite mínimo de financiamento; para outros há. Neste caso, pode ser de R$ 3 milhões a R$ 10 milhões, também em função do produto/linha de financiamento e item a ser financiado. No que diz respeito à carência, esta pode ser de 2 a 24 meses, ou mesmo variável como, por exemplo, o término da carência ocorrer, no máximo, até seis meses após a data de entrada em operação do empreendimento. Com relação aos prazos de amortização, estes variam bastante. Alguns casos são determinados em função da capacidade de pagamento do tomador dos recursos. Em outros, o prazo total (carência mais amortização) fica limitado a 60 meses, com algumas exceções. Há ainda casos em que este prazo aumenta 18 para 90 meses ou mesmo 12 ou 14 anos. Como mencionado, alguns produtos BNDES se desdobram em linhas de financiamento que apresentam algumas especificidades, relacionadas aos objetivos e condições financeiras, associadas ao porte e à atividade econômica. São os casos do BNDES Finem, BNDES Automático, BNDES FINAME e BNDES FINAME Agrícola, a seguir referenciados. 1.1.1.1 Linhas de Financiamento associadas ao produto BNDES Finem O produto BNDES Finem possui seis linhas de financiamento comuns aos quatro setores analisados. Essas seis linhas destinam-se ao aumento da eficiência energética, aquisição, leasing e importação de bens de capital, apoio a projetos de investimento de micro, pequenas e médias empresas e capital de giro associado. Além dessas seis linhas de financiamento comuns aos quatro setores analisados, o BNDES Finem possui, adicionalmente, para os setores mencionados, diversas outras linhas específicas. O quadro que segue relaciona as linhas de financiamento Finem, características de atuação e setores a que se destinam. Uma das linhas de financiamento, associada ao produto BNDES Finem, comum aos setores analisados, denomina-se Projetos de Eficiência Energética e apoia investimentos que contribuam para a economia de energia, aumentem a eficiência global do sistema energético ou promovam a substituição de combustíveis de origem fóssil por fontes renováveis. São itens passíveis de financiamento, estudos e projetos, obras e instalações, máquinas e equipamentos novos, fabricados no País, além de serviços técnicos especializados, sistemas de informação, monitoramento, controle e fiscalização. Quadro 1.3 - Linhas de Financiamento BNDES Finem, segundo características de atuação e setores a que se destinam. Característica Linhas de Financiamento BNDES Finem comuns aos setores analisados Setores Indústria Comércio, serviços e turismo. Infraestrutura Agropecuária Comércio, serviços e turismo. Indústria Linhas de Financiamento BNDES Finem específicas Agropecuária Infraestrutura Fonte: BNDES. Elaboração própria. Linhas de Financiamento Finem Projetos de eficiência energética Aquisição de bens de capital Leasing de bens de capital Importação de bens de capital Apoio a projetos de investimento de micro, pequenas e médias empresas. Capital de giro associado Comércio, Turismo e demais segmentos de serviços. Serviços de educação, saúde, assistência social e segurança Capacidade Produtiva - Indústria de bens de capital Capacidade Produtiva - Demais indústrias Capacidade Produtiva - Projetos estruturantes nas Regiões NO e NE Concorrência internacional Internacionalização de empresas Agropecuária Energia Elétrica Geração Transmissão Distribuição Energias Alternativas Petróleo e Gás Natural Petróleo e gás - Exploração Petróleo - Desenvolvimento, produção e refino de petróleo. Gás Natural - desenvolvimento, produção e processamento de gás natural Transporte e distribuição de petróleo, gás natural e de biocombustíveis. Logística Modal Ferroviário Modal Rodoviário Demais Investimentos em infraestrutura logística Telecomunicações Telecomunicações 19 Outras três linhas de financiamento, comuns aos setores analisados, associadas ao BNDES Finem, destinam-se à aquisição, arrendamento (leasing) ou importação de bens de capital, vinculados a planos de investimento. A participação máxima do BNDES, para essas linhas se limita entre 60% a 70% dos itens financiáveis. Há ainda uma linha de financiamento, também comum aos setores analisados, destinada ao apoio a projetos de investimento de micro, pequenas e médias empresas, incluindo, ou não, capital de giro associado. Por último, mas não menos importante, tem-se o oferecimento de capital de giro - com o limite de até 30% do valor do investimento fixo financiável. No tocante às linhas de financiamento Finem específicas tem-se o seguinte quadro: para apoio ao setor comércio, turismo e serviços, há duas linhas específicas Finem: i) Comércio, Turismo e demais segmentos de serviços e; ii) Serviços de educação, saúde, assistência social e segurança. Quanto ao escopo, essas linhas contemplam investimentos relacionados à implantação, modernização, revitalização, expansão, recuperação, aumento da produtividade e da eficiência de empresas do setor. No caso do setor agropecuário, há uma linha de financiamento específica do BNDES Finem, denominada agropecuária, cujo objetivo é prestar apoio a projetos de investimentos visando à implantação, modernização e expansão de empresas do setor. 20 Para apoio ao setor de infraestrutura, o BNDES Finem se divide em cinco grandes segmentos de atuação, com linhas de financiamento específicas. Os segmentos abarcados pelo BNDES Finem são: energia elétrica, com três linhas de financiamento específicas; energias alternativas, com uma linha; telecomunicações, também com uma; petróleo e gás natural, com quatro; e logística, também com quatro linhas. Quanto ao escopo, essas contemplam investimentos relacionados à expansão e à modernização do setor, associados a obras, instalações, serviços, aquisição de máquinas e equipamentos. No que diz respeito ao apoio do BNDES Finem à indústria, há cinco linhas de financiamento específicas, sendo uma delas de recorte setorial (implantação, modernização e expansão de empreendimentos fabricantes de bens de capital), uma regional (implantação de projetos greenfield da indústria de transformação no Norte e Nordeste) e três destinadas a realização de investimentos no exterior; aquisição e produção de equipamentos que requeiram condições de financiamento compatíveis com as ofertadas para congêneres estrangeiros em concorrências internacionais; e implantação, modernização e expansão de empreendimentos industriais, exceto bens de capital. A figura abaixo relaciona as linhas de financiamento associadas ao BNDES Finem, comuns e específicas, segundo setores a que se destinam. Figura 1.3 - Linhas de financiamento associadas ao BNDES Finem 1.1.1.2 Linhas de Financiamento associadas ao produto BNDES Automático O produto BNDES Automático disponibiliza financiamento, por meio de instituições financeiras credenciadas, portanto, constitui-se em operação indireta, a projetos de investimento de valor inferior ou igual a R$ 10 milhões. O quadro abaixo relaciona as sete linhas de financiamento associadas ao BNDES Automático. Quadro 1.4 - Linhas de Financiamento BNDES Automático Característica Linhas de Financiamento MPME – Investimento Capacidade Produtiva Investimento (CP Investimento) Linhas de Financiamento BNDES Automático comuns aos setores Capacidade Produtiva Investimento Indústria de BK (CP Investimento Indústria BK) Capacidade Produtiva BK (CP BK) Concorrência Internacional, Capacidade Produtiva Importação (CP Importação) Capital de Giro Associado Fonte: BNDES. 21 As sete linhas de financiamento associadas ao BNDES Automático aplicam-se aos quatro setores analisados. São elas: MPME – Investimento, Capacidade Produtiva Investimento (CP Investimento), Capacidade Produtiva Investimento Indústria de bens de capital (CP Investimento Indústria BK), Capacidade Produtiva BK (CP BK), Concorrência Internacional, Capacidade Produtiva Importação (CP Importação) e Capital de Giro Associado. Quanto ao escopo, essas sete linhas de financiamento destinam-se à implantação, ampliação, recuperação e modernização de empreendimentos, no montante de até R$ 10 milhões, conforme já exposto. Destinam-se, também, a investimentos em meio ambiente; projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, nos setores de indústria, comércio, prestação de serviços e agropecuária; além de oferecimento de capital de giro - com o limite de 70% do valor do investimento fixo financiável nos casos de microempresas, de 40% para pequenas e médias empresas e de 15% para grandes empresas. A figura abaixo apresenta as linhas de financiamento associadas ao Produto BNDES Automático e respectivos setores de abrangência. Figura 1.4 - Linhas de financiamento associadas ao BNDES Automático 1.1.1.3 Linhas de Financiamento associadas ao produto BNDES FINAME O produto BNDES FINAME oferece financiamento para produção e aquisição de máquinas e equipamentos novos, de fabricação nacional, credenciados no BNDES. É dirigido a 22 dois setores específicos, quais sejam, i) comércio, serviços e turismo e ii) infraestrutura. O BNDES FINAME opera por intermédio de seis linhas de financiamento associadas, a saber: Micro, Pequenas e Médias Empresas - Aquisição de Bens de Capital (MPME BK); Micro, Pequenas e Médias Empresas - Aquisição de Ônibus e Caminhões (MPME Ônibus e Caminhões); Bens de Capital Comercialização - Aquisição de Bens de Capital (BK Aquisição); Bens de Capital - Comercialização - Aquisição de Ônibus e Caminhões (BK Aquisição Ônibus e Caminhões); Bens de Capital - Produção de Bens de Capital (BK Produção); Bens de Capital - Concorrência Internacional (BK Concorrência Internacional). Quanto ao escopo, o BNDES FINAME abarca uma ampla gama de bens, tais como máquinas, equipamentos, ônibus, caminhões, aeronaves executivas e comerciais, incluindo produção e comercialização. O financiamento é dirigido a todos os portes de empresa - de micro a grande. O quadro que segue relaciona as linhas de financiamento associadas ao produto BNDES FINAME e respectivas finalidades. Quadro 1.5 - Linhas de financiamento associadas ao produto BNDES FINAME e respectivas finalidades Linhas de Financiamento BNDES FINAME Micro, Pequenas e Médias Empresas – Aquisição de Bens de Capital (MPME BK) Finalidade Apoio à aquisição de máquinas e equipamentos nacionais novos, exceto ônibus e caminhões, para micro, pequenas e médias empresas. Micro, Pequenas e Médias Empresas – Aquisição de Ônibus e Caminhões (MPME Ônibus e Caminhões) Apoio à aquisição de ônibus e caminhões, para micro, pequenas e médias empresas e para transportadores autônomos de cargas. Bens de Capital – Comercialização – Aquisição de Bens de Capital (BK Aquisição) Apoio à aquisição de máquinas e equipamentos nacionais novos, exceto ônibus e caminhões, para média-grandes e grandes empresas. Bens de Capital – Comercialização – Aquisição de Ônibus e Caminhões (BK Aquisição Ônibus e Caminhões) Apoio à aquisição de ônibus e caminhões, para média-grandes e grandes empresas. Bens de Capital – Produção de Bens de Capital (BK Produção) Apoio à produção de máquinas e equipamentos fixos, para empresas de qualquer porte. Bens de Capital – Concorrência Internacional (BK Concorrência Internacional) Apoio à aquisição e produção de máquinas e equipamentos, exceto ônibus e caminhões, que demandem condições de financiamento compatíveis com as ofertadas para congêneres estrangeiros em concorrências internacionais. Fonte: BNDES. 23 1.1.1.4 Linhas de Financiamento associadas aos produtos BNDES FINAME Agrícola O produto BNDES FINAME Agrícola oferece financiamento por intermédio de instituições financeiras e fornecedores credenciados à produção e à comercialização de máquinas, implementos agrícolas e bens de informática e automação destinados à produção agropecuária, novos e de fabricação nacional. É dirigido especificamente para o setor agropecuário. O BNDES FINAME Agrícola opera por intermédio de duas linhas de financiamento associadas, a saber: Comercialização e Aquisição de Bens de Capital - BK Aquisição Agropecuário; e Aquisição de Bens de Capital para Micro, Pequenas e Médias Empresas - MPME BK Agropecuário. Quanto ao escopo, o BNDES FINAME Agrícola abarca uma ampla gama de bens, tais como máquinas, implementos agrícolas e bens de informática e automação nacionais novos, incluindo produção e comercialização. O financiamento é dirigido a todos os portes de empresa - de micro a grande, sendo que a segunda delas oferece condições mais favoráveis para micro, pequenas e médias empresas, além de permitir o financiamento de capital de giro associado. Quadro 1.6 - Linhas de financiamento associadas ao produto BNDES FINAME Agrícola e respectivas finalidades 24 Linhas de Financiamento BNDES FINAME Agrícola Finalidade Comercialização e Aquisição de Bens de Capital - BK Aquisição Agropecuário Aquisição de máquinas, implementos agrícolas e bens de informática e automação nacionais novos, voltada a todos os clientes admitidos pelo produto BNDES Finame Agrícola Aquisição de Bens de Capital para Micro, Pequenas e Médias Empresas MPME BK Agropecuário Fonte: BNDES. Elaboração própria. Aquisição de máquinas, implementos agrícolas e bens de informática e automação nacionais novos, exclusivamente para MPMEs A figura abaixo relaciona as linhas de financiamento associadas aos produtos BNDES FINAME e BNDES FINAME Agrícola e setores a que se destinam. Figura 1.5 - Linhas de financiamento associadas ao BNDES Finame e ao BNDES Finame Agrícola Programas de financiamento BNDES O BNDES dispõe ainda de programas de financiamento que são dirigidos para um determinado segmento de atividade econômica. Os programas possuem condições de financiamento próprias, mas são operacionalizados em um ou mais produtos de financiamento do Banco. Outra característica dos Programas é o fato de possuírem caráter transitório, dotação orçamentária limitada e prazo de vigência determinado. O BNDES conta com 24 programas de financiamento, relacionados aos setores analisados. Desses, 12 são associados à indústria, quatro à agropecuária, três ao comércio, turismo e serviços e dois à infraestrutura. Dois dos programas são comuns a três setores (comércio, serviços e turismo, agropecuária e indústria); outro é comum a dois setores (comércio, serviços e turismo e indústria). A figura abaixo relaciona os programas de financiamento BNDES, segundo setores a que se destinam. 25 Figura 1.6 - Programas de financiamento BNDES Quanto aos segmentos econômicos envolvidos pelos programas BNDES tem-se habitação, obras, sucroalcooleiro, fármaco, medicamentos, plástico, software, tecnologia da informação, audiovisual, bens de capital, defesa, automotivo, aeronáutico, aeroespacial, nuclear, petróleo e gás e naval. No que tange ao escopo dos programas acima listados, compreende o apoio a uma ampla gama de atividades como, por exemplo, apoio à implementação de sistemas de qualidade, instalação, modernização, ampliação da capacidade produtiva, aquisição de máquinas, equipamentos, peças e partes, capital de giro, associado ou não a investimentos, apoio à 26 exportação, capitalização de empresas, dentre outros. No que diz respeito à vigência dos Programas, dois deles já expiraram, o BNDES Construção Civil, em março de 2011, e o BNDES PER Alagoas e Pernambuco, em maio de 2011. Os demais programas expiram entre dezembro de 2011 e agosto de 2014. Cabe ainda mencionar que um dos programas dirigidos à agropecuária, denominado Programas do Governo Federal Administrados pelo BNDES, contempla outros nove programas, apresentados no quadro abaixo. Quadro 1.7 - Programas do Governo Federal administrados pelo BNDES Programas do Governo Federal administrados pelo BNDES ABC - Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura MODERAGRO - Programa de Modernização da Agricultura e Conservação de Recursos Naturais MODERFROTA - Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras MODERINFRA - Programa de Incentivo à Irrigação e à Armazenagem PROCAP-AGRO - Programa de Capitalização de Cooperativas Agropecuárias PROCAPCRED - Programa de Capitalização de Cooperativas de Crédito PRONAF Investimento - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRODECOOP - Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária Fonte: BNDES. 1.1.2 Fundos Outra modalidade de apoio ao investimento disponibilizado pelo BNDES são os Fundos. Fontes de recursos, estatutárias ou legais, com condições e procedimentos operacionais próprios, os fundos são dirigidos a setores econômicos específicos, alguns destinam-se a aplicações não reembolsáveis. No caso de promoção de investimentos relacionados aos quatro setores analisados, temse o Fundo da Marinha Mercante (FMM). O FMM prove financiamento a estaleiros brasileiros para realização de projetos de implantação, expansão e modernização e para a construção e reparo de navios, bem como financiamento a empresas nacionais de navegação para a encomenda de embarcações e equipamentos, reparos e jumborização junto a construtores navais brasileiros e à Marinha do Brasil. Outra iniciativa relacionada a Fundos que na realidade tratava-se de um programa expirado em junho de 2011 - é denominada Programa BNDES de Fundos de Investimento. Visava a ampliar o apoio à capitalização de sociedades empresariais de diferentes portes e alavancar o apoio a projetos em setores considerados prioritários pelo Sistema BNDES junto a investidores privados. Durante sua vigência foram criados fundos de investimento para agronegócio, bioenergia, petróleo e gás, biotecnologia, nanotecnologia e logística. Em fase de estruturação, encontra-se ainda o Fundo de investimento com foco em Empresas Sustentáveis na Amazônia, no âmbito do Programa BNDES Empresas Sustentáveis na Amazônia, voltado para investimentos em empresas/projetos sustentáveis na Amazônia. 27 Por sua vez, de caráter distinto dos anteriores, mas igualmente relevante, tem-se o Fundo Garantidor para Investimentos (BNDES FGI), cujo objetivo é garantir o risco de financiamentos e empréstimos concedidos a micro, pequenas e médias empresas, e a pessoas físicas do segmento de transporte rodoviário de cargas que contratem operações destinadas à aquisição de bens de capital para sua atividade. A figura abaixo elenca os Fundos BNDES e os setores a que estão relacionados. Figura 1.7 - Programas de financiamento BNDES 1.2Ministério da Fazenda - Regimes Tributários Especiais A presente subseção tem por objetivo realizar uma breve descrição dos principais regimes tributários especiais administrados pelo Ministério da Fazenda e relacionados à promoção e incentivo aos investimentos. Os regimes apresentados são o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (REIDI), Regime Tributário para Incentivo a Modernização e Ampliação da Estrutura Portuária (REPORTO) e Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras (RECAP). Embora haja outros regimes tributários especiais, os três mencionados na presente subseção relacionam-se à promoção de investimentos, ou 28 seja, a renúncia fiscal está diretamente associada/ condicionada à realização de investimentos pelo beneficiário. Sendo assim, o conjunto formado por esses três regimes será doravante chamado MF Investimento. 1.2.1 Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (REIDI) Instituído em 2007, pela Lei n° 11.488 de 15/06/2007, o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (REIDI) suspende a cobrança de PIS/Pasep e Cofins referente à venda e às importações de máquinas e equipamentos para obras de infraestrutura, envolvendo geração, transmissão e distribuição de energia, produção e processamento de gás natural, saneamento básico, irrigação e transportes, rodovias, hidrovias, portos organizados, instalações portuárias de uso privativo, trens urbanos e ferrovias, inclusive locomotivas e vagões. Os benefícios poderão ser usufruídos nas aquisições e importações realizadas no período de cinco anos contados da data de aprovação do projeto de infraestrutura. Destina-se a empresas de grande porte, condicionado a regularidade fiscal. de serviços de carga, descarga, movimentação de mercadorias e dragagem e na execução de treinamento e formação de trabalhadores em Centros de Treinamento Profissional. Os beneficiários diretos são o operador portuário, concessionário de porto organizado, arrendatário de instalação portaria de uso público e empresa autorizada a explorar instalação portuária de uso privativo misto. 1.2.2 Regime Tributário para Incentivo à Modernização e Ampliação da Estrutura Portuária (REPORTO) 1.2.3 Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras (RECAP) Regime tributário, instituído pela Lei n° 11.033, de 21/12/2004, para incentivo à modernização e à ampliação da estrutura portuária, permite, na importação de máquinas, equipamentos, peças de reposição e outros bens, a suspensão do pagamento de Imposto de Importação, IPI, PIS/ Pasep-Importação e Cofins-Importação, quando importados diretamente pelos beneficiários do regime e destinados ao seu ativo imobilizado para utilização exclusiva em portos na execução Instituído pela Lei do Bem (Lei nº 11.196, de 21/11/2005), o Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras suspende a incidência do PIS/Pasep e da COFINS nas importações ou nas aquisições, no mercado interno, de máquinas, aparelhos, instrumentos e equipamentos, novos, quando adquiridos por pessoas jurídicas preponderantemente exportadoras para incorporação ao seu ativo imobilizado. Quadro 1.8 - Regimes Especiais de Tributação - Características Gerais Regime Enfoque Benefício Transversal Suspensão de impostos (PIS/Pasep e Cofins) nas vendas e importação de máquinas em operações feitas por empresas exportadoras. REPORTO Setorial Insenção de IPI, PIS, Cofins e Pasep para a ampliação da estrutura de portos brasileiros nas máquinas, equipamentos, peças de reposição e outros bens. Média REIDI Setorial Isenção de PIS/ Cofins e impostos na importação na venda de máquinas e equipamentos, materiais de construção, prestação de serviços para obras de infraestrutura. Fonte: Ministério da Fazenda. Grande RECAP Produtos BNDES Todos 29 2. Levantamento de séries históricas de utilização dos instrumentos E sta seção tem como objetivo apresentar as séries históricas de utilização dos instrumentos de apoio ao investimento, oferecidos pelo BNDES e pelo Ministério da Fazenda. Devido à disponibilidade limitada de informações, são avaliados os recursos distribuídos e o número de acessos realizados aos programas do BNDES; quanto ao Ministério da Fazenda (MF), examina-se somente o número de acessos e/ou de empresas atendidas pelos regimes especiais de tributação. 2.1 BNDES Investimento O processo de concessão de crédito dos programas de financiamento do BNDES em operações diretas e indiretas não automáticas é realizado em quatro grandes etapas. As solicitações de apoio financeiro são encaminhadas ao Sistema BNDES por meio de consultas formais. Segue-se para a etapa de enquadramento: pré-avaliação da adequação do pedido às políticas operacionais. Uma vez aprovado o enquadramento, a operação 30 é encaminhada para análise do projeto. Havendo aprovação da operação, esta é, então, contratada, desde que cumpridas as condições prévias. O Departamento da Área Operacional, responsável pela operação, realiza os desembolsos de acordo com o cronograma estabelecido e acompanha, periodicamente, o uso dos recursos. O BNDES disponibiliza estatísticas de seu desempenho operacional para cada uma das etapas do processo; porém, somente para o total do sistema de financiamento, ou seja, incluindo todos os programas de apoio, sejam eles de exportação, investimento, ou outro. Ainda assim, os valores apresentados na Tabela 2.1 e no Gráfico 2.1 permitem uma avaliação inicial da evolução do processo de concessão de crédito e, em especial, da relação entre os valores dos desembolsos efetivos e os valores das etapas anteriores. Frise-se que as etapas de uma mesma operação ocorrem em períodos distintos, ou seja, devido à dilação do processo de avaliação, uma consulta encaminhada em um determinado ano pode passar pelas etapas seguintes em anos subsequentes, e não necessariamente no mesmo ano. Logo, pode haver uma defasagem entre os valores observados em cada etapa. Nota-se que nos anos de 2002 e 2003, há um estreitamento entre as séries, que caminhavam de forma uniforme, até que em 2004 as consultas crescem 121% em relação a 2003, mas as aprovações apresentam redução de 6% e os desembolsos, crescimento de apenas 19%. Somente em 2008 e 2009, os desembolsos sofrem saltos significativos, mas ainda assim sua relação com os valores consultados não retorna ao patamar dos anos de 2002 e 2003. As séries de aprovações e desembolsos, que caminhavam conjuntamente até 2004, distanciam-se a partir de 2005, mas mantêm uma relação praticamente constante desde então. Tabela 2.1 – Etapas do processo de concessão de crédito – Total do Sistema BNDES (R$ milhões) Ano Consultas 1998 39,368.94 1999 34,843.57 2000 43,138.00 2001 37,239.20 2002 44,010.30 2003 44,558.10 2004 98,394.60 2005 90,609.10 2006 106,051.50 2007 126,835.30 2008 175,804.80 2009 223,946.20 2010 255,886.30 Δ% 1998-2010 549.97 Fonte: BNDES. Elaboração própria. Enquadramento Aprovação Desembolso 30,469.94 31,204.96 40,607.08 30,902.70 35,761.70 40,511.80 75,059.70 81,811.20 95,371.00 117,039.50 155,315.80 190,151.30 231,115.90 658.50 23,026.39 19,539.44 27,624.60 27,129.80 41,073.00 40,363.00 37,897.20 54,494.60 74,318.50 98,720.60 121,371.10 170,174.50 200,664.80 771,46 18,990.88 18,051.51 23,045.83 25,216.50 37,419.30 33,533.60 39,833.90 46,980.20 51,318.00 64,891.80 90,877.90 136,356.40 168,422.90 786.86 31 R$ bilhões Gráfico 2.1 - Etapas do processo de concessão de crédito – Total do Gráfico 2.1 - Etapas do processo de concessão de crédito – Total do Sistema BNDES (R$ bilhões) Sistema BNDES (R$ bilhões) 275 250 225 200 175 150 125 100 75 50 25 0 1998 1999 2000 2001 2002 Consultas 2003 2004 Enquadramento 2005 2006 Aprovação 2007 2008 2009 2010 Desembolso Fonte: BNDES; Elaboração própria. A partir de 2003, nota-se um crescimento considerável em todas as etapas do processo de concessão de crédito. Pode-se argumentar que o crescimento dos valores se justifica pelas políticas vigentes no governo Lula, que pregavam uma maior participação na concessão de crédito oficial em áreas e investimentos estratégicos. Nesse sentido, percebe-se a adequação do BNDES, no sentido geral, às políticas industrial e tecnológica elaboradas nesse governo. Também é importante frisar que esse aumento de recursos resulta parcialmente da queda verificada na taxa de juros de longo prazo (TJLP), que segue de perto o declínio da taxa Selic de juros no Brasil, como se observa no Gráfico 2.2. PAG. 37 Gráfico 2.2 - Taxas de juros TJLP e Selic - 1998 - 2010 - (% a.m.) Gráfico 2.2 - Taxas de juros TJLP e Selic - 1998 - 2010 - (% a.m.) 3.5 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 32 TJLP - (% a.m.) Over / Selic - (% a.m.) Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria. 2010.07 2010.01 2009.07 2009.01 2008.07 2008.01 2007.07 2007.01 2006.07 2006.01 2005.07 2005.01 2004.07 2004.01 2003.07 2003.01 2002.07 2002.01 2001.07 2001.01 2000.07 2000.01 1999.07 1999.01 1998.07 1998.01 0.0 O Gráfico 2.3 demonstra claramente a simultaneidade entre oferta e demanda por financiamento. Complementarmente, observase que o declínio da taxa de juros, posteriormente a 2005, se associa positivamente ao incremento nas consultas e desembolsos do banco após o mesmo período. Ou seja, ultrapassado o período de incertezas verificado no ano de 2002, o setor produtivo respondeu aos estímulos produzidos pela política monetária na forma de aumento da demanda por investimentos e o BNDES, ajustandose a esses estímulos, ampliou a disponibilidade de recursos para financiamentos. PAG. 38 Gráfico 2.3 - Taxas de crescimento anuais das consultas e Gráfico -2.3 - Taxas de crescimento anuais das consultas e desembolsos desembolsos BNDES (1999 - 2010) BNDES (1999 - 2010) 120% 110% 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% -10% -20% 1999 2000 2001 2002 2003 Consultas 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Desembolso Fonte: BNDES. Elaboração própria. Eliminando-se os valores relativos aos programas de apoio às exportações das estatísticas operacionais, obtêm-se, por resíduo, os valores referentes aos instrumentos de apoio ao investimento e inovação. No entanto, o BNDES não assinala os valores destinados a cada um destes propósitos, visto que ambos os objetivos são atendidos por programas comuns. Para viabilizar a análise, porém, pressupõe-se que os valores destinados a projetos de inovação representem uma parcela diminuta e passível de desconsideração sem prejuízo à validade dos resultados. Essa suposição baseia-se na informação de que entre 1995 e 2007 foram realizados apenas 66 acessos aos recursos do BNDES com o propósito de inovação. No mesmo período, houve 167.138 acessos referentes a projetos de investimento. Portanto, o Gráfico 2.4 apresenta as séries de valores de consultas e desembolsos que consideraremos compostos somente por programas de apoio ao investimento, doravante BNDES Investimento. Observa-se que as séries também caminham para uma convergência nos anos de 2002 e 2003, distanciando-se a partir de 2004. No entanto, entre 1998 e 2010, os valores de pedidos encaminhados ao BNDES aumentaram quase 530%, superando os 224 bilhões de reais em 2010. Por sua vez, os valores desembolsados pelo banco cresceram 33 quase 800% no mesmo período, chegando a mais de 148 bilhões de reais em 2010. 2004, tem-se a influência da PITCE, que marca a criação de novos instrumentos pelo BNDES, tais como Profarma (Produção & Reestruturação), Modermaq e do Cartão BNDES, cujos impactos serão observados nos anos seguintes. Com relação ao Cartão BNDES, desde a sua criação, em 2004, “foram emitidos 247.370 cartões, com um limite total de crédito de R$ 9,1 bilhões. Para se ter uma ideia da expansão registrada em 2009, nesse ano houve a emissão de 92.406 cartões, proporcionando um acréscimo do limite de crédito de R$ 4,2 bilhões” (BNDES, 2010, p. 59). A série de valores de consultas apresenta um comportamento estável que se sustenta até 2003. A partir de 2004, observa-se uma tendência ascendente até o último ano da série. Quanto à série de desembolsos, é possível destacar três fases distintas: de 1998 a 2001, em que há estabilidade com leve tendência de crescimento; entre 2002 e 2006, em que os valores apresentam um grande salto de patamar em relação ao subperíodo anterior; e, após 2007, em que há forte tendência de crescimento. Cabe destacar que a partir de PAG. 39 Gráfico 2.4 – Desembolsos e consultas ao BNDES Investimento 1998 – 2010 (R$ bilhões) Gráfico 2.4 – Desembolsos e consultas ao BNDES Investimento 1998 – 2010 (R$ bilhões) 224.60 187.00 148.61 145.11 119.76 108.31 80.78 78.78 66.78 56.73 56.63 35.74 16.64 1998 29.47 14.56 1999 32.64 17.42 2000 37.28 29.15 19.10 2001 26.14 2002 29.87 28.59 21.43 2003 Desembolsos Fonte: BNDES. 34 2004 32.71 2005 37.44 2006 Consultas 2007 2008 2009 2010 Em setembro de 2010, o BNDES participou da capitalização da Petrobras, investindo cerca de R$ 24,8 bilhões em ações preferenciais e ordinárias por meio da oferta pública da companhia, de forma a apoiar o seu plano de investimentos, que totaliza US$ 224 bilhões entre 2010 e 2014 (BNDES, 2010). O valor da operação representou significativos 16,7% dos desembolsos realizados em 2010; logo, é importante avaliar a evolução da série, desconsiderando o valor dessa operação eventual. O Gráfico 2.5 demonstra que se desconsiderarmos o valor da operação de capitalização da Petrobras, a taxa de crescimento do desembolso entre 2009 e 2008 reduz-se de 24% para apenas 3%. Ou seja, pode-se considerar que essa operação disfarçou uma relativa estabilidade dos valores destinados às operações de investimento não relacionadas ao mercado de capitais. PAG. 40 GráficoGráfico 2.5 – Desembolsos BNDES Investimento (R$ bilhões) bilhões) 2.5 – Desembolsos BNDES Investimento 1998 1998 –– 2010 2010 (R$ 148.61 Operação de capitalização da Petrobras 24.80 119.76 123.81 2009 2010 78.78 56.73 16.64 14.56 17.42 19.10 1998 1999 2000 2001 26.14 21.43 2002 2003 28.59 32.71 37.44 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte: BNDES O Gráfico 2.6 apresenta a composição dos desembolsos realizados pelo BNDES de acordo com o tipo de operação. As operações diretas – realizadas diretamente com o BNDES ou através de mandatário – representaram 50% do total de desembolsos entre 1998 e 2010. No entanto, verifica-se certa flutuação nesse percentual ao longo do período. Por exemplo, a partir de 2004, ano em que os desembolsos iniciam um evidente movimento de crescimento. O mesmo acontece com a parcela de operações realizadas diretamente. Por outro lado, a outra metade do valor total corresponde às operações indiretas – realizadas através de instituições financeiras credenciadas. Porém, nota-se que exceto para anos de 1998, 2002, 2008 e 2009, a parcela de operações indiretas sempre foi superior a 50%. Caso desconsiderássemos o valor da operação de capitalização da Petrobras (operação direta), a parcela de operações indiretas passaria de 52,6% para o valor recorde de 63,1% do total em 2010. 35 PAG. 412.6 – Desembolsos BNDES Investimento por tipo de operação Gráfico Gráfico 2.6 – Desembolsos BNDES Investimento por tipo de operação Fonte: BNDES. Elaboração própria. Os produtos componentes desses dois tipos de operação são apresentados na Tabela 2.2, a seguir. Quanto às operações diretas, nota-se que a maior parte refere-se aos valores desembolsados através do Finem. Em relação às operações indiretas, os produtos Finame e BNDES Automático são os componentes mais vultosos. Esses resultados são compatíveis com a descrição dos programas realizada na primeira seção deste relatório. Os produtos Finem e BNDES Automático atendem todos os setores de atividade econômica, o que justifica sua grande importância relativa ao total dos desembolsos. Além disso, esses produtos podem ser considerados complementares, uma vez que o Finem destina-se a projetos superiores a R$ 10 milhões, enquanto o BNDES Automático a projetos inferiores a esse valor. Quanto ao Finame, o crescimento de sua importância relativa, passando de 20 para 31% do total de desembolsos entre 1998 e 2010, pode ser 36 justificado pelas operações realizadas por meio do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), lançado em julho de 2009, segundo o relatório do ano de 2010 do BNDES. Retomando a classificação das frentes de atuação do BNDES apresentada na Figura 1.1, a composição dos desembolsos pode ser distribuída conforme o Gráfico 2.7. A atuação na aquisição de máquinas e equipamentos, por intermédio dos produtos Finem (direto e indireto) e BNDES Automático, teve participação crescente desde o início da década de 2000. O ano de 2009 foi a única exceção a esse movimento; nesse ano, os valores desembolsados pelo Finem direto foram extremamente elevados, reduzindo a participação da atuação em máquinas e equipamentos relativamente ao total. A frente de atuação em Projetos de Investimento é composta pelos produtos Finame (inclusive agrícola e leasing), BNDES Não reembolsável e Cartão BNDES. Nota-se que sua participação manteve-se em torno de 65% entre 1998 e 2002, reduzindo - se a uma participação média ao redor de 56% entre 2003 e 2008. Em 2009, como anotado anteriormente, os valores do Finem Direto apresentam grande salto e resultam em maior participação dos projetos de investimento em relação ao total. Sendo assim, fica evidente que a alteração na distribuição dos valores entre as frentes de atuação reflete as mudanças de políticas industrial e monetária apontadas anteriormente. Percebese claramente que os estímulos aos investimentos refletiram-se na ampliação da participação do financiamento a máquinas e equipamentos, restringindo consequentemente o percentual de recursos destinados a projetos de investimento. PAG. 43 Gráfico 2.7 - Composição dos desembolsos segundo frentes de atuação do BNDES Gráfico 2.7 - Composição dos desembolsos segundo frentes de atuação do BNDES 62% 71% 66% 67% 68% 56% 58% 57% 56% 57% 40% 52% 71% 38% 23% 18% 23% 15% 11% 11% 1998 1999 2000 Outros 28% 40% 29% 40% 37% 35% 9% 6% 2006 2007 5% 3% 4% 2% 6% 2001 2002 2003 2004 2005 Máquinas e equipamentos 37% 35% 22% 13% 2008 22% 7% 2009 2010 Projetos de Investimento Fonte: BNDES. 37 5,123 50 1,596 7,448 1,676 3,164 1,792 740 75 14216 7,115 25 2,436 7,006 3,299 865 2,304 409 128 16,582 OPERAÇÕES INDIRETAS Finame Finem - Indireto BNDES Automático Finame Agrícola Finame Leasing Cartão BNDES Fonte: BNDES, 2011. TOTAL 1999 6,768 1998 9,576 Discriminação OPERAÇÕES DIRETAS Finem - Direito BNDES Não reembolsável Mercado de Capitais Prestação de Garantia 17,312 9,723 2,498 4,015 1,760 1,360 89 - 5,522 86 1,982 - 2000 7,589 19,203 11,336 3,304 3,706 2,278 1,848 200 - 6,825 52 990 - 2001 7,867 25,630 11,393 4,020 1,607 2,471 3,010 286 - 13,335 75 807 - 2002 14,237 21,630 12,607 5,333 1,253 2,765 2,872 383 1 7,983 71 970 - 2003 9,024 28,718 16,594 6,621 1,667 3,470 4,570 254 12 11,439 49 613 23 2004 12,124 32,985 17,596 9,329 1,885 3,654 2,185 471 72 13,282 60 2,047 - 2005 15,389 37,466 19,403 10,767 2,701 3,590 1,483 637 225 14,571 88 3,404 - 2006 18,063 56,835 31,246 17,031 5,112 5,077 2,071 1,446 846 22,029 63 3,498 - 2007 25,589 78,047 38,909 22,159 6,041 5,515 2,702 1,646 846 28,578 105 10,455 - 2008 39,138 Tabela 2.2 – Desembolsos BNDES Investimento por produto (R$ milhões) 78,233 46,759 7,790 13,407 5,361 601 4,314 37,597 204 32,711 - 2010 70,512 120,727 148,744 46,796 20,678 9,875 10,3015 2,814 636 2,479 65,082 138 8,711 - 2009 73,931 38 Os Gráficos 2.8 (a) e (b) ilustram separadamente a evolução das principais linhas de apoio das operações diretas. Nota-se que todas as séries apresentam tendência de crescimento, especialmente a partir de 2004. O crescimento das operações de mercado de capitais é marcado pela operação de capitalização da Petrobras em 2010. Os Gráficos indicam que essa operação resultou em realocação do orçamento total de recursos. Ou seja, esse valor pode ser responsável pela redução de 42% dos recursos liberados pelo Finem em 2010 em relação a 2009. PAG. 45 Gráfico 2.8 - Principais produtos BNDES Investimento – Operação Direta (R$ bilhões) 70 65.08 Finem - Direto R$ bilhões R$ bilhõe s Gráfico 2.8 - Principais produtos BNDES Investimento – Operação Direta (R$ bilhões) 60 50 35 Mercado de Capitais 30 25 37.60 40 28.58 30 24.8 20 15 22.03 20 10 13.36 7.12 5.12 5.52 7.98 6.83 11.44 13.28 5 0 0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 10.45 10 8.71 14.57 2006 2007 2008 2009 2010 (a) 2.44 1.60 1.98 0.99 0.81 0.97 0.61 2.05 3.40 3.50 7.91 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 (b) Fonte: BNDES. Elaboração própria. Quanto às operações indiretas, a evolução de seus principais produtos é apresentada nos Gráficos 2.9 (a) a 2.9 (d). Nesses casos, também há uma tendência de crescimento, em especial a partir de 2004. A exceção é a linha Finame Agrícola que apresentou forte oscilação no período, reduzindo seu valor de R$ 4,57 bilhões em 2004 para R$ 1,48 bilhão em 2006 e aumentando novamente para R$ 5,36 bilhões em 2010. Destaca-se o produto Finame que teve um aumento de 126,1% nos recursos desembolsados entre 2009 e 2010. O número de operações do Finame nesse período aumentou 87%, levando assim a um aumento de 20% no valor médio das operações. Por sua vez, o BNDES Automático apresentou redução de 30% no número de operações entre 2009 e 2010, que somada a um crescimento de 29% nos desembolsos, levou a um aumento de 87% no valor médio das operações de 2010 em relação a 2009. 39 AG. 46 Gráfico 2.9 - Principais produtos BNDES Investimento – Operação Indireta (R$ bilhões) R$ bilhões Gráfico 2.9 - Principais produtos BNDES Investimento – Operação Indireta (R$ bilhões) 12 Finem - Indireto 9.87 10 7.79 8 6.04 6 5.11 4.02 4 3.71 3.16 2 1.61 0.87 1.67 1.89 2004 2005 1.25 2.70 0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2006 2007 2008 2009 2010 R$ bilhões (a) 50 46.76 Finame 45 40 35 30 25 22.16 20 20.68 17.03 15 10 5 3.30 1.68 2.50 3.30 4.02 5.33 6.62 9.33 10.77 0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 (b) 40 R$ bilhões G. 47 16 BNDES Automático 13.41 14 12 10.31 10 8 6 4 5.08 2.30 2 1.79 1.76 1999 2000 2.28 2.47 2.76 2001 2002 2003 3.47 3.65 2004 2005 5.52 3.59 0 1998 2006 2007 2008 2009 2010 R$ bilhões (c) 6 Finame - Agrícola 5 5.36 4.57 4 3.01 3 1.36 0.41 2.70 2.19 1.85 2 1 2.87 2.81 2.07 1.48 0.74 0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 (d) Fonte: BNDES. Elaboração própria. 41 A Tabela 2.3 apresenta a decomposição dos desembolsos anuais na comercialização, no Brasil, de máquinas e equipamentos nacionais, por meio dos produtos Finame, Finame Agrícola e Finame Leasing, a partir de 2003. As informações estão agrupadas por tipo de equipamento, apresentando sua respectiva participação no total, e não incluem os desembolsos das linhas Finame para capital de giro, refinanciamento e importação de máquinas e equipamentos. Os valores também não incluem as máquinas e equipamentos nacionais apoiados pelos produtos Finem e BNDES Automático. Nota-se que os desembolsos destinados ao setor agrícola passaram por forte queda; representavam quase 34% desse tipo de operação em 2003, passando a apenas 13,8% em 2010. Por sua vez, os desembolsos para máquinas e equipamentos destinados a infraestrutura e transporte aumentaram sua participação no total. Os dois itens somados representavam 48,43% do total em 2003, passando a 66,73% em 2010. Tabela 2.3 - Desembolsos Anuais na comercialização, no País, de Máquinas e Equipamentos Nacionais, através dos Produtos Finame, Finame Leasing e Finame Agrícola – Total (R$ milhões) e por equipamento (% do total) Ano 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Fonte: BNDES. Agrícola Industrial 33.90 40.21 19.26 13.36 12.89 12.61 13.75 13.80 10.89 10.71 15.57 14.49 13.41 11.36 8.91 11.36 Infraestrutura 5.42 5.24 9.74 11.13 9.78 8.58 8.85 10.13 Por fim, é possível avaliar a série de desembolsos realizados pelo BNDES a partir de sua composição quanto às atividades beneficiadas. O Gráfico 2.10 apresenta a participação dos grandes ramos de atividades nos valores das operações do BNDES Investimento. Observa-se a evidente preeminência das atividades industriais e de infraestrutura2, embora a participação deste último venha se reduzindo levemente desde 2004. As atividades industriais têm participação relativamente estável até 2001, passando por um período de grande 42 Transporte Outros 43.01 38.18 47.44 53.38 55.80 60.02 62.03 56.60 6.78 5.65 7.98 7.64 8.12 7.43 6.46 8.11 Total (R$ milhões) 8,537.14 11,403.47 11,973.73 12,870.39 20,509.36 26,484.90 24,111.58 47,470.93 redução entre 2002 e 2004. A partir de 2005, a indústria se recupera e sua participação volta a crescer, chegando a 50% em 2010. A atividade agropecuária, por sua vez, apresenta participação crescente entre 1998 e 2004. No entanto, a partir de 2005, sua parcela se reduz continuamente, chegando a atingir apenas 6% em 2009. A redução percebida no setor de agropecuária é compensada por um aumento na participação dos setores de comércio e serviços3. Esse movimento fica ainda mais evidente ao verificarmos que, no ano de 2010, essa parcela chega a 21% do total, em contraste aos 8% verificados em 2004. Os PAG. 49 valores destinados às atividades de comércio e serviços superaram os R$ 26 bilhões em 2010, um crescimento de 59% em relação a 2009. Gráfico 2.10 – Composição dos desembolsos do BNDES Investimento por ramos2.10 de atividades Gráfico – Composição dos desembolsos do BNDES Investimento por ramos de atividades 8% 14% 9% 14% 11% 15% 14% 12% 16% 12% 21% 9% 43% 1998 35% 1999 48% 6% 12% 14% 8% 21% 45% 44% 39% 41% 47% 49% 38% 28% 2000 12% 42% 44% 32% 11% 7% 8% 36% 46% 9% 10% 13% 46% 24% 9% 26% 2001 Indústria 2002 31% 22% 19% 2003 2004 Infraestrutura 2005 38% 35% 37% 2006 2007 2008 Comércio/serviços 42% 50% 2009 2010 Agropecuária Fonte: BNDES. Elaboração própria. A Tabela 2.4 apresenta a relação entre a demanda por apoio ao investimento e o atendimento da demanda por este apoio ao investimento, construído como a razão entre os recursos desembolsados pelo BNDES e os valores requisitados pelas empresas em suas consultas aos programas. Os dados indicam que em 2001, 66% do valor consultado foi atendido pelo BNDES. Em 2010 essa parcela reduziu-se para 55%. Esses resultados podem indicar um excesso de demanda por apoio, que não vem sendo acompanhado pelo crescimento nos desembolsos dos programas do BNDES. O setor de infraestrutura é composto pelas atividades de Eletricidade e gás; Saneamento; Transportes; e, Telecomunicações. 3 O setor de comércio e serviços inclui também os desembolsos destinados ao setor de construção civil. 2 43 Tabela 2.4 – Parcela atendida da demanda por apoio ao investimento (Desembolso/Consultas) – Brasil (2001 – 2010) Ano Indústria Infraestrutura 2001 0.93 2002 0.86 2003 0.61 2004 0.21 2005 0.42 2006 0.52 2007 0.45 2008 0.59 2009 0.65 2010 0.81 Fonte: BNDES. Elaboração própria. 0.48 0.61 0.83 0.59 0.82 0.45 0.70 0.57 0.80 0.54 Nota-se que o setor agropecuário tem, em média, quase 90% de sua demanda atendida pelo BNDES. Por outro lado, esse setor recebe, em média, apenas 10% dos recursos liberados pelo BNDES. Isso é reflexo da baixa participação do setor na economia (em média 5,2% do PIB no período analisado). Porém, o BNDES constitui uma importante fonte de financiamento dos investimentos do setor, chegando a responder por 35% da Formação Bruta de Capital Fixo do setor em 2009. As atividades de comércio e serviços, salvo no período recente, não foram tratadas como prioritárias em termos de formulação de políticas de apoio. Logo, verifica-se que a concorrência por recursos do BNDES se dá entre os setores de infraestrutura e da indústria. A disputa, portanto, depende da prioridade que o banco dá em suas políticas a cada um desses setores ao longo do tempo. A Tabela 2.4 torna evidente um padrão de oscilação nos indicadores do setor de infraestrutura; enquanto em alguns anos o atendimento da demanda chega a 80%, em 44 Comércio/ serviço 0.62 0.58 0.59 0.26 0.33 0.30 0.30 0.31 0.38 0.61 Agropecuária Total 0.81 0.95 0.76 0.85 0.94 0.77 0.96 0.97 0.77 0.89 0.66 0.70 0.72 0.43 0.58 0.46 0.52 0.54 0.64 0.55 outros chega a menos de 50%. A indústria, por sua vez, recebeu maior atenção até 2003, com maiores parcelas de atendimento; depois, perdeu seu privilégio, voltando a ganhar prioridade no final do período. Logo, ainda que os recursos sejam crescentes, não é possível identificar uma tendência clara de política em termos de atendimento da demanda. A Tabela 2.5 apresenta os desembolsos desagregados por setor de atividade econômica, classificada de acordo com a CNAE 2.0 (Classificação Nacional de Atividades Econômicas). Dentre os setores da indústria de transformação, destaca-se o setor de produtos alimentícios que recebeu 6,5% do total de desembolsos realizados entre 1998 e 2010. O setor de petróleo, coque e combustíveis também figura entre os principais beneficiários, com 9,58% da soma dos valores do período, porém, dos R$ 59,2 bilhões recebidos por esse setor, 88% foram desembolsados entre 2009 e 2010. No restante do período, o setor recebeu, em média, R$ 657 milhões ao ano. Ainda no ramo da indústria destacam-se os setores de Metalurgia, Celulose e Papel e Química, responsáveis, respectivamente, por 3,43%, 2,5% e 2,23% do total. Quanto ao crescimento das séries, destaca-se o setor de produtos farmacêuticos e farmoquímicos, cujos valores desembolsados passaram de aproximadamente R$ 11 milhões em 1998 para R$ 1,2 bilhão em 2010. De fato, o crescimento dos valores destinados ao setor é especialmente claro no ano de 2010, pois o valor médio recebido pelo setor entre 1998 e 2009 era aproximadamente R$ 134 milhões, com valor máximo, atingido em 2007, de R$ 594,6 milhões. Os setores de produtos alimentícios e de outros equipamentos de transporte também apresentaram taxa de crescimento elevada no período: respectivamente, 27,7% e 39% ao ano, em média. Na infraestrutura, os setores de maior destaque foram Eletricidade e Transportes, em especial, o transporte terrestre. Juntos, esses setores correspondem a mais de 34% do total de recursos liberados entre 1998 e 2010. Segundo Sant’anna et alli (2009) “as inversões em infraestrutura acabam por gerar estímulos adicionais aos investimentos privados nos demais setores da economia. Isso acontece tanto em função de os investimentos em infraestrutura aumentarem a competitividade sistêmica da economia via efeitos multiplicadores quanto da sustentação de taxas de crescimento de longo prazo mais elevadas por intermédio de efeitos aceleradores”. Logo, pode-se argumentar que os setores de infraestrutura têm responsabilidade dobrada sobre o ciclo de investimento vivido pela economia brasileira nos últimos anos, estimulando também o aumento da demanda e da oferta de recursos aos demais setores. Merece destaque também o setor de Comércio, destino de 4,74% do total de desembolsos, com taxa média de crescimento de quase 25% ao ano. No entanto, esse crescimento acelerou-se nos últimos dois anos do período; os recursos liberados para o setor em 2009 foram 91% maiores que em 2008, e os valores de 2010 superaram em 83% aqueles de 2009, atingindo mais de R$ 10 bilhões no fim do período. Por fim, os recursos destinados à agropecuária cresceram a uma taxa média de 18,4% ao ano, enquanto a taxa da indústria extrativa foi de 15,1%. Neste último, nota-se a diferença entre dois subperíodos: até 2005, a indústria extrativa recebia, em média, R$ 274 milhões ao ano; entre 2006 e 2010, a média superou o patamar de R$ 2 bilhões. Em síntese, as informações apresentadas indicam que, especialmente após 2004, houve um forte crescimento tanto na demanda por investimento quanto nos valores efetivamente distribuídos pelo BNDES. Esse crescimento foi reflexo da alteração das políticas monetária e industrial após 2004. Por um lado, houve uma redução nas taxas de juros de longo prazo, reduzindo o custo de acesso aos financiamentos. Por outro lado, houve a implantação de três políticas relacionadas ao desenvolvimento industrial e à promoção de inovação no segundo período de 2003 a 2010. São elas: a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), em 2004, o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI), em 2007, e a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), em 2008. No âmbito dessas políticas, o BNDES passou a exercer função estratégica para a viabilização e direcionamento dos investimentos. A combinação dessas políticas alterou a distribuição dos recursos entre os setores de atividades econômicas, favorecendo os setores da indústria. As indústrias de transformação, que receberam em média 30% dos recursos nos anos de 1998 a 2002, passaram a receber em média 35% do total nos anos de 2005 a 2010. Por outro lado, houve redução na participação média dos 45 setores de infraestrutura. Em especial, o setor de Eletricidade e Gás teve sua participação média reduzida de 16,8% no primeiro período para 11,6% no segundo, e a participação média do setor de Telecomunicações foi reduzida em 9 pontos percentuais (de 13,9% para 4,9%). No entanto, contrariando as informações noticiadas, os maiores valores de recursos foram 46 demandados através de produtos associados a aquisições de máquinas e equipamentos e não de produtos associados a projetos de investimento. De fato, a participação dos projetos de investimento sofreu redução após 2004, embora diversos projetos setoriais tenham sido criados no período como parte das políticas industriais já citadas. 586.68 26.97 55.38 25.69 Móveis Produtos diversos - 982.94 601.11 Veículos, reboque e carroceria Outros equipamentos de transporte Manutenção, reparação, instalação 132.33 197.44 Máquinas e equipamentos 0.02 13.26 19.59 184.86 81.47 105.91 101.90 233.14 Equip. informática, eletrônico, ótico 111.00 Máq., aparelho elétrico 658.64 130.18 Metalurgia Produto de metal 80.54 165.82 Mineral não metálico 18.94 178.71 10.90 315.22 120.12 265.35 279.61 Química Farmoquímico, farmacêutico 272.07 Coque, petróleo e combustível 6.80 210.08 127.13 287.36 2.78 286.39 851.37 Borracha e plástico 15.70 Gráfica 77.75 60.38 41.39 Confec., vestuário e acessórios Couro, artefato e calçado 116.74 357.41 Têxtil 393.18 4.16 Madeira 502.41 Bebidas Fumo Celulose e papel 35.15 545.17 143.39 197.80 29.76 631.39 77.10 24.50 1,126.57 171.83 26.71 32.96 155.58 3.50 375.50 666.25 0.07 12.02 26.20 54.29 846.19 263.72 50.04 98.17 85.29 0.80 21.37 41.08 28.66 823.83 389.67 44.10 160.15 130.19 1,315.05 1,514.61 148.96 138.14 18.25 260.46 21.65 15.59 297.12 134.09 18.18 26.11 201.43 0.45 148.45 622.15 395.36 5,060.68 4,816.40 4,802.05 6,817.30 82.62 INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO 257.82 Produtos alimentícios 2001 280.34 2000 INDÚSTRIA EXTRATIVA 1999 1,333.24 1,274.25 1,885.35 2,754.23 1988 AGROPECUÁRIA Discriminação - 0.10 14.07 68.18 - 261.06 154.28 132.45 11.04 151.80 911.28 160.58 238.70 53.41 622.15 47.60 23.82 349.42 156.57 26.68 28.01 95.05 20.17 183.86 794.66 4,504.94 140.12 4,505.99 2003 (continua) 22.76 56.86 - 985.06 339.67 75.90 147.66 158.52 843.37 184.14 205.03 50.44 679.04 107.29 22.95 1,174.24 158.75 58.70 32.75 191.61 2.60 234.29 793.40 6,525.00 248.72 4,250.33 2002 1.80 34.28 64.28 - 261.23 234.27 77.56 9.69 212.77 633.39 235.30 248.19 63.72 361.00 73.50 18.61 1,037.54 102.43 93.01 26.92 138.53 18.40 110.57 1,078.48 5,135.48 236.33 6,865.19 2004 5.80 49.93 114.18 206.22 775.75 382.60 297.48 287.45 322.40 1,167.03 175.56 427.30 128.90 865.45 170.80 20.30 1,347.94 130.23 69.38 56.36 184.72 5.20 501.60 1,966.54 9,659.12 337.70 4,029.75 2005 2.40 56.30 69.16 349.22 876.22 270.96 159.92 120.45 314.39 2,125.00 295.55 457.38 149.90 978.67 1,391.50 25.20 2,313.60 139.22 52.44 60.05 122.72 13.50 344.90 2,452.80 13,141.47 1,095.55 3,394.34 2006 14.20 62.00 145.57 360.82 908.39 569.51 417.29 250.84 473.19 3,118.28 387.57 774.28 594.60 1,802.24 1,798.00 31.50 1,805.36 323.15 63.57 106.10 254.37 12.70 404.60 4,046.76 18,724.88 1,047.49 4,965.02 2007 3,219.30 6,854.90 2009 1,513.60 10,073.53 2010 29.60 41.73 280.15 854.20 1,071.90 613.67 463.05 199.72 452.96 2,851.29 562.12 555.90 286.66 2,014.43 3,145.60 49.90 851.91 511.05 489.77 386.96 816.96 0.40 528.80 8,853.60 101.08 1,065.75 373.26 278.61 539.25 1,087.39 4.90 1,158.54 10,296.80 24.70 68.48 192.70 886.09 477.70 586.51 389.58 131.13 533.33 3,141.15 1,244.56 545.32 205.48 2,104.56 66.20 137.80 376.67 1,408.82 2,206.85 1,318.42 538.82 279.75 864.44 2,304.36 1,474.47 1,187.94 1,210.66 2,846.67 23,238.40 28,712.30 68.70 3,478.65 374.94 223.33 259.40 364.18 0.10 769.90 7,333.33 25,911.77 46,642.22 59,839.75 3,310.70 5,588.16 2008 Tabela 2.5 - Desembolsos BDNES Investimento por setor de atividade 47 81.80 290.63 11.75 120.45 139.54 33.24 4.39 Ativ. imobiliária, profissional e adm. Administração pública Educação Saúde e serviço social Artes, cultura e esporte Outras atividades e serviços 4.29 46.95 157.50 169.50 28.33 207.82 171.96 2,614.94 71.81 74.00 177.15 2000 16.16 22.66 301.37 186.84 67.33 137.59 182.49 4,729.37 52.62 99.41 364.46 1.74 119.16 1,204.77 919.81 608.71 189.12 1,441.75 10,645.37 2001 9.90 29.50 161.90 162.60 45.80 172.65 152.50 3,111.80 64.10 119.90 435.99 6.90 131.60 1,611.54 763.00 641.48 90.10 1,422.17 9,133.43 2002 2003 2004 2005 2006 21.40 22.60 209.30 200.90 158.60 291.20 162.00 653.60 54.89 126.70 281.20 3.70 245.30 2,135.89 840.25 653.70 202.40 8,852.30 15.30 32.40 207.00 158.90 114.30 354.70 101.61 251.50 26.52 72.90 236.60 0.90 613.40 2,946.20 1,361.56 442.20 276.40 5,062.27 33.60 17.40 148.80 142.40 187.70 261.01 87.53 1,645.40 47.60 43.00 312.40 10.60 687.60 4,654.50 766.71 552.82 245.10 6,505.41 36.90 15.00 141.50 164.80 142.80 497.79 51.26 1,669.29 131.50 99.00 776.50 165.00 421.70 7,310.40 796.88 970.25 329.20 4,959.22 49.20 18.80 418.30 159.70 128.30 531.94 251.94 2,113.70 114.70 85.30 542.90 93.80 476.90 8,423.10 1,270.95 1,146.30 401.50 3,563.57 15,115.92 12,274.65 16,349.59 18,679.00 19,810.90 Fonte: BNDES. Elaboração própria. 16,637.09 14,560.86 17,415.39 19,100.31 26,139.98 21,425.74 28,586.60 32,705.57 37,442.25 193.70 Ativ. Financeira e seguro TOTAL 100.96 893.05 Informação e comunicação Telecomunicações 87.54 Alojamento e alimentação 321.77 76.07 138.88 Transporte aéreo Ativ. Aux. transporte e entrega 149.94 148.14 Transporte aquaviário 671.46 1,052.70 708.51 394.57 2,658.26 580.59 Construção 1,815.88 Transporte terrestre 103.03 Água, esgoto e lixo 1999 8,212.38 Comércio 3,674.08 Eletricidade e gás 1988 9,962.83 COMÉRCIO E SERVIÇOS Discriminação 56,729.21 55.60 23.40 399.10 141.70 147.70 870.30 257.50 3,379.20 287.34 115.70 1,013.20 18.80 707.60 12,588.30 2,462.59 1,957.94 654.30 6,911.56 31,991.84 2007 2009 82.10 76.50 415.80 173.40 4,148.70 1,214.14 326.61 3,834.90 341.00 189.60 2,084.70 469.90 914.80 23,737.10 5,582.09 3,833.85 906.40 14,710.74 63,042.33 2010 134.20 122.10 497.10 183.20 5,128.90 2,763.18 725.66 2,103.90 599.50 382.30 2,960.70 571.10 1,565.30 28,472.47 10,192.12 5,313.23 1,590.20 13,878.50 77,183.66 48 78,778.59 119,758.76 148,610.53 81.40 37.70 304.10 135.50 289.50 1,050.86 1,279.80 6,187.80 584.00 134.70 622.60 10.70 661.50 17,531,30 2,922.03 2,419.25 791.99 8,923.22 43,967.95 2008 Tabela 2.6– Desembolsos BDNES Investimento por setor de atividade (continuação) o número de acessos realizados aos programas. O número de acessos é sempre igual ou superior ao número de empresas visto que mais de um acesso, referentes a projetos distintos, podem ter sido feitos por uma mesma empresa em um mesmo ano. 2.2MF Investimento Na presente seção são apresentadas as séries históricas de utilização dos benefícios fiscais obtidos por meio dos regimes especiais de tributação do Ministério da Fazenda (MF). As informações aqui avaliadas referem-se, exclusivamente, aos programas de apoio denominados Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras (RECAP), Regime Tributário para Incentivo à Modernização e à Ampliação da Estrutura Portuária (REPORTO) e Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (REIDI). Os Gráficos 2.11 a 2.13 apresentam separadamente as séries históricas de cada um dos programas de apoio. No Gráfico 2.11 encontra-se a evolução do número de acessos realizados ao REPORTO. Desde sua criação foram realizados 141 acessos por 141 empresas distintas. Nota-se que só houve um número expressivo de acessos a partir de 2009, quando foram habilitadas 71 empresas. Em 2010, houve uma redução de 41% nesse valor em relação a 2009. Os valores de 2011 dizem respeito apenas aos sete primeiros meses do ano, logo não se pode concluir precipitadamente se a tendência de crescimento das séries será mantida. No entanto, assumindo-se que o segundo semestre tenha desempenho similar ao verificado no primeiro, o número de acessos se reduzirá ainda mais em relação a 2010. Adverte-se que não foram obtidas as informações sobre os valores da renúncia fiscal dos programas. No entanto, as séries de dados dizem respeito a dois tipos de informações diferentes: (i) o número de empresas distintas habilitadas nos regimes do MF a cada ano (uma mesma empresa é contabilizada somente uma vez ao ano, mas é contabilizada novamente nos anos seguintes caso volte a participar de projetos beneficiados); e (ii) PAG. 57 2.11 - Número de empresas/acessos ao REPORTO Gráfico Gráfico 2.11 - Número de empresas/acessos ao REPORTO 71 42 17 9 1 0 1 2005 2006 2007 2008 2009 2010 *Os dados de 2011 referem-se somente aos meses de janeiro a julho. Fonte: Ministério da Fazenda. Elaboração própria / DISET-IPEA. 2011* 49 O Gráfico 2.12 apresenta a evolução do número de acessos ao RECAP. O regime foi criado em 2005 e já acumula 262 empresas habilitadas. No ano seguinte, logo após sua criação, o regime já apresentou valores elevados. No entanto, o que chama a atenção nesse caso é que entre 2006 e 2010 as séries se reduziram a uma taxa média de 19% ao ano. Se desconsiderarmos o ano de 2010 em que houve uma pequena recuperação em relação a 2009, a taxa média de queda seria de 31% ao ano. Nesse Regime o número de acessos é equivalente ao número de empresas habilitadas, visto que uma vez cadastradas no programa, e mantido o atendimento aos requisitos do regime, o benefício fiscal se estende a todas as aquisições de bens de capital. Logo, não é necessário que a firma beneficiada realize um acesso novo a cada projeto. Essa característica poderia explicar o movimento descendente da série, visto que quanto mais empresas já estiverem habilitadas em anos anteriores, menor será o número de empresas restantes nos anos seguintes e ainda não habilitadas. Ainda assim, o número acumulado de empresas habilitadas no RECAP desde sua criação (262) é extremamente reduzido para justificar esse decrescimento. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), existem aproximadamente 20 mil empresas exportadoras brasileiras. Sendo assim, as 262 empresas habilitadas representam pouco mais de 1,3% do número total de empresas brasileiras exportadoras. Gráfico 2.12 - Número de empresas/acessos ao RECAP PAG. 58 Gráfico 2.12 - Número de empresas/acessos ao RECAP 94 46 35 40 31 16 2006 2007 2008 2009 2010 *Os dados de 2011 referem-se somente aos meses de janeiro a julho. Fonte: Ministério da Fazenda. Elaboração própria / DISET-IPEA. 50 2011* Por fim, o Gráfico 2.13 apresenta as séries de dados referentes ao Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (REIDI). Nesse regime, o número de acessos é diferente do número de empresas, evidenciando que há empresas habilitadas em diferentes projetos em um mesmo ano. Somando-se os anos de 2008 a 2011, o REIDI já beneficiou 773 projetos, nos quais estavam envolvidas 451 empresas distintas. Dessas empresas, algumas realizaram acessos em mais de PAG. 59 um ano, por isso, são contabilizadas novamente, totalizando 501 empresas entre 2008 e 2011. Enquanto o número de acessos cresceu a uma taxa anual média de 84% entre 2008 e 2010, o número de empresas cresceu a uma taxa anual média um pouco inferior, de 80%. Em 2011, até o fim do mês de julho, o REIDI já havia habilitado 190 projetos realizados por 128 empresas. Caso o desempenho nos meses restantes do ano seja similar, tanto o número de acessos quanto o número de empresas sofreram aumento em relação a 2010. Gráfico 2.13 - Número de empresas e acessos ao REIDI Gráfico 2.13 - Número de empresas e acessos ao REIDI 285 210 190 182 137 128 88 54 2008 2009 EMPRESAS 2010 2011* ACESSOS *Os dados de 2011 referem-se somente aos meses de janeiro a julho. Fonte: Ministério da Fazenda. Elaboração própria / DISET-IPEA. Cabe avaliar também quais os setores de atividades que vêm sendo mais beneficiados pelos regimes especiais. Embora os regimes destinemse a projetos de objetivos específicos, as empresas beneficiadas podem atuar em qualquer setor de atividade. Em especial, as empresas do REIDI e do REPORTO não precisam atuar necessariamente nos setores infraestrutura, por exemplo. O critério de habilitação aplica-se ao objetivo do projeto de investimento no qual as empresas estão envolvidas, e não ao seu setor de atuação principal. É importante ressaltar que para realizar a classificação das empresas habilitadas de acordo com o seu setor de atividade, se fez necessário cruzar as informações das listagens fornecidas pelo Ministério da Fazenda com as informações dessas empresas disponíveis na PIA-IBGE e na RAIS-MTE. Durante esse cruzamento algumas informações são perdidas visto que nem todas as empresas habilitadas constam naquelas pesquisas. Ainda assim, as informações que são apresentadas oferecem uma indicação da distribuição real das empresas habilitadas segundo o setor de atividade. 51 A Tabela 2.6 apresenta as empresas beneficiadas pelo REPORTO, segundo seção da classificação nacional de atividades (CNAE 2.0). Como era de se esperar, grande parte da concessão de benefícios destina-se aos setores de transporte, em especial às divisões CNAE: 49 - Transporte Terrestre; e 52 – Armazenamento e Atividades auxiliares do transporte. No entanto, de acordo com o Cadastro Central de Empresas do IBGE, em 2009 havia mais de 183 mil empresas do setor de Transporte no Brasil em 2009. Ainda assim, o número de empresas desse setor, habilitadas no REIDI desde sua criação, é de apenas 97. Tabela 2.6 – Número de empresas habilitadas no REPORTO, por seção CNAE 2.0 Ramo de atividade 2008 2009 2010 2011* Indústria Extrativa Indústrias de Transformação Construção Transporte Serviços 0 0 0 8 1 1 5 1 43 2 2 0 2 34 1 0 1 0 12 0 TOTAL - REPORTO 9 52 39 13 Fonte: Ministério da Fazenda. Elaboração DISET-IPEA. A Tabela 2.7 apresenta o número de empresas beneficiadas pelo RECAP, segundo seção CNAE 2.0. As empresas das indústrias de transformação representaram 74% do total de empresas habilitadas entre 2006 e 2011. Por esse motivo, a Tabela 2.8 apresenta as indústrias de transformação desagregadas por divisão CNAE 2.0. Tabela 2.7 – Número de empresas habilitadas no RECAP, por seção CNAE 2.0 52 Ramo de atividade 2006 2007 2008 2009 2010 2011* Agropecuária Indústria Extrativa Indústrias de Transformação Eletricidade e Gás Comércio Transporte Serviços 6 2 70 0 4 0 2 3 5 34 0 1 0 0 3 5 21 1 2 0 0 2 5 20 0 2 0 0 5 5 26 0 2 0 1 1 3 4 0 0 1 2 32 29 39 11 TOTAL - RECAP 84 43 Fonte: Ministério da Fazenda. Elaboração própria. Dos 74% de empresas pertencentes às indústrias de transformação, 19% referem-se a empresas de produtos de madeira, 17% são do setor de artefatos de couro e 14% de produtos alimentícios. Destacam- se ainda os setores de móveis e metalurgia, responsáveis por 14% e 12%, respectivamente. Os demais setores somados respondem pelos 25% restantes. Tabela 2.8 – Número de empresas/acessos ao RECAP, por divisão CNAE 2.0 das Indústrias de Transformação Divisão CNAE 2.0 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Produtos alimentícios Fumo Têxteis Artefatos de couro, artigos para viagem, calçados Produtos de madeira Celulose, papel e produtos de papel Coque, derivados do petróleo e de biocombustíveis Produtos farmoquímicos e farmacêuticos Minerais não-metálicos Metalurgia Produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos Máquinas e equipamentos Veículos automotores, reboques e carrocerias Outros equipamentos de transporte Móveis Manutenção, reparação e instalação de maq. e equip. 9 1 0 11 16 2 0 1 6 11 0 0 1 4 4 1 5 0 0 8 6 0 0 0 3 0 1 0 0 4 7 0 5 0 0 4 2 0 1 0 0 3 0 0 0 1 4 0 3 0 1 3 2 3 0 0 0 3 0 0 0 1 4 0 2 0 0 3 4 1 1 0 2 4 0 1 0 2 5 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 RECAP - Indústrias de transformação Fonte: Ministério da Fazenda. 70 34 21 20 26 4 53 Finalmente, a Tabela 2.9 apresenta o número de empresas habilitadas e acessos realizados por elas ao REIDI, por seção CNAE 2.0. Nota-se que os projetos associados à infraestrutura energética (Eletricidade e Gás) representam a maior parte dos acessos ao regime de benefícios fiscais. Entre 2008 e 2010, foram realizados em média 150 acessos por 83 empresas, anualmente. Desses totais, o setor de Eletricidade e Gás respondeu por 48 e 46%, respectivamente. Esse setor, somado aos setores de Indústrias de transformação e Construção, corresponde a 80% da média de acessos e 78% do número de empresas. No entanto, somando-se as empresas habilitadas entre 2008 e 2011, há 131 do setor de Eletricidade e Gás, que representam somente 8% do total de empresas que atuavam nesse setor em 2009, segundo dados do IBGE. Nos setores de Construção e Indústrias de Transformação esses percentuais são ainda menores: 0,04% e 0,01%, respectivamente. Dentre as indústrias de transformação, destacam-se os setores de “máquinas, aparelhos e materiais elétricos”; “coque, derivados do petróleo e de biocombustíveis”; e “máquinas e equipamentos”, responsáveis por, respectivamente, 49%, 15% e 13% do total de acessos da indústria de transformação entre 2008 e 2011. A partir de 2009, também se destacam os projetos dos setores de serviços, em especial a divisão de “serviços de arquitetura e engenharia; testes e análises técnicas”, responsável por 86% dos projetos do setor e 73% das empresas de serviços habilitadas. Tabela 2.9 – Número de empresas e acessos ao REIDI, por seção CNAE 2.0 Ramo de atividade 2008 2009 Acessos Empresas Indústria extrativa Indústrias de transformação Eletricidade e gás Construção Comércio Transporte Serviços 54 0 9 56 7 1 7 1 0 7 24 7 1 7 1 2010 Acessos Empresas 3 16 88 38 0 8 29 2011* Acessos Empresas Acessos Empresas 2 11 55 20 0 8 13 3 33 71 44 7 13 16 2 12 37 23 4 13 3 1 29 36 25 7 8 12 1 12 15 15 1 8 5 TOTAL - REIDI 81 47 182 109 Fonte: Ministério da Fazenda. Elaboração DISET-IPEA. 187 94 118 57 Em síntese, pode-se dizer que os regimes especiais de tributação do Ministério da Fazenda beneficiam um número extremamente pequeno de empresas, ainda que esse número seja crescente nos regimes REPORTO e REIDI. Mesmo que se considere a especificidade de cada um dos regimes, seu espectro de atuação é muito limitado quando comparado ao número total de empresas dos setores em que há maior probabilidade de encontrarmos potenciais beneficiários. No caso do RECAP, mesmo que se considere válido o argumento de que há um esgotamento gradual dos possíveis participantes à medida que esse total acumulado se eleva, o número de empresas beneficiadas ainda é muito pequeno frente ao total de empresas exportadoras; logo, não há justificativa para a redução observada no número de empresas habilitadas. 55 56 3. Elaboração e análise dos indicadores dos instrumentos N a presente seção são elaborados e analisados indicadores para melhor avaliar o desempenho dos instrumentos de apoio ao investimento. Os recursos desembolsados são comparados tanto às informações sobre a formação bruta de capital fixo, disponível nas Contas Nacionais brasileiras, quanto ao nível de investimento, calculado a partir das pesquisas setoriais do IBGE. Devido à indisponibilidade de informações sobre o valor despendido pelo Ministério da Fazenda em seus programas de benefícios fiscais, os indicadores aqui avaliados dizem respeito exclusivamente aos programas do BNDES apresentados anteriormente. O primeiro indicador a ser analisado é a relação entre o valor dos desembolsos e o valor adicionado pelos grandes ramos de atividade. A informação de valor adicionado foi obtida a partir das Contas Nacionais, porém não é possível desagregar o setor de serviços de informação a fim de obter os dados de infraestrutura em telecomunicações. Sendo assim, esse setor está completamente classificado no ramo de atividades de comércio e serviços. O ramo de infraestrutura é, portanto, composto por produção e distribuição de eletricidade e gás, saneamento básico e transportes. O indicador revela que a relação entre desembolsos e valor agregado é notadamente crescente nos setores de indústria extrativa, indústria de transformação e infraestrutura. Ou seja, além de haver um crescimento nos valores absolutos, os desembolsos também cresceram em relação ao produto desses setores, indicando uma expansão da atuação do BNDES na economia. Por outro lado, nos ramos de agropecuária e comércio e serviços, essa relação é estável, revelando que embora os desembolsos tenham crescido, a atuação do BNDES em relação à produção dos setores foi reduzida. 57 Tabela 3.1 - Indicador: relação entre desembolsos BNDES e valor agregado Ramo de atividade 2000 2001 2002 2003 2004 Agropecuária 3.29% 7.12% 5.04% 4.15% 5.96% Indústria Extrativa 0.51% 2.40% 1.22% 0.55% 0.74% Indústria de Transformação 2.73% 3.56% 3.04% 1.70% 1.60% Construção 1.08% 1.08% 0.97% 0.64% 0.65% Comércio/Serviços 1.40% 0.92% 0.47% 0.41% 0.47% Infraestrutura 3.93% 4.11% 11.36% 7.67% 8.68% Fonte: BNDES, Contas Nacionais - IBGE. Elaboração própria. 2005 3.83% 0.74% 2.90% 1.08% 0.45% 8.63% 2006 3.04% 1.86% 3.72% 1.19% 0.56% 7.71% 2007 2008 3.90% 3.67% 1.95% 3.97% 4.81% 6.04% 1.76% 1.91% 0.77% 1.11% 11.43% 13.60% O mesmo tipo de análise é realizada na tabela 3.2, que apresenta o indicador construído como a razão entre os valores totais demandados ou desembolsados pelo BNDES Investimento e a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). As informações de FBCF foram obtidas a partir das Contas Nacionais e só estão disponíveis até o ano de 2008. Observa-se que em 2000 a participação do BNDES na FBCF foi de 8,79%, atingindo 13,59% em 2008. A tabela ainda apresenta a participação do BNDES na FBCF de alguns ramos de atividade específicos. Em 2000, os valores do BNDES corresponderam a 30,34% da FBCF do setor agropecuário; esse percentual passou a 35,15% em 2008. No caso da indústria também houve aumento na participação do BNDES, passando de 5,38% para 8,52%. Por fim, o setor de construção também observou crescimento da participação do BNDES no investimento. Assim, a tabela 3.2 corrobora a conclusão da tabela 3.1: além do crescimento dos valores desembolsados, a participação do BNDES na atividade econômica também cresceu. Tabela 3.2 - Indicador: participação do BNDES na Formação Bruta de Capital Fixo – Brasil (2000 – 2010) Ramo de atividade 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 TOTAL 8.79% 8.61% 10.79% 8.25% 9.15% 9.56% 9.62% 12.22% 13.59% Agropecuária 30.34% 36.72% 44.02% 39.62% 53.76% 33.12% 25.92% 35.50% 35.15% Indústria 5.38% 6.66% 5.94% 3.61% 3.40% 5.54% 6.73% 7.49% 8.52% Construção 0.62% 0.62% 0.57% 0.39% 0.40% 0.67% 0.73% 1.10% 1.15% Fonte: BNDES, Contas Nacionais - IBGE. Elaboração própria. 58 As relações apresentadas na Tabela 3.2 são ilustradas pelos gráficos a seguir. O gráfico 3.1 apresenta a evolução da formação bruta de capital fixo da agropecuária comparada à evolução dos benefícios concedidos pelo BNDES para esse ramo de atividade. Para os anos de 2009 e 2010 não há informações para a FBCF, portanto o Gráfico apresenta apenas um valor, provavelmente subestimado, que assume a manutenção do valor verificado em 2008. Nota-se que as séries caminham conjuntamente, apresentando, em geral, uma tendência de crescimento no período. No entanto, revela-se que a variação dos desembolsos do BNDES ao setor de agropecuária é maior que na série de FBCF, e apesar da forte queda nos desembolsos entre 2004 e 2006, o nível da FBCF se mantém relativamente estável. Essas observações corroboram o argumento de que o setor agropecuário não constitui objeto prioritário nas políticas do BNDES. Apesar disso, as séries apresentam um coeficiente de correlação de 0.78. PAG. 66 Gráfico 3.1 – Agropecuária: desembolsos do BDNES e Formação Bruta de Capital Fixo – Brasil (2000 – 2010) – R$ bilhões Gráfico 3.1 – Agropecuária: desembolsos do BDNES e Formação Bruta de R$ bilhões Capital Fixo – Brasil (2000 – 2010) – R$ bilhões 18 16 15.90 14 13.99 12 12.77 13.09 12.17 10.07 11.37 10 9.66 8 6 6.87 6.21 4 2 6.85 7.50 4.25 4.97 4.51 4.03 2.75 5.59 3.39 1.89 2000 2001 2002 2003 2004 FBCF 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Desembolsos Fonte: Contas Nacionais, IBGE e BDNES. As informações para o setor de Construção são apresentadas no Gráfico 3.2. Nota-se que nos anos de 2003 e 2004, há crescimento da FBCF do setor de Construção. No entanto, os desembolsos para o setor se reduzem em relação a 2002, justificando a redução da participação do BNDES nesses anos. Como visto na tabela 3.4, embora em termos absolutos os desembolsos ainda sejam pequenos em relação à FBCF, a participação dos recursos do BNDES vem aumentando continuamente desde 2004, chegando a 1,15% em 2008. O coeficiente de correlação entre as séries é de 0,86. É importante observar que, de acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas, o setor de Construção inclui também obras de infraestrutura para energia elétrica, telecomunicações, água, esgoto e transporte por dutos, bem como construção de rodovias, ferrovias e obras urbanas. Embora a divulgação de informações por parte do BNDES não deixe claro se sua classificação setorial de desembolsos segue de forma rigorosa a classificação CNAE, pode-se assumir a hipótese de que, ao menos, parte dos recursos destinados ao setor de construção refira-se a investimentos em infraestrutura. 59 PAG. 67 Gráfico 3.2 – Construção: desembolsos do BDNES e Formação Bruta de 3.2 – Construção: desembolsos do BDNES e Formação Bruta de Capital Gráfico Fixo – Brasil (2000 – 2010) – R$ bilhões R$ bilhões Capital Fixo – Brasil (2000 – 2010) – R$ bilhões 250 210.43 200 177.82 157.39 150 100 136.67 114.52 114.77 0.64 0.65 0.44 2001 2002 2003 98.31 103.07 0.61 2000 144.71 50 0.55 0.97 1.15 1.96 2.42 3.83 5.31 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 - FBCF Desembolsos Fonte: Contas Nacionais, IBGE e BDNES. O Gráfico 3.3 apresenta a evolução dos desembolsos e da FBCF para os setores industriais. Ambas as séries apresentam crescimento, mas assim como ocorreu no setor agropecuário, nos anos de 2003 e 2004 o crescimento da FBCF superou o crescimento dos desembolsos, resultando em queda no indicador de participação do BNDES. O índice de correlação das séries é de 0.89. PAG. 68 3.3 – Indústria: desembolsos do BDNES e Formação Bruta de Gráfico Capital Fixo – Brasil (2000 – 2010) – R$ bilhões R$ bilhões Gráfico 3.3 – Indústria: desembolsos do BDNES e Formação Bruta de Capital Fixo – Brasil (2000 – 2010) – R$ bilhões 400 342.98 350 300 342.98 342.98 263.94 250 211.48 180.35 200 158.19 150 100 90.85 108.27 114.07 128.53 49.86 50 4.88 7.21 6.77 4.65 2000 2001 2002 2003 5.37 10.00 14.24 19.77 2004 2005 2006 2007 61.35 29.22 - FBCF Fonte: Contas Nacionais IBGE e BNDES. 60 Desembolsos 2008 2009 2010 Quanto aos setores de comércio e serviços e de infraestrutura, ressalva-se que não é possível identificar nas Contas Nacionais o valor de seus investimentos, impossibilitando a análise. É importante apontar ainda que em infraestrutura os investimentos públicos são vultosos e recebem também apoio do BNDES. No entanto, não é possível destacar esses valores dos recursos destinados à infraestrutura. Sendo assim, a comparação com os investimentos privados no setor poderia resultar em superestimação dos indicadores de participação do BNDES. Do ponto de vista da disponibilidade de informações e compatibilidade entre as diversas fontes de dados, os setores industriais são os que apresentam as informações mais completas e confiáveis. Visto que as indústrias extrativas e de transformação representam parcela importante dos desembolsos do BNDES, cabe realizar uma investigação mais aprofundada desses setores, valendo-se das informações adicionais a que se tem acesso. Dessa forma, para os setores industriais a análise acima é estendida comparando os desembolsos setoriais aos valores de investimentos retirados da Pesquisa Anual da indústria (PIA – IBGE). O investimento aqui considerado é calculado somando-se as aquisições e melhorias realizadas no ativo imobilizado das empresas privadas. As séries históricas de investimentos e desembolsos industriais são apresentadas no Gráfico 3.4, incluindo indústrias extrativas e de transformação. Observa-se que ambas as séries apresentam tendência de crescimento no período, apesar de os desembolsos reduzirem-se nos anos de 2003 e 2004. O coeficiente de correlação das séries é elevado: 0,85. PAG. 69 Gráfico 3.4 – Indústria: desembolsos do BNDES e nível de investimento (R$ bilhões) R$ bilhões Gráfico 3.4 – Indústria: desembolsos do BNDES e nível de investimento (R$ bilhões) 140 138.20 120 132.44 117.96 100 80 85.26 77.81 60 61.96 48.11 40 35.12 36.63 61.35 65.77 49.86 53.43 29.22 39.66 20 5.34 5.07 4.88 7.21 6.77 4.65 5.37 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 10.00 14.24 19.77 - Investimento 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Desembolsos Fonte: PIA – IBGE e BDNES. Elaboração própria. 61 A tabela 3.3 complementa as informações do Gráfico acima, desagregando os indicadores de participação do BNDES em divisões do CNAE no nível de investimento setorial. Nota-se que a queda nos investimentos em 2009 em relação a 2008 levou a um indicador mais elevado em 2009 do que nos demais anos. Em 2010, estimou-se que os investimentos devem ser ao menos iguais ao nível alcançado em 2009; além disso, os desembolsos de 2010 incluem a operação de capitalização da Petrobras. Logo, o índice de 0,48 em 2010 para as indústrias de transformação está, provavelmente, superestimado. Ao compararmos o ano de 1998 ao ano de 2009 ainda é possível observar uma maior equalização dos indicadores entre os setores. Ou seja, em 1998 alguns setores apresentavam indicadores de participação do BNDES extremamente elevados, enquanto para outros setores os indicadores eram muito pequenos. Já em 2009, há uma relativa uniformização nesses valores, embora alguns setores permaneçam em destaque. Essa observação comprova-se ao compararmos o desvio-padrão entre os indicadores setoriais de 1998, que era de 0,83, ao desvio-padrão de 2009, que passou a ser de 0,15. Observa-se também uma alteração ao compararmos a participação média dos desembolsos do BNDES sobre o investimento no período de 1998 a 2001, à média no período de 2005 a 2009 (excluindo-se da análise os anos de 2003 e 2004, contaminados pelas expectativas 62 quanto às eleições presidenciais do final de 2002 e pelo ambiente de crise internacional). No segundo período, nota-se um claro aumento da participação do BNDES nos investimentos dos setores de: Coque, petróleo e combustíveis; Farmoquímicos e Farmacêuticos; Química; Borracha e Plástico; Outros equipamentos de transporte; Confecção, vestuário e acessórios; e, Couro, artefatos de couro e calçados. Nesses setores, a participação do BNDES cresceu a despeito do crescimento do nível de investimento médio. Já nos setores de: Máquinas e equipamentos; Máquinas e aparelhos elétricos; Madeira; e Gráfica houve crescimento absoluto dos desembolsos, mas houve também uma queda no investimento médio de um período para o outro. Logo, o aumento na participação do BNDES é devido à redução do nível de investimento médio. Por outro lado, em comparação ao primeiro período, houve grande redução na participação média do BNDES nos investimentos dos setores de: Bebidas; Têxtil; Metalurgia; Veículos, carrocerias e reboques; e Produtos diversos. Em todos esses setores, na comparação entre os períodos, houve crescimento absoluto tanto do valor médio dos desembolsos quanto do nível médio de investimentos. No entanto, os desembolsos cresceram a uma taxa inferior, resultando em índices de participação do BNDES menores no segundo período. Nos demais setores a alteração na participação média foi pequena ou nula. 2.52 0.00 1.54 0.27 0.05 0.10 0.50 0.01 0.10 0.31 0.01 0.17 0.05 0.92 0.13 0.16 0.05 0.06 3.30 0.05 0.27 Bebidas Fumo Têxtil Confec., vestuário e acessórios Couro, artefato e calçado Madeira Celulose e papel Gráfica Coque, petróleo e combustível Química Farmoquímico, farmacêutico Borracha e plástico Mineral não metálico Metalurgia Produto de metal Equip. informática, eletrônico, ótico Máq., aparelho elétrico Máquinas e equipamentos Veículos, reboque e carroceria Outros equipamentos de transporte Móveis 0.00 0.00 - 0.09 0.35 3.67 0.03 0.05 0.13 0.08 0.67 0.02 0.09 0.01 0.21 0.04 0.00 0.30 0.05 0.07 0.33 1.00 0.00 Fonte: PIA – IBGE e BNDES. Elaboração própria. Manutenção, reparação, instalação - 0.94 0.52 Produtos alimentícios Produtos diversos 0.13 0.15 INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO 1.38 0.27 0.27 0.36 0.36 INDÚSTRIA EXTRATIVA 1999 Indústria Extrativa 1988 Setores industriais 0.00 - 0.16 0.11 2.69 0.06 0.03 0.13 0.06 1.86 0.05 0.05 0.01 0.19 0.01 0.00 0.31 0.07 0.03 0.07 0.70 0.00 1.46 0.48 0.12 0.09 0.09 2000 - 0.09 0.07 0.06 0.12 0.21 0.04 0.09 0.14 0.29 0.09 0.12 0.02 0.18 0.01 0.02 0.36 0.34 0.05 0.10 0.08 0.03 0.23 0.13 0.15 0.32 0.32 2001 - 0.08 0.09 0.00 0.20 0.15 0.09 0.14 0.14 0.19 0.11 0.14 0.03 0.17 0.01 0.03 0.26 0.18 0.14 0.11 0.16 0.01 0.17 0.14 0.13 0.07 0.07 2002 0.00 0.06 0.11 0.00 0.06 0.06 0.16 0.01 0.12 0.13 0.10 0.11 0.04 0.14 0.00 0.02 0.11 0.17 0.04 0.13 0.07 0.07 0.09 0.13 0.08 0.03 0.03 2003 0.02 0.12 0.09 0.00 0.05 0.09 0.08 0.01 0.16 0.10 0.10 0.11 0.05 0.09 0.00 0.02 0.36 0.11 0.12 0.09 0.09 0.09 0.06 0.13 0.08 0.07 0.07 2004 0.05 0.16 0.19 0.20 0.07 0.16 0.23 0.23 0.20 0.13 0.08 0.16 0.08 0.19 0.01 0.02 0.40 0.13 0.10 0.15 0.14 0.03 .031 0.21 0.14 0.05 0.05 2005 0.02 0.18 0.10 0.33 0.19 0.10 0.09 0.09 0.19 0.20 0.12 0.15 0.07 0.20 0.08 0.02 0.50 0.14 0.07 0.12 0.08 0.13 0.20 0.20 0.17 0.14 0.14 2006 0.07 0.13 0.14 0.32 0.14 0.16 0.18 0.18 0.21 0.22 0.15 0.23 0.25 0.28 0.06 0.02 0.31 0.22 0.09 0.20 0.15 0.05 0.11 0.25 0.17 0.11 0.11 2007 0.11 0.07 0.22 0.38 0.13 0.17 0.08 0.08 0.17 0.23 0.12 0.09 0.11 0.25 0.8 0.06 0.11 0.26 0.52 0.61 0.45 0.00 0.18 0.52 0.20 0.43 0.43 2008 Tabela 3.3 – Indicador: participação dos recursos do BNDES nos investimentos dos setores industriais – Brasil (1998 – 2010) 0.08 0.12 0.15 0.54 0.06 0.23 0.07 0.07 0.21 0.33 0.28 0.18 0.10 0.29 0.51 0.08 0.47 0.42 0.29 0.42 0.21 0.00 0.31 0.40 0.37 0.42 0.42 2009 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 0.48 - 0.20 2010 63 A Tabela 3.4 apresenta os coeficientes de correlação entre o nível de investimento e os recursos desembolsados pelo BNDES para os setores industriais. Os setores estão organizados em três grupos, de acordo com o valor do coeficiente (baixo, médio, alto). No entanto, utilizando essa classificação, não é possível identificar a priorização dos setores abarcados pelos programas setoriais de apoio. As únicas exceções claras são os setores de produtos farmacêuticos e farmoquímicos (apoiados pelo Profarma) e de petróleo e gás (apoiado pelo programa BNDES P&G). Logo, há novamente indícios de que a atuação do BNDES em projetos de investimento não é tão destacada quanto sua atuação em máquinas e equipamentos. Ainda assim, infelizmente não é possível identificar se os recursos destinados a um setor específico estão prioritariamente associados a um programa setorial de investimento ou à atuação em aquisição ou comercialização de bens de capital. Tabela 3.4 - Coeficiente de correlação entre o nível de investimento e os recursos do BNDES Investimento - Brasil setores industriais (1998-2009) Setores industriais Gráfica Fumo Manutenção, reparação, instalação Máquinas e equipamentos Veículos, reboque e carroceria Têxtil Máq., aparelho elétrico (0.48) (0.40) (0.35) (0.15) 0.01 0.12 0.20 Equip. informática, eletrônico, ótico Bebidas Madeira Indústria Extrativa Mineral não metálico Borracha e plástico Couro, artefato e calçado Celulose e papel Coque, petrõleo e combustível 0.28 0.32 0.34 0.63 0.64 0.67 0.68 0.70 0.73 Produtos Farmoquímico, farmacêutico Metalurgia Confec., vestuário e acessórios Produtos alimentícios Móveis Produto de metal Química Outros equipamentos de transporte Fonte: PIA - IBGE e BNDES. Elaboração própria. 64 Coeficiente de correlação 0.76 0.77 0.79 0.80 0.87 0.89 0.91 0.92 0.94 Conclui-se a análise verificando a relação entre os valores liberados pelo BNDES para a indústria e a produtividade setorial. Busca-se, dessa forma, verificar a correlação entre essas informações, o que poderia indicar um critério implícito de seleção, ou seja, indica se a produtividade do setor industrial influencia a distribuição dos recursos do BNDES. O indicador de produtividade foi construído como a razão entre o valor da transformação industrial e o pessoal ocupado em 31/12, para os anos de 1998 a 2009. Essas informações foram retiradas da Pesquisa Industrial Anual do IBGE. O gráfico 3.5 apresenta a evolução da produtividade do trabalho e dos desembolsos para a Indústria Extrativa (IE) e a Indústria de Transformação (IT), tomando-se os valores de 1998 como referência. Nota-se que há uma tendência conjunta de crescimento que, no entanto, não significa que haja uma relação de causalidade entre as séries. De fato, a análise ano a ano revela que os desembolsos são independentes da evolução da produtividade do trabalho. Por exemplo, entre os anos de 2005 e 2006 há uma estabilização da produtividade, enquanto os desembolsos são crescentes. Ao contrário, nos anos de 2001 a 2003, a produtividade é crescente e os desembolsos, decrescentes. PAG. 75 Gráfico 3.5 - Produtividade do trabalho e desembolsos: Indústrias Extrativa e de Transformação (1998 - 2009) Gráfico 3.5 - Produtividade do trabalho e desembolsos: Indústrias Extrativa e de Transformação (1998 - 2009) 1200 1100 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 1998 1999 2000 VTI/PO - I.E. 2001 2002 2003 VTI/PO - I.T. 2004 2005 Desembolsos - I.E. 2006 2007 2008 2009 Desembolsos - I.T. Fonte: PIA - IBGE e BNDES. Elaboração própria. 65 Essa conclusão é corroborada também pela observação dos Gráficos 3.6 (a) e 3.6 (b) a seguir. Neles é apresentada a dispersão dos setores industriais de acordo com as taxas de crescimento dos desembolsos setoriais e da produtividade do trabalho. No Gráfico (a) as taxas de crescimento referem-se ao período de 1998 a 2002, enquanto no Gráfico (b), referem-se ao crescimento verificado entre 2003 e 2009. Observa-se que em ambos os períodos avaliados não há correlação evidente entre o crescimento dos recursos e o crescimento da produtividade. Ou seja, os pontos dos gráficos de dispersão que se referem aos valores mais elevados de crescimento do desembolso não estão necessariamente associados a altos valores de crescimento de produtividade. Logo, mesmo após 2003, em que o BNDES ganhou papel estratégico nos programas industriais, as políticas de apoio do Banco continuaram a desconsiderar a produtividade dos setores entre seus critérios de seleção e distribuição de recursos. Em síntese, os indicadores demonstram que houve um indiscutível crescimento da participação do BNDES no apoio aos investimentos, tanto em 66 relação à produção dos setores, quanto em relação à formação bruta de capital fixo. No entanto, não é possível identificar nesses resultados a influência dos diversos programas e fundos setoriais de apoio. Na realidade, o que os resultados indicam é a contínua predominância dos produtos de enfoque transversal; os setores industriais apoiados por programas específicos não se destacaram dos demais em relação à participação do BNDES em seus investimentos. Ademais, não se verificou relação entre os desembolsos e a produtividade do trabalho, denotando que, a princípio, o processo para liberação de recursos não seleciona os beneficiados de acordo com critérios de eficiência produtiva. Conclui-se, portanto, que não é possível identificar através dessas informações uma tendência clara de política que aponte para mudança de competição na economia no sentido tradicional. Ou seja, apesar do crescimento da participação do BNDES na economia brasileira, as informações não revelam uma estratégia de aumento de competitividade ou de produtividade de setores específicos. Gráfico 3.6 (a - b) – Dispersão dos setores industriais segundo taxa de crescimento dos recursos do BNDES e do indicador de produtividade do trabalho PAG. 77.1 (a) 1998 – 2002 – Coeficiente de Correlação: -0.06 Produtividade do trabalho - Taxa de crescimento 1.6 1998-2002 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 Desembolsos BNDES - Taxa de crescimento PAG. 77.2 (b) 2003 – 2009 – Coeficiente de correlação: 0.09 (b) 2003 – 2009 – Coeficiente de correlação: 0.09 Proutividade do trabalho - Taxa de crescimento 1.0 2003-2009 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 -0.1 -2.5 0.0 2.5 5.0 7.5 10.0 12.5 15.0 17.5 20.0 22.5 25.0 Desembolsos BDNES - Taxa de crescimento Fonte: PIA – IBGE e BNDES. 67 68 4. Mapeamento da abrangência, complementaridade e sobreposição dos instrumentos de apoio ao investimento 4.1Distribuição regional A presente seção sintetiza a abrangência dos instrumentos de apoio ao investimento do BNDES e do MF, do ponto de vista do número de empresas beneficiadas e da distribuição regional dos recursos desembolsados pelo BNDES e das empresas habilitadas nos regimes especiais de tributação. 4.1.1 BNDES Investimento O Gráfico 4.1 apresenta a distribuição regional dos recursos liberados pelo BNDES nos anos de 1998, 2002, 2006 e 2010. Observa-se que ao longo dos anos houve uma pequena melhora na distribuição dos recursos entre as regiões, embora o Sudeste e o Sul permaneçam como os principais destinos dos desembolsos. De acordo com o Cadastro Central de Empresas do IBGE, a distribuição regional das empresas brasileiras manteve-se estável nos últimos anos, sendo que em 2009 o Norte continha 3,4%, o Nordeste 15,6%, o Sudeste 51,9%, o Sul 21,9% e a região Centro-Oeste com percentual de 7,3% do total de empresas. Logo, conclui-se que a distribuição regional dos recursos do BNDES acompanha de forma bem próxima a distribuição de empresas pelo país. A exceção é a região Nordeste, cuja participação nos recursos manteve-se estável em 10%, embora a região concentre 15,6% do total de empresas do País. 69 PAG. 80 Gráfico 4.1 - Evolução da composição regional dos desembolsos do BNDES4 Gráfico 4.1 - Evolução da composição regional dos desembolsos do BNDES4 2002 1998 8% 7% 3% 5% 10% 10% 16% 16% 62% 63% 2010 2006 7% 3% 7% 10% 7% 10% 19% 18% 58% 61% Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-Oeste Fonte: BNDES. Elaboração própria. Devido à disponibilidade limitada de informações, os valores considerados nesse Gráfico referem-se ao total de desembolsos do BNDES, inclusive aqueles distribuídos por programas de apoio às exportações e inovação. No entanto, acredita-se que a distribuição regional do total seja uma proxy razoável, pois não seriam esperadas grandes variações caso fosse possível discriminar regionalmente os programas. 4 70 4.1.2MF Investimento O Gráfico 4.2 apresenta a distribuição regional das empresas cadastradas nos regimes especiais do MF. Nota-se a preponderância das regiões Sudeste e Sul; no entanto, a distribuição é distinta para cada um dos regimes. Quanto ao REIDI, os percentuais regionais aproximam-se muito dos percentuais de distribuição do total de empresas no país, sendo o Sudeste a região que contém quase metade das empresas beneficiadas pelo regime. A cobertura regional do REPORTO se aproxima daquela verificada para o REIDI, exceto pelas participações relativas das regiões Centro-Oeste e Norte. Os valores dessas regiões praticamente se invertem nesses dois programas: enquanto o Norte tem 3% das empresas beneficiadas pelo REIDI e 11% das habilitadas no REPORTO, os respectivos percentuais para a região Centro-Oeste são de 10% e 3%. Essa inversão de valores não é inesperada, visto que o REPORTO é voltado para a modernização e ampliação da estrutura portuária. PAG. 81 Gráfico 4.2 - Distribuição regional das empresas habilitadas junto aos Regimes Especiais Ministérioregional da Fazenda Gráfico 4.2 -do Distribuição das empresas habilitadas junto aos Regimes Especiais do Ministério da Fazenda REIDI 3% 10% 13% Norte Nordeste Sul Sudeste 25% Centro-Oeste 49% RECAP 6% REPORTO 9% 3% 11% 17% 14% 29% 50% 22% 39% Fonte: Ministério da Fazenda e RAIS-MTE / DISET-IPEA 71 A cobertura regional do RECAP é a que mais se distancia da distribuição total de empresas pelo país, bem como das distribuições dos demais programas de apoio, inclusive o BDNES. Nesse regime, a região Sul contém o maior número de empresas habilitadas, 39%, seguida pela região Sudeste, com 29%. As demais regiões ficam com as seguintes parcelas: Nordeste, 17%; Norte, 9%; e Centro-Oeste, 6%. 4.2Abrangência quanto ao número de empresas 4.2.1 BNDES Investimento De acordo com informações fornecidas pelo BNDES diretamente ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), até 2007 os recursos dos programas de apoio ao investimento haviam beneficiado um total de 103.343 empresas. Esse número corresponde a 2,34% do total de empresas e organizações listadas no Cadastro Central de Empresas do IBGE no ano de 2007. Analisando setorialmente, observa-se que são beneficiadas 11,6% das empresas da Indústria Extrativa; 6,5% das empresas da Indústria de Transformação, 19,1% das firmas de Eletricidade e gás, 7% das empresas de Agropecuária, 10,4% das firmas de Transporte e Armazenagem, 3,8% das empresas de Construção; e 1,4% das empresas de Comércio listadas no Cadastro Central de Empresas. 4.2.2MF Investimento Como já apresentado na seção 2.2, quanto aos regimes especiais de tributação do Ministério da Fazenda, o RECAP beneficia 262 empresas, o REIDI, 451, e o REPORTO atende 141 firmas. Não obstante o curto período em que esses regimes estão em vigor, o número de empresas habilitadas junto ao Ministério da Fazenda ainda é muito reduzido frente ao total de empresas do Cadastro Central do 72 IBGE. No caso do RECAP, considerando somente as empresas brasileiras exportadoras, o número de empresas habilitadas representa somente 1,3% do total. 4.3 Complementaridade e sobreposição Entende-se por complementaridade de instrumentos a situação em que as modalidades de apoio destinam-se a objetivos e públicosalvo distintos, assim o beneficiário utiliza-se de instrumentos distintos sem que estes estejam financiando um mesmo projeto de investimento. Por outro lado, entende-se que há sobreposição quando a atuação de dois instrumentos se dá sobre o mesmo público-alvo ou objetivo de investimento. A análise é realizada utilizando as informações sobre o número de empresas beneficiadas pelos programas do BNDES Investimento e o número de acessos realizados. No entanto, essas informações foram fornecidas para os anos de 1995 a 2007 pelo próprio BNDES, seguindo uma forma alternativa de classificar os desembolsos. Essa classificação é feita segundo as modalidades dos instrumentos do BNDES, e sua discriminação está apresentada no quadro 4.1. Quadro 4.1 - Classificação segundo modalidade e objetivo dos instrumentos BNDES Investimento Instituição Modalidade BNDES Financiamento a empresa Máquinas e equipamentos BNDES Automático Financiamento ao fabricante Fonte: BNDES. A tabela 4.1 apresenta a intersecção de empresas beneficiadas pelas modalidades do BNDES. As informações contidas na tabela dizem respeito ao número de empresas que acessaram duas modalidades distintas, ainda que em anos diferentes. Ou seja, das 4.250 empresas que acessaram a modalidade de “Financiamento a Empresa”, 1.207 empresas também receberam recursos pela modalidade “Máquinas e equipamentos” entre os anos de 1995 e 2007. Observa-se que as menores intersecções, relativamente ao total, ocorrem entre as modalidades “Financiamento a Empresa” e “Financiamento ao fabricante”, e entre esta última e a modalidade “BNDES Automático”. Supõe-se que quanto maior a intersecção de empresas, maior a complementaridade existente entre os programas; ou seja, as mesmas empresas acessam linhas de apoio distintas de acordo com o enquadramento de seus projetos. Por outro lado, uma pequena intersecção entre as modalidades pode indicar que aquelas modalidades são concorrentes, atendendo aos mesmos tipos de projetos de investimento para os quais se demandam recursos. Desse modo, verifica-se uma alta intersecção entre as modalidades “Financiamento a empresa” e “Máquinas e equipamentos”, e entre esta última e a modalidade “BNDES Automático”. Esses números podem indicar que há uma complementaridade entre as modalidades. 73 Tabela 4.1 - Intersecção de empresas beneficiadas pelas modalidades do BNDES Investimento Modalidades BNDES Financiamento a empresa Financiamento a 2271 empresa Máquinas e 1207 equipamentos Máquinas e equipamentos 1207 BNDES automático BNDES automático 751 Financiamento ao 21 fabricante TOTAL 4250 Fonte: BNDES. Elaboração DISET - IPEA. TOTAL 751 Financiamento ao fabricante 21 79151 5755 349 86462 5755 349 16395 61 61 616 22962 1047 86462 22962 1047 Ademais, o gráfico 4.3 apresenta a evolução do número de acessos ao BNDES, conforme as modalidades de apoio, utilizando os números de 1997 como referência. No entanto, no gráfico 4250 não é possível identificar uma tendência comum entre as séries, fato que fortalece a hipótese de complementaridade entre algumas das séries. PAG. 85 Gráfico 4.3 - Evolução dos acesos ao BNDES, por modalidade de apoio Gráfico 4.3 - Evolução dos acesos ao BNDES, por modalidade de apoio 350 300 250 200 150 100 50 0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2004 2005 2006 Financiamento a empresa Maquinas e equipamentos BNDES Automático Financiamento ao fabricante Fonte: BNDES. Elaboração própria / DISET-IPEA. 74 2003 2007 Na tentativa de aproximar essa classificação por modalidade de apoio das frentes de atuação do BNDES apresentadas na figura 1.1, pode-se admitir a hipótese de que a modalidade de “Máquinas e Equipamentos” corresponde à frente de atuação em Máquinas e Equipamentos, enquanto as outras três modalidades correspondem à atuação em Projetos de Investimento. Sob essa hipótese, notase que há uma grande complementaridade entre as frentes de atuação, ou seja, há uma grande parcela de firmas beneficiadas que atuam tanto em projetos de investimento quanto na aquisição de bens de capital. Por fim, a tabela 4.2 apresenta a intersecção entre as empresas que foram beneficiadas pelas modalidades de apoio do BNDES entre os anos de 2003 a 2007 e as empresas que foram beneficiadas pelos regimes especiais do Ministério da Fazenda. Com esses resultados procura-se identificar a presença de complementaridade entre os diferentes programas. Ou seja, os resultados indicam se, por exemplo, muitas empresas beneficiadas pelo RECAP buscam complementar seu investimento com apoio financeiro também do BNDES. Esses resultados têm uma importante implicação, pois podem indicar que os recursos distribuídos pela renúncia fiscal e os distribuídos pelo BNDES podem estar financiando os mesmos projetos de investimento. Ou seja, após habilitar sua aquisição de máquinas e equipamentos ou projeto de investimento em um dos programas do Ministério da Fazenda, a empresa buscaria apoio financeiro do BNDES para aquele mesmo projeto. Desse modo, as empresas teriam capital para investimento a um custo ainda mais reduzido, ocorrendo um processo de duplo subsídio que seria necessário verificar se efetivamente resultaria em investimentos mais elevados, ou em apenas substituição de recursos internos por externos. Os valores da tabela 4.2 indicam que do total de empresas credenciadas no RECAP, 62% recebem recursos do BNDES, sendo que a maioria, 41,6%, utiliza a modalidade de Máquinas e Equipamentos. Ou seja, além do benefício fiscal para aquisição de bens de capital, 94 empresas ainda foram financiadas pelo BNDES para aquisição de máquinas e equipamentos. Quanto ao REIDI, 38,5% das empresas habilitadas também acessam as modalidades de apoio do BNDES. Nesse caso, a modalidade “Máquinas e Equipamentos” também é a mais importante. Por fim, dentre as empresas participantes do REPORTO, 46,7% também são beneficiadas pelos recursos do BNDES. Vale notar que a intersecção entre os regimes especiais e a modalidade de “Financiamento ao Fabricante” é nula. 75 Tabela 4.2 - Intersecção entre as empresas beneficiadas pelo BNDES Investimento (2003-2007) e empresas habilitadas no MF Investimento (2005-2011) Financiamento Máquinas e BNDES automático a empresa equipamentos RECAP 19 94 27 REIDI 57 57 16 REPORTO 8 27 14 Fonte: BNDES; Ministério da Fazenda. Elaboração DISET-IPEA. Em síntese, portanto, há indícios de que há uma sobreposição entre os produtos do BNDES e os regimes especiais de tributação, resultando em um acúmulo de benefícios. Como o número de empresas habilitadas junto ao Ministério da Fazenda é extremamente pequeno, essa intersecção aparenta ser insignificante. No entanto, é de se 76 Financiamento ao Fabricante 0 0 0 TOTAL 226 260 105 esperar que os projetos habilitados no REPORTO e no REIDI envolvam valores elevados, uma vez que dizem respeito a projetos de infraestrutura. Sendo assim, mesmo com um número de empresas reduzido, acredita-se que os valores dos benefícios sobrepostos sejam elevados. 5. Perfil e Características dos beneficiários dos instrumentos A presente seção destaca as principais características das empresas beneficiárias dos programas de apoio ao investimento do BNDES e do MF. São avaliadas as informações quanto ao número médio de pessoal ocupado (PO), proporção média de pessoal em atividades técnico-científicas (PoTec) – com maior probabilidade de realizar atividades de pesquisa e desenvolvimento, salário médio verificado naquela firma/setor, tempo médio de estudo dos funcionários e proporção de empresas exportadoras dentre as beneficiárias. 5.1 BNDES Investimento De acordo com informações fornecidas pelo BNDES diretamente ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), até 2007 os recursos dos programas de apoio ao investimento beneficiaram um total de 103.343 empresas. Esse grupo é caracterizado por um número médio de pessoal ocupado de 114,04 e mediana 14,42, com participação nula de pessoal em atividades técnicocientíficas. Além disso, o grupo tem salário médio de R$ 1.136,13, escolaridade média de 7,9 anos e apenas 9% são empresas exportadoras. A tabela 5.1 apresenta estatísticas descritivas das empresas tomadoras de recursos do BNDES Investimento, para as quais foi possível obter informações, separadas por algumas seções CNAE 2.0. Destacam-se os setores com funcionários com maior escolaridade média: o setor de Eletricidade e Gás e o setor de Atividades Financeiras e de Seguros. O primeiro recebeu 13% dos valores desembolsados entre 1998 e 2010, e compõe o grupo de empresas com o segundo maior número de pessoal ocupado e a maior participação de pessoal em atividades de P&D. O segundo se destaca claramente dos demais nos quesitos salário médio e percentual de empresas exportadoras; no entanto, recebeu apenas 1% do total de desembolsos do período. Dentre os setores que mais receberam recursos no período estão, como já observado anteriormente, as Indústrias de transformação; Comércio; Transporte; e Telecomunicações. O setor de Comércio representa a maior parcela de 77 empresas beneficiárias, embora sua participação nos desembolsos entre 1998 e 2010 tenha sido de 5%. O setor tem pessoal ocupado médio de 42,7, com salários médios na faixa dos R$ 880,00, ambos os valores inferiores à média das empresas beneficiárias. No caso do salário, o setor de Comércio apresentou o segundo menor valor, sendo superado somente pelo setor de Fabricação de produtos de madeira (Tabela 5.2). O setor de transporte, para o qual foram destinados 22% dos valores, é composto por firmas que ocupam em média 55 pessoas, as quais têm escolaridade média de 7,9 anos e são remuneradas por salários médios de R$ 1.150. Apenas 0,06% dessas pessoas estão potencialmente ligadas a atividades de pesquisa e desenvolvimento e 0,45% dessas empresas são exportadoras. O setor de telecomunicações está incluído entre os serviços de Informação e Comunicação, no entanto, se avaliado separadamente, nota-se que ele se diferencia das demais divisões que compõe aquela seção. A divisão de Telecomunicações é composta por 64 empresas beneficiárias (9% das 711 empresas da seção completa), dentre as quais 14% são exportadoras. As empresas dessa divisão 78 empregam em média 955 pessoas com 11,8 anos de escolaridade média. A parcela de POTEC atinge 6% do pessoal ocupado e o salário médio é de R$ 2.870,3. Ou seja, a divisão de Telecomunicações apresenta valores de perfil muito superiores ao restante de sua seção. A seção de agropecuária, composta por 2.571 empresas beneficiadas, responsável por 9% do total de recursos, é marcada por uma baixa escolaridade (apenas seis anos, em média) e uma proporção de empresas exportadoras de 10%, superior à média. Além disso, é composta por unidades que ocupam em média 121 pessoas, das quais apenas 0,51% classificadas como POTEC. O salário médio é de R$ 974,7. As indústrias extrativas, por sua vez, somam 1.151 empresas que receberam somente 2% do total de valores. Embora o salário médio desta seção seja próximo à média das empresas beneficiárias, as demais características não o são. O percentual de exportadoras é de 9,47%, as empresas empregam em média 91 pessoas com tempo de estudo médio de 6,7 anos, das quais apenas 0,56% classificadas como PoTec. POTEC/PO (média) 0.51% 0.56% 0.55% 7.19% 1.04% 1.94% 0.17% 0.06% 0.09% 4.10% 1.59% 1.19% 2.53% 0.52% 0.60% 0.50% 0.16% Pessoal Ocupado (médio) 121.4 91.6 117.8 392.6 210.7 126 42.7 55.1 53.3 164.3 1433.4 108.9 98.5 157 84.7 35 41 Fonte: BNDES; RAIS-MTE; IPEA; IBGE. Elaboração DISET-IPEA. Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aqüicultura Indústrias extrativas Indústrias de transformação Eletricidade e gás Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação Construção Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas Transporte, armazenagem e correio Alojamento e alimentação Informação e comunicação Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados Atividades imobiliárias Atividades profissionais, científicas e técnicas Atividades administrativas e serviços complementares Saúde humana e serviços sociais Artes, cultura, esporte e recreação Outras atividades de serviços SEÇÃO CNAE 2.0 1230.9 1068.5 928.1 2003.6 1427.3 1130.4 1150.1 856.5 1938.6 3355.8 1156.6 881.3 1140.3 1286.2 3684.6 1130.6 Salário médio (R$) 974.7 9.8 8.9 8.3 8.4 9.2 8.4 7.9 7.5 10 10.1 7 8.4 6.7 7.7 10.7 7.7 Tempo médio de Estudo (anos) 6 0.34% 0.55% 1.27% 1.85% 3.12% 1.69% 0.45% 0.37% 6.47% 10.78% 0.93% 2.33% 9.47% 22.60% 5.24% 1.19% Percentual de Exportadoras 10.00% Tabela 5.1 - Características observáveis das empresas tomadoras de recursos do BNDES para promoção ao investimento, por seção CNAE 2.0 - Brasil 1165 182 395 216 545 2072 16736 1633 711 204 4413 28337 1151 25726 210 506 Número de empresas 2571 79 Por fim, a indústria de transformação, destino de 34% dos desembolsos, soma mais de 25 mil empresas, as quais apresentam características muito próximas à média dos beneficiários, exceto pela mais elevada proporção de empresas exportadoras. A tabela 5.2 apresenta as características observáveis das empresas que compõe a indústria de transformação, separadas por divisão CNAE 2.0. Dentre as divisões CNAE 2.0 que mais receberam valores do BDNES, destacam-se os setores de Produtos alimentícios (6,5%); Coque, petróleo e combustível (9,6%); Metalurgia (3,4%); Celulose e papel (2,5%); Química (2,2%); e Veículos, reboque e carroceria (1,8%). Quanto ao setor de produtos alimentícios, não é de se admirar que os desembolsos tenham sido tão elevados ao identificarmos que esse setor é o que contém o maior número de empresas beneficiadas, 4.346. Ou seja, o setor detém 5% das empresas beneficiárias, as quais recebem 6,5% dos recursos. Portanto, o valor médio desembolsado para cada empresa desse setor foi de aproximadamente R$ 9,3 milhões, entre 1998 e 2010. Por outro lado, o setor de Metalurgia possui 637 empresas beneficiárias por 3,4% da soma dos recursos liberados entre 1998 e 2010. Assim, o valor médio recebido por cada empresa no período foi de aproximadamente R$ 33,2 milhões. O setor de metalurgia apresenta 28,4% de empresas exportadoras; e tamanho médio de 238 pessoas, das quais, 0,75% estão potencialmente envolvidas em atividades de P&D. O tempo médio de estudo 80 dos funcionários desse setor é de 7,8 anos, e eles são remunerados, em média, por salários de R$ 1.740. O setor de Celulose e papel apresenta características próximas à média das indústrias de transformação, exceto pelo número de pessoal ocupado ligeiramente inferior. Por sua vez, o setor de Produtos químicos, como era de se esperar, se destaca por possuir um dos maiores percentuais de POTEC (2,24%). O salário médio do setor é de R$ 1.918, a média de pessoal ocupado é de 106 pessoas, com 8,7 anos de escolaridade. Nesse setor o percentual de empresas exportadoras também é elevado em relação à média: 31,8%. As beneficiárias do setor de Veículos, reboques e carrocerias são empresas com aproximadamente 344 pessoas ocupadas, das quais apenas 0,9% são classificadas como PoTec. O salário médio é de R$ 1.958 e a escolaridade média de 8,3 anos. No entanto, o setor se destaca pelo elevado percentual de empresas exportadoras que chega a quase 46%. Por fim, o setor de Coque, petróleo e combustível recebeu 9,6% dos recursos totais entre 1998 e 2010. No entanto, como já foi visto anteriormente, 88% desse valor foram liberados entre 2009 e 2010. Ainda assim, se considerarmos apenas o período que se estende até 2008, o setor teria recebido 2,1% do total de recursos, percentual ainda elevado dentre as demais indústrias de transformação. Os valores são expressivos se considerarmos que há apenas 176 empresas beneficiadas por esses recursos. Tais empresas caracterizam-se pelo alto número médio de pessoal ocupado (437) e pela relativamente baixa escolaridade média (7 anos). Fabricação de produtos alimentícios Fabricação de bebidas Fabricação de produtos do fumo Fabricação de produtos têxteis Confecção de artigos do vestuário e acessórios Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados Fabricação de produtos de madeira Fabricação de celulose, papel e produtos de papel Impressão e reprodução de gravações Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis Fabricação de produtos químicos Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos Fabricação de produtos de borracha e de material plástico Fabricação de produtos de minerais não-metálicos Metalurgia Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos Fabricação de máquinas e equipamentos Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores Fabricação de móveis Fabricação de produtos diversos Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos Fonte: BNDES; RAIS-MTE; IPEA; IBGE. Elaboração DISET-IPEA. Divisões CNAE 2.0 - Indústrias de Transformação 0.28% 1.04% 0.56% 0.24% 0.12% 0.18% 0.06% 0.46% 0.20% 1.46% 2.24% 1.04% 0.23% 0.48% 0.75% 0.52% 2.99% 1.4% 1.0% 0.9% 1.1% 0.1% 0.8% 0.9% 59.7 151.3 43.0 437.1 106.4 232.2 67.6 56.3 238.2 53.2 153.5 224.8 78.1 344.2 94.3 60.2 69.2 73.5 898.5 1226.3 1652.1 1626.3 1927.8 1957.8 1608.3 1918.4 2122.4 1304.2 960.1 1739.6 1497.6 1978.4 811.2 1485.8 1627.2 1720.7 994.0 1303.0 1158.7 1280.6 843.6 929.7 POTEC/PO Salário (média) médio (R$) Pessoal Ocupado (médio) 167.6 213.3 314.3 166.9 91.4 260.4 7.4 8.3 8.5 8.7 8.5 8.3 8.3 8.7 9.8 7.9 6.6 7.8 8.1 9.5 6.1 7.9 8.7 7.0 26.3% 34.3% 10.3% 42.5% 34.4% 45.9% 27.8% 31.8% 42.8% 20.0% 11.1% 28.4% 13.5% 45.6% 27.4% 21.8% 6.3% 28.4% Tempo médio Percentual de de Estudo Exportadoras (anos) 7.5 15.9% 7.6 16.1% 7.9 54.5% 7.5 27.6% 7.7 13.3% 7.0 43.6% 1376 446 185 489 1703 770 90 1178 194 2683 2493 637 2542 248 1880 655 555 176 4346 473 22 903 997 684 Número de empresas Tabela 5.2 - Características observáveis das empresas tomadoras de recursos do BNDES Investimento - por divisão CNAE 2.0 das Indústrias de Transformação - Brasil 81 Embora o perfil médio das tomadoras de recursos do BDNES seja caracterizado por empresas com 114 pessoas, participação nula de pessoal em atividades técnico-científicas, salário de R$ 1.136,13, escolaridade de 7,9 anos e baixo percentual de exportadoras (9%), nota-se que os setores que receberam as maiores parcelas dos recursos diferem da média. Essa diferença, em geral, é verificada ao menos em três dessas características. Em especial, nota-se que os setores que mais recebem recursos oferecem salários médios superiores, empregam mais pessoas e estas têm maior escolaridade do que a média das beneficiárias. A importante exceção a essa observação geral é o setor de Comércio. Uma avaliação mais aprofundada poderia ser realizada a partir de informações de perfil das empresas, divididas por tipo de programa de apoio. No entanto, não é possível identificar o programa acessado por cada uma das empresas a partir dos dados fornecidos. É de se acreditar que o perfil médio diferencie-se razoavelmente entre os diversos programas do BDNES, visto que, em teoria, eles são destinados a públicos-alvo distintos. Sendo assim, as diferenças verificadas dentre os setores CNAE podem, na verdade, ser reflexo da diferença entre os vários programas e os setores/perfis a que se reservam. Pode-se dizer que o perfil dos beneficiários do BNDES é pré-definido de acordo com o programa em que a firma se enquadra. O BNDES classifica os potenciais tomadores de recursos de acordo com uma classificação de porte, definida pelo próprio banco e independentemente das categorias definidas em relação ao pessoal ocupado. A classificação obedece aos critérios apresentados no quadro 5.1, aplicáveis a todos os setores. Quadro 5.1 - Classificação BNDES quanto ao porte da empresa 5 Classificação Microempresa Pequena empresa Receita operacional bruta anual Menor ou igual a R$ 2,4 milhões Maior que R$ 2,4 milhões e menor ou igual a R$ 16 milhões Média empresa Maior que R$ 16 milhões e menor ou igual a R$ 90 milhões Média-grande empresa Maior que R$ 90 milhões e menor ou igual a R$ 300 milhões Grande empresa Maior que R$ 300 milhões Fonte: BNDES. Seguindo essa classificação, os desembolsos do BNDES distribuem-se entre o grupo de grandes (e média-grande) empresas e o grupo de micro, pequenas e médias empresas (e pessoas físicas), doravante MPME’s. A composição dos desembolsos está apresentada no Gráfico 5.1 82 para os anos de 2001 a 2010. Nota-se que as grandes empresas respondem pela maior parte dos desembolsos. Mesmo em 2003 e 2004, anos em que a participação das grandes empresas diminuiu em relação aos outros anos, os valores ainda eram superiores a 50%. PAG. 96 Gráfico 5.1 – Composição do desembolso BNDES Investimento por porte de empresa - Brasil (2001 - 2010) Gráfico 5.1 – Composição do desembolso BNDES Investimento por porte de empresa - Brasil (2001 - 2010) 29% 31% 45% 71% 2001 35% 43% 69% 2002 55% 57% 2003 2004 65% 2005 Grandes 30% 28% 28% 70% 72% 72% 2006 2007 2008 20% 80% 2009 30% 70% 2010 MPMEs Fonte: BNDES. Elaboração própria. A composição dos desembolsos segundo o porte de empresa também pode ser avaliada em cada um dos programas de apoio oferecidos pelo BDNES. Essas informações estão resumidas na tabela 5.3 para os anos de 2001, 2006, 2010 e para o total do período (2001 a 2010). Nota-se claramente que, ao contrário do que ocorre com as grandes empresas, para as MPME’s as operações indiretas são mais importantes do que as diretas, sendo o Finame e o BNDES Automático as linhas de maior destaque. Observa-se, ainda, que os recursos distribuídos pelo Finame Agrícola para as MPME’s são muito superiores aos destinados a grandes empresas, enquanto o contrário ocorre com o Finem Indireto. Vale apontar ainda o crescimento da importância do Cartão BNDES para empresas de pequeno e médio porte. Para as empresas de grande porte, o Finem Direto apresentou grande crescimento, embora tenha perdido participação no total em 2010, devido à maior diversificação dos programas oferecidos. Para as MPME’s, o Finem Direto manteve uma importância pequena em relação ao total de desembolsos, embora seja a principal linha de financiamento dentre as operações diretas para MPME’s. Entende-se por receita operacional bruta anual a receita auferida no ano-calendário com: o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria; o preço dos serviços prestados; e o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos. 5 83 Tabela 5.3 – Operações do BNDES Investimento por porte de empresa Discriminação Operação Direta Finem - Direto Bndes Não Reembolsável Mercado de Capitais Prestação de Garantia Operação Indireta Finame Finem - Indireto Bndes Automático .Apoio ao investimento .Programas agrícolas Finame Agrícola Finame Leasing Cartão Bndes 2001 257.90 MPME’s 2006 2010 455.70 616.70 2001-2010 5,722.30 2001 7,609.20 Grandes empresas 2006 2010 17,607.10 69,894.90 174.20 33.80 360.70 35.80 187.30 127.00 4,263.70 500.80 6,650.90 18.60 14,210.50 52.30 37,409.90 76.90 216,447.30 403.00 49.90 59.20 302.40 957.80 939.70 3,334.30 32,408.10 63,246.90 - - - - - - - 22.80 5,327.80 10,620.30 44,579.50 159,403.50 6,007.70 8,782.50 33,653.30 124,707.90 1,750.40 28.00 1,569.40 5,837.40 220.20 2,549.20 29,931.60 49.40 4,665.00 88,460.90 1,826.30 28,523.40 1,553.10 3,677.70 708.90 4,929.80 2,480.60 1,040.50 16,827.40 7,740.60 8,742.10 57,539.20 39,809.40 24,018.50 1,035.70 956.70 4,282.30 16,970.80 - - - - 533.70 1,592.50 382.70 11,552.60 - - - - 1,841.00 139.00 - 1,380.70 407.60 225.20 5,217.60 401.90 4,314.00 28,040.60 4,4094.60 8,457.70 7.10 61.00 - 102.30 229.30 - 143.80 199.40 - 875.30 2,465.50 - 2001-2010 280,150.00 TOTAL 5,585.70 11,076.00 45,196.20 165,125.80 13,616.90 26,389.60 103,548.20 404,857.90 Fonte: BNDES. Elaboração própria. 84 Portanto, conclui-se que o perfil médio das empresas beneficiadas pelo BNDES não representa de forma verossímil o perfil real. Isso ocorre porque cada produto destina-se a um perfil cujo critério é definido somente pela receita bruta da empresa. Uma análise mais aprofundada exigiria a disponibilidade de informações sobre os valores distribuídos e empresas beneficiadas por cada produto desagregadas por setor de atividade econômica. Ainda assim, é possível concluir que a dependência para com os recursos do BNDES não é apenas determinada pelas características das empresas, mas que existe também uma distribuição setorial diferenciada. 5.2MF Investimento O perfil das empresas habilitadas nos programas de benefícios fiscais oferecidos pelo Ministério da Fazenda é apresentado separadamente, de acordo com o Regime Especial do qual a empresa é beneficiária. A tabela 5.4 apresenta estatísticas descritivas das empresas habilitadas no REIDI. Em média, essas empresas ocupam 1.056 pessoas, das quais 10% são classificadas como pessoal ocupado em atividades técnico-científicas (PoTec). O salário médio é de R$ 3.451,20 e a escolaridade média é de 11 anos. Do total de empresas habilitadas no REIDI, apenas 10% são exportadoras. Nota-se que o setor de Eletricidade e Gás, que contém 111 empresas beneficiadas pelo regime, apresenta pessoal ocupado e percentual de exportadoras inferior à média total das empresas. No entanto, o salário médio, escolaridade e proporção de PoTec são superiores à média. Como era de se esperar dado o propósito do regime (desenvolvimento da infraestrutura), destacam-se também os setores de Obras de Infraestrutura e de Construção de Edifícios, que somados detêm 48 empresas habilitadas no REIDI. Ambos apresentam escolaridade, salário e proporção de PoTec inferiores à média. De modo geral, nota-se que as empresas beneficiárias do REIDI diferem muito das empresas beneficiárias do BNDES. As empresas do REIDI têm salário médio muito superior, funcionários com maior escolaridade, pessoal ocupado quase 10 vezes superior e proporção de PoTec também muito maior. Ou seja, esse instrumento é usado por empresas de maior porte e que apresentam maior probabilidade de execução de atividades de pesquisa e desenvolvimento. 85 FONTE: Ministério da Fazenda; RAIS-MTE. Elaboração DISET-IPEA. Extração de petróleo e gás natural Extração de minerais metálicos Fabricação de produtos alimentícios Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis Fabricação de produtos químicos Metalurgia Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos Fabricação de máquinas e equipamentos Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos Eletricidade, gás e outras utilidades Construção de edifícios Obras de infraestrutura Serviços especializados para construção Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas Comércio por atacado, exceto veículos automotores e motocicletas Comércio varejista Transporte terrestre Transporte aquaviário Armazenamento e atividades auxiliares do transporte Atividades de serviços financeiros Atividades imobiliárias Serviços de arquitetura e engenharia; testes e análises técnicas Serviços de escritório, de apoio administrativo e outros prestados às empresas TOTAL – REIDI Divisão CNAE 2.0 55378.67 13983.58 5188.50 1293.65 370.42 6855.54 564.94 375.32 105.44 593.42 346.44 398.93 638.06 1379.15 165.83 97.67 943.50 473.75 652.42 27.00 247.46 60.58 4.96 501.12 10.58 1055.95 25% 6% 1% 1% 2% 3% 2% 7% 5% 2% 5% 13% 4% 5% 3% 0% 3% 2% 2% 6% 2% 3% 9% 17% 12% 10% Pessoal PoTec/PO ocupado (média) (médio) 10079.97 5241.31 1373.15 1678.31 1260.15 3286.60 1542.83 3053.81 2186.00 2306.95 3158.39 4414.23 1923.78 2553.45 1139.31 1445.69 2035.30 1400.34 1462.13 2260.58 3443.95 1543.11 5264.84 2150.61 7988.57 3451.20 Salário médio (R$) Tempo médio de estudo (anos) 12.86 12.78 6.93 7.74 8.49 11.48 9.44 11.80 10.80 10.88 11.16 12.17 7.53 8.98 8.79 10.16 10.88 9.71 10.90 12.20 11.83 7.86 9.88 11.53 14.57 11.00 100% 67% 50% 9% 0% 100% 75% 60% 25% 100% 33% 2% 0% 11% 0% 0% 50% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 7% 0% 10% 1 3 4 11 1 2 4 5 4 1 3 111 11 37 2 1 2 2 2 1 32 1 2 14 3 260 Percentual Número de de exporta- empresas doras Tabela 5.4 - Características observáveis das empresas habilitadas no REIDI, por divisão CNAE 2.0 86 A tabela 5.5 apresenta as características observáveis das empresas habilitadas no RECAP. De acordo com a legislação que instaurou esse regime, “é beneficiária do RECAP a pessoa jurídica preponderantemente exportadora, assim considerada aquela cuja receita bruta decorrente de exportação houver sido igual ou superior a 70% (setenta por cento) de sua receita bruta total”. Assim, não cabe nesse caso avaliar o percentual de empresas exportadoras, visto que essa característica é também um pré-requisito do regime. As empresas habilitadas junto ao RECAP apresentam, em média, pessoal ocupado de 1.007 pessoas, das quais apenas 2,72% são classificadas como PoTec. O salário médio é de R$ 1.754,95, enquanto a escolaridade média é de aproximadamente 9 anos. Sabe-se que 74% das empresas credenciadas no RECAP pertencem a setores da indústria de transformação. No entanto, quando comparadas às empresas das indústrias de transformação beneficiadas pelo BNDES, nota-se que aquelas cadastradas no RECAP são, em geral, de maior porte, com pessoal mais qualificado, melhores salários e maior proporção de PoTec. Quando comparadas ao REIDI, no entanto, a situação se inverte. Dentre os setores da indústria de transformação, destacam-se os setores de Veículos automotores e de Produtos químicos quanto aos elevados salários médios; o setor de produtos alimentícios quanto ao grande porte médio das empresas; e os setores de Veículos automotores e de outros equipamentos de transporte quanto ao alto percentual de PoTec em relação ao pessoal ocupado. Dentre os demais setores, destacam-se os de agropecuária por diferirem muito da média do RECAP. Esses setores apresentam os menores valores de escolaridade média e os menores salários médios. Por outro lado, o setor de eletricidade e gás destaca-se pelo elevado salário médio, superior a R$ 7.400, e pelo elevado percentual de PoTec, 17,64%. No entanto, apenas uma empresa desse setor é habilitada junto ao RECAP. 87 Agricultura, pecuária e serviços relacionados Produção florestal Pesca e aquicultura Extração de minerais metálicos Extração de minerais não metálicos Fabricação de produtos alimentícios Fabricação de produtos do fumo Fabricação de produtos têxteis Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados Fabricação de produtos de madeira Fabricação de celulose, papel e produtos de papel Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis Fabricação de produtos químicos Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos Fabricação de produtos de minerais não metálicos Metalurgia Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos Fabricação de máquinas e equipamentos Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores Fabricação de móveis Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos Eletricidade, gás e outras utilidades Comércio por atacado, exceto veículos automotores e motocicletas Transporte aquaviário Atividades de prestação de serviços de informação Atividades de serviços financeiros Atividades imobiliárias Serviços de arquitetura e engenharia; Testes e análises técnicas TOTAL – RECAP Fonte: Ministério da Fazenda; RAIS - MTE. Elaboração DISET-IPEA. Divisão CNAE 2.0 3110.69 794.26 401.33 606.81 152.78 3334.42 878.33 474.50 750.31 248.13 1497.31 2679.67 161.70 808.17 149.13 897.64 167.42 4038.33 108.00 2278.60 185.08 1045.50 5.67 46.17 427.00 73.75 340.50 5.92 49.75 1007.14 0.43% 0.82% 0.22% 6.36% 3.23% 0.57% 0.44% 0.40% 0.27% 0.27% 3.85% 0.55% 5.36% 2.91% 0.80% 5.50% 0.40% 1.54% 14.81% 13.96% 0.24% 4.31% 17.64% 1.80% 1.50% 0.00% 10.94% 15.54% 5.87% 2.72% Pessoal ocupado PoTec/PO (médio) (média) 885.67 1496.12 852.95 3131.08 1871.45 1205.96 1071.85 1033.99 961.18 1005.38 3873.51 1120.28 3238.07 2209.80 1429.78 2591.74 1903.71 1921.53 4259.09 2481.10 857.78 3235.46 7432.04 2606.83 3956.64 944.42 4973.36 8761.66 1677.73 1754.95 Salário médio (R$) Tempo médio de estudo (anos) 5.48 7.41 8.21 10.46 9.45 8.90 7.65 10.37 7.91 8.07 11.37 7.08 11.33 11.92 9.27 10.03 8.11 10.91 12.80 10.37 8.33 11.29 14.96 10.49 10.49 10.11 12.38 9.48 7.65 8.99 10 7 2 19 3 24 1 1 28 32 6 2 5 1 11 18 1 1 1 10 24 1 1 11 1 2 1 1 1 226 Número de empresas Tabela 5.5 - Características observáveis das empresas habilitadas no RECAP, por divisão CNAE 2.0 88 Por fim, a tabela 5.6 apresenta algumas estatísticas descritivas das empresas habilitadas junto ao REPORTO, segundo divisão CNAE 2.0. O perfil médio das empresas credenciadas nesse regime é caracterizado por empregar 898 pessoas, das quais 3,42% atuam em ocupações técnicocientíficas. O salário médio é de R$ 2.289,44 e o tempo médio de estudo é de 10,7 anos. Das empresas cadastradas, apenas 9% são exportadoras. Do total de empresas do REPORTO, 85% pertencem a setores de transporte, como era de se esperar. Porém, o perfil de empresas é muito distinto entre esses setores. Enquanto o setor de transporte terrestre emprega em média mais de 1.000 pessoas, com percentual de PoTec de 0,94% e salário médio de R$ 1.586, o setor de armazenamento e atividades auxiliares do transporte apresenta firmas que empregam em média 147 pessoas, com percentual de PoTec de 1,33% e salário médio de R$ 2.295. Chama atenção a presença de três firmas de fabricação de produtos alimentícios dentre as empresas habilitadas junto a um regime destinado à modernização e ampliação da estrutura portuária. Tais firmas apresentam porte superior à média das empresas do RECAP, porém com menor participação de PoTec. O salário e a escolaridade média também são inferiores à média. Conclui-se, portanto, que em relação ao perfil médio, comparativamente às empresas habilitadas no REIDI, RECAP ou REPORTO, as empresas beneficiárias dos programas e linhas de financiamento do BNDES são em geral menores em porte, com pessoal menos qualificado, salários inferiores e menor proporção de PoTec. Essas características também são observadas se analisadas setorialmente. Por exemplo, o setor de Eletricidade e Gás, enquanto beneficiário do REIDI, é composto por empresas com tempo médio de estudo, salário médio e proporção de PoTec superiores àqueles das empresas do mesmo setor e beneficiárias do BNDES. Outro caso a ser destacado é o da Indústria Extrativa: enquanto as empresas desse setor beneficiadas pelo BNDES são de pequeno porte (P.O. médio igual a 91,6), as empresas do setor beneficiadas pelo REIDI são de grande porte, chegando a mais de 55 mil pessoas ocupadas no caso da Extração de petróleo e gás natural (Petrobrás). Quanto ao REPORTO, as empresas beneficiadas dos setores de Transportes também apresentam perfil extremamente distinto daquele verificado entre as empresas do setor beneficiadas pelo BNDES. Aquelas habilitadas junto ao REPORTO são de porte muito maior, com maior percentual de pessoal ocupado em atividades técnico-científicas e com remuneração média mais elevada. Além disso, empregam funcionários com maior escolaridade média e atuam com mais frequência no mercado exportador. Por fim, a comparação setorial do perfil das empresas beneficiadas pelo RECAP e pelo BNDES indica uma importante característica da indústria nacional: o perfil mais “desenvolvido” das empresas exportadoras. Nota-se que na grande maioria dos setores, o perfil do RECAP é de empresas de maior porte, com maiores salários, maior percentual de PoTec e trabalhadores com mais tempo de estudo. Esse resultado é verificado mesmo nos setores em que o percentual de empresas do BNDES exportadoras é mais elevado que a média. Ou seja, os números indicam que mesmo se somente as empresas exportadoras forem comparadas, aquelas habilitadas junto a RECAP ainda terão perfil distinto das empresas beneficiadas pelo BNDES. 89 Fonte: Ministério da Fazenda; RAIS - MTE. Elaboração DISET-IPEA. Extração de minerais metálicos Fabricação de produtos alimentícios Metalurgia Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores Obras de infraestrutura Serviços especializados para construção Transporte terrestre Transporte aquaviário Armazenamento e atividades auxiliares do transporte Atividades de serviços financeiros Serviços de escritório, de apoio administrativo e outros prestados às empresas TOTAL – REPORTO Divisão CNAE 2.0 5.38% 1.75% 5.42% 0.44% 4.05% 0.57% 0.94% 0.35% 1.33% 10.94% 0.58% 3.42% 63.75 217.67 1041.48 391.06 147.10 340.50 86.53 897.38 PoTec/PO (média) 20828.46 2423.36 2957.25 7193.58 Pessoal ocupado (médio) 2289.44 2580.45 1457.18 1585.65 1528.67 2295.35 4973.36 1825.75 3760.84 2029.42 5949.22 2357.16 Salário médio (R$) 10.72 11.56 8.78 10.38 9.18 10.88 12.38 9.37 9% 0% 0% 6% 0% 3% 0% 0% 105 1 2 16 3 70 1 3 Tempo Percentual médio de de exporNúmero estudo tadoras de empresas (anos) 11.96 100% 2 10.45 33% 3 12.56 100% 3 8.25 0% 1 Tabela 5.6 - Características observáveis das empresas habilitadas no REPORTO, por divisão CNAE 2.0 90 6. Elaboração de relatório parcial sobre o desenho e público-alvo das políticas – avaliação qualitativa C onforme pode ser observado, a apresentação dos instrumentos de financiamento e de renúncia fiscal como estímulos ao investimento demonstra a existência de uma grande diversidade de produtos, linhas e programas de financiamento destinados ao atendimento de uma ampla gama de segmentos econômicos e itens financiáveis, sejam aquisição de bens e serviços e capital de giro. No que diz respeito ao enfoque, há igualmente uma diversidade de programas setoriais, também alguns de recorte regional, além de instrumentos transversais, ou seja, a todos os setores econômicos. Quanto aos limites mínimos financiáveis, a diversidade é igualmente grande, havendo linhas/ programas de financiamento cujo limite mínimo é R$ 10 milhões, até linhas/programas que não impõem qualquer valor mínimo. De maneira geral, observa-se que por meio dos produtos/linhas de financiamento, programas ou fundos, os setores relacionados pela Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), bem como no programa Brasil Maior, estão igualmente contemplados nos diversos mecanismos de financiamento do BNDES. Portanto, da perspectiva do desenho dos instrumentos de promoção de investimentos disponibilizados pelo BNDES, estes parecem estar adequados aos objetivos da política industrial e de promoção de inovação vigentes. Os instrumentos atendem a um amplo escopo de itens financiáveis, amplo espectro de empresas, em termos setoriais e de porte, prazos de carência e amortizações, diferentes níveis de exigências e obrigações. No tocante ao público-alvo dos programas ou linhas de financiamento, podem-se adotar duas dimensões de análise. Uma delas relacionada ao enfoque (transversal ou setorial) e uma segunda pelo porte da empresa. Quanto ao enfoque do MF Investimento, há 01 (um) regime especial de abrangência transversal (RECAP) e 02 (dois) setoriais (REPORTO e REIDI). No tocante ao porte das empresas beneficiárias, tem-se 01 (um) regime especial dirigido a todos os portes (RECAP), 01 (um) a empresas de médio porte (REPORTO) e 91 01 (um) a empresas de grande porte (REIDI)6. Combinando-se as duas dimensões de análise tem-se 01 (um) regime de abrangência transversal dirigido a empresas de todos os portes (RECAP), 02 (dois) setoriais, sendo um deles dirigido às médias empresas (REPORTO) e o outro a grandes empresas (REIDI). Utilizando-se a terminologia do BNDES tem-se a seguinte classificação quanto ao porte: micro, pequena, média, média-grande e grande. O BNDES Investimento possui, quanto ao enfoque, programas transversais e setoriais. Quanto ao porte da empresa, tem-se apenas um produto orientado especificamente às empresas de grande porte, ou seja, com receita operacional bruta anual acima de R$ 300 milhões, ainda que haja exceções para alguns casos para determinadas linhas de financiamento. Trata-se do FINEM que tem enfoque transversal. Os demais produtos, linhas ou programas de financiamento destinam-se às empresas de todos os portes, como verificado na seção anterior. No tocante à complementaridade entre os instrumentos de promoção de investimentos apresentados (BNDES Investimento e MF Investimento), respeitando-se os critérios de acesso e atendendo as características dos potenciais usuários de cada um dos programas, linhas de financiamento ou regimes especiais, é possível utilizá-los de forma concomitante ou complementar. Isto inclusive foi demonstrado, parcialmente, quando cruzadas as informações de acesso entre dois programas. No tocante à complementaridade intracomponentes de cada um dos instrumentos apresentados cabem algumas considerações. No caso do BNDES Investimento há programas ou linhas de financiamento transversais e setoriais. Os instrumentos setoriais levam em consideração, na sua concepção, as especificidades do públicoalvo a que se destinam e, desta forma, tendem a apresentar condições mais vantajosas ou adequadas para sua utilização pelas empresas enquadradas na operação quando comparadas com instrumentos transversais. Portanto, por essas razões, sempre que possível, as empresas deveriam buscar compor seu portfólio com instrumentos setoriais. No entanto, nem sempre é possível. No caso do MF Investimento, de modo geral, cabem os mesmos comentários, respeitando-se a legislação tributária aplicável. Ainda assim, é importante ponderar que os programas do MF têm caráter mais específico, diminuindo sensivelmente a possibilidade de complementaridade/sobreposição. De fato, é possível, e desejável, analisar detalhadamente as condições apresentadas pelos instrumentos passíveis de enquadramento pela empresa a fim de verificar as vantagens e desvantagens da sua utilização. O objetivo é compor um portfólio de instrumentos otimizado de forma a combinar diversos programas, linhas de financiamento e/ou regimes especiais disponíveis. Este procedimento deveria ser utilizado ao longo do ciclo de vida de um projeto empresarial ou de negócios, e não apenas em um único momento, de forma pontual, dissociado de um planejamento estratégico de investimentos. Exceto para o BNDES, que dispõe de critérios próprios para classificação do porte de empresas, para os demais casos considera-se os critérios utilizados pela Receita Federal. Assim, considera-se microempresa (ME) a pessoa jurídica que tenha auferido, no ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$120.000,00 (cento e vinte mil reais). A empresa de pequeno porte (EPP) é a pessoa jurídica que tenha auferido, no ano-calendário, receita bruta superior a R$120.000,00 (cento e vinte mil reais) e igual ou inferior a R$1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais). 6 92 Não obstante, em termos gerais, se for demonstrado que houve por parte do BNDES, como por parte do Ministério da Fazenda, um alinhamento na formulação de novos programas e instrumentos que visassem a atender os objetivos das políticas industriais e de inovação, as informações sobre números de acessos, ou desembolsos do BNDES, revelam que a abrangência desses programas e instrumentos foi limitada. Isto pode ser verificado por meio da distribuição setorial dos recursos do BNDES, apresentada segundo diferentes relações e indicadores. Ou ainda segundo as informações sobre o número de empresas e suas respectivas características para os programas do Ministério da Fazenda. O que se percebeu claramente nesses programas é a crescente participação que o crédito oficial e o subsídio ao investimento têm sobre a economia e que a grande favorecida nessas políticas tem sido as grandes empresas. Esse comentário se aplica, principalmente, aos programas do Ministério da Fazenda, que em certos casos, como o RECAP, demonstram-se completamente ineficazes. Já com relação ao BNDES percebe-se que a distribuição dos desembolsos entre pequenas/médias empresas e grandes tenha permanecido relativamente estável. Contudo, o crescimento nos valores agregados aparentemente indica que o valor unitário das operações com as grandes empresas tenha crescido. Possivelmente, esse tipo de característica implícita aos programas revela uma percepção da concepção do papel estratégico que as grandes empresas têm no desenvolvimento da economia. 93 7. Detalhamento da metodologia utilizada para a avaliação quantitativa 7.1Teorias de investimento A teoria econômica descreve o investimento como fator fundamental para um país: pode afetar fortemente as flutuações de curto prazo; e, no longo prazo, é um dos principais componentes da determinação do produto, emprego e renda. Logo, impacta diretamente o crescimento econômico e o padrão de bem-estar de uma sociedade. Diversos modelos já foram desenvolvidos buscando explicar os mecanismos que norteiam a decisão de investimento das firmas. Alguns desses modelos são apresentados a seguir e compartilham a hipótese de existência de mercado de capitais e de crédito perfeitos. De acordo com Caballero (1997), uma das primeiras “teorias” do investimento, foi o modelo do acelerador (Clark, 1917). O princípio do acelerador tem origem na literatura pré-keynesiana e baseiase na relação entre as variações do produto e o nível do investimento. A forma mais simples do princípio estabelece que a relação entre estoque de capital, K, e o nível de produto, Y, no período t, é constante. Assim, dada a variação na demanda a cada período, as firmas sempre investiriam o bastante para manter essa relação. Porém, esse modelo inicial provou-se distante da realidade e incapaz de explicar a correlação serial de investimento além do crescimento da produção. Para melhor adequá-lo, introduziuse a hipótese de que o efeito da variação do produto sobre o investimento seja defasado. Posteriormente, Goodwin (1948) e Chenery (1952) acresceram a hipótese de ajustamento do estoque de capital. Segundo Chenery (1952), o modelo inicial falha ao considerar que as velocidades de contração e expansão do capital são iguais. Assim, Chenery busca aprimorar o modelo, preservando o princípio do acelerador, porém considerando que o investimento depende do nível e não da variação do produto: , logo: (1) 95 Apesar dos bons resultados apresentados em testes empíricos (Clark 1979, Fazzari et al. 1988), considera-se que a derivação do modelo do acelerador do investimento falhou em alguns aspectos que lhe renderam críticas: sua relação principal é postulada; e o modelo não incorpora o preço relativo do capital em sua especificação. A fim de solucionar as falhas apresentadas pelo modelo do acelerador, surge a teoria neoclássica do investimento de Jorgenson (1963). O modelo baseia-se na teoria de Modigliani e Miller (1958), a qual define que se o mercado de capitais é perfeito, então a condição financeira da firma é irrelevante na determinação de suas decisões de investimento. Entretanto, o modelo de Jorgenson não inclui a hipótese de custos de ajustamento no problema da firma. Neste caso, não existe vantagem em se postergar o investimento para o período seguinte, e não se incorre em nenhum custo de ajustar todo o capital necessário a cada período. Mesmo com contribuições de Hall e Jorgenson (1967) e de Eisner (1969), conclui-se que tal abordagem não é capaz de expor corretamente a função do custo de capital, ao contrário, os modelos impunham o tipo de papel que esse custo teria na função de investimento. Caballero (1997) argumenta que nenhum dos modelos anteriores era propriamente uma teoria do investimento, mas teorias condicionais ao nível de produto. Nesse sentido, a teoria do “q de Tobin”, introduzida por James Tobin (1969) e Brainard e Tobin (1968), dá um passo adiante. O modelo apresenta o investimento como uma função crescente da razão entre o valor da firma no mercado de ações e o custo do investimento, conhecida como “q de Tobin”. O modelo prediz que dada uma elevação da renda, que provoque um aumento no valor de mercado do capital, haverá um incentivo ao investimento. Este movimento se mantém até que o aumento no estoque de capital reduza o preço relativo do produto da indústria e, 96 portanto, reduza os lucros, de modo que o valor de mercado do capital retorne ao nível em que não há mais incentivo à decisão de investir. Logo, há um período de crescimento do investimento à medida que a indústria alcança um novo ponto de estabilidade em que apresenta um maior estoque de capital. Este efeito da renda sobre o investimento é conhecido como “efeito acelerador”. Já uma redução permanente na taxa de juros tem efeito semelhante sobre a decisão de investimento. Esses modelos têm também o mérito de oferecer a conclusão de que o investimento é afetado não somente pela renda corrente, mas também pela expectativa em relação à renda futura, ou seja, o investimento é maior quando a expectativa em relação à renda é positiva. Nessa abordagem a efetivação do investimento depende da disponibilidade de financiamento; a existência de assimetria de informação entre financiadores e empresários gera custos de agência os quais elevam o custo do capital e alteram o efeito da renda e da taxa de juros sobre o investimento. Ademais, em mercados imperfeitos, outros fatores que antes não afetariam o investimento passam a ter efeito significativo, como o estoque inicial de capital da firma, podendo gerar um problema de seleção adversa. Portanto, o bom funcionamento do mercado financeiro é, em si, um fator determinante do nível de investimento. Motivado pela dificuldade associada à construção do preço sombra do valor do capital no modelo de Tobin, Abel (1980) introduziu a abordagem da equação de Euler. Apesar de esta metodologia de cálculo evitar as dificuldades associadas à construção de medidas do Q marginal*, Gilchrist (1991), Whited (1992), Hubbard et. al (1995) e Bond e Meghir (1994) demonstram que as restrições de identificação são rejeitadas e o modelo não costuma se ajustar bem aos dados. Assim, as abordagens de Tobin e de Abel uniram-se aos demais modelos baseados no custo de capital que falhavam nos testes empíricos. Bond e Reenen (1999) concluem que os modelos estruturais baseados na hipótese de custos de ajustamento quadráticos simétricos não proporcionam uma caracterização adequada dos dados de investimento observados. Esses resultados motivaram a importante literatura empírica em restrições de financiamento. A maioria dos modelos de investimento iniciais não incluía a hipótese de existência de imperfeição no mercado de crédito. Sendo assim, ao * Q marginal é a expectativa do valor presente de um fluxo de lucro marginal (nota de rodapé da pág. 112) longo da década de 80, os modelos de investimento foram estendidos para incorporar a hipótese de restrição ao crédito, preconizada por Fazzari, Hubbard e Petersen (FHP, 1988). Segundo FHP (1988), se não há problemas de restrição a crédito e, ainda, a equação de demanda por investimento está corretamente especificada, então a inclusão de uma variável que reflita o volume de fundos internos à firma deveria ser irrelevante na explicação de investimento. No entanto, os autores argumentam que a oferta de financiamento de investimentos não é perfeitamente elástica para aquelas firmas que enfrentam problemas no mercado de crédito; ou seja, há uma hierarquia financeira: os fundos internos são mais vantajosos, em termos de custo, sobre dívida e emissão de ações. Se a desvantagem de financiamento externo sobre interno for pequena, então o capital retido deve revelar pouco ou nada sobre investimento. Por outro lado, se a desvantagem for grande, as firmas que retêm renda (ou lucro) e investem grande parte dela devem ter um alto custo. Neste caso, o investimento deve flutuar de acordo com seu fluxo de caixa. Para os autores, este princípio deve valer independentemente da modelagem utilizada para a demanda por investimento (modelo neoclássico, Q de Tobin, ou Acelerador). Acrescenta-se a variável “fluxo de caixa” à especificação, para representar a sensibilidade residual do investimento a flutuações na disponibilidade de capital interno, depois de controladas as oportunidades de investimento. A equação geral de investimento seguiria a seguinte especificação: Em que Iit representa os investimentos da firma i durante o período t; Xit representa um vetor de variáveis, possivelmente incorporando defasagens, que têm sido indicadas como determinantes de investimento; e Uit representa o termo de erro. O termo g(.) é uma função do fluxo de caixa interno da firma, que representa a sensibilidade potencial de investimento a flutuações do capital interno, depois de controladas as oportunidades de investimento através das variáveis em X. Os autores concluíram que a sensibilidade do investimento ao fluxo de caixa crescia com o grau de restrição financeira. Kaplan e Zingales (1997) fizeram uma importante crítica a FHP (1988): “o fluxo de caixa atuaria como uma proxy para oportunidades de investimento e, portanto, expectativas de lucros futuros, não captadas pelas demais variáveis explicativas. Assim, a significância do fluxo de caixa é proveniente de sua correlação com outras variáveis, e não das restrições ao crédito.”(LOPES, 2001). A crítica de Kaplan e Zingales (1997) ainda se estende à questão da influência de outliers nos resultados empíricos de FHP (1988) e à ausência de testes da hipótese de que a sensibilidade do investimento ao fluxo de caixa cresça monotonicamente com o grau de restrição ao crédito. Segundo Bond e Reenen (1999), a abordagem de FHP (1988) pode apresentar alguns problemas, dentre eles, o critério de divisão da amostra pode não ser exógeno às equações de investimento 97 estimadas, resultando em um viés de seleção. Entretanto, os autores argumentam que a crítica de Kaplan e Zingales não pode ser aplicada aos casos em que, depois de controlada a endogeneidade de fluxo de caixa, foram encontrados coeficientes não significativos para um grupo de empresas e significativos para outro, partindo-se dos mesmos métodos. Ademais, a crítica de Kaplan e Zingales não apresenta uma explicação alternativa para os resultados que mostram um efeito do fluxo de caixa sobre o investimento mais forte para algumas firmas; nem exclui a possibilidade de que o diferencial de sensibilidade do investimento reflita de fato diferenças na severidade das restrições ao financiamento. 7.2Metodologia Econométrica Considere-se um modelo dinâmico geral com ordem p de autorregressividade, além de conter um vetor de outros regressores, xit: com t =1,2...,T e i = 1,2,..., N em que ci é o efeito fixo e uit é o termo de erro aleatório, inicialmente suposto não correlacionado com um vetor (K x 1) de regressores xit . Essa especificação dinâmica terá aplicação direta na análise de efetividade dos instrumentos de apoio aos investimentos ao permitir a especificação da dependência temporal dos investimentos em razão dos possíveis custos de ajustamento presentes na trajetória dessa variável. Ainda que se admita que os erros não sejam correlacionados entre as observações e que os regressores xit sejam estritamente exógenos com relação ao erro composto, εit = ci + uit , o estimador de efeitos fixos (within) para os α´s e β´s será inconsistente. A razão para a inconsistência do estimador encontra-se na correlação entre a variável dependente defasada e o erro composto. 98 Assim, a solução usual proposta para esse problema é estimar o modelo em primeiras diferenças a fim de se eliminar os efeitos invariantes no tempo e utilizar o estimador de variáveis instrumentais para obter uma estimativa consistente dos parâmetros a partir da estimação de: para t = p+1,...,T Em razão da correlação Δ yi,t-2 com Δ yi,t1, e da ausência de correlação com Δ ui,t-1, Anderson e Hsiao (1982, apud Hsiao, 1986) sugerem a utilização de yi,t-2 e Δ yi,t-2 como instrumentos para a estimação pelo método de variáveis instrumentais de α. Nesse caso, ambos são estimadores consistentes à medida de N e/ou T tendem a infinito. Já Holtz-Eakin et al. (1988) e Arellano e Bond (1991) propõem o uso do conjunto inteiro de instrumentos em um procedimento de estimação GMM (Métodos Generalizados dos Momentos). A lógica por traz desse estimador é simples, quanto mais avançado está o painel maior o número de instrumentos disponíveis. Por exemplo, se estiver disponível um painel com dez anos de observações, e estima-se do terceiro ao décimo ano, no ano três (com ausência de correlação serial) é possível usar variáveis datadas no ano um como instrumentos, enquanto no ano quatro é possível utilizar variáveis datadas nos anos um e dois como instrumentos. E assim por diante, até que no décimo ano, as informações dos oito primeiros são instrumentos válidos. Com isso, é possível gerar estimativas mais eficientes à medida que mais informações são adicionadas. O estimador Arellano e Bond (A-B) é dado pela seguinte expressão: em que WN é uma matriz de ponderação, é um matriz (T-p) x (K x 1), em que a iésima linha é e é um dada por e Zi é uma matriz (Tvetor (T-p) x 1 com p) x r de instrumentos, em que frequentemente, . 7 Esses autores também propõem um teste para a hipótese de que uit não seja correlacionado serialmente. Ou seja, sob a hipótese de que uit sejam independentemente distribuídos, sua diferença apresentará correlação de primeira ordem. Entretanto a correlação entre e , com j ≥ 2 deverá ser nula caso a especificação dinâmica do modelo seja feita corretamente. O estimador Arellano-Bond utiliza as condições de momento para i =1,2 ...,N. Especificamente, no que tange ao conjunto de regressores xit , os mesmos podem ser supostos estritamente exógenos, predeterminados ou ainda contemporaneamente endógenos. Para regressores estritamente exógenos não há necessidade de tratamento especial, podendo ser utilizados como instrumentos deles mesmos. Já para regressores predeterminados, ou fracamente exógenos, os mesmos estariam correlacionados com os erros passados, mas não estariam correlacionados com os erros futuros. Isto é, para s < t e para s ≥ t. Nesse caso, xit pode ser instrumentalizado pelas suas defasagens {xit-1, xit2, ....}. O terceiro caso, de endogeneidade, ocorre quando para s ≤ t, ou e para s > t. Nesse caso, os instrumentos válidos para xit são {xit-2, xit-3, ....}. As condições de sobreidentificação podem ser testadas a partir da estatística de Sargan. Outros trabalhos sugerem a utilização de condições de momento adicionais para obter um estimador que produza resultados mais eficientes e com melhores propriedades em amostras finitas. Arellano e Bover (1995) propõem o uso da condição para s ≤ t-1. Blundell e Bond (1998) demonstram que estimador pode produzir benefícios consideráveis se as séries são bastante persistentes. Esse será o estimador utilizado nesse trabalho. 7.3Seleção da forma funcional do modelo econométrico Dentro do arcabouço teórico apresentado, os instrumentos de promoção do investimento oferecidos pelo BNDES podem atuar de duas formas distintas. Por um lado, os instrumentos oferecem às firmas um recurso externo a um custo menor, reduzindo o custo de uso do capital. Por outro lado, o acesso a recursos externos pode reduzir o problema de fluxo de caixa da firma. Consideraram-se as vantagens e restrições dos modelos apresentados acima, bem como os resultados de trabalhos empíricos anteriores, a adequação dos modelos aos dados e a complexidade dos métodos de estimação. Assim, no presente relatório, optou-se por utilizar o modelo do acelerador do investimento como sugerido por FHP (1988), acrescentando uma variável dummy representativa da participação da firma nos programas de apoio ao investimento, oferecidos pelo BNDES. O objetivo é captar o efeito dos instrumentos de promoção sobre a taxa de investimento da indústria, a partir de dados em nível da firma. Entretanto, ainda que potencialmente muitos instrumentos estejam disponíveis, a teoria assintótica fornece uma aproximação pobre para a distribuição em amostras finitas, de modo que o uso mais eficiente desse amplo conjunto de instrumentos seja a limitação do número de defasagens para composição de Zi. 7 99 Em razão de envolver questões relacionadas a custos de ajustamento e a expectativas, a modelagem do investimento é inerentemente dinâmica. Sendo assim, uma versão dinâmica do modelo de Chenery (1952) seria dada por: em que I corresponde ao investimento, K é o estoque de capital, S são as vendas (receita operacional líquida), αj corresponde ao efeito fixo, wt¬ corresponde ao efeito temporal macroeconômico, e ε ao termo de erro aleatório, com o subscrito i representando a i-ésima empresa e t o tempo. Também foi testado o modelo empírico proposto FHP (1988), em que se inclui a variável fluxo de caixa (CF) para explicar o comportamento do investimento. O modelo é o seguinte: As estimações dos modelos de investimento tiveram a seguinte estratégia de especificação: i)Seleção de ordem de defasagens para a variável dependente; ii)Teste para a inclusão de termo quadrático e variável de fluxo de caixa; iii)Inclusão de variável dummy representativa de acesso a financiamento do BNDES. A base de dados foi construída a partir de dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA) para o período de 1999 a 2007. As variáveis de investimento utilizadas na estimação dos modelos foram discriminadas da seguinte forma: i)Investimento agregado; ii)Investimento em terrenos e edificações; iii)Investimento em máquinas e equipamentos; iv)Investimento em transporte. A variável de capital foi construída por meio do método de inventário perpétuo. A variável de fluxo de caixa foi construída como a diferença entre a soma receita líquida de vendas à provisão de depreciação e os custos e despesas totais de produção. As vendas são representadas pelas receitas líquidas de vendas. Estimações preliminares indicaram que a ordem de defasagens dos modelos autorregressivos seria dois (2). Essa ordem apresenta estatística de Sargan que confirma a restrição para sobreidentificação. Entretanto, a posterior inclusão de variáveis explicativas fez com que a segunda defasagem da variável dependente fosse excluída do modelo. O teste para a inclusão do termo quadrático demonstrou que esse termo também não era estatisticamente significativo nas estimações, sendo descartado na especificação final. Quanto à variável de fluxo de caixa, na maior parte dos casos esta apresentou sinal contrário ao esperado, sendo então descartada, e preservada a versão original do modelo do acelerador que demonstrou uma boa qualidade de ajustamento ao problema8. Já a seleção para a inclusão da variável de receitas por capital demonstrou um melhor ajustamento quando incluída em tempo corrente. Sendo a especificação final utilizada nesse trabalho foi: (Modelo Final) É importante esclarecer que foi tentada a utilização de uma construção alternativa da variável de fluxo de caixa a partir de informações de resultado constantes na PIA, mas seus resultados também se mostraram insatisfatórios. 8 100 Uma observação adicional e de extrema importância diz respeito à suposição de exogeneidade para a variável de acesso ao financiamento do BNDES. Supondo que a oferta de recursos do BNDES é exógena ao sistema, dado que o acesso ao financiamento do BNDES é resultante da interação entre oferta do banco e demanda das firmas, estando ainda sujeito a auto-seleção das empresas, dadas as necessidades de enquadramento às normas para obtenção do banco, a suposição de exogeneidade estrita para essa variável foi descartada antecipadamente. Com isso, restam duas alternativas, a suposição de fraca exogeneidade e a de endogeneidade contemporânea. A suposição de fraca exogeneidade diz que um choque sobre o investimento no tempo corrente não deve afetar a decisão corrente da firma por demanda de financiamento. Entretanto, pode estimular a demanda no futuro. Sendo assim, a obtenção de financiamento em tempo corrente não seria afetada pelos choques contemporâneos de investimento e a obtenção de financiamento seria condicionada, principalmente, pela oferta de recursos do banco. Já sob a suposição de endogeneidade contemporânea, um choque sobre o investimento no tempo corrente afetaria a decisão corrente da firma por demanda de financiamento, na medida em que essa decisão estaria correlacionada instantaneamente a esse choque. Sendo assim, nesse caso, dada a oferta de recursos do banco, a obtenção de financiamento sofreria de um problema de simultaneidade que inviabilizaria a identificação do parâmetro. Essa última possibilidade aparentemente é aquela que mais enquadra às percepções trazidas pela evolução das séries temporais apresentadas anteriormente. Ainda assim, a fim de demonstrar o possível efeito dessas diferentes hipóteses, as estimações iniciais foram realizadas utilizando as duas formas de suposições, sendo comparados os resultados a fim de concluir sobre o impacto potencial dos financiamentos do banco sobre o investimento. A variável de vendas foi incluída nos modelos sob a hipótese de endogeneidade contemporânea. 7.4Estatísticas Descritivas da Base PIA A base construída com dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA-IBGE) para o período de 1999 a 2007 é desbalanceada e contém 111.635 observações referentes a empresas que constam no extrato certo da pesquisa. Entre 1999 e 2002, a base apresenta 45.779 observações e, entre 2003 e 2007, 65.856 observações. As informações em investimento total bruto dão conta de um montante médio por empresa de R$ 907,6 mil por ano em todo o período. Esse montante não varia muito quando comparados os períodos entre 1999 e 2002 e entre 2003 e 2007. Entre 1999 e 2002 foram investidos R$ 894,2 mil em média, enquanto que entre 2003 e 2007 foram investidos R$ 917,9 mil. Contudo, existe uma diferença um pouco mais sensível quando se observa as medianas dessas informações e percebese que a mediana do primeiro período (R$ 68,7 mil) é ligeiramente superior ao do segundo período (R$ 46,5 mil), indicando uma concentração maior dos investimentos no segundo período. Também não varia fortemente o número médio de contratos de financiamento com o BNDES entre os períodos, apresentando apenas uma ligeira elevação, passando de 155, entre 1999 e 2002, para 169, entre 2003 e 2007. As informações sobre investimentos na PIA não estão livre de erros. Observa-se que o somatório das três categorias de investimento (Máquinas e Equipamentos, Terrenos e Edificações, Transporte Bruto) atinge apenas 78% do total do montante de investimento bruto. Ainda assim, é possível observar que esses 78% estão distribuídos em 58% de investimentos em Máquinas e Equipamentos, 12% em Edificações e Terrenos e 8% em Transporte. 101 Tabela 7.1 - Estatísticas descritivas das séries de Investimentos e Estoque de Capital 1999-2007 Investimento em maq, e equip. bruto Investimento em terrenos e edif. bruto Investimento em transporte bruto Investimento bruto Estoque de Capital Média 528265.67 111409.87 67284.92 907563.44 14268161.20 Mediana 19716.25 0.00 0.00 56441.49 2545863.60 Desvio adrão 2202035.23 671694.97 340316.58 3375184.57 39560385.28 1999-2002 Investimento em maq, e equip. bruto Investimento em terrenos e edif. bruto Investimento em transporte bruto Investimento bruto Estoque de Capital Média 508909.70 97534.54 71516.13 894185.06 14979270.40 Mediana 25398.37 0.00 0.00 68674.95 2965321.80 Desvio Padrão 1958845.51 649887.95 384249.81 3248355.07 40590846.74 2003-2007 Investimento em maq, e equip. bruto Investimento em terrenos e edif. bruto Investimento em transporte bruto Investimento bruto Estoque de Capital Fonte: PIA-IBGE. Elaboração DISET-IPEA. Média 543184.03 122104.10 64023.78 917874.64 13720083.40 Mediana 15648.00 0.00 0.00 46513.90 2224767.40 Desvio Padrão 2372448.05 687851.63 302094.15 3469797.15 38739305.35 As informações de acesso ao BNDES quando combinadas às informações da PIA demonstram que o número de acessos médio ao ano foi igual a 1.046 acessos, totalizando 9.418 acessos, ou 19% das empresas, entre 1999 e 2007. O número médio de acessos salta de 874, entre 1999 e 2002, para 1.184 acessos entre 2003 e 2007, apresentando uma variação no percentual de acessos de 16% para 21% do total de empresas entre os dois períodos. As informações de acessos também foram discriminadas segundo o porte das empresas, sendo classificado em três categorias: 1) pequeno porte: empresas de 30 até 99 funcionários; 2) médio porte: empresas de 100 até 499 funcionários e 3) grande porte: empresas com 500 ou mais funcionários. É possível observar que o número de acessos 102 das empresas com menos de 500 funcionários corresponde a 87% do total de acessos ao BNDES, enquanto as empresas com 500 ou mais funcionários possuem 13% dos acessos ao BNDES. Entretanto, quando se analisa dentro de cada categoria de porte, percebe-se uma associação positiva entre o porte da empresa e o percentual de firmas que acessaram ao BNDES. Dentre as empresas com 30 a 99 funcionários o percentual de acessos é 14%, enquanto que para as empresas com 100 a 499 funcionários esse percentual é de 26%, subindo para 40% das empresas com 500 ou funcionários. Adicionalmente, é interessante observar que esses percentuais não se alteram sensivelmente entre os dois períodos, quando analisados para cada categoria de porte de empresa. Tabela 7.2 - Número de empresas que acessaram o BNDES, classificadas por porte 1999-2007 30 ≤ N ≤ 99 100 ≤ N ≤ 499 500 ≤ N TOTAL 1999-2002 30 ≤ N ≤ 99 100 ≤ N ≤ 499 500 ≤ N TOTAL 2003-2007 30 ≤ N ≤ 99 100 ≤ N ≤ 499 500 ≤ N TOTAL Não acessou Número de empressas 26240 11625 1839 39704 Acessou BNDES Número de empresas 4129 4077 1212 9418 Não acessou Número de empressas 11856 5251 777 17884 Acessou BNDES Número de empresas 1510 1531 456 3497 Não acessou Número de empressas 14384 6374 1062 21820 Acessou BNDES Número de empresas 2619 2546 756 5921 Fonte: BNDES; RAIS-TEM. Elaboração DISET-IPEA. Os gráficos 7.1(a) a 7.1(c) apresentam a média da razão entre investimento e estoque de capital discriminada segundo o porte da empresa e de acordo com o acesso, ou não, aos fundos do BNDES ao longo do período de 1999 a 2007. As informações agregadas demonstram que a razão entre investimento e estoque de capital para as empresas que não acessaram o BNDES é igual a 0,04, enquanto para aquelas que acessaram o BNDES, é igual a 0,07. Esse diferencial está presente ao longo do tempo entre as firmas que tiveram ou não acesso ao BNDES. As firmas de pequeno porte sem acesso ao BNDES apresentam uma trajetória de estabilidade dessa razão em torno de seu valor médio de 0,04. Por outro lado, as firmas do mesmo porte que acessaram os fundos do BNDES demonstraram uma trajetória ligeiramente ascendente, com a e elevação da razão de 0,064 para 0,074 ao final do período, com média de 0,07 no período. As firmas de médio porte apresentam trajetórias similares, com médias de razão de investimento-capital de 0,05 e 0,07, respectivamente, para as firmas que não tiveram acesso ao BNDES e aquelas que acessaram os fundos do banco. Já no caso das grandes empresas, enquanto aquelas que não acessaram o BNDES mantêm estável sua relação investimento-capital em torno de 103 0,07 pontos, as grandes empresas que acessaram o banco tiveram sua razão elevada de 0,08, no início do período, para 0,1 ao final do período, com média de 0,09124 em todo período. Ou seja, essa análise PAG. demonstra que está presente um forte componente não observável no investimento que é responsável conjuntamente pela maior taxa de investimento das firmas que acessam o BNDES, independentemente de sua faixa de tamanho, justificando a estimação em painel com controle para os efeitos fixos. 7.1 - Investimento/Estoque Razão Investimento/Estoque Capital,segundo segundo porte da GráficoGráfico 7.1 - Razão de de Capital, porte empresa da empresa 104 A Tabela 7.3 apresenta as informações de razão entre investimento bruto e estoque da capital para o total de investimentos e segundo as formas de investimento discriminadas pela PIA. Essas informações são cruzadas com as modalidades de acesso a financiamento, disponibilizadas pelo BNDES. Tabela 7.3 - Razão entre Investimento Bruto e Estoque de Capital, por modalidade de apoio, conforme empresas que acessaram ou não BNDES Investimento Financiamento a Máquinas e Financiamento BNDES Razão empresa Equipamentos ao fabricante automático Investimento/Estoque Não Acessou Não Acessou Não Acessou Não Acessou de capital acessou BNDES acessou BNDES acessou BNDES acessou BNDES Média Média Média Média Média Média Média Média Investimento Total 0.05 0.09 0.04 0.07 0.05 0.05 0.05 0.07 Transporte 0.01 0.01 0.01 0.01 0.01 0 0.01 0.01 Máquinas 0.03 0.04 0.02 0.05 0.03 0.03 0.03 0.04 Terrenos e Edificações 0 0.01 0 0.01 0 0.01 0 0.01 Fonte: PIA-IBGE; BNDES. Elaboração DISET-IPEA. Inicialmente, observa-se um diferencial positivo dessa razão em favor das firmas que acessaram os fundos do BNDES que ocorre para todas as modalidades de financiamento, exceto a de Financiamento ao Fabricante. A maior diferença é apresentada para as firmas que acessaram a modalidade de Financiamento à Empresa, com uma diferença percentual de 80% a mais na razão investimento-capital, seguida pelas empresas que acessaram a modalidade de Aquisição de Máquinas e Equipamentos (75% a favor de diferencial). Entretanto, quando se analisam os cruzamentos entre tipos de investimento e modalidades de financiamento é possível notar que, em termos absolutos, as diferenças nas taxas de investimento são pequenas, em torno de 0,01 ponto. A diferença de razão investimento-capital mais significativa é entre as empresas que realizaram investimentos em máquinas e equipamentos, e que acessaram a modalidade de Aquisição de Máquinas e Equipamentos (0,02 contra 0,05 pontos). 7.5Resultados Nesta seção são apresentados os resultados das estimações para o modelo final destacado anteriormente. Na tabela 7.4 são apresentados os resultados da estimação do modelo básico, em que é alterada a predeterminação para a endogeneidade contemporânea do regressor “BNDES”, sendo incluída, por fim, a variável de receita sobre capital. 105 Observa-se que o coeficiente autorregressivo da variável dependente defasada é em torno de 0,17, independentemente da forma de inclusão da variável BNDES. Com relação à variável BNDES, percebese inicialmente que dependente da suposição de predeterminação ou endogeneidade tem-se a significância estatística ou não da variável em um nível de significância de 5%, ainda que a magnitude do coeficiente aumente ligeiramente. No entanto, quando é incluído o regressor de receita sobre capital, a relação típica do modelo do acelerador se estabelece, tornando o coeficiente associado à dummy de acesso BNDES com valor praticamente nulo e não significante estatisticamente. Sendo assim, dada essa grande alteração do coeficiente associado à variável dummy de acesso ao BNDES, optou-se por incluí-la como endógena nas demais equações, considerando, portanto, a possibilidade de uma relação de simultaneidade entre a demanda por fundos e os choques sobre o investimento. Tabela 7.4 – Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento Predet. Endog. Endog. Coefic. z Pr > z Coefic. z Pr > z Coefic. z Pr > z (I/K)t-1 BNDES 0.165 8.37 0 0.165 8.23 0 0.018 1.65 0.1 0.018 8.95 0 0.024 1.42 0.16 0.004 0.63 0.53 (S/K)t - - - - - - 0.891 15.96 0 Teste A-B z Pr > z z Pr > z z Pr > z 1 -19.84 0 -19.64 0 -7.52 0 2 1.24 0.22 1.16 0.25 0.65 0.52 3 -0.06 0.95 -0.05 0.96 -0.69 0.49 Fonte: IPEAD. A tabela 7.5 apresenta estimações para a equação de investimentos em que o acesso ao BNDES está discriminado segundo a modalidade de financiamento. Os modelos estão apresentados em uma sequência que se inicia com a especificação dinâmica sem a inclusão da variável de vendas, com sua inclusão na segunda especificação e a exclusão 106 de variáveis irrelevantes na terceira equação. As variáveis do BNDES foram todas incluídas sob a suposição de endogeneidade contemporânea. Essa sequência de estimações permitiu identificar qual modalidade de financiamento é capaz de produzir algum impacto sobre o investimento das empresas industriais. Essa modalidade é a de financiamento a máquinas e equipamentos. Ou seja, a primeira equação em que são incluídas as quatro modalidades apresenta como único coeficiente estatisticamente significante, em um nível de significância de 5%, a dummy para a modalidade de financiamento a máquinas e equipamentos, com deslocamento de 0,02 pontos na razão investimentoestoque de capital. Com a inclusão da variável de renda e mantendose as demais modalidades de financiamento, o coeficiente passa a ser nulo estatisticamente. Mas com a exclusão das variáveis irrelevantes do modelo, retoma sua significância estatística e aponta um impacto de 0,014 pontos sobre a razão investimento-capital, o que representa um acréscimo de 28% sobre a taxa de investimento bruto sobre o capital. Tabela 7.5 – Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento com Modalidades de Financiamento A estimação do modelo para investimentos exclusivamente em máquinas e equipamentos produz resultados contraditórios ao que se esperava a princípio, dadas as estimativas anteriormente apresentadas. Como é possível observar, consistentemente com o que foi visto anteriormente, a primeira equação indica a não significância estatística individual dos coeficientes associados às variáveis dummies para as modalidades de financiamento do BNDES. Com a posterior redução do modelo, novamente o coeficiente relativo ao acesso à modalidade de financiamento à aquisição de máquinas e equipamentos passa a ser significativo estatisticamente, com impacto de 0,03 pontos sobre a taxa de investimentos em máquinas e equipamentos da firma. Entretanto, quando é incluída a variável representativa da renda, o coeficiente relativo ao acesso à modalidade de financiamento à aquisição de máquinas e equipamentos torna-se nulo estatisticamente. Ou seja, na principal forma de investimento, o possível impacto do BNDES mostra-se ambíguo, ainda que resultados que indicam sua efetividade tenham sido verificados anteriormente. 107 Tabela 7.6 – Modelo Dinâmico de Investimento em Máquinas e Equipamentos A estimação do modelo para investimentos exclusivamente em terrenos e edificações, apresentada na tabela 7.7, produz resultados que indicam a não significância estatística individual dos coeficientes associados às variáveis dummies para as modalidades de financiamento do BNDES, com exceção do coeficiente negativo, porém de valor próximo a zero, para financiamento a máquinas e equipamentos. Com a posterior redução do modelo, novamente o coeficiente relativo ao acesso à modalidade de financiamento à aquisição de máquinas e equipamentos passa a ser não significativo 108 estatisticamente, com impacto nulo, portanto, investimentos em terrenos e edificações e estoque de capital da firma. Entretanto, quando é incluída a variável representativa da renda, o coeficiente relativo ao acesso à modalidade de financiamento à aquisição de máquinas e equipamentos volta a tornar significativo estatisticamente, porém com valor próximo a zero. Ou seja, é possível ou que este tipo de financiamento desvie investimento desse item, ou então que, devido à correlação com a variável de vendas, tenha sido produzido um resultado significativo estatisticamente, porém de magnitude insignificante. Tabela 7.7 – Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento em Terrenos e Edificações A próxima sequência de estimações diz respeito ao item de investimentos em artigos de transporte. Diferentemente dos resultados anteriores, nesse caso a equação inicial, em que constam todas as modalidades de financiamento, apresenta sinal positivo e significativo estatisticamente para o coeficiente associado à modalidade de financiamento ao fabricante. Quando o modelo inicial é reduzido, com a exclusão das variáveis irrelevantes, apresentam impactos significativos estatisticamente em um nível de significância de 10%, as modalidades de financiamento à aquisição a máquinas e equipamentos e de financiamento ao fabricante. Os respectivos coeficientes são de 0,01 e 0,04. Entretanto, com a inclusão da variável representativa da renda apenas o coeficiente associado à modalidade de financiamento a máquinas e equipamentos é que se apresenta relevante, em nível de significância de 1%, com um valor de 0,01. 109 Tabela 7.8 – Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento em Transportes Como os Gráficos 7.1 indicaram que está presente um forte componente não observável no investimento que é responsável conjuntamente pela maior taxa de investimento das firmas que acessam o BNDES, independentemente de sua faixa de tamanho, o modelo dinâmico de investimento também foi estimado separando-se as empresas por faixa de porte. As tabelas 7.9 a 7.11 apresentam esses resultados. Nessas estimações, a variável dummy de acesso ao BNDES foi incluída como regressor endógeno. Em seguida incluiu-se também a variável de receita sobre capital. Nota-se que o coeficiente da variável de acesso ao BNDES, na especificação reduzida, é estatisticamente significante em um nível de 10% nas equações das empresas de pequeno e médio porte. No entanto, quando são adicionados a 110 esses modelos a variável de renda os coeficientes associados à variável dummy BNDES passam a ser nulos estatisticamente, indicando que para esse porte de empresas, o investimento planejado deveria ocorrer independente do financiamento do BNDES. Um resultado distinto é obtido nas estimações das equações para as empresas com mais de 500 empregados (grande porte). Diferentemente das equações anteriores, a variável dummy BNDES na especificação reduzida demonstra-se não significativa estatisticamente. Contudo, quando é incluída a variável representativa da renda o coeficiente da variável dummy BNDES passa a ser significativo em um nível de significância estatística de 10%, capturando, possivelmente, o deslocamento positivo apresentado na análise gráfica anterior para sua taxa de investimento. Tabela 7.9 - Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento para empresas de pequeno porte Tabela 7.10 - Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento para empresas de médio porte Tabela 7.11 - Resultados: Modelo Dinâmico de Investimento para empresas de grande porte 111 Os resultados indicam, portanto, que embora o BNDES venha se tornando cada vez mais importante no financiamento a investimentos, não há indício de que ele atue efetivamente no incentivo ao investimento. Ou seja, o apoio creditício-financeiro do banco permite que a firma invista a uma taxa de retorno maior, mas essa forma de financiar não altera o plano de investimento da firma, só 112 alterando o percentual de participação do BNDES nos acessos das firmas. Os resultados, no entanto, apresentam indícios de que, nas grandes empresas, para aquisição de bens de capital e ampliação da capacidade produtiva, a atuação do BNDES tem capacidade maior de incentivar e ampliar o nível de investimento. 8.Recomendações de melhorias dos instrumentos D a perspectiva do desenho dos instrumentos de promoção de investimentos disponibilizados pelo BNDES, estes parecem estar adequados aos objetivos da política industrial e de promoção de inovação vigentes. Os instrumentos atendem a um amplo escopo de itens financiáveis, amplo espectro de empresas, em termos setoriais e de porte, prazos de carência e amortizações, diferentes níveis de exigências e obrigações. Não obstante, certamente, uma pesquisa mais aprofundada junto aos usuários desses instrumentos poderia revelar aspectos e detalhes sobre seu funcionamento, mostrando eventuais deficiências e necessidades de aperfeiçoamentos operacionais e de concepção, que escapam a um exame meramente de caráter lógico-conceitual, como o presente. Quanto aos programas ofertados pelo MF, conceitualmente estão baseados na renúncia fiscal. A pergunta efetivamente é se eles deveriam existir. Ou seja, dado a limitação de informações no que tange aos projetos e ao volume de renúncia fiscal, a condução de uma análise propriamente baseada na relação custo-benefício dos projetos fica inviabilizada. A única informação que se dispõe é sobre as empresas beneficiadas e a partir desse tipo de dado e das próprias características das empresas é passível o questionamento se o tipo de empresa beneficiada necessitaria de estímulos fiscais para execução desses projetos. Quanto ao RECAP, especificamente, demonstrou-se uma iniciativa que deve sofrer a concorrência de outras diversas formas de financiamento a bens de capital das empresas exportadoras e, portanto, sua própria existência torna-se bastante questionável. 113 114 CONCLUSÃO A teoria econômica descreve o investimento como fator fundamental para um país: pode afetar fortemente as flutuações de curto prazo; e, no longo prazo, é um dos principais componentes da determinação do produto, emprego e renda. Logo, impacta diretamente o crescimento econômico e o padrão de bem-estar de uma sociedade. A partir de 2003, verificam-se diversas iniciativas no âmbito da promoção de investimentos, em especial como parte das políticas governamentais implantadas pela PITCE, PACTI, PDP e Plano Brasil Maior. Este relatório avaliou um conjunto selecionado de instrumentos de apoio ao investimento, vigentes no Brasil no período recente. Devido à disponibilidade limitada de informações, a análise aprofunda-se nos programas de apoio oferecidos pelo BNDES e em alguns regimes especiais de tributação do Ministério da Fazenda com maior vinculação à formação bruta de capital fixo. Inicialmente foram apresentados os principais produtos e respectivas linhas de financiamento, programas e fundos operados pelo BNDES relacionados à promoção de investimentos. A atuação do BNDES se dá em duas frentes básicas: apoio a projetos de investimento e aquisição de máquinas e equipamentos. O apoio financeiro pode ser feito por meio das seguintes modalidades: financiamentos; recursos não reembolsáveis; ou subscrição de valores mobiliários. No tocante ao financiamento, as modalidades se dividem em produtos de acordo com a finalidade do empreendimento. A cada produto se aplicam linhas de financiamento que se destinam a beneficiários, setores e empreendimentos específicos e, por isso, podem trazer regras particulares, mais adequadas aos objetivos da linha. Dentre os produtos BNDES abarcados pela presente análise destacam-se: BNDES Finem, BNDES Automático, BNDES Finame, Cartão BNDES. Quanto aos regimes especiais de tributação, são apresentados o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (REIDI), Regime Tributário para Incentivo a Modernização 115 e Ampliação da Estrutura Portuária (REPORTO), e Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras (RECAP). Em seguida, são apresentadas as séries históricas de utilização dos instrumentos de apoio avaliados. No tocante aos produtos do BNDES, conclui-se que, a partir de 2003, há um crescimento considerável na concessão de créditos justificado pelas políticas vigentes no governo Lula, que pregavam uma maior participação na concessão de crédito oficial em áreas e investimentos estratégicos. Observase ainda que nas operações diretas, a maior parte refere-se aos valores desembolsados através do Finem; enquanto em relação às operações indiretas, os produtos Finame e BNDES Automático são os componentes mais vultosos. Em síntese, as informações apresentadas indicam que, especialmente após 2004, houve um forte crescimento tanto na demanda por investimento quanto nos valores efetivamente distribuídos pelo BNDES. Esse crescimento foi reflexo da alteração das políticas monetária e industrial após 2004. Por um lado, houve uma redução nas taxas de juros de longo prazo, reduzindo o custo de acesso aos financiamentos. Por outro lado, houve a implantação de grandes políticas relacionadas ao desenvolvimento industrial e à promoção de inovação. No âmbito dessas políticas, o BNDES passou a exercer função estratégica para a viabilização e direcionamento dos investimentos. A combinação dessas políticas alterou a distribuição dos recursos entre os setores de atividades econômicas, favorecendo os setores da indústria em detrimento dos setores de infraestrutura. No entanto, contrariando as informações noticiadas, os maiores valores de recursos foram demandados através de produtos associados a aquisições de máquinas e equipamentos e não de produtos associados a 116 projetos de investimento. Por sua vez, os regimes especiais de tributação do Ministério da Fazenda beneficiam um número extremamente pequeno de empresas. O REPORTO, desde sua criação em 2004, beneficiou apenas 141 empresas; o RECAP, apenas 262; e o REIDI beneficiou 451 empresas em 773 projetos de investimento. Mesmo que se considere a especificidade de cada um dos regimes, seu espectro de atuação ainda é muito limitado quando comparado ao número total de empresas dos setores em que há maior probabilidade de encontrarmos potenciais beneficiários. Na terceira seção do estudo, foram elaborados e analisados indicadores para melhor avaliar o desempenho dos instrumentos de apoio ao investimento do BNDES. Em síntese, os indicadores demonstram que houve um indiscutível crescimento da participação do BNDES no apoio aos investimentos, tanto em relação à produção dos setores, quanto em relação à formação bruta de capital fixo. No entanto, não é possível identificar nesses resultados a influência dos diversos programas, ou ainda uma correlação mais clara com os objetivos de política formulados nos diversos planos de governo que vigoraram no período. Na realidade, o que os resultados indicam é a contínua predominância dos produtos de enfoque transversal; os setores industriais apoiados por programas específicos não se destacaram dos demais em relação à participação do BNDES em seus investimentos. Ademais, não se verificou relação entre os desembolsos e a produtividade do trabalho, denotando que, a princípio, o processo para liberação de recursos não seleciona os setores beneficiados de acordo com critérios de eficiência produtiva. Conclui-se, portanto, que não é possível identificar através dessas informações uma tendência clara de política que aponte para mudança de competição na economia no sentido tradicional. Ou seja, apesar do crescimento da participação do BNDES na economia brasileira, as informações não permitem revelar uma estratégia de aumento de competitividade ou de produtividade de setores específicos. A quarta seção apresentou a abrangência dos instrumentos de apoio quanto ao número de empresas beneficiadas e a distribuição regional dos recursos. Verificou-se, por um lado, o baixo percentual de empresas atendidas frente ao total de empresas do país, em especial nos casos dos regimes especiais de tributação. Por outro lado, observouse que os recursos destinam-se prioritariamente às regiões Sudeste e Sul. Nessa mesma seção foi realizada uma breve discussão quanto à complementaridade e sobreposição dos instrumentos. Admite-se que a complementaridade seja um fator positivo, enquanto a sobreposição indicaria que os instrumentos estão atuando concomitantemente nos mesmos alvos, seja em relação ao público ou em relação aos objetos financiados. Ou seja, em caso de sobreposição, os programas de apoio seriam “concorrentes”. Os resultados indicam que há uma grande complementaridade entre as modalidades “Financiamento a empresa” e “Máquinas e equipamentos”, e entre esta última e a modalidade “BNDES Automático”. Do ponto de vista das frentes de atuação, esses resultados podem indicar que há uma grande parcela de firmas beneficiadas que atuam tanto em projetos de investimento quando na aquisição de bens de capital. A avaliação da complementaridade/ sobreposição das modalidades de apoio do BNDES com os regimes do MF permite concluir que há indícios de que há uma grande intersecção entre os produtos do BNDES e os regimes especiais de tributação, resultando em um acúmulo de benefícios. Ou seja, nesse caso os recursos distribuídos pela renúncia fiscal e os distribuídos pelo BNDES podem estar financiando os mesmos projetos de investimento. Após habilitar sua aquisição de máquinas e equipamentos ou projeto de investimento em um dos programas do Ministério da Fazenda, a empresa buscaria apoio financeiro do BNDES para aquele mesmo projeto. Desse modo, as empresas teriam capital para investimento a um custo ainda mais reduzido, ocorrendo um processo de substituição de fontes de investimento, em vez de uma complementação que resultaria em investimentos mais elevados. Quanto ao perfil das empresas, conclui-se que em relação ao perfil médio, comparativamente às empresas habilitadas no REIDI, RECAP ou REPORTO, as empresas beneficiárias dos programas e linhas de financiamento do BNDES são em geral menores em porte, com pessoal menos qualificado, salários inferiores e menor proporção de PoTec. Essas características também são observadas se analisadas setorialmente. Por exemplo, o setor de Eletricidade e Gás enquanto beneficiário do REIDI é composto por empresas com tempo médio de estudo, salário médio e proporção de PoTec superiores àqueles das empresas do mesmo setor e beneficiárias do BNDES. Quanto ao REPORTO, as empresas beneficiadas dos setores de Transportes são de porte muito maior, com maior percentual de pessoal ocupado em atividades técnico-científicas e com remuneração média mais elevada. Além disso, empregam funcionários com maior escolaridade média e atuam com mais frequência no mercado exportador. Por fim, o perfil do RECAP é de empresas de maior porte, com maiores salários, maior percentual de PoTec e trabalhadores com mais tempo de estudo. Esse resultado é verificado mesmo nos setores em que o percentual de empresas do BNDES exportadoras é mais elevado 117 que a média. Ou seja, os números indicam que mesmo se somente as empresas exportadoras forem comparadas, aquelas habilitadas junto a RECAP ainda terão perfil distinto das empresas beneficiadas pelo BNDES. Finalmente, na seção 7, foi realizada a análise quantitativa da efetividade dos instrumentos de apoio. Dentro de um arcabouço teórico apresentado, os instrumentos de promoção do investimento oferecidos pelo BNDES podem atuar de duas formas distintas. Por um lado, os instrumentos oferecem às firmas um recurso externo a um custo menor, reduzindo o custo de uso do capital. Por outro lado, o acesso a recursos externos pode reduzir o problema de fluxo de caixa da firma. Consideradas as vantagens e restrições dos modelos, bem como sua adequação aos dados e a complexidade dos métodos de estimação, optou-se por utilizar o modelo do acelerador do investimento, acrescentando-se ao modelo uma variável dummy representativa da participação da firma nos programas de apoio ao investimento, oferecidos pelo BNDES. O objetivo era captar o efeito dos instrumentos de promoção sobre a taxa de investimento da indústria, a partir de dados em nível da firma. Optou-se ainda por incluir essa variável dummy como endógena, considerando, portanto, a possibilidade de uma relação de simultaneidade entre a demanda por fundos e os choques sobre o investimento. Os resultados indicaram que somente a modalidade de financiamento a máquinas e equipamentos é capaz de produzir algum impacto adicional sobre o investimento das empresas industriais. Ainda assim, se consideramos somente os investimentos exclusivos em máquinas 118 e equipamentos, a variável dummy perde sua significância estatística. Esse resultado pode se dever ao caráter complementar que essa modalidade de financiamento possui, na medida em que seu efeito é mais claramente evidenciado quando observado seu impacto sobre o total de investimentos da firma e não apenas sobre os investimentos em máquinas e equipamentos. A análise gráfica indicou, no entanto, que está presente um forte componente não observável no investimento que é responsável conjuntamente pela maior taxa de investimento das firmas que acessam o BNDES, independentemente de sua faixa de tamanho. Sendo assim, o modelo dinâmico de investimento também foi estimado separandose as empresas por faixa de porte. Nota-se que o coeficiente da variável de acesso ao BNDES, na especificação reduzida, é estatisticamente significante em um nível de 10% nas equações das empresas de pequeno e médio porte. No entanto, quando são adicionados a esses modelos a variável de renda, os coeficientes associados à variável dummy BNDES passam a ser nulos estatisticamente, indicando que para esse porte de empresas, o investimento planejado deveria ocorrer independente do financiamento do BNDES. Um resultado distinto é obtido nas estimações das equações para as empresas com mais de 500 empregados (grande porte). Diferentemente das equações anteriores, a variável dummy BNDES na especificação reduzida demonstra-se não significativa estatisticamente. Contudo, quando é incluída a variável representativa da renda, o coeficiente da variável dummy BNDES passa a ser significativo em um nível de significância estatística de 10%, capturando, possivelmente, o deslocamento positivo apresentado em sua taxa de investimento. Os resultados indicam, portanto, que embora o BNDES venha se tornando cada vez mais importante no financiamento a investimentos, sua principal função aparentemente tem sido a de promover condições de alívio de restrição financeira às firmas, não produzindo, entretanto, um deslocamento sensível no investimento planejado das empresas. Ou seja, o apoio creditício-financeiro do banco permite que a firma invista a uma taxa de retorno maior, mas essa forma de financiar não altera o plano de investimento da firma, só altera o percentual de participação do BNDES nos acessos das firmas. Os resultados, no entanto, apresentam indícios de que nas grandes empresas, para aquisição de bens de capital e ampliação da capacidade produtiva, a atuação do BNDES tem capacidade maior de incentivar e ampliar o nível de investimento. Esta última observação ressalta uma possível alteração de estratégia de atuação do banco no sentido de fortalecer o grande capital nacional. A teoria econômica justifica a intervenção estatal no mercado de crédito como forma de diminuir a extensão das restrições de crédito que limitam o investimento das empresas. Assim, é correta a atuação do BNDES no sentido de aliviar as restrições de crédito a firmas para as quais ele empresta recursos, elevando o nível total de investimentos. Contudo, a forma de condução de sua atuação demonstra que parte de seus programas de apoio ao investimento sofrem de uma perda de eficácia na medida em que não são capazes de elevar o nível de investimento desejado pelas empresas. A aplicação dos programas específicos setoriais, ou de apoio às indústrias, embora existentes, não se apresentam por meio da observação de suas próprias informações serem capazes de promover uma efetiva elevação do investimento que poderia estar acima do esperado pelos próprios setores industriais. Ademais, não foi possível verificar, a despeito da elevação substancial nos desembolsos posteriormente a 2003, uma alteração qualitativa na sua atuação quando se observa sua distribuição setorial, ou qualquer relação com a alocação de seus recursos e promoção da elevação da produtividade dos setores industriais. Essa é uma observação que deve servir de alerta para a sua efetiva colaboração no alcance de metas do programa Brasil Maior. Os resultados produzidos pelas estimações de modelos econométricos, de certa forma, corroboraram as impressões trazidas pela análise das diversas estatísticas apresentadas na análise qualitativa. Quais sejam, a de que os programas tradicionais do BNDES que se destinam ao financiamento de máquinas e equipamentos, complementarmente ao financiamento de investimentos em transportes são aqueles que mais auxiliam a expansão dos investimentos. Essa conclusão, entretanto, somente pode ser aplicada à indústria dada a restrição de informações sofrida na análise. Outras formas de análise quantitativa, baseadas em critérios custo-benefício, poderiam ser utilizadas para se complementar essa análise. O montante significativo de recursos aplicados em investimentos de infraestrutura deve produzir um conjunto de externalidades que, obviamente, é desconsiderado no tipo de análise conduzida aqui. Esse comentário também se aplica aos programas do Ministério da Fazenda. Nesse sentido, para a consecução de trabalhos futuros é necessário que se considere não apenas metodologias distintas, mas também a disponibilização de informações, por meio de órgãos oficiais, que permitam uma análise tanto qualitativa, como quantitativa, de maior aprofundamento. 119 Referências bibliográficas ABEL, A. Empirical investment equations: an integrative framework. In: BRUNNER, K.; MELTZER, A. (Eds.). On the State of Macroeconomics; Carnegie-Rochester Conference Series, 12, pp. 39-93, 1980. BASSETO, C. F.; KALATZIS, A. E. G. 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BNDES Automático MPME - Investimento Capacidade Produtiva Investimento (CP Investimento) Capacidade Produtiva Investimento Indústria de BK (CP Investimento Indústria BK) Capacidade Produtiva BK (CP BK) Concorrência Internacional Capacidade Produtiva Importação (CP Importação) Capital de Giro Associado 3. BNDES Finame 4. BNDES Finame Leasing 5. Cartão BNDES 6. BNDES Limite de Crédito 7. BNDES Empréstimo-Ponte 8. BNDES Project Finance 9. BNDES Fianças e Avais Programas de apoio ao Comércio, Serviços e Turismo 1. BNDES Construção Civil (até 31.03.2011) BNDES Qualidade Construção BNDES Construção Industrializada 2. BNDES PER Alagoas e Pernambuco (até 31.05.2011) 3. BNDES Procaminhoneiro (até 31.12.2011) 4. BNDES ProCopa Arenas (até 31.12.2011) 5. BNDES ProCopa Turismo (até 31.12.2011) 6. Programa IES (até 06.08.2014) 126 Produtos e Linhas de Financiamento de Apoio à Indústria 1. BNDES Finem Capacidade Produtiva - Indústria de bens de capital Capacidade Produtiva - Demais indústrias Capacidade Produtiva - Projetos estruturantes nas Regiões NO e NE Concorrência internacional Internacionalização de empresas Projetos de eficiência energética Aquisição de bens de capital Leasing de bens de capital Importação de bens de capital Micro, pequenas e médias empresas Capital de Giro Associado 2. BNDES Automático MPME - Investimento Capacidade Produtiva Investimento (CP Investimento) Capacidade Produtiva Investimento Indústria de BK (CP Investimento Indústria BK) Capacidade Produtiva BK (CP BK) Concorrência Internacional Capacidade Produtiva Importação (CP Importação) Capital de Giro Associado 3. BNDES Finame Leasing 4. Cartão BNDES 5. BNDES Limite de Crédito 6. BNDES Empréstimo-Ponte 7. BNDES Project Finance 8. BNDES Fianças e Avais 127 Programas de Apoio à Indústria 9. BNDES Construção Civil (até 31.03.2011) Programa BNDES Qualidade Construção Programa BNDES Construção Industrializada 10. BNDES Finame Componentes (até 30.09.2012) 11. BNDES Finame-Moderniza BK (até 31.12.2011) BNDES Finame-Moderniza BK Proprietário BNDES Finame-Moderniza BK Fornecedor 12. BNDES PER Alagoas e Pernambuco (até 31.05.201) 13. BNDES Proaeronáutica (até 31.03.2013) BNDES Proaeronáutica – Empresa BNDES Proaeronáutica - Exportação 14. BNDES Procap BK, Componentes e Autopeças (até 31.12.2012) 15. BNDES Procult (até 31.07.2012) BNDES Procult – Financiamento BNDES Procult – Renda Variável BNDES Procult – Não Reembolsável 16. BNDES Proengenharia (até 31.03.2013) 17. BNDES Profarma (até 31.07.2012) BNDES Profarma - Produção BNDES Profarma - Exportação BNDES Profarma - Inovação BNDES Profarma - Reestruturação 19. BNDES Progeren (até 31.12.2012) 20. BNDES Proplástico (até 30.09.2012) BNDES Proplástico - Produção e Modernização BNDES Proplástico - Renovação de Bens de Capital BNDES Proplástico - Inovação Modalidade Inovação Tecnológica Modalidade Capital Inovador Modalidade Inovação Produção BNDES Proplástico - Fortalecimento das empresas BNDES Proplástico - Socioambiental 21. BNDES Prosoft (até 31.07.2012) BNDES Prosoft - Empresa BNDES Prosoft- Comercialização BNDES Prosoft- Exportação 22. PROTVD (até 31.12.2013) PROTVD-Fornecedor PROTVD-Radiodifusão PROTVD-Conteúdo PROTVD-Consumidor 23. BNDES PSI - Bens de Capital 128 Produtos/Linhas de Apoio à Agricultura 1. BNDES Finem Agropecuária Projetos de eficiência energética Aquisição de bens de capital Leasing de bens de capital Importação de bens de capital Micro, pequenas e médias empresas Capital de giro associado 2. BNDES Automático MPME - Investimento Capacidade Produtiva Investimento (CP Investimento) Capacidade Produtiva Investimento Indústria de BK (CP Investimento Indústria BK) Capacidade Produtiva BK (CP BK) Concorrência Internacional Capacidade Produtiva Importação (CP Importação) Capital de Giro Associado 3. BNDES Finame Agrícola Comercialização e Aquisição de Bens de Capital - BK Aquisição Agropecuário: Aquisição de Bens de Capital para Micro, Pequenas e Médias Empresas - MPME BK Agropecuário 4. BNDES Finame Leasing 5. Cartão BNDES 6. BNDES Limite de Crédito 7. BNDES Empréstimo-Ponte 8. BNDES Project Finance 9. BNDES Fianças e Avais Programas de apoio à Agricultura 1. BNDES Cerealistas (até 31.03.2012) 2. BNDES Compensação Florestal (até 31.05.2012) 3. BNDES PER Alagoas e Pernambuco (até 31.05.2011) 4. Programa de Apoio ao Setor Sucroalcooleiro – PASS (até 30.11.2010 e 30.12.2010) 5. Programas do Governo Federal administrados pelo BNDES 1. ABC - Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura (até 30.06.2012) 2. MODERAGRO - Programa de Modernização da Agricultura e Conservação de Recursos Naturais (até 30.06.2012) 3. MODERFROTA - Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (até 30.06.2012) 4. MODERINFRA - Programa de Incentivo à Irrigação e à Armazenagem (até 30.06.2012) 5. PROCAP-AGRO - Programa de Capitalização de Cooperativas Agropecuárias (até 30.06.2012) 6. PROCAPCRED - Programa de Capitalização de Cooperativas de Crédito (até 30.06.2012) 7. PRONAF Investimento - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (até 30.06.2012) 8. PRODECOOP - Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária (até 30.06.2012) 129 Produtos e Linhas de Financiamento de apoio à Infraestrutura BNDES Finem Energia Elétrica Geração Transmissão Distribuição Projetos de eficiência energética Aquisição de bens de capital Leasing de bens de capital Importação de bens de capital Micro, pequenas e médias empresas Capital de giro associado Energias Alternativas Energias alternativas Projetos de eficiência energética Aquisição de bens de capital Leasing de bens de capital Importação de bens de capital Micro, pequenas e médias empresas Capital de giro associado Petróleo e Gás Natural Petróleo e gás - Exploração Petróleo - Desenvolvimento, produção e refino de petróleo Gás Natural - desenvolvimento, produção e processamento de gás natural Transporte e distribuição de petróleo, gás natural e biocombustíveis Projetos de eficiência energética Aquisição de bens de capital Leasing de bens de capital Importação de bens de capital Micro, pequenas e médias empresas Capital de giro associado Logística Modal Ferroviário Modal Rodoviário Demais Investimentos em infraestrutura logística Projetos de eficiência energética Aquisição de bens de capital Leasing de bens de capital Importação de bens de capital Micro, pequenas e médias empresas Capital de giro associado Telecomunicações Projetos de eficiência energética Aquisição de bens de capital Leasing de bens de capital Importação de bens de capital Micro, pequenas e médias empresas Capital de giro associado 130 BNDES Automático MPME - Investimento Capacidade Produtiva Investimento (CP Investimento) Capacidade Produtiva Investimento Indústria de BK (CP Investimento Indústria BK) Capacidade Produtiva BK (CP BK) Concorrência Internacional Capacidade Produtiva Importação (CP Importação) Capital de Giro Associado BNDES Finame Leasing BNDES Finame Micro, Pequenas e Médias Empresas – Aquisição de Bens de Capital (MPME BK) Micro, Pequenas e Médias Empresas – Aquisição de Ônibus e Caminhões (MPME Ônibus e Caminhões) Bens de Capital – Comercialização – Aquisição de Bens de Capital (BK Aquisição) Bens de Capital – Comercialização – Aquisição de Ônibus e Caminhões (BK Aquisição Ônibus e Caminhões) Bens de Capital – Produção de Bens de Capital (BK Produção) Bens de Capital – Concorrência Internacional (BK Concorrência Internacional) Cartão BNDES BNDES Limite de Crédito BNDES Empréstimo-Ponte BNDES Project Finance BNDES Fianças e Avais Programas de apoio à Infraestrutura 1. BNDES P&G (até 31.12.2015) 2. Programa BNDES de Financiamento ao Programa de Aceleração do Crescimento (até 31.12.2014) Fundos 1. Fundo da Marinha Mercante – FMM Financiamento destinado a armadores e estaleiros nacionais Financiamento destinado a arsenais e bases navais Financiamento destinado a outros beneficiários 131 132