Fenômenos de Transporte I Aula 03 – Empuxo 4.1 Empuxo (E) O conceito de empuxo é aplicado nos projetos de comportas, registros, barragens, tanques, canalizações, etc. A figura ao lado mostra uma nadadora em uma piscina, manuseando um saco de plástico muito fino (de massa desprezível) completamente cheio com água. Ela observa que o saco e a água nele contida estão em equilíbrio estático, ou seja, não tendem a subir nem a descer. A força peso para baixo, deve ser equilibrada por uma força resultante para cima exercida pela água que está do lado de fora do saco. Esta força resultante que aponta para cima recebe o nome EMPUXO E [1]. Ela existe porque a pressão da água que envolve o saco aumenta com a profundidade. Assim, a pressão na parte inferior do saco é maior que na parte superior. O que equivale a dizer que as forças a que o saco está submetido devido à pressão são maiores em módulo na parte inferior do saco do que na parte superior. Note que os vetores que apontam para cima são mais compridos que os vetores que os que apontam para baixo. Quando somamos vetorialmente todas as forças exercidas pela água sobre o saco, as componentes horizontais se cancelam e a soma das componentes verticais é o EMPUXO E. Nesta outra figura, trocamos o saco de água por uma pedra que ocupa o mesmo volume. Dizemos que a pedra desloca um certo volume de água, ou seja, ocupa o espaço que de outra forma seria ocupado pela água. Como a forma não foi alterada, as forças na superfície são as mesmas de quando o saco com água estava no lugar. Assim, o mesmo EMPUXO para cima que agia sobre o saco com água agora age sobre a pedra. O módulo do EMPUXO é igual ao peso do VOLUME DE FLUIDO DESLOCADO pela pedra. Ao contrário do saco com água, a pedra não está em equilíbrio estático. A força PESO P, para baixo que age sobre a pedra tem um módulo maior que o EMPUXO E para cima como mostra o diagrama de corpo livre da figura acima. Assim, a pedra desce com uma aceleração a até o fundo da piscina. 4.2 Princípio de Arquimedes Agora preenchemos o mesmo volume com um pedaço de madeira. Mais uma vez, nada mudou com relação às forças que agem sobre a superfície, de modo que o módulo do EMPUXO E continua sendo igual ao PESO DE FLUIDO DESLOCADO. Como a pedra, o pedaço de madeira não está em equilíbrio estático já que o módulo do PESO P é menor que o módulo do EMPUXO E, de modo que a madeira sobe até a superfície com aceleração a. Nossos resultados para o saco plástico, a pedra e o pedaço de madeira se aplicam a qualquer fluido, e podem ser resumidos no PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES: Todo corpo imerso, total ou parcialmente, em um fluido em equilíbrio estático, sob a ação de um campo gravitacional constante, sobre a ação de uma força vertical com sentido ascendente, aplicada pelo fluido. Esta força é chamada EMPUXO. 4.2.1 Arquimedes e seus feitos Arquimedes de Siracusa (Siracusa, 287 a.C. – 212 a.C.) foi um matemático, físico, engenheiro, inventor, e astrônomo grego. Embora poucos detalhes de sua vida sejam conhecidos, são suficientes para que seja considerado um dos principais cientistas da Antiguidade Clássica [2]. Entre suas contribuições à Física, estão os fundamentos da Hidrostática e da Estática, tendo descoberto a Lei do Empuxo e a Lei da Alavanca, além de muitas outras. Ele inventou ainda vários tipos de máquinas para usos militar e civil, incluindo armas de cerco, e a bomba de parafuso (parafuso de Arquimedes) que é usado até hoje. Experimentos modernos testaram alegações de que, para defender sua cidade, Arquimedes projetou máquinas capazes de levantar navios inimigos para fora da água e colocar navios em chamas usando um conjunto de espelhos. Apesar de Arquimedes não ter inventado a alavanca, ele deu uma explicação do princípio envolvido em sua obra Sobre o Equilíbrio dos Planos. De acordo com Pappus de Alexandria, o trabalho de Arquimedes sobre as alavancas fez com que ele exclamasse: "Deem-me um ponto de apoio e moverei a Terra." O historiador Plutarco descreveu como Arquimedes projetou sistemas de roldanas (polia de Arquimedes), permitindo a utilização do princípio da alavanca para levantar objetos que teriam sido demasiado pesados para serem movidos de outra maneira. A curiosidade mais conhecida sobre Arquimedes conta sobre como ele inventou um método para determinar o volume de um objeto de forma irregular. De acordo com Vitrúvio, uma coroa votiva tinha sido feita para o Rei Hierão II, que tinha fornecido ouro puro para ser usado, e Arquimedes foi solicitado a determinar se alguma prata tinha sido usada na confecção da coroa pelo possivelmente desonesto ferreiro. Arquimedes tinha que resolver o problema sem danificar a coroa, de forma que ele não poderia derretê-la em um corpo de formato regular, a fim de encontrar seu volume e calcular sua densidade. Enquanto tomava banho (Arquimedes e seu famoso banho), ele percebeu que o nível da água na banheira subia enquanto ele entrava, e percebeu que esse efeito poderia ser usado para determinar o volume da coroa. Para efeitos práticos, a água é um fluido incompressível, assim a coroa submersa deslocaria uma quantidade de água igual ao seu próprio volume. Dividindo a massa da coroa pelo volume de água deslocada, a densidade da coroa podia ser determinada. Se calculada corretamente, a densidade da coroa seria menor do que a do ouro, se metais mais baratos e menos densos tivessem sido adicionados à sua composição. Arquimedes teria ficado tão animado com sua descoberta que teria esquecido de se vestir e saído gritando pelas ruas "Eureka!" (em grego: "εὕρηκα!," significando "Encontrei!"). O teste foi realizado com sucesso, provando que prata realmente tinha sido misturada. 4.3 A intensidade do Empuxo Logo, chegamos a conclusão que a intensidade (módulo) do EMPUXO E é igual ao PESO DE FLUIDO DESLOCADO PFD pelo corpo, ou seja: Podemos expressar a MASSA DE FLUIDO DESLOCADO mDF em função da DENSIDADE O FLUIDO ou DENSIDADE F e do VOLUME DE FLUIDO DESLOCADO VFD. Substituindo a Eq. (2) na Eq. (1) temos a expressão para a intensidade do EMPUXO: 4.4 Condição de flutuação de um corpo Suponha um corpo totalmente submerso em um fluido . Se ele tiver a tendência a flutuar, o EMPUXO será maior que seu PESO [3]. No caso de igualdade entre E e P, o corpo estará em equilíbrio em qualquer posição. Imaginando o corpo totalmente submerso: Utilizando a Eq. (5) temos que: Ou seja, o corpo flutuará se: 4.5 Peso aparente de um corpo em um fluido Se colocamos uma pedra sobre uma balança calibrada para medir pesos a leitura da balança é o peso da pedra. Se, porém, repetimos a experiência debaixo d'água o EMPUXO diminui a leitura da balança. Esta leitura passa a ser, portanto um PESO APARENTE [4]. Seja um tijolo de massa 10 kg seu PESO REAL será: O PESO APARENTE PAp de um corpo está relacionado ao PESO REAL P e o EMPUXO E através da equação: Simulação - Fonte: http://phet.colorado.edu/pt/simulation/buoyancy 4.6 Cálculo da intensidade do Empuxo Esta força denominada empuxo será tanto maior quanto mais denso for o líquido e sua origem está relacionada com o fato da pressão no líquido aumentar com a profundidade (PRINCÍPIO DE STEVIN). Considere um objeto totalmente imerso em um fluido estático, como na Figura 3. Considere, também, elementos finitos de volume que serão utilizados para determinação da força vertical sobre o corpo em função da pressão hidrostática. A força vertical dFB resultante sobre o volume elementar é igual a: Observe que (h2-h1) dA = dV é volume do elemento cilíndrico. A força total FB denominada força de empuxo é obtida por integração sobre todo o volume do objeto, ou seja: Onde V é o volume do objeto. Como liq é a densidade do líquido (e não do objeto), temos que liqV corresponde à massa do líquido deslocado pela imersão do objeto e então podese anunciar o resultado anterior como Princípio de Arquimedes. 4.7 – Ponto de aplicação do Empuxo Frequentemente, os engenheiros encontram problemas relacionados a estruturas que devem resistir às pressões exercidas por líquidos como, por exemplo: barragens, comportas, registros, etc. E, neste caso, deseja-se calcular o módulo, a direção, o sentido e o ponto de aplicação da força denominada empuxo. 4.71 - Superfície plana imersa horizontal “O empuxo exercido por um líquido sobre uma superfície plana imersa é uma força perpendicular à superfície e é igual ao produto da área pela pressão relativa ao centro de gravidade CG.” Considerando-se os líquidos, se a superfície submersa for horizontal, a força normal a esta superfície será o produto da pressão pela área da superfície e terá seu ponto de aplicação no centro de gravidade da superfície. Neste caso a pressão terá uma distribuição uniforme. 4.72 - Superfície plana imersa vertical Se a superfície submersa for vertical, como mostra a figura ao lado, a pressão efetiva será zero na superfície livre e atinge seu valor máximo no fundo da superfície. Neste caso a pressão terá uma distribuição variável linearmente, como comprova o Teorema de Stevin, e não será possível obter-se a força normal pela multiplicação da pressão pela área da superfície. A força resultante será, portanto, o somatório dos produtos das áreas elementares pela pressão nelas atuantes. O ponto de aplicação desta força resultante será o CP (centro de pressão), que se localiza abaixo do centro de gravidade da superfície submersa. A posição do CP será determinada aplicando-se o teorema de Varignon: “O momento da resultante em relação ao ponto O deve ser igual à soma dos momentos das forças elementares dF.” A = área imersa da superfície que sofre a força ̅ = distância da superfície livre do líquido ao centro de gravidade da área imersa. 𝒚 ICG = Momento de inércia da área A, tomado em relação ao eixo que passa pelo centro de gravidade da área 4.73 - Superfície plana imersa inclinada Tem-se da figura acima uma superfície irregular de área A, localizada em um plano inclinado que faz ângulo θ com a superfície livre do fluido de densidade . O centro de massa da superfície ou centroide (se for homogênea), está localizado a uma profundidade hC Para determinar o empuxo total F sobre a superfície, vamos considerar um elemento de área dA sobre a mesma, localizado a uma profundidade h, abaixo da superfície livre do líquido. Lembrando-se que o líquido recobre apenas um dos lados, a força dF sobre este elemento é dada por: Sendo: Temos: O Empuxo: A integral equivale ao produto: equação e observando que . Substituindo este resultado na , tem-se a seguinte expressão para a força resultante sobre um lado de uma superfície submersa plana: Exemplo: A superfície mostrada, com dobradiça ao longo de A, tem 5 m de largura. Determine a força resultante F da água sobre a superfície inclinada. 4.8 - Equilíbrio dos Corpos Flutuantes Quando um corpo flutuante sofrer uma rotação devido a uma ação qualquer (ventos, ondas, etc.), o binário formado pelo peso P e o empuxo E tenderá a três situações: a) Quando o centro de gravidade – CG está abaixo do o centro de carena C - Equilíbrio é estável b) Quando o centro de gravidade – CG coincide com o centro de carena C, o equilíbrio é indiferente c) Quando o centro de gravidade está CG está acima do centro de carena C Quando o centro de gravidade está G está acima do centro de empuxo C, o equilíbrio tanto pode ser estável como instável. A situação de equilíbrio dependerá então de como o centro de empuxo se desloca quando, devido a uma perturbação, a forma do volume do líquido deslocado é alterada. Metacentro (M) É o ponto de intersecção de duas sucessivas linhas de ação da impulsão quando o barco se inclina segundo pequenos ângulos. 4.8 - Bibliografia [1] HALLIDAY & RESNICK, Fundamentos da Física, V2, 6ª Ed., LTC, Rio de Janeiro, 2006, Cap 14, Pg. 66. [2] Arquimedes. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre, último acesso em 30/03/2015 às 14:36, http://pt.wikipedia.org/wiki/Arquimedes [3] BRUNETTI, F., Mecânica dos Fluidos, 2ª Ed., Pearson, São Paulo, 2008, Cap. 2, Pg. 37. [4] FUKE, CARLOS & KAZUHITO, Os Alicerces da Física, V1, 2ª Ed., Editora Saraiva, São Paulo, 1989, Cap. 20, Pg. 329. ARAÚJO, ALEX MAURÍCIO , Mecânica dos Fluidos 2 GOMES, MARIA HELENA RODRIGUES - Apostila Mecânica dos Fluidos Faculdade de Engenharia - Universidade Federal de Juiz de Fora