PARTICIPAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM EQUIPES - cress-mg

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PARTICIPAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM EQUIPES
MULTIDISCIPLINARES DE SAÚDE - UM RELATO DE EXPERIENCIA
Lourdes dos Santos Veloso 1
RESUMO
Este relato de experiência teve como mote as intervenções, ações e atividades
desenvolvidas durante os dois anos como residente da APS no serviço social e sua
relevância para às equipes de PSF. Realizou-se por meio da pesquisa qualitativa em que
a observação participante propiciou maior interação profissional X usuário. Buscou,
focalizar no fazer profissional das assistentes sociais, a sua preparação para o trabalho
intersetorial e multidisciplinar através do qual se comprova os compromissos com os
usuários, familiares e comunidade, seus direitos e deveres. A experiência é de uma
intervenção propostas pelo serviço social e seu impacto na saúde enquanto objetivo final
de atuação nesta política. Artigos e livros fundamentam as formas de se relatar as
experiências sobre idosos.
Palavras chave: Residente. APS. PSF. Intersetorial. Multidisciplinar.
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Assistente Social – Universidade Católica de Minas Gerais - PUC MINAS. Ex-residente em Atenção
Primária / Saúde da família do Programa de Residência Multiprofissional. Hospital Municipal Odilon
Behrens - 2014/2016.
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INTRODUÇÃO
A atuação da (o) assistente social, em equipes multidisciplinares em uma
Unidade Básica de Saúde - UBS, os desafios enfrentados no dia-a-dia do seu fazer
profissional, a busca pelo reconhecimento e legitimação dos direitos dos usuários
enquanto cidadãos com direito à assistência a saúde de qualidade, demonstrar aos
membros das equipes interdisciplinares a forma, a função e o lugar da assistência social
enquanto política pública destinada a quem dela mais necessitar é um desafio diário. A
universalidade vem acompanhada da integralidade, neste entendimento é necessário
uma forte e ampla articulação entre os núcleos de saberes das diversas disciplinas, um
grande instrumento é o trabalho multi / interdisciplinar através do qual é possível ver
sua influência na prática cotidiana.
A Constituição Federal promulgada em 1988 legitima a saúde como direito de
todos e dever do Estado, integrante a seguridade social teve avanços constitucionais
significativos, como o Projeto da Reforma Sanitária em que se propôs o SUS – Sistema
Único de Saúde regulamentado pela LOS – Lei Orgânica da Saúde de 1990.
Desde então a saúde passou por grandes mudanças em sua estrutura organizativa
principalmente na atenção básica, pois é o primeiro nível de atenção, em que o
atendimento foi ao longo do tempo se aprimorando na intenção de conjugar prevenção,
promoção e tratamento. Ofertando ações de promoção e prevenção em que o foco é a
melhoria na qualidade de vida dos usuários, com a participação de outros profissionais
não médicos que integram o serviço, mas que por vezes não são conhecidas suas
funções em uma UBS, como os profissionais de apoio, seja o serviço social, a
fisioterapia ou a terapia ocupacional por exemplo, proporcionando uma nova visão da
relação saúde X doença, entendendo-o em seus aspectos biopsicossociais, e levando-os
a analisar que o processo de se ter saúde não é necessariamente uma direção única em
que o tratamento seja realizado na visão médico centrada.
Neste relato de experiência será evidenciado uma intervenção proposta,
projetadas e desenvolvidas em que a importância da(o)assistente social em equipes
multidisciplinares de saúde, foram balizadoras dos projetos e resultados alcançados,
suas contribuições e impactos na vida dos sujeitos usuários e na organização das
instituições – atenção primária à saúde. Para este trabalho utilizou-se da pesquisa
descritiva / qualitativa - um relato de experiência. A pesquisa qualitativa contempla a
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subjetividade, os sentimentos próprios dos sujeitos envolvidos, o campo de valores, as
percepções. “Não contempla a objetividade e a estatística, suas hipóteses não tem
obrigatoriedade de serem comprovadas por dados de verificação” (Minayo, 1994).
Assim, foi priorizada a interpretação dos fenômenos e a produção dos significados
atribuídos pelos sujeitos na relação entre Estado / Família buscando a compreensão da
realidade vivida nos contextos sociais, saúde, políticos, econômicos, culturais e
religiosos.
A POLITICA DE SAÚDE NA CIDADE DE BELO HORIZONTE - Belo Horizonte
e o Distrito Barreiro
Belo Horizonte em seus 118 anos possui uma população estimada em torno de
2.491.109 habitantes (IBGE - 2014) distribuídos em suas nove regionais e igualmente
em nove distritos sanitários.
Especificamente o Distrito sanitário Barreiro abrange aproximadamente 64
bairros e ou aglomerados. Os equipamentos da saúde que compõem a rede da
assistência aos usuários, são 20 centros de saúde, 1 unidade de pronto atendimento UPA, 1 centro de referência em saúde mental – CERSAM, 1 centro de referência em
saúde do trabalhador CEREST, 1 farmácia distrital, 1 centro de referência em álcool e
outras drogas
CERSAM-A/D, 11 academias da cidade, 1 centro de convivência.
Compondo a rede de assistência, há também 2 unidades da Fundação Hospitalar do
Estado de Minas Gerais - FHEMIG: os hospitais Eduardo de Menezes e Júlia
Kubitscheck. (portalpbh)
A população do Barreiro é de aproximadamente 283.544 habitantes. (Censo
2010); possui uma população mais jovem com crescimento significativo, em relação aos
demais distritos sanitários.
“A região faz limite com os municípios de Contagem, Ibirité, Brumadinho e
Nova Lima. Segundo Censo 2010, são 54 bairros e 18 vilas, com 70 mil
domicílios que abrigam 283.544 habitantes. O território de 53km² de
extensão atrai
novos moradores e empresas que impulsionam o
crescimento”.(Portalpbh.pbh.gov.br)
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É uma região em que o surgimento de bairros se deu em áreas ocupadas das
antigas fazendas da região de década de 1970, sem urbanização, infraestrutura,
transportes, foi através da união dos moradores que as melhorias foram conquistadas, há
áreas mais e outras menos vulneráveis.
Ao entender que a vulnerabilidade às doenças e situações adversas da vida
distribui-se de maneira diferente segundo as regiões, os grupos sociais, os indivíduos e
relaciona-se com a pobreza, com as crises econômicas e com o nível educacional,
amplia-se a visão de que o indivíduo seja única e exclusivamente responsável pela sua
saúde se encontramos falta de condições salubres, de segurança e educação dignas para
significativo número de pessoas. A vulnerabilidade está relacionada a várias situações e
pode ser considerado importante aspecto para análises, como por exemplo, o índice de
vulnerabilidade intra-urbano que é medido pelo IVS:
“O Índice de Vulnerabilidade da Saúde – IVS – é um indicador sintético que
agrega vários indicadores sociais, econômicos e ambientais, mais ou menos
complexos, para analisar as características de grupos populacionais vivendo
em determinadas áreas geográficas” (SMSA, 1998).
Tais indicadores sinalizam que o trabalho do assistente social percorre uma
lógica que os agrega, os considera em sua importância sendo um dos determinantes de
saúde ou doença de uma população.
Neste relato de experiência optei como objeto de estudo situações e ações em
que uma família de idosos tiveram seus direitos violados.
Dado que seria lógico a interação entre as equipes não apenas por compor-se de
vários serviços - trabalho intersetorial, mas proporcionou uma integração entre nós
profissionais para que fosse possível planejar e propor ações à família, para isto foram
necessárias visitas domiciliares planejadas com datas e horários, reuniões, cronograma
das ações entre as equipes.
Para o serviço social o trabalho com as famílias não é o somente o ponto de
partida é fundamental no processo saúde X doença, atenção X negligência,
desinformação X informação, autocuidado X autonegligência, entre outros, assim como
nos diz o SUAS - Sistema Único da Assistência Social – as diretrizes do SUAS
priorizam a matricialidade sócio familiar como eixo estruturante do trabalho da
assistente social.
Quanto a intersetorialidade e a multidisciplinaridade do trabalho em equipe,
Sousa (2006), nos diz que “uma equipe não pode ser definida como um conjunto de
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trabalhadores, na qual cada um desempenha uma função específica”. As equipes devem
compor-se de profissionais de formações diferentes, respeitando-lhes as especificidades,
garantindo-lhes a multiplicidade de suas tendências e a troca de experiências.
A partir da definição do novo modelo de organização do processo de trabalho
em saúde, que se objetiva multiprofissional, intersetorial, integral, equânime...
compreendemos que se faz primordial relatar e analisar essa nova lógica de cuidados,
em que nenhum saber, teoricamente, ocupa o centro.
CARACTERIZAÇÃO DA SAÚDE EM BELO HORIZONTE
Belo Horizonte já possuía uma rede de saúde estruturada quando da
implementação da Estratégia Saúde da Família – E.S. F, articulando os setores e atores
que a compunham.
Quando em Fevereiro de 2002 foram implantadas as primeiras equipes de saúde
da família em BH foi proposto pela SMSA - Secretaria Municipal de Saúde aos
trabalhadores a adesão a esta nova forma de atendimento aos usuários, na melhoria do
acesso á saúde e o desenvolvimento de ações promocionais e preventivas seriam as
chaves deste programa denominado PSF – Programa Saúde da Família em que a
responsabilidade da assistência seria a princípio às populações adscritas consideradas de
maiores riscos para adoecerem conforme os índices de vulnerabilidade.
“As equipes implantadas ficaram responsáveis pela assistência à saúde das
populações consideradas de maior risco de adoecer e morrer, conforme o
IVS, significando mudanças processuais por dentro da rede de
serviços”(AVANÇOS E DESAFIOS NA ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO
BÁSICA À SAÚDE EM BH SMSA, Pag.33).
A formação generalista do assistente social amplia as áreas de atuação deste
profissional, entretanto, ela não é suficiente para que se dê conta das demandas da
realidade a qual está inserida. Através desta formação ampla que o Serviço Social
oferece, se abre um leque de possibilidades para a atuação profissional.
Frente à dinâmica da realidade, o (a) assistente social necessita permanecer em
constante processo de aprendizagem, para dar conta de lidar com as situações próprias
deste novo modelo de atendimento, em que o conhecimento da rede própria e de
“apoio” será de grande importância, pois, mais que outros profissionais é o (a) assistente
social que necessita atuar intersetorialmente uma vez que a questão social é perpassada
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por inúmeras situações cotidianas. É preciso enfrentar os medos e os obstáculos
incessantemente, munir-se de conhecimentos e novas estratégias.
A intervenção da (o) assistente social não é uma ação pontual, é um processo em
que a cada momento há modificações do objeto, na prática. Assim, a prática do serviço
social é variada e complexa, o seu objeto, produto e instrumentais não podem ser
determinados de forma precisa, suas categorias de análises dependem de condições
histórico-sociais e da realidade imposta.
Nas unidades básicas de saúde - UBS o serviço social é caracterizado como de
apoio, entretanto, a atuação da (o) profissional perpassa várias situações cotidianas
dificultando a definição linear de fluxos estabelecidos, assumindo assim a forma e
característica do profissional designado.
Hoje, o Serviço Social engendrado no contexto das diversas complexidades vem
acompanhando o desenvolvimento do homem enquanto ser social, cujo processo de
socialização é influenciado pelo meio cultural, político e econômico em que vive. A nós
profissionais cabe perceber a realidade, construir propostas a partir de demandas dos
usuários.
O SERVIÇO SOCIAL E A POPULAÇÃO ADSCRITA
Segundo Pastor (2003), a cidadania está articulada ao exercício da educação,
através do processo de aprendizado social. Por sua vez este colabora para novas formas
de relações, que contribuem para a construção de sujeitos sociais ativos, no exercício
pleno dos direitos e da cidadania.
A pesquisa foi realizada em área adscrita de um Centro de Saúde localizado no
Distrito sanitário do Barreiro. O bairro é especificamente um local de maior
vulnerabilidade e risco, em um território de acentuado contraste social, cuja população é
de aproximadamente 18000 (dezoito mil) usuários têm-se os mais variados extratos
socioeconômicos. Há habitações localizadas em áreas de risco geológico e/ou estrutural,
próximas à encostas e /ou córregos não canalizados, sem saneamento básico e com ou
sem suporte familiar quanto a questões de saúde. Casos de idosos vítimas de
explorações, negligenciados quanto a necessidades básicas, alimentação, higiene e
recursos financeiros retirados pelos familiares.
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SERVIÇO SOCIAL E A ASSISTÊNCIA AOS IDOSOS
A velhice poderia ou deveria ser a melhor fase da vida, filhos adultos, netos para
curtir, aposentadoria, saúde... no entanto, na sociedade capitalista é vista como declínio,
devido sua perda da capacidade produtiva.
No C.S os idosos são os usuários mais assíduos, constantes demanda para
assistência troca de receitas, grupos de diabéticos e até mesmo demandas para os
familiares, por exemplo, filhos, maridos, esposas que não se tratam e recusa-se a
procurar assistência.
Segundo Mascaro (2004), o envelhecimento se difere para o rico e para o pobre,
para o doente e para o são, para o dependente e para o independente, para o homem e
para a mulher, para o idoso que trabalha e para o aposentado, para o que mora em casa e
o que reside em asilo. Aos pobres percebe-se ainda mais o empobrecimento, moradias
ruins, à solidão que os leva a um sentimento de decadência que conduz ao adoecimento,
a dependência econômica dos filhos, ou os filhos dependem economicamente dos pais.
Na esfera do suprimento das necessidades humanas, a renda é um dos
importantes meios para a satisfação das necessidades básicas. Ao basear-se na renda
como um dos caminhos para o atendimento às demandas dos idosos, Siqueira (2007),
propõe a universalização do Benefício de Prestação Continuada (BPC), regulamentado
pela LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social no seu Art. 2º, inciso V, a fim de
assegurar à parcela mais pobre da população idosa a possibilidade de sustentar-se e
participar mais ativamente da vida em sociedade.
O idoso é tratado com destaque na CF/88, no capítulo VII, do Título VIII e
também na PNI – Política Nacional do Idoso, ambos, tratam de assegurar o cuidado
familiar, estatal e social para com os idosos. Estas importantes ferramentas com
características normativas de direito assistencial, tem por função a garantia dos direitos,
o que inclui a autonomia, a integração e participação efetiva como instrumento de
cidadania.
Quanto a aposentadoria, é considerada como um direito de cidadania
conquistado pelos trabalhadores, é fruto das lutas e reivindicações em prol da
manutenção de uma vida digna após 30 / 35 anos dedicados ao trabalho e ao
desenvolvimento do país.
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Paradoxalmente é justamente neste período que ocorrem os maiores gastos com
a saúde devido às consequências do processo de envelhecimento, a fragilização do
corpo... observa-se também, uma maior demanda de cuidados relacionados a adaptação
das moradias no que se refere as escadas, corrimãos, rampas e banheiros. Contudo,
torna-se muitas vezes inviável tais adaptações ou cuidados, pois até mesmo as relações
desiguais do contexto social e econômico refletem em suas realidades através das
moradias construídas em lugares de topografia acidentada e difícil acesso, com esta do
relato a seguir.
Relato da Experiência
A experiência exitosa em que a intervenção do serviço social foi crucial, está
relacionada a uma família cuja composição é de cinco pessoas adultas, sendo dois
idosos (*Pedro, *Ana) responsáveis financeiramente pela residência, dois filhos casados
(*Lara, *Carlos) que não residem com os pais e outro filho adulto (*John), que não
trabalha formalmente (recolhe materiais recicláveis para vender), adicto, possui uma
relação conflituosa com o pai sr. Pedro que segundo a sra. Ana, foi um homem violento
que batia nos filhos quando crianças e adolescentes e também nela, fato que a leva a
crer que o problema da adicção do filho esteja intimamente relacionado as constantes
brigas em que a violência física e verbal eram recorrentes, apenas com a mãe, John
mantém algum diálogo. Quanto aos filhos casados, Lara reside em outra região da
cidade tem pouco contato com os pais, o outro filho Carlos é casado, reside no mesmo
bairro que os pais, porém não mantinha contato frequente com estes.
O serviço social teve conhecimento do caso em reunião de equipe em que a ACS
relatou as condições de higiene da habitação que era preocupante, tratava-se de uma
família conhecida da equipe de PSF, mas que até determinado momento as ações
individuais não tinham apresentado efeito. Em equipe pensou-se na construção de uma
intervenção - plano de cuidados amplo que passaria por setores que até então não
tínhamos contato direto, a primeira ação seria uma visita domiciliar em que foi possível
observar que para além das consultas agendadas para a idosa haveria a necessidade de
um trabalho multiprofissional.
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Dando continuidade as ações necessárias para assistência àquela família,
definiu-se em reuniões de equipe que faríamos um trabalho intersetorial diante da
necessidade de se intervir desde a saúde passando até pela engenharia. Para compormos
este projeto de intervenção, a priori foram agendadas reuniões com as gerências, com a
equipe de obras da secretaria municipal, com a equipe de assistência social e com o
serviço de limpeza urbana – SLU, nas quais foram expostas a situação e as nossas idéias
para as intervenções a curto e longo prazo, estabelecendo um cronograma inicial. A
intervenção da equipe de assistência social através do CRAS seria preciso, pois, a
família mantém forte vínculo com as profissionais deste serviço. Tendo em vista a
precariedade da residência da família, apresentamos e propomos uma reforma no
imóvel, entretanto a opção melhor seria sim outro imóvel o que foi aceito pela família.
Necessário seria então que a família alugasse um imóvel pelo período em que a
reforma estivesse em curso contamos com a participação involuntária do filho Carlos
que não se dispunha a acompanhar os pais em nenhuma das reuniões, fato que foi
constatado também pelo CRAS que em acompanhamento à família, conhecia o
abandono dos pais pelo filho Carlos e a filha Lara, tendo sido necessária a intervenção
de outros serviços de atenção aos idosos com direitos violados, o PAEFI para que os
filhos se dispusessem a acompanhá-los, seja na questão da moradia, seja nas questões de
saúde.
Iniciada a reforma do imóvel, com previsão de termino em três meses, durante
este período a família arcará com aluguel de outro imóvel. Quanto a saúde dos idosos e
do filho, mantivemos as consultas para a idosa e regularmente visitávamos a família
com intuito de aproximarmos do sr. Pedro para que aceitasse comparecer a consulta
agendada. Outra difícil abordagem foi com o filho John nas visitas não o
encontrávamos, pois, segundo sua mãe saia cedo para juntar recicláveis, conversamos
com a sra. Ana e expusemos a situação e a necessidade de conversar com John, fato que
Ana concordou e aceitou a “convencê-lo” a nos aguardar antes de sair para trabalhar.
Outra visita sem sucesso, John não nos aguardou.
A reconstrução do imóvel demorou mais que o planejado, pois, situações
externas como as chuvas do período e o “extravio” de materiais, tijolos, ferragens eram
constantes e assim era preciso nova remessa o que demandava dias, a definição pela
continuação ou interrupção até que se conseguisse cercar todo o local. Passado 8 meses
da reconstrução, a família retorna ao endereço de origem.
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Contatos e encaminhamento para primeira consulta no Cersam AD/B para John,
que se recusa porém, aceita o atendimento do médico da equipe.
A família foi incluída no Programa Maior cuidado que destina uma cuidadora
para o sr. Pedro, e sua filha Lara passou a ser o suporte familiar.
Esta experiência foi fundamental para que como residente pudesse perceber as
nuances do trabalho interdisciplinar e intersetorial, como se dão as relações de poder
entre os profissionais das políticas envolvidas, relações estas que perpassa o
entendimento amplo de saúde X doença, vulnerabilidade X direito social, os vínculos
criados entre usuários e profissionais, sejam os que estejam mais a frente na intervenção
com a família como também de toda a equipe. Trabalhar intersetorialmente neste caso,
tornou-se ainda mais delicado, pois, há visões dispares quanto aos direitos dos cidadãos
em especial de idosos.
Na intervenção com esta família conseguimos com sucesso avançar em vários
pontos importantíssimos, a reconstrução da casa foi primordial para a continuidade da
assistência à saúde dos idosos.
Ações a nível interdisciplinar, multiprofissional que propiciem melhorias nas
condições de vida a este segmento etário, para nós do Serviço Social, é imprescindível a
atualização dos subsídios teóricos e práticos, a fim de fomentar a efetivação das
políticas sociais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Relatar experiências não é algo fácil, é um caminho árduo para se definir quais
são as que melhor representam o trabalho inter – multidisciplinar. Residente em um
programa de residência multiprofissional, compondo a equipe de apoio ao PSF, percebi
os desafios que se impõe aos profissionais tendo em vista entre outros motivos o pouco
preparo para o trabalho interdisciplinar.
Desafios em perceber as questões saúde X doença para além do sistema médicocentrado, modelo de atenção que foi discutido exaustivamente e lapidado nas diversas
aulas e discussões do grupo, que faz pensar, analisar as inúmeras situações nas quais,
profissional e usuários estão envolvidos. Entretanto, como realizá-lo se os
determinantes sociais são complexos, tal qual o é a sociedade atual e, sobretudo a
dinâmica liberal imposta às políticas públicas?
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Através da interdisciplinaridade pode-se construir um espaço democrático nas
relações de trabalho, uma vez que matriciar os casos inclui necessariamente o
envolvimento de todos os profissionais da equipe, entretanto, ainda há dificuldades
quanto às participações nos matriciamentos entender sua real importância, mostrando o
quão incipientes são os entendimentos e a aceitação profissional sobre este espaço de
construção de um plano de tratamento e atenção que se pretende integral.
Percebi e penso que se faz necessário treinamento para os profissionais do PSF,
seja os mais experientes no serviço, ou aqueles com pouco experiência, mas que não
tem esta visão, ou porque vem de outros espaços como o hospitalar ou o acadêmico em
que a interdisciplinaridade não se constitui como estratégia de trabalho. Por vezes
demonstram serem autoritários, avessos ao novo, habituados a fragmentação do
conhecimento, ignorando as mudanças de paradigma de atenção à saúde, lacuna que a
educação permanente intenta preencher.
A este novo profissional que atuará frente a este novo paradigma, sua prática
será de atenção integral, tendo a cidadania como objetivo. Buscar por novos parceiros
neste processo, as demais políticas públicas, visto que somente a saúde não dará conta.
Para nós assistentes sociais a importância do trabalho intersetorial,
multidisciplinar se dá em razão de reconhecermos a necessária interlocução entre as
políticas públicas no atendimento as necessidades dos usuários – cidadãos.
A intersetorialidade proporciona a nós profissionais o real conhecimento do
território em que atuamos, as diversas composições familiares presentes, a vida dos que
trabalham e em que trabalham, dos que não trabalham e porque não o fazem, das
residências salubres ou não, se vivem e vivenciam situações de violência se entende que
são violências situações a que estão submetidos (as),e enfim em que estes aspectos
determinam ou não, seu modo de vida e sua saúde. Desta forma a assistência pode ser
mais apurada, mais sensível, menos fatigante pois, surge a possibilidade de interlocução
com outros profissionais que não da saúde mas que são partes dos processos, que atende
e conhece os usuários.
Ora, difícil é considerar que se chegará a uma qualidade da assistência ótima não
conhecendo e considerando os vários aspectos que a vulnerabilidade se mostra na
sociedade, especificamente na área de abrangência em que se trabalha. Insistir somente
na medicação apenas abafará questões que estejam afetando sua subjetividade,
colocando uma máscara em si para não se ver, não sentir algo, delegando ao outro a
responsabilidade de curar-se, isentando-se de tal.
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Aos profissionais atuar interdisciplinarmente em uma perspectiva de empoderar
aos usuários social, política e individualmente na relação consigo e consequentemente
sua saúde, que advém das suas condições salubres de vida cotidiana.
Referências
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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>
acesso em 03/07/2015
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14
apresentado em 28/01/2005, Aprovado em 26/06/2006, Versão final apresentada em
06/09/2006.
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