PARTICIPAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM EQUIPES MULTIDISCIPLINARES DE SAÚDE - UM RELATO DE EXPERIENCIA Lourdes dos Santos Veloso 1 RESUMO Este relato de experiência teve como mote as intervenções, ações e atividades desenvolvidas durante os dois anos como residente da APS no serviço social e sua relevância para às equipes de PSF. Realizou-se por meio da pesquisa qualitativa em que a observação participante propiciou maior interação profissional X usuário. Buscou, focalizar no fazer profissional das assistentes sociais, a sua preparação para o trabalho intersetorial e multidisciplinar através do qual se comprova os compromissos com os usuários, familiares e comunidade, seus direitos e deveres. A experiência é de uma intervenção propostas pelo serviço social e seu impacto na saúde enquanto objetivo final de atuação nesta política. Artigos e livros fundamentam as formas de se relatar as experiências sobre idosos. Palavras chave: Residente. APS. PSF. Intersetorial. Multidisciplinar. 1 Assistente Social – Universidade Católica de Minas Gerais - PUC MINAS. Ex-residente em Atenção Primária / Saúde da família do Programa de Residência Multiprofissional. Hospital Municipal Odilon Behrens - 2014/2016. 3 INTRODUÇÃO A atuação da (o) assistente social, em equipes multidisciplinares em uma Unidade Básica de Saúde - UBS, os desafios enfrentados no dia-a-dia do seu fazer profissional, a busca pelo reconhecimento e legitimação dos direitos dos usuários enquanto cidadãos com direito à assistência a saúde de qualidade, demonstrar aos membros das equipes interdisciplinares a forma, a função e o lugar da assistência social enquanto política pública destinada a quem dela mais necessitar é um desafio diário. A universalidade vem acompanhada da integralidade, neste entendimento é necessário uma forte e ampla articulação entre os núcleos de saberes das diversas disciplinas, um grande instrumento é o trabalho multi / interdisciplinar através do qual é possível ver sua influência na prática cotidiana. A Constituição Federal promulgada em 1988 legitima a saúde como direito de todos e dever do Estado, integrante a seguridade social teve avanços constitucionais significativos, como o Projeto da Reforma Sanitária em que se propôs o SUS – Sistema Único de Saúde regulamentado pela LOS – Lei Orgânica da Saúde de 1990. Desde então a saúde passou por grandes mudanças em sua estrutura organizativa principalmente na atenção básica, pois é o primeiro nível de atenção, em que o atendimento foi ao longo do tempo se aprimorando na intenção de conjugar prevenção, promoção e tratamento. Ofertando ações de promoção e prevenção em que o foco é a melhoria na qualidade de vida dos usuários, com a participação de outros profissionais não médicos que integram o serviço, mas que por vezes não são conhecidas suas funções em uma UBS, como os profissionais de apoio, seja o serviço social, a fisioterapia ou a terapia ocupacional por exemplo, proporcionando uma nova visão da relação saúde X doença, entendendo-o em seus aspectos biopsicossociais, e levando-os a analisar que o processo de se ter saúde não é necessariamente uma direção única em que o tratamento seja realizado na visão médico centrada. Neste relato de experiência será evidenciado uma intervenção proposta, projetadas e desenvolvidas em que a importância da(o)assistente social em equipes multidisciplinares de saúde, foram balizadoras dos projetos e resultados alcançados, suas contribuições e impactos na vida dos sujeitos usuários e na organização das instituições – atenção primária à saúde. Para este trabalho utilizou-se da pesquisa descritiva / qualitativa - um relato de experiência. A pesquisa qualitativa contempla a 4 subjetividade, os sentimentos próprios dos sujeitos envolvidos, o campo de valores, as percepções. “Não contempla a objetividade e a estatística, suas hipóteses não tem obrigatoriedade de serem comprovadas por dados de verificação” (Minayo, 1994). Assim, foi priorizada a interpretação dos fenômenos e a produção dos significados atribuídos pelos sujeitos na relação entre Estado / Família buscando a compreensão da realidade vivida nos contextos sociais, saúde, políticos, econômicos, culturais e religiosos. A POLITICA DE SAÚDE NA CIDADE DE BELO HORIZONTE - Belo Horizonte e o Distrito Barreiro Belo Horizonte em seus 118 anos possui uma população estimada em torno de 2.491.109 habitantes (IBGE - 2014) distribuídos em suas nove regionais e igualmente em nove distritos sanitários. Especificamente o Distrito sanitário Barreiro abrange aproximadamente 64 bairros e ou aglomerados. Os equipamentos da saúde que compõem a rede da assistência aos usuários, são 20 centros de saúde, 1 unidade de pronto atendimento UPA, 1 centro de referência em saúde mental – CERSAM, 1 centro de referência em saúde do trabalhador CEREST, 1 farmácia distrital, 1 centro de referência em álcool e outras drogas CERSAM-A/D, 11 academias da cidade, 1 centro de convivência. Compondo a rede de assistência, há também 2 unidades da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais - FHEMIG: os hospitais Eduardo de Menezes e Júlia Kubitscheck. (portalpbh) A população do Barreiro é de aproximadamente 283.544 habitantes. (Censo 2010); possui uma população mais jovem com crescimento significativo, em relação aos demais distritos sanitários. “A região faz limite com os municípios de Contagem, Ibirité, Brumadinho e Nova Lima. Segundo Censo 2010, são 54 bairros e 18 vilas, com 70 mil domicílios que abrigam 283.544 habitantes. O território de 53km² de extensão atrai novos moradores e empresas que impulsionam o crescimento”.(Portalpbh.pbh.gov.br) 5 É uma região em que o surgimento de bairros se deu em áreas ocupadas das antigas fazendas da região de década de 1970, sem urbanização, infraestrutura, transportes, foi através da união dos moradores que as melhorias foram conquistadas, há áreas mais e outras menos vulneráveis. Ao entender que a vulnerabilidade às doenças e situações adversas da vida distribui-se de maneira diferente segundo as regiões, os grupos sociais, os indivíduos e relaciona-se com a pobreza, com as crises econômicas e com o nível educacional, amplia-se a visão de que o indivíduo seja única e exclusivamente responsável pela sua saúde se encontramos falta de condições salubres, de segurança e educação dignas para significativo número de pessoas. A vulnerabilidade está relacionada a várias situações e pode ser considerado importante aspecto para análises, como por exemplo, o índice de vulnerabilidade intra-urbano que é medido pelo IVS: “O Índice de Vulnerabilidade da Saúde – IVS – é um indicador sintético que agrega vários indicadores sociais, econômicos e ambientais, mais ou menos complexos, para analisar as características de grupos populacionais vivendo em determinadas áreas geográficas” (SMSA, 1998). Tais indicadores sinalizam que o trabalho do assistente social percorre uma lógica que os agrega, os considera em sua importância sendo um dos determinantes de saúde ou doença de uma população. Neste relato de experiência optei como objeto de estudo situações e ações em que uma família de idosos tiveram seus direitos violados. Dado que seria lógico a interação entre as equipes não apenas por compor-se de vários serviços - trabalho intersetorial, mas proporcionou uma integração entre nós profissionais para que fosse possível planejar e propor ações à família, para isto foram necessárias visitas domiciliares planejadas com datas e horários, reuniões, cronograma das ações entre as equipes. Para o serviço social o trabalho com as famílias não é o somente o ponto de partida é fundamental no processo saúde X doença, atenção X negligência, desinformação X informação, autocuidado X autonegligência, entre outros, assim como nos diz o SUAS - Sistema Único da Assistência Social – as diretrizes do SUAS priorizam a matricialidade sócio familiar como eixo estruturante do trabalho da assistente social. Quanto a intersetorialidade e a multidisciplinaridade do trabalho em equipe, Sousa (2006), nos diz que “uma equipe não pode ser definida como um conjunto de 6 trabalhadores, na qual cada um desempenha uma função específica”. As equipes devem compor-se de profissionais de formações diferentes, respeitando-lhes as especificidades, garantindo-lhes a multiplicidade de suas tendências e a troca de experiências. A partir da definição do novo modelo de organização do processo de trabalho em saúde, que se objetiva multiprofissional, intersetorial, integral, equânime... compreendemos que se faz primordial relatar e analisar essa nova lógica de cuidados, em que nenhum saber, teoricamente, ocupa o centro. CARACTERIZAÇÃO DA SAÚDE EM BELO HORIZONTE Belo Horizonte já possuía uma rede de saúde estruturada quando da implementação da Estratégia Saúde da Família – E.S. F, articulando os setores e atores que a compunham. Quando em Fevereiro de 2002 foram implantadas as primeiras equipes de saúde da família em BH foi proposto pela SMSA - Secretaria Municipal de Saúde aos trabalhadores a adesão a esta nova forma de atendimento aos usuários, na melhoria do acesso á saúde e o desenvolvimento de ações promocionais e preventivas seriam as chaves deste programa denominado PSF – Programa Saúde da Família em que a responsabilidade da assistência seria a princípio às populações adscritas consideradas de maiores riscos para adoecerem conforme os índices de vulnerabilidade. “As equipes implantadas ficaram responsáveis pela assistência à saúde das populações consideradas de maior risco de adoecer e morrer, conforme o IVS, significando mudanças processuais por dentro da rede de serviços”(AVANÇOS E DESAFIOS NA ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE EM BH SMSA, Pag.33). A formação generalista do assistente social amplia as áreas de atuação deste profissional, entretanto, ela não é suficiente para que se dê conta das demandas da realidade a qual está inserida. Através desta formação ampla que o Serviço Social oferece, se abre um leque de possibilidades para a atuação profissional. Frente à dinâmica da realidade, o (a) assistente social necessita permanecer em constante processo de aprendizagem, para dar conta de lidar com as situações próprias deste novo modelo de atendimento, em que o conhecimento da rede própria e de “apoio” será de grande importância, pois, mais que outros profissionais é o (a) assistente social que necessita atuar intersetorialmente uma vez que a questão social é perpassada 7 por inúmeras situações cotidianas. É preciso enfrentar os medos e os obstáculos incessantemente, munir-se de conhecimentos e novas estratégias. A intervenção da (o) assistente social não é uma ação pontual, é um processo em que a cada momento há modificações do objeto, na prática. Assim, a prática do serviço social é variada e complexa, o seu objeto, produto e instrumentais não podem ser determinados de forma precisa, suas categorias de análises dependem de condições histórico-sociais e da realidade imposta. Nas unidades básicas de saúde - UBS o serviço social é caracterizado como de apoio, entretanto, a atuação da (o) profissional perpassa várias situações cotidianas dificultando a definição linear de fluxos estabelecidos, assumindo assim a forma e característica do profissional designado. Hoje, o Serviço Social engendrado no contexto das diversas complexidades vem acompanhando o desenvolvimento do homem enquanto ser social, cujo processo de socialização é influenciado pelo meio cultural, político e econômico em que vive. A nós profissionais cabe perceber a realidade, construir propostas a partir de demandas dos usuários. O SERVIÇO SOCIAL E A POPULAÇÃO ADSCRITA Segundo Pastor (2003), a cidadania está articulada ao exercício da educação, através do processo de aprendizado social. Por sua vez este colabora para novas formas de relações, que contribuem para a construção de sujeitos sociais ativos, no exercício pleno dos direitos e da cidadania. A pesquisa foi realizada em área adscrita de um Centro de Saúde localizado no Distrito sanitário do Barreiro. O bairro é especificamente um local de maior vulnerabilidade e risco, em um território de acentuado contraste social, cuja população é de aproximadamente 18000 (dezoito mil) usuários têm-se os mais variados extratos socioeconômicos. Há habitações localizadas em áreas de risco geológico e/ou estrutural, próximas à encostas e /ou córregos não canalizados, sem saneamento básico e com ou sem suporte familiar quanto a questões de saúde. Casos de idosos vítimas de explorações, negligenciados quanto a necessidades básicas, alimentação, higiene e recursos financeiros retirados pelos familiares. 8 SERVIÇO SOCIAL E A ASSISTÊNCIA AOS IDOSOS A velhice poderia ou deveria ser a melhor fase da vida, filhos adultos, netos para curtir, aposentadoria, saúde... no entanto, na sociedade capitalista é vista como declínio, devido sua perda da capacidade produtiva. No C.S os idosos são os usuários mais assíduos, constantes demanda para assistência troca de receitas, grupos de diabéticos e até mesmo demandas para os familiares, por exemplo, filhos, maridos, esposas que não se tratam e recusa-se a procurar assistência. Segundo Mascaro (2004), o envelhecimento se difere para o rico e para o pobre, para o doente e para o são, para o dependente e para o independente, para o homem e para a mulher, para o idoso que trabalha e para o aposentado, para o que mora em casa e o que reside em asilo. Aos pobres percebe-se ainda mais o empobrecimento, moradias ruins, à solidão que os leva a um sentimento de decadência que conduz ao adoecimento, a dependência econômica dos filhos, ou os filhos dependem economicamente dos pais. Na esfera do suprimento das necessidades humanas, a renda é um dos importantes meios para a satisfação das necessidades básicas. Ao basear-se na renda como um dos caminhos para o atendimento às demandas dos idosos, Siqueira (2007), propõe a universalização do Benefício de Prestação Continuada (BPC), regulamentado pela LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social no seu Art. 2º, inciso V, a fim de assegurar à parcela mais pobre da população idosa a possibilidade de sustentar-se e participar mais ativamente da vida em sociedade. O idoso é tratado com destaque na CF/88, no capítulo VII, do Título VIII e também na PNI – Política Nacional do Idoso, ambos, tratam de assegurar o cuidado familiar, estatal e social para com os idosos. Estas importantes ferramentas com características normativas de direito assistencial, tem por função a garantia dos direitos, o que inclui a autonomia, a integração e participação efetiva como instrumento de cidadania. Quanto a aposentadoria, é considerada como um direito de cidadania conquistado pelos trabalhadores, é fruto das lutas e reivindicações em prol da manutenção de uma vida digna após 30 / 35 anos dedicados ao trabalho e ao desenvolvimento do país. 9 Paradoxalmente é justamente neste período que ocorrem os maiores gastos com a saúde devido às consequências do processo de envelhecimento, a fragilização do corpo... observa-se também, uma maior demanda de cuidados relacionados a adaptação das moradias no que se refere as escadas, corrimãos, rampas e banheiros. Contudo, torna-se muitas vezes inviável tais adaptações ou cuidados, pois até mesmo as relações desiguais do contexto social e econômico refletem em suas realidades através das moradias construídas em lugares de topografia acidentada e difícil acesso, com esta do relato a seguir. Relato da Experiência A experiência exitosa em que a intervenção do serviço social foi crucial, está relacionada a uma família cuja composição é de cinco pessoas adultas, sendo dois idosos (*Pedro, *Ana) responsáveis financeiramente pela residência, dois filhos casados (*Lara, *Carlos) que não residem com os pais e outro filho adulto (*John), que não trabalha formalmente (recolhe materiais recicláveis para vender), adicto, possui uma relação conflituosa com o pai sr. Pedro que segundo a sra. Ana, foi um homem violento que batia nos filhos quando crianças e adolescentes e também nela, fato que a leva a crer que o problema da adicção do filho esteja intimamente relacionado as constantes brigas em que a violência física e verbal eram recorrentes, apenas com a mãe, John mantém algum diálogo. Quanto aos filhos casados, Lara reside em outra região da cidade tem pouco contato com os pais, o outro filho Carlos é casado, reside no mesmo bairro que os pais, porém não mantinha contato frequente com estes. O serviço social teve conhecimento do caso em reunião de equipe em que a ACS relatou as condições de higiene da habitação que era preocupante, tratava-se de uma família conhecida da equipe de PSF, mas que até determinado momento as ações individuais não tinham apresentado efeito. Em equipe pensou-se na construção de uma intervenção - plano de cuidados amplo que passaria por setores que até então não tínhamos contato direto, a primeira ação seria uma visita domiciliar em que foi possível observar que para além das consultas agendadas para a idosa haveria a necessidade de um trabalho multiprofissional. 10 Dando continuidade as ações necessárias para assistência àquela família, definiu-se em reuniões de equipe que faríamos um trabalho intersetorial diante da necessidade de se intervir desde a saúde passando até pela engenharia. Para compormos este projeto de intervenção, a priori foram agendadas reuniões com as gerências, com a equipe de obras da secretaria municipal, com a equipe de assistência social e com o serviço de limpeza urbana – SLU, nas quais foram expostas a situação e as nossas idéias para as intervenções a curto e longo prazo, estabelecendo um cronograma inicial. A intervenção da equipe de assistência social através do CRAS seria preciso, pois, a família mantém forte vínculo com as profissionais deste serviço. Tendo em vista a precariedade da residência da família, apresentamos e propomos uma reforma no imóvel, entretanto a opção melhor seria sim outro imóvel o que foi aceito pela família. Necessário seria então que a família alugasse um imóvel pelo período em que a reforma estivesse em curso contamos com a participação involuntária do filho Carlos que não se dispunha a acompanhar os pais em nenhuma das reuniões, fato que foi constatado também pelo CRAS que em acompanhamento à família, conhecia o abandono dos pais pelo filho Carlos e a filha Lara, tendo sido necessária a intervenção de outros serviços de atenção aos idosos com direitos violados, o PAEFI para que os filhos se dispusessem a acompanhá-los, seja na questão da moradia, seja nas questões de saúde. Iniciada a reforma do imóvel, com previsão de termino em três meses, durante este período a família arcará com aluguel de outro imóvel. Quanto a saúde dos idosos e do filho, mantivemos as consultas para a idosa e regularmente visitávamos a família com intuito de aproximarmos do sr. Pedro para que aceitasse comparecer a consulta agendada. Outra difícil abordagem foi com o filho John nas visitas não o encontrávamos, pois, segundo sua mãe saia cedo para juntar recicláveis, conversamos com a sra. Ana e expusemos a situação e a necessidade de conversar com John, fato que Ana concordou e aceitou a “convencê-lo” a nos aguardar antes de sair para trabalhar. Outra visita sem sucesso, John não nos aguardou. A reconstrução do imóvel demorou mais que o planejado, pois, situações externas como as chuvas do período e o “extravio” de materiais, tijolos, ferragens eram constantes e assim era preciso nova remessa o que demandava dias, a definição pela continuação ou interrupção até que se conseguisse cercar todo o local. Passado 8 meses da reconstrução, a família retorna ao endereço de origem. 11 Contatos e encaminhamento para primeira consulta no Cersam AD/B para John, que se recusa porém, aceita o atendimento do médico da equipe. A família foi incluída no Programa Maior cuidado que destina uma cuidadora para o sr. Pedro, e sua filha Lara passou a ser o suporte familiar. Esta experiência foi fundamental para que como residente pudesse perceber as nuances do trabalho interdisciplinar e intersetorial, como se dão as relações de poder entre os profissionais das políticas envolvidas, relações estas que perpassa o entendimento amplo de saúde X doença, vulnerabilidade X direito social, os vínculos criados entre usuários e profissionais, sejam os que estejam mais a frente na intervenção com a família como também de toda a equipe. Trabalhar intersetorialmente neste caso, tornou-se ainda mais delicado, pois, há visões dispares quanto aos direitos dos cidadãos em especial de idosos. Na intervenção com esta família conseguimos com sucesso avançar em vários pontos importantíssimos, a reconstrução da casa foi primordial para a continuidade da assistência à saúde dos idosos. Ações a nível interdisciplinar, multiprofissional que propiciem melhorias nas condições de vida a este segmento etário, para nós do Serviço Social, é imprescindível a atualização dos subsídios teóricos e práticos, a fim de fomentar a efetivação das políticas sociais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Relatar experiências não é algo fácil, é um caminho árduo para se definir quais são as que melhor representam o trabalho inter – multidisciplinar. Residente em um programa de residência multiprofissional, compondo a equipe de apoio ao PSF, percebi os desafios que se impõe aos profissionais tendo em vista entre outros motivos o pouco preparo para o trabalho interdisciplinar. Desafios em perceber as questões saúde X doença para além do sistema médicocentrado, modelo de atenção que foi discutido exaustivamente e lapidado nas diversas aulas e discussões do grupo, que faz pensar, analisar as inúmeras situações nas quais, profissional e usuários estão envolvidos. Entretanto, como realizá-lo se os determinantes sociais são complexos, tal qual o é a sociedade atual e, sobretudo a dinâmica liberal imposta às políticas públicas? 12 Através da interdisciplinaridade pode-se construir um espaço democrático nas relações de trabalho, uma vez que matriciar os casos inclui necessariamente o envolvimento de todos os profissionais da equipe, entretanto, ainda há dificuldades quanto às participações nos matriciamentos entender sua real importância, mostrando o quão incipientes são os entendimentos e a aceitação profissional sobre este espaço de construção de um plano de tratamento e atenção que se pretende integral. Percebi e penso que se faz necessário treinamento para os profissionais do PSF, seja os mais experientes no serviço, ou aqueles com pouco experiência, mas que não tem esta visão, ou porque vem de outros espaços como o hospitalar ou o acadêmico em que a interdisciplinaridade não se constitui como estratégia de trabalho. Por vezes demonstram serem autoritários, avessos ao novo, habituados a fragmentação do conhecimento, ignorando as mudanças de paradigma de atenção à saúde, lacuna que a educação permanente intenta preencher. A este novo profissional que atuará frente a este novo paradigma, sua prática será de atenção integral, tendo a cidadania como objetivo. Buscar por novos parceiros neste processo, as demais políticas públicas, visto que somente a saúde não dará conta. Para nós assistentes sociais a importância do trabalho intersetorial, multidisciplinar se dá em razão de reconhecermos a necessária interlocução entre as políticas públicas no atendimento as necessidades dos usuários – cidadãos. A intersetorialidade proporciona a nós profissionais o real conhecimento do território em que atuamos, as diversas composições familiares presentes, a vida dos que trabalham e em que trabalham, dos que não trabalham e porque não o fazem, das residências salubres ou não, se vivem e vivenciam situações de violência se entende que são violências situações a que estão submetidos (as),e enfim em que estes aspectos determinam ou não, seu modo de vida e sua saúde. Desta forma a assistência pode ser mais apurada, mais sensível, menos fatigante pois, surge a possibilidade de interlocução com outros profissionais que não da saúde mas que são partes dos processos, que atende e conhece os usuários. Ora, difícil é considerar que se chegará a uma qualidade da assistência ótima não conhecendo e considerando os vários aspectos que a vulnerabilidade se mostra na sociedade, especificamente na área de abrangência em que se trabalha. Insistir somente na medicação apenas abafará questões que estejam afetando sua subjetividade, colocando uma máscara em si para não se ver, não sentir algo, delegando ao outro a responsabilidade de curar-se, isentando-se de tal. 13 Aos profissionais atuar interdisciplinarmente em uma perspectiva de empoderar aos usuários social, política e individualmente na relação consigo e consequentemente sua saúde, que advém das suas condições salubres de vida cotidiana. Referências BELO HORIZONTE: Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. Avanços de Desafios na Organização da Atenção Básica à Saúde em Belo Horizonte. Organizadora, Maria Aparecida Turci - HMP Comunicação, 2008. 432 p. BELO HORIZONTE: Secretaria Municipal de Saúde – Atenção Primária e seu Papel nas Redes de Atenção a Saúde - Seminário de Equivalência 2014. BRASIL. Constituição 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm> acesso em 03/07/2015 Histórias de bairros [de] Belo Horizonte: Regional Barreiro / coordenadores, Cintia Aparecida Chagas Arreguy, Raphael Rajão Ribeiro – Belo Horizonte: APCBH; ACAPBH, 2008. 62 p. Índice de Vulnerabilidade a Saúde de BH – 2012 Disponível em: <http://www.portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/files.do?evento...ivsauderisco2012.pdf> acesso em 16/10/2015 JÚNIOR Veiga, Celso Leal da, PEREIRA, Marcelo Henrique; BRASIL (Estatuto do Idoso 2003), Comentários ao Estatuto do Idoso, São Paulo, ed. Ltr, 2005. P 136. MINAYO, Maria Cecília de Souza et al. Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade, Petrópolis: RJ, ed. Vozes, 1994. <http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxon omiaMenuPortal&app=saude&tax=22643&lang=pt_BR&pg=5571&taxp=0&>acesso em 03/11/2015 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Pró Reitoria de Graduação. Sistema de Bibliotecas. Padrão Puc Minas de Normalização: normas da ABNT para apresentação de trabalhos científicos, teses, dissertações e monografias. Belo Horizonte, 2006. Disponível em: <www.pucminas.br/documentos/normalização_monografias.pdf> Acesso em: 04/01/2016 SANCHEZ, Alba Idaly; BERTOLIZZI, Maria Rita. Pode o conceito de vulnerabilidade apoiar a construção do conhecimento em Saúde Coletiva? Artigo 14 apresentado em 28/01/2005, Aprovado em 26/06/2006, Versão final apresentada em 06/09/2006.