TEORIA DA APRENDIZAGEM – UM BREVE PANORAMA : As mediações com professores de Venda Nova do Imigrante Sonia Maria de Oliveira Ferreira Este artigo tem como objetivo apresentar as principais correntes teóricas que abarcam o desenvolvimento humano, focando na teoria da aprendizagem, na Educação Infantil e Séries Iniciais. Para podermos ter um panorama das teorias, focamos inicialmente no Behaviorismo, que provém da palavra behavoir, que tem como significado “comportamento”. São os estudos do comportamento humano, realizados por vários teóricos, tendo John Watson e Bhurrus Frederick Skinner como os principais. Segundo Ferrari (Nova Escola online), Skinner foi considerado o “cientista do comportamento e do aprendizado”, reitera que “para o behaviorista norteamericano, a educação deve ser planejada passo a passo, de modo a obter os resultados desejados na modelagem do aluno”.(griffo nosso). Essa teoria traz como premissa o comportamento que é entendido como “um conjunto de reações dos organismos aos estímulos externos”. O homem molda-se a partir do ambiente em que vive. O desenvolvimento da sua teoria traz como conceito-chave o “condicionamento operante” que baseado em suas palavras “o ambiente é modificado e produz conseqüências que agem de novo sobre ele, alterando a probabilidade de ocorrência futura semelhante.” (Ferrari, p. 2). Como citado anteriormente, a modelagem é a reforço, que se baseia no conceito-chave de Skinner, que é entendido como “um mecanismo de aprendizagem de um novo comportamento”(Ferrari, p.2). O estímulo ou reforço pode ser positivo ou negativo: O positivo se dá depois de um ato realizado, em a recompensa, como o esforço que o ratinho faz dentro de uma caixa, andando dentro de uma roda, que à medida que anda, uma alavanca lança alimento, que é a recompensa do esforço realizado. O negativo, é a ação que evita que algo indesejado aconteça, como por exemplo, uma mãe que deseja que o filho pequeno não chegue perto de um fogão, enquanto o forno está quente, coloca a mão da criança rapidamente na porta do forno, para que sinta o calor, e uma leve “dorzinha”, assim todas as vezes que se aproximar do fogão, lembrará da dor e não chegará muito perto, nem ao menos colocará a mão. Defende que “todo o comportamento é determinado pelo ambiente, embora a relação do indivíduo com o meio seja de interação, e não passiva.”(Ferrari, p. 3). A terapia behaviorista, por exemplo, usava costumeiramente alguns instrumentos para condicionar comportamentos humanos, como choques elétricos e substâncias químicas. Um exemplo é o filme “Laranja Mecânica”, que traz cenas chocantes de um jovem rapaz lider de uma gangue (imagens 1 e 2) que rouba, estupra e mata as vítimas. A polícia o amarra sobre uma cadeira, e nela recebe estímulos elétricos, num determinado momento, tem seus olhos abertos por um aparelho, que não consegue fechá-los de jeito algum, dentre outras atitudes. Isso nos leva ao entendimento que esses estímulos elétricos sobre o rapaz, segundo o behaviorismo, mudaria o comportamento dele após essa “tortura” (imagens 3 e 4). Aceita participar de experimentos que tem como objetivo desenfrear os impulsos de destruição do ser humano, que era o seu caso, assumindo assim uma redução na pena, e deixando-o impotente diante às experiências e violência que essas o acomete. O filme foi adaptado de um livro homônimo, em 1972, dirigido por Stanley Kubrick, distribuído pela Warner Bros. Imagem 1 – Laranja Mecânica – O líder da gangue1 Imagem 2 – Laranja Mecânica – o líder da gangue2 Imagem 3 – Laranja Mecânica – o líder impotente diante aos experimentos3 1 Disponível em http://www.cranik.com/laranjamecanica.html http://metamorfosegeral.blogspot.com.br/2012/02/filme-laranja-mecanica-dublado-rmvb_20.html 3 http://psi-pensamentos.blogspot.com.br/2011/04/relatorio-filme-laranja-mecanica.html 2 Imagem 4 – experiências – olhos abertos, por mais de 24 horas. A punição.4 Apesar de toda a experiência ter causado no sujeito uma mudança momentânea, os estímulos utilizados foram relacionados ao seu cotidiano. Assim, pensava-se que voltaria a sociedade mudado ou moldado. Porém, por ter causado sofrimento em várias pessoas, passa a ser tratado de forma rude por algumas de suas vítimas, e esse relação com o novo ambiente que o recebe inospitamente, faz retornar todos os seus instintos iniciais. Sendo assim, mesmo que Skinner considerasse que fosse de suma importância respeitar as diferenças individuais de cada aluno, orientados por um mesmo professor, Ferrari (Nova Escola)discorre que os estudos behavioristas baseiam-se na previsão das “reações aos estímulos e reforços”. E ainda que “seus objetivos educacionais buscam resultados definidos antecipadamente, para que seja possível, diante de uma criança ou adolescente, projetar a modelagem de um adulto”. Seria realmente importante no processo educacional modelar os alunos para que sejam adultos melhores, ou capazes de compreender o mundo que o cerca? Creio que na atualidade, os estudos apontam que cada ser humano tem suas subjetividades, e cada um a seu modo tem um processo de desenvolvimento diferenciado, que ao ser mediado seja pelo ambiente ou por objetos, relaciona-se com o mundo ao seu modo e através das interações. 4 http://blogdacinefilia.blogspot.com.br/2012/01/critica-laranja-mecanica.html Skinner baseou seus estudos no comportamento respondente ou comportamento reflexo, que segundo Bock, Furtado e Teixeira (2009), “é o que chamamos de não voluntário”(griffo dos autores) assim como, “inclui as respostas que são eliciadas (ou produzidas) por estímulos antecedentes do ambiente. Como citado sobre o filme Laranja Mecânica, onde o olho do jovem fica preso a uma máquina, e com o reflexo da luz as pupilas contraíam-se, ou o suor que escorre no rosto quando o sujeito se encontra dentro de um ambiente quente e fechado ou até mesmo a brisa gelada batendo sobre o corpo, provando arrepios no corpo, são esses reflexos que agem sobre o humano, que levaram Skinner a pesquisar mais, e começar o estudo do comportamento operante. Assim sendo, Demonstrou que poderia modelar o comportamento animal através desses estímulos. Outros estímulos foram estudados por ele como o da Punição, exemplificando numa sala de aula, quando um aluno é repreendido e encaminhado para a coordenação, para que fique de castigo. Lopes descreve que “[...]a punição é o uso intencional de estímulos aversivos, visando inibir determinados comportamentos. Mas ela tem um preço alto, pois compromete a relação entre punidor e punido, por isso deve ser evitada como método educativo”. Outra corrente teórica do desenvolvimento da aprendizagem traz como teórico David Ausubel que tem como conceitos básicos a cognição e a aprendizagem. Para explicar o termo Cognição, Bock, Furtado e Teixeira esclarecem a partir dos estudos de Ausubel, que diz que este conceito é o “processo através do qual o mundo de significados tem origem. À medida que o ser se situa no mundo, estabelece relações de significação[...] atribuindo significados à realidade em que se encontra” (2009, p. 134). Na minha pesquisa de mestrado, para que as crianças pudessem compreender e conhecer a cidade em que vivem, as levei para um passeio/visita pela cidade para que trouxessem elementos da história imaginária de palácio (dos contos de fadas), e as imagens da cidade, incluindo nessas o palácio Anchieta, para que pudessem interpretar a contextualização histórica, armazenassem as informações que as imagens as proporcionaram, e depois essas fossem utilizadas num outro momento de discussão como devolutiva. Esse processo pode ser entendido com cognição. Que segundo os autores, “o cognitivismo está [...] preocupado com o processo de compreensão, transformação, armazenamento e utlização das informações, no plano da cognição” (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2009, p. 134) Quanto ao conceito de Aprendizagem, Bock, Furtado e Teixeira discorrem que é o “processo de organização das informações e de interpretação do material à estrutura cognitiva”, trocando em miúdos, é o que os cognitivistas chamam de aprendizagem. Para eles ela divide-se em duas – a aprendizagem mecânica e a aprendizagem significativa. Aprendizagem mecânica Nessa abordagem, os cognitivistas entendem, segundo Bock, Furtado e Teixeira (2009) que se refere à aprendizagem ou aquisição de novas informações, que não fazem muito sentido ou associa-se à conceitos já existentes na estrutura cognitiva. Podemos citar como exemplo um cantor do programa ídolos, que canta em inglês e nada sabe do que está falando, apenas decorou a letra e a melodia, mecanicamente, sem ter significação ou aprendizado da língua. Aprendizagem significativa Para Bock, Furtado e Teixeira, nessa abordagem explicitam que é processada a partir do momento em que “um novo conteúdo (ideias ou informações) se relaciona com conceitos relevantes, claros e disponíveis na estrutura cognitiva, sendo assim assimilado por ela. Esses conceitos disponíveis são os pontos de ancoragem para a aprendizagem (2009, p. 135)”. Pontos de ancoragem, são os pontos formados e incorporados à estrutura cognitiva das informações/idéias, que segundo Bock, Furtado e Teixeira “são relevantes para a aquisição de novos conhecimentos e com a organização deles de modo que progressivamente se generalizem, formando conceitos”. Um bom exemplo é o estudo da matemática, em que o estudo da geometria pode levar o sujeito que seguirá a carreira de arquiteto, por exemplo, projetar a partir do conhecimento da geometria, que foi uma base conceitual que permitiu ampliar os conhecimentos matemáticos com conteúdo posteriores, até chegar à formação de arquiteto, com o conhecimento acumulado e assim, poder projetar o objeto arquitetônico. Em Jerome Seymour Bruner, a teoria de ensino parte das concepções que vimos anteriormente, pautadas em Ausubel. Psicólogo Novaiorquino, que trouxe uma perspectiva sobre o processo de aprendizagem, concebendo-o como “captar as relações entre os fatos, adquirindo novas informações, transformando-as e transferindo-as para novas situações” (Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 136), formulando a partir daí uma “teoria do ensino”. O entendimento de Bock, Furtado e Teixeira (2009) é que para Bruner, o ensino tem como premissa a organização da matéria a ser dada de maneira eficaz e de forma que tenha sentido e significação para o aluno ou aprendiz. E assim, o professor deve estar preocupado não somente com a extensão da matéria, mas com sua estrutura. Para ele os profissionais da educação devem “estruturar o conteúdo de ensino. Sugere que o método da descoberta, “como método básico educacional”. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2009), Bruner acreditava que o aluno ou aprendiz tem condições de seguir o caminho das descobertas científicas, investigar, questionar, experimentar e a partir dessa relação, descobrir coisas novas. Outro ponto para ele no ensino é que deve ser pautado na compreensão. Essa compreensão diz respeito às “relações entre fatos e ideias, “única forma de garantir a transferência do conteúdo aprendido para novas situações”(Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 136, griffo nosso). Essa compreensão perpassa também pelo erro. Quando um aluno erra, para ele, o professor deve percorrer novamente o caminho do raciocínio do aluno até chegar no momento do erro, e assim poder novamente conduzi-lo ao racicíonio correto. Nesse caso, o erro passa também a ser instrutivo, pois a pessoa pode revê-lo e ressignificá-lo. Conforme Bock, Furtado e Teixeira (apud Bruner, 2009, p.136) “qualquer assunto pode ser ensinado com eficiência, de alguma forma intelectualmente honesta, a qualquer criança, em qualquer estágio de desenvolvimento”. E essa aplicação ou ensinamento deve seguir os termos da “visualização” que as crianças têm das coisas, para tanto, o professor deve dialogar com uma linguagem acessível à elas e “se seus conhecimentos anteriores lhe possibilitarem a compreensão de um novo conteúdo”(2009, p.136). O professor atua com uma prática, nesse caso, como um tadutor da “linguagem da ciência para a linguagem da criança”. Ele sugere que o professor se atenha também da teoria de Piaget, que define estágios de desenvolvimento da criança, em que as “possibilidades e limites estejam claramente definidos”(2009, p. 136). Em Bruner, a motivação também é um ponto fundamental para o aprendizado. As condições motivadoras podem ser o fracasso ou o sucesso do professor em ensinar algo. Segundo Bock, Furtado e Texeira (2009), “o estudo da motivação considera três variáveis”: Uma delas é o ambiente, portanto a motivação “mobiliza o organismo para a ação, a partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o objeto de satisfação”. Em Bruner, a motivação também é um ponto fundamental para o aprendizado. As condições motivadoras podem ser o fracasso ou o sucesso do professor em ensinar algo. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2009), “o estudo da motivação considera três variáveis”: Uma delas é o ambiente, portanto a motivação “mobiliza o organismo para a ação, a partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o objeto de satisfação”. A motivação sugere que o aluno tenha vontade, seja instigado a buscar o conhecimento. Um exemplo de motivação, podemos apontar o filme Escritores da Liberdade, que apresenta o papel do professor diante de uma turma, em que a característica dela de alunos distribuídos em gangues, que aos poucos vão se descobrindo e redescobrindo, como seres sociais, participantes de um mesmo espaço. Por sua vez, Jean Piaget, também adepto do cognitivismo, desenvolveu a teoria dividindo períodos do desenvolvimento humano. É um dos principais teóricos dessa corrente teórica. Para ele nos períodos que categorizam a idade e suas funções, em cada um deles o indivíduo consegue fazer o melhor em sua faixa etária. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2009,p. 119), “todos passam por todas as fases ou períodos, nessa sequência, porém o início e término de cada uma delas dependem das características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais, sociais”. Os autores apontam que ele refere-se a essa divisão não como uma forma rígida, mas como referência. O primeiro período intitulado por ele é Sensório-motor, que vai de 0 a 2 anos de idade. Esse período compreende do recém-nascido ao lactente – Para ele, o recém nascido tem sua vida mental reduzida ao “exercício dos aparelhos reflexos, de fundo hereditário, como a sucção. Esses reflexos melhoram com o treino” (Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 120). Cita que à medida que os dias vão se passando, o bebê melhora ainda mais a sucção. Exemplificando, quando depois de 20 dias de nascimento, mama melhor que no primeiro dia de vida, e assim sucessivamente. Os autores apontam que Piaget discorre que por volta dos 5 meses, já “coordena movimentos das mãos e olhos para pegar objetos, aumentando a capacidade de adquirir hábitos novos” (2009, p. 120). Ao final dessa fase, associa os movimentos aos objetos, utilizando a inteligência prática ou sensório-motora. Um bom exemplo é o aprender a andar, tornando capaz de explorar ainda mais o ambiente; ou quando vê um copo de água (por volta de 1 ano),mesmo vazio, continua apontado para ele, por saber que através dele pode beber água. Nesse caso, a água, objeto que não está no seu campo visual, continua a pedi-lo por saber que ele existe e que o copo tem essa finalidade. As diferenças também passam pelo aspecto afetivo, das emoções primárias, como o medo, para a escolha de objetos, como brinquedos preferidos e pessoas. Aproximadamente ao dois anos, passa de uma “atitude passiva para uma relação ao meio ambiente e pessoas de seu mundo para uma atitude ativa e participativa” (Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 121). 2- Período pré-operatório (2 a 7 anos) – Nesse período, segundo Piaget, o que há de mais importante é “o aparecimento da linguagem”, que modifica “os aspectos intelectual, afetivo e social da criança. A relação social dos indivíduos através da linguagem proporciona uma interação e comunicação maior entre os seres humanos, portanto a palavra exterioriza o que está internalizado. Bock, Furtado e Teixeira (2009, p.121) assinalam que nesse momento “a criança já antecipa o que vai fazer”. Assim, o desenvolvimento do pensamento vai acelerando, e através dos jogos simbólicos (a partir da sua visão pessoal, imaginação) segundo os autores, “transforma o real em função dos seus desejos e fantasias. Uma criança pode brincar dentro de uma caixa de papelão e representar com se estivesse dentro de um carro. Pode desenhar e pintar rodas, colocar um volante, e representar o real através da fantasia e do brinquedo. A criança nessa fase tende a repetir as palavras, está criando seu vocabulário, a partir da imitação. Bock, Furtado e Teixeira falam que é importante ter em mente que “grande parte do repertório verbal da criança é usada de forma imitativa, em que ela domine o significado das palavras” (2009, p. 122). Há nessa fase a dificuldade de desenvolver trabalhos em grupo, pois não consegue se colocar no ponto de vista do outro. Nesse período a coordenação motora vai se ajustando, inicialmente começam a fazer traços desordenados, depois bolinhas, até dominarem o objeto, pegando-os com a ponta dos dedos, segurando um lápis corretamente e conseguindo fazer os movimentos que chegarão à escrita. 3- Período das operações concretas (7 a 11 ou 12 anos) Nessa fase, a criança inicia sua construção lógica, estabelece relações, interage e opina, permitindo “a coordenação de pontos de vista diferentes” (Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 122). Os autores discorrem que “esses pontos de vista podem referir-se a pessoas diferentes ou à própria criança, que vê um objeto ou situação com aspectos diferentes e até conflitantes”. Consegue trabalhar em grupo, cooperando com os outros, tendo também autonomia de suas ações. Surge uma nova capacidade mental, denominada operações, em que consegue realizar uma ação física ou mental dirigida para um fim ou um objetivo. Um exemplo é a montagem de um quebra-cabeça, que muitas vezes colocamos uma peça parecida mas que não é a correta. Já consegue assimilar o erro, percebê-lo e voltar ao ponto de partida corrigindo-o. Bock, Furtado e Teixeira descrevem o nível do pensamento em Piaget nesta fase: - Estabelecem corretamente as relações causa e efeito e de meio e fim -sequencia de ideias ou eventos; - Trabalha com ideias sob dois pontos de vista, simultanaeamente; - -forma o conceito de número Aparece também a vontade enquanto qualidade superior, “que atua quando há conflitos de tendências e intenções” (bem sabemos como professores e pais como as crianças atualmente entram num embate, devido às diversas informações que chegam à elas). O senso de honestidade, justiça e companheirismo aparecem nessa fase. Entendem que se algo como esquecer de avisar os pais que foi para a casa de um amigo X tivesse sido feito sem intenção, somente por esquecimento não avisou, deixando os pais cheios de preocupação, por isso, entendem que não devem ser punidos ou chamados a atenção, pois não houve intencionalidade do ato, somente o esquecimento. Ou se quebra um objeto de valor inestimável (de memória/histórica), sem querer, entende que não houve a intenção de quebrar, apenas foi um descuido no esbarrar o objeto, portanto acredita que não deve ser punida por isso. Dentre outras. Os grupos começam a surgir e o agrupamento, entre meninas (somente entre elas e o de meninos (somente entre eles). Na escola, elas brincam juntas, e os meninos por vezes, jogam bola ou praticam algum esporte. No início da fase a opinião dos adultos era de suma importância, mas no finalzinho da fase, começam os enfrentamentos com eles. Atualmente, podemos dizer que esses enfrentamentos estão chegando cada vez mais cedo. 4- Período das operações formais (11 ou 12 anos em diante) Esse período é a passagem do pensamento concreto para o pensamento formal. Para Bock, Furtado e Teixeira (2009, p. 123), Piaget entende que “o adolescente realiza as operações no plano das ideias, sem necessitar de manipulação ou referências concretas [...] é capaz de lidar com conceitos como liberdade, justiça[...]” A sensação de que estão crescidinhos, já os tornam capazes de tirar suas próprias conclusões de puras hipóteses. Há um processo de interiorização, e torna-se, a grosso modo, antissocial. Assim acontecem os conflitos, “afasta da família, não aceita conselhos dos adultos,”(2009, p. 124). Mas, o seu alvo é refletir sobre a sociedade, analisando como possibilidades de reformá-la e transformá-la. Vive conflitos internos, pois não quer depender do adulto, mas ainda depende dele, há a preocupação de ser aceito pelos grupos sociais (amigos e familiares). Os amigos tornam-se referências, seja na forma da linguagem, das roupas e de comportamento. Conforme as fases citadas, Piaget entende que o ser humano é dotado de estruturas biológicas, que herda uma funções intelectuais, maneiras que interagir com o ambiente, e isso proporciona construir um conjunto de significados. Essas interações, permitirão organizar os significados das estruturas cognitivas, ao longo da vida. E essas perpassam pelos diferentes estágios de desenvolvimento. Cada um deles permite estruturas cognitivas diferentes. Desse modo – a organização – é entendida como o mecanismo “que permite ao ser humano ter condutas eficientes para atender suas necessidades, [...] à demanda de adaptação” (Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 139). Já a adaptação, envolve a assimilação e a acomodação em uma relação indissociável – nesse caso “é o mecanismo que permite ao homem não só transformar os elementos assimilados, tornando-os parte da estrutura do organismo, como possibilitar o ajuste e a acomodação desse organismo aos elementos incorporados” (Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 139). Podemos citar a inteligência como uma adaptação, que incorpora a experiência adquirida, e modifica ou acomoda essas informações nas estruturas mentais incorporando novos elementos. Sócio-interacionismo Lev Seminovich Vygotsty, nasceu em Orsha, na Bielo-Rússia, em 1896, e faleceu em 1934. Mesmo tendo falecido tão jovem, deixou um legado de textos e estudos, que se seguem até os dias de hoje, contribuindo muito para as pesquisas em educação. Alguns teóricos descrevem que ele não deixou uma teoria totalmente pronta, porém produziu muito, experimentou e observou o desenvolvimento humano a partir das mediações estabelecidas pelas interações sociais, pelo objeto e pela linguagem. Marques e Oliveira descrevem que Vygotsky tornou-se o principal expoente da abordagem psicológica histórico-cultural, que concebe o sujeito socialmente inserido num meio historicamente construído. Enquanto veiculador da cultura, o meio se constitui em fonte de conhecimento. Vygotsky empenhou-se na busca do entendimento sobre os mecanismos pelos quais a cultura torna-se parte integrante da natureza de cada ser humano. (2005, p. 5) Em relação ao desenvolvimento infantil é visto por ele a partir de três aspectos: o Instrumental, o cultural e o histórico. O instrumental – natureza mediadora das funções psicológicas complexas. Além de respondermos aos estímulos a que estamos expostos no ambiente, também alteramos e o utilizamos como ferramenta para nosso comportamento. Um bom exemplo são os bilhetinhos que deixamos agarrados na geladeira para lembrar de coisas a fazer, como tomar remédio em tal hora. O cultural – relaciona-se com o meio social estruturado, em que são organizadas tarefas “que a criança em crescimento enfrenta e os tipos de instrumentos, tanto mentais como físicos” [...] que ela tem “para dominar as tarefas” (Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 125). O mais importante instrumento criado pelo homem, segundo Vygotsky é a linguagem, que serve de interação e mediação entre os indivíduos. O aspecto histórico – como a cultura está envolta da história, o aspecto cultural funde-se com o histórico. Para que o homem pudesse desenvolver, os instrumentos criados ao longo do tempo estão ligados tanto pela cultura quanto pela história. Portanto, para ele, “a história da sociedade e o desenvolvimento humano caminham juntos[...]”(Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 126) Diante disso, estudou o desenvolvimento infantil. Vygotsky entende que desde que nascem as crianças estão interagindo com o mundo, e com os adultos, e essas interações são incorporadas nas suas relações e sua cultura. Quando ainda pequenas, as respostas são “dominadas por processos naturais, especialmente aqueles proporcionados por herança biológica” (Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 126). Nesse momento, os adultos mediam os processos psicológicos mais complexos, que vão tomando forma. “Os processos interpsíquicos, que são partilhados entre pessoas,só podem funcionar durante a interação das crianças com os adultos”(2005, p. 126). E à medida que crescem, esses processos são executados intrapisquicamente, ou seja, dentro delas mesmas. Sobre o desenvolvimento da fala, inicialmente, em relação ao comportamento foi levando em conta os aspectos motores e verbais, e estes se misturam. A criança para se comunicar, parte das expressões, que se segue pelas indicações do corpo, como apontar para um objeto, por exemplo um brinquedo que queira pegar, ou a porta para sair, utilizando então os gestos como auxiliar da fala, mediadas pelo outro. Aos poucos, essas distinções para com os outros são mediadas através da fala. E esta “vai deixando de ser um meio para dirigir o comportamento dos outros e vai adquirindo a função de autodireção” (Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 127).A criança então fala e age pó si só, e a fala e a ação podem ser desenvolvidas independentes uma da outra. A criança pode desenvolver a ação primeiro, depois a fala ou vice-versa. Com isso, Vygotsky aponta que o desenvolvimento tem como alicerce as interações. O gesto de apontar o objeto (o objeto do desejo dela), constrói uma relação social com o adulto. Nesse caso, a interpretação do adulto é que a criança deseja aquilo, e por conseguinte, o pega e entrega para ela. Para Bock, Furtado e Teixeira, os movimentos feitos pela criança, tanto de apontar o objeto ou de demonstrar que queria pegá-lo, mas não alcança, afetam o adulto, e não o objeto. Essa desenvolvimento da criança, tendo a mediação do outro (o adulto, diretamente, e o objeto, indiretamente). Vygotsky não acreditava que o desenvolvimento “predeterminado ou seu afloramento, vinculado humano estivesse apenas a uma questão do tempo” (Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 141). Seus estudos tem como premissa as origens sociais das capacidades humanas. Abaixo, alguns pontos das suas concepções apontadas por Bock, Furtado e Teixeira (2009, 141): [...] 1- os fenômenos devem ser estudados em movimento e compreendidos como em permanente transformação;2a história dos fenômenos é caracterizada por mudanças qualitativas e quantitativas. Assim o fenômeno psicológico transforma-se no decorrer da história da humanidade, e processos elementares tornam-se complexos; 3- as mudanças na “natureza do homem” são produzidas por mudanças na vida material e na sociedade; 4- o sistema de signos (a linguagem, a escrita, o sistema de números) é pensado como um sistema de instrumentos, os quais foram criados pela sociedade ao longo de sua história. Esse sistema muda a forma social e o nível de desenvolvimento cultural da humanidade. A internalização desses signos provoca mudanças no homem. Seguindo a tradição marxista, Vygotsky considera que as mudanças que ocorrem em cada um de nós têm sua raiz na sociedade e na cultura. Para ele a aprendizagem está sempre envolta das relações estabelecidas entre pessoas. E o indivíduo para se relacionar com o mundo está sempre mediada pelo outro. Nosso aprendizado não acontece, segundo ele, se não tivermos o outro, “aquele que nos fornece significados que permitem pensam o mundo a nossa volta” (Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 141. O desenvolvimento interno se dá conforme as influências externas. O contato com a cultura, com as relações sociais são meios que permitem a aprendizagem. Bock, Furtado e Teixeira (2009, p.141) afirmam que para Vygotsky o outro é alguém fundamental, para estabelecer as relações da aprendizagem, “pois é que nos orienta no processo de apropriação da cultura”. E o desenvolvimento se dá de fora para dentro. E é no processo ensinoaprendizagem “que ocorre a apropriação da cultura, a objetivação do homem e o consequente desenvolvimento do indivíduo e a tansformação permanente do mundo” (p.141) Portanto a criança, muito antes de ir à escola, traz consigo um aprendizado prévio, estabelecido nas relações sociais familiares, exposta desde o primeiro dia de vida, com a presença do outro como mediador entre ela e a cultura. Ela aprende a gesticular, a nomear, é informada sobre o mundo, as imagens, as coisas, a cultura,e seu comportamento vai sendo moldado conforme suas necessidades as possibilidades que aparecem. Quando chegam na idade dos “porquês”, é o adulto que será o mediador desses questionamentos, e segundo Vygotsky, o outro torna-se o grande “intérprete” do mundo. A escola, para ele , é um lugar privilegiado, pois é lá que a criança terá contato com a cultura de forma “sistemática, intencional e planejada”. Para ele, se o aprendizado for organizado de forma adequada, pode resultar num desenvolvimento mental, “colocando em movimento processos que seriam impossíveis de acontecer” (2009, p. 141), como a aprendizagem proporcionar o desenvolvimento, diferenciando de outras correntes teóricas que indica que o ser humano vai se desenvolvendo e construindo o aprendizado. Bock, Furtado e Teixeira (2009, p.142), descrevem que Vygotsky construiu o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal – ZDP, que refere-se às potencialidades da criança, “que podem ser desenvolvidas a partir de um ensino sistemático”. Esta zona é “a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas da criança”. E o Nível de Desenvolvimento Potencial – NPD, as soluções dos problemas serão sempre mediados sob orientação de um adulto ou dos companheiros (colegas). Vygotsky entende que A aprendizagem se dá por um processo “essencialmente social”, a partir das interações com os adultos e com os colegas. Aqueles que já trazem um aprendizado prévio podem contribuir para o aprendizado do outro, através das interações ou relações estabelecidas. Os mecanismos para a aprendizagem, segundo ele, são acionados externamente, pois o homem está “imerso em um contexto cultural”. Para tanto, a partir desses conhecimento prévios que cada traz das vivências pessoais, da cultura, pode contribuir para o desenvolvimento do indivíduo, que para ele, a escola é “um lugar privilegiado para essa estimulação” (Bock, Furtado e Teixeira, 2009, p. 143). Sendo assim, Vygotsky, pensa na escola como lugar de mediação, onde professores, colegas, e sujeitos que perpassam pelo ensino tornam-se mediadores do processo de aprendizagem, e desse modo, vai se desenvolvendo. Nesse sentido a escola torna-se um lugar importante que proporciona a construção humana. 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