E3 EDUARDO SARRAF Experiência complexa e multifatorial Razão principal pela qual os pacientes procuram atendimento médico Cabeça e rosto: localizações mais comuns, tendo significado biológico, emocional e psicológico para o paciente ORL frequentemente avaliam e tratam pacientes com cefaléia Diagnóstico e tratamento de cefaléia nasossinusal e diagnósticos diferenciais Dor de cabeça rinogênica é uma entidade específica que tem recebido crescente atenção na literatura ao longo dos últimos 20 anos TRIGÊMIO: face, 1/3 anterior do couro cabeludo, fossas nasais e cavidades paranasais C1,C2,C3: 2/3 posteriores do couro cabeludo, articulações e musculatura do pescoço GLOSSOFARÍNGEO E VAGO: orelha externa e média, faringe e face posterior da laringe FACIAL (ramo sensitivo): parede posterior do meato acústico externo e da concha do pavilhão auricular Aferência comum no tronco encefálico (núcleo do trato solitário) 97% das mulheres e 94% dos homens apresentam quadro de cefaléia durante a vida Anamnese: características da dor antecedentes tipo intensidade localização irradiação evolução fatores associados história de trauma, esforço físico, IVAS Cerca de 90% dos pacientes possuem cefaléias primárias, não sendo necessário realizar investigação secundária Investigação complementar Primeira ou pior cefaléia da vida do paciente Cefaléia de início súbito ou recente (< 1 ano) Cefaléia nova após os 50 anos Cefaléia associada a alterações neurológicas Cefaléia pós-TCE Cefaléia de esforço Cefaléia progressiva ou refratária a tratamento Doença neurológica mais comum na Europa e América do Norte Prevalência ~ 12% (mulheres 2:1 homens) Mecanismo: Desconhecido Vascular Neurológico Outro Com/sem aura Dor de cabeça recorrente – crises 4-72 horas unilateral, pulsátil, moderada / grave intensidade, agravada pela atividade física, associado à luz / som sensibilidade Mais comum: 80% Aura: sintoma neurológico focal que acontece antes ou acompanha a migrânea Início gradual: 5-20 minutos Duração: 60 minutos Início da enxaqueca: 60 min após o final da aura Menos comum: 20% Tipo mais comum de cefaléia Mecanismo desconhecido Características: Bilateral Episódios infrequentes Duração: Minutos a dias Intensidade/característica: pressão leve/moderada Sem relaçao com atividade física Sem náusea Sensibilidade à luz OU ao som (não ambos) Crises agudas de cefaléia que ocorrem em série (período de Cluster) Cluster: semanas-meses, com períodos de remissão de meses a anos Desencadeantes: histamina, álcool, nitroglicerina Características: Dor retroorbitária, supraorbitária e temporal Dor torturante 3-4x homens Associada a sintomas ipsilaterais: hiperemia conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal, rinorréia, sudorese facial, miose, ptose palpebral, edema palpebral Arterite de Células Gigantes Dor ou claudicação associada a mastigação, deglutição e movimentação da língua VHS, PCR e transaminases aumentadas e anemia N/N Dx: biópsia artéria temporal Tratamento : CTC (prednisona) Cefaléia por hipertensão intracraniana - piora no final da noite por > PCO2 e vasodilatação intracraniana / melhora com hiperventilação e uso de corticóides HIC / Pseudotumor cerebral: mulheres jovens, obesas; papiledema, cefaléia característica de HIC Tratamento: emagrecimento, restrição de líquidos e sal, uso de diuréticos (furosemida) Sintomas de HIC associados a crises convulsivas, déficits neurológicos e síndrome dos pares cranianos Relacionada a complicações intracranianas de infecções dos seios paranasais ou da orelha média Tratamento: anticoagulação, ATB e cirúrgico Topografia dolorosa precisa (V1,V2,V3) Dor aguda, lancinante (choque), dura alguns segundos - pode ser em repetições PONTOS GATILHO – mastigação, fala, contato direto Prevalece > 50 anos Primária (sem causa aparente) ou Secundária (compressão nervosa por tumor, mal-formações vasculares ou doenças desmielinizantes - EM) Tratamento: ADT, Carbamazepina, Clonazepam, Termocoagulaçao e Descompressão cirúrgica 1% dos casos Unilateral Dor à deglutição, localizada na loja amigdaliana e base da língua, podendo ter irradiação para orelha e ângulo mandibular Tratamento: carbamazepina, termocoagulação Inervação da ATM: nervo auriculotemporal (ramo da divisão mandibular do V) Causas de dor na ATM: Disfunção miofascial Lesão orgânica intra-articular Doença articular degenerativa AR Anquilose Hipermobilidade QC: dor em peso que piora ao abaixar a cabeça Tríade: CEFALÉIA, RINORRÉIA E OBSTRUÇAO NASAL Topografia da dor: Maxilar: Arcada dentária superior ou temporo- parietal Etmoidal ou Frontal: acima do canto orbital e ao redor da glabela Dor em região occiptal: pensar em esfenóide Tratamento: ATBterapia e analgesia (considerar CTC) 2 critérios maiores ou 1 maior e 2 menores A11.5.1 Dor de cabeça de ponto de contato mucoso Critérios de diagnóstico: ▪ A. Dor intermitente localizada nas regiões cantal periorbital e medial ou temporozigomático e preenchendo os critérios C e D ▪ B. Clínica, endoscopia nasal e / ou TC com evidência de imagem de pontos de contato da mucosa sem rinossinusite aguda ▪ C. A evidência de que a dor pode ser atribuída ao contato da mucosa com base em pelo menos um dos seguintes: ▪ 1. dor corresponde a variações gravitacionais na congestão das mucosas, como quando o paciente move entre posturas eretas e reclinada ▪ 2. supressão da dor dentro de 5 minutos após a aplicação tópica de anestésicos locais ▪ D. A dor desaparece dentro de 7 dias, e não recorre, após a remoção cirúrgica dos pontos de contato da mucosa ▪ Obs: ▪ Abolição da dor significa completo alívio da dor, indicado por um score visual Cefaléia por pontos de contato de mucosa: descrito em 1888 por J.O.Roe McAuliffe et al. 1943: questionou os mecanismos de "dor de cabeça sinusal", em 1943 e teorizou que não foi devido a patologia dos seios paranasais, mas sim a partir de estruturas da cavidade nasal, ductos nasossinusais ou óstios do seio 5 pessoas saudáveis e 10 pacientes com lesões neurológicas (nervos cranianos seccionado para o alívio sintomático) Estimulo de áreas com problemas com uma corrente elétrica O dedo do paciente foi embebido em cera vermelha suave e foi-lhes pedido para apontar para o local da dor sensibilidade a estímulos: ▪ -língua: 1 + ▪ -septo: 1-2 + ▪ -conchas 4-6 + ▪ -ducto nasofrontal: 5-7 + ▪ -óstio do seio: 6-9 + ▪ - assoalho sinusal: 1-2 + Estruturas nasais superiores: dores de cabeça na parte da frente da cabeça, o topo da cabeça, e entre os olhos Estruturas nasais médias / inferiores: zigomático, temporais, dentes, mandíbula Não pôde elucidar a dor referida na região posterior da cabeça 3 classificações das dores de cabeça: dores de cabeça que são claramente ligados a um problema sinusal: inflamação de sinusite aguda, tumor, etc dores de cabeça com origem claramente identificáveis não rinogênica: enxaqueca, neuralgia, doenças da coluna cervical, doenças vasculares, ATM Causa não identificável Cavidades nasais e seios paranasais são os locais que mais comumente desencadeiam cefaléias e algias crânio-faciais, devido principalmente a inervação (sensitiva / autonômica) dessas estruturas e a presença de neurotransmissores na mucosa nasal neurotranmissores: PEPTÍDEO P (vasodiltação com edema e hiperemia de mucosa) - um dos responsáveis pelo estímulo doloroso captado pelo SNC Dor referida - representação dolorosa a distância do local afetado Fatores desencadeantes: Alterações anatomo-patológicas das fossas nasais Dificuldade de aeração sinusal (a hipóxia sinusal induz diminuição do movimento ciliar, acúmulo de muco, acidose metabólica e gatilho para a dor) Contato mucoso (causa dor, estase do muco e edema) Facilitam rinossinusites crônicas ou de repetição, pontos de contato mucoso, distúrbios do SNA e liberação de neurotransmissores Concha média bolhosa (36%) Deformidade do septo nasal (21%) Corneto médio paradoxal (15%) Células de Haller (10%) Variações do processo uncinado Variação de maior incidência (36%) O corneto médio pneumatizado pode ser muito volumoso, a ponto de ocupar o espaço entre o septo e a parede lateral Desvios ou esporões podem gerar obstrução por estreitamento da fossa nasal Pode ocorrer cefaléia devido a contato mucoso ou por estreitamento de estruturas da parede alteral do nariz com conseqüente má ventilação dos seios Cefaléia de Sluder O corneto médio pode se apresentar com sua convexidade projetada lateralmente, ao invés de medialmente, obstruindo o infundíbulo São células etmoidais anteriores que crescem no assoalho da órbita (acima do óstio do seio maxilar) causando estreitamento do infundíbulo O processo uncinado pode estar defletido medialmente ou anteriormente, resultando em áreas de contato Pode também estar defletido lateralmente, estreitando o hiato semilunar e o infundíbulo Clerico DM. Pneumatized Superior Turbinate as a Cause of Referred Migraine Headache. Laryngoscope. 1996;106: 874-879 Bektas D, Alioglu Z, Akyol N, Ural A, Bahadir O, Caylan R. Surgical Outcomes for Rhinogenic Contact Point Headaches. Med Princ Pract. 2001; 20:29-33 Giacomini PG, Alessandrini M, DePadova A. Septoturbinal Surgery in Contact Point Headache Syndrome: Long-Term Results. The Journal of Craniomandibular Practice. 2003;21: 130-5 Vários estudos publicados desde o final de 1980 de série de casos descrevendo o sucesso do tratamento de dores de cabeça com cirurgia Mariotti LJ, Setliff RC, Ghaderi M, Voth S. Patient history and CT findings in predicting surgical outcomes for patients with rhinogenic headache. Ear Nose and Throat Journal. 2009;88:926-9 Tosun F, Gerek M, Özkaptan Y. Nasal Surgery for Contact Point Headaches. Headache. 2000; 40:237-240 Parsons DS, Batra PS. Functional Endoscopic Sinus Surgical Outcomes for Contact Point Headaches. The Laryngoscope. 1998;108:696-702. Ramadan H. Non-Surgical Versus Endoscopic Sinonasal Surgery for Rhinogenic Headahce. American Journal of Rhinology. 1999;13:455-7 Behin F, Behin B,Behin D, Baredes S. Surgical Management of Contact Point Headaches. Headache. 2005;45:204-210 Alta taxa de sucesso Pequena amostra de pacientes - Selecção rigorosa dos pacientes: todos tinham cefaléia de longa data, grave, frequentes Nenhuma doença nasossinusal associada Critérios de diagnóstico CT, endoscopia nasal + - Bloqueio anestésico tópico, bloqueio infiltrativo Refratários a outros tratamentos médicos (neurologista, oftalmologista, ...) As descobertas de McAuliffe não foram reproduzidas: (apesar das referências persistentes) Abu-Bakra M, Jones NS. Does stimulation of nasal mucosa cause referred pain to the face? Clin. Otolaryngol. 2001;26:430–432 Áreas estimuladas ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ Assoalho nasal Septo parede lateral do nariz concha inferior concha média Resultados dor local nasal desapareceu uma vez que o estímulo cessou nenhum dos estímulos causou dor referida para a face Conclusão pontos de contato da mucosa nasal e dores de cabeça / dor facial são uma coincidência causas neurológicas de dor facial devem ser investigadas baixas doses de amitriptilina para cefaléia tensional ou dor facial do terço médio devem ser prescritas por 6 semanas antes da cirurgia Uma vez que o número de pacientes tratados são baixos, um estudo multicentrico prospectivo, controlado, será provavelmente necessário para tentar estabelecer critérios de diagnóstico Muito controverso: cefaléia rinogênica continua a ser um diagnóstico de exclusão Antes da cirurgia ser considerada, o paciente deve ser avaliado por outros especialistas relevantes e tratada clinicamente por um período de tempo significativo Para diagnostico: CT, endoscopia nasal, teste de bloqueio positivo Orientar o paciente