biguaçu sérgio schweitzer silvestri tra

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA – BIGUAÇU
SÉRGIO SCHWEITZER SILVESTRI
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BORDERLINE OU
ESTRUTURA DE PERSONALIDADE BORDERLINE: UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
BIGUAÇU
2011
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SÉRGIO SCHWEITZER SILVESTRI
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BORDERLINE OU
ESTRUTURA DE PERSONALIDADE BORDERLINE: UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
Trabalho de Conclusão do Curso
apresentado como requisito para obtenção
do grau de Bacharel em Psicologia na
Universidade do Vale do Itajaí, no Curso de
Psicologia.
Orientação: Profª. Mª. Maria Suzete Salib.
BIGUAÇU
2011
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SÉRGIO SCHWEITZER SILVESTRI
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BORDERLINE OU
ESTRUTURA DE PERSONALIDADE BORDELINE: UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
Este Trabalho de Conclusão do Curso foi considerado aprovado, atendendo os
requisitos parciais para obter o grau de Bacharel em Psicologia na Universidade do
Vale do Itajaí no Curso de Psicologia.
Biguaçu,
de Dezembro de 2011
Banca Examinadora
Profª. MSc. Maria Suzete Salib
Orientadora
Profª Msc. Ana Paula Balbueno Karkotli
Membro
Drª. Luciana Martins Saraiva
Membro
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IDENTIFICAÇÃO
ÁREA DE PESQUISA
Psicologia da Personalidade e Psicologia Clínica
TEMA
Transtorno da Personalidade Borderline.
TÍTULO DO PROJETO: Transtorno da Personalidade Borderline ou Estrutura de
Personalidade Borderline: Uma Revisão Bibliográfica.
ACADÊMICO
Nome: Sérgio Schweitzer Silvestri
Código de Matrícula: 06.1.3289
Centro de Ciências da Saúde UNIVALI – Biguaçu
ORIENTADORA:
Nome: Maria Suzete Salib
Categoria Profissional: Psicóloga
Titulação: Mestre
Curso: Psicologia
Centro: CS Biguaçu
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 6
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 9
2.1 SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE .................................. 9
2.2 ESTRUTURAS DE PERSONALIDADE ............................................................ 14
2.3 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ........................................................... 17
2.3.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS .................................................................. 17
2.4 TRATAMENTO ................................................................................................. 22
3. METODOLOGIA DA PESQUISA .......................................................................... 25
3.1 TIPO DE PESQUISA ........................................................................................ 25
3.2 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS .................................................... 26
3.3 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS ................................................... 26
3.4 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................... 31
3.5 DISCUSSÃO DOS DADOS .............................................................................. 32
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 35
5. CRONOGRAMA ................................................................................................... 37
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 38
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1. INTRODUÇÃO
Durante muitos anos, buscou-se explicar o comportamento humano, bem
como definir a personalidade dos indivíduos sob diversos olhares. Estudiosos,
religiosos e cientistas elaboram teorias, ou pelo menos esboçaram-nas numa
tentativa algumas vezes frustrante de definir o que, ou quais as motivações que nos
levavam a comportarmo-nos de determinadas maneiras. Dentre algumas teorias
elaboradas encontra-se a Psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud, que
embora não tenha por objetivo definir as motivações que subsidiam o
comportamento humano, traz a luz reflexões sobre o modo de funcionamento dos
indivíduos, por ela também denominados sujeitos.
A teoria psicanalítica desenvolvida por Freud passou por muitas alterações
desde a morte do seu representante primevo, o que contribuiu para o nascimento de
inúmeras escolas psicanalíticas ao redor do mundo e principalmente para a cisão
entre a psicanálise praticada pelos norte-americanos, também conhecida como
Psicologia do Ego e a psicanálise praticada e difundida pela Escola Francesa de
Psicanálise, fundada por Jacques Lacan em 1964.
Para Cloninger (1999, p. 03), estudiosa da área da psicologia do ego, a
personalidade numa perspectiva que considera a existência de processos que
ocorrem em um nível inconsciente, pode ser definida como “as causas subjacentes
do comportamento e da experiência individual que existem dentro da pessoa”, como
também indicam Carver e Scheier (2000, p. 05), que por sua vez, utilizam do mesmo
referencial da autora supracitada e consideram que a "Personalidade é uma
organização interna e dinâmica dos sistemas psicofísicos que criam os padrões de
comportar-se, de pensar e de sentir característicos de uma pessoa".
Atualmente, um quadro de sintomas bastante contemporâneo tem chamado a
atenção, por sua freqüência cada vez mais intensa na clínica, como infere Knight
apud Grenn (1988, p. 66), “Tal como o histérico era o paciente típico do tempo de
Freud, o fronteiriço é o paciente problemático de nosso tempo”. Este quadro sintomal
é conhecido como a personalidade borderline ou como estruturas fronteiriças
para os autores norte-americanos e como casos inclassificáveis ou psicoses
ordinárias pelos autores da Escola Francesa de Psicanálise, que consideram que
atualmente a sociedade vivencia a queda do Nome-do-Pai, ou seja, a queda da lei
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da castração, em outras palavras, a possibilidade de alcançar satisfação cada vez
mais rapidamente, sem que as bordas, os limites da impossibilidade estejam bem
circunscritos.
A observação supracitada feita por Knight vai de encontro ao pensamento de
Kernberg (1995, p. 07), que por sua vez, propõe “a existência de três grandes
organizações
estruturais
correspondentes
à
organização
de
personalidade
neurótica, borderline e psicótica”.
Sendo assim, este trabalho utilizirá como referencial bibliográfico, autores da
escola norte-americana, uma vez que estes desenvolvem suas teorias respaldadas
no que fora produzido por Freud, que por sua vez sustenta que os indivíduos ao
vivenciarem o Complexo de Édipo, obterão como produto a definição de sua
estrutura de personalidade, sendo esta: Neurose, Psicose e Perversão.
O termo borderline foi utilizado pela primeira vez em 1945 por A. Stern, num
livro intitulado Psychoanalytic therapy in the borderline nevroses referindo-se a um
tipo de neurose, mas apenas em 1949 por intermédio de Eisenstein, que o termo se
tornou uma classe composta pelos mais diversos diagnósticos que não podiam ser
inseridos nas classes das neuroses e/ou das psicoses (CERVELATTI, 2005). Para
Green (1988, p. 66,68), psiquiatra françês, fronteiriço/borderline corresponde ao
termo comumente utilizado para se referir a perturbações psicopatológicas que
jazem na fronteira entre a neurose e a psicose, em particular as esquizofrenias
latentes que apresentam uma série aparentemente neurótica de sintomas. Em
outras palavras, é um termo descritivo que alude a um grupo de condições que
apresentam fenômenos tanto neuróticos como psicóticos sem se apropriarem de
uma ou outra categoria diagnóstica.
No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, encontra-se a
denominação Transtorno da Personalidade Borderline, que por sua vez corresponde
a “um padrão global de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, da autoimagem e dos afetos, e acentuada impulsividade que começa no início da idade
adulta e está presente em uma variedade de contextos”. O referido manual (DSM-IVTR, 2002 p. 27) também apresenta uma definição para o termo transtorno, que
corresponde a síndromes ou padrões comportamentais ou psicológicos clinicamente
importantes, que ocorrem num indivíduo e que estão associados com o sofrimento,
incapacitação ou com um risco significativamente aumentado de sofrimento, morte,
dor, deficiência, ou importante perda da liberdade. Na obra Freudiana não encontra-
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se uma definição de transtorno, mas sobre o adoecimento dos sujeitos, o autor
infere que o mesmo seja um produto de um persistente conflito entre um impulso
libidinal e a repressão sexual, ou seja, entre uma tendência sensual e uma tendência
ascética (FREUD, 1917).
Pode-se notar uma diferenciação entre alguns autores, no que concerne ao
borderline, uma vez que muitos estudiosos o consideram um transtorno e outros o
consideram uma estrutura/organização de personalidade, que remete à discussão
acerca do entendimento sobre o Autismo que durante muito tempo foi considerado
uma psicose infantil e que hoje é percebido como um Déficit Cognitivo até mesmo
pela escola francesa, com sua tradição psicodinâmica (JÚNIOR, 2000).
Sendo assim, tendo em vista que o problema de pesquisa seja o de identificar
como a literatura especializada se posiciona com relação ao fenômeno borderline:
um transtorno de personalidade ou uma estrutura de personalidade? A relevância
científica deste trabalho consiste na possibilidade de identificar qual o termo que
melhor descreve este fenômeno, uma estrutura de personalidade ou um transtorno
de personalidade?
Já a relevância social, consiste em possibilitar o entendimento sobre este
fenômeno sob um referencial médico e também sob um referencial psicodinâmico.
O presente trabalho tem por objetivo geral compreender como a literatura
especializada se posiciona frente ao fenômeno borderline, bem como por objetivos
específicos descrever o conceito de transtorno da personalidade e estrutura de
personalidade, analisar o conceito descrito pela literatura especializada e descrever
o tratamento atual.
Desta forma, os resultados desta pesquisa promoverão o esclarecimento
entre os conceitos Transtorno de Personalidade/Estrutura de Personalidade,
contribuindo como fonte de consulta aos acadêmicos e profissionais interessados.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A seguir serão explicitados o entendimento e os conceitos acerca do modo de
funcionamento dos sujeitos, bem como do desenvolvimento de suas personalidades,
desenvolvidos por autores, cujo referencial se aproxime do que fora construído por
Freud, e que se conhece pelo nome de Psicanálise.
2.1 SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
Para a teoria da Psicanálise a estrutura da personalidade é composta por três
grandes instâncias, a saber: o id, o ego e o superego. O comportamento
apresentado pelos sujeitos é na maioria das vezes o resultado da interação existente
entre esses três sistemas, e muito dificilmente um sistema opera com a exclusão
dos outros dois (HALL, 2000).
Com relação ao Id, acredita-se que dele se originam o ego e o superego
(HALL, 2000), bem como, “compreende as representações psíquicas dos impulsos”
(BRENNER 1987, p. 51), o que significa dizer que o mesmo funciona regido pelo
princípio do prazer, ou seja, “é hedonista e almeja satisfazer às suas necessidades,
o que reduz a tensão e propicia prazer” (CLONINGER 1999, p. 47). Esta
característica corresponde ao processo primário, que consiste num “funcionamento
mental inconsciente (...) caracterizado por idéias ilógicas e simbólicas” (CLONINGER
1999, p. 74), justificando a ausência de julgamentos de valor, ignorando o bem, o
mal e a moralidade (REIS, 1984). Ainda sobre o id e o princípio do prazer, tem-se:
“O id não tolera aumentos de energia, que são
experienciados como estados de tensão
desconfortáveis. Consequentemente, quando o
nível de tensão do organismo aumenta, como
resultado ou de estimulação externa ou de
excitações internamente produzidas, o id funciona
de maneira a descarregar a tensão imediatamente
e a fazer o organismo voltar a um nível de energia
confortavelmente constante e baixo. Esse princípio
da redução de tensão pelo qual o id opera é
chamado de princípio de prazer” (HALL 2000, p.
53).
Como mencionado anteriormente, acredita-se que o ego e o superego
originam-se do id, “o Ego é aquela parte do Id que, modificada pela proximidade e
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influência do mundo que circunda o sujeito, está apta tanto a receber estímulos
como a funcionar como escudo protetor contra tudo aquilo que ameaça o aparelho
mental” (REIS 1984, p. 49). De acordo com Freud (apud DAVIDOFF, 1983), o ego
surge nas crianças em desenvolvimento objetivando tratar de suas transações
diárias com o ambiente ao passo que as mesmas aprendem que existe uma
realidade a parte de suas próprias necessidades e desejos, ou como indica Hall
(2000, p. 54), “O ego passa a existir porque as necessidades do organismo
requerem transações apropriadas com o mundo objetivo da realidade”. Em outras
palavras, “o ego consiste naquelas funções ligadas às relações do indivíduo com seu
ambiente” (BRENNER 1987, p. 51).
A distinção básica entre ego e id, dá-se à medida que o id só conhece a
realidade subjetiva da mente, ao passo que o ego distingue as coisas na mente das
coisas no mundo externo (HALL, 2000). Diz-se que o ego destrona o princípio do
prazer (REIS, 1984), ou seja, obedece ao princípio da realidade e opera por meio do
processo secundário (HALL, 2000).
Por princípio da realidade, entende-se que e o mesmo seja o modo de
funcionamento do ego no qual existe um contato apropriado com o mundo externo
(CLONINGER, 1999), ou seja, o ego “adia a gratificação dos desejos do id até que
seja encontrada uma situação ou objeto apropriado” (DAVIDOFF 1983, p. 521), em
outras palavras, o princípio da realidade é a capacidade do ego que “pode
compreender com precisão a realidade e adaptar-se às exigências do mundo real. O
ego pode adiar gratificações e planejar” (CLONINGER 1999, p. 50).
A capacidade de adiar gratificações e planejar correspondem ao processo
secundário, citado anteriormente e que pode ser definido como o pensamento
realista (HALL, 2000), em outras palavras é “o funcionamento mental consciente no
qual predomina o ego; caracterizado pelo pensamento lógico” (CLONINGER 1999,
p. 74), ou ainda, é uma função do ego que “cria estratégias realísticas para
satisfazer os impulsos do id” (DAVIDOFF 1983, p. 521), ou seja:
“o ego formula um plano para a satisfação da
necessidade e depois testa-o, normalmente com
algum tipo de ação, para ver se ele vai funcionar
ou não. (...) o ego é a porção organizada do id,
que passa a existir para atingir os objetivos do id e
não para frustrá-los. (...) Seu principal papel é o de
mediador entre as exigências instintuais do
organismo e as condições do ambiente
circundante” (HALL 2000, p. 54).
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Nas ocasiões em que o ego ceder ao id, o superego o punirá gerando um
senso de culpa e inferioridade. Nas palavras de Freud apud Davidoff (1983, p. 522)
“o pobre ego... tem de servir a três amos duros (id, superego e realidade) e tem de
fazer o melhor que pode para conciliar as exigências dos três”.
O superego é o último sistema da personalidade a se desenvolver e pode ser
compreendido como o representante internalizado dos valores e ideais da
sociedade, passados para a criança por intermédio dos pais. O superego abrange os
preceitos morais de nossas mentes, bem como nossas aspirações ideais
(BRENNER, 1987), em outras palavras, o superego é a força moral da
personalidade. Ele representa o ideal mais do que o real e busca a perfeição mais
do que o prazer (HALL, 2000). Ao discorrer sobre esta instância, Cloninger (1999, p.
50) aponta:
“O superego nos fornece um ideal do ego, que é
uma imagem do que gostaríamos de ser, nossos
modelos anteriores. (...) pelo fato de se
desenvolver em idade precoce, o superego
representa uma forma de moralidade imatura e
rígida. No jargão psicanalítico, o superego é
“arcaico” e em grande parte inconsciente. Freud
afirmava que nosso sentimento de culpa muitas
vezes está desvinculado da realidade atual,
representando a compreensão imatura de uma
criança pequena. (...) Para Freud, a ética madura
não pode ser alcançada por meio do superego,
mas sim por meio do ego, a única estrutura da
personalidade que se adapta à realidade atual.”
Dentre as funções do superego, podem ser destacadas algumas, tidas talvez
como as principais, são elas:
“(1) inibir os impulsos do id, especialmente
aqueles de natureza sexual ou agressiva, uma vez
que estes são os impulsos cuja expressão é mais
condenada pela sociedade; (2) persuadir o ego a
substituir objetivos realistas por objetivos
moralistas; e (3) buscar a perfeição. (...)
diferentemente do ego, o superego não se satisfaz
em adiar a gratificação instintiva; ele tenta
bloqueá-la permanentemente” (HALL 2000, p. 55).
Para concluir, Reis (1984, p. 52) afirma que “o Superego exerce não somente
uma função crítica e normativa, mas, também, revela-se como base de todo ideal
humano”, ou ainda, nas palavras de Freud (1930, p. 139) “a função consiste em
manter a vigilância sobre as ações e as intenções do ego e julgá-las, exercendo sua
censura”.
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Como visto anteriormente, o princípio do prazer rege o funcionamento do
aparelho psíquico desde o início da vida do indivíduo (FREUD, 1930), sabe-se
também que o mesmo funciona sob a máxima da satisfação imediata dos instintos
(pulsões) que por muitas vezes não podem ser satisfeitos, uma vez que o contato
com a civilização, ou seja, com o princípio da realidade, exige que a satisfação
imediata de tais instintos seja adiada, por muitas vezes cancelada ou substituída por
outras vias de prazer.
Quando o sujeito ingressa no social, ou seja, quando o mesmo é inserido na
sociedade e começa a estabelecer relações sociais, depara-se com o princípio da
realidade, o que implica numa repressão dos instintos. É a maneira como o indivíduo
organiza-se internamente frente a esse embate entre a satisfação do desejo oriunda
do princípio do prazer e as exigências da civilização/princípio da realidade, que
define sua estrutura de personalidade.
Quando a criança nasce e no decorrer do primeiro ano de vida, a satisfação é
obtida através do contato da boca com o seio da mãe. Nesta fase, o bebê
passivamente recebe a realidade, engolindo o que é bom ou (menos passivamente)
cuspindo o que é ruim (CLONINGER, 1999). Para a psicanálise, neste momento a
criança vive na fase oral, ou seja, a satisfação da pulsão é alcançada pela
estimulação das mucosas da boca e o desmame é o principal conflito vivido nesta
fase (DAVIDOFF, 1983). Por ocasião de as necessidades da criança serem
satisfeitas sem qualquer esforço, a mesma sente-se onipotente; este sentimento de
onipotência vai perdendo força, ao passo que a criança compreende que as suas
necessidades são satisfeitas por intermédio dos objetos amados do mundo, ou seja,
“à medida que o bebê aprende a associar a presença da mãe à satisfação da pulsão
da fome, a mãe torna-se um objeto separado e ocorre a primeira diferenciação entre
si mesmo e os outros” (CLONINGER 1999, p. 57). A fixação da libido nesta fase
provoca o desenvolvimento de uma personalidade de caráter oral que tem como
principais traços o otimismo, a passividade e a dependência (CLONINGER, 1999).
Sobre a fase anal, Freud acreditava que neste período, por volta dos dois
anos de idade, a satisfação é obtida primeiro por expelir as fezes e depois por retêlas. “O desejo de controlar os movimentos esfincterianos na criança que começa a
andar entra em conflito com a exigência social de aquisição de hábitos de higiene”
(CLONINGER 1999, p. 58). Para Davidoff (1983), o treinamento ao banheiro
consiste no conflito central desta fase. A personalidade de caráter anal, que se
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desenvolveu em virtude da fixação da libido nesta fase, consiste em três traços:
ordem, parcimônia e teimosia (CLONINGER, 1999).
Com relação à fase fálica, que ocorre a partir dos três anos e segue até
aproximadamente os cinco anos de idade, Freud defendia que as crianças
descobrem que podem obter prazer manipulando os órgãos genitais, ou seja, o
desejo de prazer sexual da criança expressa-se através da masturbação ou autoerotismo (CLONINGER, 1999). As fantasias durante esta prática são direcionadas as
figuras parentais do sexo oposto e montam o cenário para o aparecimento dos
complexos de Édipo e Electra (HALL, 2000). O conflito corresponde à rivalidade que
se instaura para com a figura parental do mesmo sexo. Neste momento o menino
vive o que Freud denominou de Complexo de Édipo e a menina o Complexo de
Electra (DAVIDOFF, 1983).
O Complexo de Édipo caracteriza-se pelo conflito oriundo dos desejos
incestuosos do menino para com a sua mãe, somados a hostilidade dirigida ao pai,
considerado pelo menino como rival em virtude das afeições que o mesmo tem pela
mãe. O menino imagina que o pai, sentido por ele como rival irá machucá-lo, os
medos relativos ao que o pai pode fazer estão relacionados aos seus órgãos
genitais, uma vez que os mesmos são a fonte de seus sentimentos de desejo (HALL,
2000). O menino teme que o pai ciumento remova seus órgãos ofensores; este
medo sentido pelo menino foi denominado por Freud de angústia de castração e,
tanto o menino quanto a menina o sentem.
A angústia de castração induz à repressão do desejo sexual pela mãe, bem
como a hostilidade dirigida ao pai e colabora para que o menino se identifique com o
pai, o que permite que o mesmo obtenha certa satisfação dos impulsos dirigidos à
mãe, ao passo que o sentimento erótico e perigoso por ela se converte em uma
afeição terna e inofensiva (HALL, 2000).
Em uma resolução sadia do complexo de Édipo, a angústia de castração é
reprimida, ou seja, o menino abre mão de ser o substituto do pai e ao invés disso
decide tornar-se semelhante a ele. É através da identificação que o menino efetua
dois importantes desenvolvimentos; o primeiro diz respeito à internalização da
consciência, denominada superego; e a segunda consiste no fato de o menino
adquirir a identidade masculina apropriada. Para Nasio (1997), esse período que o
menino teve que atravessar foi fecundo e estruturante, uma vez que o mesmo se
tornou capaz de assumir sua falta, bem como produzir seu próprio limite. A
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consciência, ou seja, o superego está repleto de angústia de castração e quanto
maior for o medo da castração, mais forte será o superego (CLONINGER, 1999).
Nas palavras de Freud: “O superego (...) é o herdeiro do complexo de Édipo”
(FREUD 1923, p. 38).
O Complexo de Castração corresponde a “uma experiência psíquica
completa, inconscientemente vivida pela criança por volta dos três anos de idade, e
decisiva para a assunção de sua futura identidade sexual” (NASIO 1997, p. 13). É a
maneira como passamos por esse período, ou seja, como vivenciaremos essa
experiência de contato com a realidade que determinará nosso funcionamento
interno quando adultos, uma vez que, a experiência inconsciente da castração é
renovada por muitas vezes ao longo da vida, (NASIO, 1997).
As maneiras como os indivíduos se relacionam com a realidade, resultado do
complexo de castração, são conhecidas pela psicanálise como Estruturas de
Personalidade ou Estruturas Clínicas e correspondem à: Neurose, Psicose e
Perversão.
2.2 ESTRUTURAS DE PERSONALIDADE
A seguir serão explicitadas as três estruturas de personalidade sob um
referencial psicanalítico, mas antes faz-se necessário explanar acerca da concepção
de estrutura, que para a psicologia psicanalítica do ego, consiste na concepção de
que o ego pode ser conceituado como: “(1) mudando aos poucos de “estruturas”, ou
configurações, que determinam a canalização dos processos mentais, (2) os
próprios processos mentais, ou “funções” e (3) “limiares” de ativação dessas funções
e configurações” (KERNBERG 1995, p. 06). Sendo assim, estruturas de acordo com
o conceito supracitado correspondem a configurações relativamente estáveis dos
processos mentais.
Para a abordagem de relações objetais a estrutura ou organização de
personalidade
está
refletida
nas
características
dominantes
do
paciente,
principalmente com relação: “(1) ao grau de integração da identidade, (2) aos tipos
de operações defensivas que ele habitualmente emprega, e (3) à sua capacidade de
testar a realidade” (KERNBERG 1995, p. 07).
Sendo assim, a seguir seguem as explanações acerca das estruturas de
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personalidade.
NEUROSE
A estrutura clínica Neurose pode ser definida como a estrutura caracteriza
pela presença do recalque, bem como do efeito patogênico que o mesmo opera no
inconsciente, permitindo o aparecimento dos sintomas (LACAN, 1957). De acordo
com Laplanche e Pontalis (2001, p. 296), a Neurose é uma “afecção psicogênica em
que os sintomas são a expressão simbólica de um conflito que tem raízes na história
infantil do sujeito e constitui compromissos entre o desejo e a defesa”, em outras
palavras, o sujeito com estrutura de personalidade neurótica, é aquele que
reconhece a castração vivida no Complexo de Édipo e recalca-a, internalizando e
obedecendo regras, uma vez que, se transgredi-las sente culpa e sofrimento.
PERVERSÃO
A Perversão pode ser determinada pelos comportamentos psicossexuais
atípicos para a obtenção do prazer sexual, ou seja, consiste no desvio em relação à
prática sexual “normal”, que significa dizer que, quando o prazer sexual não for
obtido por penetração genital com parceiro do sexo oposto, existe Perversão,
Laplanche e Pontalis (2001).
A relação da Perversão com a Castração vivida no Complexo de Édipo está
no fato de o sujeito com estrutura de personalidade Perversa reconhecer a
castração sob a reserva de transgredi-la continuamente, (DIAS, 2004), ou seja, o
sujeito perverso reconhece a castração, porém a denega e não exita em transgredir
regras e normas.
PSICOSE
A Psicose caracteriza-se por fenômenos alucinatórios cuja causa é oriunda da
falha na inscrição da lei paterna (castração). Diz-se que o sujeito com estrutura de
personalidade psicótica não reconhece a castração, o ego rompe com a realidade,
fazendo com o que o sujeito viva de acordo com o princípio do prazer e do processo
primário.
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O mecanismo pelo qual o ego rompe com a realidade chama-se foraclusão,
que de acordo com Nasio (1995, p. 149) é “o nome que a psicanálise dá à falta de
inscrição, no inconsciente, da experiência normativa da castração, experiência
crucial que, na medida em que é simbolizada, permite à criança assumir seu próprio
sexo e, desse modo, tornar-se capaz de reconhecer seus limites”.
Com relação aos conflitos intrapsíquicos do sujeito com transtorno de
personalidade borderline, acredita-se que os mesmos “não são predominantemente
recalcados e, portanto, inconscientemente dinâmicos; eles são expressos em
estados do ego mutuamente dissociados, que refletem a defesa da dissociação
primitiva, ou clivagem.” (KERNBERG, 1991 p. 23). Dado o entendimento de que os
conflitos do sujeito boderline não são predominantemente recalcados, característica
do funcionamento neurótico, mas que existe a clivagem, característica do
funcionamento psicótico, torna-se possível compreender porque muitas definições
sobre o termo borderline apontam para uma estrutura que jaz entre a neurose e a
psicose.
No tempo de Freud as estruturas fronteiriças/borderline eram denominadas
pelo mesmo como Neuroses Atuais, sendo este termo substituído, pelos conceitos
de Organização Limítrofe, pacientes borderline e/ou fronteiriços, como indica
Junqueira (2006),
(...) as observações de Freud sobre os
quadros denominados de neuroses atuais,
que se caracterizam pela formação de
sintomas não mediados pelo simbólico, foram
as primeiras observações psicanalíticas do
que hoje segue a denominação de patologias
atuais, casos-limite ou borderline e que inclui
os distúrbios psicossomáticos, assim como
algumas formas de distúrbios alimentares. (...)
quadros limites (onde há falhas na
constituição dos limites do psiquismo).
Sabe-se que o conflito neurótico resulta de uma oposição do id ao superego,
o que nas palavras de Bergeret (1998, p. 122), equivale a dizer que “Tal conflito só
pode ser concebido como genital e edipiano”. Já na Psicose, o que existe é um
conflito entre as pulsões e a realidade, que por sua vez caracteriza uma exclusão do
ego. Com relação ao borderline, Bergeret (1998, p. 123) sustenta que o conflito
“não se situa em nenhuma das duas dialéticas.
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Trata-se, acima de tudo, de uma doença do
narcisismo... a relação do objeto permaneceu
centrada da dependência anaclítica do outro,
ou seja, constitui-se uma relação de grande
dependência permanentemente vivida e jogada
a dois (...) Isto é bem próprio da organização
limítrofe. É preciso apoiar-se no interlocutor,
tanto em espera passiva e demanda de
satisfações positivas quanto em manipulações
muito mais agressivas, evidentes ou não desse
parceiro indispensável”.
Ainda com relação às diferenças entre as estruturas de personalidade,
Kernberg (1995) afirma que a estrutura neurótica de personalidade apresenta uma
organização defensiva centrada no recalcamento, bem como em outras operações
defensivas avançadas ou de alto nível, o que não ocorre nos fenômenos borderline
nem nas estruturas psicóticas, que por sua vez, apresentam uma predominância de
operações defensivas primitivas centradas no mecanismo de cisão [Splitting].
O mecanismo de cisão consiste na divisão de objetos externos em
“inteiramente bons” e “inteiramente maus”, cuja função é proteger o ego de conflitos
por meio da dissociação ou do afastamento de experiências contraditórias do Self e
de outros significativos (KERNBERG, 1995 p. 15). Além deste mecanismo primitivo,
outros mecanismos tão primitivos quanto este estão envolvidos nestes casos, como
por exemplo, os tipos primitivos de projeção (identificação projetiva), negação,
onipotência e desvalorização que por sua vez “protegem o paciente borderline de
conflito intrapsíquico, mas com o preço de enfraquecer o seu funcionamento do ego”
(KERNBERG, 1995 p. 15).
2.3 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
Este capítulo apresentará os critérios diagnósticos para Transtorno da
Personalidade Borderline numa perspectiva médica, descritos pelo Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR, 2002).
2.3.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
18
De acordo com o critério diagnóstico 1 do DSM-IV-TR (2002), os indivíduos
com esse transtorno fazem “esforços frenéticos no sentido de evitar um abandono
real ou imaginário”, são muito sensíveis
às circunstâncias ambientais e
experimentam intensos temores de abandono e raiva inadequada, mesmo quando o
abandono real for por um tempo limitado ou quando existirem mudanças inevitáveis
em seus planos. Ao passo que percebem a iminência da separação, da rejeição ou
ainda da perda da estrutura externa, esses sujeitos experienciam profundas
alterações na auto-imagem, no afeto, na cognição e no comportamento, bem como
intolerância à solidão e necessidade de ter outras pessoas consigo. Tais
comportamentos ocorrem porque o sujeito borderline acredita que esses abandonos
implicam em ele ser mau.
Outra característica deste quadro diz respeito aos relacionamentos instáveis e
intensos que caracterizam-se por uma alternância entre extremos de idealização e
desvalorização, considerados como 2º critério na avaliação desses indivíduos que
podem idealizar potenciais cuidadores ou amantes já no primeiro ou segundo
encontro, exigindo que passem mais tempo juntos, bem como compartilhem
detalhes extremamente íntimos na fase inicial do relacionamento. Por achar que o
outro não se importa o suficiente, não oferece o bastante, ou por não estar presente
suficientemente, logo toda a idealização passa a desvalorização. Esses sujeitos
estão inclinados a mudar súbita e dramaticamente suas opiniões sobre os outros,
“que podem ser vistos como suportes benévolos ou como cruelmente punitivos”
(DSM-IV-TR, 2002 p. 661).
De acordo com o critério diagnóstico 3 “Pode haver um distúrbio de identidade
caracterizado por uma auto-imagem ou sentimento de self acentuado e
persistentemente instável”, o que resulta numa constante mudança de objetivos,
valores e aspirações profissionais, bem como na mudança de opinião e planos com
relação a
carreira, valores, tipos de amigos e identidade sexual.
Como indica
Kernberg (1995, p. 13), que por sua vez salienta:
(...)
na
organização
borderline
de
personalidade falta tal integração, e tanto as
representações do self quanto do objeto
permanecem
representações
afetivocognitivas múltiplas e contraditórias do self e
dos outros (...) esta falha em integrar
aspectos “bons” e “maus” da realidade do self
19
e dos outros é supostamente devido à
predominância de forte agressão inicial,
ativada nesses pacientes. (...) na organização
borderline de personalidade é a visão interna
de si mesmo e dos outros que não está
integrada.
Um exemplo disso é que do papel de uma pessoa suplicante e carente de
auxílio, o borderline passa rapidamente ao papel de um vingador implacável. Apesar
de possuírem uma auto-imagem de malvados, é comum que esses indivíduos
sintam que não existem em absoluto frente a situações nas quais sentem falta de um
relacionamento significativo, carinho e apoio.
Com relação a esta população, Kernberg (1995) afirma que os mesmos não
possuem boa capacidade para avaliarem realisticamente os outros, e que suas
relações são, a longo prazo caracterizadas por uma percepção dos outros cada vez
mais distorcida, caótica e superficial.
Estes indivíduos apresentam impulsividade em no mínimo duas áreas
potencialmente prejudiciais para si próprios. De acordo com Tanesi (2007) a
impulsividade do borderline parece estar relacionada à desesperança e à sensação
de vazio, de sentido na vida. A crença de estar sem apoio e a falta de esperança no
futuro levam ao desespero, aos atos impulsivos e a situações de risco,
características que correspondem ao critério diagnóstico 4, e que diz respeito a atos
como jogar, gastar de maneira irresponsável, dirigir imprudentemente, comer em
excesso, bem como, abusar de substâncias químicas e engajar-se em sexo
inseguro.
Comportamentos,
gestos
ou
ameaças
suicidas
ou
comportamento
automutilante como queimar-se ou cortar-se são comuns nestes sujeitos e atos
como estes estão enquadrados no critério diagnóstico 5. Estes atos autodestrutivos
geralmente antecipam ameaças de separação ou rejeição ou quando exige-se que
assumam maiores responsabilidades, “a automutilação pode ocorrer durante
experiências dissociativas e frequentemente traz alívio pela reafirmação da
capacidade de sentir ou pela expiação do sentimento de ser mau” (DSM-IV-TR, 2002
p. 661).
Disforia episódica intensa, irritabilidade ou ansiedade que geralmente dura
algumas horas e raramente alguns dias, preenchem o critério diagnóstico 6, que
20
afirma que as pessoas que pertencem a este grupo podem apresentar instabilidade
afetiva, em virtude de uma acentuada reatividade do humor. O humor disfórico
básico destes indivíduos muitas vezes é perturbado por períodos de raiva, pânico ou
desespero raramente aliviados por períodos de satisfação ou bem-estar. Estes
episódios podem refletir a extrema reatividade do indivíduo a estresses
interpessoais.
Entediados e tomados por sentimentos crônicos de vazio (critério 7), estes
indivíduos podem estar sempre buscando algo para fazer. Frequentemente
expressam raiva intensa e inadequada ou têm dificuldades para controlar a raiva
(critério 8), como por exemplo, demonstrações freqüentes de irritação, raiva
constante e lutas corporais recorrentes. Ainda para satisfazer este critério, estes
sujeitos “podem exibir extremo sarcasmo, persistente amargura ou explosões
verbais”, a raiva frequentemente surge quando um cuidador ou amante é percebido
como negligente, omisso, indiferente ou prestes a abandoná-lo, estas expressões da
raiva são seguidas de culpa e vergonha, uma vez que contribuem para o sentimento
de ser mau.
Por fim, durante períodos de extremo estresse podem ocorrer sintomas
dissociativos transitórios ou ideação paranóide (critério 9), como por exemplo a
despersonalização. Estes sintomas em geral têm gravidade ou duração insuficiente
para indicarem um diagnóstico adicional e ocorrem em resposta a um abandono real
ou imaginário. O retorno real ou percebido do carinho da pessoa cuidadora pode
resultar numa remissão dos sintomas.
Os critérios diagnósticos supracitados, apesar de serem destinados a
paciente adultos, podem ser aplicados a crianças. Não existe uma população infantil
que satisfaça uma definição de consenso, com base em critérios de exclusão.
Déficits neuropsicológicos, inclusive de memória e aprendizagem (O´LEARY apud
CUNHA et. al, 2001), alterações genéticas (TORGERSEN apud CUNHA et. al 2001)
e fatores ambientais (ZANARINI apud CUNHA et. al, 2001), ao que tudo indicam
parecem desempenhar papéis importantes no desenvolvimento da doença, o que
sugere um modelo multifatorial da etiologia deste transtorno. Kernberg (1995, p. 06)
afirma que “a história genética tem muito pouco para contribuir para o problema
clínico da diferenciação entre sintomatologia neurótica, borderline e psicótica” e
numa visão mais psicanalítica, Junqueira (2006) infere que,
21
(...) os quadros borderline se formam onde há
uma falha no processo de representação dos
objetos da pulsão, pois na medida em que a
libido não se liga a um objeto externo ela não
encontra um meio de representação; e,
também, com a idéia de que, nesses quadros,
as fronteiras entre as instâncias são porosas,
pois essas fronteiras se formam justamente a
partir do vai-e-vem da libido e dos objetos.
Com relação aos aspectos clínicos de crianças com transtorno de
personalidade borderline, Anna Freud em 1956 em seu artigo “A Avaliação dos
Casos
Borderline”
identificou
profundos
níveis
de
regressão,
bem
como
comprometimentos evolutivos maciços, retração da libido do mundo objetal
deslocada para o corpo e para o self, bem como incapacidade para receber conforto
e defeitos específicos do ego, como por exemplo, tente de realidade deficiente,
funções de sintetização enfraquecidas e inadequado desenvolvimento dos
mecanismos de defesa próprios da idade (LEWIS, 1995).
Dentre esses comportamentos, Engel, Roselfeld e Sprince e Frikling-Shreuder
(1970 apud LEWIS 1995), indicam a existência de uma ansiedade relacionada a
temores de aniquilamento ou desintegração e formas extremas de solidão. As
crianças borderline sentem-se como bebês cujas mães estão permanentemente fora
do quarto”.
De acordo com Barlow (1999, p. 450) “a maioria dos indivíduos com uma
vulnerabilidade temperamental inicial a uma desregulação da emoção não
desenvolve TPB”, o que significa que para o desenvolvimento desta condição serão
necessários ambientes particulares de desenvolvimento, como o conceito de
ambientes invalidantes criado por Linehan e que pode ser definido como um
ambiente que possui uma “tendência a negar e/ou responder desordenada e
inapropriadamente à experiência privada e, em particular, a experiências privadas
não acompanhadas por efeitos secundários públicos facilmente interpretáveis”
(LINEHAN apud BARLOW, 1999 p. 450), o que significa dizer que nestes contextos
as experiências emocionais e as interpretações dos eventos, são por muitas vezes
consideradas como respostas inválidas ao eventos, ou punidas, desprezadas,
abandonadas, banalizadas, ou ainda, aludidas a características socialmente
inaceitáveis.
22
2.4 TRATAMENTO
Este capítulo apresentará dados referentes ao tratamento de pessoas com
transtorno da personalidade borderline, bem como aspectos relativos à adesão, ao
sucesso terapêutico e às dificuldades enfrentadas durante o tratamento.
Inicialmente faz-se necessário discorrer sobre a noção de adesão ao
tratamento, que pode ser concebida como um comportamento complexo que inclui
características do paciente, do clínico e das estratégias de tratamento utilizadas
(DSM-IV-TR, 2002). De um modo geral, a não-adesão a um tratamento engloba
muitos comportamentos, que vão desde uma relutância em procurar ajuda,
interrupções prematuras no acompanhamento, consultas e sessões irregulares, até
o uso de doses inadequadas da medicação, bem como o uso de medicações não
recomendadas (Blackwell, 2000). Para Gunderson (1989) as razões conscientes
mais comuns apontadas pelos pacientes para não aderirem ao tratamento e
freqüentarem as sessões de psicoterapia, dizem respeito à frustração com o
tratamento, bem como a falta de suporte social e dificuldades logísticas em
comparecer às consultas.
Em uma revisão sobre tratamentos psicológicos, Stone (2006) tomou
conhecimento da existência de três linhas psicoterapêuticas maiores para o
tratamento de pessoas com Transtorno da Personalidade Borderline, sendo elas a
psicoterapia psicodinâmica, a terapia cognitivo-comportamental e a terapia suportiva,
e observou que apesar de existirem diferenças específicas em suas características,
ambas as possibilidades objetivam melhorar os sintomas e as dificuldades desses
pacientes. O autor ainda alerta os terapeutas no sentido de que eles, no início do
processo, deverão lidar com seis sérias dificuldades, sendo elas, o suicídio e a automutilação, ameaças de interrupção precoce do tratamento, bem como depressão,
abuso de substâncias, dissociação e manifestações de ansiedade e pânico.
Com relação ao sucesso das intervenções psicológicas em pacientes com
diagnóstico de Transtorno da Personalidade Borderline, Binks (2000) pôde concluir,
por meio de uma revisão sistemática, que os problemas apresentados por estas
pessoas podem ser aliviados com tratamentos que envolvem a conversa ou
tratamentos comportamentais e alerta que todos os tipos de tratamento ainda estão
na fase experimental, bem como, que os estudos são poucos e limitados,
impossibilitando inferir uma completa confiança em seus resultados.
23
Em um estudo desenvolvido por profissionais da Universidade Federal de São
Paulo, foram submetidas à psicoterapia de orientação analítica, concomitante ao
atendimento psiquiátrico, seis pacientes do sexo feminino. A freqüência das sessões
de psicoterapia variou de duas a três sessões semanais, ao passo que o
atendimento psiquiátrico variava de uma vez por semana, a uma vez por mês. O
estudo teve como objetivo colher dados, que permitissem a identificação de
construtos que, por sua vez, sugerissem o porquê das dificuldades de adesão ao
tratamento em cada caso.
Este estudo elaborado por Tanesi et al. (2007) permitiu identificar os seguintes
construtos que interferiram na adesão ao tratamento: Impulsividade, manipulações,
dissociação afetiva, tentativas de suicídio e auto-agressões, tendência à regressão e
agressividade, bem como ataques ao vínculo, ataques à melhora, e agressividade
voltada para a equipe e para a instituição. O estudo feito numa perspectiva
qualitativa utilizou como estratégia social a intervenção familiar, que permitiu cogitar
a hipótese de que familiares saudáveis podem contribuir significativamente para a
adesão ao tratamento destes pacientes.
Em outro estudo elaborado por Carvalho et al. (2004), que teve como objetivo
revisar atuais evidências, relacionadas à efetividade das inúmeras abordagens
farmacológicas empregadas nesta população, tornou possível concluir que embora
seja difícil mensurar o real benefício dos psicotrópicos neste pacientes, o tratamento
psicofarmacológico
se
torna
útil, principalmente
como
agente
adjunto
às
psicoterapias que seguem um referencial psicodinâmico ou cognitivo.
Seguindo esta linha de raciocínio, que por sua vez sugere um tratamento
combinado, interdisciplinar, torna-se possível trazer à luz os resultados obtidos no
estudo elaborado por Dal’Pizol et. Al. (2003) efetuado no Ambulatório Melanie Klein
do Hospital Psiquiátrico São Pedro, que por sua vez, lançou mão de um tratamento
combinado entre psicoterapia individual de orientação analítica, grupoterapia de
orientação analítica, psicofarmacoterapia e intervenções sociais. Este estudo
permitiu verificar que houve uma melhora tanto nos aspectos qualitativos da vida dos
pacientes (relacionamento interpessoal, interesses e atividades ocupacionais e de
lazer, autonomia), quanto nos aspectos quantitativos (número de internações,
tentativas de suicídio, procura por serviços de emergência).
Por fim, após a apresentação de algumas alternativas para o tratamento
destes sujeitos, torna-se possível inferir que a abordagem psicodinâmica, bem como
24
a cognitiva aliadas à psicofarmacoterapia, obtém resultados importantes no que diz
respeito à melhora dos sintomas apresentados por estes pacientes.
25
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
3.1 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada neste trabalho foi a Pesquisa Bibliográfica, que
consiste numa pesquisa elaborada a partir de material já produzido, sendo estes
livros e artigos científicos (GIL, 1996). Essa metodologia consiste num apanhado
bibliográfico sobre tudo o que foi escrito sobre o tema (DESLANDES, 1994;
MARCONI e LAKATOS, 1999; MARTINS e LINTZ, 2000). Utilizar-se-ão referenciais
teóricos, tais como, livros e artigos com o objetivo de mapear a produção científica
geral sobre o Transtorno da Personalidade Borderline, sobre o conceito de estrutura
e de transtorno e também sobre o tratamento atual.
Esta pesquisa bibliográfica foi elaborada dentro de uma abordagem de
pesquisa qualitativa. A particularidade da pesquisa qualitativa está na forma como
ela apreende e legitima os conhecimentos, que não se reduzem a um rol de dados
isolados conectados por uma teoria que os explique. Aqui existe um pesquisador,
também denominado de sujeito-observador por Chizzotti (2005) que é parte
integrante do processo de conhecimento, que interpreta os fenômenos e lhes atribui
um significado.
Para a validação dos dados de uma pesquisa qualitativa, existem dois
métodos, a saber, o método da validação qualitativa interna ou “intrapessoal” e o
método da validação externa ou “interpessoal”, sendo este último método o utilizado
neste trabalho.
Na validação interna, admitem-se os dados coletados como válidos mediante
o uso do conjunto de conhecimentos/experiências que completem as bases intuitiva,
técnica e intelectual do investigador, bem como seu background, planejamento
adequado e seu senso crítico. Já na validação externa, o processo de validação é
estabelecido na vivência do pesquisador com os membros de sua comunidade
acadêmica, ou seja, na supervisão com o orientador da pesquisa, na discussão dos
achados com seus pares e na troca de idéias acerca dos resultados preliminares
com as audiências qualificadas em eventos e reuniões científicas (TURATO, 2003).
26
3.2 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
Para a coleta de dados para esta pesquisa, o pesquisador efetuou uma busca
pelos termos “transtorno borderline”, “pacientes limítrofes”, “tratamento de pacientes
fronteiriços”, “psicoses ordinárias”, “casos inclassificáveis”, “neuroses atuais” no
idioma português, nas seguintes bibliotecas:

SciELO, www.scielo.br, considerando que esta biblioteca inclui as principais
revistas científicas brasileiras.

Google Acadêmico, www.scholar.google.com.br

Obras literárias da área que ofereçam contribuições teóricas para o presente
trabalho.

Biblioteca
online
da
Escola
Brasileira
de
Psicanálise,
http://www.ebp.org.br/biblioteca/biblioteca.html
Foram encontrados cerca de 30 artigos, em sua maior parte no ano de 2009,
quando deu-se o início da pesquisa. Ao passo que os dados foram sendo reunidos,
o pesquisador efetuou uma leitura minuciosa do material, com vistas a construir o
referencial teórico desta pesquisa, que por sua vez subsidiou a análise dos dados
coletados, numa perspectiva qualitativa.
3.3 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS
Os dados coletados nesta pesquisa foram compreendidos e analisados de
acordo com os procedimentos inerentes à análise de conteúdo e que consistem em
cinco etapas, como ilustra Moraes (1999):
1ª Preparação das informações: A preparação das informações consiste, num
primeiro momento em identificar as diferentes amostras de informação a serem
analisadas. Num segundo momento, inicia-se o processo de codificação destes
materiais, que por sua vez consiste em estabelecer um código que possibilite
identificar, de maneira rápida, cada elemento a ser analisado.
2ª Unitarização (transformação do conteúdo em unidades): O processo de
unitarização consiste em reler cuidadosamente o material, a fim de definir a unidade
de análise, também denominada de unidade de registro, ou ainda de unidade de
significado e, que corresponde ao elemento unitário de conteúdo que será
submetido à classificação posteriormente. A unidade de análise poderá ser tanto
27
palavras, quanto frases, temas ou os documentos em sua forma integral.
3ª Categorização (classificação das unidades de análise em categorias): A
categorização consiste em agrupar os dados colhidos, considerando-se a parte
comum existente entre eles. Para tanto, classificam-se os dados por semelhança ou
analogia, segundo os critérios estabelecidos, que por sua vez podem ser
semânticos, sintáticos, léxicos, ou ainda em critérios expressivos. Esta etapa de
categorização deve ser entendida como um processo de redução de dados, ou seja,
as categorias elencadas representam o resultado de um esforço de síntese,
destacando neste processo seus aspectos mais importantes. Vale ressaltar que as
categorias precisam ser válidas, pertinentes, adequadas, bem como homogêneas,
objetivas e fidedignas.
4ª Descrição: A etapa de descrição, em uma pesquisa do tipo qualitativa
consiste na criação de um texto síntese para cada uma das categorias elencadas
anteriormente, a fim de expressar o conjunto de significados que se encontram
presentes nas unidades de análise incluídas nestas categorias. É nesta etapa de
descrição que serão expressos os significados captados e intuídos, sobre o material
colhido.
5ª Interpretação: A interpretação consiste na procura pela compreensão e
pode ser efetuada de duas formas. A primeira delas relaciona-se aos estudos feitos
com uma fundamentação teórica explicitada a priori. Neste tipo de estudo a
interpretação é efetuada por meio da exploração dos significados contidos nas
categorias de análise, contrastando-os com a teoria que fundamenta o trabalho. No
outro modo de interpretação, a teoria é construída com base nos dados e nas
categorias de análise, ou seja, a teoria emerge das informações e categorias. De
todo modo, a interpretação dos dados é imprescindível em toda e qualquer análise
de conteúdo, mas especialmente nas de natureza qualitativa.
Deste modo, a partir do material colhido, procedeu-se a análise de conteúdo,
que correspondeu a agrupar os elementos comuns ao tema desta pesquisa e que
correspondem às seguintes categorias expressas na tabela abaixo:
1
CATEGORIAS
RECORTES DA BIBLIOGRAFIA
Conceituação
“O termo Borderline foi utilizado pela primeira vez em
do termo
1945 por A. Stern, num livro intitulado Psychoanalytic
28
borderline
therapy in the borderline nevroses referindo-se a um tipo
de neurose, mas apenas em 1949 por intermédio de
Eisenstein, que o termo se tornou uma classe composta
pelos mais diversos diagnósticos que não podiam ser
inseridos nas classes das neuroses e/ou das psicoses
(CERVELATTI, 2005)”
“Para Green (1988, p. 66,68), autor norte-americano,
fronteiriço/borderline corresponde ao termo comumente
utilizado para se referir a perturbações psicopatológicas
que jazem na fronteira entre a neurose e a psicose”
No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais, encontra-se a denominação Transtorno da
Personalidade Borderline, que por sua vez corresponde a
“um padrão global de instabilidade dos relacionamentos
interpessoais, da auto-imagem e dos afetos, e acentuada
impulsividade que começa no início da idade adulta e
está presente em uma variedade de contextos”
“os conflitos intrapsíquicos do sujeito com transtorno de
personalidade borderline não são predominantemente
recalcados e, portanto, inconscientemente dinâmicos;
eles são expressos em estados do ego mutuamente
dissociados, que refletem a defesa da dissociação
primitiva, ou clivagem.”
“as
observações
de
Freud
sobre
os
quadros
denominados de neuroses atuais, que se caracterizam
pela formação de sintomas não mediados pelo simbólico,
foram as primeiras observações psicanalíticas do que
hoje segue a denominação de patologias atuais, casoslimite ou borderline”
“Trata-se, acima de tudo, de uma doença do narcisismo...
a
relação
do
objeto
permaneceu
centrada
na
dependência anaclítica do outro, ou seja, constitui-se uma
relação de grande dependência permanentemente vivida
29
e jogada a dois”
“o que não ocorre nos fenômenos borderline nem nas
estruturas psicóticas, que por sua vez, apresentam uma
predominância
de
operações
defensivas
primitivas
centradas no mecanismo de cisão [Splitting].”
2
Conceito de
“Para Cloninger (1999, p. 03), estudiosa da área da
estrutura de
psicologia do ego, a personalidade numa perspectiva que
personalidade
considera a existência de processos que ocorrem em um
nível inconsciente, pode ser definida como as causas
subjacentes
do
comportamento
e
da
experiência
individual que existem dentro da pessoa”
“Carver e Scheier (2000, p. 05) consideram que a
"Personalidade é uma organização interna e dinâmica
dos sistemas psicofísicos que criam os padrões de
comportar-se, de pensar e de sentir característicos de
uma pessoa".
“Kernberg (1995, p. 07), que por sua vez, propõe “a
existência de três grandes organizações estruturais
correspondentes
à
organização
de
personalidade
neurótica, borderline e psicótica”.
“para a psicologia psicanalítica do ego, consiste na
concepção de que o ego pode ser conceituado como: “(1)
mudando aos poucos de “estruturas”, ou configurações,
que determinam a canalização dos processos mentais,
(2) os próprios processos mentais, ou “funções” e (3)
“limiares” de ativação dessas funções e configurações”
(KERNBERG 1995, p. 06)
“Para a abordagem de relações objetais a estrutura ou
organização
de
personalidade
está
refletida
nas
características dominantes do paciente, principalmente
com relação: “(1) ao grau de integração da identidade, (2)
aos tipos de operações defensivas que ele habitualmente
emprega, e (3) à sua capacidade de testar a realidade”
30
(KERNBERG 1995, p. 07).
3
Conceito de
“(DSM-IV-TR, 2002 p. 27) também apresenta uma
transtorno da
definição para o termo transtorno, que corresponde a
personalidade
síndromes ou padrões comportamentais ou psicológicos
clinicamente importantes, que ocorrem num indivíduo e
que estão associados com o sofrimento, incapacitação ou
com
um
risco
significativamente
aumentado
de
sofrimento, morte, dor, deficiência, ou importante perda
da liberdade”.
“um produto de um persistente conflito entre um impulso
libidinal e a repressão sexual, ou seja, entre uma
tendência sensual e uma tendência ascética (FREUD,
1917).”
“conflito neurótico resulta de uma oposição do id ao
superego, o que nas palavras de Bergeret (1998, p. 122),
equivale a dizer que “Tal conflito só pode ser concebido
como genital e edipiano”.
“na Psicose, o que existe é um conflito entre as pulsões e
a realidade, que por sua vez caracteriza uma exclusão do
ego”.
4
Tratamento
“adesão ao tratamento, que pode ser concebida como um
atual
comportamento complexo que inclui características do
paciente, do clínico e das estratégias de tratamento
utilizadas (DSM-IV-TR, 2002)”
“Stone (2006) tomou conhecimento da existência de três
linhas psicoterapêuticas maiores para o tratamento de
pessoas com Transtorno da Personalidade Borderline,
sendo elas a psicoterapia psicodinâmica, a terapia
cognitivo-comportamental e a terapia suportiva”.
“Binks (2000) pôde concluir, por meio de uma revisão
sistemática, que os problemas apresentados por estas
pessoas podem ser aliviados com tratamentos que
envolvem a conversa ou tratamentos comportamentais”.
31
“Em um estudo desenvolvido por profissionais da
Universidade Federal de São Paulo, foram submetidas à
psicoterapia de orientação analítica, concomitante ao
atendimento
psiquiátrico,
seis
pacientes
do
sexo
feminino”.
“Em outro estudo elaborado por Carvalho et al. (2004),
(...) tornou possível concluir que embora seja difícil
mensurar o real benefício dos psicotrópicos neste
pacientes, o tratamento psicofarmacológico se torna útil,
principalmente como agente adjunto às psicoterapias que
seguem um referencial psicodinâmico ou cognitivo”.
“resultados obtidos no estudo elaborado por Dal’Pizol et.
Al. (2003) efetuado no Ambulatório Melanie Klein do
Hospital Psiquiátrico São Pedro, que por sua vez, lançou
mão de um tratamento combinado entre psicoterapia
individual
de
orientação
analítica,
grupoterapia
de
orientação analítica, psicofarmacoterapia e intervenções
sociais”.
TABELA 1: Termos e conceitos
3.4 ANÁLISE DOS DADOS
Categoria 1 – Conceituação do termo borderline: Expõe a definição encontrada
na literatura especializada relativa ao termo borderline, bem como a noção que se
tem com relação a esta temática. Pôde-se perceber que sua primeira utilização
referia-se a um tipo de Neurose, que como fora citado anteriormente caracteriza-se
pela presença do recalque (LACAN, 1957), mas que posteriormente o termo
começou a ser utilizado para se referir especialmente às perturbações psicológicas
que encontravam-se entre a Neurose e a Psicose, que por sua vez caracteriza-se
pela foraclusão (NASIO, 1995), sem se apropriarem de uma ou outra categoria
diagnóstica, uma vez que estes sujeitos apresentam características de ambas as
estruturas.
Categoria 2 – Conceito de estrutura de personalidade: Apresenta o entendimento
32
dos referidos autores sobre o conceito de estrutura. De um modo geral, os autores
compreendem o conceito como as características dominantes de um indivíduo, a
maneira como os sujeitos se organizam interna e dinamicamente e que culmina nas
causas subjacentes do comportamento humano. Em outras palavras, é o produto da
interação entre as instâncias id, ego e superego (HALL, 2000).
Categoria 3 – Conceito de transtorno de personalidade: Expressa a maneira
como o conceito encontra-se disponibilizado na literatura atual e especializada. Foi
possível obter uma visão médica, como a apresentada pelo DSM-IV-TR (2002) que o
compreende como uma síndrome ou um padrão comportamental ou psicológico
clinicamente importante, que está associado com o sofrimento, incapacitação ou
com um risco significativamente aumentado de sofrimento, morte, dor, deficiência, ou
importante perda da liberdade, bem como obter um entendimento psicodinâmico,
como o apresentado por Freud e Bergeret que respectivamente, o consideram como
um produto de um persistente conflito entre um impulso libidinal e a repressão
sexual, ou seja, entre uma tendência sensual e uma tendência ascética (FREUD,
1917), ou como uma oposição do id ao superego (BERGERET, 1998).
Categoria 4 – Tratamento atual: Apresenta as diferentes alternativas para o
tratamento de pessoas diagnosticadas borderline, bem como a noção de adesão,
que
pode ser concebida como um comportamento
complexo
que
inclui
características do paciente, do clínico e das estratégias de tratamento utilizadas
(DSM-IV-TR, 2002). Pôde-se observar que embora não existam muitos estudos
acerca do tratamento desta demanda a psicoterapia psicodinâmica, bem como a
cognitivo-comportamental e a terapia suportiva aliadas à psicofarmacoterapia, à
grupoterapia de orientação analítica e às intervenções sociais, mostram-se como
possibilidades interdisciplinares eficazes de abordar estes sujeitos.
3.5 DISCUSSÃO DOS DADOS
Tendo em vista que o problema de pesquisa deste trabalho foi o de buscar na
literatura atual e especializada identificar como a mesma se posiciona com relação
ao borderline, bem como ao conceito de estrutura e de transtorno e ainda descrever
o tratamento atual, observou-se que os entendimentos acerca deste tema se
aproximam. Esta aproximação pode ser observada no que diz respeito às possíveis
33
causas contribuidoras para o desencadeamento desta desordem como o conceito de
ambientes invalidantes, quanto em relação ao típico modo de funcionamento destes
sujeitos, caracterizado por uma instabilidade apresentada em uma variedade de
contextos. A diferenciação efetuada entre os autores ao considerar o fenômeno
como uma estrutura de personalidade ou como um transtorno de personalidade é
apenas uma questão de referencial, que por sua vez não implica em maiores
comprometimentos no entendimento do conflito destes sujeitos.
Faz-se necessário alertar o leitor com relação ao posicionamento de Kernberg
(1995), que por sua vez, propõe três grandes organizações de personalidade,
suprimindo a Perversão e substituindo-a por borderline. Este entendimento pode
levar o leitor a confundir Perversão com borderline, porém sabe-se que apesar de
ambos os casos caracterizarem-se por problemas com relação aos limites e à
internalização da lei da castração, a Perversão consiste na transgressão das leis,
nas palavras de Quinet (1997, p. 24) “há a admissão da castração no simbólico e
concomitantemente uma recusa, um desmentido”, em contrapartida o borderline
consiste na não simbolização da lei, o que o aproxima da estrutura Psicose.
Ficou evidente também que os autores norte-americanos possuem maior
afinidade pelo termo borderline, bem como concentram seus estudos e
fundamentam seu diagnóstico, embasados nos mecanismos defensivos que estes
sujeitos apresentam.
Além disso, tornou-se possível identificar na literatura consultada que os
tratamentos psicoterápicos efetuados sob um referencial psicodinâmico em conjunto
com outros métodos de tratamento (psicofármaco, intervenções sociais e grupo
terapia), se faz eficaz, tanto no que concerne à diminuição do sofrimento, quanto
relacionada à supressão de sintomas apresentados por esta população.
Considerando-se o que fora explicitado sobre o aparelho psíquico, que o
mesmo seja formado pelas instâncias id, ego e superego, bem como a noção de
processo primário e secundário, pode-se inferir que o funcionamento borderline
caracteriza-se por uma falha na internalização do superego (realidade), uma vez
que, como fora citado por Bergeret (1998), trata-se acima de tudo de uma doença do
narcisismo, ou seja, o funcionamento do sujeito está regido principalmente pelo
processo primário/princípio de prazer, característica da instância id, hedonista e
desconhecedora do princípio de realidade/processo secundário. Isto pode ser
percebido nos comportamentos autodestrutivos, na incapacidade do borderline em
34
tolerar frustrações,
entre
outras
características
apresentadas
nos
critérios
diagnósticos do DSM-IV-TR, que de maneira geral apontam para um modo de
funcionamento em que existe uma supervalorização da própria experiência, onde
desconsidera-se a existência do outro e da realidade, ainda que de maneira mais
branda e não tão intensa como na Psicose.
Diferenças entre a idéia de que o fenômeno seja um transtorno ou uma
estrutura de personalidade a parte, há algo importante e comum entre os autores
referenciados neste trabalho e que corresponde à produção do conhecimento sobre
estes casos que amiúde aparecem nos consultórios, hospitais, entre outros
ambientes voltados à saúde e que possibilitam cada vez mais reflexões e
entendimentos sobre estes sujeitos, o que também permite repensar alternativas
mais eficazes ao tratamento destes pacientes.
35
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este Trabalho de Conclusão de Curso apresentou uma revisão de literatura
sobre os conceitos: borderline, transtorno, estrutura de personalidade e uma
descrição do tratamento atual. Na seqüência foram descritas categorias a partir das
informações coletadas e dos objetivos desta pesquisa, que posteriormente foram
analisadas e discutidas.
Ao final deste trabalho, que possibilitou uma explanação subsidiada por um
referencial psicodinâmico e médico em que propôs-se identificar como a literatura
atual e especializada se posicionara com relação ao borderline, considerando o
fenômeno como um transtorno ou como uma estrutura, obteve-se como produto um
apanhado bibliográfico rico e substancial, em que fora possível constatar diferentes
posicionamentos relacionados ao problema de pesquisa, que tendem a contribuir
para o profissional Psicólogo, no sentido de permitir que o mesmo obtenha um
entendimento interdisciplinar do fenômeno (médico e psicodinâmico).
Considerando-se contribuição os diferentes posicionamentos, há que se
considerar também que este foi o entrave que impossibilitou indicar qual a
denominação mais apropriada, se é que ela existe, uma vez que dadas as teorias
sobre o funcionamento dos processos psíquicos dos sujeitos, considerá-lo um
transtorno ou uma estrutura só se torna possível após a escolha de uma dessas
teorias, ou seja, a escolha por um referencial que possibilite o entendimento do
fenômeno em questão.
Com relação aos objetivos específicos desta pesquisa, que corresponderam
respectivamente a descrever o conceito de transtorno da personalidade, de estrutura
de personalidade, analisar o conceito descrito pela literatura e descrever o
tratamento atual, o presente trabalho possibilitou visualizar o entendimento que a
classe dos Psiquiatras possui acerca do sofrimento psíquico dos sujeitos,
contrapondo com o entendimento que Freud elaborou acerca das causas do
adoecimento e sofrimento psíquicos, permitindo ao leitor escolher pela definição que
melhor lhe parece, sem se ter exercido qualquer influência.
No que concerne ao tratamento atual, o pesquisador reuniu dados de
pesquisas sobre práticas psicoterápicas utilizadas nestes pacientes, que por sua vez
elencaram as dificuldades inerentes ao tratamento, concomitantemente ao sucesso
obtido em terapias cujo referencial sustente a conversa como meio eficaz para a
36
diminuição do sofrimento e supressão de sintomas, o que por sua vez, atribui maior
valor à prática clínica desenvolvida pelos profissionais da Psicologia, que amiúde
corresponde a aliviar o sofrimento dos pacientes, por intermédio da conversa.
Sendo assim, pode-se considerar que este trabalho alcançou os objetivos a
que se propôs investigar, bem como que o mesmo serve como base de dados para
pesquisa no âmbito acadêmico.
37
5. CRONOGRAMA
MÊS/ANO
ATIVIDADES
Agosto
Revisão
Bibliográfica
Elaboração Coleta de
do TCC
Dados
Setembro Outubro Novembro Dezembro
2011
2011
2011
X
X
X
2011
X
Análise de
Dados
Discussão de
Dados
Redação do
TCC
X
X
X
X
X
X
X
Entrega do TCC
X
Defesa do TCC
X
Devolução
Instituição
para
2011
a
X
38
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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