DEMO, Pedro. Pesquisa participante: saber pensar e

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O PIBID E A EDUCAÇÃO NO BRASIL
Vera Lúcia Santos Mutti Malaquias1
Universidade Federal da Bahia (Brasil) 2
[email protected]
Resumo
O PIBID - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência se constitui em um Programa de
Política Pública no Brasil, que tem como proposta promover o diálogo, a parceria, a troca de
experiência e o trabalho entre a universidade e a escola pública. Seu campo de atuação envolve
estudantes das Instituições de Ensino Superior públicas, em cursos de licenciatura e as escolas e
professores da educação básica pública, filiados ao programa. Nosso trabalho, enquanto estudantes
da licenciatura têm como objetivo promover o envolvimento dos estudantes das escolas de ensino
básico com a disciplina em que estamos inseridos e melhorar os índices do Ideb – Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica. Para que isso aconteça se estabelece um Plano de Trabalho,
constituído de práticas pedagógicas inovadoras, uso das TICs (Tecnologias da Informação e
Comunicação) e projetos interdisciplinares em parceria com a escola, os professores, os estudantes e
com a comunidade escolar de forma geral. A metodologia empregada pelo PIBID de Filosofia no
espaço em que atuamos para conferir resultado ao programa e viabilizar a construção de pesquisas e
artigos é a Pesquisa Participante (Demo, 2004). Este modelo permite a observação/interação/ação,
durante o período de trabalho na escola básica e na universidade. Os resultados dos trabalhos
desenvolvidos pelos estudantes universitários na escola básica são apresentados ao fim de cada
semestre letivo através de um relatório onde são apontadas as atividades bem sucedidas, as que não
deram certo e as pesquisas produzidas. Nesta medida, nosso trabalho é processual, pedagógico e de
pesquisa sobre o ensino, a título de promover o debate, a investigação e a interação universidade /
escola pública, assim como, o envolvimento da comunidade acadêmica – professores, gestores e
estudantes da educação superior e seus pares da educação básica - com a educação no Brasil.
Palavras-chave: PIBID. Envolvimento. Universidade. Escola Básica.
Abstracts
The PIBID - Scholarship Program Initiation to Teaching Program constitutes a Public Policy in Brazil,
which has the purpose to promote dialogue, partnership, exchange of experience and the work
between the university and the public school. His field of activity involves students in public institutions
of higher education in undergraduate and schools and teachers in public basic education, affiliated to
the program. Our work, while the undergraduate students, aims to promote the involvement of
students in primary schools with discipline in which we operate and improve indexes Ideb - Index of
Basic Education Development. For this to happen it establishes a work plan consisting of innovative
teaching practices, use of TICs (Technology Information and Communication) and interdisciplinary
projects in partnership with the school, teachers, students and the school community in general. The
methodology employed by PIBID of Philosophy in space in which we operate, to check the results of
the program and enable the construction of research articles and is the Research Participant (Demo,
2004). This model allows the observation / interaction / action during the period of work in the basic
school and university. The results of the work performed by university students in elementary school
are presented at the end of each semester through a report which outlined the activities are
successful, that did not work and the research produced. In this respect, our work is procedural,
teaching and research on teaching, by way of promoting discussion, research and interaction between
university / public school, as well as the involvement of the academic community - teachers,
administrators and students in higher education and their peers in basic education - to education in
Brazil.
Keywords: PIBID. Involvement. University. Basic School.
1. Introdução
O PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência é uma iniciativa do Governo
Federal do Brasil, através da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES que visa o aperfeiçoamento e valorização da carreira docente para a educação básica. A
principal proposta do programa é promover o diálogo, a parceria, a troca de experiência e o trabalho
entre a universidade e a escola pública, envolvendo professores universitários, professores da
educação básica e estudantes das licenciaturas. Este trabalho é vinculado ao PIBID de Filosofia da
Universidade Federal da Bahia, que atua em cinco escolas da educação básica na cidade de
Salvador/BA, mais especificamente às experiências desenvolvidas no Colégio Estadual Manoel
Novaes e Colégio Estadual Mário Augusto Teixeira de Freitas.
O programa teve início através da Chamada Pública MEC/CAPES/FNDE, publicada no Diário Oficial
da União em 13 de dezembro de 2007, tendo como meta principal melhorar os índices do Ideb 3·. Para
atingir esta prerrogativa busca incentivar a formação de docentes em nível superior para atuação na
educação básica, valoriza o magistério no intuito de priorizar a qualificação da formação do professor
e a capacitação dos professores que já atuam como profissionais e, na sua aplicação diária, visa a
articular a teoria adquirida cotidianamente na universidade, com a prática em sala de aula. Os
objetivos traçados acima permitem o tramite dos estudantes universitários na escola de educação
básica envolvendo-os no cotidiano da instituição, vivenciando suas problemáticas, como também
envolvendo os estudantes inseridos nestes espaços, em projetos que tendem a valorização não só da
escola, como também destes indivíduos enquanto sujeitos participantes e transformadores de sua
própria realidade.
O grupo do PIBID de Filosofia é constituído de um professor da universidade na função de
coordenador, cinco professores da educação básica do Estado, licenciados em Filosofia e vinculado
cada um em uma escola distinta, com a função de supervisor, vinte e cinco licenciandos em Filosofia
vinculados à universidade e uma voluntária, também licencianda universitária, locados em grupo de
cinco indivíduos para cada escola participante do programa. Todos que estão inseridos nas
atividades do PIBID estão vinculados à prática docente e a pesquisa sobre o ensino de filosofia e
recebem bolsa do Governo Federal para desenvolver os projetos na escola. Também é bom salientar
que o PIBID não se restringe à licenciatura de Filosofia. Todas as licenciaturas de Universidade
Federal da Bahia são participantes do programa, ou seja, temos PIBID de História, Geografia, Letras,
Música, Dança, Teatro, Biologia e etc. No caso deste trabalho nos ateremos apenas ao PIBID de
Filosofia, a historicidade desta disciplina no Brasil, os projetos que desenvolvemos nas escolas e as
formas encontradas para promover o envolvimento dos alunos com estes projetos e com a escola de
forma geral.
2. Histórico do ensino de Filosofia no Brasil
A legalidade do ensino da Filosofia no Brasil esteve sempre atrelada à dinâmica da manutenção de
forças hegemônicas da sociedade, desde o período colonial. Para a manutenção das concepções
religiosas e políticas daquela época, teve prioridade o modelo jesuíta de ensino e apenas o
desenvolvimento intelectual dos colonizadores portugueses e a elite brasileira. O ensino foi reduzido
a exercícios de erudição e retórica. De acordo com Cartolano (1985), o ensino de filosofia no Brasil
teve posteriormente sua base nas idéias da Universidade de Coimbra, a partir da reforma de Pombal,
sendo ministrada no ensino secundário como “aulas régias” 4 de algumas disciplinas. De acordo com
Aranha e Martins (2006) tendo em vista o avanço da emancipação política no Brasil já século XIX, os
ideais que norteavam a Europa influenciavam o espírito humanístico e era referência para o conteúdo
dos cursos de Filosofia no Brasil. Ainda assim, por um longo período, o destaque era a formação de
homens letrados e eruditos. Entre o período de 1826 a 1924, foram colocados à disposição cursos
livres de Filosofia tendo em vista que os conteúdos oficiais eram providos de indeterminação em
diversos programas educacionais. As autoras ainda destacam que características como elitismo,
enciclopedismo, influência religiosa e não relação com a realidade brasileira, fizeram parte da
abordagem do ensino de filosofia durante o Império e o início da República.
No percurso para oficializar o ensino de Filosofia na educação básica no Brasil, podemos destacar as
reformas de Francisco Campos (1931), o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), e a
reforma de Gustavo Capanema (1942). Após esse período de intensos debates aconteceram vários
retrocessos. Com a promulgação da Lei n° 4.024 em 1961, a obrigatoriedade do ensino de filosofia foi
suprimida (BRASIL, 1961). No período da Ditadura Militar a Lei n° 5.692 de 1971, retirou a Filosofia
dos currículos oficiais, apesar de não proibir, e instituiu em seu lugar as disciplinas de Educação
Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil (BRASIL, 1971). Quando dizemos que
apesar de não proibida, mas apenas suprimida dos currículos oficiais, dizemos que a disciplina de
Filosofia praticamente desapareceu das escolas tanto da rede pública, quando da rede particular de
ensino, permanecendo apenas em poucos colégios religiosos. Neste período a educação no Brasil
estava voltada para o ensino técnico e o país comprometido com a expansão industrial e militar.
Desta forma, não faria sentido o ensino de uma disciplina totalmente fora destes padrões. Como
apontam Aranha e Martins (2006) existia neste período no Brasil o claro “propósito de
homogeneização do pensamento, procedimento típico de governos ditatoriais”.
As primeiras mudanças ocorrem com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (Lei
9.394/96), sob o lema “Educação para Todos” e atualmente em vigor no país. Surgem as primeiras
intenções de uma mudança geral de postura no modelo educacional brasileiro. A educação infantil foi
municipalizada, o ensino fundamental universalizado e no ensino médio tornou-se obrigatório a
abertura de vagas nas turmas regulares, para pessoas com necessidades educacionais especiais.
Nesta medida, refletiu-se a legitimidade ou não da educação apenas voltada para o mercado de
trabalho.
Em 18 de setembro de 2001 o projeto do Deputado Padre Roque Zimmermann (PCL nº 9/2000) que
legalizava o ensino de Filosofia e Sociologia no ensino médio, foi aprovado no Congresso Nacional.
No entanto, no dia 08 de outubro do mesmo ano, foi vetado pelo então presidente Fernando Henrique
Cardoso (PSDB 1995-2003).
Em 02 de julho de 2008, no governo de Luis Inácio Lula da Silva (PT 2003-2010), e assinado pelo
presidente em exercício José de Alencar (PL) o projeto do Deputado Federal Ribamar Alves (PSBMA) foi aprovado como Lei n° 11.684, que, depois de tantos impasses e lutas, altera o Art. 36 da atual
LDB e inclui a Filosofia e a Sociologia, como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino
médio no Brasil.
3. O PIBID de Filosofia e o envolvimento na escola básica
O trabalho do PIBID de Filosofia da UFBA na escola pública teve o início de suas atividades em
março de 2010. O primeiro trabalho do grupo de dez bolsistas inseridos no Colégio Estadual
Deputado Manoel Novaes, foi construção e aplicação dois questionários de diagnóstico (um para
estudantes do ensino médio e outro para os professores de Filosofia da instituição de ensino) em
toda a escola em seus três turnos, com o enfoque no ensino de Filosofia e o envolvimento do
estudante do ensino médio com a escola. Os resultados da aplicação dos questionários
apresentaram os seguintes dados: abordagens distintas em sala de aula do conteúdo de Filosofia por
professores que ensinavam turmas do mesmo nível escolar, as aulas de filosofia eram ministradas,
em grande parte, por professores licenciados em outras áreas, os estudantes consideravam a
disciplina inútil e desnecessária para suas vidas, além de muito chata, o índice de freqüência nas
aulas eram muito baixos, pois os estudantes consideram mais proveitoso aproveitarem o tempo com
disciplinas supostamente mais “importantes” e baixa utilização do espaço da biblioteca da escola –
espaço, por sinal, muito amplo e com bom acervo também de livros de Filosofia. Com estes
resultados detectamos a necessidade de ocupar todos os espaços da escola, assim como, envolver a
comunidade escolar em nossos projetos.
Elaboramos projetos para serem desenvolvidos a partir da sala de aula (monitoria com consultoria),
trabalho para a biblioteca (Guia Literário), Bate papo filosófico para sala de eventos (palestrantes da
área de filosofia que trabalham com metodologias voltadas para jovens), participação da
universidade, através dos bolsistas do PIBID, nas atividades da escola (gincanas, calendários
festivos, reuniões de coordenação, elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP), Jornada
Pedagógica, dentre outros) e Filosofia na Cozinha (desenvolvido no refeitório da escola). Este último
trabalho foi o que surtiu mais interação com os estudantes, na medida em que era realizado no turno
noturno, com estudantes adultos (todos acima de 18 anos), trabalhadores em busca de melhor
qualificação para ascender no mercado de trabalho.
3.1 O Projeto Filosofia na Cozinha
O projeto Filosofia na Cozinha, surgiu sem muita elaboração prévia. Ao marcarmos com os
estudantes do noturno uma monitoria antes da aula, ou seja, às 18 horas (as aulas iniciam às
18h30min), para estudarmos de forma orientada as abordagens apresentadas em sala, ficamos sem
público. Ninguém apareceu nos dois primeiros encontros. Na terceira data marcada resolvemos
esperar na porta da escola. Uma estudante ao chegar nos convidou para tomar um lanche na cozinha
da escola. Para nossa surpresa todos os outros que esperávamos estavam neste local. Inferimos o
que não percebemos antes: os estudantes trabalhadores possuem baixa renda financeira, saem de
um dia cansativo de trabalho direto para escola e, portanto, priorizam a alimentação oferecida pela
instituição, que na maioria das vezes já é o jantar, do que se dirigirem para biblioteca para estudar.
Neste sentido, elaboramos o projeto e ele era aplicado de forma lúdica naquele local.
Para construir o projeto Filosofia na Cozinha fomos estudar alguns textos sobre aprendizagem
significativa e educação de jovens e adultos. Buscamos em primeiro momento da fase prática, nos
apropriarmos do plano de curso da professora para saber com antecedência os assuntos e
elaborarmos o trabalho. O espaço da cozinha é amplo, com mesas grandes onde circulam além dos
estudantes, professores, funcionários e as cozinheiras. Optamos por trabalhar com curtas (filmes) de
5 a 10 minutos, com temas que refletiam o que estava sendo apresentado em sala. Colocávamos em
cada mesa um ou dois notebooks e reuníamos em torno dele entre cinco a oito indivíduos (não só os
estudantes, como a comunidade escolar), assistíamos o curta e discutíamos o assunto enquanto
aproveitávamos à refeição. Os estudantes eram convidados, não obrigados, a colocarem suas
impressões, através de perguntas elaboradas e um texto livre, em um instrumento que denominamos
“Resgate de Conteúdo”. Com isso, além dos assuntos serem melhores apreendidos, a escrita e
reflexão também eram exercitadas. Desta forma, o projeto Filosofia na Cozinha, promovia um
envolvimento da comunidade escolar com os estudantes da escola, uma relação dos estudantes
universitários com a escola pública e seus atores, na medida em que aquele espaço é amplamente
utilizado por todos, como também não deixava de cumprir o papel a que se propunha: uma
aprendizagem de qualidade.
4. COMO ENVOLVER OS ESTUDANTES E A COMUNIDADE COM A ESCOLA E COM A
EDUCAÇÃO
A nossa experiência com o trabalho no PIBID de Filosofia, hoje desenvolvido em outra escola (o
projeto tem a finalidade de envolver várias escolas), nos leva a perceber que a integração, trabalho
em equipe e diagnóstico do espaço que vamos desenvolver nossas atividades, são fundamentais
para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade. Um exemplo disso é a escola que atualmente
nos inserimos. Trabalhamos no turno vespertino, a escola não tem refeitório (existe uma pequena
cantina onde os estudantes, em fila, pegam sua refeição e consome no pátio da escola), a biblioteca
tem poucos livros e é localizada em local inapropriado, além de não ter bibliotecário fixo e
permanecer longos períodos fechada, a direção é menos interativa no diálogo e totalmente voltada
para questões privadas da escola e o nosso supervisor, pouco aberto para projetos extracurriculares,
porém voltado para trabalhos de grandes proporções que promovam visibilidade ampla na escola.
Assim, partimos para uma ocupação do espaço escolar através do diálogo amigável com
funcionários, professores, coordenadores e direção. Participamos, quando permitidos, das reuniões
de coordenação, das avaliações dos estudantes, dos eventos comunitários e interagimos com o
professor em sala de aula. Nosso primeiro contato foi com o livro didático de Filosofia utilizado na
escola, em período de longa greve dos professores, estudando-o e discutindo sobre suas abordagens
e formato tanto com o professor da escola pública, quanto na universidade. Inseridos e adaptados a
essa nova realidade partimos para novas maneiras de comunicação com os estudantes e utilização
produtiva de espaços outros que não a sala de aula.
4.1 A tecnologia a favor da educação e da interação com a escola
A participação nas aulas do professor supervisor nos permitiu, além de intenso diálogo e grande
aproximação com os estudantes, diagnosticar aquilo que interessa e motiva os adolescentes. Logo
percebemos o grande uso da internet, principalmente o uso das redes sociais. Percebemos também
que, ainda que utilizada de forma ampla pelos estudantes, a internet era subutilizada e pouco
contribuinte no desenvolvimento intelectual e cidadão daqueles jovens. O problema é que não tinham
nenhuma orientação na escola do uso dessa ferramenta, assim como de ferramentas do próprio
computador para melhor escrever, formatar e organizar seus trabalhos. Detectamos também muita
deficiência dos próprios professores no uso das tecnologias, o que nos levou a concluir a inoperância
dos estudantes e da escola de forma geral nesta área. A sala de informática, com vários
computadores novos fica fechada por não ter quem tenha proficiência para trabalhar no local com os
estudantes. Constatamos também, que, apesar de relativamente novos, os computadores, em sua
maioria, estavam quebrados por uso inapropriado.
Numa tentativa de superar a problemática acima apresentada, nos utilizamos de nosso blog
(http://filosofiapibidufba.blogspot.com.br), para postar novidades, complemento das abordagens em
sala, avisos, atividades da universidade e resumos de nossa produção enquanto universitários.
Criamos
também
uma
página
do
PIBID
de
Filosofia
no
Facebook
(http://www.facebook.com/filosofiadopibid), um e-mail exclusivo onde cadastramos os endereços
eletrônicos dos estudantes das dez turmas que trabalhamos ([email protected]) e uma
página, pouco utilizada pela comunidade em geral por ser ainda pouco divulgada em nosso meio, no
Tumblr (http://filosofiadopibid.tumblr.com), onde, exclusivamente, postamos alguns resumos das
atividades acadêmicas relacionadas ao PIBID. Nesta perspectiva, buscamos a interação e
envolvimento com base na realidade e hábitos da comunidade, acreditando que a comunicação e a
abordagem ética são bases para construção de um trabalho de qualidade.
4.2 Depois da tecnologia o real envolvimento com a nova escola
Utilizar a linguagem dos atores envolvidos no processo é fundamental para promover o diálogo e a
interação. A tecnologia é atualmente um dos meios mais eficazes de dialogar não só com os jovens,
como também com indivíduos de outras faixas etárias e formação escolar. Com base nesta
percepção foi construído laços com a comunidade escolar de forma geral, na medida em que tanto
eles se enxergam nestas abordagens, com seus sucessos e trabalhos realizados, como utilizam as
ferramentas para comunicação, pesquisas e construção do conhecimento. Nesta medida, o contato
pessoal e o envolvimento destes indivíduos, principalmente os estudantes, com as atividades do
PIBID e com um novo conceito de trânsito no ambiente escolar tem crescido qualitativamente.
Também podemos considerar este envolvimento no sentido da relação da escola de educação básica
e a universidade, com a mediação do PIBID de Filosofia e dos outros PIBID inseridos nas escolas.
Cada PIBID tem um programa de ação diferente, onde obedecem a características próprias.
5. O PIBID: Gestão de Política Pública na Escola Básica
Devido à expansão do PIBID em todo território nacional começam a surgir dificuldades na gestão das
atividades a serem desenvolvidas e de delinear o papel que cada bolsista, tanto bolsista supervisor,
quanto bolsista estudante da licenciatura tem que desenvolver. Os trabalhos devem ser dirigidos pela
dinâmica de cada subprojeto de área, onde obedece a critérios pontuais sem, no entanto, deixar de
estar vinculadas com as ações norteadoras inseridas nos objetivos expostos no decreto 7219/2010.
Ainda que tenha critérios objetivos tanto através dos decretos, quanto nos subprojetos, é na escola
pública que aparecem as primeiras dificuldades. Ao PIBID cabe desenvolver projetos, inseridos em
um plano de trabalho elaborado semestralmente e enviado para CAPES, plano este vinculado a um
relatório também semestral que apontam a realização (ou não) do proposto, as dificuldades
encontradas e os resultados alcançados. No entanto, parece não ficar claro nem para a escola e
nem para os bolsistas supervisores estas demandas. Com freqüência os bolsistas vinculados aos
cursos de licenciatura são confundidos e/ou tratados como estagiários, sendo direcionados para
atividades como substituição de professores, responsabilidade por correção de provas, por notas,
dentre outros. Ao estagiário que tem como função, após período de observação de aulas, assumirem
efetivamente uma turma, estas atividades são legítimas, ao bolsista do PIBID elas se tornam
irregulares.
O bolsista da licenciatura vinculado ao PIBID pode e deve participar de atividades docentes, na
medida em que está inserido em um programa de iniciação à docência. No entanto, sua participação
é a título de aprendizagem, participação, interação e de pesquisa e não como um docente efetivo.
Também a este bolsista, muitas vezes é colocado encargos quase de funcionários da escola ou de
funcionários do supervisor que os consideram “seus” bolsistas, ou em alguns casos “seus”
estagiários. O bolsista do PIBID trabalha em parceria com a escola e com o supervisor, o que é
muito diferente de trabalhar para a escola e para o supervisor.
As ações empreendidas nas escolas carecem de diálogo entre os envolvidos, credibilidade e parceria
para o seu desenvolvimento e supervisão e avaliação dos supervisores e coordenadores
institucionais. Normalmente são ações que acontecem extraclasse, ou até mesmo em algum espaço
cedido nas aulas, principalmente como metodologias que podem ser testadas ou servirem de suporte
qualitativo ao processo de aprendizagem dos alunos. No caso do PIBID de Filosofia, em caráter
particular, estas ações são muito importantes, na medida em que o ensino desta disciplina nos
currículos escolares do ensino médio passou a ser obrigatório com a aprovação da Lei 11.684 de 02
de julho de 2008. Nesta medida, com o afastamento do ensino de filosofia dos currículos da
educação básica desde o período da Ditadura Militar (1964-1985), a dificuldade de encontrar
objetividade curricular, assim como delimitar o que e como ensinar é muito grande e propícia a muitos
desacordos.
Neste contexto, os projetos inseridos nos plano de trabalho e as ações trabalhadas em conjunto
podem gerar o debate e, desta forma, suscitar sínteses e pesquisas que venham a contribuir para
caracterizar a importância do ensino de filosofia na educação básica, como também viabilizar a
confirmação da Lei 11.684/2008, não como uma lei que possa vir a deixar de existir apenas com uma
mudança de proposta governamental, ou com um simples veto, mas sim como necessidade dentro do
sistema educacional brasileiro. Para tanto é preciso objetividade na execução do projeto e
conscientização dos papeis daqueles envolvidos no processo.
6. Metodologia
A metodologia empregada para construção e realização das pesquisas e trabalhos na escola é a
Pesquisa participante (Demo, 2004). Este modelo metodológico tem como objetivo a construção das
relações na escola através da observação e integração com os ambientes, seus atores e a
comunidade de entorno. Entendemos este modelo de pesquisa como fundamental para realização de
nossas atividades assim como na construção dos projetos.
No inicio deste texto foi apresentado à ferramenta do questionário de diagnóstico que fizemos na
primeira escola que trabalhamos. Não nos utilizamos de um autor específico para realizar esta tarefa.
Partimos de nossas primeiras inferências ao adentrar no âmbito da escola, de debates sobre que
atitude tomar naquela situação e chegamos à conclusão que deveríamos elaborar esta tarefa. Na
escola que nos encontramos atualmente, apesar de realidades distintas, por experiência, seguimos
por hipóteses outras, na busca de melhores resultados qualitativos.
6. Conclusão
Como o tema do I Congresso Internacional Envolvimento dos Alunos na Escola: Perspectivas da
Filosofia e da Educação é justamente dá enfoque à relação dos estudantes com a escola, priorizamos
desenvolver um texto que relatasse nossas experiências em duas escolas públicas de educação
básica na cidade de Salvador / BA, no Brasil que destaca a perspectiva do congresso.
As experiências e projetos desenvolvidos na escola demandam aproximação com a gestão da
educação, pesquisa sobre o ensino de filosofia, escrita e publicação de artigos e, principalmente
aquilo que propõem o PIBID: iniciação à docência.
Neste sentido, esta exposição é fruto de quatro anos de trabalho em distintas escolas e grupos que
mudam mediante a entrada e saída de bolsistas. Muitos outros projetos e ações têm sido
desenvolvidos, tanto no âmbito exclusivo do ensino de Filosofia, quanto conjuntamente com
programas de outras áreas, como Letras, Sociologia e História.
Acreditamos e apostamos muito na parceria universidade pública / escola básica pública, no sentido
de troca de experiências, relação teoria e prática, desenvolvimento de pesquisas e projetos
relacionados ao desenvolvimento da educação no Brasil e a quebra definitiva do afastamento da
educação superior com as outras modalidades e etapas da educação em nosso país.
Notas
1
Estudante da graduação em Filosofia da Universidade Federal da Bahia, bolsista do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência – PIBID, vinculado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES.
2
Universidade Federal da Bahia - UFBA, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – FFCH.
3
Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.
4
As aulas régias compreendiam o estudo das humanidades, sendo pertencentes ao Estado e não mais restritas à Igreja. Foi a
primeira forma do sistema de ensino público no Brasil.
Referências
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