AS ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL DA AGRICULTURA

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AS ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL DA AGRICULTURA
FAMILIAR DA FRONTEIRA OESTE DO RS
(1)
Josiane Castro Pereira(2), Alessandra Troian (3)
(1)
Pesquisa realizada pelo projeto “ A agricultura familiar sobre diferentes óticas: características e diferenciações através
de imagens”, com bolsa do Programa de Desenvolvimento Acadêmico da Unipampa.
(2)
Graduanda em Ciências Econômicas (bolsista), Universidade Federal do Pampa, Santana do Livramento,
[email protected].
(3)
Orientador, Universidade Federal do Pampa, Campus Santana do Livramento, [email protected].
Palavras-Chave: Agricultura familiar, Reprodução Social, Diversificação, Políticas Públicas.
INTRODUÇÃO
A agricultura familiar é reconhecida por sua importância tanto no fluxo de empregos quanto na produção de
alimentos, focando no caráter social, voltado para o autoconsumo. Responsável pela produção de principais
alimentos que são consumidos pela população brasileira, como a mandioca e o feijão, a agricultura familiar,
diferencia pela forma de organização da produção em que os critérios utilizados para orientar as decisões
relativas à exploração não são vistos unicamente pelo ângulo da produção e rentabilidade econômica. Na
agricultura de cunho familiar também são consideradas as necessidades objetivas da família. Ao contrário
do modelo patronal, no qual há completa separação entre gestão e trabalho, no modelo familiar estes
fatores estão intimamente relacionados. (HECHT, 2000).
A agricultura familiar não é um termo novo, mas obteve espaço e importância nas últimas duas décadas,
com a inserção nos meios acadêmicos e com políticas de governo e nos movimentos sociais. Ao adquirir
seu espaço e valorização, a agricultura familiar passou a fazer parte da agenda política do Brasil como
estratégia de desenvolvimento rural. Conforme a FAO (2014, p. 2): “a agricultura familiar inclui todas as
atividades agrícolas de base familiar e está ligada a diversas áreas do desenvolvimento rural [...] Tanto em
países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, a agricultura familiar é a forma predominante
de agricultura no setor de produção de alimentos”.
Na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, a agricultura familiar passou a ter destaque a partir dos anos
1990 com a implantação dos assentamentos rurais, pelo reconhecimento acadêmico como categoria social
e analítica e pelo estado com a criação de políticas públicas como o Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura familiar, criado em 1996. Assim, visando compreender a dinâmica da agricultura familiar da
Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, o presente estudo objetiva apresentar as principais características e
estratégias de reprodução social.
METODOLOGIA
A pesquisa caracteriza-se como qualitativa exploratória. Segundo Godoy (1995), na pesquisa qualitativa o
pesquisador vai a campo captar o fenômeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidos,
considerando todos os pontos de vista relevantes. A técnica de coleta de dados utilizada foi à revisão
bibliográfica. Para Gil (2008), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul apresenta questões distintas de outras regiões do estado,
como a formação histórica, os tipos de cultivos e criações predominantes e o modo de inserção dos
produtores ao mercado. É uma região frequentemente identificada pela presença de grandes propriedades
rurais, constituídas pela distribuição das sesmarias que deram origem às estâncias de criação de gado
(FONTOURA, 2012).
Dessa forma, pode-se dizer que a agricultura familiar na região é fruto do processo de colonização do Rio
Grande do Sul, da partilha de terra entre os herdeiros, bem como do processo de distribuição de terra –
lotes dos programas governamentais - formação de assentamentos rurais, que ocorreu na década de 1990.
Os assentamentos, pelo número de famílias assentadas, muitas delas oriundas de diversas e distintas
regiões do estado, juntamente com o reconhecimento acadêmica e as políticas públicas para a agricultura
familiar dão uma nova cara e dinâmica para a região. Como destac a Alvez at al., (2007), os agricultores
familiares da região possuem um diferencial nos seus sistemas de produção, tendo na pequena exploração
da pecuária de corte, ovinocultura e pequenas plantações como o arroz, a sua principal fonte de
Anais do 8º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa
subsistência e de renda. Alguns complementam sua renda agrícola com fontes externas, co mo a
aposentadoria rural e/ou venda de mão de obra.
Entre as estratégias de reprodução social da agricultura familiar local destaca-se a diversificação de cultivos. Percebe-se que como principal característica a diversificação de cultivos e criações, sejam eles para
consumo ou para a venda (ALENDE, 2006; CUNHA 2012). Ainda como estratégia vê-se a cooperação e o
associativismo, como por exemplo, a Cooperforte, cooperativa de leite localizada em Santana do Livramento (TROIAN; BREITENBACH, 2016).
Os agricultores têm buscado mercados paralelos, às vezes alternativos, para escoar a produção e, dessa
forma, agregar valor aos produtos e garantir a comercialização. Para isso acessam as políticas públicas,
tanto de crédito quanto de comercialização, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar e o Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (CUPSINSKI, 2015).
Por fim, para Nicola e Marques (2016), as características da pecuária familiar da Fronteira Oeste do RS
possuem singularidades culturais, cognitivas e técnicas que podem representar o diferencial para a eme rgência de inovações contextualizadas localmente e para processos endógenos de desenvolvimento. Isso
faz com que os atores e os seus sistemas de criação sejam adaptados ao local, em seus aspectos históricos, sociais, técnicos e ambientais, em processos diferenciados de desenvolvimento rural que vem emergindo no estado.
CONCLUSÕES
Apesar de a agricultura familiar ter ganhado espaço nas últimas décadas, em diversas regiões o estudo
sobre sua temática ainda é insipiente, a exemplo da agricultura familiar da Região da Fronteira Oeste do
RS. Há uma carência de estudos acerca da temática na referida região, fator este que só reforça o senso
comum local de que a região é composta por pecuarista e produtores de soja, tornando o agronegócio um
dos responsáveis de ensombrar a presença da agricultura familiar. No entanto, a agricultura familiar historicamente se fez presente e ganha impulso nos anos 1990 com a introdução dos assentamentos rurais em
que famílias de agricultores vindas de todo estado passam a produzir e se reproduzir localmente. Como
característica salienta-se a heterogeneidade da agricultura familiar e as estratégias de reprodução social a
diversificação de cultivos, a cooperação, e o acesso a políticas públicas para crédito e comercialização c omo o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Programa de Aquisição de Alimentos
e o Programa Nacional de Alimentação Escolar.
REFERÊNCI AS
ALVEZ, F. D., SILVEIRA, V. C. P., FERREIRA, E. R. Territorialização camponesa, identidade e reproduções
sociais: os assentamentos rurais na metade sul do Rio Grande do Sul. Campo-Território: revista de geografia agrária, v.2, n. 4, p. 82-97, ago. 2007.
ALENDE, C. R. M. Estudo dos sistemas de produção dos agricultores familiares da Fronteira Oe ste
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Maria, Santa Maria, RS, 2006.
CUNHA, A. S. Agricultura familiar e suas estratégias de resistência na campanha ga úcha: o caso do
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CUPSINSKI, T. C. Agricultura familiar: uma perspectiva de crescimento e de desenvolvimento em Santana
do Livramento/RS. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso (Administração), Universidade Federal do Pa mpa, Santana do Livramento, 2015.
FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. O que é agricultura familiar? Disponível em: <http://www.fao.org/family-farming-2014/home/what-is-family-farming/pt/>. Acesso em: 20/ dez.
2014.
FONTOURA, F. A produção para autoconsumo: Características e importância para os sistemas de produção de pecuária familiar da Fronteira Oeste do RS. 2012. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural), Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2012.
GIL, A. C. S. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GODOY, A.S. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. RAE, São Paulo, v. 35, n.3, p, 20-29 Mai./Jun. 1995.
HECHT, S. A. evolução do pensamento agroecológico. In: ALTIERI, M. Agroecologia: as bases científicas
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NICOLA, M. P. MARQUES, F. C. Transições em direção ao uso sustentável e conservação dos campos
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TROIAN, A; BREITENBACH, R. A agricultura familiar na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul: estratégias
e formas de reprodução social. In: Anais... 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER). Maceió, de 14 a 18 de ago. de 2016.
Anais do 8º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa
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