A AGRICULTURA FAMILIAR NA FRONTEIRA OESTE/RS (1) Rubney Carrion Antunes2, Raquel Breitenbach3, Alessandra Troian4 (1) Trabalho executado a partir do projeto de pesquisa “A agricultura familiar sobre diferentes óticas: características e diferenciações através de imagens”, financiado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, campi Sertão. (2) Rubney Carrion Antunes do 6º semestre do curso de Ciências Econômicas pela Unipampa, Santana do Livramento. E-mail: [email protected]. (3) Professora Doutora no IFRS, Sertão. E-mail: [email protected]. (4) Orientadora; Professora Adjunta na Unipampa, Santana do Livramento. E-mail: [email protected]. RESUMO: Reconhecendo a relevância da agricultura familiar como modelo de desenvolvimento rural, o presente estudo visa analisar a agricultura familiar da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, enfocando seu surgimento e principais características. Metodologicamente utilizou-se do método qualitativo por meio da revisão bibliográfica. Como resultados pode-se elencar que embora sempre estivesse presente na região ela passou a ter destaque e relevância a partir dos anos 1990, principalmente após a constituição dos assentamentos rurais. Palavras-Chave: formação histórica, pampa gaúcho, heterogeneidade. INTRODUÇÃO A parcela de agricultores que compõe o setor atualmente reconhecido como agricultura familiar tem um histórico marcado por constante luta pelo seu reconhecimento, tanto no que se refere à sua importância econômica quanto social. No Brasil, esse reconhecimento ocorreu tardiamente se comparado a países europeus, por exemplo, que investiram na agricultura familiar como estratégia de desenvolvimento econômico. A afirmação é corroborada por Veiga (1996), que destaca que os governos do “primeiro mundo” adotaram políticas agrícolas e fundiárias que favoreceram a agricultura familiar, inibindo o desenvolvimento da agricultura patronal. Já no Brasil priorizou-se o modelo agroexportador baseado nas médias e grandes propriedades produtoras de commodities. Fato este significativamente visualizado na realidade da Fronteira Oeste do Estado do Rio Grande do Sul, foco dessa pesquisa, em que a estrutura fundiária baseia-se me estâncias e a agricultura familiar por muitos anos sobreviveu na sombra da agricultura patronal. Um marco na trajetória histórica da categoria agricultura familiar foi à criação do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) que em 2015 está completando 20 anos. Esse processo legitimou, a partir das políticas públicas, uma categoria forte e expressiva que representa, segundo o Censo Agropecuário de 2006, 84% dos estabelecimentos rurais brasileiros. Acerca disso, Schneider (1996) destaca que a agricultura familiar surgiu como uma nova categoria política, a qual passou a congregar o conjunto dos pequenos proprietários rurais, assentados, arrendatários, agricultores integrados, entre outros, construindo uma nova identidade política. Schneider (2004) apresenta a heterogeneidade da agricultura familiar a sua capacidade flexiva em se adaptar as mudanças de mercado e as diferentes realidades regionais. É nesse contexto que o presente estudo visa analisar a agricultura familiar da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, dando destaque para o seu surgimento e principais características. Considerando o marco histórico, natural e cultural da região, busca-se explorar as particularidades da agricultura familiar local especialmente no que se refere aos aspectos da formação histórica e a influência na categoria em questão. METODOLOGIA O presente estudo caracteriza-se como qualitativo. A pesquisa qualitativa trabalha com aspectos subjetivos e amplos, e como característica essencial explora com profundidade os detalhes podendo levar a resultados objetivos, claros e precisos (MINAYO; SANCHES, 1996). Como técnica, o estudo contou com a revisão bibliográfica. Buscou um arsenal de artigos, textos e dissertações que abordassem a questão da agricultura familiar na região da Fronteira Oeste do Rio Grande Sul. A DECADÊNCIA DA GRANDE PROPRIEDADE E A FORMAÇÃO DOS PRIMEIROS ASSENTAMENTOS No estado do Rio Grande do Sul boa parte da metade sul está composta por grandes propriedades rurais com pecuária extensiva, monocultura de arroz e áreas de florestamento de eucalipto ocasionado vazios demográficos e concentração de terra e renda (ALVEZ et al., 2007). Segundo Alvez et al., (2007) a economia da região está relacionada ao comércio, agricultura, com destaque para a produção de arroz, soja e a pecuária de bovinos e ovinos. A partir da década de 1970, ganha evidência a fruticultura, produção de peras, pêssegos, ameixa, morango, melancia, mas principalmente a vitivinicultura. Na economia da região também aparece uma bacia leiteira ainda insipiente, mas em expansão. Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa Durante os “anos dourados” (1880-1929) da produção nas estâncias a região Fronteira Oeste do Rio Grande Sul era o centro do dinamismo econômico no estado. Porém, a situação começa a mudar entre os anos de 1950/70, quando as commodities, principalmente a carne e o arroz, perdem abruptamente seu valor de mercado. Tais condições, de acordo com Scherer e Moraes (2000), fazem o sistema de produção agrário entrar em crise. Com o fechamento dos frigoríficos e o maciço desenvolvimento que a região norte e nordeste do RS sofreu nesse período, pois haviam diversificado tanto a suas atividades econômicas como sua matriz agrícola, a região sul começou a enfrentar um prolongado período de retração econômica e decadência social. Como consequência, as ricas cidades que se encontravam entre as estâncias como Santana do Livramento, Bagé e Alegrete declinaram rapidamente para centros urbanos atrasados (SCHERER; MORAES, 2000). Em 1988, o Congresso Nacional passava por intensas reformas, a ditadura militar havia acabado e em seu lugar emergia um novo sistema político, democrático. O marco deste sistema foi à constituição de 88, e entre os direitos sociais que a Carta Magna trouxe para a população brasileira estava à reforma agrária que permitia a desapropriação de terras improdutivas para a consolidação de assentamentos (ARAÚJO, 2001). No artigo 5º da Constituição inciso XXIII está escrito: “a propriedade atenderá à sua função social”. Assim havia, além de mecanismos legais, oportunidades sociais para realizar a tentativa de se consolidar a agricultura familiar na Fronteira Oeste do RS (JELINEK, 2006). Também cabe salientar que o fim do regime militar e o término do crédito farto para a agricultura, iniciado em 1965, via do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), associado com a crise das commodities e a pressão dos movimentos sociais, sobretudo pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST), fez com que medidas governamentais em prol de colonização se concretizassem. Os assentamentos modificam a base produtiva e dão nova dinâmica a estrutura agrária da região. A organização da estrutura sociocultural da metade sul é marcada pela figura do grande fazendeiro pecuarista, o qual tem peões que trabalham na propriedade. A agricultura familiar diversificada é praticamente ausente nessa estrutura socioeconômica, quadro que começou a mudar a partir da década de 1980, com a implementação de assentamentos rurais nessa região (ALVEZ et al., 2007). Além disso, o fato tradicional da região ser conhecida pelas grandes extensões de terras e pela pecuária extensiva faz com que a agricultura familiar passe despercebida pelos órgãos de investigação e, principalmente, pelas políticas públicas. Os agricultores familiares da região possuem um diferencial nos seus sistemas de produção, tendo na pequena exploração da pecuária de corte, ovinocultura e pequenas plantações como o arroz, a sua principal fonte de subsistência e de renda. Alguns complementam sua renda agrícola com fontes externas (aposentadoria rural e/ou venda de mão de obra). (ALVEZ et al., 2007). CONCLUSÕES A agricultura familiar, embora sempre estivesse presente na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, passou a ter destaque e relevância a partir dos anos 1990 com o seu reconhecimento e a criação de políticas específicas e principalmente pela instalação de assentamentos rurais. Antes disso se reproduzia nas margens das estâncias, da agricultura patronal produtora de commodities. Comparativamente com outras regiões do RS, como a Região Norte e Noroeste, por exemplo, destacam-se fatores característicos que imprimem características diferenciadas à mesma e corroboram para a discussão proposta da heterogeneidade da agricultura familiar. Destaca-se o fato da menor diversidade produtiva, a reduzida interação social e convívio em comunidades em função da distribuição espacial e também a localização em assentamentos rurais. REFERÊNCIAS ALVEZ, F. D., SILVEIRA, V. C. P. , FERREIRA, E. R. Territorialização camponesa, identidade e reproduções sociais: os assentamentos rurais na metade sul do Rio Grande do Sul. Campo-Território: revista de geografia agrária, v.2, n. 4 p. 82-97, ago. 2007. ARAÚJO, L.E. B. A reforma agrária na constituição de 1988 – Artigo produzido para o curso de direito da Universidade Federal de Santa Maria, p.4-6 ,dez. 2001. JELINEK, R. O princípio da função social da propriedade e LEI 601 DE 18/09/1850 – disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L0601-1850.htm>. Acesso em: 7 de set. 2015. MINAYO, M.C., SANCHES, O. Quantitativo-qualitativo: oposição ou complementaridade? Caderno de Saúde Pública, V. 9, N.3, p.239-262, 1993. SCHERER, W. J. G., MORAES, S.L. Análise locacional das atividades dinâmicas do Estado do Rio Grande do Sul.– Tese de mestrado da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, p. 3-7, 2000. SCHNEIDER, S. Agricultura familiar e emprego no meio rural brasileiro: análise comparativa das Regiões Sul e Nordeste. Análise sobre a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. 2004. VEIGA, J.E. Agricultura familiar e sustentabilidade. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.13, n.3, p.383-404, 1996. Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa