PSICOLOGIA E ONCOLOGIA: UMA PARCERIA ESSENCIAL? Aline Fernanda Sartori Kanegusuku¹; Marina Tiemi Kobiyama Sonohara 1; Angélica Aparecida Valenza¹; Nemerson José Jesus¹; Sandra Diamante² RESUMO Para compreender como se dá a comunicação entre psicólogos e médicos oncologistas, esta pesquisa teve como objetivo identificar as representações sociais dos médicos oncologistas maringaenses sobre a atuação do psicólogo junto aos pacientes oncológicos, analisar se há interdisciplinaridade entre os psicólogos e médicos e se estes vêem a atuação do psicólogo como necessária aos tratamentos. De forma qualitativa e descritiva visou-se à compreensão e interpretação dos fatos a partir das representações identificadas no discurso destes profissionais em um estudo de campo utilizando-se como instrumento a entrevista por pautas. Os sujeitos participantes desta pesquisa foram 5 médicos oncologistas clínicos de ambos os sexos. Pôde-se concluir que a interdisciplinaridade entre médicos e psicólogos é muito precária ou inexistente. Primeiro por não se ter claro o significado do termo, segundo e na maioria das vezes pela dificuldade de comunicação entre ambos. Quando se fala no trabalho do psicólogo este é caracterizado como um colaborador que acompanha os pacientes e não como um profissional que nessa parceria oferece uma intervenção. Este fato parece desvalorizar o trabalho desse profissional em relação aos demais. Porém as representações apontam para a necessidade dos pacientes e da família de atenção psicológica para que possam suportar a longa caminhada contra a doença. Mesmo porque o tratamento psicológico passa a ser um facilitador para o trabalho do próprio médico, fazendo com que os pacientes reduzam as demandas psicológicas depositadas sobre os médicos que pouco podem faze r neste sentido e tenham uma perspectiva diferente diante de momentos extremamente difíceis da vida. PALAVRAS-CHAVES: representação social, psiconcologia, medicina oncológica INTRODUÇÃO Para compreender como se dá a comunicação entre psicólogos e médicos oncologistas, estudou-se as representações sociais dos médicos oncologistas sobre o trabalho e a atuação do psicólogo junto a estes pacientes. A psiconcologia segundo Angerami (2000) busca e trabalha com o paciente onde quer que ele se encontre (na sala de espera do hospital, na enfermaria, na sala de procedimento invasivo, em casa, ou em qualquer outro local) incluindo a participação ativa de diferentes profissionais, trata ndo-se sem dúvida, de um tema de grande atualidade e evidente relevância social. Assim, o objetivo desta pesquisa visa Identificar as representações sociais dos médicos oncologistas sobre a atuação do psicólogo junto aos pacientes oncológicos, analisar se há interdisciplinaridade ¹Discentes do Curso de Psicologia. Departamento de Psicologia do Centro Universitário de Maringá Cesumar, Maringá – Paraná. ² Docente do Curso de Psicologia. Departamento de Psicologia do Centro Universitário de Maringá – Cesumar, Maringá – Paraná. entre os psicólogos e médicos e se estes vêem a atuação do psicólogo como necessária aos tratamentos. MATERIAL E METÓDOS Esta pesquisa do tipo qualitativa e descritiva visou à compreensão e interpretação dos fatos a partir das representações identificadas no discurso destes profissionais em um estudo de campo utilizando-se como instrumento a entrevista por pautas. A análise se sustentou no referencial sócio-histórico e também dentro da teoria das representações sociais. Os sujeitos participantes desta pesquisa foram médicos oncologistas clínicos de ambos os sexos, que atuam na cidade de Maringá compreendendo a uma amostra total de 5 participantes, os quais representam mais de 50% dos profissionais desta especialidade. O campo deste estudo consistiu nos hospitais e clínicas particulares especializadas em oncologia da cidade de Maringá, onde atuam os profissionais alvos deste estudo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a discussão dos resultados estabeleceu-se cinco categorias: A) O que sabe sobre a atuação do psicólogo; B) O que diz sobre a interdisciplinaridade; C) Opinião sobre o trabalho do psicólogo; D) Efeitos do tratamento psicológico; E) Fatores que impedem a interdisciplinaridade. Na categoria A, constatou-se através das entrevistas realizadas com os médicos oncologistas, destacando o seu conhecimento sobre a atuação do psicólogo que este é visto como alguém que esclarece dúvidas, gasta tempo com os pacientes, traz certa comodidade emocional pela forma de contar a verdade, apesar de serem situações pesadas; oferece avaliação e acompanhamento aos pacientes e trabalha em paralelo com a psiquiatria, tornando-se assim, uma estrutura de apoio. As evocações das palavras que se destacaram nesta categoria foram: discutir, preparar, estrutura de apoio e família. Através dos dados coletados nas entrevistas, foi possível perceber que há o predomínio de uma visão positiva sobre o psicólogo, embora esse conhecimento sobre sua atuação seja limitado, havendo concordância da maior parte dos médicos. Na categoria B, verificou-se que a maioria dos médicos entrevistados concordou que é importante a interdisciplinaridade para obter um resultado satisfatório no tratamento oncológico. No entanto, a comunicação entre psicólogos e médicos não ocorre diretamente, mas muitas vezes mediada por outros profissionais (ex. secretária, enfermeira) ou por telefone. Apenas poucos médicos declaram que há falta de comunicação e integração nos casos em tratamento e que o tempo é muito curto para que qualquer contato entre os profissionais seja estabelecido. Nesta categoria as evocações das palavras que predominaram foram: comunicação, multidisciplinar, falta e importante. Na categoria C, verificou-se em sua maioria, que os médicos oncologistas possuem uma opinião favorável sobre o trabalho do psicólogo, que ele ajuda e é importante como apoio ao paciente e a família no processo do tratamento. Apenas um médico considera o trabalho do psicólogo péssimo, devido ao pouco conhecimento sobre as doenças oncológicas e a falta de comunicação com o médico. Nesta categoria as evocações das palavras que destacaram foram: importante, interado, tratamento e bom. Na categoria D, para os médicos oncologistas o paciente que tem tratamento psicológico é mais tranqüilo, tem mais tolerância com os efeitos colaterais. Dessa forma o tratamento psicológico faz a diferença, pois é motivador para que o paciente aceite o tratamento, os procedimentos, compreendendo o processo. Aceitando a situação, o paciente tenta se ajudar, tenta se entender, facilitando tudo. Facilita o trabalho do médico, ele cobra menos do médico, dilui assim um pouco a responsabilidade, essa cobrança de melhora, essa cobrança de resultados, porque ele tem uma expectativa diferente de vida. E muitas vezes o tratamento psicológico é muito mais importante pra família do que para o paciente, pois faz com que este aceite o doente, evitando assim problemas familiares. Os dados obtidos através das entrevistas mostraram que o tratamento psicológico é importante, pois pode ajudar tanto o paciente na luta contra o câncer, quanto dar suporte para que sua família passe a aceitar a doença e esse paciente. As evocações das palavras que se destacaram foram facilitar, família, tratamento e aceita. Na categoria E, é possível perceber vários fatores que interferem na interdisciplinaridade desses profissionais de saúde. A falta de tempo dos profissionais e a falta de comunicação é o que parece ser mais visível, destacando a falta de retorno do psicólogo sobre determinados pacientes. Há também comentários sobre a necessidade que se tem de profissionais atuando nos consultórios médicos, a falta de conhecimento por parte do psicólogo sobre as doenças oncológicas e seus respectivos dilemas (possibilidade de cura, tempo de vida do paciente) e também, a falta de interação entre psicólogo e médico. Nestas representações, predominam a falta de comunicação e interação entre os profissionais, dificultando o tratamento do paciente. Nesta categoria as palavras que se destacaram foram: facilita r, aceitar família e tratamento. Na figura 1 abaixo está ilustrada a representação das palavras por categoria da relação entre psicologia e a oncologia, partindo do eixo central ao periférico. Figura 1 - Representação das palavras por categorias O que sabe sobre a atuação do psicólogo / O que diz sobre a interdisciplinaridade / Opinião sobre o trabalho do psicólogo / Efeitos do tratamento psicológico / Fatores que impedem a interdisciplinaridade Assim, o núcleo central é determinado, por um lado, pela natureza do objeto representado; por outro lado, pela relação que o indivíduo mantém com esse objeto. Ele é um subconjunto da representação constituído por um ou vários elementos, cuja ausência desestruturaria ou daria uma significação diferente à representação em seu conjunto. Uma representação é suscetível de evoluir e de se transformar superficialmente por uma mudança do sentido ou da natureza de seus elementos periféricos. Mas ela só se transforma radicalmente (muda de significação) quando o próprio núcleo central é posto em questão. Conforme analisou-se foi possível perceber que a representação social sobre a atuação do psicólogo na visão do médico é importante como uma estrutura de apoio para a família, delegando ao psicólogo o preparo e a discussão da doença. Santos (2005) relata que o diagnóstico de câncer ainda causa um efeito devastador. Essa situação de sofrimento conduz a uma problemática psíquica com características especificas e esses processos emocionais, que são desencadeados nesses pacientes, exigem um profissional especializado, o que leva a uma especificidade da Psico-Oncologia. Entretanto, quando se pensa no trabalho em equipe, Hartmann (1998) supõe a ação de vários profissionais com espírito cooperativo e com contribuições específicas, visando um todo comum. Entretanto, ela também se configura como um espaço de articulação de saberes e poderes, que podem se sobrepor uns aos outros ou que podem se articular harmonicamente, possibilitando uma intersecção de saberes. Santos (2005) descreve que existe, ainda, um grande desafio ao Psicólogo, numa equipe multidisciplinar. Existem vários obstáculos que impedem o trabalho interdisciplinar dentro das equipes multiprofissionais. Um deles segundo Spink (2003) é a suposta falta de tempo por parte dos médicos. Esses dados nos remetem à idéia de que para a existência de equipes interdisciplinares, é necessária uma reestruturação dos vários trabalhos dos profissionais da área da saúde na busca de eficiência e efetividade na sua execução, com a finalidade de atender às necessidades de saúde dos usuários. Ao que pareceu, o médico ainda mantém o controle sobre as equipes pelo status de sua profissão e hoje, tem dificuldade em compartilhar e adquirir conhecimentos através dos demais profissionais envolvidos no processo de tratamento. No passado os profissionais da área da saúde atuavam no modelo multidisciplinar, no presente o que se diz acontecer é o modelo interdisciplinar e para um futuro não muito distante estes sonham com o modelo transdisciplinar que acentua a troca e enriquecimento recíproco de saberes sobre o processo de saúde e da doença. Tudo isso, para que o paciente seja tratado com dignidade e respeito. Mas para conseguir alcançar essa meta será necessário um melhor entendimento das representações sociais que atravessam o campo comunicacional que sustentam as diferentes práticas profissionais. CONCLUSÃO Baseado nos objetivos dessa pesquisa pode-se concluir que a interdisciplinaridade entre médicos e psicólogos é muito precária ou inexistente. Primeiro por não se ter claro o significado do termo, segundo e na maioria das vezes pela dificuldade de comunicação entre ambos. Ficou evidente a resistência em se deixar de lado valores relacionados ao status da profissão reconhecida primeiro e se dar mais atenção a quem realmente precisa do trabalho desses profissionais. Quando se fala no trabalho do psicólogo este é caracterizado como um colaborador que acompanha os pacientes e não como um profissional que nessa parceria oferece uma intervenção. Este fato parece desvalorizar o trabalho desse profissional em relação aos demais. Porém as representações apontam para a necessidade dos pacientes e da família de atenção psicológica para que possam suportar a longa caminhada contra a doença. Mesmo porque o tratamento psicológico passa a ser um facilitador para o trabalho do próprio médico, fazendo com que os pacientes reduzam as demandas psicológicas depositadas sobre os médicos que pouco podem fazer neste sentido e tenham uma perspectiva diferente diante de momentos extremamente difíceis da vida. REFERÊNCIAS ANGERAMI- CAMON, V. A. org. et. Al. Psicologia da saúde: um novo significado para a prática clínica. São Paulo: Pioneira, 2000. HARTMANN, J. B. Horizonte interdisciplinar e as áreas do saber e do fazer: um estudo de caso no Hospital Universitário Regional de Mari ngá. Londrina:Paraná 1998 tese de mestrado em saúde coletiva . MOREIRA A. S. P., Representações sociais: teoria e prática. João Pessoa: Editora universitária –autor associado, 2001. MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social; tradução de Pedrinho A. Guareschi, Petrópolis: Vozes, 2003. SANTOS, E. M., Estudo bibliográfico sobre o histórico da psico-oncologia. Revista científica eletrônica de psicologia – ISSN 1806-0625. publicação científica da faculdade de ciências da saúde de Garça/FASU. Ano III, número 5, novembro de 2005. Periodicidade semestral. SPINK, M. J. P. Psicologia social e saúde: práticas, saberes e sentidos. Petrópolis: Vozes, 2003.