Andréa Aires Costa Fonoaudióloga/Psicopedagoga/Mestra em Educação 9962.5131/[email protected] Se definem como grupos centrados na tarefa (Pichon-Rivière, 1980). Diferenciamos “grupos operativos” de “grupos centrados no indivíduo” e de grupos centrados no grupo”. - Centrados no indivíduo: grupos psicanalíticos ou de terapia. - Centrados no grupo: na análise da própria dinâmica, inspirados nas idéias de Kurt Lewin. A tarefa é essencial no processo grupal. Abordamos através do grupo os problemas da tarefa, da aprendizagem e problemas pessoais relacionados com a tarefa, com a aprendizagem. O que procuramos é realizar uma aprendizagem que tem caráter grupal. Ao grupo se propõe uma tarefa e a tarefa é aprendizagem. Nasceram num ambiente de tarefa concreta. Por volta de 1945, circunstâncias particulares criaram a necessidade de transformar paciente atendidos por Pichon-Riviere, operadores. Enrique Pichon-Rivière (1907 a 1977) nasceu na Suíça e criou-se na Argentina. Formou-se psiquiatra, participou ativamente como intelectual de vanguarda dos movimentos culturais da época, desenvolvendo entre outros estudos, a incorporação dos conceitos da psiquiatria dinâmica com a psicanálise. Inseriu a psiquiatria dinâmica na medicina e fundou, juntamente com outros psicanalistas, a APA (Associação Psicanalítica Argentina). Isto possibilitou na Argentina o estudo da psicossomática, da psicanálise de grupo, da análise institucional e ainda do trabalho comunitário. Progressivamente, Pichon foi deixando a concepção de psicanálise ortodoxa, concentrando os estudos e sua prática nos grupos da sociedade, desenvolvendo um novo enfoque epistemológico que o levou à Psicologia Social. Dessas experiências profissionais, Pichon criou a teoria do Grupo Operativo que se constitui em uma técnica terapêutica de atendimento grupal, a qual foi inicialmente destinada aos portadores de esquizofrenia e psicoses. Tempos mais tarde, também foi utilizado na área de recursos humanos em empresas e, posteriormente, na área educacional. O princípio básico é promover, por meio de uma técnica integrativa de seus membros, os processos de mudança em grupo. Essa conotação possui o objetivo de levar os participantes a aprender a pensar e operar, isto é, desenvolver a capacidade de resolver contradições dialéticas, sem criar situações conflitantes que imobilizem o crescimento do grupo. Não importa qual o tipo de grupo operativo, há sempre sob sua tarefa outra implícita, que aponta para ruptura, que ocorre com o esclarecimento das pautas estereotipadas que dificultam a aprendizagem e a comunicação, significando um obstáculo frente a toda situação de progresso ou mudança. A transformação se cumpre nos três momentos dialéticos de tese, antítese e síntese, através de um processo de esclarecimento que vai do explícito ao implícito. Obstáculo na visão de um conhecimento qualquer. Esse obstáculo ou dificuldade de abordagem denuncia uma atitude de resistência à mudança. A tarefa deve promover uma mudança (num sentido grupal) operativa (mudança de uma situação para outra). O explícito manifesto é interpretado pelo coordenador do grupo, por meio de assinalamentos até que apareça algo novo, uma nova descoberta ou um novo aspecto da doença (do quadro). Constatou-se que a situação de aprendizagem criada por essa operatividade grupal gera nos sujeitos duas ansiedades básicas: medo da perda das condutas existentes (ansiedade depressiva) e medo do ataque na nova situação (ansiedade paranóide). Esses medos coexistem e cooperam na operatividade do grupo, uma vez que mobilizam tipos de conduta em prol do alcance dos objetivos propostos. Relacionado com a perda dos instrumentos que já utilizavam como dificuldade para conseguir uma adaptação particular ao mundo. O sujeito sente-se mais seguro por ter aprendido o “ofício” de “doente”. Por perceber-se sem instrumentos diante da nova situação, surge a sensação de vulnerabilidade. Por ter perdido suas defesas neuróticas, constitui-se uma resistência à mudança. É portanto uma consequência da perda dos referidos instrumentos. É a abordagem do objeto de conhecimento, que tem um nível explícito ou manifesto de abordagem. Na execução da tarefa surgem certos tipos de dificuldades, de lacunas, de cortes na rede de comunicação, montantes de exigência, que aparecem como sinais emergentes de obstáculos epistemológicos. Consiste em resolver as situações estereotipadas e dilemáticas que surgem da intensificação dessas ansiedades na situação da aprendizagem. Enfrentamos algo novo que é preciso aprender, o que significa ser necessário abandonar o outro para poder aprender. Embora não de maneira inteiramente consciente – estamos abandonando outras formas de ver o mundo ou a realidade, ou qualquer coisa que seja vivida como perda, e isso fornece a direção de nosso trabalho. Um grupo tão terapêutico quanto pode sê-lo qualquer outra técnica, pelo fato de que permite aprender. Abandonando as defesas anteriores, o sujeito pode aprender novos aspectos da realidade concreta e que corrigem sua visão anterior do meio. Contribuem para a tarefa todos que estão comprometidos com o grupo, cada um por sua experiência pessoal, por sua forma de ser e pela inter-relação que existe entre eles. O progresso então é possível, com a formulação de novos problemas, novos aspectos, que levam o sujeito a poder aprender com maior liberdade mediante a ruptura do estereótipo, a poder dessa maneira estar num contínuo progresso. É a unidade de trabalho. A interpretação rompe a dificuldade de abordar o objeto. A essa interpretação sucedem outras até chegar ao ponto de urgência, no qual há proximidade entre o explícito e o que ainda se mantém implícito. A divisão de tempo. A arrumação do espaço A forma de dividir a tarefa em momento para o disparador e momento para a reelaboração. Bleger (1991) comenta que grupo operativo é um trabalho que desenvolve a capacidade de trabalhar em equipe. Elimina-se o foco no ensinar, para colocar o foco no aprender. Os grupos passam por momentos de confusão ou indiscriminação, de discriminação e de integração. As intervenções do coordenador de um grupo devem promover a passagem de um momento para o outro. Facilitação do diálogo. Deve ajudar o grupo a sair dos estereótipos. O coordenador devolve as perguntas que lhe são feitas e desarma as dependências. Quando o diálogo e a comunicação funcionam bem, o coordenador não deve intervir. Não deve impor idéia alguma ou ser coercitivo. A forma como intervém nos conflitos não deve tomar algum partido. É importante que suas intervenções não se voltem apenas para o aspecto cognitivo da tarefa, mas se preocupe principalmente com a tarefa subjetiva, promovendo o desenvolvimento da autonomia moral, social e intelectual. Ao agrupar pessoas em torno da tarefa, começam a aparecer as caraterísticas de cada uma em seu jeito de aprender: primeiro aspectos formais, depois os sentimentos, os valores, as emoções vão se soltando até chegar às filigranas, aquilo que só se mostra quando se é cúmplice, quando se constrói a confiança. O grupo sabe qual é a tarefa objetiva, o porquê de reunir-se e o que precisa ser feito; porém no início não se dá conta que, além dessa tarefa, possui uma outra, talvez mais importante, que é uma tarefa subjetiva: lidar com as ansiedades que são mobilizadas na realização da tarefa objetiva. O objetivo é que eles possam aprender a aprender, que possam regular suas aprendizagens, conhecer a si mesmos como pessoas que pensam e que sentem durante a ação, como também aprender de uma forma diferente, que integra afeto, ação e relação. Mudança de Situação Informação Acréscimo à modalidade utilizada pelo grupo para aprender Modalidade de alternativa múltipla Proposição conflitiva Informação intrapsíquica Mostra Assinalamento Interpretação Vivência do conflito Problematização Destaque do comportamento Quando o grupo insiste em um conceito estereotipado, o coordenador pode propor uma mudança de foco na discussão, fazendo questionamentos ou comentários que remetam o grupo a outra reflexão. Quando o grupo trava o encaminhamento de uma discussão por falta de informação, o coordenador pode intervir trazendo a informação, indicando onde encontrá-la ou referindo-se à ativação da memória, caso já tenha sido apresentada para o grupo. O coordenador acrescenta à forma de discutir ou à solução encontrada pelo grupo, outras possibilidades. Este não impõe a sua idéia, mas possibilita outras escolhas que não as primeiramente levantadas. Quando o coordenador percebe que o grupo não está encontrando a solução por meio dos recursos que já tem, o coordenador oferece alternativas diferentes para que possam instigar a reflexão e possibilitar o grupo a escolha do que será solução. É quando diante de uma situação de conflito o coordenador faz um comentário ou uma pergunta que leva o grupo a refletir, no entanto não sinaliza a solução. Esta intervenção devolve ao grupo a necessidade de que ele assuma as consequências de suas decisões. Trata de um recurso que por meio do qual se informa ao grupo sobre o que está acontecendo na sua dinâmica interna. O coordenador descreve o que observa no comportamento do grupo. Refere sentimentos, emoções ou pensamentos. É uma intervenção sem verbalização, realizada apenas por meio de gesto. A postura do coordenador já demonstra o quanto ele poderá intervir naquele momento: presente-ausente. O assinalamento grifa alguns elementos da conduta do grupo e compara com outro dado já existente em sua história, para que o grupo possa regular a si mesmo e decidir o que realmente deseja fazer para que todos fiquem satisfeitos. Semelhante ao assinalamento, no entanto é apresentada a partir da leitura de todos os elementos. Também grifa elementos da conduta do grupo. É uma intervenção que antecede praticamente todas as outras, pois se trata de dar um tempo a mais para o grupo, para que ele próprio encontre os elementos necessários para a autoregulação. É a intervenção que traz o problema para o grupo, quando ele está acreditando que tudo é muito fácil. Provoca o desequilíbrio necessário no grupo e possibilita a integração entre teoria e realidade. Importante recurso: dramatização. Destaca o comportamento do grupo durante a sua história, mostrando que um determinado comportamento foi superado e que, no atual momento, o grupo está sendo capaz de realizar a tarefa de uma forma bem mais amadurecida. Líder de mudança Líder de resistência Porta-voz Bode expiatório Sintetizador De mudança: é aquele componente que provoca, instiga, sugere coisas novas levando o grupo a buscar algo novo, a mudança. De resistência: é aquele que, quando se sugere algo novo, tenta segurar o grupo, tentando manter a situação anterior e abrindo um espaço para a conservação. Obs: As duas lideranças são importantes, porque é justamente no interjogo entre o novo e o conhecido que ocorrem as mudanças, as transformações e o crescimento individual e grupal. É aquele que traduz através de sua fala e de suas ações os sentimentos e as idéias que circulam no grupo, aparentes ou não. Ele não tem consciência de enunciar algo da significação grupal; ele enuncia ou faz algo que vive como próprio. Ele é o porta-voz da “doença” de um grupo. A “doença” aqui pode significar a modalidade de enfrentar a tarefa. Bode expiatório: é aquele que recebe e aceita a carga negativa do grupo, deixando-o mais leve e produtivo, já que o grupo está tendo em quem projetar seus pontos negativos. Sintetizador: é aquele participante que consegue ouvir, perceber e captar o que se passa no grupo, expressando a síntese da discussão, integrando o que foi apresentado, mesmo que tenham surgido idéias opostas, o que quase sempre acontece. O coordenador de grupo operativo não pode trabalhar nem como um psicanalista de grupo, nem como um simples coordenador de grupo de discussão e tarefa. Sua intervenção se limita a sinalizar as dificuldades que impedem ao grupo enfrentar a tarefa. Dispõe para isso de um ECRO pessoal, a partir do qual tentará decifrar essas dificuldades, propondo ao grupo as hipóteses que lhe permitam ir revelando as dificuldades que aparecem na comunicação e aprendizagem. O coordenador não está ali para responder às questões, mas para ajudar o grupo a formular aquelas que permitirão o enfrentamento dos medos básicos. Ele cumpre no grupo um papel prescrito: o de ajudar os membros a pensar, abordando o obstáculo epistemológico configurado pelas ansiedades básicas. Seu instrumento é a sinalização das situações manifestas e a interpretação da causalidade subjacente. O observador, na forma tradicional de grupo operativo, é um elemento não participante e ao mesmo tempo em que serve de tela de projeção por sua característica de permanecer silencioso, registra material expresso tanto verbalmente como pré-verbalmente nos distintos momentos grupais. Depois da sessão grupal as notas do observador são analisadas em conjunto com o coordenador, que juntos podem repensar as hipóteses e adequálas em função do processo grupal. É quase sempre um jogo de inter-relações, do qual todos fazem parte e ninguém é melhor ou pior que o outro. O tempo todo, mesmo sem que se perceba, há trocas entre os integrantes em todos os níveis. Analisar os diferentes papéis e sua circulação permite ao observador perceber o momento ideal para uma intervenção e sua real necessidade. O grupo torna-se mais saudável e produtivo quando os papéis circulam, proporcionando o crescimento individual e grupal, ou seja, a realização da tarefa e a transformação dos indivíduos. Trabalhar em grupo operativamente não é fácil, mas permite que ocorra maior circulação do saber de cada um e evita a cristalização de certos comportamentos, que em outras circunstâncias impediria que a tarefa fosse realizada e que os componentes do grupo crescessem enquanto sujeitos.