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COMU 19
TÍTULO: O Silenciamento como Processo de Exclusão das Mulheres
da História da Filosofia
DA COSTA, Fernanda Alves. Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
[email protected]
A História da Filosofia ocupou-se diversas vezes em construir conceitos que delimitam o
lugar do humano em suas relações. Dentre estes conceitos, Mulher, Gênero e Feminino,
que perpassam campos como a Política, a Estética e a Metafísica, afim de fundamentar
uma suposta inferioridade de uma “natureza” da mulher, tal como fundamentar uma
natureza do homem e do próprio humano. O silenciamento da mulher e a construção do
ideal de um feminino são alguns dos métodos utilizados para domestica-las pela
sensibilidade e domina-las pela forma. Métodos marcados pela produção do ideal do
“belo sexo”, numa ação conjunta entre Filosofia e Arte, com a intenção de construir uma
cultura que visa afastar as mulheres e o feminino dos espaços historicamente ocupados
pelos homens, como o conhecimento e a política. Para Sócrates, as mulheres eram uma
ameaça política, posto que incluí-las nestes espaços, implicaria na defesa de direitos a
elas e a qualquer outro grupo que fora excluído da vida pública junto às mulheres, como
estrangeiros, escravos, crianças e animais. Wollstonecraft, ao colocar as mulheres como
a humanidade excluída da humanidade, nos apresenta a ideia de um Feminismo Filosófico
como a defesa do bom senso da humanidade, ou o Feminismo como Humanidade para
todos. A morte da filósofa Hipátia de Alexandria é onde se inicia o silenciamento pérfido
destas mulheres que ousaram participar dos espaços públicos. Morte trágica que a própria
História se envergonha de contar, pois a Filosofia, como ciência que participa da
construção ética da cultura ocidental, é uma das protagonistas da história de violência
contra as mulheres, desde as hetairas gregas – como Aspásia de Mileto – até as mulheres
que hoje ocupam espaços dentro da Academia – sejam como estudantes, sejam como as
poucas, mas em crescente número, professoras que adentram esse território que também
é historicamente masculino em sua concepção e em suas ações. O silêncio, a casa, as
escolas, os conventos e os manicômios foram alguns dos locais de aprisionamento das
mulheres e do ideal de feminino. O próprio corpo, assim como um campo de
concentração, é local de aprisionamento histórico das mulheres. O útero, como
protagonista da história do conhecimento, vai de fundador da Filosofia (a maiêutica como
inveja do parto do corpo) ao algoz das histéricas e que veio a fundar a psicanálise quando
uma das pacientes de Freud, a Baronesa Fanny Moser, exige que este a deixe falar – a
cura pela fala. A histeria pode ser vista aí como um problema social, uma expressão no
corpo da mulher do mutismo relativo a sua linguagem, do silêncio que lhe foi imposto.
Com a criação da psicanálise, Freud dá espaço de voz para o pensamento silenciado das
mulheres, reestruturando a conversação e permitindo ao corpo mudo a expressão pela
fala. O silenciamento das mulheres levou ao esquecimento, que neste caso, ganha funções
políticas. Nietzsche aponta o esquecimento como um poder, como o antídoto para o
ressentimento que afeta as relações. E se o esquecimento é um poder, o objeto do
esquecimento vira alvo da dominação. Ser esquecido é ser dominado. O esquecimento
histórico e cultural produz marcas, que por mais que sejam ignoradas, estarão sempre
presentes a qualquer tempo. O que requer da Filosofia uma solidariedade com o passado,
o presente e o futuro de suas esquecidas, para que o pensamento não trabalhe sob o
estigma da dominação do corpo e nem das ideias.
Palavras-chaves: Filosofia, Mulher, Feminino, Corpo, História.
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