XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP Linfoma difuso de células grandes B em tecido subcutâneo de felino filhote – relato de caso Diffuse large B-cell lymphoma in a kitten subcutaneous tissue – case report. GONÇALVES, B.M.¹*; RIBEIRO, J.F.A.¹; GUIMARÃES, P.T.C.¹; GIMENEZ, C.F.M.¹; SILVA, M.C.L.¹; AMORIM, R.L.¹. ¹FMVZ - UNESP BOTUCATU *[email protected] Palavras-chave: linfoma felino, linfoma extranodal subcutâneo, linfossarcoma REVISÃO DE LITERATURA Os linfomas ou linfossarcomas são neoplasias malignas de origem hematopoiética, sendo uma das neoplasias mais comuns em felinos (VAIL,2013). Responsável por cerca de 90% dos quadros de neoplasia hematopoiética em felinos e por cerca de 33% de todas as outras origens (STEEL; DOBSON, 2006). O linfoma em felinos atinge mais comumente os órgãos internos e linfonodos (AMORIM, 2006), sendo a neoplasia de origem alimentar a forma mais comum na espécie, representando cerca de 32 a 72% dos casos (GROVER, 2005), contudo, a idade média aproximada é de 13 anos para linfoma T e 12 anos para linfoma B (RISSETTO et al., 2011). A doença ocorre devido a uma proliferação clonal de linfócitos malignos (DALEK; CALAZANS; NARDI, 2009) e originam-se principalmente de órgãos linfoides, mas podem desenvolver-se em qualquer local do organismo, devido a migração destas células linfóides por todos os tecidos. (STEEL; DOBSON, 2006). Existem diversas formar de classificar o linfoma, tradicionalmente, ele é classificado em relação a seu sítio anatômico em: multicêntrico, alimentar, mediastinal e extranodal (renal, SNC, ocular e cutâneo) (VAIL, 2013). Geralmente os gatos que apresentam as formas multicêntrica e mediastínica são positivos para o vírus da leucemia felina, independentemente da idade e os que possuem a forma cutânea e digestiva, são negativos para o vírus. Os felinos jovens são, na maioria das vezes, positivos ao vírus (MORRIS; DOBSON, 2001). Em relação a classificação histológica, as classificações mais usadas em cães e gatos são a Kiel, 182 XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP Working Formulation, WF-NCI, REAL e WHO. (DALEK; CALAZANS; NARDI, 2009). Sendo a Kiel e a WHO as 2 classificações histopatológicas mais comumente usadas, visto que avaliam a malignidade e o prognóstico da doença, sendo de extrema importância a avaliação adicional do imunofenótipo, porém, é importante ressaltar que em felinos a avaliação imunohistoquímica do fenótipo não é considerada uma avaliação prognóstica tão segura e eficaz como vem sendo demostrado para seres humanos a cães. (DALEK; CALAZANS; NARDI, 2009) RELATO DE CASO O presente relato descreve o caso de um felídeo, fêmea, SRD, 11 meses que foi atendimento no HV-Unesp Botucatu devido a aumento de volume abdominal em região inguinal. À palpação, detectou-se uma massa amorfa que possuía consistência mole, não aderido e de origem subcutânea. De acordo com o proprietário, a estrutura apresentou crescimento evolutivo de cerca de 2 semanas e o mesmo não possuía outros animais em casa ou notou quaisquer evidências de briga que pudesse evidenciar uma infecção bacteriana. A proprietária relatava urina normal em cor, volume e frequência, normoquesia, normodipsia e normorexia. O exame clínico revelou bom estado geral e ausência de linfoadenopatia periférica, temperatura corpórea dentro dos padrões da normalidade para a espécie (38,1°C), ausência de organomegalia e demais parâmetros normais. O animal foi submetido a exames laboratoriais de hemograma, bioquímico completo (AST, FA, GGT, PT, ALBUMINA, Cálcio/Fósforo, Sódio/Potássio) e foi submetido a punção aspirativa do líquido abdominal para análise citológica. As análises laboratoriais não bioquímicas não revelaram nenhuma alteração significativa e a única alteração em hemograma foi a contagem leucocitária, que revelou uma leucocitose (39,4x10³ug/dl) por neutrofilia, sem desvio à esquerda. O líquido retirado possuía coloração amarelo-palha, negativo para presença de bactérias e após a avaliação laboratorial, detectou-se a presença de transudato modificado com presença de células inflamatórias em grande quantidade, compostas por neutrófilos, macrófagos e linfócitos, detectando um processo inflamatório crônico, descartando a possibilidade de flegmão. Foi feito ultrassonografia abdominal, que detectou que o acúmulo não possuía qualquer comunicação cavitária e ausência de alterações em linfonodos mediastinais ou em 183 XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP outros órgãos. O animal foi medicado com Amoxicilina com Clavulanato 20mg/kg/BID por 15 dias e Prednisona 0,5mg/KG/BID por 10 dias afim de conter a inflamação e repetir os exames citológicos, se necessário, após o período. Antes de terminar o tratamento medicamentoso, o proprietário retornou ao hospital revelando piora no aumento de volume e hiporexia, além de emagrecimento. Em vista do quadro, o mesmo foi submetido a anestesia geral e a região foi cirurgicamente aberta para colheita de materiais para biópsia. Neste procedimento, foram detectadas duas estruturas na região subcutânea, não aderidas e com aspectos similares a um linfonodo e estas estruturas foram excisadas e enviadas para análise histopatológica. A análise histopatológica descreveu: “Presença de fragmentos de coloração amarelada, sendo o maior medindo 5,0 x 4,0 x 0, 5cm. Proliferação de linfócitos predominantemente ao redor de vasos sanguíneos. Presença de células neoplásicas que exibem citoplasma distinto, escasso e discretamente basofílico, núcleo redondo, ovalado e basofílico, cromatina por vezes rendilhada e nucléolo por vezes inconspícuas. Foram observadas de 1 a 2 mitoses em 10 campos de maior aumento (400x).”. Sendo assim, o diagnóstico histopatológico foi o de Linfoma e de acordo com a raridade do local acometido, sendo localizado e de origem subcutânea, as amostras foram encaminhadas para avaliação imunohistoquímica, onde foram aplicadas as classificações de WHO e KIEL, que classificou Linfoma difuso de grandes células B e Linfoma centroblástico polimórfico, sendo a malignidade dada como intermediária. Após este resultado, o animal foi submetido a exame de PCR de FIV/FELV, cujo resultado foi negativo. Sendo assim, iniciou-se a quimioterapia segundo o protocolo de CHOP – Madison Wisconsin (Vincristina – Ciclofosfamida – Vincristina – Doxorrubicina + Prednisona), tendo bons resultados iniciais, porém retorno do acúmulo de líquido após a 21°sessão, sendo assim, o protocolo quimioterápico foi mudado para Clorambucil oral e o animal apresenta-se estável, sem alterações clínicas e em remissão total do quadro do linfoma localizado. DISCUSSÃO Geralmente os linfomas mais comuns que acometem os felinos jovens, está relacionado ao vírus da leucemia felina e as formas mediastinal e multicêntrica (DALEK; CALAZANS; NARDI. 2009). Neste caso relatado, podemos ressaltar que há vários 184 XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP aspectos raros e curiosos, visto que o animal possui 11 meses e é negativo para o vírus da FELV, além de apresentar uma forma extranodal e de origem subcutânea, localização incomum de apresentação, visto que as localizações mais comumente citadas incluem a forma ocular, cutânea, SNC e renal. (VAIL, 2013). Devido a raridade do quadro e inconsistência com sinais clínicos, visto que o animal não possuía somente um leve emagrecimento que logo cessou após o início da quimioterapia antineoplásica, optou-se pelo protocolo quimioterápico do Linfoma Multicêntrico em Felinos. Sabemos que em termos gerais, os felídeos não apresentam uma resposta ao tratamento, tempo de remissão ou taxa de sobrevivência tão longa quanto a apresentada por cães e seres humanos, entretanto, os animais que apresentarem uma boa resposta terapêutica podem sobreviver por 1 ano ou mais (VAIL et al., 2015). A localização extranodal subcutânea é rara em felinos filhotes, nunca tendo sido relatado antes, o que dificulta ao esclarecimento de dúvidas frente a prognóstico e melhores condutas terapêuticas. O felino em questão apresenta sobrevida de 7 meses desde o início da apresentação e nunca apresentou sinais clínicos desfavoráveis durante este período, o que nos faz crer que o prognóstico dele tem sido favorável. CONSIDERAÇÕES FINAIS Mais relatos de caso e revisões de literatura são necessários para considerar o prognóstico deste tipo de apresentação neoplásica em felinos jovens, bem como auxiliar nas melhores condutas terapêuticas, promovendo assim uma melhor sobrevida ao paciente oncológico. REFERÊNCIAS 1. DALEK, C.R.; CALAZANS, S.G.; DE NARDI, A.B. Linfomas. In: DALEK C.R.; DE NARDI, A.B.; RODASKI, S. Oncologia em Cães e Gatos, São Paulo: Edit. Roca, 2009.p.481-506. 185 XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP 2. VAIL, D.M. Canine lymphoma and lymphoid leukemias/Feline lymphoma and leukemia. In WITHROW, S.J; MACEWEN, E.G. Small Animal Clinical Oncology, Missouri: Saunders Elsivier, 2013.p.608-650. 3. GROVER, S. Gastrointestinal lymphoma in cats. Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 27, n. 10, p. 741–751, 2005. Disponível em: <https://secure.vlsstore.com/me2/dirmod.asp?sid=&nm=&type=Publishing&mo d=Publications::Article&mid=8F3A7027421841978F18BE895F87F791&tier=4 &id=F0B960D8EE6941669087A72662489099>. 4. RISSETTO, K.; VILLAMIL, J. A.; SELTING, K. A.; TYLER, J.; HENRY, C. J. Recent trends in feline intestinal neoplasia: an epidemiologic study of 1,129 cases in the veterinary medical database from 1964 to 2004. J Am Anim Hosp Assoc, v. 47, n. 1, p. 28–36, 2011. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21164164>. 5. VAIL, D. M.; MOORE, a S.; OGILVIE, G. K.; VOLK, L. M. Feline lymphoma (145 cases): proliferation indices, cluster of differentiation 3 immunoreactivity, and their association with prognosis in 90 cats. Journal of veterinary internal medicine / American College of Veterinary Internal Medicine, v. 12, n. 5, p. 349–354, 2015. 186