LINFOMA ALIMENTAR EM CÃO – RELATO DE CASO

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LINFOMA ALIMENTAR EM CÃO – RELATO DE CASO
Marianne Rafaelle Braz XAVIER1, Elayne Cristine Soares da SILVA2, Thiago Henrique Soares da
SILVA3, Manoel Adrião Gomes Filho4
Introdução
O linfoma é denominado como uma neoplasia linfoide, que tem origem nos órgãos hematopoiéticos
sólidos. Aparece em qualquer idade, porém os de meia-idade a idosos são mais observados e não há
predileção sexual (NELSON & COUTO, 2006). Representa 8,5 a 9% dos tumores caninos (RALLIS et
al., 1992).
A etiologia dos linfomas nos cães é multifatorial, entretanto, observou a prevalência elevada por
determinadas linhagens sanguíneas nesta neoplasia. Algumas raças, tais como Basset Hound, Rottweiller,
Cocker Spaniel, Boxer, Bulldog Inglês, São Bernardo, Golden Retriver, possuem maior predisposição
para os linfomas caninos (NELSON & COUTO, 2006).
Na forma alimentar, qualquer parte do trato gastrointestinal ou linfonodo mesentérico pode ser
acometido (TESKE, 1994; VAIL ET AL., 2001). É caracterizada morfologicamente por infiltrações
solitárias e difusas no trato gastrointestinal ou multifocais com ou sem linfadenopatia intra-abdominal
(NELSON & COUTO, 2006). Na forma difusa, há infiltração extensa da lâmina própria e submucosa,
causando síndrome de má-absorção, perda de peso crônica, esteatorréia e diarréia. Na forma nodular,
ocorre um espessamento segmentar do intestino, mais frequentemente na região ileocecocólica que
poderá causar estreitamento luminal e obstrução intestinal parcial. No intestino grosso, pode ocorrer
infiltração difusa, levando à melena (JONES et al., 2000).
O diagnóstico de linfoma, independente da forma, depende do exame histológico ou citológico dos
tecidos acometidos. A prevalência da linfadenomegalia em cães com linfoma é alta, fazendo desse
aspecto o principal achado para determinação da suspeita clínica (GREENE, 1996). Exames
complementares de sangue e imagem são também importantes (DUNN, 2000).
Materiais e Métodos
Foi atendido um cão da raça Rottweiler, macho, cinco anos de idade, apresentando vômito e diarreia de
evolução aguda, iniciados há dois dias. O mesmo encontrava-se com vacinação e vermifugação em dia.
Tinha histórico de ingerir objetos, o que passou a ser uma das possíveis suspeitas para o quadro de
gastroenterite. No exame clínico apresentou dor à palpação abdominal, normotermia, desidratação
moderada, linfonodos levementes aumentados, normocorado. Realizou-se fluidoterapia, antibioticoterapia
com sulfa trimetropim (15mg/kg, 12/12h) e metronidazol (25mg/kg, 12/12h) e escopolamina (25mg/kg,
12/12h). Solicitou-se ultrassonografia abdominal, hemograma com pesquisa de hemoparasitas, além do
perfil renal e hepático. Nos dois dias seguintes do tratamento, o paciente não apresentou melhora clínica,
sendo conduzido a laparotomia exploratória.
Resultado e discussão
Os exames de sangue não apresentaram alteração significativa, diferente do que foi observado por
Teske, 1994 e Vondeharr & Morisson, 1998; onde relataram anemia, trombocitopenia, leucopenia ou
leucocitose, linfopenia ou linfocitose em outros pacientes.
A ultrassonografia abdominal apresentou espessamento gástrico e intestinal, sendo evidenciado um
segmento intestinal com perda de estratificação parietal, suspeitando-se de uma enterite severa ou
1
Primeiro Autor é Marianne Rafaelle Braz Xavier, Graduanda em Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de
Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife- -PE, CEP: 52171-900. E-mail: [email protected]
2
Segundo Autor é Elayne Cristine Soares da Silva, Médica Veterinária, Professora Doutora da Faculdade Maurício de Nassau. Rua
Guilherme Pinto, 114, Graças, Recife - PE, CEP: 52010-210.
3
Terceiro Autor é Thiago Henrique Soares da SILVA, Médico Veterinário Autônomo. Rua Marquês do Paraná, 85, Espinheiro,
Recife – PE, CEP: 52021-050.
4 Quarto autor é Manoel Adrião Gomes Filho, Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal,
Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife- PE, CEP: 52171-030.
neoformação. Além dessas alterações foi visualizado líquido ascítico em quantidade acentuada, rico
celularidade. O exame ultrassonográfico é indicado no período pré-operatório de pacientes com massas
abdominais, pois apresenta boa aplicabilidade na determinação da origem da lesão, auxiliando em apontar
a malignidade dos processos. Contudo, nunca deve substituir as análises histopatológicas (GARCIA et al,
2011).
Em virtude do quadro estabelecido, encaminhou-se o paciente para laparotomia exploratória, onde foi
vista uma grande quantidade de líquido ascítico sanguinolento (Fig. 1), extensa área do intestino delgado
comprometida por uma massa bastante vascularizada (Fig.2) e com aderências importantes, com lúmen
intestinal muito reduzido, confirmando o que foi exposto por Jones et al., 2000. Coletou-se material para
exame histopatológico e realizou-se eutanásia do paciente, em virtude da impossibilidade de remoção da
massa abdominal e da sua extensão.
O resultado do histopatológico detectou linfoma intestinal, corroborando com os sinais clínicos
evidenciados, porém de forma aguda, em um paciente jovem, sem perda de peso, diferente do que foi
verificado por Nelson e Couto, 2006.
Referências
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São Paulo: Roca, 2001.
GARCIA, D.A.A.; FROES, T.R.; GUÉRIOS, S.D. Ultrassonografia abdominal pré-operatória em cães e
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JONES, T.C., HUNT, R.D., KING, N.W. Patologia veterinária. São Paulo: Manole, 2000. 1415p. Cap.
23: Sistema digestivo: p.1063-1130.
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Fig.1) Presença de líquido ascítico sanguinolento; Fig.2) Aderência e massa vascularizada na região do
intestino delgado.
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