Pró-Reitoria de Graduação Curso de Psicologia Trabalho de Conclusão de Curso II REPENSANDO O PROCESSO DIAGNÓSTICO DOS TRANSTORNOS DE ESPECTRO AUTISTA. Autora: Tiago Soares Lima Orientadora: Profª. Msc Fabíola Gomide Baquero Carvalho Examinadora: Profª. Drª Erenice Natalia Soares de Carvalho Brasília - DF 2013 TIAGO SOARES LIMA REPENSANDO O PROCESSO DIAGNÓSTICO DOS TRANSTORNOS DE ESPECTRO AUTISTA. Monografia apresentada ao curso de graduacao em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtencao do Título de Bacharel em Psicologia. Orientador: Msc. Fabíola Gomide Baquero Carvalho. Brasília 2013 Monografia de autoria de Tiago Soares Lima, intitulada “REPENSANDO O PROCESSO DIAGNÓSTICO DOS TRANSTORNOS DE ESPECTRO AUTISTA”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, em / defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: ________________________________________________ Prof. Msc. Fabíola Gomide Baquero Carvalho Orientadora Psicologia - UCB ________________________________________________ Prof. Dra. Erenice Natalia Soares de Carvalho Psicologia - UCB Brasília 2013 / , AGRADECIMENTO Grato a Deus pelo dom da vida, pelo seu amor infinito, Sua presença em mim me foi sustento e me deu coragem para questionar realidades que encontrei ao longo do caminho e propor sempre um novo mundo de possibilidades principalmente para as pessoas com quem pude realizar esse trabalho. Dedico esta, bem como todas as minhas demais conquistas, aos meus amados pais Julio e Lourdes, a quem tudo devo, por suas renúncias, sacrifícios e afeto, os quais jamais consiguirei retribuir com a mesma intensidade, obrigado por cada incentivo e orientação, pelas orações em meu favor, pela preocupação para que estivesse sempre andando pelo caminho correto. Minhas irmãs, Luciana, Juliana e Camila, por todo amor, apoio e carinho. Aos irmãos que a vida me deu, Afonso e Handerson, por sempre torcerem pelo meu sucesso. À Carolina, pessoa com quem amo partilhar a vida. Com você tenho me sentido mais vivo de verdade. Obrigado pelo carinho, paciência e por sua capacidade de me trazer paz na correria de cada semestre. Aos meus futuros colegas de profissão, em especial Laura, Jardel, Bárbara, Melissa, Carine e Reginaldo, a quem aprendi a amar e construir laços eternos. Obrigado por todos os momentos em que fomos estudiosos, brincalhões e cúmplices. Porque em vocês encontrei verdadeiros irmãos. Obrigado pela paciência, pelo sorriso, pelo abraço, pela mão que sempre se estendia quando eu precisava. Esta caminhada não seria a mesma sem vocês. À professora Fabíola Gomide que, com muita paciência e atenção, dedicou do seu valioso tempo para me orientar em cada passo deste trabalho. À professora Gerciane Máximo Alves, agradeço as duas pela contribuição na minha vida acadêmica e por tanta influência na minha futura vida profissional. A todos aqueles que de alguma forma estiveram e estão próximos de mim, fazendo esta vida valer cada vez mais a pena. “A escola tem que ser esse lugar em que as crianças tem a oportunidade de ser elas mesmas e onde as diferenças não são escondidas, mas destacadas.” (Mantoan) RESUMO Referência: LIMA, Tiago Soares. Repensando o Processo Diagnóstico dos Transtornos de Espectro Autista. 2013. 41f. Monografia (Psicologia) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2013. No presente trabalho foram acompanhadas experiências terapêuticas com duas crianças com suspeita de autismo, além de observar o papel do psicólogo frente ao processo de diagnóstico que, segundo a própria literatura, deve basear-se em um trabalho multidisciplinar, envolvendo inúmeras áreas de atendimento. Durante a realização de pesquisas bibliográficas foi percebido que no meio acadêmico já existem estudos sobre o desenvolvimento de processos de diagnóstico, embora no Brasil, a precocidade no diagnóstico ainda se configura um desafio aos profissionais envolvidos na área. O autismo é classificado como transtorno invasivo do desenvolvimento, envolvendo dificuldades nas habilidades sociais e comunicativas. Pessoas com autismo apresentam atraso no seu desenvolvimento em geral, e demonstram comportamentos repetitivos, estereotipados e limitados. Na realização deste estudo de caso acompanhou, durante 1 ano, duas crianças de 3 anos de idade em processo de diagnóstico, que eram atendidas no programa de educação precoce da Secretaria de Educação do DF. Foram realizadas entrevistas com as mães e professores, e diversas observações de atendimento das crianças citadas no estudo. Os resultados indicaram que as suspeitas de diagnóstico levantadas pela equipe da escola estavam corretas, pois ao longo do período em que esse trabalho foi realizado, as famílias conseguiram concluir o diagnóstico junto a uma equipe médica. Alguns questionamentos surgiram ao longo desse diagnóstico, pois foi percebida uma queixa comum nas duas famílias, ambas em nenhum momento, se sentiram participantes de todo o processo e não souberam informar quais informações sobre o processo foram utilizadas pelos profissionais para chegar a tal diagnóstico. Acompanhar as duas famílias permitiu compreender que o processo diagnóstico se baseia na percepção clínica dos médicos, e que o transtorno e evidenciado pela relação dos comportamentos presentes nos manuais de classificação, restando pouco espaço para compreensão da subjetividade de cada criança ou família. ABSTRACT Referência: LIMA, Tiago Soares Repensando o Processo Diagnóstico dos Transtornos de Espectro Autista. 2013. 41f. Monografia (Psicologia) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2013. This study followed therapeutic experience with two children with suspected autism, and to observe the role of psychologists across the diagnostic process which according to literature itself should be based on a multidisciplinary involving many service areas. While conducting literature searches was noticed that already exist in the academic studies on the development of diagnostic procedures although in Brazil early diagnosis still represents a challenge for professionals involved in the field. Autism is classified as a pervasive developmental disorder involving difficulties in social and communication skills people with autism have delays in their development in general and show repetitive behaviors and stereotyped limited. This case study was followed for one year two children from 3 years in the diagnostic process which were served in early education program of the Education Department of the DF. Interviews were conducted with mothers and teachers, and several observations of care. The results indicated that the suspected diagnosis raised by school staff were correct because during the period in which this work was carried out and were able to make the diagnosis with a medical team. Some questions arose over this diagnosis because it was perceived a common complaint in the two families both at no time felt participants of the process and not inform what tools were used by the pros to get that diagnosis. Follow the two families allowed for an understanding of how this diagnostic process happens in the public health of the Federal District showing mainly the complaints of the families who depended this system. Keywords: Autism. Diagnosis. Proposals Psychoeducational. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………………....8 2 REFERENCIAL TEÓRICO……………………………………………………….10 2.1 TRANSTORNOS INVASIVOS DO COMPORTAMENTO............................10 2.2 O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA.............................................11 2.2.1 A teoria afetiva........................................................................................12 2.2.2 A teoria cognitiva...................................................................................13 2.2.3 Isolamento autístico..............................................................................15 2.2.4 Condutas motoras.................................................................................15 2.2.5 Linguagem e habilidades verbais........................................................16 2.2.6 Alterações afetivas................................................................................16 2.3 PROCESSO DE DIAGNÓSTICO...............................................................17 2.3.1 Papel do psicólogo no processo de diagnóstico...............................18 3 PROPOSTAS DE INTERVENÇÕES.............................................................20 3.1 INTERVENÇÕES PSICOEDUCACIONAIS................................................20 3.2 TERAPIA AUXILIADA PELO ANIMAL........................................................21 4 OBJETIVOS...................................................................................................25 4.1 OBJETIVO GERAL.....................................................................................25 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.......................................................................25 5 METODOLOGIA............................................................................................26 5.1 RECURSOS METODOLÓGICOS...............................................................26 5.2 PARTICIPANTES........................................................................................26 5.3 INSTRUMENTOS........................................................................................28 5.4 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS..............................................29 5.5 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DE DADOS........................................29 6 RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................30 6.1 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA............................................................30 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................37 REFERÊNCIAS.................................................................................................39 ANEXOS............................................................................................................42 10 1. INTRODUÇÃO No presente trabalho foram acompanhadas experiências terapêuticas de crianças com suspeita do diagnóstico de autismo, além de observar o papel do psicólogo frente ao processo de diagnóstico, que segundo a literatura deve basear-se em um trabalho multidisciplinar, nas áreas de atendimento. Durante a realização de pesquisas bibliográficas para a elaboração deste trabalaho, foi percebido que no meio acadêmico já existem estudos sobre o desenvolvimento de processos de diagnóstico, embora no Brasil, a precocidade no diagnóstico ainda se configura um desafio aos profissionais envolvidos na área. A incidência de casos de autismo tem crescido de forma significativa em todo o mundo, especialmente durante as últimas décadas (BARBARESI; KATUSIC; VOIGT, 2006). Desse modo, profissionais da saúde, educação e áreas que tenham a infância como principal especialidade, devem estar cada vez mais preparados para encontrar casos de autismo nas suas práticas. Entretanto, ainda hoje existe uma grande barreira em termos de conhecimento e capacitação profissional em relação às práticas diagnósticas e à implementação de programas de intervenção. Apesar de ter havido enormes avanços nessas últimas décadas em relação à identificação precoce e ao diagnóstico de autismo, como estudos e técnicas auxiliares, muitas crianças, especialmente no Brasil, ainda continuam por muitos anos sem um diagnóstico ou com diagnósticos inadequados. Para compreendermos melhor esse mundo que afeta inúmeras crianças por todo mundo, devemos compreender primeiro algumas caracteristicas que compõe cada fase da infância. A primeira infância, como a fase que compreende o nascimento até os três anos. O recém-nascido é dependente, porém competente. Todos os sentidos estão ativados desde o nascimento. O crescimento físico e o desenvolvimento das habilidades motoras são rápidos. Quanto à compreensão e à fala, também desenvolvem-se rapidamente. A segunda infância é o período que compreende dos três aos seis anos, a força e as habilidades motoras 11 simples e complexas predominantemente aumentam egocêntrico, gradativamente, a criatividade e o a comportamento imaginação é são caracteristicas bastante presentes durante as brincadeiras. Outra característica fundamental nessa fase é o início de idependência da criança para exercer algumas atividades. A terceira infância corresponde ao período de seis a doze anos. Nessa fase, o crescimento físico e o egocentrismo diminuem, enquanto a memória e as habilidades de linguagem aumentam. A auto-imagem desenvolve-se, afetando a auto-estima, e os amigos assumem importância fundamental nas atividades diárias da criança (PAPAIA, 2000). Conhecido essa proposta de desenvolvimento da criança, é possível, então, observar quando ocorre um desvio. É nos primeiros anos de vida que os transtornos invasivos do desenvolvimento se manifestam, como o autismo, transtornos esses freqüentemente associados a algum grau de deficiencia intelectual (ELLIS, 1996). 12 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 TRANSTORNOS INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO Os transtornos invasivos do Desenvolvimento, classificados no Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV, 2002), caracterizam-se por prejuízo severo e invasivo em diversas áreas do desenvolvimento: habilidades de interação social recíproca, de comunicação e atividades estereotipadas. Em geral, os transtornos incidem sobre múltiplas áreas do desenvolvimento, aparecem precocemente e provocam disfunção persistente, incluindo os seguintes transtornos na categoria de transtornos invasivos do desenvolvimento: Autismo Infantil, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância e transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação. (PLOULLER, apud GAUDERER, 1997). A definição atual do autismo, tanto na 10ª revisão da Classificação Internacional das Doenças Mentais, quanto no Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Americana de Psiquiatria (DSM, 1995), se refere a um transtorno de desenvolvimento complexo, caracterizado por prejuízos em três esferas do comportamento: interação social, comunicação e padrões de interesses e comportamentos repetitivos e estereotipados como já relatado acima. As anormalidades no funcionamento em cada uma dessas esferas devem estar presentes em torno dos três anos de idade. As manifestações clínicas variam amplamente em termos de níveis de gravidade. O diagnóstico de transtorno autístico requer pelo menos seis critérios comportamentais, um de cada uma das esferas de comportamento alterado. Em função da complexidade em se diagnosticar o autismo ou Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) a Dra. Lorna Wing apresentou o conceito da tríade de Lorna Winga, um estudo clássico de Wing (1993), com crianças autistas inglesas, na década de 1970, que lhe permitiu concluir que todas as crianças 13 com diagnóstico de autismo apresentam uma tríade com características específicas: por envolver transtornos da interação social; da comunicação e da função simbólica. O uso da expressão espectro do autismo, criada por Wing (1985) em substituição ao termo autismo, deve-se à constatação da existência de amplas variações entre as condições dos portadores do transtorno revelando, segundo Marques (2000), variada caracterização: • Maior ou menor gravidade do transtorno; • Associação com outras alterações (comorbidade); • Diversidade de comportamentos, sinais ou sintomas; • Competências comunicativas, cognitivas e interpessoais diferenciadas; • Variação de condições pessoais em relação ao mesmo transtorno. Segundo o CID, encontramos o Autismo classificado como F84.0, fazendo parte de uma outra série de patologias também classificadas com as inicias F84, que aglomeram os TGD, patologias essas como: Síndrome de Rett (F84.2), Transtorno desintegrativo da Infância (F84.3), Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados (F84.4), Síndrome de Asperger (F84.5), Outros transtornos globais do desenvolvimento (F84.8), Transtornos globais não especificados do desenvolvimento (F84.9). Pelas caracteristicas semelhantes entre o Autismo e a Síndrome de Aspeger, entenderemos nesse trabalho os dois como sinônimos. 2.2 O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Atualmente o autismo é classificado como transtorno invasivo do desenvolvimento, comunicativas, envolvendo pessoas com dificuldades autismo nas habilidades apresentam atraso sociais em e seu desenvolvimento desde a infância, também como comportamentos repetitivos e limitados. Uma proposta de alteração dos critérios do DSM V sugere que para se diagnosticar autismo, estejam presentes as seguintes características: 14 Déficits na comunicação social e na interação social: déficit na comunicação não verbal e verbal utilizada para a interação social, falta de reciprocidade social, incapacidade de desenvolver e manter relacionamentos com seus pares apropriados ao seu nível de desenvolvimento. Padrões restritos e repetitivos de comportamento: estereotipias ou comportamentos verbais estereotipados ou comportamento sensorial incomum, aderência a rotinas e padrões de comportamentos ritualizados, interesses restritos.Os sintomas devem estar presentes na primeira infância, mas podem não se manifestar plenamente, até que as demandas sociais ultrapassem as capacidades limitadas. (DORNELLES, 2013) Segundo Bosa (2006), a grande maioria dos pais ou cuidadores das crianças percebem alguma alteração em seu comportamento antes dos 36 meses de vida, o que a autora classifica como sendo muito benéfica, pois quanto mais cedo o autismo for diagnosticado e a criança for submetida a tratamentos especificos, mais chances de uma vida independente a criança terá. Segundo Baron-Cohen (1991), a idade média de diagnóstico é de aproximadamente três anos, embora o autor sugira que o diagnóstico já possa ser bem estabelecido em torno de 18 meses de idade. Kanner (1943), garante que o Autismo por suas caracteristicas síngulares, tornou-se um dos trantornos mais estudados e debatidos no meio médico. O autor denominou de Distúrbios Autísticos Inatos do Contato Afetivo, e tornou-se um dos pioneiros a identificar entre indivíduos com retardo mental e distúrbios do comportamento, alguns que se diferenciavam dos demais por comportamentos muito peculiares, separando na época principalmente do grupo de esquezofrenia, considerando, porém, que tudo não passava do que ele classificava como “psicose”. Ritvo (1976), passou a considerar as descobertas de Kanner como uma síndrome, relacionando-o com um déficit cognitivo e considerando-o não como uma psicose e sim como um distúrbio do desenvolvimento. Segundo o autor, a referencia histórica de Kanner faz da síndrome autística uma maneira mais ou menos específica de estar no mundo e aí formar relações atípicas. Gillberg 15 (1990), não considera a visão do autismo como um dos maiores mistérios e desafios da psiquiatria contemporânea, mas sim uma síndrome comportamental definida, com etiologias orgânicas também definidas. Sobre esses conceitos é que são construídos diagnósticos diferenciados, bem como aspectos terapêuticos desse transtorno, da maneira como encaramos nos dias de hoje. 2.2.1 A teoria afetiva Originalmente proposta por Kanner (1943), a teoria afetiva é uma das principais propostas de compreensão quando nos referimos ao autismo. Teóricos que seguiram a linha de compreensão proposta pelo autor, sugerem quatro caracterisitcas centrais para o diagnóstivo de “Distúrbios Autísticos” como define Hobson (1990): • Crianças autísticas têm falhas constitucionais de componentes de ação e reação necessários para o desenvolvimento das relações pessoais com outras pessoas, as quais envolvem afeto. • As relações pessoais são necessárias para a continuação do mundo póprio e com os outros. • resultados Os déficites das crianças autistas na experiência social têm dois especialmente importantes: Primeiro é déficit relativo no conhecimento de outras pessoas como portadoras de sentimentos próprios, pensamentos, desejos, intenções; o segundo seria ao déficit grave na capacidade para abstrair, sentir e pensar simbolicamente. • Grande parte das inabilidades de cognição e linguagem das crianças autistas pode refletir déficit que tem íntima relação com o desenvolvimento afeivo e sociais dependentes da incapacidade de simbolização. A teoria afetiva considera que faltariam as crianças autistas fatores constitucionais para que desenvolvessem o que Hobson (1997), define como “recipocidade afetiva”, fundamentais apara a constituição de um mundo próprio, observando-se, em decorrência, a alteração na experiência intersubjetiva e os prejuízos significativos em sua capacidade simbólica (Idem). 16 2.2.2 A teoria cognitiva Em contrapartida a teoria afetiva proposta por Kranner (1943) e reelaborda por Hobson, Baron-Cohen (1991), propõem uma teoria cognitiva para o autismo. Tendo como base essa teoria tambem consideram como ponto central que a principal dificuldade da criança autista é a impossibilidade que possui para compreender “estados mentais” de outras pessoas. Esssa teoria é chamada de teoria da mente, porque envolve o conceito da existência de estados mentais que são utilizados para explicar ou prever o comportamento de outras pessoas (FRITH,1988). A teoria cognitiva sugere que no autismo a capacidade de metarepresentação encontra-se alterada, fazendo com que assim os padrões de interação social sejam modificados. Segundo Baron-Cohen (1991), serão apresentados algumas caracateristicas presentes em crianças autistas, segundo a teoria cognitiva: • O autismo é causado por déficit cognitivo central; • Um desses déficits é referente a capacidade de meta- representação. • Essa meta-representação é requerida nos padrões sociais que envolvem a necessidade de atribuir estados mentais aos outros. Assim, padrões que não requerem essa capacidade meta-representacional (como por exemplo o reconhecimento de gênero, permanência do objeto ou auto-reconhecimento no espelho) podem estar intactos no autismo; • A capacidade meta-representacional é obrigatória em padrões simbólicos; • Os padrões pragmáticos também requerem a presença dessa meta-representação, razão pela qual se encontram alterados no autismo. Segundo Baron-Cohen (1991), essa teoria acredita na dificuldade desses indivíduos em perceber crenças, intenções, emoções, e conceitos de outras pessoas, elaborando estados mentais a respeito delas. Paralelamente se sugere 17 um déficit em suas funções executivas que lhe dificultariam em relação a sua flexibilidade mental, a atenção dirigida, o planejamento estratégico e o raciocínio. Seguindo a teoria proposta pelo mesmo autor, podemos considerar que a síndrome autística é uma entidade clínica com características razoavelmente definidas, principalmente quando falamos no âmbito cognitivo, o que nos possibilita a avaliação da dinâmica familiar dos pais ou cuidaores, visto que a educação e o processo de socialização cabem à família, independente do processo de habilitação e tratamento (1991). Como já foi visto, durante a pesquisa bibliográfica para elaboração desse trabalho, foram encontradas inúmeras teorias para explicar o surgimento e principais causas comportamentais do que autismo. tentam Por um lado encontramos explicar os sintomas teorias comportamentais caracteristicos desse transtorno, sob outra perspectiva, encontramos as teorias neurológicas e fisiólogicas, que nos fornecem informações sobre uma possível base neurológica. Embora sejam teorias que invistam em áreas tão diversificadas, mas do que conflitos, elas promovem uma completariedade, possibilitando então um diagnóstico mais completo. Para uma melhor compreensão dos principais aspectos comportamentais caracteristicos do autismo, Camargo (2005), nos apresenta um manual apresentando algumas dessas caracteristicas. 2.2.3 Isolamento autístico As crianças autistas apresentam, desde seus primeiros anos de vida, uma incapacidade acentuada de desenvolver relações pessoais, sendo já observada com a figura materna. Ajuriaguerra e Marcelli (1991), nos chamam atenção que os principais marcos do despertar psicomotor do primeir ano de vida estão modificados: ausência de sorriso social (terceiro mês) e ausência de reação de angústia diante do estranho (oitavo mês). A criança pode ser indiferente aos 18 outros, ignorando-os e não reagindo à afeição e ao contato físico. (CAMARGOS, 2005) 2.2.4 Condutas motoras Grande parte dos autistas tem uma motricidade perturbada pela manifestação intermitente ou contínua de movimentos repetitivos e complexos (estereotipias). Os mais típicos envolvem as mãos e os braços, mexendo-os frente aos olhos ou batendo palmas no mesmo ritmo. Balanceio do corpo inteiro, além de bater a cabeça repetidamente, também são condutas observadas. Quanto ao aspecto da instabilidade, geralmente observa-se um perpétuo estado de agitação, no qual a criança sobe nas mesas e outros móveis sem temor ou noção de risco, assim como, em outros casos, pode se notar uma inibição motora, às vezes acompanhada de uma inabilidade gestual, comportamentos automutiladores, como arrancar os cabelos, bater-se ou morder-se, são freqüentes, e está relacionado a uma maior gravidade dos casos (CAMARGOS, 2005). 2.2.5 Linguagem e habilidades verbais Habilidades linguísticas estão prejudicadas na criança autista, a grande maioria não apresentam a imitação social tão importante para o desenvolvimento da linguagem, que se manifesta na reprodução de gestos como dar “tchau”, jogar beijinhos e não imitar os pais nos afazeres domésticos. Em todos os casos, o elemento significativo continua sendo que a linguagem não tem uma verdadeira função de comunicação com o outro. Um aspecto é característico, quando querem atingir um objeto, os autistas pegam a mão ou o punho de um adulto (CAMARGOS, 2005). . 19 2.2.6 Alterações afetivas O humor dos autistas é imprevisível e pode se alterar de um instante para outro, passando do riso incontrolável, e aparentemente sem razão, aos choros inexplicáveis. As emoções entram, freqüentemente, em contradição com a situação. Intolerância às frustrações e automutilações são reações freqüentes. A angústia é massiva, acarretando uma ruptura na continuidade psíquica da criança, que provavelmente experimenta, então, uma vivência de rompimento ou de aniquilação (CAMARGOS, 2005). . 2.3 PROCESSO DE DIAGNÓSTICO O autismo infantil apresenta grandes dificuldades no diagnóstico, uma vez que engloba, dentro dos conceitos atuais, várias doenças com diferentes quadros clínicos que têm como fator comum o sintoma autístico. Segundo Gillberg (1990, apud Schwartzman, 1995), o autismo é considerado uma síndrome comportamental, com etiologias e curso de um distúrbio de desenvolvimento, caracterizado por um déficit social visualizado pela inabilidade em relacionar-se com o outro, usualmente combinado com déficit de linguagem e alterações de comportamento. O diagnóstico do autismo infantil, baseado no DSM-IV (1995), é caracterizado por um comprometimento acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais, tais como: contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos para regular a interação social e acentuado fracasso em desenvolver habilidades apropriadas ao seu nível de desenvolvimento. Existe uma falta de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas, e não há reciprocidade social ou emocional. O comprometimento qualitativo na comunicação é acentuado pelo atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem falada. Nos casos em que a 20 fala é adequada, existe um acentuado comprometimento da capacidade de iniciar ou manter uma conversação, é comum o uso estereotipado e repetitivo da linguagem (SOUSA, 2004). O uso de questionários de triagem oferece o melhor método para identificação precoce de crianças com autismo. Vários instrumentos têm sido utilizados para identificação de autismo, dentre eles: o Childhood Autism Rating Scale (CARS); o Social Communication Questionnaire (SCQ); o Screening Tool for Autism in Two Years Old (STAT); o Developmental Behaviour Checklist (DBC); o Checklist for Autism in Toddlers (CHAT); e o Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT). Uma das escalas de avaliação mais usadas é a CARS, que consiste em uma entrevista estruturada de 15 itens com os pais ou responsáveis de uma criança autista maior de 2 anos de idade. A escala é composta de 40 questões e diferencia autismo de retardo mental em maiores de 4 anos. A STAT é uma avaliação interativa de crianças entre 24 e 35 meses de idade, administrada por um médico treinado. A DBC é uma escala de 96 itens, com objetivo de avaliar problemas emocionais e comportamentais em crianças com idade entre 4 e 18 anos, com déficit intelectual. A CHAT foi desenvolvida para identificar crianças com risco de autismo aos 18 meses de idade. Um estudo de 6 anos realizado no Reino Unido com mais de 16.000 crianças rastreadas com o CHAT aos 18 meses de idade demonstrou sensibilidade de apenas 0,40 e especificidade de 0,98, com valor preditivo positivo de 0,26. O M-CHAT é uma escala de rastreamento que pode ser utilizada em todas as crianças durante visitas pediátricas, com objetivo de identificar traços de autismo em crianças de idade precoce. Os instrumentos de rastreio são úteis para avaliar pessoas que estão aparentemente bem, mas que apresentam alguma doença ou fator de risco para doença, diferentemente daquelas que não apresentam sintomas. A M-CHAT é extremamente simples e não precisa ser administrada por médicos. A resposta aos itens da escala leva em conta as observações dos pais com relação ao comportamento da criança, dura apenas alguns minutos para ser preenchida, 21 não depende de agendamento prévio, é de baixo custo e não causa desconforto aos pacientes. Essa escala é uma extensão da CHAT. Consiste em 23 questões do tipo sim/não, que deve ser autopreenchida por pais de crianças de 18 a 24 meses de idade, que sejam ao menos alfabetizados e estejam acompanhando o filho em consulta pediátrica (LASAPIO, 2011) 2.3.1 Papel do psicólogo no processo de diagnóstico Como já discutido, para a realização de um diagnóstico completo de autismo, inúmeros profissionais de diferentes áreas devem estar envolvidos, entre eles, profissionais em psicologia. Segundo Sousa (2004), o psicólogo, com sua formação específica e bem definida, deve estar inserido nesse contexto, sendo também um conhecedor do desenvolvimento humano normal para ter condições de detectar as áreas defasadas e comprometidas. Ele precisa estar muito sensível às observações e relatos da família. É fundamental que o psicólogo esteja atualizado com os trabalhos e pesquisas recentes relativos à sua especificidade para orientar a família. A sua sensibilidade diante da criança e do nível de comprometimento desta é importante para que ele saiba adequar propostas terapêuticas que realmente a beneficiem (ELLIS, 1996). Segundo o mesmo autor, o psicólogo pode influir em vários níveis e desenvolver vários papéis, tais como, investigador e pesquisador, em uma equipe diagnóstica e de avaliação, psicoterapeuta, em uma abordagem individual, psicoterapeuta em uma abordagem institucional, consultor institucional e orientador familiar. De acordo com Windholz (apud SCHWARTZMAN, 1995), nos últimos 30 anos, vários tratamentos foram baseados em orientações teóricas diversas e de níveis de abrangência diferentes (terapias individual, psicanalítica, orientação cognitiva e outras). Esses tratamentos foram aplicados na tentativa de ajudar a pessoa com autismo a adquirir um repertório mais funcional, diminuindo, assim, os vários distúrbios de conduta. Para Windholz (Idem), atualmente, a terapia comportamental é considerada a mais bem desenvolvida, confiável e eficaz no 22 atendimento da pessoa com autismo. Ornitz (apud Gauderer, 1997) diz que a melhor intervenção é uma abordagem flexível, adaptável às mudanças que ocorrem no nível de desenvolvimento (SOUSA, 2004). 3. PROPOSTAS DE INTERVENÇÕES 3.1 INTERVENÇÕES PSICOEDUCACIONAIS Bosa (2006), afirma que o planejamento do tratamento deve ser estruturado de acordo com as etapas de vida do paciente. Com crianças autistas os autores afirmam que as prioridades de tratamento devem ser atividades que estimulam a fala, da interação social-linguagem e suporte familiar. Com adolescentes, os alvos seriam os grupos de habilidades sociais, terapia ocupacional e sexualidade. Com adultos, questões como as opções de moradia e tutela deveriam ser focadas. Existe hoje em dia uma grande discussão sobre qual seria a melhor estratégia para oferecer um tratamento para uma criança autista, questiona-se se o melhor seria um atendimento com uma abordagem individual, realizada por profissionais com treinamento específico em determinadas áreas, ou aqueles com uma abordagem multidisciplinar. O que não se questiona é que o profissional que irá trabalhar com uma criança autista precisa ter um treinamento e um conhecimento específico sobre o autismo, e se o tratamento envolver mais profissionais, esse trabalho necessita que haja um consenso e uma boa 23 comunicação entre esses profissionais envolvidos, pois segundo Bosa (Idem), uma das situações mais estressantes para os pais, ao lidarem com os profissionais, é a controvérsia que envolve o processo de atendimento. A autora estabelece quatro requisitos mínimos para um atendimento psicoeducacional com crianças autistas, que são: • Estimular o desenvolvimento social e comunicativo: Crianças com autismo, podem apresentar inúmeras dificuldades em sua habilidade de comunicação verbal e podem requerer alguma forma de comunicação alternativa. A escolha apropriada do sistema depende das habilidades da criança e do grau de comprometimento. Como o desenvolvimento de sistemas de sinais e cartões de comunicação, que são os mais utilizados nos dias atuais. • Aprimorando o aprendizado e a capacidade de solucionar problemas: O que mais é destacado em relação ao aprimoramento do aprendizado em relaçao a crianças autistas, demonstram a importância da organização do ambiente, do uso de pistas visuais e o trabalho com base nas habilidades prévias da criança, em vez de focar na tentativa de superar os principais déficits do autismo. • Diminuindo comportamentos que interferem no aprendizado e no acesso às oportunidades para experiências do cotidiano: Alguns estudos demonstraram que os comportamentos desafiadores têm funções comunicativas importantes, que são: indicar a necessidade de auxílio ou atenção; escapar de situações ou atividades que causam sofrimento; obter objetos desejados; protestar contra eventos ou atividades não-desejados. • Ajudando famílias a lidar com o autismo: Bosa (Ibidem) chamou a atenção para a importância de aconselhar os pais sobre as vantagens e desvantagens relativas a diferentes tratamentos. Ainda que seja importante não parecer tão pessimista, existe também a necessidade de demonstrar que os tratamentos diferem em seus fundamentos e que avaliações sistemáticas ainda têm que ser demonstradas para a maioria deles. 24 3.2 TERAPIA AUXILIADA PELO ANIMAL As possibilidades de intervenção com a participação de animais abrem para os profissionais de saúde e da educação a perspectiva do uso de recursos terapêuticos auxiliares (ALTHAUSEN, 2006). A utilização dos animais para promover um benefício para o ser humano torna-se, uma oportunidade excelente para o progresso da ciência, proporcionando mais pesquisas que visam apreender o potencial, ainda não imaginado ou percebido nesta relação e, espaços terapêuticos possíveis. Sempre no acolhimento às pessoas necessitadas, para despertá-las para uma interação mais favorável com o mundo, e melhorando, assim, sua vida (CAETANO, 2010). Conforme Latzman (2004), na Atividade Assistida por Animais (AAA) não há um acompanhamento médico periódico nas visitas, e estas são realizadas com os animais semanalmente a fim de promover a distração, recreação e o bem-estar dos pacientes por meio do contato dos animais com essas pessoas. Já a Terapia Assistida por Animais (TAA) exige que haja um acompanhamento de profissionais da área da saúde como fisioterapeutas, psicólogos e médicos dentre outros, que utilizam os animais como parte de um tratamento. O mesmo autor ainda fala que no caso, a TAA é direcionada para promover a saúde física, social, emocional e/ou de funções cognitivas. Além dos profissionais da saúde humana é necessário que haja o acompanhamento de um médico veterinário para fazer uma avaliação do comportamento e da saúde dos animais que participam das atividades (ABREU, 2008). Leal e Natalie (2007) consideram que as intervenções que utilizam a participação de animais como a AAA e a TAA possuem objetivos diretos de promover atividades que contribuam para a saúde e o bem-estar dos indivíduos, tanto com função motivacional, educacional, lúdica ou terapêutica, assim como o de melhorar o funcionamento físico, social, emocional e cognitivo. Conforme Chagas (2009), nessas terapias são utilizados todos os tipos de animais que possam entrar em contato com o homem sem causar perigo. Entre os escolhidos com mais frequência pelos profissionais envolvidos nos 25 tratamento estão o gato, o coelho, a tartaruga, o pássaro, peixes diversos, o cão, o cavalo e inclusive animais exóticos como iguana e camaleão, ou diferenciados como a chinchila, a cobaia, o hamster. Dos mais utilizados entre eles é o cão, assim como o cavalo, em terapias denominadas de Cinoterapia e Equoterapia Dotti (2005, p. 80) assinala que os animais podem auxiliar em programas como a AAA/TAA porque têm a oferecer uma série de requisitos às pessoas, tais como: • Ligação com a natureza; • Oportunidade para desenvolvimento de sentimentos positivos; • Senso de responsabilidade; • Reforço da auto-estima e segurança emocional; • Socialização; • Contato - troca de afeto, que dá intimidade, essencial na Terapia; • Amor incondicional, sem julgamentos; • Prazer em rir e brincar com o animal; • Sensação de conforto e bem-estar; • Estímulo mental, físico e emocional; • Lembranças de memórias passadas. Oliveira (2007), considera que a inserção do animal na AAA e na TAA efetiva importantes contribuições para o estudo da recuperação do homem diante dos males da saúde e do comportamento, e é diretamente responsável, com a melhoria terapêutica e de qualdiade de vida das pessoas, pelo objetivo maior das organizações, que é a prática de contribuir com o bem ao ser humano. Para Chagas (2009), a utilização de animais promove nos pacientes, nos indivíduos que deste processo usufruem, experiências que possibilitam a reorganização do comportamento ocupacional das pessoas, por exemplo, de busca de forças para recuperarem-se ante os males que os afligem e assim “conseguirem alcançar os máximos níveis possíveis de saúde e bem estar”. O cão é o animal mais utilizado na AAA/TAA, pois é facilmente adestrado, sendo suas espécies sociáveis e que buscam interagir espontaneamente; os 26 cães criam respostas positivas ao toque e as pessoas tendem a criar laços afetivos a eles com facilidade, sendo difícil a não aceitação, por parte das pessoas, deste contato com os animais, pois esta afeição aproxima as pessoas dos animais e o processo funciona como um elo entre pessoa e animal. Conforme Oliveira (2007), os benefícios com a cinoterapia, para as crianças, principalmente, quando doentes, são enormes: A cinoterapia é benéfica para crianças que apresentam problemas psicológicos, sociais e pedagógicos. Nesses casos, as crianças sentem-se mais a vontade para relatar suas experiências ao cão, pois elas percebem que o animal é um ser não-crítico e não-julgador. Um médico, Levinson, acidentalmente deixou seu próprio cão, Jingles, sozinho em um quarto com uma criança reservada, quando retornou, percebeu a criança engajada em uma intensa conversa com o cão. Ele determinou que animais poderiam ser úteis durante o processo de avaliação com crianças. Embora haja testes para medir traços de personalidade, QI, e habilidades diversas, é difícil verificar através desses testes psicológicos como uma criança irá interagir com outros. Mesmo se um adulto, como um dos pais, está no recinto durante a avaliação da criança, a criança pode ser induzida a agir de uma maneira diferente, atípica. Tendo um animal presente durante a avaliação poderia permitir ao terapeuta apreciar o comportamento da criança. De certa forma, o terapeuta poderia observar a criança se expondo mais (Idem, p. 25). Para Moreno (2009), a criança observa as ações do terapeuta, daqueles que estão lhe prestando assistência médica e social, a forma com que estas pessoas tratam o animal, e sente que vai ser tratada da mesma forma, com carinho, com atenção, com gentileza, e começa a reagir favoravelmente ao tratamento. 27 4. OBJETIVOS 4.1 OBJETIVO GERAL • Acompanhar o processo diagnóstico de duas crianças de 03 anos de idade e verificar como se dá esse processo. 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Promover uma reflexão sobre o papel do psicólogo durante o processo de diagnóstico de uma criança autista. • Visto que se tratam de crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social devido a pobreza e que são atendidas na rede educacional e de saúde pública do Distrito Federal. 28 5. METODOLOGIA 5.1 RECURSOS METODOLÓGICOS O presente trabalho faz parte de um projeto de conclusão de curso, onde procura-se destacar o papel do psicólogo no processo de diagnóstico de autismo, analisando o processo diagnóstico de duas crianças com suspeita de autismo. Para que os objetivos pudessem ser atingidos, o método utilizado foi a pesquisa-ação, visto ser voltada para a descrição de situações concretas e intervenção ou ação orientada para resolução de problemas coletivos, no qual pesquisadores e participantes estão envolvidos Thiollent (1992). Essa escolha metodológica assemelha-se ao que Creswell (2007) definiu como “etnografia”. De acordo com essa autor, esta refere-se a uma estratégia de investigação na qual o pesquisador estuda um grupo cultural intacto em um cenário natural durante um período de tempo prolongado, coletando principalmente dados observacionais e de entrevistas. Esta metodologia divide-se em três fases: Fase I: elaboração do diagnóstico da situação; Fase II: proposta de intervenção e implantação; Fase III: avaliação. O presente projeto de pesquisa, focará principalmente no processo de diagnóstico e avaliação de como esse diagnóstico foi elaborado. Este recorte diz respeito à avaliação das crianças atendidas e seus cuidadores, atendidos pelo Centro de Ensino Infantil da rede pública de ensino do Distrito Federal. 29 5.2 PARTICIPANTES Serão participantes da pesquisa duas crianças atendidas em uma intituição de ensino pública em Brasília, além de seus cuidadores. Todas residentes no Distrito Federal e entorno. Chamaremos o primeiro participante de A.F.Q. Ele é filho da primeira gestação da mãe de 28 anos. Gravidez normal sem complicações na gestação. Casados a 06 anos, não usuária de droga, cigarro ou álcool. Criança nasceu de parto normal, sem sofrimento com peso de 3kg e 400gr, 48,5 cm., PC 34 cm, Apgar 9/10. Amamentou até seis meses, pegou bem no seio. Depois de seis meses foi introduzida a alimentação, não pegou mamadeira e nem chupeta. Segundo relatos da mãe criança com boa imunidade. Come de tudo, porém não gosta de mastigar, a mãe dava comida pastosa ou amassada para evitar engasgos. Ainda não se alimenta sozinha, necessita de auxílio para segurar os talheres e leva-los até a boca. Dorme bem. Tem bruxismo. Sorriu com 3 meses, firmou o pescoço com 6 meses, rolou com 7 meses, segurou objetos com 5 meses, com 6 meses sentou com apoio e com 9 já sentava sem apoio, engatinhou com 11 meses, não arrastou, com um ano começou a dar os primeiros passos, com um ano e um mês começou a andar sem apoio. Até o momento não apresenta controle dos esfíncteres, utiliza fralda diurna e noturna. Balbuciou com 8 meses, emitiu fonemas com 1 ano e 3 meses e falou as seguintes palavras: águ, papa(papai). Iniciou a fala, mas depois parou completamente por volta de um ano e oito meses. Agora no 2º semestre de 2013 retornou a balbuciar algumas palavras. Não estranha pessoas desconhecidas, não gosta de colo e tem pouco contato com outras crianças. O convívio social é com adultos, pouca interação com crianças e pouca manifestação de alegria em situações cotidianas. Não gosta de brincar. Se irrita em ambientes barulhentos e tapa os ouvidos para não escutar. O segundo participante chamaremos de V.V.I, Sra tem 41 anos e relacionamento estável há 12 anos, dois filhos, o mais velho com 12 anos e V. com 4 anos e 1 mês. Foi encaminhado ao Programa de Educação Precoce com 30 diagnóstico de Atraso de Desenvolvimento NeuroPsicomotor – ADNPM. Na gestação foi identificada anemia, e a mãe fez uso de medicamentos. Não enjôo, não fez uso de cigarros e nem de bebidas alcóolicas. V. nasceu no HRPA de 40 semanas, cesário, chorou, peso 2815gr, PC 34,5cm, com Apgar 8/9. Amamentou no seio materno sem dificuldades. Atualmente se alimenta bem e necessita de ajuda de adulto. A sua autonomia e independência em relação à alimentação e aos cuidados pessoais ainda estão em desenvolvimento. Dorme bem a noite e faz uso da chupeta. Apresentou ao longo do seu desenvolvimento nervosismo e comportamento de bater a cabeça na parede quando contrariado e nervoso. Apresentou, também, comportamentos estereotipados com a cabeça e as mãos. Importante ressaltar que a mãe apresenta quadro de deficiência intelectual apresentando dificuldade na compreensão de comandos e interrogatórios clínicos. Afirma que V. se parece muito com ela quando era criança, diz que demorou a andar e a falar, não identificando problemática no desenvolvimento do filho. Todas as informações acima foram coletadas através de uma entrevista de anamnese com as mães das crianças, realizada pelos professores responsáveis. 5.3 INSTRUMENTOS Foram utilizados para a coleta de dados dos seguintes instrumentos: • Entrevista Semiestruturada com os responsáveis e professores; • Material de avaliação da Criança; (Histórico de avaliaçoes dos professores) • Verificação dos Inventários e Questionários utilizados pela equipe médica para conclusão do diagnóstico. • Conversas com os cuidadores: Após cada sessão de observação será discutido com o cuidador, suas impressões acerca de aquisições de habilidades ou mudanças de comportamento no repertório da criança durante o dia-a-dia. 31 5.4 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS Em relação aos procedimentos para a coleta de dados, o projeto de pesquisa foi divulgado para os cuidadores das crianças autistas, devidamente matriculados em um Centro de Ensino Infantil, numa cidade satélite do Distrito Federal, bem como também para toda a equipe da escola. Os cuidadores foram convidados a colaborar com a pesquisa, de forma voluntária. Aqueles que aceitaram participar com a pesquisa, foram esclarecidos sobre os objetivos e metodologia do estudo por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Em seguida, foram aplicados os instrumentos supracitados. Ao longo do trabalho foi possível observar as interacoes das criancas com seus professores, assim como com outras da escola, essas oportunidades foram de bastante importância para a compreensao de alguns comportamentos estudados, como para que fosse possível comportamentos anteriores relatados pelas mães uma comparação com e que estavam sendo trabalhados. Entrevistas após os atendimentos com os professores foram de fundamental importância, pois assim era possível elaborar estratégias de intervenção para os atendimentos seguintes. 32 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES 6.1 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA 6.1.2 SUJEITO A.F.Q Após um longo período de avaliaçao e observacão de A.F.Q, a equipe composta por psicólogos e pedagogos chegou as seguintes conclusões em relação às duas crianças já citadas. A.F.Q iniciou atividades no Programa de Educação Precoce em maio de 2012 (17/05/2012), na época com 2 anos e 2 meses. Apresentava suspeita diagnóstica de Síndrome de Asperg. Em julho de 2013 a criança, com 3 anos e 6 meses, foi diagnosticada, pela neurologista, com Transtorno do Espectro Autista, com alteração comportamental grave e atraso da fala – CID F84.0. As crianças com diagnóstico de TGD/autismo apresentam uma tríade com características específicas que envolvem: a) transtornos da interação social; b) transtornos da comunicação e ; c) transtornos da função simbólica. As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo. Em relação ao desenvolvimento de A.F.Q podemos afirmar que houve progresso na sua aprendizagem, porém marcados por características autísticas próprias: • Dificuldade de relacionamento com outras crianças. Os atendimentos foram realizados individualmente, embora durante as atividades fosse possível contato com outras crianças, Arthur não demonstrou interesse em estabelecer contato com outras crianças. • Apresenta pouco contato visual com professores e familiares; . Aceita o toque, porém não fixa o olhar, não aceita os comandos dos professores; • Aparente insensibilidade à dor; • Preferência pela solidão; modos arredios. Não gosta de ficar em ambientes fechados. 33 • Rotação de objetos. Apresenta apego grande por CDs e adora ser girado no colo. • Inapropriada fixação em objetos. Fixação no seu próprio carrinho de locomoção apresentando muita irritação (choro constante) ao ficar longe do seu carrinho. Gosto por placas de sinalização. • Ausência de resposta aos métodos normais de ensino. Atenção em objetos com três dimensões. Gosto por vídeos, revistas e palavras com desig atrativo. Criança inteligente, com boa memória espacial, sabe se localizar e se locomover na escola. Gosta de música e de assistir letrinhas de final de filme em vídeos. • Não tem real medo do perigo, subindo em superfícies e objetos; • Age como se estivesse surdo. Corre sem direção com movimentos desordenados de mãos. • Dificuldade em expressar necessidades – ele segura na mão do adulto e o leva para onde quer ir, não fazendo uso da linguagem oral para se comunicar. Não fala mas emite som pela boca quando feliz – grunhido – ri quando está feliz. • Acessos de raiva - demonstra extrema aflição sem razão aparente, com choros frequentes; • Irregular habilidade motora – alterna habilidades motoras, ora com ajuda, ora sem ajuda. Não fica no parque. Gosta de correr. Em relação ao processo de diagnóstico de A.F.Q, foi realizado uma entrevista com a mãe da criança, que relatou estar preocupada com o diagnóstico dado ao filho, pois em nenhum momento ela se recorda de terem sido realizados testes ou algum questionário sobre o comportamento da criança, recorda-se apenas de ter realizado apenas duas consultas com a equipe médica, que logo elaboraram o documento que dava o diagnóstico ao filho. Durante todo o ano em que esse trabalho foi elaborado, foram feitos inúmeros atendimentos a mae da crianca, pois via-se a necessidade de um período de esculta de suas angústias e dificuldades que a família encontrava 34 para se conseguir o diagnóstico ou simplesmente entender um pouco mais sobre os comportamentos do filho. Conforme já relatado e baseado no DSM-IV, o autismo é caracterizado por um comprometimento acentuado no uso de múltiplos comportamentos nãoverbais, tais como: contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos para regular a interação social e acentuado fracasso em desenvolver habilidades apropriadas ao seu nível de desenvolvimento. Tendo em vista essas características e o relato da mãe de como foi realizado o processo de diagnóstico pela equipe médica, foi visto a necessidade de se aplicar o questionário M-CHAT, que como já dito anteriormente, é um breve questionário referente ao desenvolvimento e comportamento utilizado em crianças a partir dos 16 meses, com o objetivo de rastrear as pertubações do espectro do autismo. O questionário M-CHAT foi aplicado para que houvesse uma compreensão melhor sobre o diagnóstico dado pelos médicos e para compreender se houve alguma aquisição ou aperfeiçoamento dos comportamentos das crianças enquanto estiveram na escola. É composto por 23 perguntas e apresenta um quadro de correções com 6 respostas que são consideradas criticas. A correçao sugere que se for apresentado 2 ou mais respostas iguais aos itens criticos, verifica-se então a necessidade de um acompanhamento próximo a criança, por profissinais capazes de identificar transtornos especificos no desenvolvimento. O questionário foi respondido com a mãe de A.F.Q, no dia 20/09/2013 e encontra-se em anexo. O resultado obtido com o questionário mostrou que a criança apresenta 04 comportamentos, dos 06 considerados críticos pelo teste. Os pontos críticos que chamaram atenção foram: A criança não se interessa por outras crianças, a criança não aponta para mostrar interesse em alguma coisa, a criança não imita o adulto (ex: faz uma careta e ela imita) e a criança não responde quando chamada pelo nome. Quando analisamos o dados trazidos pelo questionário puramente, percebemos um sério comprometimento da criança, porém após uma entrevista 35 com mãe pode-se perceber um grande avanço no desenvolvimento da criança, avanço esse que a mãe percebe que passou a acontecer após a entrada do filho na escola. A mãe relata que recentemente o filho passou a ter iniciativa de pegar a colher ou o copo quando deseja comer ou beber água, passou a falar “não”, ‘mamãe” e “ai”, a mãe relata que o filho não gosta mais de ficar sozinho, quando percebe que está, logo a procura pela casa para ficar próximo a ela. Tais caracteristicas comportamentais não eram percebidas pela mãe antes da entrada do filho na escola. 6.1.3 SUJEITO V.V.I Em relação a V.V.I, a criança iniciou atividades no Programa de Educação Precoce em março de 2011 (10/03/2011), na época com 2 anos e 6 meses. Apresentava diagnóstico de Atraso de Desenvolvimento NeuroPsicomotor. Em maio de 2013 a criança, com 4 anos e 1 mês, foi diagnosticada, pela neurologista, com Atraso Global do Desenvolvimento e da Linguagem – CID F84.0. Em relação ao desenvolvimento de V.V.I, podemos afirmar que houve progresso na sua aprendizagem, porém marcados por características autísticas próprias: • Dificuldade de relacionamento com outras crianças. Os atendimentos foram realizados individualmente, embora durante as atividades fosse possível contato com outras crianças, Vitor não demonstrou interesse em estabelecer contato com outras crianças. • Apresenta pouco contato visual com professores e familiares; Aceita o toque, porém não fixa o olhar, não aceita os comandos dos professores; • Não tem real medo do perigo, subindo em superfícies e objetos; No mês de setembro caiu da cama e fraturou o braço direito evidenciando a inabilidade de prever acidentes e perigo de lugares altos, além de evidenciar a sua agitação motora. 36 • Aparente insensibilidade à dor. Chora quando é contrariada ou sente dor. • Preferência pela solidão; modos arredios. Não gosta de ficar em ambientes fechados • Rotação de objetos. • Inapropriada fixação em objetos. • Ausência de resposta aos métodos normais de ensino. Explora brinquedos de forma diferenciada, virando carrinhos e girando as rodas, coloca muitos objetos na boca e não se interessa pela maioria dos objetos típicos do gosto das crianças de sua idade. Gosta de explorar vibrações oriundas de superfícies e objetos encostando as mãos e a cabeça. Apresentou avanços em relação a permanência em atividades de mesa, mas com pouca exploração dos brinquedos e materiais. • Corre sem direção sem se atentar aos percursos. • Dificuldade em expressar necessidades – Não segue comandos e nem atende quando é chamado pelo nome. Não faz uso da linguagem oral para se comunicar. Sorri quando algum adulto faz som onomatopaicos. Em algumas ocasiões emite alguns fonemas aleatórios sem significado. • Acessos de raiva - demonstra extrema aflição sem razão aparente, com choros frequentes. Tendência em morder; • Irregular habilidade motora – alterna habilidades motoras, ora com ajuda, ora sem ajuda. • Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade. Em relação ao processo de diagnóstico de autismo, a mãe de V.V.I relata que o filho atualmente é acompanhado por uma neurologista e um psiquitara que avaliaram durante um período de seis meses a criança e recentemente chegaram ao diagnóstico de autismo. A mãe relata que o fato de terem chegado a uma conclusão em relação ao diagnóstico do filho é um grande alívio, pois mesmo percebendo que a criança apresentava várias carcaterísticas o fato de ter um laudo ajuda agora na escolha do melhor método de tratamento para o filho. 37 Assim como no estudo de caso anterior, foi aplicado o questionário MCHAT junto a mãe da criança, como resultado V.V.I apresentou cinco respostas de seis consideradas críticas pelos autores, como: Não demosntra interesse por outras crianças, não aponta com indicador para mostrar interesse por alguma coisa, nunca trouxe brinquedos ou outros objetos para lhe mostrar alguma coisa, a criança não apresenta qualquer tipo de imitaçao de comportamentos do adulto e por último não responde quando chamado pelo nome, o que sugere um comprometimento no desenvolvimento da criança e a necessidade de um acompanhamento por profissionais capacitados para identificação de qualquer transtorno. Após a aplicação do teste foi realizado uma entrevista com a mãe da criança, para que pudéssemos identificar avanços na aquisição ou aperfeiçoamento de comportamentos. Já no inicio a mãe relatou que existem inúmeros casos de autismo na família, incluindo primos e tios, a mãe relatou que também teve bastante atraso em seu desenvolvimento e que conseguiu andar apenas quando já havia completado cinco anos, essa dificuldade a acompanhou durante toda sua vida escolar, onde apesar de ter tido acesso a escola, nunca conseguiu aprender ler ou escrever. Na última sessão com o neurologista a mãe foi acompanhada da professora de educação física para auxiliá-la na compreensão das perguntas e melhor responder sobre a história de vida da criança. Evienciando o seu comprometimento em relação ao cuidado com o filho. Quando questionada em relação a alguns comportamentos do filho, a mãe relata que o filho não se alimenta sozinho, porém quando está com fome fica olhando para as panelas no fogão, a criança tambem necessita de auxílio para tomar banho, pois se ninguem acompanhar ela passa o dia todo embaixo do chuveiro. Relatou também que a criança apresentava bastante dificuldade para dormir, porém após o psiquiatra receitar um medicamento ele agora consegue dormir bem durante toda noite, a mãe acredita também que o medicamento é responsável pela diminuição do comportamento de bater a cabeça na parede. 38 Durante a entrevista a mãe passou a relatar uma série de comportamentos que o filho apresentava e que ela julgava serem diferentes das demais crianças, relatou que a criança não procura o olhar quando alguém fala com ela, não demonstra interesse por outras crianças, apenas por seu irmão mais velho, que atualmente dedica boa parte do seu tempo para brincar com V.V.I. A criança não apresenta sensibilidade a dor, pois recetemente caiu durante uma brincadeira e apenas durante a madrugada os pais percebram que o braço estava bastante inchado, quando levado ao médico a criança havia quebrado o braço. Geralmente procura a solidão, sempre tem preferência por objetos que rodam ou apresentam movimentos circulares. Não atende quando é chamado pela primeira vez. Faz todas as necessidades fisiológicas na roupa. Recentemente passou a falar ‘papai” e “mamãe” e o que a mãe chamou de comportamneto mais inapropriado, a criança apresenta risadas longas e espontâneas sem motivo aparente. No final a mãe relata que percebe um grande avanço no desenvolvimento da crianças desde sua entrada na escola, e que agora com o diagnóstico de autismo fechado eles poderão auxiliar ainda mais no desenvolvimento de seu filho. Como já relatado todos os dados apresentados acima, fazem parte de um longo período de avaliação e observação das crianças por profissionais capacitados. Além do acompanhamento dos fundamentais para nos fornecer algumas informações. cuidadores, que foram 39 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por se tratar de uma trabalho de conclusão de curso que tem como principal objetivo acompanhar o processo diagnóstico de duas crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social e verificar como se dá este processo em Brasilia, Com que o objetivo foi alcançado. Alguns questionamentos em relação a postura de alguns profissionais envolvidos nesse processo de diagnóstico surgiram, como ficou bastante evidente a falta de esclarecimentto para as mães do que se estava sendo investigado no filho, ou quais ferramentas estavam sendo utilizadas para chegar a tal diagnóstico, ou seja, as famílias em nenhum momento se sentiram participantes ou entenderam como o diagnóstico foi feito, apenas receberam uma folha que constava um laudo que dizia que seus filhos eram autistas. É necessário também evidenciar um avanço em relação ao diálogo entre os profissionais de saúde e de educação no processo diagnóstico (nestes casos), visto que a participação dos professores vem sendo solicitada ou via relatório ou via presença física, no sentido de subsidiar a avaliação médica. O que não descarta a crítica em relação a forma como o diagnóstico é transmitido para as famílias, em que o sujeito é visto enquanto objeto da doença e negada a sua subjetividade. Ficou bastante evidente também com a realização desse trabalho, que quando as crianças que apresentam alguma característica de atraso no seu desenvolvimento e são submetidas a um processo de estimulação precoce, tendem a desenvolver habilidades dentro de suas limitações, que de alguma maneira auxiliam nas tarefas diárias das crianças, informações essas trazidas pelas própias mães. Um trabalho de socialização é essencial, no sentido de evitar o preconceito e a discriminação ainda existentes, proporcionando uma prevenção primária, através de elucidações junto às escolas e pessoas afins. Deixar esses indivíduos viverem no seu mundo particular é muito cômodo e parece ser uma 40 maneira de negar responsabilidade para com esses seres humanos e suas famílias angustiadas, necessitadas de esperança. Segunsdo Sousa (2004), o trabalho do psicólogo e da equipe multidisciplinar, com a família, resulta em melhor qualidade de vida para a pessoa com a síndrome. Todos podem ajudar a construir esse caminho e, em especial, o psicólogo, que poderá atuar diretamente com os sentimentos, expectativas e desejos de uma vida menos dolorosa e mais suave. Foi uma enorme satisfação como futuro profissional em psicologia realizar esse trabalho por esse longo período, pois pude conhecer profissionais que dedicam suas vidas a um tratamento humanizado para crianças que dificilmente teriam acesso devido a sua realidade social, conheci profissionais que mesmo com todas adversidades encontram forças para realizar suas atividades de maneira ética e humana. 41 REFERÊNCIAS ABREU, Camila Costa et al. Atividade assistida por animais no lar Augusto Silva. Lavras, 2008. Disponível em: <http://www.proec.ufla.br/conex/ivconex/arquivos/trabalhos/a114.pdf>. Acesso em 05 jul. 2013. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002. 880 p. ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA. Manual de estatística e diagnóstica de transtornos mentais. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. 880 p. BARON-COHEN, Simon. Social and pragmatic deficits in autism. 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