Isadora / Cage - Café Novo Mundo

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Isadora / Cage
do moderno ao contemporâneo
na dança da arte
Boletim Informativo da Companhia Aquarela de Dança
Isadora Duncan
Isadora Duncan (1878-1927) não é só a
bailarina revolucionária do início do século
20, como em geral é conhecida. O processo
de ruptura que ela desencadeou contra as formas
prontas da dança clássica
era substanciado por uma
atitude de pesquisadora
séria e por uma inquietação de artista e intelectual sintonizada
com as vanguardas de sua época. A diferença
é que, nela, a dança se manifestava pela
primeira vez como arte maior e contributiva,
e colocava na pauta das mais elevadas
cogitações do pensamento universal a
questão dos movimentos livres e naturais do
corpo humano. Na aplicação de suas idéias
valeu-se do enorme talento de bailarina de
que era dotada, assumindo-se como
precursora de suas próprias teses
renovadoras. Desenvolveu assim, na teoria
e na prática, os conceitos modernos da arte
da dança em interação com poetas, músicos,
escritores, artistas plásticos, dramartugos e
filósofos e fundamentou-os na estética da
Grécia antiga, chamando a atenção para os
valores da liberdade, da beleza e da graça
que lá se cultivaram ao nível da adoração
religiosa. Suas criações se inspiravam
também nos elementos e ritmos da natureza,
nos movimentos indeterminados das ondas
do mar, dos ventos e das luzes. Isadora veio
ao Brasil em 1917, em turnê histórica,
soube admirar e valorizar o nosso país e a
nossa arte, tendo deixado forte presença em
apresentações deslumbrantes e, em especial,
nos espíritos de Oswald de Andrade e João
do Rio, que viriam a ser pilares da nossa
revolução modernista.
Belo Horizonte / Rio de Janeiro - Ano I Nº 1 jan/abr / 2005
Isadora / Cage
um espetáculo de
arte brasileira
Uma viagem no tempo! Talvez, melhor: um
salto no espaço-tempo relativista da criação
artística no século 20. Uma vivência inédita
para as atuais platéias brasileiras; Isadora e
Cage nunca foram encenados por elencos
brasileiros de dança. O embrião desta
ousadia é o próprio corpo de Izabel Costa,
bailarina, coreógrafa e diretora do
espetáculo. Em 1987, ela coreografou e
dançou She’s asleeping, de Cage, fazendo o
papel de Isadora numa peça performática
que envolvia artes plásticas, teatro, música
e dança, levada na Grande Galeria do Palácio
das Artes, de Belo Horizonte. Vera Terra,
compositora e um dos maiores intérpretes
da obra de Cage no Brasil, assumirá a direção
musical. Waltércio Caldas, artista plástico
consagrado nos movimentos internacionais
de vanguarda, assinará cenários e figurinos.
O roteiro, escrito por Mario Drumond,
aposta no impacto dos contrastes entre as
estéticas de Isadora e de Cage, como a força
da encenação, enquanto roteiro. Para o
elenco, o espetáculo já conta com os talentos
da cantora lírica Gabriela Geluda e das
bailarinas Carolina Brant e Carolina
Padilha. O programa trará três coreografias
originais de Isadora Duncan, resgatadas pela
coreógrafa, e algumas das mais importantes
partituras de Cage da década de 1940. É
projetado para grandes palcos e dividido em
duas partes: a primeira, dedicada a Isadora,
terá musica gravada sob a direção de Vera
Terra. A segunda, dedicada a Cage, com
música ao vivo, interpretada pela própria
Vera (piano) e por Gabriela (voz). O elenco
de dança, com oito bailarinos, incluindo
solos de Izabel Costa e as estrelas já citadas,
se completará com bailarinos convidados
pela coreógrafa. Terá uma duração em torno
Isadora/Cage
Espetáculo incentivado pela Lei 8.313/91, alterada de 70 minutos e uma versão para palcos
menores, sem música ao vivo, para atender
pela Lei 9.874/99, autorizado para captação pela
portaria nº 18, da Secretaria Executiva do MinC, a localidades que não dispõem da infrapublicada no Diário Oficial da União em
estrutura de grandes teatros.
17/01/2005. PRONAC nº 04 6858.
John Cage
John Cage (1912-1992) já na década de
1940 representava uma ruptura tão marcante na criação musical - que até ali já avançara enormes passos
em relação à própria
música moderna - cujo
alcance ainda não pode
ser de todo avaliado. Seus conceitos revolucionários de indeterminação e interpenetração que evoluíram radicalmente sobre
tudo o que já se intuíra e se experimentara
até ele, foram adotados com êxito absoluto
em suas composições pianísticas, as quais
executava genialmente. Cage ampliou as
fronteiras e o universo de pesquisa dos fronts
de vanguarda, em todas as expressões de arte.
Sintonizou seus processos criativos a partir
de essências poéticas, plásticas e sonoras que
enriqueceriam as práticas laboratoriais das
demais artes e dariam os alicerces de uma
arte concreta, espacial, relativista, em que
se combinam o som e o silêncio, a matéria e
o vazio, em conceituações novas e
revitalizadoras das memórias mais remotas
do saber humano, rebuscadas inclusive na
decifração mnemônica dos signos tidos como
indecifráveis da pré-história. Sua obra é
cheia de luz, de beleza, de graça e sofisticado
humor de liberdade. Cage veio duas vezes
ao Brasil e era entusiasmado com a nossa
vitalidade rítmica e artística, de que era
grande admirador. Sua influência introduz
elementos valiosos aos trabalhos dos mais
prolíficos artistas e estudiosos no país. Entre
os estudos mais importantes, destacam-se o
da compositora e pianista Vera Terra, que
publicou um volume sobre a indeterminação
na poética musical de Cage (e Boulez), e a
tradução de trechos da sua poética literária
(escritos e conferências) por Rogério Duprat,
revista por Augusto de Campos.
Veja os resumos curriculares dos artistas
e o programa projetado para o espetáculo
nas páginas seguintes.
Isadora / Cage
Vera Terra
Direção musical e piano
Pianista e compositora
de reconhecido talento,
pesquisadora atuante em
movimentos de vanguarda no Brasil e no exterior, já em 1975 compunha, dava recitais e participava das correntes
mais avançadas da criação artística no país. Residente no Rio de
Janeiro, sua obra permanece se realizando
em plena afinidade com as demais expressões
de arte contemporânea, criando, também,
trilhas sonoras para filmes e peças teatrais,
gravando para rádios e televisões, pesquisando e publicando seus estudos.
Alguns momentos:
Recitais e concertos: 1975 - Fragmentos,
d’aprés Erik Satie, integrando elementos
cênicos à música, MAM/RJ; 1975 a 1985,
série de recitais para a Sec. de Estado da
Cultura (TV Educativa RJ, Rádio Cultura
SP, MASP, S. Cecília Meireles e Esp. Cultural Sérgio Porto); 1984 - Recital Vera
Terra, Parque da Catacumba (na foto, executando Cage p/ toy piano), 1985 - Concerto
John Cage, S. Cecília Meireles, durante a
um espetáculo de arte brasileira
estadia do compositor no Brasil; 1987,
1989, 1996 - Bienal de Música Contemporânea, S. Cecília Meireles, MAM/RJ,
Teatro Municipal de Santos; 1991 - RioArte
Contemporânea,Recital Vera Terra, Esp. Cultural Sergio Porto; 2001 - Luz, Cores e
Sons: a nova paleta impressionista, Prelúdios
de Debussy, Casa de Artes Paquetá; 2002 Fiat lux! Fiat vox...; e 2003 - Sonâncias,
RioArte; Pesquisas: 1980 a 1982 - Novas
Perspectivas para o Piano, CNPq; 19821983 - Corpo e Objeto na Arte Contemporânea, CNPq; 1995 - O tênue e tenso fio de
Ariane, Festival Internacional de Mulheres
Compositoras, SP; 1999 - Música e imagem: o papel da música na narrativa cinematográfica, Ateliê da Imagem, RJ; 2000 Acaso e aleatório na música: um estudo da
indeterminação nas poéticas de Cage e Boulez,
mestrado em Comunicação e Semiótica,
PUC-SP, CAPES, EDUC/FAPESP (foto
abaixo: capa do livro); 2002 - A música do
filme Descobrimento do Brasil, 1º Congresso
Internacional Villa-Lobos, Instituto Finlandês, em Paris. Espetáculos: 1984 - As bruxas
estão soltas, música e direção musical, peça teatral
de Ísis Baião, Petit Studio; 1987 - O anarquista
coroado, música e direção
musical, peça teatral de
Carlos Henrique de Escobar, baseada em Artaud.
Waltércio Caldas Júnior
Cenários e figurinos
Um dos artistas brasileiros mais
importantes da atualidade, desde os
anos 60 atua como artista gráfico,
cenógrafo e artista plástico, participando de jornais, ilustrando e
editando livros de arte, realizando
individuais e coletivas nos principais
centros de arte brasileira . Em 1977,
renunciou à sua indicação para a Bienal de
Veneza, por questão político-cultural, o que
não impediu seu trabalho de conquistar
espaços até ultrapassar, na década de 90, as
fronteiras nacionais e ganhar o reconhecimento mundial. Em 1997, representou o
Brasil na Bienal de Veneza e hoje seus
trabalhos integram acervos de museus de
arte e ao ar livre de cidades e centros culturais
de vários países da Europa, América Latina
e América do Norte.
polêmico artigo “O boom, o pós-boom,
o dis-boom” no Opinião, faz edições
de livros, e várias novas exposições;
1981 - disco-objeto sonoro, com A
Entrada da Gruta de Maquiné (do
artista) e Três músicas (Sérgio
Araujo); 1983 - Sala especial na
XVII Bienal Internacional de SP;
1984 - I Bienal de Havana, Cuba;
1985 - muda-se para Nova York por um
ano; 1986 a 1990 - obras em vídeo, novas
exposições, e participa da XX Bienal de SP
(1989); 1990 - 1ª individual na Europa,
Pulitzer Art Gallery, Amsterdan; 1992 Documenta 9, Kassel, AL, com exposição
em caráter permanente na Neue Galerie;
1993 - O ar mais próximo, Museu Nacional
de Belas Artes, além de grandes coletivas
internacionais; 1994 - instala, em caráter
permanente, a escultura pública Omkring,
em Leirfjord, Noruega; 1995 - individual
Alguns momentos:
1965 - estuda com Ivan Serpa; 1970 - no Centre d’Art Contemporain, Genebra,
cenografia de A Lição, Ionesco, Conserva- Suíça; 1996 - Anotações, Paço Imperial
tório Nacional de Teatro; 1973 - 1ª indi- RJ; 1997 - XLVII Bienal de Veneza com a
vidual, MAM/RJ; 1975 - edita
célebre Série Veneza; 1999 Malasartes; ilustra A Guerra
Livros, MAM/RJ; 2000 - edita
o múltiplo livro-escultura
dos Mundos. 1ª individual
em SP, A Natureza dos
Velásquez. Grande retrospecJogos, MASP; 1976 a 1980
tiva no C. C. Banco do Brasil,
RJ. (foto: escultura de WCJ)
- assina, com outros artistas, o
Incentivado pela Lei Federal de Cultura
Izabel Costa
Direção, coreografia
e bailarina solista
Bailarina, coreógrafa e professora de dança,
com experiência internacional e importantes premiações. Criou e
fundou o Grupo Corpo
em 1975, assumindo a
direção da empresa e o
papel principal do primeiro espetáculo do grupo,
Maria Maria (coreog.
Oscar Araiz), no qual
atuou em mais de 700 apresentações nas turnês nacionais (todos os estados) e internacionais (14 países), incluindo
temporada de três meses no
Teatro de La Ville, de Paris. Em
1984, desligou-se do grupo, por razões
ideológicas, e mudou-se para São Paulo,
onde realizou pesquisas para o CNPq, sob
a coordenação do mestre de danças Klauss
Vianna, e sob a sua direção atuou ao lado
de Duda Costilles e Zélia Monteiro no
espetáculo Dã Dá, apresentado em São
Paulo e Belo Horizonte. Em 1990, foi para
o Rio de Janeiro e, com o apoio do Prof.
Antonio Houaiss, nomeado Ministro da
Cultura em 1993, montou, dirigiu e atuou
no papel principal do espetáculo Sete Danças
para Villa-Lobos, que estreou no Teatro Municipal do RJ. Com a demissão do Ministro,
justo na época da estréia, as turnês previstas
não se realizaram. Em 1996, retorna a Belo
Horizonte onde dá sequência aos trabalhos
de bailarina e coreógrafa, com várias
realizações até o atual projeto Isadora/Cage.
Alguns momentos (série fotográfica):
1966 - 1º solo no Studio Anna Pavlova;
1975 a 1984 - criação, fundação e consolidação do Grupo Corpo, como diretora e
estrela principal de Maria Maria em mais
de 700 apresentações no Brasil e no exterior; 1986 - Palimpsestos (coreog. Klauss
Vianna), Galeria do C. C. Candido Mendes,
RJ, vernissage da exposição do artista plástico
Fernando Tavares; 1985 a 1987 - Dã Dá
(coreog. Klauss Vianna), pesquisa e espetáculo no Teatro Cultura Artística (SP) e
Grande Teatro Palácio das Artes (BH) (na
foto central, pas-de-deux com Duda Costilles); 1993 - Sete Danças para Villa-Lobos
(coreog. Oscar Araiz), com recursos do
FNC-MinC, no Teatro Municipal do RJ;
1996 - Dança Brasileira, de Camargo Guarnieri (coreog. da artista), para o filme 35mm
Encantamento, de José Sette; 2000 a 2003
- Viva Isadora! (coreog. da artista), pesquisa
para o espetáculo Isadora/Cage (1ª parte)
com apresentações no Grande Teatro Palácio
das Artes (evento de homenagem a Nora
Esteves), no Teatro SESC Venda Nova e
no Teatro Municipal de Sabará. Fotos abaixo: 1997 - Roteiro das Minas (pesquisa,
estudos para Aleijadinho, direção e coreog.
da artista), performance da Oficina de
Dança do I Festival de Inverno de Congonhas, MG, com música ao vivo, nos
espaços externos da Basílica do S. Bom
Jesus de Congonhas do Campo.
Outros momentos a destacar:
1974 – Viagem de Izabel (coreog. da artista),
audiovisual do fotógrafo Juvenal Pereira;
1978 – Cantares (coreog. Rodrigo Pederneiras), música de Marco Antonio Araujo,
apresentado na inauguração do Teatro Corpo, BH. 1987 - Temporais do Tempo, evento
de artes plásticas (Gilberto de Abreu), música, teatro e dança (coreog. da artista), no
papel de Isadora, dançando Cage; 1988 a
1991 – Imagel, composição de Rufo Herrera
para bailarina-atriz, violoncelo e texto de
Mallarmé (coreog. da artista), apresentado em Festivais Internacionais
de Música Contemporânea e nos Teatros Francisco Nunes,
BH, e João Caetano,
Rio de Janeiro; 2004
- Brasileirinhas (coreog
da artista),
espetáculo
recém-estreado no
Teatro D.
Silvério,
de BH.
Elenco
Composto por sete bailarinas, um bailarino,
cantora lírica e pianista. Além dos diretores
que participam, estão prometidos:
Gabriela Geluda
Drama (Londres), onde
residiu de 1996 a 2001.
Estudou com Eliane
Sampaio no Brasil e Jessica Cash no exterior.
Na Inglaterra, participou de masterclasses
com as sopranos Emma
Kirkby, Nancy Argenta,
Suzy Le Blanc e Evelyn Tubb e do Dartington Summer School. Foi a vencedora
do Portallion Chamber Music Prize (1998),
foi Prosepina e Ninfa na ópera Orfeo de
Monteverdi no Barber Institute (Birmingham), integrou o Mercurius Company
em concertos por toda Inglaterra e deu
recitais no Bolivar Hall, Bourgh House e
Saint Martin in the Fields (Londres).
Soprano
Sua trajetória como soprano tem forte
ligação entre música antiga e contemporânea. Desde 1994 vem trabalhando as
óperas de Jocy de Oliveira (Illud Tempus, As
Malibrans, Canto e Raga, Estórias) como
solista de primeiras audições pelo Brasil (RJ,
POA, BH, SP) e exterior (Berlim), além
de participar de bienais, mostras e festivais.
Em 1995 gravou Illud Tempus em apresentação ao vivo na Haus de Kulturen der
Welt (Berlim). Graduada em canto lírico pela
Universidade do Rio de Janeiro, foi bolsista
da CAPES na Pós Graduação em Música
Antiga na Guildhall School of Music and
Carolina Brant
Bailarina solista
Bailarina desde os quatro
anos de idade, em 1993
iniciou-se nos métodos da
Royal Academy of Dancing, de Londres (Maitre:
Maria Clara Salles) e Cubano, (Maitres: Ofélia
Gonzalez e Mercedez Beltran). Integrou o
corpo de solistas da Companhia Mineira de
Danças Clássicas, atuando em papéis
importantes em várias de suas apresentações. Em 2001, começou seus estudos
de Dança Moderna e Contemporânea com
Izabel Costa, e integra a Companhia
Aquarela de Dança como solista dos elencos
de Viva Isadora!, Brasilerinhas e da fase
experimental de Isadora/Cage. Na foto, o
solo Tico Tico no Fubá, de Zequinha de
Abreu, do espetáculo Brasileirinhas (coreog.
Izabel Costa).
Carolina Padilha
Clóvis Salgado (Palácio das
Artes). Atualmente, faz
aulas e aprimora o seu
talento sob a direção de
Izabel Costa, integrando a
Companhia Aquarela de
Dança, pela qual atua como
solista em Viva Isadora! ,
Brasileirnhas e participa da
fase experimental de Isadora/
Cage. Na foto, como solista
de Jongo, de Lorenzo Fernandes, em
Brasileirinhas (coreog. Izabel Costa).
Bailarina solista
Bailarina profissional, com experiência em
dança clássica, moderna e contemporânea,
além de cursos em outras modalidades
(folclore, afro, sapateado), tem também
estudos de piano, teoria musical, percussão
e técnica vocal. Integrou a Companhia
Mineira de Danças Clássicas, onde atuou
como solista, e é formanda do curso
profissionalizante de Dança da Fundação
Companhia Aquarela de Dança
Criada em 1993 para as pesquisas, trabalhos
e produções de Izabel Costa, interagindo
com artistas das diversas expressões do
pensamento de vanguarda (vanguarda
como a pesquisa que avança e abre
caminhos), estendeu seus propósitos para
a formação e o aprimoramento de novos
talentos de dança, fazendo-se plataforma de
lançamento destes no mercado de trabalho
e de valorização de suas individualidades
enquanto artistas. Assim, não se pretende
um “grupo”, e nem se aceita como tal, como
também não objetiva formar corpos estáveis ou estruturas burocráticas de produção. Opera por projetos de espetáculos,
pesquisas, laboratórios e experimentos, reunindo artistas que possam com eles contribuir e viabilizá-los. A primeira realização foi
o espetáculo Sete Danças para Villa-Lobos,
no Teatro Municipal do RJ. Desde então,
vem desenvolvendo pesquisas de danças
brasileiras e contemporâneas, que dariam,
entre outras, em Viva Isadora!, Brasileirinhas, e a fase experimental de Isadora/Cage.
PRONAC nº 04 6858 de 17/01/2005
Programa do Espetáculo*
1ª parte
Suite de Danças para Isadora Duncan
2ª Parte
Suite de Danças para John Cage
I - “Mazurka Cigana” - Solo
(estréia - circa 1902)
Coreografia de Isadora Duncan
“Mazurka em lá menor”, op. 68, Chopin.
I - “Uma sala” - 1º movimento Conjunto de 7 bailarinas
Música ao vivo (piano solo): A room (Uma
sala), obra para piano de John Cage
(1943)
II - “Viva Isadora!” - 1º movimento Conjunto de 7 bailarinas
(d’après Isadora Duncan)
“Andante”, 2º mov. “Trio in mi bemol
maior”, Schubert.
III - “Mãe” - Solo para bailarina
(d’aprés Isadora Duncan - circa 1923)
“Estudo nº 1 em dó sustenido menor”,
opus 2, Scriabin.
IV - “Três Graças” - Trio (3 bailarinas)
Coreografia de Isadora Duncan
(estréia - circa 1905- 1907)
Valsa de Shubert.
V - “Noturno” - Duo (2 bailarinas)
Coreografia de Isadora Duncan (estréia circa 1915)
Noturno nº 2 em mi bemol maior, opus
9, Chopin.
II - “Ela está dormindo” - Duo
(bailarina e bailarino)
Música ao vivo (piano-preparado e voz
feminina): She’s asleeping (Ela está
dormindo), obra para voz e piano
preparado de John Cage (1943)
III - “Uma sala” - 2º movimento Conjunto de 7 bailarinas
Música ao vivo (piano-preparado solo): A
room (Uma sala), obra para piano
preparado de John Cage (1943)
IV - “Tabu” - Trio (2 bailarinas e 1
bailarino)
Música ao vivo (piano-preparado solo):
Totem ancestor, obra para piano preparado
de John Cage (1943)
VI- “Viva Isadora!” - 2º movimento Conjunto de 7 bailarinas
(d’après Isadora Duncan)
“Scherzando”, 3º mov. “Trio in mi bemol
maior”, Schubert.
V - “E a Terra deve de novo dar a
luz...” - Conjunto de 7 bailarinas e 1
bailarino
Música ao vivo (piano-preparado solo):
And the earth shall bear again (E a Terra
deve de novo dar a luz), obra para piano
preparado de John Cage (1942)
abaixo: Viva Isadora!, Teatro Municipal de Sabará;
ao lado: Próximos, objetos de Waltércio Caldas Jr.
(*) Do roteiro de Mario Drumond
(programa-projeto)
Aos patrocinadores
Isadora/Cage lhes é proposto não como produto de mercado, mas como obra de arte.
Como tal, não tem público-alvo e atributos
de consumo; é seu público toda pessoa sensível que cultive o gosto pela arte, independente de classe social, raça, religião, etc.
Seus atributos estão ligados à elevação cultural do povo, e o projeto se conduzirá a fim
de fomentar cultura e educação, inclusive
por contato direto dos artistas com o público,
em palestras, workshops e outros eventos.
É, pois, por se propor assim, que esta
produção se considera legítima beneficiária
dos incentivos que a Lei lhe consentiu, após
análise pelo Ministério da Cultura, concedendo aos seus patrocinadores o abatimento
de 100% (cem por cento) dos valores financeiros aportados a este espetáulo, de determinados compromissos fiscais que porventura tiverem com a União. Se vier a ser este
o caso de V.Sas, adiantamos que será uma
honra conduzir a chancela que representam
no percurso do êxito que almejamos, e
faremos o melhor para que nossas relações
prosperem como uma parceria
eficaz e bem sucedida.
A Produção
Pode parecer estranho, mas, li Wilde depois
de Joyce e muito Wilde me esclareceu sobre
Joyce. Já alguém me disse que ao ver Fritz
Lang percebeu melhor Godard. Lendo
Oswald conhecemos mais os nossos concretistas. É assim mesmo, uma revolução já
assimilada informa sobre a que está em
andamento, mais ainda quando os espíritos
estão em sintonia, mesmo que se realizem
em linguagens diferentes e as conheçamos
em ordem inversa no tempo. O conhecimento não se processa linearmente, é um eterno
quebra-cabeças juntando peças produzidas
ou acontecidas em distâncias desiguais no
tempo, no espaço e na imaginação. ¶ Izabel
começou a pesquisar Cage bem antes de
mergulhar em Isadora. Mas Cage não saía
do laboratório e Isadora rapidamente aflorou. Foi então que pintou o insight: a solução
de Cage estava em Isadora (no espírito de).
A dança de Cunningham na música de Cage
não satisfaz. Quanto a mim, vejo-a como
uma desmotivação, pois ainda hoje quase
não se dança Cage. E Cage é pura dança! O
que une, em espírito, Isadora e Cage? Foi o
que vi acontecendo nas experimentações de
Izabel: a graça, a alegria, um humor requintado e, enfim, uma rara liberdade de serem
radicalmente eles mesmos. É só esteticamente que nos surgem como resultados
diversos, e até opostos, mas é justo aí a força
deste roteiro: o contraste, a ruptura - dialética - entre as linguagens, e o impacto que a
dança como expressão de arte será capaz de
conseguir. Isadora redescobre a Grécia e,
nela, a modernidade (isto é mal ou bem assimilado). Cage foi mais fundo, ele foi até a
pré-história e nos revela a contemporaneidade (já isto...). § Para mim, roteirizar é
como paginar. O que demandará tempo de
leitor/espectador é sempre roteiro. Roteirizar
é dar (des)ordem nas “atrações” (Eisenstein).
“Atrações” em geral ainda não prontas para
“montar”, estão na cabeça do roteirista, em
projeto, às vezes, sequer visualizadas, talvez
imaginadas. É o esqueleto do que se quer
fazer, sem ele não há começar, e não raro é
tê-lo por ponto de partida para um de chegada muito diverso do que foi pensado (e é
muito bom!): um livro, um filme, um espetáculo... Roteiros, roteiros, roteiros...
Mario Drumond - Roteiro
Escritor, jornalista, artista gráfico e editor,
atua na resistência cultural desde o início
dos anos 70. Em 1974, fundou a Editora
Cordel (livros e periódicos) e, em 1980, a
Oficina Goeldi (gravuras e edições de arte),
prolíficas casas editoras que dirigiu até 1990,
quando foram vítimas fatais do “confisco”.
Por sua ação multidisciplinar, recebeu o Prêmio Candango (Melhor Filme do Fest. de
Brasília, 1981) e o Prêmio Jabuti (Melhor
Livro de Arte, CBL/SP, 1984). É autor de
roteiros de filmes e espetáculos premiados
no Brasil e no exterior. Desde 2002, colabora com a revista Caros Amigos (São Paulo).
Expediente: Boletim da Cia Aquarela de Dança, Ano I, nº 1, jan/abr/2005. Editado pela Companhia Aquarela de Dança - Rua Pouso Alto, 240. Bairro Serra. 30240 180 Belo Horizonte MG. Telefax: 31 3281 8648. e-mail [email protected]. Redação e editoração: MDEditor.
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